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made in
braSil
Análise econômica do comércio exterior
RESUMO
O recente comércio exterior brasileiro não foi importante por ter potencializado o
crescimento econômico. Nas últimas décadas, as trocas internacionais serviram para
compensar dificuldades internas de curto prazo que se transformaram em desafios.
O resultado aparece, hoje, nas exportações concentradas em produtos de baixo valor
agregado e na perda de competitividadeda economia. O desafio que se coloca, então,
é articular o potencial de crescimento econômico trazido pelo comércio exterior a uma
estratégia brasileira de desenvolvimento.
2º EDIÇÃO – JAN 2017
ISSN: 2526-1428
EXPEDIENTE
PRESIDENTE
Luiz Augusto de Souza Ferreira
DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO
Miguel Antonio Cedraz Nery
DIRETORA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
Maria Luisa Campos Machado Leal
CHEFE DE GABINETE
Tainá Serra Pimental
GERENTE DE GOVERNANÇA
Jackson De Toni
COORDENADOR DE INTELIGÊNCIA E AVALIAÇÃO
Rogério Dias de Araújo (Especialista em Análise Econômica)
EQUIPE TÉCNICA
Carlos Henrique de Mello Silva
(Especialista em Análise Econômica)
Raphael Lennie Fernandes Riberio
(Especialista Estatístico)
Ricardo Luiz Chagas Amorim
(Especialista em Análise Econômica)
Ana Carolina Miranda Lima Nogueira
(Estagiária Economista)
Made in BraSil é uma publicação trimestral da ABDI
(Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) com
o objetivo de fomentar o debate sobre a conjuntura do
comércio exterior do país e suas perspectivas.
Os textos e números debatidos são de responsabilidade da
Coordenação de Inteligência e Avaliação (CInt). Assim, as
análises aqui apresentadas não refletem necessariamente
as opiniões da ABDI ou de seu corpo diretivo.
SUMÁRIO
Resumo
Página 04
Resumo Executivo
Página 05
1. O comércio exterior e a competitividade
Página 07
1.1. A origem dos problemas de competitividade
Página 07
1.2. A evolução dos indicadores de comércio exterior
Página 11
1.3. Valor, volume e preço das importações
Página 17
2. Os números da balança comercial e de serviços
Página 22
2.1. A balança comercial
Página 22
2.2. A balança de serviços
Página 33
3. As projeções para o comércio exterior brasileiro e mundial
Página 36
RESUMO EXECUTIVO
DESTAQUES DE COMÉRCIO EXTERIOR E COMPETITIVIDADE
• O Brasil alcançou elevado superávit comercial em 2016 (US$ 47,7
bilhões).
• O sucesso, todavia, precisa ser visto com cautela, pois os desafios
da competitividade ainda não foram superados e agravaram-se
nos últimos 30 anos. A indústria, setor que dinamizava a economia,
perdeu dimensão e poder de arrasto, reduzindo a complexidade da
economia, assim como o peso dos bens de maior valor agregado na
pauta exportadora.
• O problema da competitividade surge também nas importações. Os
bens adquiridos no exterior ocuparam grande espaço, deslocando
produtores brasileiros que não resistiram ao preço e/ou a qualidade
da produção estrangeira.
DESTAQUES DA BALANÇA COMERCIAL
• A competitividade é um problema do setor produtivo que se revela
nas exportações, nas importações e na posição do Brasil no comércio
internacional. A análise da trajetória das vendas do país ao exterior,
desde 1950, evidencia os desafios envolvidos em tornar a economia
capaz de exportar bens de maior valor agregado.
• Além dos tradicionais problemas de logística e outros custos que
interferem na competitividade e dificultam o ambiente de negócios,
há a perda de densidade do tecido industrial recente e o baixo gasto
em inovação.
• Chama a atenção a participação dos bens de capital na pauta
exportadora dos países que são os principais exportadores mundiais.
A diferença com o perfil exportador brasileiro é muito significativa,
exigindo do país ação urgente para aproveitar os fatos e os momentos
favoráveis do comércio mundial.
DESTAQUE DAS PROJEÇÕES
• O cenário econômico e político no mundo passa por profundas
alterações. Os principais países desenvolvidos buscam revigorar
e aumentar a competitividade das suas indústrias via a adoção de
novas tecnologias e maior agregação de valor.
• Para os próximos anos, espera-se que o comércio mundial
apresente taxas de crescimento menores quando comparadas
com os primeiros anos do século XXI. Países, como os Estados
Unidos, prometem adotar medidas protecionistas que
impactarão de forma significativa o comércio de bens e serviços
ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial | Made In Brasil - Análise Econômica do Comércio Exterior
5
• A saída dos Estados Unidos do Acordo Transpacífico (TPP) gera
oportunidades. Por exemplo, pode aumentar o fluxo comercial entre
Brasil e Estados Unidos ou ainda crescer o interesses de outros países
e blocos na economia brasileira.
• É muito importante que o Brasil adote estratégia de
desenvolvimento econômico de médio e longo prazo, estimulado
à criação de riqueza e renda para toda a população. Para
isso, o caminho é único: aumentar a produtividade brasileira
com a agregação de valor aos bens e serviços produzidos.
Coordenação de Inteligência e Avaliação
Brasília, janeiro de 2017
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1. O COMÉRCIO EXTERIOR E A COMPETITIVIDADE
1.1. A origem dos problemas de competitividade
Os números do comercio exterior brasileiro1 têm chamado a atenção. Desde
abril de 2015, a balança comercial acumulou superávits mensais ininterruptos,
chegando em 2016 a acumular uma saldo positivo total de US$ 47,7 bilhões. A
rapidez com que as oscilações entre saldos positivos e negativos foi revertida tem
sido comemorada com razão, pois representa um alívio frente às dificuldades
vividas pela economia do país desde 2014.
A análise das estatísticas de comércio exterior, no entanto, recomenda cautela. É
preciso desagregar os dados e explicar os números. De outra maneira, é preciso
falar em competitividade. Historicamente, a economia brasileira viveu, desde
a década de 1930, o mais rápido e bem sucedido processo de industrialização
observado na América Latina. Até o início dos anos 1980, o Brasil havia
aprendido a produzir bens manufaturados impensados para economias que
dependiam da exportação de bens primários até a metade do século XX. Já no
fim dos anos 1970, os fluxos econômicos, a dinâmica da produção nacional e
as transformações sociais e geográficas do país eram ditados e aconteciam em
função da expansão alcançada pelo setor secundário nacional.
O progresso, todavia, sofreu abalo e uma gravíssima crise cobriu o Brasil na
década de 1980. Naqueles anos, o Estado que havia, marcadamente nos anos
1970, puxado os investimentos viu-se sem orçamento, endividado e vivendo uma
difícil transição política. A inflação que assolou o país em seguida nasceu das
dificuldades do começo da década e dos erros das políticas macroeconômicas
daqueles anos. Mais importante, porém, foi a semi-estagnação produtiva do
Brasil, tanto em termos tecnológicos como de crescimento. De outro modo,
os baixos investimentos, a pouca renovação fabril e a ausência de atrativos
para novas inversões de empresas internacionais, aos poucos e por quase uma
década, reduziram a competitividade da indústria brasileira.
O grande problema, porém, foi que os países mais ricos iniciaram naqueles
anos seus passos em direção ao que alguns chamaram de Terceira Revolução
Industrial. Tratava-se, em grossas linhas, da revolução da telemática,
uma síntese entre o poder crescente da informática e a disseminação e
barateamento dos processos modernos e instantâneos de comunicação global.
A indústria apropriou-se das novas tecnologias e suas máquinas incorporaram
mecanismos eletrônicos de controle e programação, alterando os patamares de
produtividade. Ou seja, a produção, a produtividade e os padrões produtivos
transformaram-se entre as nações avançadas, enquanto o Brasil debatia-se em
dificuldades de estabilização da economia.
