univali centro de educação superior – ces vii – campus são josé

Propaganda
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII – CAMPUS SÃO JOSÉ
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
COORDENAÇÃO DE ESTÁGIOS E MONOGRAFIAS
TRANSFERÊNCIA, INCORPORAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE
TECNOLOGIAS DE EMPRESAS ALEMÃS PARA AS CATARINENSES
RAFAEL DOS SANTOS
São José (SC), junho de 2005
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII – CAMPUS SÃO JOSÉ
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
COORDENAÇÃO DE ESTÁGIOS E MONOGRAFIAS
TRANSFERÊNCIA, INCORPORAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE
TECNOLOGIAS DE EMPRESAS ALEMÃS PARA AS CATARINENSES
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Relações
Internacionais, sob orientação do Prof. Dr. Aloysio
Marthins de Araújo Júnior.
ACADÊMICO: RAFAEL DOS SANTOS
São José (SC), junho de 2005
5
Resumo
A presente monografia descreve a importância da tecnologia às empresas e analisa a sua
função no desenvolvimento econômico de um país, fato que a faz ser considerada como um
dos principais e atuais temas nas relações econômicas internacionais. O foco do estudo é dado
a partir da descrição e da análise do processo de transferência, incorporação e
desenvolvimento de tecnologias provenientes das relações entre empresas alemãs e
catarinenses, especialmente as do setor metal-mecânico do Vale do Itajaí e região Nordeste de
Santa Catarina. Além disso, fez-se uma análise da Alemanha como referência tecnológica
mundial em vários setores e a sua proximidade com empresas brasileiras, especialmente
catarinenses, no contexto tecnológico. Portanto, o principal objetivo do estudo foi identificar
como esse intercâmbio tecnológico com empresas alemãs beneficiou as empresas
catarinenses, as quais se apresentam hoje como alguns dos setores produtivos mais avançados
do Brasil e do mundo e que representam boa parte da pauta de exportações de Santa Catarina
e do país.
Palavras-chave: transferência, incorporação e desenvolvimento
desenvolvimento econômico; empresas alemãs; empresas catarinenses.
de
tecnologia;
6
Zusammenfassung
Diese Diplomarbeit beschreibt den Stellenwert der Technologie für Unternehmen und
analysiert zudem ihre Funktion in der wirtschaftlichen Entwicklung eines Landes. Deshalb ist
die Technologie eines der wichtigsten und aktuellsten Themen in den internationalen
wirtschaftlichen Beziehungen. Die Schwerpunkte dieser Arbeit sind die Beschreibung und die
Analyse des Prozesses von Transfer, Inkorporation und Entwicklung der Technologien, die
aus den Beziehungen zwischen Unternehmen aus Deutschland und Santa Catarina stammen,
insbesondere die Unternehmen der Region „Vale do Itajaí” und des Nordostens und des
Maschinenbau-Sektors in Santa Catarina. Ausserdem analysiert die Arbeit Deutschland als
eine weltweite technologische Referenz in verschiedenen Sektoren und folglich seine Nähe zu
brasilianischen Unternehmen, besonders zu den Unternehmen Santa Catarinas in
technologischer Hinsicht. Daher war das wichtigste Ziel zu identifizieren wie dieser
technologische Austausch mit deutschen Unternehmen die Unternehmen in Santa Catarina
förderte, die heutzutage einige der produktivsten und entwickeltsten Sektoren Brasiliens und
der Welt sind und einen grossen Teil der Ausfuhren Santa Catarinas und Brasiliens
repräsentieren.
Schlüsselwörter: Transfer, Inkorporation und Entwicklung von Technologie; wirtschaftliche
Entwicklung; deutsche Unternehmen; Unternehmen in Santa Catarina.
7
Sumário
Introdução............................................................................................................................... 7
1 A Importância da Tecnologia no Desenvolvimento Econômico.................................... 18
1.1 O Desenvolvimento Econômico....................................................................................... 18
1.2 A Tecnologia..................................................................................................................... 24
1.3 A Teoria dos Ciclos Econômicos...................................................................................... 33
2
A Alemanha como Referência Tecnológica Mundial................................................... 40
2.1 Os Primórdios da Industrialização Alemã......................................................................... 41
2.2 A Imigração Alemã ao Brasil............................................................................................ 47
2.3 O Contexto da Unificação Alemã...................................................................................... 49
2.4 Da Unificação Alemã até a Alemanha Atual..................................................................... 51
3 Os Benefícios do Intercâmbio Tecnológico com a Alemanha à Indústria de Santa
Catarina.................................................................................................................................. 62
3.1 As Relações Brasil-Alemanha e Santa Catarina................................................................ 62
3.2 A Economia Brasileira....................................................................................................... 73
3.3 A Economia Catarinense.................................................................................................... 84
3.3.1 A Imigração Alemã......................................................................................................... 88
3.3.2 O Empreendedorismo do Imigrante Alemão.................................................................. 90
3.3.3 O Papel do Estado........................................................................................................... 92
3.4 O Setor Metal-Mecânico Catarinense................................................................................ 95
Considerações Finais............................................................................................................ 104
Referências Bibliográficas................................................................................................... 109
8
Introdução
Desde a pré-história, a técnica e o homem sempre tiveram uma relação muito próxima,
sendo que muitas vezes ambos se fundiram e se confundiram alternadamente no decorrer da
história humana. Entretanto, somente quando surge a ciência moderna no Renascentismo na
Europa no século XVI, surgem novas concepções e aplicabilidades da técnica na transformação
da relação homem e natureza. A partir daí, ou seja, da associação da técnica com a ciência, surge
não somente a palavra tecnologia, mas também uma crescente preocupação ao seu redor,
principalmente após sua aplicação no setor produtivo que produziu autênticas revoluções nas
relações homem e natureza e, conseqüentemente, nas nossas sociedades contemporâneas.
Em razão da grande importância dada à tecnologia, a transferência, a incorporação e o
desenvolvimento de novas técnicas representam constantes e importantes processos nas relações
econômicas internacionais contemporâneas, envolvendo tanto os próprios Estados quanto as
empresas privadas. Nesse contexto, o intercâmbio tecnológico é uma das principais ações do
comércio internacional, porém este é comandado principalmente por grandes corporações
transnacionais, as quais detêm a principal base tecnológica necessária à inovação do setor
produtivo, o que as transforma num importante ator das relações econômicas internacionais
contemporâneas.
Nesse contexto, o tema da presente monografia será justamente o processo de
transferência, incorporação e desenvolvimento de tecnologia entre Alemanha e Santa Catarina,
focado na importação de tecnologia de empresas alemãs por parte das empresas catarinenses, em
especialmente as do setor metal-mecânico e situadas no grande pólo industrial formado pelas
regiões Vale do Itajaí e Nordeste catarinense, ocorrida nas últimas décadas.
Além disso, pretende-se fazer uma análise da Alemanha como referência tecnológica
mundial e a sua proximidade com empresas brasileiras, especialmente as catarinenses do setor
metal-mecânico, no que se refere à transferência de novas tecnologias. Portanto, o principal
objetivo do estudo é identificar como o processo de transferência, incorporação e
desenvolvimento de tecnologia a partir do intercâmbio com empresas alemãs beneficiou as
empresas catarinenses, as quais se apresentam hoje como alguns dos setores produtivos mais
avançados do Brasil e do mundo e que representam boa parte da pauta de exportações de Santa
Catarina e do país.
9
Como base para a temática do estudo, têm-se a transferência, a incorporação e o
desenvolvimento de tecnologias nas relações entre Brasil e Alemanha, as quais representam
processos constantes nas relações econômicas internacionais, envolvendo tanto os próprios
Estados quanto as empresas privadas. O intercâmbio de tecnologia é uma das principais ações das
grandes corporações transnacionais, as quais detêm a principal base tecnológica necessária à
inovação no setor produtivo mundial, transformando-as num significativo ator das relações
internacionais contemporâneas. A partir de um estudo específico sobre o setor metal-mecânico no
Vale do Itajaí e na região Nordeste de Santa Catarina, tem-se o foco do estudo para compreender,
analisar e explicitar como ocorre o processo de intercâmbio tecnológico atualmente no mundo.
Na elaboração da problemática do estudo, vê-se que a evolução tecnológica sempre foi
motivo de transformações das técnicas de produção industrial. Conforme as mudanças
tecnológicas ocorridas num certo período, a influência destas forças se dà de forma tão profunda
que podem determinar o sucesso ou a falência de várias empresas nos mais diversos setores de
uma economia nacional. Por exemplo, a revolução causada pela introdução da informática e da
microeletrônica no setor produtivo mundial a partir dos anos 70 fez com que várias empresas
sentissem a necessidade e a obrigatoriedade de investir em tecnologia e inovação para conquistar
mais competitividade frente aos concorrentes e também para garantir sua própria existência nos
mercados nacional e internacional. Além disso, a concentração de recursos financeiros
necessários ao investimento e ao desenvolvimento de novas tecnologias pelas grandes
corporações transnacionais fez com que empresas médias e pequenas não tivessem condições de
competir e de sobreviver. Diante disso, a complexidade e a dificuldade no processo de
transferência, incorporação e desenvolvimento de novas tecnologias entre empresas surgem como
um problema ao desenvolvimento tecnológico e econômico de um país, sendo um assunto
bastante plausível para uma pesquisa como esta.
