Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP / Curso Integrado Hematologia- Patologia - 4º med 1998
Linfomas: fisiopatologia & clínica
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Profª Drª Lígia Niero-Melo
Bloco Hematologia-Patologia, 4º med
Linfomas
I] Conhecimento prévio:
linfopoese: fisiologia (cinética & funções) dos linfócitos
oncogênese
manifestações gerais das neoplasias
II] Linfomas: apresentação/ discussão em classe:
A] Aspectos Gerais
B] Fisiopatologia
C] Manifestações Clínicas
D] Como proceder
Diagnóstico
E] Exames
F] Estadiamento
G] Linfoma Hodgkin e Linfomas não-Hodgkin
H] “Falha nossa”
I] Fatores Prognósticos
J] Como nós abordamos na UNESP
Lígia Niero-Melo
[1]
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I.A] Linfopoese: morfologia/ cinética/ função dos linfócitos
Linfomas: fisiopatologia & clínica
[2]
Os linfócitos têm papel fundamental na manutenção do estado de “saúde”. Só podemos
entender suas variações ( nº , subtipos, modulações) se soubermos como estas cels se
formam/ migram/ diferenciam/ funcionam.
Fato nº 1= a linfopoese acontece em órgãos linfóides 1ários ( MO e timo)
e 2 ários (todo o tecido linfóide restante).
OL1=órgãos linfóides primários (=MO e timo) - OL2=órgãos linfóides secundários (=restante)
4 características fisiológicas peculiares aos linfócitos:
estas cels não são cels obrigatoria/e terminais, ou seja, elas não estão comprometidas com
apenas uma função e depois morrem, como acontece com as outras cels leucocitárias. A
linfopoese em OL1ários ( medula óssea=MO e timo) produz linfócitos incompletamente
diferenciados, capazes de se proliferarem e se diferenciarem em cels terminais que, aí sim,
podem cumprir sua função e morrer. Os OL2ários são todos os linfonodos, baço, anel
Waldeyer/amígdalas, placas de Peyer,numerosos focos de agregados linfóides subendoteliais/
subepiteliais e associados a mucosas/ pele, etc, ou seja, todo e qualquer tecido linfóide que
existe por todo o organismo.
os linfócitos são um grupo heterogêneo de cels, ou seja, abrangidos sob o mesmo “nome”,
mas completamente distintos, induzidos por diferentes mediadores, com diferentes respostas e
atuações, etc. Um grupo de precursores linfóides migra para o timo, onde são induzidos a cels
T, responsáveis pela imunidade celular. Outro fica na MO e se responsabiliza pela imunidade
humoral, com a produção de Ig. Outro grupo (Natural Killer = NK) é capaz de lisar cels-alvo;
alguns linfócitos não seguem nem a via T e nem a via B de maturação. Assim, muito embora os
linfócitos tenham quase a mesma aparência em colorações de rotina (cito-histologia), eles são
distintos entre si, a partir de diferenças na maturação, marcadores celulares, respostas a
estímulos mitogênicos e migração.
os linfócitos são predestinados a migrar. Após o estímulo de produção, estas cels podem
passar horas/dias em seu tecido de origem, mas não “resistem” ao seguinte fluxo: tecido
linfóide circulação periférica ducto linfáticotecido linfóide de origem.Esta peregrinação é
chamada recirculação e permite um contato intenso das cels com antígenos (Ag).
a MO tem tecido linfóide super ativo, distribuído em 85% cels B e 15% cels T. No sangue
periférico (SP) ocorre o inverso: 20% são cels B e 80% são cels T .Os OL2 têm áreas
específicas B ( folículos) e áreas específicas T( paracortex) .
Fato nº 2= a linfopoese nos OL1 é contínua e Ag-independente ( ie, não
requer estimulação antigênica). Nos OL2, os linfócitos tornam-se
imunocompetentes em resposta a estímulo antigênico.
o microambiente das cels linfóides é crítico ( crucial/ fundamental) para seu desenvolvimento
e função. A interação entre estes elementos promove a proliferação/ diferenciação das cels
linfóides.