Naturalmente, a indústria do país distanciou-se da modernidade produtiva dos
países mais ricos e, desse modo, viu sua competitividade reduzir-se ano após
ano . Na verdade, a chegada dos anos 1990 revelou o amargo gosto de o Brasil
ter vivido uma década perdida.
Os anos 1990, no entanto, renovaram as esperanças. Em meados da década, o
sucesso do Plano Real, um ambicioso plano de estabilização de preços, parecia
prefigurar a reconstrução das condições de decolagem da economia brasileira
1 - Ver seção 2.
ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial | Made In Brasil - Análise Econômica do Comércio Exterior
7
e a retomada do desenvolvimento. O próprio mecanismo de estabilização de
preços (âncora cambial) e o ajuste dos padrões competitivos da produção
nacional em relação ao exterior (menor ação do Estado no lado interno e maior
liberdade nas trocas internacionais), todavia, terminaram por repetir o baixo
crescimento econômico do país até o início dos anos 2000.
Mais do que isso, agora eram visíveis mudanças na pauta de importação com
crescente compra de bens industriais, insumos, peças, partes e máquinas
no exterior, desviando demanda interna e impondo perdas significativas ao
tecido industrial brasileiro. A consequência foi a redução da complexidade da
economia do país. De outro modo, a indústria que até então apresentava sinais
de semi-estagnação, tanto do ponto de vista do volume produtivo quanto da
produtividade, mostrou, a partir de desses anos, perda relativa de importância
na economia nacional. A percepção clara, a época, era de que a indústria
brasileira perdera competitividade.
Os problemas, entretanto, no início dos anos 2000, pareciam aflições que o
Brasil poderia superar. Nesses novos anos, uma confluência de fatores positivos,
embora conjunturais, permitiram à economia elevar seu nível de renda e dar
saltos na geração de empregos, reacendendo a esperança no desenvolvimento.
Foi ali que a expansão inusitada da demanda chinesa faz o preço das commodities
internacionais subir, favorecendo as exportações do Brasil. Ao mesmo tempo, as
condições financeiras do Governo Federal deram às autoridades alavancas para
estimular o consumo, melhorar a distribuição secundária da renda e retomar os
investimentos públicos. Assim, diante da elevação rápida da demanda interna
e do controle da inflação pelo uso (novamente) da âncora cambial, o país viveu
anos de crescimento sem, contudo, enfrentar as dificuldades fundamentais da
sua estrutura econômica, marcadamente na indústria.
De outro modo, o setor manufatureiro que vinha sofrendo atrasos relativos
desde 1980 e que aprofundaram-se nos anos 1990, enfrentou, nos anos 2000,
uma dicotomia que, em parte repetiu os dilemas dos anos pós-Real. Isto é, o
crescimento acelerado da demanda interna poderia resultar em investimentos
vigorosos e transformadores. Havia, no entanto:
1. preço baixo das importações devido a taxa de câmbio valorizada;
2. liberalização acelerada das trocas internacionais, inclusive financeiras,
executada nos anos 1990, facilitando as compras no exterior e permitindo a
troca de fornecedores internos por externos;
3. elevadas taxas de juros dos financiamentos de curto e médio prazos; e
4. estreito horizonte para o planejamento.
Diante disso, o que os números mostram é que, embora a produção industrial
tenha se elevado, ela não acompanhou o crescimento da demanda. A diferença
foi abastecida por bens importados que, aos poucos, deslocaram a produção
nacional, esvaziando ainda mais o tecido industrial brasileiro e reduzindo, a
olhos vistos, a complexidade da economia (gráfico 1). O cenário, mais uma vez,
desestimulava ações ousadas por parte do capital industrial privado.
2 - Aos poucos a pauta de exportações, que era crescentemente industrial, estagnou em termos
de sofisticação e valor agregado. Ao mesmo tempo, a importação não sofreu grandes mudanças
em razão do baixo crescimento econômico daqueles anos e da elevada proteção tarifaria mantida
pelo Governo Federal.
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Gráfico 1 – Índice de Complexidade da Economia brasileira (ECI), 1960-20103
(em pontos)
Fonte: GALA, Paulo. Ascensão e queda da complexidade da economia brasileira: 1964-2014.
(Endereço: http://www.paulogala.com.br/ascensao-e-queda-da-complexidade-da-economiabrasileira1964-2014/ (extraído em: 11/01/2017).
Na verdade, os investimentos nos anos de crescimento econômico, mesmo
maiores, se revelaram aquém do necessário para modernizar e tornar competitiva
a indústria nacional. Mais ainda, parte significativa deles foi direcionada para
a importação de máquinas e equipamentos, desviando demanda da indústria
brasileira de bens de capital, vazando poder de compra e empregos, sem,
contudo, gerar contrapartidas de exportação a partir de uma produção mais
competitiva. O resultado pode ser resumido, em grandes linhas, na figura 1:
Figura 1 – Perda de competitividade do setor produtivo brasileiro
Setor produtivo com
reduzido grau de
complexidade
Indústria perdeu poder
de arrasto, dimensão e
legitimidade
Serviços não alcançaram
patamar para agregar
valor a produção
Economia brasileira, exceto pelo
setor agropecuário,
perdeu competitividade
Fonte: elaboração própria.
O Índice de Complexidade Econômica (ECI) captura não apenas a diversidade produtiva de uma
economia, mas também sua competitividade internacional através da observação variedade de
sua pauta exportadora. Assim, quanto maior o indicador, maior a complexidade econômica com
reflexos sobre a qualidade dos empregos gerados, a renda per capita e sua capacidade de produção de bens e serviços de maior valor agregado. Para maiores detalhes ver, Atlas of Economic
Complexity. Disponível em: http://atlas.cid.harvard.edu/.
3
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Diante disso, não pode surpreender o resultado da participação da indústria
brasileira no PIB (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Participação da indústria brasileira no PIB, 1947-2013*
(em porcentagem)
* A série, embora termine em 2013, foi escolhida por possuir amplitude maior, alcançando o começo da
industrialização brasileira.
Fonte: Ipeadata (extraído em: 11/01/2017).
De outro modo, os números que se apresentam hoje para a indústria que produz
em território brasileiro refletem problemas que se acumularam desde a década
de 1980 e não foram convenientemente enfrentados. Os governos avançaram
sobre temas importantes que tinham como meta: a redemocratização (década
de 1980), a estabilização da economia (década de 1990) e o crescimento com
distribuição (década de 2000). O desafio de reconstruir o projeto ou a trilha do
desenvolvimento, visando o longo prazo, todavia, permaneceu4.
Assim, a perda, ano após ano, da competitividade da indústria brasileira,
marcadamente a de transformação, engendrada durante mais de três décadas,
consequentemente, cobrou seu preço: após tanto tempo de ajuste negativos e
adequação das empresas às oportunidades e às necessidades de acumulação
e/ou sobrevivência, transformaram os problemas conjunturais em desafios
estruturais e de difícil solução.
Enfrentou-se, na maioria das vezes, com competência aquilo que parecia mais urgente e gerador
de instabilidade social. O enfraquecimento sistemático, de larga escala e fatal da indústria, com
impactos encadeados para todo o sistema econômico e flagrantes reflexos sobre a sociedade,
foram, contudo, adiados.
4
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1.2. A evolução dos indicadores de comércio exterior
A observação da evolução dos números do comércio exterior brasileiro
comprova a complexidade dos desafios enfrentados pelo setor produtivo. Por
exemplo, se o foco recai, primeiramente, sobre as exportações, ganha destaque
o estreitamento da posição ocupada pelos bens manufaturados na balança
comercial a partir de 2001 (gráfico 3). Por outro lado, nesses anos, ganham
importância os bens básicos que, somados aos semimanufaturados, revela
que as exportações brasileiras tornaram-se menos sofisticadas, caminhando
crescentemente para a commoditização5.