As perguntas que se pretendeu responder no presente estudo são: Por que a Alemanha é
um referencial tecnológico ao setor produtivo mundial? Como ocorre a transferência, a
incorporação e o desenvolvimento de tecnologia entre empresas alemãs e catarinenses? Quais os
benefícios trazidos por tal processo à economia catarinense?
Na tentativa antecipada de responder, pelo menos em parte, as perguntas do estudo,
elaborou-se uma hipótese de que o desenvolvimento tecnológico alemão é muito mais avançado
em relação ao brasileiro. Por isso, muitas empresas brasileiras e, principalmente, catarinenses
10
buscam estabelecer relações com a Alemanha, pois a consideram como referência tecnológica em
alguns setores industriais, principalmente o setor metal-mecânico, o qual desponta como o setor
produtivo mais avançado alemão e o que apresenta maiores relações comerciais e de transferência
de tecnologia com empresas brasileiras.
Diante disso, o objetivo geral desta monografia é analisar os benefícios da transferência,
incorporação e desenvolvimento de tecnologia provenientes do intercâmbio com empresas
alemãs às empresas catarinenses, as quais alavancam as exportações catarinenses. Para tanto, é
necessário descrever a importância da tecnologia como fator de desenvolvimento econômico;
investigar o papel da Alemanha como referência tecnológica mundial, principalmente nos setores
metal-mecânico e de alta tecnologia; e analisar como se dão as relações entre empresas alemãs e
catarinenses no que se refere ao processo de absorção e repasse de tecnologia entre elas.
Justifica-se este estudo, reconhecendo-se que após a abertura comercial e financeira
realizada pelo Brasil a partir da década de 1990, exigiu-se uma reestruturação organizacional e
produtiva da economia do país, pois esta perdia competitividade industrial nos cenários nacional
e internacional. O fator essencial desta transformação da cadeia produtiva brasileira deu-se
através do acesso às novas tecnologias dentro de um novo contexto do capitalismo internacional.
Neste processo, diversos setores industriais sentiram a necessidade de inovar para conquistar
maior competitividade e até mesmo para garantir sua própria existência nos mercados nacional e
internacional frente a seus concorrentes. Tal inovação somente seria possível pela transferência
ou pela produção de novas tecnologias, sendo as principais delas a biotecnologia, a informática e
a microeletrônica.
O acesso à tecnologia se dá pelos seguintes métodos: pela transferência real da tecnologia,
ou seja, quando a transferência se dá desde o estágio inicial da produção e a tecnologia é
repassada por completa; pela simples incorporação de tecnologia, ou seja, quando ela é somente
repassada no estágio final da produção e não por completa, cabendo à indústria somente a sua
incorporação à produção e não caracterizando o domínio total sobre esta tecnologia adquirida; e
por último o próprio desenvolvimento de tecnologia, ou seja, quando a própria indústria
desenvolve sua tecnologia através de pesquisa e desenvolvimento ou do aperfeiçoamento de suas
técnicas de produção, adquirindo a propriedade e o dominio desta tecnologia por ela
desenvolvida desde o estágio inicial até o final da produção.
11
Tais questões serão as principais discutidas nesta pesquisa e justificam um estudo desse
gênero, levando-se em conta a constante necessidade de estudos nesta área, já que a Alemanha
desponta como um dos principais parceiros comerciais do Brasil, e também a importância atual
do tema nas relações econômicas internacionais.
A complexidade da compreensão sobre o papel e a importância da tecnologia no
desenvolvimento econômico de um país fez com que várias correntes teóricas tentassem explicar
tal fenômeno. Entretanto, elas apontaram certas limitações teóricas, principalmente por
apresentarem diferentes métodos e ênfases de abordagem para um determinado fenômeno.
Diante disso e da proposta de pesquisa, a tecnologia e seu papel no desenvolvimento
econômico de um determinado país, e mais especificamente do Estado de Santa Catarina, pode
ser analisado e compreendido a partir da teoria do desenvolvimento econômico de Joseph Alois
Schumpeter, a qual define-se como o referencial teórico mais adequado, porém ainda insuficiente
para analisar tal fenômeno. Por isso, levando em conta diferentes contribuições e limitações de
outras correntes teóricas, pretende-se também utilizar como referencial teórica complementar a
teoria geral do emprego, do juro e da moeda de John Maynard Keynes; e as teorias do valor
trabalho e do capital de Karl Marx. A partir do referencial teórico composto por diferentes
correntes teóricas, pretende-se responder e analisar de forma mais abrangente, completa e
adequada às perguntas da pesquisa.
Os teóricos vinculados à corrente teórica denominada de schumpeteriana baseiam-se na
teoria do desenvolvimento econômico de Joseph A. Schumpeter,
[...] que analisa a economia a partir dos ciclos econômicos (longos, médios e curtos). As
bases para o início de um novo ciclo dar-se-iam a partir das inovações tecnológicas
introduzidas por empresários empreendedores. O autor [no caso Schumpeter] afirma a
necessidade da existência de empresários audaciosos, juntamente com suas inovações
tecnológicas, sem as quais a economia não se desenvolveria. (MICHELS, 1998, p. 63).
Como Schumpeter (1982, p. 58) define, “[...] os empresários são um tipo especial, e o seu
comportamento um problema especial, a força motriz de um grande número de fenômenos
significativos.” Assim, eles são os responsáveis pelas novas combinações dos meios produtivos e,
conseqüentemente, fundamentais ao desenvolvimento econômico, desde que tais empresários
apresentam as três características básicas ao empreendedorismo definidas pelo teórico: iniciativa,
autoridade e previsão.
12
No entanto as inovações no sistema econômico não aparecem, via de regra, de tal
maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos
consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão. Não pegamos a
presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que, via de regra, inicia a mudança
econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer,
ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas
que tinham o hábito de usar. Portanto, apesar de ser permissível e até necessário
considerar as necessidades dos consumidores como uma força independente e, de fato,
fundamental na teoria do fluxo circular, devemos tomar uma atitude diferente quando
analisamos a mudança. (SCHUMPETER, 1982, p. 48).
Sobre a relação entre as novas combinações dos meios produtivos descritas por
Schumpeter e a questão da tecnologia num sistema econômico, ele afirma que:
[...] não coincidem as combinações econômicas e as tecnológicas, as primeiras ligada às
necessidades e meios existentes, as últimas, à idéia básica dos métodos. O objetivo da
produção tecnológica é na verdade determinado pelo sistema econômico; a tecnologia só
desenvolve métodos produtivos para bens procurados. [...]. O ideal tecnológico, que não
leva em conta as condições econômicas, é modificado. A lógica econômica prevalece
sobre a tecnologia. (1982, p. 16).
Os ciclos econômicos trabalhados por Schumpeter são caracterizados por períodos de
recessão ou ascensão (boom) do sistema capitalista. Conforme seus estudos, Schumpeter afirma
que:
o boom termina e a depressão começa após a passagem do tempo que deve transcorrer
antes que os produtos dos novos empreendimentos possam aparecer no mercado. E um
novo boom se sucede à depressão, quando o processo de reabsorção das inovações
estiver terminado. (1982, p. 142).
Estes seriam, portanto, os fatores essenciais que determinam o desenvolvimento
econômico de um país, segundo os schumpeterianos, ou seja, os ciclos econômicos determinados
a partir das inovações tecnológicas no setor produtivo, o crédito bancário destinados ao
financiamento e a ação de empresários empreendedores. Estas definições são abordadas por
estudiosos desta corrente em Santa Catarina, como por exemplo Idaulo José Cunha, Maria Luiza
Renaux Hering, Ondina Pereira Bossle, Ady Vieira Filho e Apolinário Ternes.
Esses autores e obras, sem nenhuma exceção, atribuem ao empresário catarinense,
especialmente ao de origem germânica e italiana, a responsabilidade pelo
desenvolvimento econômico do Estado. Interpretam os grandes grupos econômicos
existentes hoje, em Santa Catarina, a partir da ação empresarial empreendedora e
13
inovadora. Um dos aspectos presentes, especialmente em Cunha, Hering e Bossle,
refere-se à tentativa de ver a industrialização catarinense não relacionada com a
economia nacional, que, para a maioria dos setores, está associada à acumulação
cafeeira. (MICHELS, 1998, p. 64-65).
As concepções de Schumpeter merecem muito respeito, porém algumas falhas podem ser
constatadas nelas. Sua teoria do desenvolvimento econômico está baseada nos ciclos econômicos,
nas inovações tecnológicas do setor produtivo e na ação de empresários empreendedores num
ambiente econômico de concorrência perfeita. Entretanto, como sabemos, atualmente não existe
concorrência perfeita no mercado internacional, fazendo com que os governos nacionais ajam na
tentativa de corrigir tais falhas do mercado. (SOUZA, 1999).