Microambiente
matriz extracelular (MExC)
macrófagos
fibroblastos
cels dendríticas
cels endoteliais
fatores solúveis (interleucinas/ citocinas)
moléculas de adesão
a linfopoese B acontece predominantemente na MO, mas a cel precursora pode migrar ao
OL2 e adquirir aí os marcadores de cel B. Estes marcadores são antígenos de citoplasma e/ou
de membrana que vão aparecendo/ desaparecendo conforme a maturação prossegue,
obedecendo ao programa genético de síntese de imuneglobulinas ( para as cels B é o
rearranjo VDJ, no cromossoma 14, que é transcrito e que determina em que “turma” a cel B
recém-produzida irá ficar). Sendo a presença de Ig de superfície a característica final de
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maturidade B,a cel B madura migra, então, para um OL2 à procura de ( ou, pelo menos,
preparada para encontrar) antígenos. Em condições de saúde: do total de cels B produzidas,
10% estão em regeneração ativa e 90% estão em repouso, mas prontas a se modularem /
proliferarem/ neutralizarem Ag.
as cels NK saem da MO e têm sua diferenciação no timo. As NK são uma população
heterogênea de grandes linfócitos granulares (LGL), com Ag específivos de membrana (CD56)
e que são controlados pela IL-2
a linfopoese T começa na MO, mas é no timo que o pró-timócito (este, já com alguns Ag
específicos) vai interagir com cels estromais, hormônios/ citocinas, etc, adquirindo/ perdendo
novos Ag, tornando-se imunocompetente e apto à migração . Esta etapa tímica implica em 3
estágios de diferenciação ( subcortical/ cortical/ medular) com intensa proliferação e
cumprimento do programa genético da síntese de receptores cel T (rearranjo TCR,também
no cromossoma 14, que define em que “turma” a cel T irá ficar). Desta produção total
intratímica, 95% das cels morrem por apoptose ( morte celular programada) e apenas 5%
saem do timo, migrando para OL2
outro importante desenvolvimento sofrido pela cel T, ainda em fase intratímica, é a restrição do
complexo maior de histocompatibilidade ( Major Histocompatibility Complex). O MHC é um
grupo de genes no cromossoma 6 que codificam proteínas que atuarão como antígenos de
superfície celular ( próprios de cada indivíduo e que o distinguem das outras pessoas). Assim,
as cels T são programadas para reconhecer estes antígenos somente quando estes estiverem
ligados a certas moléculas na superfície de uma cel-alvo. Este evento de reconhecimento
específico é conhecido como restrição do MHC ( ie, “só reconheço o Ag se este estiver ligado a
alguma proteína de membrana, o que restringe minha atuação “ - Cel T) . Exemplo= cels T
auxiliares ( CD4) só podem reconhecer antígenos complexados com moléculas de superfície
classe MHC II; cels T citotóxicas são restritas à classe MHC I, etc, cada subtipo só pode
complexar com sua “turma” específica.
a linfopoese nos OL2 se faz através da ecotaxia, ou seja, da capacidade que as cels B e T
têm de migrar exatamente para onde moram suas respectivas “turmas”; a isto chamamos
“homing”(= migração para um tecido específico). As áreas de linfopoese dinâmica e ativa são
os centros germinativos foliculares do baço, linfonodos, placas de Peyer e todo o tecidolinfóide-associado-à mucosa ( MALT). Desta atividade linfopoética nos OL2, saem linfócitos
para o SP no curso de uma resposta tipo Ag-Ac.
o baço é composto de polpas vermelha e branca, ambas com estrutura anatômica ( vasos,
cels monocíticas-macrofágicas, etc) que formam uma rede super especial ( tipo “filtro”), com
fluxo migratório peculiar às cels B ( movem-se da zona marginalcentro germinativo da polpa
brancaseios venosos polpa vermelha) e às cels T (movem-se da zona marginal da polpa
branca área periarteriolar)
os linfonodos têm um fluxo peculiar, permitindo que a linfa (carregada de Ag) penetre a
cápsula :
a) pelos vasos linfáticos aferentes, seja filtrada, entre pelos sinusóides subcapsulares e aí
entre em contato com n linfocitos/ macrófagos, que finda se esvaziando em linfáticos eferentes;
estes, por sua vez, vão drenar para o ducto torácico e, aí, para o SP ;
b) linfócitos do SP entram pelas cels endoteliais das vênulas pós-capilares;
existem densas acumulações de linfócitos (agregados linfóides) , não encapsuladas e
espalhadas por todo o organismo, dispersas no tecido conectivo, TGI, TGU e TResp, referidos
como MALT.