Gráfico 3 – Participação no valor das exportações por categorias de valor
adicionado, 1995-2016
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
O argumento é reforçado pelos números do gráfico 4. A perda de sofisticação da
pauta de exportações do país, se observada a partir do volume (quilogramas),
aparece com queda acentuada do peso das vendas ao exterior de bens
manufaturados, cujo preço é relativamente estável, e o pequeno crescimento
observado na participação dos bens básicos sobre a tonelagem total exportada.
Isso indica que o ganho de participação dos bens básicos se deu por dois
motivos: 1. crescimento significativo dos preços dos produtos de menor valor
agregado; e 2. queda acentuada no volume vendido ao exterior de bens mais
sofisticados.
Ao observar a pauta de exportações brasileira, em 2014, descobre-se que cinco produtos simples,
ferro, carne, soja, açúcar e petróleo, todos commodities, foram responsáveis por quase 50% da
total vendido ao exterior.
5
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Gráfico 4 – Participação no volume das exportações por categorias de valor
adicionado, 1995-2016
(em percentual)
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
Os números, portanto, robustecem a hipótese de que a produção brasileira
perdeu competitividade nos últimos anos. Além do menor espaço nos itens
de elevado valor agregado, o hiato foi ocupado por bens mais simples, cuja
volatilidade do valor unitário é elevada. De outro modo, os resultados da
balança comercial brasileira voltaram a depender menos da conquista de
mercados em razão da qualidade e preço dos produtos fabricados aqui e mais
do aproveitamento de preços flexíveis de commodities exportadas.
BOX 1 – OS TERMOS DE TROCA E OS SUPERÁVITS COMERCIAIS
A evolução dos termos de troca do comércio exterior brasileiro aponta para a importância da
variação de preços sobre os resultados da balança comercial. Os anos indicados como fase 3 no
gráfico mostram que os superávits comerciais do país coincidiram com a elevação dos preços
das commodities internacionais, provocada pelo crescimento da absorção chinesa, fruto de seu
desempenho econômico. Do mesmo modo, mas na rota contrária, durante a fase 4, o Brasil enfrentou
problemas em sua balança comercial.
Evolução dos termos de troca do comércio exterior brasileiro, 1995-2016
(Índice média de 2006 = 100)
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
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O quadro torna-se mais expressivo quando se observa, por exemplo, o coeficiente
de penetração das importações6. As figuras do gráfico 5 expõem o quanto a
importação passou a atender o mercado interno no período de crescimento
econômico sem reação equivalente da indústria. A figura A, por exemplo, mostra
que a indústria de transformação viu a importação praticamente duplicar sua
participação na disponibilidade de interna de bens do setor em menos de 10
anos. Não por coincidência, o movimento seguiu a ciclo econômico e a oscilação
da taxa real de câmbio7.
Os subsetores da indústria repetem com semelhança variável o movimento geral
da indústria de transformação. Isso aconteceu com os subsetores de alimentos
e de artigos de vestuário (bens de consumo não duráveis) (figura B). Os bens
de consumo duráveis, representados pelos móveis e veículos automotores
e reboques (figura F), também, mostraram movimento semelhante, embora
com maior defasagem. Entre os bens intermediários, representados pelos
subsetores de metalurgia e produtos de metal (figura C) e subsetores químico,
farmacêutico e farmoquímico e coque e derivados de petróleo (figura E), repare
que apenas o subsetor farmacêutico e farmoquímico não respondeu a crise. Já
máquinas e equipamentos (figura D), elétricos ou não, seja bens de capital ou
não, também acompanharam, grosso modo, o comportamento da indústria de
transformação. A exceção ficou por conta de equipamentos de informática.
O conjunto dos dados mostra, portanto, que a demanda interna, no período
de expansão econômica, foi crescentemente atendida por bens industriais
importados. A indústria brasileira não reagiu à altura e, apesar de os níveis
de utilização da capacidade instalada bastante elevados, não aumentou
suficientemente seu investimento e se modernizou para competir com as
compras de todos os tipos feitas aos residentes no exterior.
Gráfico 5 – Coeficiente de penetração de importações, 2003-2016
(em percentual)
FIGURA A
FIGURA B
O coeficiente de penetração das importações é definido como: Mit/(Yit+Mit-Xit), onde M é o
valor das importações, Y é o valor da produção interna e X é o valor das exportações todos em
relação ao produto i no período t. Ver Made in BraSil nº 1, outubro de 2016. Disponível em:
http://www.abdi.com.br/Estudo/1%20-%20MiB%20-%20out-2016%20A%20F.pdf
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FIGURA C
FIGURA D
FIGURA E
FIGURA F
Fonte: Confederação Nacional da Indústria.
Outro conjunto de dados reforça a análise. O Índice de Comparação de
Volume (gráfico 6) mostra que, para todas as categorias de uso, o volume de
bens importados prosperou mais rapidamente do que a produção nacional,
marcadamente nos anos de crescimento econômico. Ou seja, não se trata
apenas de variações nos preços relativos ou de importações que se reverteram
em exportações de maior valor agregado ou ainda de processos de abertura
comercial que poderiam ter elevado as importações rapidamente sem a
simultânea reação da produção interna, posto que esta demandaria mais tempo
para se adequar. Nenhuma dessas condições esteve presente a partir de 2003. O
que se viu, na realidade, foi um processo de crescimento econômico baseado na
ampliação da demanda interna, com câmbio valorizado e sob o mesmo grau de
liberdade comercial desfrutado pelo Brasil desde os anos 1990.
O Índice de Comparação de Volume é definido pela razão entre o volume importado, VM (transformado em índice de base 100), e o volume da produção física da brasileira, VY (transformada em
índice de base 100), ambos relativos à mercadoria i no período t. Ou seja, ICV= VMit/VYit .
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Gráfico 6 – Índice de Comparação de Volume, 2002-2016
(em percentual)
Figura A – Bens de consumo duráveis
Figura B – Bens de consumo semiduráveis e não-duráveis
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Figura C – Bens intermediários
Figura D – Bens de capital
Fonte: Banco Central do Brasil (importação) e IBGE (produção física). Elaboração própria.
Em resumo, havia acumulada perda de competitividade que se agravou nesses
anos de crescimento econômico em razão dos sinais percebidos pelo setor
privado, marcadamente a indústria, que, embora crescendo em faturamento e
mesmo em investimento, não conseguiu rivalizar com a produção importada,
preferindo, então, apenas ajustar-se9.
Foram os bens de consumo que cresceram acima da média, acelerando o valor das compras no
exterior, marcadamente os bens de consumo duráveis. Por exemplo, que os bens de consumo duráveis mais do que dobraram sua participação nas importações do país em um período em que as
compras totais no exterior cresceram céleres. Em dólares, as compras de bens duráveis no exterior
passaram de US$ 261, 2 milhões, em outubro de 2004, para US$ 2.587,7 milhões em novembro de
2011. Um crescimento de 890,8%, enquanto às importações totais aumentaram 263,0%. (Banco
Central do Brasil, Séries temporais. Consultado em: 11/01/2017. Endereço: https://www3.bcb.
gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries )
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1.3. Valor, volume e preço das importações
Não por coincidência, a observação mais detalhada dos preços médios das
importações (gráfico 7), por categoria de uso (figuras A, B e C), aponta que a
maioria do que foi comprado no exterior mudou sua tendência a partir de 2003,
crescendo firmemente até 2012 (figura A) ou 2013 (figura B). Mais do que isso, nas
figuras A e B, é notável a inflação dos bens importados no período assinalado
como fase 2 nas categorias bens de consumo duráveis, não duráveis, matérias
primas e produtos intermediários e combustíveis e lubrificantes. Também sem
qualquer coincidência, tão logo a crise econômica bateu as portas do país10,
também o preços dos itens comprados pelo Brasil no exterior iniciaram firme
queda, ainda sem sinais de reversão.