Diante
disso,
necessita-se
um
diferente
referencial
teórico
para
analisar
o
desenvolvimento econômico, particularmente em Santa Catarina. A contribuição da corrente
teórica keynesiana, baseada nas idéias de John Maynard Keynes e na sua teoria geral do
emprego, do juro e da moeda, estabelece uma análise econômica de uma ótica diferenciada das
demais, pois, segundo os pontos que interessam a esta pesquisa, o desenvolvimento econômico
está condicionado a outras variáveis. Entre elas está o papel do Estado, dos investimentos e da
acumulação de capital somente em novos bens de capital, principais fatores para resolver os
problemas econômicos e sociais de uma economia. A teoria keynesiana, segundo Souza (1999),
afirma que o laissez-faire, defendido pelos economistas da corrente clássica e que evidenciavam
ao mercado o papel de regular a economia mundial, deu lugar a uma ação mais efetiva do Estado
no direcionamento da economia, sendo que uma intervenção estatal teria, por exemplo, como
objetivo reduzir o desemprego, elevando a produção ao nível do pleno emprego.
Em períodos de depressão principalmente, o governo pode influenciar diretamente o
nível do emprego, por meio da política fiscal (gastos públicos, tributação, empréstimos
etc.), da política monetária (emissão ou controle da moeda, fixação da taxa de juro
etc.), da política cambial etc. Com o auxílio dessas políticas, o governo age também
sobre as expectativas dos agentes econômicos, influenciando, pois, direta e
indiretamente, o nível do investimento. Assim, cabe ao Estado, segundo Keynes, a
função básica de regular a economia, procurando suavizar as flutuações econômicas e
complementar a iniciativa privada no que tange à realização do investimento, evitando a
estagnação no longo prazo, em face da tendência declinante da EMgk [eficiência
marginal do capital]. (SOUZA, 1999, p. 159).
Keynes considerava a política fiscal (isto é, o gasto, a taxação e o empréstimo estatais)
como a arma mais importante contra o desemprego. Sua explicação geral da
necessidade de uma política fiscal positiva tem o seguinte teor: em um nível de
rendimento correspondente ao pleno emprego, a disparidade entre o total do rendimento
14
e o total do consumo é tão grande nas economias industriais adiantadas que o
investimento privado é insuficiente para cobri-la. Se se quer evitar o desemprego, é
preciso lançar uma ponte sobre tal disparidade, ou cobrindo-a com o gasto estatal, ou
reduzindo seu volume pelo incremento da propensão a consumir. (DILLARD, 1964, p.
95).
Outro ponto importante da teoria keynesiana, “os investimentos desempenham um papel
essencial. Eles são função do crescimento demográfico, das inovações tecnológicas na produção
e do incentivo a investir.” (DILLARD, 1964, p. 158). Conforme Keynes, seriam os investimentos
tanto públicos ou privados, alimentados pelo seu “efeito multiplicador”, que garantiriam o pleno
emprego, já que “[...] uma taxa elevada de investimento foi sempre condição necessária para o
bom funcionamento das economias capitalistas.” (DILLARD, 1964, p. 257).
A teoria keynesiana apresenta também uma falha na análise do desenvolvimento
econômico, em função dos objetivos desta pesquisa. As atuais tendências mundiais apontam para
outra direção na busca efetiva por um real fator propulsor do desenvolvimento econômico, ou
seja, não mais o Estado.
O crescimento desmesurado dos gastos públicos e as falhas do governo produziram
desvios do ótimo global, com inflação, desemprego, deslocamento da produção privada
e desindustrialização. Foi a crise do Estado cobrador de impostos. A partir de 1970, a
idéia básica passou a ser a de que o crescimento econômico e o bem-estar social
somente aumentariam com a redução do tamanho do Estado na economia.
(DILLARD,1964, p. 327).
A outra corrente teórica é a denominada de marxista por basear-se nas idéias de Karl
Marx, que analisa o desenvolvimento econômico a partir da acumulação do capital industrial,
desde que ela se transforme em novos bens de capital. Ela “[...] determina o ritmo do
desenvolvimento, mas ela depende tanto dos lucros como de um impulso psicológico que leva a
classe empresarial a investir.” (DILLARD, 1964, p. 144). No entanto, Marx defende que o
capitalismo mundial chegará a um ponto que ele se autodestruirá e emergiria um novo sistema, o
socialista, com a planificação da economia que passaria ser controlada principalmente pelo
Estado.
Em Marx podem ser encontradas algumas contradições, se comparadas com o mundo
atual.
Com
um
sistema
socialista,
o
maior responsável
pelo desenvolvimento
e,
conseqüentemente, das inovações tecnológicas seria o próprio Estado. Até neste ponto, Marx
15
poderia estar certo, mas com o exemplo da ex-União Soviética e outros países de economia
socialista torna-se impossível a adoção deste sistema econômico.
A experiência dos países que alcançaram elevados níveis de renda demonstra
[claramente] que o desenvolvimento se explica por inovações tecnológicas do lado da
produção e pela ampliação das áreas de mercado em nível mundial. O progresso técnico
impulsiona-se pelo esforço individual e as inovações na produção têm sido o resultado
da ação do empresário [como defende Schumpeter]. A livre iniciativa, quando
combinada com a ação de grupos unidos por um ideal comum, muitas vezes ancorados
em instituições eficientes, tem explicado o desenvolvimento contemporâneo. A busca
do lucro levou os indivíduos e as empresas a desenvolverem novos processos de
produção e a abrirem novos mercados nas mais distantes régios do planeta. Os líderes
comunistas, ao abolirem o lucro, eliminaram também o móbil das atividades
empresariais nas economias que passaram por essa experiência. (DILLARD, 1964, p.
145).
O referencial teórico proposto, portanto, objetiva responder as questões levantadas e
atingir os objetivos da pesquisa de forma mais profunda e ao abranger diferentes visões de análise
do papel da tecnologia no desenvolvimento econômico, principalmente devido às limitações de
análise que algumas correntes teóricas apresentam. Por isso, os três referenciais teóricos que
serão utilizados na pesquisa pretendem abranger todos estes quesitos, para que no final possa ser
feita uma análise aprofundada na economia e no desenvolvimento catarinense a partir da
importação de tecnologia alemã.
Conforme o tema do estudo e as obras do referencial teórico apontadas anteriormente, a
revisão bibliográfica também pode ser dividida em quatro partes: a primeira referente à
tecnologia e ao desenvolvimento econômico em si, abrangendo definições, aspectos econômicos
e inter-relação entre ambos; a segunda parte se refere à Alemanha como referencial tecnológico
mundial e aspectos históricos e econômicos do país; a terceira parte abrange uma análise
econômica de Santa Catarina e os benefícios provenientes das relações entre empresas alemãs e
catarinenses no que tange ao processo de transferência, incorporação e desenvolvimento
tecnológico e industrial; e a quarta e última parte se trata dos referências teóricos estabelecidos,
analisando como cada teoria trata da tecnologia e do desenvolvimento econômico;
Na primeira parte, destaca-se a obra do autor Henrique Rattner (1988) intitulada Impactos
Sociais da Automação: o caso do Japão, na qual o autor comenta sobre o contexto internacional
no pós-guerra, as mudanças estruturais da economia mundial, o advento das inovações
tecnológicas e a questão do desenvolvimento econômico de alguns países, especialmente do
Japão. A obra pode ajudar no entendimento de como tais mudanças estruturais da cadeia
16
produtiva mundial se deram e como o advento de novas tecnologias proporciona o
desenvolvimento industrial e econômico de um país.
A obra de Georges Benko (1999), Economia, Espaço e Globalização: na aurora do
século XXI, destaca as economias e os territórios em mutação na era da globalização, focando a
emergência de um novo sistema produtivo, suas inovações tecnológicas e os novos espaços
industriais e de alta tecnologia. A contribuição desta obra está na parte que abrange sobre a
emergência de um novo sistema produtivo mundial durante a atual fase de mutação do
capitalismo internacional, ou seja, a globalização, focando a difusão de novas tecnologias e o
surgimento de novos espaços industriais e de alta tecnologia.
O autor Ignácio Rangel teve uma significativa contribuição sobre o debate acerca da
relação entre tecnologia e economia, quando escreveu a obra Ciclo, Tecnologia e Crescimento,
publicado em 1982. Tal obra auxilia na compreensão da evolução da economia brasileira e
mundial, do papel da tecnologia no Brasil e da posição do país frente à revolução técnicocientífica.
Sobre a segunda parte da revisão bibliográfica sobre os aspectos econômicos e
tecnológicos da Alemanha, encontram-se as obras do Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais (IPRI) e da Fundação Alexandre Gusmão, com organização de Samuel Pinheiro
Guimarães, de 2000 Alemanha: visões brasileiras e de 1995 Brasil e Alemanha: a construção do
futuro, sendo ambas sobre questões contemporâneas da política externa alemã, questões sobre a
realidade econômica da Alemanha e as relações entre ambos os países no mundo globalizado.
Estas obras podem auxiliar no compreensão da atual situação econômica da Alemanha e alguns
de seus aspectos que fazem do país um dos líderes mundiais em inovações tecnológicas,
destacando as relações entre Brasil e Alemanha.
Além desta obras, encontra-se ainda Perfil da Alemanha, editada pelo governo alemão em
2000, destaca tudo sobre o país desde questões culturais, políticas, sociais até econômicas e
relações exteriores do país com outros países, especialmente com os das América Central e do
Sul. A obra retrata muito bem a realidade da Alemanha, podendo ser utilizada para agregar mais
conhecimentos sobre a atual situação econômica, o grau de evolução e desenvolvimento
tecnológico do país e ainda a evolução das relações entre Brasil e Alemanha.