a MO é o sítio de maior e mais rápido “turnover” de linfócitos. Nela, as cels pré-B demandam 34 dias para amadurecerem a cels B, muitas morrem antes de sair da MO, mas as que
sobrevivem ficam por mais 1-2 dias lá e “home” para o baço.
a linfopoese T não pode ser mantida por stem-cells desenvolvidas dentro do timo, requerendo
um suprimento contínuo de precursores da MO. a MO é a fonte de renovação do tecido
linfóide B e T.
a migração do linfócito é super controlada por cels endoteliais/ moléculas de adesão/ ligantes,
etc, tanto quando migram para tecidos linfóides, como quando migram por entre tecidos nãolinfóides, sempre à procura de antígenos estranhos [são todos tipo Rambo= programados para matar!!!].
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[4]
O tempo que os linfócitos gastam passando pelo SP ou pelo tecido linfóide é muito pequeno,
quando comparado com o tempo que gastam passando por entre tecidos não-linfóides.
a função das cels B é, ao se diferenciar em plasmócitos, secretar Ig ( contra bactérias
piogênicas e alguns vírus, opsonização de substâncias estranhas); podem também se
resguardar em cels B de memória.
as cels T têm função reguladora ( induzem ou suprimem proliferação/ diferenciação de cels B)
e efetora ( “fazem” a resposta de imunidade celular contra bactérias intracelulares, fungos,
lise de cels infectadas por vírus, rejeição de enxerto, reação enxerto x hospedeiro e certos tipos
de imunidade contra cels tumorais). O sistema celular T consiste de 4 subtipos com funções
bem definidas:
CD4 ( ou TH ) auxiliares= ativam outras cels T e induzem cels B à produção de
Ac;
TD hipersensibilidade tardia= respondem a Ag solúveis ou particulados, por
produção de linfocinas quimiotáticas;
T citotóxicos ( CD4 ou CD8)= destróem cels-alvo por contato com Ag específico;
CD8 ( ou TS ) supressoras= representam 3 tipos celulares ( 1 indutor, 1 efetor e
1 transdutor) que regulam as respostas humoral e de imunidade mediada por células.
cadeia pesada Ig
cromoS 14 q32
cadeia leve Ig
cromoS 2 ( )
cromoS 22 ( )
síntese normal
receptores cels T
cromoS 14 (
cromoS 7 (
Fato nº 3= câncer é doença genética
80-90% dos LÑH têm alterações citogenéticas
> 70% LÑH-B envolvem alterações do cromoS 14
Linfoma Burkitt = t ( 8;14)
oncogene c-myc é codificado no cromoS 8, produzindo fator promotor de crescimento celular
80-90% dos linfomas foliculares -bcl2 +
t (14;18)
20-30% dos linfomas grandes cels
oncogene bcl-2 é codificado no cromoS 18, produzindo uma proteína que bloqueia apoptose
Fato nº 4=
agentes modificadores do genoma são
fatores etiológicos de linfomas
drogas ( difenil-hidantoína)
agentes químicos ( herbicidas tipo ácidos fenoxiacéticos, solventes orgânicos)
agentes físicos (exposição solar, radiação)
micróbios
bactéria= Helicobacter pylori
vírus linfotrópicos= Epstein-Barr ( EBV) e HTLV-I
condições de imunossupressão
-imunodeficiências congênitas
“
adquiridas
-pós-transplantes de órgãos
-AIDS
Fato nº 5=
qualquer especialidade médica tem que
“encarar” diagnóstico de linfoma
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freqüência idade-relacionada
1,5 a 3,5 homens : 1 mulher
40.000 casos novos/ ano [ 90’s nos EUA]
envolvimento linfonodo
adultos, LÑH-B
TGI em crianças
envolvimento extra-nodal
sítios mais comuns
40-50 % casos EUA
15-25 % casos Europa
MO
TGI
nasofaringe
pele
fígado
ossos
tireóide
mama
pulmão
testículos
SNC ( primário AIDS-relacionado)
comportamentos biológicos diferentes:
criança: alto grau de agressividade/ “blástico”/ maior índice mitótico PROLIFERATIVO
adulto : baixo grau de agressividade/ “maduro”/ mais “dormente” ACUMULATIVO
Em geral= na criança, as quebras cromossômicas brotam de populações celulares mais precoces,
Ag-independentes ( caráter predominantemente proliferativo). No adulto, as quebras
cromossômicas brotam de populações celulares mais plenamente diferenciadas, Ag-dependentes
( caráter predominantemente acumulativo).