O que havia no período ascendente e o que mudou? É preciso observar que
nos anos de crescimento havia três fatores fundamentais para as decisões de
importação atuando simultaneamente e na mesma direção:
1. os termos de troca melhoraram;
2. o câmbio mostrou-se sobrevalorizado11 ; e
3. o país alcançou as mais altas taxas de crescimento da renda em décadas.
Em outras palavras, a pressão da demanda chinesa elevou o preço dos bens
exportados pelo Brasil e a maior entrada de dólares atuou para que o preço da
divisa estrangeira barateasse. Somado a isso, o crescimento da economia, ao
aumentar a renda disponível de famílias e empresas, fez crescer a demanda
por bens importados, facilitada ainda pelo baixo preço do dólar. O circuito era
ainda premido pela entrada de investimentos estrangeiros interessados na taxa
básica de juros do país, no baixo preços dos ativos e na expansão de receita de
alguns setores12.
E os termos de troca pioraram. Ver Box 1.Ver Made in BraSil nº 1, outubro de 2016. Disponível em:
http://www.abdi.com.br/Estudo/1%20-%20MiB%20-%20out-2016%20A%20F.pdf .
11
É preciso dizer, embora o período seja assunto da próxima seção, que o comportamento dos
termos de troca sofreu alteração, porém, no final de 2011. A queda acentuada refletiu mudanças
na demanda internacional e os preços das commodities foram diretamente afetadas. Mais do que
isso, o final de 2011 marcou não apenas mudanças negativas no termos de troca, mas também
o início da desvalorização cambial, ambas desfavoráveis ao crescimento das importações. As
compras no exterior, todavia, não responderam imediatamente. Na verdade, tal como previsto
na teoria econômica, as importações responderam com atraso às mudanças cambiais e passaram
a declinar firmemente apenas com os primeiros sinais da crise econômica que impactou mais
fortemente a renda entre o final de 2014 e 2016. Tal como defendido nos modelos keynesianos
de diversos matizes, o fator mais importante para a determinação das importações mostrou ser o
patamar da renda nacional e a taxa de crescimento econômico do país.
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Gráfico 7 – Preço médio dos bens importados por categoria de uso, 1995-2016
(US$/kg)
Figura A
Figura B
ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial | Made In Brasil - Análise Econômica do Comércio Exterior
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Figura C
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria
O gráfico 7 mostra ainda duas informações que merecem olhares mais
aprofundados nas análises de conjuntura:
1. a escolha de bens de maior ou menor preço no mercado internacional
de acordo com o comportamento do PIB;
2. a especificidade do comportamento dos preços dos bens de capital.
A primeira informação, no caso brasileiro, ainda de acordo com as figura A e B, o
fenômeno fica claro: no período de crescimento econômico, e mais intensamente
nos anos de câmbio valorizado, o consumo do país de bens importados se fez
a preços crescentes em quase todas as categorias de uso, indicando o maior
poder aquisitivo de pessoas e empresas, reforçado pelo preço competitivo dos
itens comprados no exterior graças ao valor do câmbio.
Já a especificidade dos preços dos bens de capital importados, vinculada
exatamente ao setor mais volátil e, ao mesmo tempo, o mais importante
para a compreensão do comportamento da economia, surge porque não
segue a tendência verificada para as demais categorias de uso. A figura C do
gráfico 5 exibe o comportamento de queda tendencialmente monotônica do
preço médio dos bens de capital importados. De outro modo, o preço médio
de máquinas e equipamentos comprados no exterior pelo país, desde o ano
2000 aproximadamente, manifesta inclinação negativa, embora com fortes
oscilações. Ou seja, surpreendentemente, o ciclo econômico não parece ter
influído sobre as escolhas de máquinas e equipamentos que executivos e
engenheiros fizeram no exterior. A pergunta central, então, é: por quê?
A resposta não é simples e merece aprofundamento, pois pode revelar problemas
de incentivo à inovação, modernização, crescimento e, portanto, melhoria
da produtividade do país. Embora de maneira ainda exploratória, é possível
apontar duas razões e formular uma hipótese que auxilie na interpretação desse
comportamento, relacionando perda de competitividade e fluxo comercial do
país. As razões são duas:
ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial | Made In Brasil - Análise Econômica do Comércio Exterior
19
1. a China tornou-se uma potência industrial mundial e passou a exportar
bens de capital a preços mais acessíveis do que seus concorrentes europeus. O
Brasil “naturalmente” tornou-se comprador de máquinas e equipamentos do
país asiático;
2. mais importante, porém, parece ser a decisão executiva das empresas
em expandir sua produção horizontalmente, elevando marginalmente a
produtividade de linhas de produção instaladas. Em outras palavras, as
máquinas adquiridas no exterior não promoveram mudanças tecnológicas
importantes. Os novos equipamentos, majoritariamente, eram dirigidos à
produção de bens já fabricados no país, mais modernos do que os usados então,
os velhos equipamentos não foram descartados e destinavam-se a atender
parte do crescimento observado da demanda interna, jamais competindo por
novos mercados no exterior.
As duas razões apontadas para a queda no preço médio dos bens de capital
importado, no entanto, não explicam porque as empresas agiram assim,
fazendo opções dentro de terreno conhecido. Para chegar a um porque, é
preciso lembrar que:
1. a indústria entre 1930 e 1980 foi responsável pelo desenvolvimento
econômico brasileiro. Apenas nos turbulentos anos 1980, a dinâmica de expansão
da economia brasileira foi alterada e, mais do que isso, não se recuperou desde
então. Naqueles anos, as dificuldades levaram o Brasil crescer pouco durante
toda a década, resultando em baixo investimento ao mesmo tempo em que o
mundo desenvolvido automatizava processos produtivos e a eletroeletrônica
dava seus passos iniciais nas plantas produtivas;
2. o controle da inflação nos anos 1990, ao mesmo tempo em que
representou enorme avanço para o país, implicou, pelo próprio uso da âncora
cambial como mecanismo de estabilização de preços , dificuldades para a
indústria localizada no território nacional. Agora, setores produtivos pouco
competitivos, em razão do atraso relativo dos anos 1980, foram expostos à
abertura comercial em meio a elevadas taxas internas de juros, pouca fontes
de financiamento de longo prazo e câmbio valorizado. Diante do cenário, os
investimentos mantiveram-se em baixa e a entrada de capital estrangeiro se
tornou a responsável pela modernização parcial do parque produtivo. A década
de 1990, deste modo, representou mais uma década de atraso relativo do setor
produtivo brasileiro, marcadamente da indústria, pois no exterior a telemática
já avançava sobre o processo produtivo, reduzindo os custos de bens e serviços;
3. os anos 2000, portanto, encontram as plantas das empresas,
marcadamente as industriais, defasadas e pouco competitivas. Havia falta de
horizonte para planejamento e as expectativas se reduziam as projeções de
curto prazo. Assim, quando o ciclo de expansão econômica chegou, trazendo
forte crescimento da demanda interna, não foi acompanhado na mesma
velocidade pelo aumento da produção de bens finais e de insumos requeridos.
Na verdade, a âncora cambial voltou a ser acionada para controle de preços em
período de expansão acelerada da economia, as taxas de juros permaneceram
em patamares muito acima dos padrões internacionais e o horizonte de
planejamento permaneceu curto diante da fragilidade competitiva. Havia
câmbio novamente sobrevalorizado, poucas barreiras comerciais e o aumento
de custo do trabalho.
Para uma análise da importância da âncora cambial para a estabilização de preços, ver FILGUEIRAS, Luiz. História do Plano Real. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2000.
13
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20
Assim, o ciclo recente não estimula o investimento para competir com a oferta
estrangeira, pois exigiria mais do que era possível ou racionalmente interessante
para grande parte do capital aqui instalado.
Mais ainda. O crescimento da demanda interna nos anos de bonança já era
suficiente para a utilização plena das máquinas, novas contratações e alguma
ampliação desde que barata ou horizontal com tecnologia conhecida e
depreciada no preço de máquinas e equipamentos.