Na terceira parte da revisão bibliográfica que trata sobre Santa Catarina e os benefícios do
intercâmbio tecnológico com a Alemanha, destaca-se a interessante obra do autor Ido Luiz
17
Michels, intitulada Crítica ao Modelo Catarinense de Desenvolvimento: do planejamento
econômico – 1956 aos precatórios – 1997 (1998), onde o autor reúne diversas interpretações da
história e do desenvolvimento da sociedade e, sobretudo, da economia catarinense. Diante disso,
ele ainda destaca a ação estatal nos planejamentos econômicos e ilustra os diversos setores
produtivos catarinenses. As diversas correntes e interpretações sobre o desenvolvimento
econômico e industrial de Santa Catarina podem ajudar ao estudo devido à diversidade do ponto
de vista das interpretações, que ajudam a compreender de diferentes formas como ocorreu todo
este processo no nosso Estado.
A obra dos autores Walter Fernando Piazza e Laura Machado Hübener, intitulada Santa
Catarina: história da gente (1987), descreve sobre toda a história de Santa Catarina desde a préhistória até a atualidade. A obra pode contribuir de forma significativa, já que retrata desde os
primórdios da industrialização até a modernização industrial do Estado, sendo umas das obras
mais completas sobre a relação entre história e economia de Santa Catarina.
Para a análise de dados e estatísticas sobre Santa Catarina, a obra intitulada Santa
Catarina: oportunidades e negócios e elaborada recentemente pelo Governo do Estado pode
servir como referência confiável e atualizada sobre as mais diversas áreas. Ela destaca com
dados, estatísticas e informações históricas e atuais sobre os diversos setores industriais
catarinenses e sua importante participação na pauta das exportações brasileiras.
O método de abordagem utilizado para o desenvolvimento do estudo será o dedutivo. A
análise e interpretação dos resultados serão feitas utilizando-se da pesquisa qualificativa para
interpretar, justificar ou negar as hipóteses e/ou as respostas de forma global ou individualmente.
Como técnicas de investigação, as pesquisas bibliográfica e documental serão as
principais fontes utilizadas para esta pesquisa, na qual serão utilizados os mais diversos meios de
acesso aos materiais, como a própria biblioteca universitária, jornais e material da internet. Além
disso, o levantamento de dados e informações será feito através do recolhimento de materiais em
instituições governamentais e empresas, as quais podem fornecer materiais úteis ao estudo.
A estrutura do trabalho está definida em três capítulos. Dessa maneira, o Primeiro
Capítulo procura destacar a importância da tecnologia no desenvolvimento econômico de um
país. Para essa análise, parte-se inicialmente das definições de dois importantes conceitos-chave
nesse processo, isto é, o de desenvolvimento econômico e o de tecnologia, segundo as mais
diversas correntes teóricas, para então descobrir suas origens e determinar suas inter-relações no
18
decorrer dos séculos em que os dois conceitos foram estudados. Em conseqüência disso, faz-se
necessário recorrer à teoria dos ciclos econômicos para melhor contextualizar e definir essa interrelação existente entre tecnologia e desenvolvimento econômico.
Uma visão geral sobre a Alemanha, especialmente no que diz respeito aos seus aspectos
econômicos, é dada no Segundo Capítulo, objetivando comprovar de que forma o país foi
reconhecido com o atual status de referência tecnológica mundial. A análise se dá em forma de
uma cronologia histórica do processo de industrialização alemã até os seus dias atuais, focando os
principais fatores e acontecimentos que proporcionaram à Alemanha tornar-se um país
econômica e tecnologicamente desenvolvido e, portanto, uma referência mundial nessas áreas.
O Terceiro Capítulo pretende analisar os benefícios que as relações com a Alemanha
trouxeram ao desenvolvimento das indústrias de Santa Catarina, ou seja, como elas contribuíram
aos processos de industrialização e, portanto, de desenvolvimento econômico, industrial e
tecnológico catarinenses, dando ênfase especial ao setor metal-mecânico no Vale do Itajaí e
região Nordeste do estado. Dada a grande importância e complexidade de análise, o presente
Capítulo subdivide-se em quatro principais partes: a) as relações entre Brasil e Alemanha,
fazendo-se um histórico das relações teuto-brasileiras e focando-se o estado de Santa Catarina
nesse contexto; b) a economia brasileira, também esboçada por uma análise histórica do
desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico do Brasil; c) a economia catarinense,
retratada historicamente a partir de seu desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico, no
qual destacam-se três principais fatores: a imigração alemã e o advento da indústria, o
empreendedorismo do imigrante alemão, o papel do Estado; e finalmente d) uma análise do
desenvolvimento industrial e tecnológico do setor metal-mecânico catarinense, a partir do
intercâmbio tecnológico com a Alemanha.
Depois da análise, dos pontos expostos, são apresentadas as considerações finais e
algumas sugestões de temas para futuros estudos nas diversas áreas de Relações Internacionais.
19
1. A Importância da Tecnologia no Desenvolvimento Econômico
O debate acerca da importância da tecnologia no desenvolvimento econômico é tão antigo
quanto a própria questão do desenvolvimento econômico entre nações. Há séculos, estudiosos das
mais diversas correntes teóricas ou escolas econômicas tentam decifrar a correlação existente
entre o desenvolvimento econômico e a tecnologia, objetivando responder sua coexistência e suas
mútuas influências. Além disso, a tentativa de descobrir qual o caminho correto que uma nação
deve traçar para estar avançada tecnologicamente e para alcançar o almejado desenvolvimento
econômico sempre intrigou a todos.
Os métodos de análise tanto do desenvolvimento econômico quanto da tecnologia, neste
caso, serão muito semelhantes e estarão intimamente interligados, porém com elementos e
fenômenos diferenciados. Geralmente no decorrer dos séculos, ambos sempre foram analisados
de forma conjunta, porém a partir de diferentes visões segundo seus distintos paradigmas e suas
teorias subseqüentes. Mesmo assim, torna-se uma tarefa árdua separar dois temas tão interligados
para análise, o que aparecerá naturalmente nesta pesquisa. Diante disso, primeiramente, pretendese fazer uma análise, mesmo que superficialmente, da história do pensamento econômico e como
as diferentes escolas teóricas viam o desenvolvimento econômico, para então, finalmente, chegar
às origens e ao papel da tecnologia nesse processo no decorrer dos séculos.
1.1 O Desenvolvimento Econômico
A questão do desenvolvimento econômico sempre foi muito discutida e há séculos está
presente no debate político e econômico de qualquer país. Com a crescente importância do tema,
tanto governos quanto estudiosos de diferentes correntes ideológicas e teóricas passaram a tentar
compreendê-lo e explicá-lo de uma melhor forma, visando descobrir como surge e quais seriam
as condições prévias e os efeitos posteriores desse processo, que, supostamente, levariam uma
nação ao desenvolvimento econômico. Como Souza (1999, p. 15) esclarece, “Embora o
20
desenvolvimento econômico seja um tema que tenha obtido destaque somente no século XX, a
preocupação com o crescimento econômico nos principais países da Europa é muito mais antiga”.
Na Idade Média, a preocupação com o desenvolvimento econômico estava ligada ao
fortalecimento do regime feudal, no qual a estrutura econômica tinha como primordial objetivo,
como destacado por Souza (1999, p. 15),
[...] aumentar o poder econômico e militar do soberano. [...]. Desse modo, [...],
procurava-se combinar a segurança do povo com a subsistência do Senhor. Os vassalos
trabalhavam os campos, abasteciam as cidades, onde se refugiam em caso de ataques
inimigos. Esse sistema garantiu seu equilíbrio secularmente, mas, ao mesmo tempo,
dificultava as mudanças necessárias ao desenvolvimento econômico.
Desde o fim da Idade Média, quando fatos como a expansão marítima e comercial
originadas pelas grandes navegações, o aumento da riqueza das metrópoles da Europa
determinado pelo monopólio comercial sobre suas colônias e pela política econômica vigente do
mercantilismo e o fortalecimento do Estado-nação, o desenvolvimento econômico passou a
determinar a política econômica de uma nação e a criar novas concepções em torno de seu real
significado e importância, que se refletiram no desenvolvimento das forças produtivas no mundo.