Fato nº 6=
os linfomas apresentam-se ( clínica & laboratorialmente )
com 3 grandes manifestações .
A: manifestações
gerais das neoplasias
B: manifestações
de “massa” linfóide
C: manifestações de
“disfunção” linfóide
A] repercussões (principais) das neoplasías sobre o hospedeiro :
1.
2.
3.
4.
5.
6.
síndrome de anorexia-caquexia
febre/ calafrios/ suores noturnos
fadiga/ astenia
distúrbios metabólicos iônicos: hipercalcemia, hiperuricemia
mielopatias infiltrativas
manifestações “paraneoplásicas” ( pele, SNC, TGI, hemostasia)
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7. dor/ depressão/ distúrbios do sono
B] manifestações de “massa” linfóide:
a) linfonodomegalia
cadeias periféricas
mediastinal
para-aórtica
mesentérica
b) visceromegalia
esplenomegalia
hepatomegalia
c) extranodal
pele
TGI (MALT)
todos os órgãos/ sistemas ( vide quadro fato nº 5)
C] manifestações de “disfunção” linfóide:
C1) Infecções em imunossupressão:
infecções bacterianas
disfunção cels B
neutropenia
virais
disfunção cels B
disfunção cels T
fúngicas
disfunção cels T
neutropenia
protozoários
micobactéria
disfunção cels T
(prolongada)
São 5 as condições de imunossupressão:
1) fagopenia ( neutropenia + monocitopenia)
2) supressão cels B
3) supressão cels T
4) esplenectomia
5) perda integridade tegumentar
C2) Proteína Monoclonal: produção anômala e exagerada de Ig, que pode ocorrer nos
linfomas B que “conseguem” ter um grau de diferenciação celular tal, que permite a
produção de uma proteína tão específica ( como são as Ig) e as conseqüentes
complicações decorrentes deste excesso indesejado. Isto é uma “disfunção” que acontece
em detrimento da produção de Ig normais, contribuindo para maior imunossupressão ( vide
C1).
Fato nº 7= linfoma é doença clonal, de caráter proliferativo-acumulativo,
que pode originar-se em qualquer órgão linfóide.
(exceção: tumor linfóide que se origina na MO leucemia)
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[7]
Linfoma: representa a expansão clonal de um compartimento / grupo de cels
linfóides, em determinado estágio de desenvolvimento maturativo, de qualquer
linhagem/ sub-etapa, onde múltiplos mecanismos fisiopatológicos levam a
proliferação/ acumulação/ disfunção destas cels e conseqüente impacto de
morbidade/ mortalidade sobre o hospedeiro.
Histórico:
Linf oma
sistema linfóide
tumor
1832 (Thomas Hodgkin ): linfonodos malignos chamou de “Doença de Hodgkin”
1863 ( Virchow): conceituou Linfoma, chamou de “Pseudo-Leucemia”
1947 ( Jackson & Parker): classificou L.Hodgkin (LH)
1956 ( Rappaport): 1ª classificação L.Não-Hodgkin ( LNH )
1972 ( Aisenberg ): estabeleceu linhagens celulares B e T das neoplasias
1974 ( Lennert ): classificação de Kiel (conceito de Linfoma de Centro Folicular)
1974 ( Lukes & Collins ): classificação imunológica Linfomas B e T
1982 ( Rosenberg): Working Formulation para uniformização de conceitos/
diagnóstico/ prognóstico
1994 (International Lymphoma Study Group): classificação R.E.A.L. ( Revised
European-American classification of Lymphoid neoplasms).
Fato nº 8= apesar da nomenclatura, Linfomas Hodgkin
e Linfomas Não-Hodgkin são doenças distintas
e de comportamentos biológicos particulares.