Frente a isso, a hipótese afirma que a perda visível de competitividade do
setor produtivo brasileiro14, embora tenha começado nos turbulentos anos
1980, viu-se agravada nos ajustes para a estabilização de preços dos anos
1990 e exasperada nos anos 2000, no período de crescimento. O quadro da
competitividade brasileira era tão preocupante que, nestes anos, nem mesmo
o crescimento vigoroso da demanda interna foi capaz de renovar a indústria
nacional ou criar nichos importantes capazes de serem ocupados pelo capital
industrial.
Logo, o resultado histórico é a fragilidade da indústria brasileira frente à
competição internacional. Mais do que isso, o atraso relativo do setor secundário
redundou em outro agravante competitivo: o setor de serviços, ao não ser
demandado, não se desenvolveu para agregar valor à produção nacional. Isto
é, não evoluiu para a prestação de serviços industriais sofisticados como hoje é
visível nas economias avançadas.
Em poucas palavras, a hipótese é de que a perda de competitividade da
produção nacional remonta quase três décadas e a queda do preço médio dos
bens de capital importados foi causada pela dificuldade encontrada pelo capital
produtivo brasileiro em posicionar-se frente à competição internacional dentro
dos preços macroeconômicos praticados no país por longos anos, preferindo
ajustar-se à romper barreiras tecnológicas dominadas.
Os números desagregados da balança comercial nos últimos anos reforçam a
hipótese e serão apresentados na próxima seção.
A exceção fica por conta da agropecuária em razão da abundância de fatores naturais. Já para a
agroindústria, há aproximação com o quadro desenhado e para a indústria de insumos e serviços
voltados para a agropecuária, a semelhança é ainda maior.
14
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21
2. OS NÚMEROS DA BALANÇA COMERCIAL E DE SERVIÇOS
2.1. A balança comercial
O ano de 2005 foi especialmente marcado e comemorado por boa parte
dos empresários e entidades ligadas ao comércio exterior. Naquele ano, as
exportações alcançaram 118,6 bilhões de dólares, recorde de exportação e
superação da marca de US$100 bilhões. Vencida esta etapa, um novo recorde
foi estabelecido em 2011, com US$ 256 bilhões. Hoje, com o comércio mundial
ainda sob rescaldo da recente crise financeira mundial, o Brasil exporta valores
menores do que em 2011, mas muito acima dos comemorados em 2005. Em
2016, por exemplo, as vendas ao exterior somaram 185,2 bilhões de dólares.
É interessante notar que, mesmo não apresentando exportações recordes, o
saldo da balança comercial foi recorde: US$ 47,7 bilhões. O número surpreende,
pois significa aumento de 142,2% quando comparado com 201515. A surpresa
diminui quando, observando os dados mais recentes, percebe-se que o resultado
se deve as importações terem sofrido redução maior do que a observada nas
exportações.
A análise mais detida dos números revela outras mudanças importantes nas
trocas do país com o exterior. Por exemplo, as exportações de 2005 alcançaram
uma taxa de cobertura16 maior do que a observada em 2016. Ou seja, se, em
2005, a taxa de cobertura ficou em 1,61, em 2016, onde houve maior volume
em dólares exportados, esta taxa não chegou a 1,35, implicando que as
exportações, embora pagassem as importações, geravam menos dólares para
outras despesas do balanço de pagamentos. O gráfico 8 ajuda a perceber esses
movimentos.
É importante notar a diminuição do valor exportado a partir de 2012 relacionado
à queda dos preços das commodities, a desaceleração dos fluxos comerciais
internacionais e às compras chinesas. Só em 2015, por exemplo, houve queda
de 15,1% em relação a 2014.
Os resultados de 2016, entretanto, apontaram para a provável reversão da
tendência. A queda das exportações no ano passado ficaram em apenas 3,1%,
quando comparada com 2015. Isso reforçou a já aventada mudança no mercado
mundial e gerou novas expectativas, agora, positivas para 2017, marcadamente
em razão da recuperação dos preços de algumas commodities.
O resultado mais próximo daquele obtido em 2016 ocorreu em 2006, quando o país alcançou
superávit de US$ 46,5 bilhões.
16
Taxa de cobertura é a razão entre o total de exportações e o total das importações de um país.
O índice ajuda a medir a capacidade das exportações de pagarem as importações, avaliando a
solvabilidade da balança comercial.
15
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Gráfico 8 - Balança comercial brasileira,1997-2016
Fonte: Secex/MDIC
O resultado agregado da balança comercial, entretanto, esconde outras boas
notícias. A pauta exportadora brasileira, por exemplo, é muito diversificada, com
exportações de praticamente todos os setores produtivos. A predominância
é, hoje, de produtos básicos e semifaturados como soja, minérios, petróleo,
carnes, açúcar, celulose e couros, favorecidos pelo alto valor das commodities
nos anos 2000.
Os gráficos 9, 10, 11 e 12 mostram o percentual de participação de cada grupo de
produtos que compõe as exportações. Os produtos mais elaborados, de maior
conteúdo tecnológico e que possuem maior valor agregado, participam com
40,8% da pauta. Ocorre que os produtos básicos têm um percentual ainda mais
alto, 43,7%. Logo, a participação relativa dos itens de média-alta e alta tecnologia
é menor. Os bens com maior peso nas exportações de manufaturados são os
relacionados ao setor automotivo e aeronáutico, 14,5% e 6,8% respectivamente.
Este valor já computada o aumento percentual da participação dos bens de
maior intensidade tecnológica em 2016 frente a 2015, principalmente em razão
do crescimento das exportações de automóveis.
Para um horizonte maior de anos, quando se compara a exportação de hoje
com a média dos três últimos anos de exportações de produtos de média-alta e
alta tecnologia antes da crise de 2009, percebe-se que este grupo de produtos
perdeu 27,3% do seu peso na pauta vendida ao exterior: saíu de 30,3%, média
pré-crise, para 22% nos últimos oito anos.
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Gráfico 9 - Exportações 2016 - US$
Gráfico 10 - Exportações de Produtos básicos 2016 - US$
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Gráfico 11 - Exportações de Produtos Manufaturados 2016 - US$
Gráfico 12 - Exportações de Produtos Semimanufaturados 2016 - US$
Fonte: Secex/MDIC
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Observando a balança comercial a partir de algumas grandes categorias (bens de
capital, bens de consumo e commodities), destaca-se a recuperação dos saldos
comerciais dos bens de capital e bens de consumo duráveis, que após um longo
período de resultados negativos, apresentaram uma expressiva recuperação em
2016 (gráficos 13 a 16). Em detalhes, o gráfico 13 sinaliza uma redução no gap
das curvas de exportação e importação dos bens de capital, com perspectivas
de inversão no próximo ano. A mesma recuperação observada na categoria
de bens de capital também é verificada nos bens de consumo duráveis, com
uma tendência de recuperação no saldo da balança comercial desde 2014,
chegando, em 2016, a um superávit de US$ 1 bilhão. Esse resultado pode ser
atribuído a queda nas importações, saindo de US$ 15,2 bilhões em 2011 para
US$ 4,4 bilhões em 2016, uma queda de aproximadamente 70%. Essa redução
nas importações pode ser atribuída as expectativas de baixo crescimento do
pais, associada a uma contenção dos consumidores dado o cenário de queda
no número de empregos e alta taxa de juros. Em todos os casos, a recuperação
na balança comercial de cada categoria se deveu principalmente a queda nas
importações.