A partir do século XVI, o desenvolvimento econômico estava relacionado com a
quantidade de metais preciosos que cada país detivesse. Diante disso, as metrópoles européias
aumentavam suas reservas de ouro e prata pela exploração de suas colônias, obtendo assim uma
balança comercial favorável. Quanto maior fosse o saldo positivo da balança comercial e o
volume acumulado de metais preciosos de um país, ele seria considerado desenvolvido
economicamente. Essa política era conhecida como mercantilismo e baseada no pacto colonial,
que vigorou mundialmente desde o século XVI até o XIX.1
A partir do século XVIII, inicia-se um processo de decadência do sistema mercantilista e
a emergência de um novo sistema econômico mundial, ou seja, o capitalismo. Neste período,
1
Sob a égide do sistema mercantilista, as potências coloniais (Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França)
utilizavam-se de uma política exploratória chamada de pacto colonial, a qual vigorou nas relações metrópole-colônia
do século XVI até o XVIII. O seu principal objetivo era prover a metrópole de produtos exóticos, ou seja, aqueles
que ela não pudesse produzir, destinando essa função à colônia. A metrópole, além de apropriar-se de riquezas
minerais (ouro e prata), conseguia grandes lucros na venda desses produtos na Europa. Nessas condições, a colônia
não poderia de maneira alguma concorrer com a metrópole. Era um sistema de total submissão da colônia para com a
sua metrópole e foi utilizado nas colônias de exploração, ou seja, nas Américas portuguesa, espanhola, holandesa,
francesa e inglesa, em parte. A colônia inglesa na América do Norte não se constitui totalmente numa colônia de
exploração, sendo que somente a parte sul da colônia correspondia ao sistema exploratório adotado no restante do
continente americano pelas outras metrópoles coloniais. Já a parte norte da colônia inglesa não apresentou um caráter
21
vários estudiosos e críticos ao então sistema vigente destacaram-se, particularmente o inglês
Adam Smith vinculado à escola clássica e autor da importante obra A Riqueza das Nações, de
1776. Segundo sua visão, a formação da riqueza de uma nação, além de uma balança comercial
favorável e do volume de metais preciosos, concentrava-se também no “[...] aumento da
proporção dos trabalhadores produtivos em relação aos improdutivos, redução do desemprego e
elevação da renda média do conjunto da população.” (SOUZA, 1999, p. 16). Smith defendia que
o comércio internacional beneficiava a todos os países que dele participam, levando em conta que
cada país possuía algum tipo de vantagem na produção de algum bem em comparação com os
outros países. (SINGER, 1983). Segundo esses preceitos, Smith elaborou a teoria das vantagens
absolutas, segundo a qual uma nação deveria especializar-se na produção de algum bem que lhe
desse algum tipo de vantagem comercial em relação a outras nações. A especialização das forças
produtivas de um país num determinado bem proporcionaria a esse bem baixos custos de
produção, o qual obteria boas vantagens comerciais frente aos produtos de outros países. Essas
vantagens poderiam ser naturais, ou seja, aquelas que um país detém naturalmente como
condições climáticas, terras férteis, recursos minerais, etc., ou ainda adquiridas através do
aperfeiçoamento das forças produtivas ou das técnicas de produção. Garantidas tais vantagens
comercias, um determinado país obteria boas relações comerciais e garantiria uma balança de
pagamentos favoráveis, dando-lhe as condições perfeitas para que ele chegasse definitivamente
ao desenvolvimento econômico.
Seguindo os passos da teoria de Adam Smith na corrente clássica, porém agora já no
século XIX, o economista inglês David Ricardo desenvolveu a teoria das vantagens relativas em
1817, aperfeiçoando as idéias de Smith. O exemplo clássico dado por Ricardo para explicitar sua
teoria foi entre Inglaterra e Portugal, assim ambos os países obteriam vantagens relativas no
comércio de seus produtos se eles se especializassem num determinado bem. A Inglaterra
produzia produtos têxteis com mais eficiência, em menor tempo e com um preço mais
competitivo, devendo especializar-se nesse setor. Já Portugal, apresentava as mesmas condições
vantajosas na produção vinícola, na qual devia especializar-se. Diante disso, todos os países
teriam condições, assim como Portugal e Inglaterra, de obter vantagens relativas no comércio
internacional de seus principais produtos, garantindo um saldo positivo na balança comercial e
exploratório e constitui-se numa colônia de povoamento, pois nela as pessoas vieram para fixar-se e não para
explorar.
22
aumentando a renda nacional do país, principal indicador do desenvolvimento econômico de um
países segundo a corrente neoclássica.
Ainda no século XIX, em contraposição à corrente clássica, surge uma nova corrente
teórica fundamentada nas idéias de Karl Marx e Friederich Engels, que ficou mundialmente
conhecida como corrente marxista e por propor um novo sistema produtivo que substituísse o
vigente sistema capitalista, ou seja, o socialismo. A proposta de Marx e Engels defendia que as
forças produtivas deveriam ser coletivizadas, proporcionando uma distribuição de renda
igualitária entre a população e, assim, levando um país tanto ao desenvolvimento econômico
como também social. A partir deste momento, o desenvolvimento social toma outra concepção e
entra definitivamente na pauta de discussão do desenvolvimento econômico dos países. Além
disso, Marx formulou uma tese sobre a acumulação primitiva de capital pelas metrópoles
colonizadoras a partir do século XVI, quando as metrópoles européias Portugal, Espanha, França,
Holanda e Inglaterra acumularam muitas riquezas pela expropriação e exploração principalmente
de minérios (ouro e prata) em seus territórios coloniais. Esta grande acumulação de riquezas
resultou, segundo Marx, numa acumulação primitiva de capital e que foi o grande impulso
financiador da industrialização e do fortalecimento econômico das metrópoles européias a partir
do século XVIII, especialmente na pioneira Inglaterra.
Nas primeiras décadas do século XX, surge a teoria do desenvolvimento econômico
elaborada pelo austríaco Joseph A. Schumpeter, o qual baseou-se no trabalho inicial do
economista russo Nikolai D. Kondratieff e sua hipótese de que a economia mundial é
caracterizada por ciclos ou ondas largas. Diante disso, os ciclos determinariam o crescimento e a
expansão do sistema capitalista. Um ciclo, segundo a teoria, dura cerca de 50 anos,
compreendendo desde os períodos de depressão e de crise até os de ascensão e de saturação da
economia mundial. No período de crise, ocorrem as maiores e mais profundas transformações, ou
seja, quando as estruturas do sistema são modificadas principalmente por empresários
empreendedores que investem em inovações tecnológicas e dão novo fôlego à economia. Depois
de incorporadas à produção, as inovações revolucionam a produção e ditam uma nova
reorganização da economia mundial, recuperando o sistema capitalista e levando as economias ao
desenvolvimento econômico.
Schumpeter (1982), portanto, baseia sua teoria num tripé, no qual seus elementos seriam
fundamentais ao desenvolvimento. São eles as novas combinações nos meios de produção, o
23
crédito e o empresário empreendedor. Se não houver a total interação destes elementos numa
economia, existe a possibilidade de ocorrer mudanças e/ou crescimento, mas não haverá novos
fenômenos que gerariam o fenômeno do desenvolvimento, que segundo a teoria seria definido
pela realização destas novas combinações e das inovações tecnológicas resultantes deste
processo. Diante disso, o desenvolvimento econômico estaria atrelado ao crescimento e ao
aperfeiçoamento das forças produtivas.
Ainda no século XX, John M. Keynes elaborou a tese que o desenvolvimento de um país
seria alcançado quando houvesse uma maior distribuição de renda entre a população, elevando o
índice de renda nacional, pois ele seria o principal medidor do índice de desenvolvimento de um
país. Mas para isso, Keynes propôs um novo método aos momentos de crise, pois neles deveria
haver um modo de equilibrar a demanda e a produção para que a renda nacional continuasse nos
níveis anteriores ou até aumentasse. Para isso, ao contrário de muitos economistas da época, ele
propôs que a intervenção do Estado nas economias nacionais seria a saída mais viável para
superar a crise dos anos 1930 e para que elas voltassem a crescer e expandir sua renda nacional,
desenvolvendo suas economias. Um Estado interventor na economia nacional seria o promotor de
políticas de regulação de sua economia, garantindo através dos gastos públicos o pleno emprego,
o crescimento da renda nacional e a distribuição dessa renda entre a população, promovendo o
estágio do pleno consumo da população, a expansão das atividades industriais e, como
conseqüência, o crescimento e desenvolvimento de sua economia. A teoria keynesiana de
intervenção estatal na economia influenciou muitas políticas nacionais de vários países, inclusive
o Brasil nessa época, que buscavam alternativas para superar a recessão econômica mundial da
década de 1930 e desenvolver cada vez mais suas economias.
Um pouco mais recente, principalmente a partir da década de 1950, a questão do
desenvolvimento toma novas proporções e significados, especialmente aos países da América
Latina. Em plena Guerra Fria, disputa ideológica travada entre a superpotência capitalista, os
EUA, e a superpotência socialista, a União Soviética, os países não-alinhados faziam parte do
Terceiro Mundo, assim chamado por não fazer parte do Primeiro Mundo (capitalista) e nem do
Segundo Mundo (socialista) e todos serem países em desenvolvimento e relativamente pobres.
Sob a órbita das duas superpotências, tornava-se impossível discutir e muito menos agir em prol
da solução dos problemas e do desenvolvimento dessas regiões marginalizadas. Por isso, surgem
movimentos que preencheram essa lacuna, destacando-se a CEPAL nesse contexto.
24
A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) foi fundada em 1948
pelo Conselho Econômico e Social (CES) das Nações Unidas, objetivando buscar soluções aos
problemas latino-americanos e promover o desenvolvimento da América Latina. As teses da
CEPAL foram baseadas nas idéias de Raul Prebisch, que elaborou algumas teses que se tornaram
as bases teóricas aos cepalinos e que foram internacionalmente muito criticadas. Como ponto de
partida Prebisch desenvolve uma “[...] crítica à teoria das vantagens comparativas de David
Ricardo, segundo a qual os países deveriam especializar-se na produção de produtos para os quais
apresentassem vantagens comparativas de custo”. (SOUZA, 1999, p. 199). Seguindo os
conselhos econômicos da corrente clássica, os países deveriam produzir matérias-primas e
alimentos para exportar para suas metrópoles e importar delas produtos manufaturados,
estruturando assim a relação centro x periferia e a conhecida divisão internacional do trabalho.