Linfomas Hodgkin
origem da cel Reed-Sternberg: CD30 e CD15
Linfomas Não-Hodgkin
origens nas diferentes sub-etapas de diferenciação T/ B
(antígenos de ativação linfocitária)
linfócitos reacionais atraídos por citocinas
liberadas pelas cels RS
linfócitos tumorais/clonais
disseminação por contigüidade
crescimento multicêntrico
origem controversa ( > 50% EBV-associado )
e
EBV ( suficiente,mas não necessário, exceto Burkitt), HTLV-1
4 padrões histológicos definidos
quase nunca aparece como 2ª neoplasia freqüente como 2ª neoplasia e após imunossupressão
2,9/ 100.000/ ano EUA, homem/ branco
14,4/ 100.000/ ano, homem, branco
distribuição bimodal ( 15 anos e > 50anos)
dependente do tipo histológico
sobrevida > 5 anos: 75-80%
sobrevida > 5 anos: menos de 50% (total)
outros fatores não determinados
11 padrões histológicos B e 9 padrões T
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países 1º mundo mais em adultos-jovens
países 3º mundo mais em crianças
fatores consistentes de maior risco:
- status sócio-econômico
- história familiar
- infecção EBV
- infecções na infância
-
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[8]
distribuição muito variável com a idade; portadores
AIDS/ imunossuprimidos ( > 50% dos tumores)
-AIDS-relacionado
doença começa nas regiões interfoliculares de
um linfonodo e se dissemina para grupos de linfonodos contíguos, de forma ordenada
disseminação não-contígua, seguindo a recirculação
e multicentricidade (vários sítios simultâneos)
{cervical/ mediastinal/ para-aórtico}
envolvimento linfonodos centrais/ axiais
mais comum
envolvimento linfonodos periféricos
(mais freqüente)
raro= Waldeyer, mesentéricos,TGI
freqüente= Waldeyer, mesentéricos, TGI
raro envolvimento extranodal
envolvimento extranodal relativa/e
abordagem terapêutica QT ( MOPP-ABV)
e/ou RxT, sempre após estadiamento
freqüente
sempre QT, adequada ao tipo histológico e
estadiamento
o padrão de apresentação clínica dependente muito do sub-tipo histológico do LH ou LÑH
Fato nº 9= os chamados SINTOMAS B que aparecem em LH
e LÑH significam doença sistêmica, mesmo que o
envolvimento de linfonodos seja aparentemente
“localizado”.
Sintomas B são 3:
1) perda de peso 10 % do peso anterior/ 6 meses
Exemplo: paciente refere ter perdido 5 quilos em 3 meses.
Raciocínio linear se perdeu 5 quilos em 3 meses, extrapolo que teria perdido 10 quilos em 6
meses.Se o paciente pesa menos de 100 quilos, então estes 10 quilos “calculados’ significam mais
que 10% do seu peso anterior, ou seja, está caracterizado um estado hipercatabólico, que
significa consumo ( estado consuntivo ou consuptivo).
2) febre : em geral vespertina/ noturna, revelando maior secreção de IL-1 no período de menor
nível circadiano de corticosteróides.
3) sudorese noturna: pelos mesmos mecanismos fisiopatológicos descritos para a febre.
Fato nº 10= mesmo não sendo onco-hematologista, devo ficar alerta
frente às seguintes manifestações clínicas & laboratoriais
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[9]
Manifestações clínicas ( devo “pensar” em doença linfoproliferativa quando):
Linfomas: fisiopatologia & clínica
1.
2.
3.
4.
sintomas B ( perda peso/ febre/ sudorese noturna)
linfonodomegalia(s)
visceromegalia(s)
infecções de repetição ou “estranhas” para idade, que indiquem estado de
imunossupressão ( herpes zoster, candidíase muco-oral, Pbmicose, TB,
histoplasmose, etc)
5. quadro clínico de hipercalcemia: sonolência/ hiporreflexia/ obstipação/ coma
6. compressão de vias aéreas/ TGI/ TGU por “massa” ganglionar
7. “massa” retroperitoneal/ mediastinal
8. proptose, envolvimento meníngeo tipo “linfocitário”
9. tumores de pele ( extranodais)
10.massa abdominal em crianças
Achados laboratoriais (devo pensar em doença linfoproliferativa quando):
1. hemograma com linfocitopenia [contagem absoluta < 1000/mm3 ]
2. hiperuricemia
3. hipercalcemia [ > 12 mg% ]
4. proteinúria ( que não albuminúria)
5. proteína monoclonal sérica ( gamopatia monoclonal)
6. DHL ( ****fator prognóstico)
7. -2 microglobulina
Como proceder:
1) anamnese cuidadosa, com especial atenção aos sintomas B
2) exame físico completo, procurando cadeias ganglionares “estranhas”:
anel Waldeyer/ occipitais/ retroauriculares/ cervicais/ axilares/ ínguino-crurais/
epitrocleares/ poplíteas. Adenomegalia em fossa supra-clavicular esquerda
pode significar envolvimento tumoral em abdome ( atenção!!!)