Gráfico 13 - Fluxo de comércio
de bens de capital, 2010/2016
Gráfico 14 - Fluxo de comércio de bens de consumo duráreis, 2010/2016
Gráfico 15 - Fluxo de comércio de bens de
consumo não duráreis, 2010-2016
Gráfico 16 - Fluxo de comércio
de produtos básicos, 2010/2016
Fonte: Funcex
Das três categorias econômicas avaliadas, em 2016, os bens de consumo não
duráveis são os que apresentaram maior volume de exportação, US$ 24,4
bilhões, contra US$ 18,3 bilhões de bens de capital e US$ 5,4 bilhões de bens
de consumo duráveis. Embora a série histórica apresente um saldo positivo
na balança comercial de bens de consumo não duráveis, desde 2010 é notória
a tendência de queda. Apenas no último ano surgem sinais de alteração na
trajetória.
Um olhar mais detalhado permite identificar os principais produtos importados
e exportados, por CNAE 3 dígitos, em cada uma dessas categorias econômicas
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26
no ano de 2016. O Gráfico 17 apresenta as duas categorias de produtos, por
CNAE 3 dígitos, mais comercializadas em 2016. Com relação as exportações de
bens de capital destacam-se a fabricação de aeronaves (US$ 4,44 bilhões) e a
construção de embarcações (US$3,65 bilhões). Em bens de consumo duráveis
destacam-se a fabricação de automóveis camionetas e utilitários (US$ 4,39
bilhões) e fabricação de móveis (US$ 0,46 bilhões). Já em bens de consumo não
duráveis, o abate e fabricação de produtos de carne é responsável por 51,5%
das exportações desses bens. No cenário das importações, os produtos da CNAE
fabricação de máquinas e equipamentos representam 30,5% das importações de
bens de capital. Já na categoria de bens de consumo duráveis, a CNAE fabricação
de automóveis e camionetas tem uma grande participação, foi responsável por
64,1% das importações de bens duráveis em 2016. Nos bens de consumo não
duráveis a maior participação nas importações foram dos produtos da CNAE
fabricação de produtos farmacêuticos, US$ 5,24 bilhões.
Gráfico 17 - Duas principais CNAEs, 3 dígitos, mais exportadas/importadas
por categoria econômica, 2016
Fonte: Funcex
Mas quem são os principais parceiros comerciais do Brasil, e quais são os
principais produtos, por grandes categorias, comercializados com esses
países? A Tabela 1 apresenta a origem e o destino dos produtos importados e
exportados pelo Brasil, por categorias econômicas em 2016. Com relação as
vendas brasileiras, o Estados Unidos é o principal comprador de bens de capital
(US$ 4,21 bilhões) e de bens de consumo não duráveis (US$ 2,05 bilhões). Do
total de bens de capital exportados pelo Brasil, 23% tem como destino o Estados
Unidos. Embora seja um valor expressivo para o Brasil, esses US$ 4,21 bilhões
de bens de capital exportados para os Estados Unidos representam em média
0,70% do que é importado de bens de capital por esse pais. Com relação aos bens
de consumo duráveis, a Argentina é o principal destino dos produtos brasileiros,
US$ 3,49 bilhões, seguido do Estados Unidos (US$ 0,49 bilhões) e México (US$
0,31 bilhões). Considerando bens de consumo como um todo, sem descriminar
entre duráveis e não duráveis, dados divulgados pelo Banco Mundial mostram
que 24,11% do que é importado pela Argentina é originário do Brasil.
As compras brasileiras, nas categorias econômicas avaliadas, têm a China como
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27
um dos principais parceiros. Em 2016, do total de bens de capital importados,
22,4% (US$ 4,11 bilhões) eram originários da China e 15,5% (US$ 2,85 bilhões)
dos Estados Unidos. A China também é a principal vendedora de bens de
consumo não duráveis para o Brasil, com a marca de 19,7% do total desses bens
importados pelo Brasil. Com relação aos bens de consumo duráveis, a China
perde a primeira posição para a Argentina, que tem domínio de 32,4% das
importações brasileiras.
Tabela 1: Principais países com maior fluxo de comércio com o Brasil por
categorias econômicas, 2016.
Fonte: Funcex
Até o momento a análise se concentrou em três categorias de produtos de uso:
bens de capital, bens de consumo duráveis e não duráveis. Porém, sabe-se que as
exportações de produtos básicos têm um grande peso na pauta exportadora do
país. Nas últimas décadas, a demanda mundial por produtos básicos aumentou
significativamente e esse fenômeno favoreceu o Brasil que é um forte produtor
desses itens. Assim, em 2011, as exportações de commodities alcançaram o
maior valor no período avaliado (US$ 122,5 bilhões), sendo que 30,8% (US$
37,7 bilhões) dessas exportações tiveram a China como destino e 7,1% (US$ 8,7
bilhões) os Estados Unidos. Dali em diante, o que se observa é uma tendência de
queda nas exportações, chegando a US$ 79,2 bilhões em 2016, queda de 35,3%
quando comparado com 2011 (gráfico 9).
As estatísticas do comercio brasileiro de produtos básicos, em 2016, mostram
que a China ainda é o principal destino dessas exportações, sendo responsável
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28
pela aquisição de 35,9% (US$ 28,43 bilhões) dos produtos simples exportados
pelo país. De acordo com dados do Banco Mundial, em 2015, a Austrália, Estados
Unidos e o Brasil foram os três principais exportadores de produtos básicos para
a China. Com relação aos produtos básicos exportados em 2016, 31,3% (US$24,8
bilhões) pertencem a categoria CNAE produção de lavouras temporárias, seguida
da categoria extração de minério de ferro (US$ 13,3 bilhões, 16,8%).
Com relação as importações brasileiras, os principais vendedores de produtos
básicos para o Brasil estão na América do Sul: Argentina (14,0%), Bolívia (9,3%)
e Chile (8,6%). No cenário das importações, as duas principais categorias CNAE
importadas foram extração de petróleo e gás natural (US$ 4,2 bilhões, 29,3%) e
produção de lavouras temporárias (US$ 3,0 bilhões, 21,0%).
Gráfico 18 - Principais países com maior fluxo de comércio de produtos
básicos, 2016.
EXPORTAÇÕES
IMPORTAÇÕES
Fonte: Funcex
Os dados analisados até agora chamam a atenção para um Brasil de
economia diversificada que se transformou nos últimos 60 anos. No comércio
internacional, essas décadas de mudança viram o país enfrentar várias crises
econômicas e mesmo uma ‘década perdida’ (anos 1980) que influenciaram, nas
décadas seguintes, o desempenho do Brasil (gráficos 19 e 20). O país, todavia,
descolou-se do resto do mundo nas trocas comerciais, marcadamente a partir
do segundo choque do petróleo, no final da década de 1970 e agravou nos anos
1980. Dessa década em diante, tendo como prioridade o controle da inflação,
dos gastos públicos e do equilíbrio fiscal durante toda a década de 1990, o país
não se preparou para o evento que explodiu o comércio mundial: a globalização.
Gráfico 19 - % de Participação
do Comércio Mundial
Gráfico 20 - Evolução das
exportações brasileiras em %
Fonte: Secex/MDIC
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29
Os números mostram, portanto, que o Brasil parece ter passado anos
demais sem uma estratégia que ligasse o comércio exterior à uma política de
desenvolvimento produtivo. A participação do país no comércio global era de
apenas 1,2% em 2015, o mesmo valor de 22 anos atrás (gráfico 21). A economia
brasileira é muito diversificada, capaz de produzir de alimentos, carros, aviões e
navios, e, portanto, pode almejar uma melhor posição. Naturalmente, a estrutura
produtiva com poucos investimentos, frente aos principais exportadores
mundiais, levou a perda de competitividade e a baixa produtividade relativa da
economia brasileira. Essa realidade, torna a reação mais difícil.
Por isso, mais do que nunca, é necessário maior apoio das políticas públicas
para a educação, base fundamental para a ampliação da Pesquisa &
Desenvolvimento e, por consequência, determinante do avanço tecnológico.