Prebisch concluiu que se a América Latina continuassem nessa situação periférica e
produtora de produtos primários, a tendência apontava que cada vez mais a região iria
empobrecer e não chegaria ao desenvolvimento. Por isso, Prebisch elaborou outra tese cepalina,
ou seja, a tese da deterioração dos termos de trocas, segundo a qual os bens primários produzidos
pelos países periféricos tenderiam a deteriorar-se mais do que os bens manufaturados produzidos
pelos países centrais. As teses de Prebisch foram duramente criticadas, especialmente pelos
economistas neoclássicos. Dessa maneira, segundo as idéias cepalinas, a única maneira de os
países latino-americanos para alcançar o almejado desenvolvimento era industrializar-se. Nesse
sentido, industrialização era sinônimo de desenvolvimento.
Nesse contexto, segundo Bielschowsky (1999, p. 113), a CEPAL criou um princípio
normativo, ou seja, “[...] a idéia de que a contribuição do Estado é necessária para ordenar o
desenvolvimento econômico nas condições da periferia latino-americana. Trata-se, em resumo,
do paradigma desenvolvimentista latino-americano.” O que faz a corrente de pensamento
cepalino contrariar em mais um ponto a corrente clássica, ou seja, a intervenção estatal na
economia. Dessa forma, Bielschowsky (1999) identificou os quatro importantes traços presentes
na análise da América Latina nas cinco décadas de existência da CEPAL, sendo eles: o enfoque
histórico-estruturalista, baseado na idéia da relação centro-periferia; a análise da inserção
internacional; a análise dos condicionantes estruturais internos do crescimento e progresso
técnico, e das relações entre estes, o emprego e a distribuição de renda; e ainda a própria análise
das possibilidades da ação estatal.
25
Por outro lado, paralelamente às teses da CEPAL, acontecia no âmbito internacional a
chamada globalização, caracterizada pela extinção gradual das fronteiras nacionais ao capital e
comércio internacionais e, como conseqüência, pela vigência de uma interdependência
econômica mundial. Nela, vê-se a propagação de tendências neoliberais, que pregam a extinção
da atuação do Estado na economia e o abandono de políticas protecionistas, deixando que o
mercado internacional regule automaticamente as economias nacionais e, através do livrecomércio, determine o desenvolvimento destas. Dessa forma, a predominância do neoliberalismo
num mundo globalizado fez com que as idéias cepalinas de desenvolvimento à América Latina
fossem sendo cada vez mais obstruídas, dificultando a sua aplicação efetiva no contexto latinoamericano. Causas para isso, foram identificadas por Magalhães (1999, p. 278).
Em linhas gerais, a receita neoliberal para os países em desenvolvimento se traduz em
três pontos básicos: (a) Estado mínimo e inserção do país na economia mundial através
(b) da abertura às importações e (c) da dependência de poupanças e capitais
internacionais, representados pelas empresas multinacionais. Sinteticamente, diríamos
que a proposta se resume na irrestrita abertura ao comércio externo e ao capital
internacional, tendo a passividade do Estado como precondição.
Os estudos cepalinos auxiliaram na formulação e na orientação de políticas nacionais
industrializantes entre os países da América Latina, visando o desenvolvimento de suas
economias e de suas sociedades. Como a industrialização tornou-se realidade em alguns países
como Brasil, Argentina e México, porém tais países não alcançaram o desenvolvimento, a
CEPAL passou a estudar outros fenômenos mais atuais, visando contribuir para a solução de
novos problemas que afligem a América Latina, como o atual e gigantesco endividamento
externo, uma melhor inserção latino-americana na globalização e nela a busca por novas
oportunidades para os países latino-americanos.
1.2 A Tecnologia
Desde a pré-história, a natureza e o homem, no que se refere ao desenvolvimento de
técnicas, tinham uma relação muito próxima. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas
da natureza, com a qual se relacionavam sem outra mediação. As transformações impostas à
26
natureza pelo homem eram técnicas criadas a partir dessa relação homem x natureza, como por
exemplo, a domesticação de plantas e animais, o pouso e rotação de terras e culturas, outras
atividades agrícolas etc. Tais técnicas utilizadas estabeleciam uma harmonia entre homem e
natureza, pois até então o instinto de conservação da natureza sempre esteve presente nessa
relação. (SANTOS, 1996).
Com o passar dos anos, as sociedades locais vivenciaram a emergência de espaços
mecanizados, que aos poucos foram transformando a relação homem x natureza, antes restrita
somente ao “natural”, mas que agora envolve tanto o “natural” quanto o “artificial”, resultado das
constantes transformações dessa relação. (SANTOS, 1996). Esse fato pode ser constatado
principalmente depois da acumulação de riquezas pelas metrópoles européias, obtida pela
expropriação e exploração de produtos tropicais e metais preciosos provenientes das colônias.
Neste momento, ocorrem simultaneamente o fortalecimento e a expansão dessas economias, as
quais passaram a acumular grande quantidade de capital e a desenvolver novas técnicas de
produção agrícola a partir do século XVI e que, posteriormente, ou seja, a partir século XVIII na
Inglaterra e do próximo século em outros países como Alemanha, França etc., serviram de base à
produção industrial, garantindo uma grande reprodução daquele capital por parte dos capitalistas
e contribuindo ao desenvolvimento econômico e a uma vantagem competitiva diante das outras
economias.
A partir deste ponto, as novas técnicas de produção adquirem uma grande importância ao
desenvolvimento econômico de um país. Tanto as inovações na agricultura como na indústria
fizeram com que as economias nacionais das metrópoles européias crescessem e prosperassem,
refletindo assim num constante aperfeiçoamento das técnicas de produção.
A técnica pode ser conceituada como o uso de determinada arte ou ciência na expectativa
de produzir algo, independentemente de sua área abrangente. Ela pode ser empregada desde as
ciências naturais e até as humanas, para fins de pesquisa e de desenvolvimento de novos
processos ou produtos. Ainda sobre sua caracterização, Rangel (1982, p. 95) destaca que:
[...] a ciência e a técnica, no sentido contemporâneo, de forças produtivas em si mesmas,
[...], mais do que em qualquer outro momento da história da humanidade, são produto da
civilização humana, no sentido mais lato que seja possível atribuir a essa expressão.
Com o emprego da ciência e da técnica e como produto delas neste processo surge a
tecnologia, empregada nos mais diversos campos, principalmente no setor produtivo, no qual ela
27
mais se destaca e onde seus efeitos são mais facilmente percebidos pela sociedade mundial.
Focando justamente o setor produtivo, Benko (1999, p. 225) define a tecnologia “[...] como a
sistematização dos conhecimentos e das técnicas que permitem à indústria realizar
completamente uma produção.”
O setor produtivo de uma economia é sempre alvo das constantes inovações tecnológicas,
devido principalmente ao advento de novas tecnologias nos mais diversos setores industriais. A
introdução de novas tecnologias no mercado dita as novas tendências ou direções que as
empresas devem tomar tanto a nível nacional quanto internacional. Portanto, a tecnologia tem um
importante papel no desenvolvimento da economia de um país, pois é ela que vai determinar os
novos rumos que o setor produtivo deve seguir e, conseqüentemente, o desenvolvimento
econômico de um país.
A difusão tecnológica em escala mundial pode ser considerada recente, já que
antigamente as inovações tecnológicas eram pouco difundidas e circulavam a uma velocidade
muito menor do que recentemente. Na Primeira Revolução Industrial ocorrida na metade final do
século XVIII, por exemplo, somente a Inglaterra beneficiou-se das inovações tecnológicas
desenvolvidas. O pioneirismo inglês deve-se ao cumprimento das condições necessárias na época
ao desenvolvimento industrial, ou seja, capital, mão-de-obra e matérias-primas. Somente a partir
do século XIX e principalmente no século XX, outros países como Alemanha, França e Estados
Unidos conseguiram cumprir tais pré-condições e a difusão tecnológica se intensificou
amplamente, atingindo nível e abrangência jamais vistos até então.
O período entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX,
segundo Motoyama (2004), foi considerado internacionalmente como Segunda Revolução
Industrial ou ainda como Segunda Revolução Científica, no qual cada vez mais os conhecimentos
científicos se difundem e passam a ser aplicados no sistema produtivo, estabelecendo-se assim
novas interações entre essas áreas, ou seja, entre a ciência e a indústria. Nessa época, a ciência
passa por constantes e profundas transformações, quando novos temas começam a ser
pesquisados e quando surgem importantes descobertas científicas como as do raio X (1895) por
Wilhelm Conrad Röntgen, da radioatividade (1896) por Henri Becquerel, do rádio (1898) pelo
casal Pierre e Marie Curie, da estrutura de cristais (1912), do nêutron (1932), da cisão nuclear
(1938), dos mésons (entre 1936 e 1947), e de novas teorias como a dos quanta (1900) de Max
28
Planck, da relatividade restrita (1905) e geral (1916) de Albert Einstein, o modelo atômico (1913)
de Rutherford-Bohr e a nova teoria dos quanta (1925), etc.