2) pesquisa cuidadosa de hepato/esplenomegalia/ massas abdominais
3) punção ganglionar imediata (=sem atrasos), feita pelo patologista
4) avaliação laboratorial (=sem atrasos) de:
- hemograma completo + VHS ( na rotina)
- função renal e hepática
- bioquímicos ( Ca , ácido úrico, DHL, EPS/ EPU)
- Rx tórax
- USG abdominal ou CT
5) biópsia imediata de linfonodo ou da massa tumoral suspeita (=sem
atrasos****)
6) aspiração/ biópsia de MO crista ilíaca posterior bilateral
7) imediata avaliação bioquímica e citológica de qualquer derrame/ efusão
líquida (=sem atrasos); LCR em LÑH-alto grau
8) sorológicos para HVB, HVC, HIV, toxoplasmose, CMV, herpes simplex
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9) avaliação adicional: citogenética, citometria de fluxo, rearranjos gênicos e EBV.
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Fato nº 11= o tratamento do linfoma depende de seu tipo histológico
estabelecido por exame anátomo-patológico e imunofenotipagem ,
bem como do grau de disseminação da doença ( estadiamento)
O tratamento depende do estadiamento (=extensão) do LH ou LÑH, no momento
do diagnóstico. São 4 os estadios ( Costwolds Staging Classification, 1990) :
Estadio I:
uma (1) região nodal ou extranodal
Estadio II:
duas (2) ou mais regiões nodais limitadas pelo diafragma ( ou supra ou infra),
enumerando-se as cadeias acometidas
Estadio III:
envolvimento supra e infradiafragmático ( inclusive baço). Para LH considera-se
também:
III-1= envolvimento de linfonodos de abdome superior ( esplênico/ hilar/
celíaco/ portal)
III-2= envolvimento de linfonodos para-aórticos, ilíacos e mesentéricos
Estadio IV:
envolvimento disseminado de um ou mais órgãos/ tecidos (=visceralização),
com ou sem envolvimento linfonodal ( MO, fígado, etc)
A= sem sintomas gerais
B= com sintomas gerais ( febre/ perda peso/ sudorese noturna)
X= massas volumosas ( > 10 cm, na sua dimensão maior)
E= envolvimento extranodal contíguo/ proximal a linfonodo acometido
CS ( clinical stage)= estadiamento clínico
PS ( pathological stage) = estadiamento confirmado por biópsias
Exemplos:
1) paciente com diagnóstico de LÑH em linfonodo cervical lateral E e axilar D, sem
esplenomegalia, com perda de mais 10% do peso anterior. Não há envolvimento abdominal,
confirmado por imagem (USG e CT) e MO sem infiltração estadio II-B
2) criança com febre há 2 meses, sudorese noturna e perda de peso.Biópsia confirmou LH. Exame
físico: adenomegalia supraclavicular E e cervical bilateral; hepatomegalia de 4 cm,esplenomegalia
de 6 cm, icterícia (++), fosfatase alcalina e -GT aumentadas estadio IV-B (fígado)
3) garoto com 1 linfonodo cervical lateral D há 2 meses, sem outras queixas. Exame físico: sem
outra linfonodomegalia, sem visceromegalias, confirmados por imagem & bioquímicos. Biópsia
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revelou LH (PL) estadio I-A . Se os achados fossem os mesmos, exceto com esplenomegalia,
o estadio seria III-A.
Fato nº 12.a= são 8 os fatores prognósticos considerados
desfavoráveis para Linfomas Hodgkin
- múltiplos envolvimentos extranodais
- massa volumosa ( “bulky disease”)
- sintomas B
- não-remissão completa ou recaída dentro dos primeiros 12 meses de QT
indutória
- tratamento inicial ( QT / RxT) inadequado
- idade > 60 anos
- homem
- subtipo histológico “depleção linfocitária”
Fato nº 12.b= são 9 os fatores prognósticos considerados
desfavoráveis para Linfomas Não-Hodgkin
- transformação de baixo-grau para alto-grau
- linfomas difusos ( não-foliculares)
- LÑH primário de SNC ( AIDS-relacionado)
- pacientes idosos e sem “reserva” de MO
- “bulky disease”
- DHL
- imunofenotipagem cels T
- alta cinética tumoral (clínica & marcadores celulares de proliferação)
- má resposta terapêutica inicial (“mau respondedor”)
Resumo:
linfomas iniciam-se e desenvolvem-se segundo a maturação linfóide “normal”,
ie, são a contraparte tumoral do desenvolvimento fisiológico do tecido linfóide.