Em resumo, os problemas levantados aqui e na seção 1 deste trabalho indicam
que os esforços realizados ainda não foram suficientes para melhor posicionar o
Brasil no comércio mundial, fundamentando a produção nacional em inovação,
bens de maior valor agregado e elevada produtividade.
A harmonização e busca de sinergia entre a política de comércio exterior e uma
estratégia nacional de desenvolvimento produtivo aparece clara quando se
observa o salto dado pela China nas últimas décadas. O país asiático deixa de ser
uma economia agrária e pobre para transformar-se numa das mais importantes
e pujantes potencias produtivas e comerciais do globo (gráfico 14).
Gráfico 21 - Participação no Comércio Mundial
Fonte: Secex/MDIC
O Brasil, por sua vez, em 2015, foi o 25º exportador (gráfico 22), mesma posição
de 2014, atrás de países como México, Rússia, Espanha. Não é pouca coisa esta
posição, mas é insuficiente se se considerar que o país está entre as dez maiores
economias mundiais.
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30
Gráfico 22 - Principais Exportadores Mundiais, 2015
Fonte Secex/MDIC
O gráfico 23 classifica as exportações brasileiras desde 2005 por intensidade
tecnológica. Nele é possível perceber o crescimento das vendas ao exterior de
produtos não industriais, incentivados pelos produtos de baixa intensidade
tecnológica e pela elevação do preço das commodities até 2011. Com a queda
dos preços, a partir de 2012, houve um grande esforço em aumentar o quantum
exportado, principalmente de minérios, para compensar a queda dos valores.
Mesmo assim, houve queda de 40% nos valores vendidos ao exterior em 2016
comparados a 2011. Ainda assim, em 2016, o patamar é 152% maior do que em
2005. Nota-se que a exportação de alta intensidade tecnológica cresceu 27% nos
últimos 11 anos, enquanto os produtos de média-baixa e média-alta cresceram
35% e 7%, respectivamente.
Gráfico 23 - Exportação de produtos por categorias de intensidade
tecnológica (OCDE),
2005-2016
(em US$ bilhões)
Fonte: Funcex
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31
Quando comparamos as exportações dos produtos brasileiros por categoria
de intensidade tecnologia, de acordo com a classificação da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com outros países
melhores posicionados no ranking de exportações, nota-se que os bens
de capital são preponderantes. Existem pouquíssimos exemplos de países
primário-exportadores e plenamente desenvolvidos, como a Austrália. Isto por
si só chama a atenção para problemas comuns enfrentados pelo Brasil.
Segundo dados pesquisados no Comtrade (United Nations Commodity Trade
Statistics Database), os países que dominam o comércio mundial atualmente,
em algum momento da sua história fizeram a opção por estratégias que
permitissem a mudança qualitativa da economia e com reflexos sobre sua pauta
exportadora. Com exceção do México, que se tornou fornecedor da economia
americana a partir do acordo de livre comércio NAFTA, firmado em 1994,
alterando significativamente sua pauta exportadora, os países da América do
Norte e Europa tinham os bens de capital como o item de maior peso nas suas
exportações. Por outro lado, as economias da China e da Coréia do Sul fizeram o
chamado catching-up tecnológico durante o processo de globalização nos anos
1990 e início dos anos 2000.
Os gráficos 24, 25, 26, 27, 28 e 29 mostram a trajetória recente da pauta
exportadora de países que lograram manter-se entre os mais importantes ou
que deram saltos de desenvolvimento. Nota-se, então, que estas nações: 1. não
priorizaram a exportação de matérias-primas e bens intermediários; ou 2. estes
produtos deixaram de ser importantes em suas vendas ao exterior.
De outro modo, para estes países foi preferível buscar em outros espaços
nacionais os bens simples e focar sua produção em itens de maior valor agregado
e maior conteúdo tecnológico, caraterística marcante dos bens de capital.
Gráfico 24- Exportações da China - % Gráfico 25 - Exportações dos Estados
participação na pauta exportadora
Unidos - % participação na pauta
exportadora
Gráfico 26 - Exportações da
Alemanha - % participação na pauta
exportadora
Gráfico 27 - Exportações do
Japão - % participação na pauta
exportadora
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32
Gráfico 28 -Exportações da Coréia
do Sul - % participação na pauta
exportadora
Gráfico 29 - Exportações do
México - % participação na pauta
exportadora
Fonte: Comtrade
Gráfico 30 - Exportações do
Canadá - % participação na pauta
exportadora
Gráfico 31 - Exportações da
Austrália - % participação na pauta
exportadora
Fonte: Comtrade
Gráfico 32 - Exportações do Brasil - %
participação na pauta exportadora
Gráfico 33- Exportações da
Rússia - % participação na pauta
exportadora
Fonte: Comtrade
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33
2.2. A balança de serviços
A balança brasileira de serviços ganhou um considerável impulso na corrente de
comércio a partir de 2004, favorecido pelo crescimento da indústria do petróleo
e das transações envolvendo grandes obras de construção civil em países da
África e da América Latina. Com exportações totais de mais de US$ 30 bilhões
até novembro de 2016 e crescimento de 545% em 21 anos, os serviços passaram
a ter mais importância no balanço de pagamentos e melhoraram muito sua
taxa de cobertura17, que passou de 0,4 em 1995 para 0,66 em 2016. Isso significa
que o país evoluiu 67% no período e que o crescimento real das exportações
de serviços foi maior que o das importações. Com a crise econômica brasileira,
o envolvimento de grandes construtoras em casos de corrupção e uma real
diminuição nas transações no comércio mundial houve queda na corrente de
comércio a partir de 2015 (gráfico 34).
Gráfico 34 - Balança de Serviços, 1995-2016
(em US$ bilhões)
Fonte: Bacen
As despesas com aluguel de equipamentos, viagens, transportes, serviços
financeiros, serviços de telecomunicações e outros de menor importância
fizeram, por sua vez, que o gasto total com importações de serviços aumentassem
353% nesses 21 anos. Isso aconteceu em função da apreciação do real frente ao
dólar (no caso das viagens de brasileiros ao exterior) e do aumento do comércio
de bens que necessita do apoio dos serviços para se concretizar.
Por outro lado, o déficit de US$ 21,7 bilhões, entre janeiro e novembro de 2016,
seria maior não fosse o crescimento das exportações dos serviços de engenharia
e arquitetura. A operação Lava-jato da Polícia Federal, que investiga casos de
corrupção envolvendo empreiteiras brasileiras, provavelmente influenciará na
exportação destes serviços em 2017 e em anos subsequentes, afetando para
baixo o valor das vendas de serviços ao exterior, com consequente piora do
saldo da balança de serviços.
Os gráficos 28 a 35 mostram a evolução e a dinâmica das exportações e
importações de serviços pelo Brasil.
17
Ver nota anterior.
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34
Gráfico 35 - Exportações de Serviços
Gráfico 36 - Exportações de Serviços,
janeiro-novembro 2016
(em US$ bilhões)
Gráfico 37 - Importações de Serviços,
1995-2016
Gráfico 38 - Balança de Serviços de
Transportes, 1995-2016
(em US$ bilhões)
ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial | Made In Brasil - Análise Econômica do Comércio Exterior
35
Gráfico 39 - Balança de Viagens,
1995-2016
Gráfico 40 - Balança dos serviços de
propriedade intelectual, 1995-2016
(em US$ bilhões)
Fonte: Bacen
Gráfico 41 - Balança dos serviços de Gráfico 42 - Balança de outros servialuguel de equipamentos, 1995-2016 ços de negócio, inclusive arquitetura
e engenharia, 1995-2016
(em US$ bilhões)
Fonte: Bacen
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36
3. AS PROJEÇÕES PARA O COMÉRCIO EXTERIOR
BRASILEIRO E MUNDIAL
O cenário econômico e político no mundo vem passando por profundas
alterações nos últimos meses. Os principais países desenvolvidos estão se
movendo no sentido de revigorar e aumentar competitividade das suas
indústrias, via a adoção de novas tecnologias e também na maior agregação de
valor.