A partir daí, as atividades científicas passam a integrar-se e a interar-se cada vez mais
com as industriais. Além disso, a descoberta de fontes alternativas de energia, especialmente a
eletricidade e o petróleo, geram uma maior diversificação industrial, utilizando-se de novos
materiais como o alumínio e o aço na construção civil e na fabricação de motores a combustão
interna. Tais fatos revolucionaram o mundo no final do século XIX e até meados do XX, época
pela qual ficou conhecida pela Segunda Revolução Industrial. A partir de então, os constantes
aperfeiçoamentos na construção civil implicaram na construção de edifícios mais altos, estradas,
hidrelétricas entre outras grandes obras, e a fabricação de motores a combustão interna
revolucionaram os meios de transporte, principalmente com o advento do automóvel e do avião.
E neste contexto, com o intuito de ampliar a capacidade de produção e de reduzir os custos,
surgem o Taylorismo e o Fordismo. (MOTOYAMA, 2004).
O Taylorismo foi um método organizacional criado pelo engenheiro e economista norteamericano Frederik Taylor, que muitos chamam de “organização científica do trabalho”. Segundo
ele esta melhor organização na produção resultaria em maiores ganhos de produtividade e
lucratividade aos capitalistas que o adotassem. Foi o caso de Henry Ford, que implantou as
técnicas organizacionais do Taylorismo na indústria automobilística e as aperfeiçoou criando um
novo modelo de produção industrial, o Fordismo. Segundo Benko (1999, p. 28), ele “[...]
fundamentou-se em uma produção industrial estandardizada, apoiada num consumo de massa –
que permitiu o desenvolvimento da produção em massa - e em seu estabelecimento com a ajuda
de forte intervenção do Estado.” O Fordismo revolucionou a produção industrial mundial na sua
época e ainda hoje algumas características desse modelo estão presentes na estrutura funcional de
alguns setores industriais, em especial na indústria automobilística.
A maioria dos países que participaram da Segunda Revolução Industrial e dos modelos
industriais do Taylorismo e Fordismo, como EUA, Japão e Alemanha, contaram com forte apoio
de seus Estados na implantação de políticas industriais de incentivo, como linhas de crédito,
investimentos em infra-estrutura e, muitas vezes, medidas protecionistas em favor do
desenvolvimento seus setores industriais e de suas economias. Nesses casos, o Estado teve uma
participação importante na criação das bases de sustentação, que possibilitaram países como os
29
EUA, o Japão e a Alemanha de tornaram-se as atuais potências econômicas, industriais e
tecnológicas, como veremos mais adiante no seguinte capítulo o caso da Alemanha.
No período pós Segunda Guerra Mundial, segundo Rattner (1988), as grandes inovações
tecnológicas difundiram-se largamente e tomaram proporções mais profundas, quando o rápido
crescimento econômico e expansão do comércio internacional levaram a uma reestruturação das
relações de interdependência em escala global. Com isso, as exportações e importações
cresceram tanto em volume quanto em valor, estimulando a expansão dos fluxos de capital,
tecnologia e recursos humanos, os quais foram facilitados pelo desenvolvimento de sistemas mais
modernos e eficientes de transporte e comunicação.
Os agentes mais dinâmicos desse ciclo de expansão da economia mundial foram as
corporações e conglomerados transnacionais, os quais, baseados em uma cultura
organizacional e capacidade financeira superiores, elaboraram e executaram estratégias
e planos de produção, de comércio, de transações financeiras e de transferência de
tecnologia, em âmbito e escala globais. Entre os fatores favoráveis ao crescimento e
expansão dos conglomerados transnacionais, deve-se mencionar a fabricação de
produtos estandartizados e em massa, que exigem unidades fabris de grande escala
operando com tecnologia sofisticada de alto custo, o que torna a “entrada” no mercado
mais difícil para os concorrentes potenciais. (RATTNER, 1988, p. 5).
A partir dos anos 60, o modelo de produção fordista atinge seu auge e entra num processo
de decadência. Essa crise mundial do fordismo não teve uma causa única, mas sim uma
combinação de vários fatores que resultaram em seu colapso. Suas principais causas provêm da
“[...] articulação de ´causas internas` (a crise do próprio modelo de desenvolvimento,
principalmente do lado da oferta) e de ´causas externas` (a internacionalização econômica, que
compromete a gestão nacional da demanda).” (BENKO, 1999, p. 29).
Novos espaços industriais e tecnológicos surgem principalmente a partir dos anos 70,
quando várias corporações transnacionais iniciam um processo de descentralização das atividades
de produção industrial, a qual geralmente não vinha acompanhada da transferência tecnológica.
Mesmo assim, este novo processo do capitalismo contribuiu à integração de novos espaços
geográficos nesse novo dinamismo do próprio capitalismo mundial quanto na nova divisão
internacional do trabalho. Conforme Santos (1996), uma característica deste processo é a
transformação destes territórios nacionais num espaço regional da economia internacional, nos
30
quais os avanços tecnológicos mais modernos, utilizados em cada país, são mais bem utilizados
por firmas transnacionais2 do que propriamente pela sociedade nacional.
A partir daí, inicia-se uma fase de transição do capitalismo industrial ao financeiro e de
formação de um novo sistema produtivo, substituindo o antigo modelo fordista por um novo,
marcado pela flexibilidade nos processos produtivos e pela introdução de novas tecnologias tanto
em novos produtos quanto em novas indústrias emergentes. De acordo com Benko (1999, p. 29),
A maior flexibilidade favorece a desintegração vertical das relações de proximidade
entre dirigente e subcontratante, a troca contínua de informações e portanto a
proximidade espacial, que permite a interação e a regulação final do processo de
produção global. A introdução de técnicas de produção flexíveis, assim como de uma
variedade de novos produtos, abriu perspectivas na reorganização do processo de
produção global. Pela primeira vez na história do capitalismo, tornou-se possível
combinar trabalho de alto nível tecnológico e diversificação dos produtos e dos
processos.
Ocorre, portanto, a substituição do Fordismo por um novo sistema produtivo mais
flexível, ou seja, o Toyotismo. Segundo Moraes (2002), esse sistema foi desenvolvido pela
Toyota nos anos 30 próprio para a economia do Japão, isto é, a produção de pequenas
quantidades de diferentes modelos de automóveis no mesmo processo produtivo. Um dos
principais princípios do Toytotismo ou da produção flexível é o just-in-time, que consiste em
suprir o mercado com aquilo que é demandado, quando é demandado e na exata quantidade
demandada. Como o sistema Toyotismo de produção permite a redução dos estoques, dos seus
custos de administração e do espaço físico, ele passa a substituir o Fordismo a partir dos anos 70,
fazendo com que o Toyotismo se consolide e seja freqüentemente usado até os dias atuais no
sistema produtivo mundial.
Neste ponto cabe salientar, o surgimento de novas indústrias que combinam o uso da alta
tecnologia e a diversificação de produtos, particularmente a microeletrônica, a biotecnologia e a
informática. Seus produtos têm um alto nível de sofisticação e aperfeiçoamento, determinado,
conforme Benko (1999, p. 225), principalmente pela “[...] porcentagem do emprego científico e
2
Firmas transnacionais são empresas formadas por uma maioria proprietários e/ou administradores de diferentes
nações, não identificando-a com uma única nação específica. Já uma firma multinacional caracteriza-se por estar
presente em vários países com filiais produtoras ou de prestação de serviços fora de seu país de origem. Nelas, o
processo decisório engloba todas as associadas ou subsidiárias e, via de regra, fora do país anfitrião. O crescimento
rápido destas empresas e seu poderio têm causado algum conflito em certos países, ou por repatriação dos lucros ou
pelo poder de monopólio que muitas vezes exercem. (Dicionário Michaelis).
31
de engenheiros no emprego total; o crescimento do emprego, os gastos para a pesquisa e o
desenvolvimento etc.”
A partir da década de 1980 e no decorrer da 1990, como Rattner (1988, p. 1) destaca, as
“[...] tecnologias microeletrônicas estão transformando a infra-estrutura produtiva, com
profundos impactos sobre a estrutura organizacional, emprego, requisitos de competência,
práticas administrativas e relações industriais.” Além das tecnologias microeletrônicas, temos
também a informática e a biotecnologia, inovações tecnológicas que alteram constante e
profundamente tanto os processos administrativos como os produtivos no mundo atual. Tudo isso
foi possibilitado, pois, conforme Benko (1999, p. 22), “[...] trata-se de utilizar as virtualidades
tecnológicas da automação como suporte material a fim de remodelar a organização do trabalho,
os processos de produção, os sistemas de gestão e a qualidade dos produtos ou mesmo a norma
social do consumo.”
O acesso à tecnologia, geralmente, não acontece de forma muito fácil e uniforme,
particularmente aos países em desenvolvimento. O centro dinâmico da economia mundial, ou
seja, aquele composto pelos países desenvolvidos, sempre cria e desenvolve primeiramente as
inovações tecnológicas. O conhecimento e a informação exercem profundamente seus papéis de
recursos, participando do clássico processo pelo qual, no sistema capitalista, os detentores de
recursos competem vantajosamente com os que não dispõem deles. (SANTOS, 1996). Por isso,
neste contexto, cabe aos países em desenvolvimento um papel coadjuvante neste processo. Ou
seja, buscar formas para que o acesso às inovações daqueles também possa chegar e ser
aproveitado ao desenvolvimento destes. E para isso, os países em desenvolvimento,
principalmente, utilizam três modos principais para adquirir tecnologia: a transferência, a
incorporação e desenvolvimento.