sua origem está associada a quebras cromossômicas que funcionam como
“misturas explosivas”, ie, um gene estimulador de proliferação ou inibidor de
morte celular se une a um outro gene super-produtor de proteína.
estas quebras muitas vezes são impostas por vírus ( EBV ) ou outros fatores
iniciadores/ promotores.
as células linfomatosas têm “intimidade” para circular em todo o tecido linfóide
(homing/ migração/ recirculação) , bem como no sangue periférico, o que facilita
a disseminação delas para inúmeros outros sítios
assim, mesmo aparentemente “localizados”, os linfomas devem ser abordados
como doenças sistêmicas, de grande potencial disseminativo, que vão ser
piores ou “menos piores” segundo sua histologia/ extensão clínica/ capacidade
proliferativa/ resposta ao tratamento.
Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP / Curso Integrado Hematologia- Patologia - 4º med 1998
- Profª Drª Lígia Niero-Melo
[12]
nenhuma especialidade médica fica “livre” de enfrentar um diagnóstico de
linfoma
Linfomas: fisiopatologia & clínica
a suspeita diagnóstica, feita pelo clínico, deve ser confirmada por patologista
experiente, devendo o doente
também experiente
o tratamento abrange:
- terapêutica de suporte
ser tratado por equipe ( onco-hematologia)
hidratação volumosa
profilaxia de síndrome de lise tumoral
anti-helmínticos
protetores gástricos
transfusão de hemocomponentes
controle clínico-laboratorial criterioso
- quimioterapia específica para o tipo histológico do linfoma, nas condições
“daquele” doente ( tratar o doente, não só a doença )
- condições favoráveis para transplante de MO ( T.M.O )
Drª Lígia Niéro-Melo
G] Linfomas Hodgkin e Linfomas Não-Hodgkin são doenças distintas:
Linfomas Hodgkin
origem da cel Reed-Sternberg: CD30 e CD15
Linfomas Não-Hodgkin
origens nas diferentes sub-etapas de diferenciação T/ B
(antígenos de ativação linfocitária)
linfócitos reacionais atraídos por citocinas
liberadas pelas cels RS
linfócitos tumorais/clonais
disseminação por contigüidade
crescimento multicêntrico
origem controversa ( > 50% EBV-associado )
e
EBV ( suficiente,mas não necessário, exceto Burkitt), HTLV-1
4 padrões histológicos definidos
outros fatores não determinados
11 padrões histológicos B e 9 padrões T
Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP / Curso Integrado Hematologia- Patologia - 4º med 1998
Linfomas: fisiopatologia & clínica
-
Profª Drª Lígia Niero-Melo
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quase nunca aparece como 2ª neoplasia freqüente como 2ª neoplasia e após imunossupressão
2,9/ 100.000/ ano EUA, homem/ branco
14,4/ 100.000/ ano, homem, branco
distribuição bimodal ( 15 anos e > 50 anos)
dependente do tipo histológico
sobrevida > 5 anos: 75-80%
sobrevida > 5 anos: menos de 50% (total)
países 1º mundo mais em adultos-jovens
países 3º mundo mais em crianças
fatores consistentes de maior risco:
- status sócio-econômico
- história familiar
- infecção EBV
- infecções na infância
distribuição muito variável com a idade; portadores
AIDS/ imunossuprimidos ( > 50% dos tumores)
-AIDS-relacionado
doença começa nas regiões interfoliculares de
um linfonodo e se dissemina para grupos de linfonodos contíguos, de forma ordenada
disseminação não-contígua, seguindo a recirculação
e multicentricidade (vários sítios simultâneos)
{cervical/ mediastinal/ para-aórtico}
envolvimento linfonodos centrais/ axiais
mais comum
envolvimento linfonodos periféricos
(mais freqüente)
raro= Waldeyer, mesentéricos,TGI
freqüente= Waldeyer, mesentéricos, TGI
raro envolvimento extranodal
envolvimento extranodal relativa/e
abordagem terapêutica QT ( MOPP-ABV)
e/ou RxT, sempre após estadiamento
freqüente
sempre QT, adequada ao tipo histológico e
estadiamento
o padrão de apresentação clínica dependente muito do sub-tipo histológico do LH ou LÑH
Ligia Niero-Melo