CONSULTOR MÉDICO DO HOSPITAL POLICLIN 088 Derrame Cerebral Isquêmico – AVCi Introdução Quadro Clínico Diagnóstico. Prevenção. Tratamento. Qual médico procurar? Prognóstico Introdução Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi) ou Derrame Cerebral Isquêmico são termos que se usa para definir uma situação em que uma isquemia cerebral, ou seja, a redução do fornecimento de sangue a uma parte do cérebro, acarreta uma “perda” de seu funcionamento. O derrame isquêmico pode ser do tipo trombótico (causado por um coágulo sanguíneo – trombo – formado no interior das artérias cerebrais) ou embólico (onde o coágulo – êmbolo – é formado em outra parte do corpo, se desgruda e vai em direção ao cérebro pela corrente sangüínea) e causam um entupimento de uma artéria cerebral, já estreitada por placas de gordura (aterosclerose), bloqueando do fluxo de sangue para uma parte do cérebro. Sem o suprimento de sangue adequado, as células naquela área do cérebro deixam de funcionar e podem morrer rapidamente. O AVCi pode afetar artérias grandes ou pequenas no cérebro. Quando ele acontece em artérias pequenas, eles são chamados derrames lacunares. No início do problema, pode ser difícil para o médico saber qual o tipo de derrame a pessoa está tendo. Uma causa menos comum de derrame trombótico é a dor de cabeça da enxaqueca. Em casos especialmente severos, uma dor de cabeça tipo enxaqueca pode fazer uma artéria do cérebro ficar em espasmo prolongado, permitindo a formação de um coágulo sanguíneo. Mais da metade dos AVCi são derrames trombóticos. Os fatores que aumentam o risco de se ter um derrame são os mesmos fatores que aumentam o risco de aterosclerose: Diabetes Mellitus Hipertensão - Pressão alta Hipercolesterolemia - Colesterol alto Tabagismo – Fumar Fatores genéticos - Ter outros membros da família que tiveram derrame. Quadro Clínico Os sintomas podem incluir: Cefaléia – ou dor de cabeça – em geral é o primeiro sintoma a aparecer Tontura e confusão mental Fraqueza ou paralisia de um lado do corpo: O início súbito de uma fraqueza ou dormência em um dos membros (braços e pernas) ou na face é o sintoma mais comum dos derrames cerebrais. Pode significar a isquemia de todo um hemisfério cerebral ou apenas de uma área pequena e específica. Podem ocorrer de diferentes formas, apresentando-se por fraqueza na face (em geral com o desvio do canto da boca ou queda da pálpebra em um dos olhos), nos braços e/ou nas pernas. Estas diferenças dependem da localização da isquemia, de sua extensão e da artéria cerebral que foi atingida. Perda de sensibilidade súbita e grave em qualquer parte do corpo: A dormência ocorre mais comumente junto com a diminuição de força (fraqueza), confundindo o paciente; a sensibilidade é subjetiva. Problemas para enxergar: A perda da visão em um dos olhos, principalmente aguda, assusta os pacientes e geralmente os leva a procurar o hospital. O paciente pode ter uma sensação de ter uma “mancha na vista” ou ainda pode apresentar cegueira súbita (amaurose). Perda de equilíbrio ao caminhar Problemas de coordenação dos braços e mãos Disfasia (dificuldade para falar) ou Afasia (não conseguir falar): É comum os pacientes apresentarem estes tipos de alterações da linguagem e da fala acarretando muita ansiedade pelo esforço frustrado de falar. Alguns pacientes apresentam uma outra alteração da linguagem, falando frases longas, fluentes, fazendo pouco sentido, com grande dificuldade para serem compreendidos (verborréia). Os familiares e amigos podem interpretar o episódio como um ataque de confusão ou estresse. Morte súbita: Quando o AVCi acomete uma grande área do cérebro, incluindo regiões que respondem pela respiração e controle de sinais vitais, muitas vezes o paciente não resiste até mesmo até chegar ao hospital. Como as diferentes áreas do cérebro são responsáveis por diferentes funções (como a movimentação, visão, fala, equilíbrio e coordenação), os sintomas de um derrame cerebral variam dependendo da área do cérebro afetada. Se quaisquer destes sintomas aparecerem de repente, a pessoa pode estar tendo um derrame. Assim que aparecem, os sintomas podem tornar-se piores gradualmente ao longo de horas ou dias ou se estabilizarem. Muitas vezes, episódios breves de sintomas do AVCi podem acontecer antes de um derrame. Um episódio curto de sintomas de derrame é chamado de ataque isquêmico transitório (AIT). Um AIT dura menos de 24 horas, normalmente 5 a 20 minutos. Um ou mais destes ataques precedem quase 60 por cento de todos os derrames. Diagnóstico Para diagnosticar um derrame, o neurologista irá precisar de um exame de imagem do cérebro. Os exames que podem ser usados no diagnóstico dos AVCi incluem a Tomografia Computadorizada do Cérebro (a TC) e a Imagem de Ressonância Magnética (IRM). Nas primeiras horas após o derrame, a tomografia de crânio pode não mostrar qualquer alteração sendo importante sua realização para afastar o diagnóstico de um sangramento cerebral. Após 48 horas a TC é repetida para confirmar o diagnóstico, pois o primeiro pode mostrar-se normal. Se o 2° exame deixa dúvidas, a IRM pode ser útil, principalmente no AVCi do tipo lacunar e nas lesões do tronco cerebral (parte mais