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Síndrome Pós-Hospitalização
07/07/2015 Bruno Lagoeiro
O Blog da PEBmed inaugura a sessão PEBmed convida. Uma vez por mês teremos convidados
especiais escrevendo sobre temas relevantes em medicina. Hoje contamos com a presença ilustre
dos professores da Universidade Federal Fluminense e Cardiologistas, Prof. Dr. Evandro Tinoco
Mesquita e Prof. Dr. Antonio José Lagoeiro Jorge. O tema é a Síndrome Pós-Hospitalização.
O momento da alta hospitalar promove um sentimento recíproco envolvendo
paciente/família e a equipe hospitalar de grande satisfação e que pode ser seguido de
uma sensação de frustração e impotência devido a necessidade de uma reinternação
nos próximos 30 dias. Nas duas últimas décadas o fenômeno de re-hospitalização vem
sendo estudado e é hoje considerado um marcador de qualidade hospitalar.
Recentemente o sistema de saúde norte-americano iniciou um processo de
penalização envolvendo os hospitais que apresentam elevadas taxas de rehospitalização em até 30 dias. A re-hospitalização é consequência de mecanismos
diversos e várias estratégias tem sido implementadas no sentido de identificar suas
causas e por conseguinte tornar a transição hospital casa mais segura.
Essas estratégias são direcionadas para melhoria do autocuidado do paciente com foco
na identificação dos sinais precoces de descompensação e da melhor aderência ao
tratamento. Uma nova visão sobre o problema da vulnerabilidade do paciente pós alta
hospitalar foi identificado por Krumholz que descreveu uma nova entidade clínica
denominada Síndrome de pós-hospitalização que é definida como resultante da ação
de diferentes estressores que se manifestam durante a internação do paciente,
colocando-o em um estado de vulnerabilidade e apresenta múltiplas intercorrências
que tem um profundo impacto após a alta hospitalar, promovendo readmissões e
consequente custo adicional ao sistema de saúde.
O hospital é uma estrutura com uma engrenagem complexa que causa diferentes tipos
de estressores relacionados ao ambiente como luminosidade, ruído dos
equipamentos, temperatura e risco de infecção; aos procedimentos invasivos como
punção venosa; imobilização, jejum prolongado; ao estado emocional como fatores
psíquicos e espirituais. Esses estressores geram uma maior taxa de eventos
cardiovasculares e cerebrovasculares, além de agravar déficits cognitivos e motores e
contribuírem para múltiplas vulnerabilidades que se instalam durante a hospitalização.
Os pacientes idosos e, particularmente, os muito idosos (acima de 80 anos) são
indivíduos mais vulneráveis para a Síndrome de Pós-Hospitalização e, portanto,
devemos, desde sua chegada ao hospital, desenvolver uma atenção voltada aos riscos
de delirium, desnutrição (jejum prolongado), hipovolemia (desidratação), agravamento
da sua sarcopenia (imobilidade) e isolamento social.
Os médicos hospitalistas, a equipe multidisciplinar e os gestores tem um importante
papel de liderar ações de melhoria contínua do cuidado assistencial e identificar
estratégias que possam promover a segurança do paciente e reduzir os impactos da
hospitalização, entre eles o reconhecimento da síndrome de pós-hospitalização. A
necessidade de estudar os efeitos dos estressores hospitalares e das medidas de
transição hospital-casa também contribuem na redução de fontes de potenciais
desperdícios que hoje impactam o sistema público e privado de saúde em todo o
mundo.
Evandro Tinoco Mesquita
Professor de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense; Diretor Médico do Pró
Cardíaco RJ.
Antonio José Lagoeiro Jorge.
Professor da Pós Graduação em Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal
Fluminense.
Referências
1. Krumholz HM. Post-hospital syndrome–an acquired, transient condition of
generalized risk. N Engl J Med. 2013;368:100-2.
2. Krumholz HM DK, Hsieh AF, Lin Z, Bueno H, et al. Diagnoses and timing of 30day readmissions after hospitalization for heart failure, acute myocardial
infarction, or pneumonia. JAMA. 2013;309:355-63.
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