Com a posse do republicano Donald Trump no Governo dos Estados Unidos,
nota-se a adoção de um discurso de teor protecionista, preocupado, em
tese, com o vigor da indústria estadunidense. A sociedade americana tem
instituições mais sólidas e metas de longo prazo que sobrepõe muitas vezes
incertezas conjunturais, sejam políticas ou econômicas e, por isso mesmo, é
necessário mencionar que o ‘revigoramento’ da indústria já estava presente no
Governo Obama, com a preocupação em potencializar a estratégia advanced
manufacturing e a integração da indústria, com a agricultura (bioeconomia) e os
serviços de maior valor agregado.
Não são apenas os Estados Unidos que passam por processos de retomada e
reestruturação das suas políticas voltadas para o desenvolvimento produtivo.
Também na Europa, países, como a Inglaterra, lançaram estratégias recentes
com foco no aumento da competitividade da sua indústria para os próximos
anos. Outro exemplo é Portugal, ao definir sua plataforma para incorporar a
chamada quarta revolução industrial.
Além disso, é preciso observar, nos próximos meses, quais serão os movimentos
de países asiáticos com a saída dos Estados Unidos do Acordo do Transpacífico
(TPP). A pergunta que deve ser feita é se a China voltará seus olhos para ocupar
os espaços que os Estados Unidos vão deixar vazios e/ou adotará uma estratégia
mais agressiva no comércio mundial, ampliando sua presença em mercados
como a América Latina e África.
De qualquer forma, todos esses movimentos podem impactar o crescimento
econômico mundial a médio e longo prazo, assim como interferir de forma
significativa sobre o fluxo de comércio de bens e serviços nos próximos anos.
Diante dessa perspectiva, os organismos internacionais estão constantemente
revendo suas estimativas tanto no que se refere as expectativas de crescimento
do PIB para diversos países, quanto no crescimento do comércio de bens e
serviços.
As últimas estimativas divulgadas que podemos destacar, por exemplo, são
do Fundo Monetário Internacional (FMI). O gráfico 1 apresenta a evolução
das expectativas de crescimento da economia mundial para o ano de 2017
divulgadas nos últimos relatórios do Fundo. (Gráfico 43)
Os números chamam a atenção por mostrarem, ao longo do tempo, que as
expectativas foram diminuindo, fruto do aumento da incerteza em alguns países
em desenvolvimento relevantes, como o Brasil, e também de um contexto
econômico e político bastante distinto do que se observava há dois anos.
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Gráfico 43 - Evolução da Expectativa de Crescimento Mundial para 2017
Fonte: FMI, previsões presentes nos relatórios do World Economic Outlook
Ademais, cabe destacar que há comportamentos distintos no que se refere
às expectativas de crescimento dos países. Quando olhamos para os Estados
Unidos (gráfico 44, figura A), por exemplo, observa-se que houve melhora nas
esperanças de aumento da renda entre um relatório e outro. Isso ocorreu
também com a China (gráfico 44, figura B) que, após um período de desaceleração
econômica, apresentou melhores perspectivas.
Por outro lado, quando o foco recai sobre a evolução das expectativas para a
economia brasileira (gráfico 44, figura C), observa-se piora sistemática, saindo
de uma esperança de crescimento, para 2017, em torno de 4,0%, para apenas
0,2%, na divulgação do último relatório. A piora no quadro econômico foi fruto,
dentre outros fatores, da deterioração do cenário político que reverberou
devastadoramente sobre economia brasileira. Recentemente, a situação parece
estar se normalizando e as expectativas voltaram a melhorar por parte do
Governo dada implementação de reformas importantes voltadas à retomada
do crescimento.
Gráficos 44 - Evolução da Expectativa de Crescimento Mundial para 2017 –
Estados Unidos, China e Brasil
Figura A: Estados Unidos
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Figura B: China
Figura C: Brasil
Fonte: FMI, previsões presentes nos relatórios do World Economic Outlook
Mesmo que se possa observar melhora nas expectativas de crescimento de
alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento, é interessante notar que,
segundo os relatórios do Fundo Monetário Internacional, a taxa de expansão
do comércio projetada até 2021 será significativamente menor do que aquela
observada na série histórica (Gráfico 45). Uma simples verificação da taxa média
de crescimento do comércio global mostra um quadro antes e outro depois da
crise financeira mundial de 2008. Evidencia-se, por exemplo, a redução a quase
metade da expectativa de crescimento mundial: de 6,1% a.a (entre 1980 e 2007)
para 3,4% a.a. (entre 2008-2021).
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Gráfico 45: Taxa de Crescimento do Volume do Comércio de
Bens e Serviços - Mundo
Fonte: FMI, previsões presentes nos relatórios do World Economic Outlook
No caso do Brasil, a queda projetada é ainda maior: um corte de quase dois
terços da taxa de crescimento do volume de comércio de bens e serviços. A taxa
deve passar de 7,3% a.a, entre 1980-2007, para apenas 1,7% a.a, entre 20082016 (Gráfico 46). Tamanha redução se explica em razão da demanda pouco
aquecida por commodities, contrastando com o que houve na primeira década
do século XXI. Além disso, é possível constatar a perda de competitividade dos
produtos manufaturados brasileiros vis-à-vis os de seus principais concorrentes
nos últimos anos, algo que deve ser revertido com a implementação das
reformas sugeridas pelo Governo Federal e pela adoção de uma estratégia de
revigoramento da indústria nacional.
Gráfico 46: Taxa de Crescimento do Volume de Comércio de
Bens e Serviços - Brasil
Fonte: FMI, previsões presentes nos relatórios do World Economic Outlook
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Assim, diante do quadro apresentado, os desafios apontados implicam em um
conjunto amplo de ações que podem ser conduzidas, estimuladas e mesmo
criadas nos próximos anos, para que o Brasil possa retomar o seu ritmo
de crescimento, aumentar a competitividade dos seus produtos e ter uma
participação mais assertiva no comércio mundial.
As apreensões que nublam o otimismo das atividades econômicas já dominadas
pelo país, marcadamente na indústria de transformação e nos serviços
tradicionais, precisam e serão superadas tão logo os frutos dos primeiros
esforços de ação integrada entre o setor privado e o Governo comecem a aclarar
o horizonte das oportunidades. Um exemplo disso são os acordos comerciais
que o Brasil negocia com parceiros cada vez mais desejosos de estabelecer
trocas com o Brasil e que devem catapultar as exportações.
De outro modo, a estrutura produtiva brasileira, a mais complexa do hemisfério
sul, o tamanho do mercado interno e a qualidade das universidades tornam
a economia brasileira, além de resiliente, capaz de gerar respostas criativas e
empreendedoras aos desafios apresentados. Mais ainda, o sistema financeiro
saudável, muito longe de crises ou fragilidades, a estrutura estatal em pleno
funcionamento e a ausência de conflitos internos, somada a amplitude
geográfica com suas implicações, permite afirmar que as condições potenciais
para superação dos gargalos estão disponíveis e, ao fim e ao cabo, darão ao país
oportunidades incontáveis de negócios e oportunidades ainda não imaginadas.
O que não é viável ao país é deixar o momento favorável esvair-se sem aproveitar
as boas expectativas e o bom ânimo que gera no empresariado, trabalhadores,
consumidores e no setor financeiro. É muito importante que as escolhas sejam
feitas e o setor produtivo como um todo, possuindo um norte, seja estimulado à
criação de riqueza e renda para toda a população. O caminho é único: aumentar
a produtividade brasileira com a agregação de valor aos bens e serviços
produzidos a partir da ação conjunta entre Governo e setor privado.
O trabalho, todavia, exigirá esforço de ambas as partes, investimentos
direcionados para setores portadores de futuro e, principalmente, o uso da
potente criatividade da população brasileira aplicada à produção e a geração
de tecnologias inovadoras.
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