baixa do cérebro). Após o diagnóstico, é importante para o médico determinar se o derrame é do tipo trombótico ou embólico, pois o derrame embólico pode precisar de tratamento de um problema vascular (dos vasos) fora do cérebro. O médico (neurologista) fará um exame neurológico detalhado, checará os níveis de pressão sanguínea, e examinará o coração e as artérias do pescoço. Os exames que podem ser usados para procurar uma fonte de coágulos sanguíneos incluem um Eletrocardiograma (o ECG), uma Radiografia do Tórax, um exame de ultra-sonografia Doppler (também chamado Doppler de Carótida), e um Ecocardiograma. Pessoas portadoras de Fibrilação Atrial (um tipo de arritmia cardíaca) têm uma maior predisposição de desenvolver um AVCi. Prevenção A pessoa que teve um derrame cerebral tem um risco alto de ter outro. Para prevenir o derrame isquêmico, o neurologista irá combater os fatores que aumentam o risco da aterosclerose. Estes podem incluir o controle da pressão alta e os problemas de colesterol com um cardiologista, e do diabetes com um endocrinologista. Fazer uma dieta saudável, parar de fumar, e tomar uma dose diária de aspirina também pode ajudar a prevenir os derrames cerebrais. Deve-se fazer o exame do colesterol (total e frações) e triglicérides no mínimo a cada cinco anos, até mesmo se a pessoa nunca teve colesterol alto. Dieta e exercícios físicos podem ajudar a prevenir os derrames isquêmicos. Deve-se exercitar regularmente e ingerir uma dieta saudável que tenha muitas frutas e legumes e poucas gorduras saturadas e colesterol. Recentes estudos mostraram que comer duas a quatro porções de peixe por semana podem ajudar a prevenir o derrame cerebral. Outras coisas você pode fazer para prevenir os derrames é evitar o consumo exagerado de álcool e nunca consumir cocaína ou anfetaminas. O paciente deve discutir com seu médico se ele deve tomar aspirina diariamente. A aspirina em doses baixas (100 a 200 miligramas por dia) pode reduzir o risco de derrames isquêmicos. Outros medicamentos que também previnem os coágulos podem ajudar. Eles incluem o Cloridrato de Ticlopidina (Ticlid ®) e o Clopidogrel (Plavix ®). Se o paciente tem dores de cabeça tipo enxaqueca que vierem associadas com sintomas neurológicos como fraqueza, torpor, ou problemas visuais, é importante evitar tomar medicamentos anti-enxaqueca chamados Triptanos (Sumatriptano – Imitrex ®). Tomar estes medicamentos pode aumentar o risco de derrame. Tratamento O tratamento mais efetivo para o AVCi é o medicamento chamado Ativador de Plasminogênio Tecidual (t-PA) e deve ser dado imediatamente — dentro de três horas depois que os sintomas começarem, por via intravenosa (IV). Por isto, é importante procurar o Pronto Socorro para avaliação de um Neurologista de qualquer paciente com sintomas de derrame isquêmico. Este medicamento pode dissolver coágulos e pode restabelecer o fluxo de sangue ao cérebro. Pacientes que recebem este medicamento têm menos seqüelas a longo prazo após um derrame. A seguir, outro tipo de medicamento anticoagulante é dado para impedir que os coágulos sanguíneos existentes tornem-se maiores e para impedir que novos coágulos venham a se formar. Uma pessoa que teve um derrame significativo deve ser hospitalizada, pois assim ela pode ser observada no caso dos sintomas piorarem. Uma pessoa vítima de um derrame grave pode precisar de um ventilador mecânico para ajudar a respirar, do uso de sondas de alimentação e para urinar, de aparelhagem para controlar os batimentos cardíacos e a pressão arterial, dentre outras medidas de suporte. No hospital, um paciente que sofreu um derrame será acompanhado por fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais que podem ajudar a pessoa a aprender a lidar com sua seqüela e a recuperar sua força motora. Freqüentemente, o paciente é transferido do hospital para um centro de reabilitação para se recuperar antes de voltar para casa. Qual médico procurar? O médico que acompanha e trata o derrame cerebral é o neurologista, auxiliado pelo intensivista (UTI). Se alguém que você se relaciona desenvolver quaisquer dos sintomas de derrame cerebral, você deve chamar uma ambulância imediatamente para levar a pessoa ao Pronto Socorro; não espere os sintomas melhorarem sozinhos.. É importante ter uma avaliação até mesmo se os sintomas duram só alguns minutos, porque um AIT pode ser um sinal de advertência que a pessoa vai ter um derrame em breve. Prognóstico Se o paciente for tratado o fluxo sangüíneo interrompido volta a ser restabelecido em pouco tempo, podendo haver uma rápida recuperação, com uma pequena ou nenhuma seqüela. O uso do t-PA dentro de três horas após o início dos sintomas dá ao paciente até 12 por cento mais chances de não desenvolver nenhuma seqüela ou de ficar com uma seqüela menor após a recuperação, se comparados àqueles que não foram tratados com tPA. Em um derrame cerebral pequeno, os sintomas podem melhorar dentro de alguns dias. Quando o suprimento de sangue estiver suspenso durante um período prolongado, a lesão cerebral pode ser mais grave e os sintomas podem durar muitos meses. Caso ocorrer uma lesão cerebral grave, poderá haver incapacidade definitiva – seqüela.