Neste sentido, segundo Rangel (1982), apesar de que a tecnologia não tenha pátria e que
não pode florescer em qualquer parte do mundo, mas somente onde se cumpram certas condições
prévias, “[...] a tecnologia tem uma naturalidade e uma nacionalidade, emergindo como objeto
lícito de comércio [...].” (RANGEL, 1982, p. 96). Desse modo, a tecnologia não conhece
fronteiras nacionais, e assim como qualquer outra mercadoria comercializada mundialmente, ela
também é ampla e livremente vendida, mas altamente valorizada no comércio internacional. E
essa comercialização ocorre como forma de importação de novas tecnologias, principalmente de
países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.
32
A difusão tecnológica intensificou-se nas últimas décadas do século XX, especialmente
por causa do excepcional aperfeiçoamento dos meios de comunicação e da crescente
interdependência econômica entre as nações num mundo globalizado, facilitando uma troca cada
vez maior de informações, conhecimentos e tecnologias. Nesse contexto, segundo Cooper apud
Cassiolato e Elias (2004), elementos de know-how técnico são adquiridos principalmente por
países em desenvolvimento, que importam ou adquirem tais conhecimentos e técnicas dos países
desenvolvidos de várias maneiras. As principais delas se dão através do fluxo de livros, revistas,
e outras publicações técnicas; do movimento de pessoas entre os países; educação e treinamento;
da troca de informações e pessoal por programas de cooperação técnico-científica; de consultoria
e emprego de especialistas estrangeiros; da simples importação de máquinas e equipamentos; de
acordos de licenciamento para processos produtivos e uso de marcas e patentes; de investimentos
diretos estrangeiros num dado país, etc..
No entanto, muitos países, mesmo importando constantemente tecnologia, não conseguem
porém assimilar ou absorver adequada ou totalmente tal tecnologia, impedindo-os de tornarem-se
países tecnologicamente desenvolvidos e independentes. Essa situação ocorre com a maioria dos
países em desenvolvimento, por não possuírem certas condições necessárias ao desenvolvimento
tecnológico. A importação de tecnologia, portanto, não garante única e exclusivamente que o país
importador progrida e se desenvolva tecnologicamente. Isso vai depender de algumas condições
prévias que variam de país para país, podendo ser referente à disponibilidade de capitais, infraestrutura, investimentos em educação e até mesmo fatores culturais, que determinaram ou não se
o país terá condições futuras de progredir científica e tecnologicamente.
Mesmo assim, a importação de tecnologia se tornou uma prática muito comum, por ser o
meio mais fácil de adquirir as novas tecnologias. Por isso, segundo Rangel (1982), a grande
maioria dos países torna-se primeiramente importador de tecnologia, para anos mais tarde se
desenvolver e se tornar um produtor de tecnologia.
A importação de novas tecnologias compreende dois processos completamente distintos,
mas muitas vezes confundidos entre si conceitualmente, isto é, a incorporação e a transferência
de tecnologia. A princípio, os dois processos são muito parecidos, pois ambos tratam de aquisição
de tecnologia pela importação, porém em situação e grau diferenciados.
A importação de tecnologia através da incorporação acontece pela simples compra de
produtos manufaturados dos países desenvolvidos e/ou pelo advento deles no estágio final na
33
produção de outro bem. Isso acontece, principalmente, com os países em desenvolvimento, por
não possuírem uma indústria de base consolidada e necessitarem importar produtos
industrializados ou maquinaria para produção de produtos finais destinados ao mercado interno e
externo. Conforme Rangel (1982, p. 96), esta era uma das únicas saídas a estes países,
[...] dado que a tecnologia engendrada pelos países de vanguarda era um insumo
obrigatório, ainda que não explícito, dos produtos finais, a princípio, e intermediários,
mais recentemente [...].
Este processo ocorre principalmente com países em desenvolvimento, que ainda possuem
somente uma indústria infante e, muitas vezes, nem apresentam indícios de uma indústria de
base, importando geralmente tecnologia para incorporar à produção de bens não-duráveis ou
semi-duráveis.
Já a importação de tecnologia através da transferência ocorre quando a tecnologia, aqui
entendida como conhecimento ou know how e não somente como mercadoria, é repassada por
completa a seus importadores. A transferência compreende que a tecnologia deverá ser
totalmente absorvida à produção do importador, o qual dominará toda a técnica empregada desde
o estágio inicial da produção até o produto final. Em outras palavras, os que transferem a
tecnologia repassam todo o seu conhecimento para que os receptores aprendam desde o estagio
inicial e dominem tal tecnologia. Este processo difere da incorporação em razão da questão do
domínio tecnológico, já que na incorporação o importador somente importa a tecnologia
desenvolvida por outros e a incorpora na sua produção, ficando ainda dependente das novas
tecnologias dos centros produtores. Além disso, o importador no caso da incorporação ainda
necessita de investimentos em recursos humanos, manutenção, assistência técnica, franquias, etc.
Já na transferência tecnológica, a tecnologia é repassada por completa e, apesar de muitas
vezes ser obrigatório o pagamento de franquias ou royalties, não representa tanta dependência em
relação ao caso anterior. Aqui, desde a assistência técnica, a manutenção dos equipamentos e o
treinamento de recursos humanos podem ser feitos a partir das próprias indústrias receptoras
desta tecnologia. A transferência de tecnologia é feita, principalmente, por países em
desenvolvimento, mas que já possuem uma indústria de base consolidada e estão buscando
modernizar seu parque industrial, principalmente para os setores de produção de bens de
consumo duráveis e bens de capital.
34
Neste processo de incorporação de tecnologia ocorre um outro processo evolutivo
paralelo, ou seja, a evolução do status de importador pela incorporação de tecnologia ao de
importador pela transferência de tecnologia. Diante disso, uma indústria ou um país passa de um
simples importador de tecnologia incorporada para um importador de tecnologia em estado puro.
Começa então a desenvolver suas próprias tecnologias a partir das experiências e conhecimentos
acumulados pela importação ao longo dos anos. Por isso, diz-se que primeiramente um país
torna-se importador de tecnologia, para então se tornar um produtor dela. (RANGEL, 1982).
A partir deste ponto, chega-se finalmente ao último modo de aquisição de tecnologia, que
é o próprio desenvolvimento dela. O desenvolvimento de tecnologia é um longo processo que
depende de muitas variáveis e que não estão presentes em todos os países do mundo. Por isso, a
dificuldade de desenvolver ou produzir tecnologia somente por esforços próprios. A produção de
tecnologia depende de várias condições, que se não forem atingidas, dificilmente um país se
tornará um pólo produtor. Entre estas condições destacam-se a disponibilidade de recursos
naturais, a capacitação de mão-de-obra, a acumulação de capitais, a existência de investimentos
privados e públicos em infra-estrutura, educação de boa qualidade e ciência, entre outros.
Os países que desenvolvem tecnologia passaram por grandes transformações em suas
estruturas econômicas, políticas e sociais até atingir tal status. Países como Inglaterra, Alemanha,
Estados Unidos e Japão só chegaram neste patamar depois de superar todas as etapas e possuir
todas as condições necessárias. A acumulação de capitais pode ter desempenhado um papel
importante neste processo, mas não somente um fator por si só pode fazer com que sejam
superadas todas as etapas. Por isso, investimentos em educação geral e técnica, qualificação dos
recursos humanos, ciência e tecnologia (C&T), pesquisa e desenvolvimento (P&D) são essenciais
e determinantes para um país que tenha como objetivo tornar-se um país tecnologicamente
desenvolvido, além de beneficiar diretamente o seu desenvolvimento econômico e social.
1.3 A Teoria dos Ciclos Econômicos
Depois das análises do desenvolvimento econômico e da tecnologia, ainda permanece
uma pergunta: como surgem tantas inovações tecnológicas nas mais diferentes indústrias e em tão
35
pouco tempo? Alguns estudiosos apontam para a teoria dos ciclos econômicos, a qual foi
elaborada primeiramente pelo economista russo Nikolai D. Kondratieff em 1922 e aperfeiçoada
pelo economista austríaco Joseph A. Schumpeter em 1939. Ambos partem do seguinte
pressuposto: “Inovações tecnológicas [...] estão relacionadas com os movimentos cíclicos da
economia mundial e com o processo de concentração de capital [...].” (RATTNER, 1988, p. 2).
Sobre a teoria dos ciclos econômicos, afirma Benko (1999, p. 25):
Baseando-se numa análise dos movimentos dos preços de atacado em vários países
industrializados, ele [Kondratieff], propôs uma cronologia das flutuações longas
(´ondas longas`- long waves) que caracterizam a evolução dessas economias desde a
Revolução Industrial. Com periodicidade de cerca de cinqüenta anos em média, esses
ciclos trazem o nome de seu descobridor, ‘Kondratieff’. Cada um deles compreende
uma fase ascendente e uma fase descendente.
A teoria de Konfratieff e Schumpeter não teve muita repercussão inicialmente, a não ser
entre os seus críticos. Tanto no mundo socialista quanto no capitalista, a teoria dos ciclos
econômicos foi rechaçada, pois, segundo seus críticos, especialmente os economistas
neoclássicos, ela não apresentava argumentos suficientes que comprovassem a existência e a
representação da economia mundial em ciclos longos. Por isso, somente anos mais tarde com o
aperfeiçoamento da teoria por Schumpeter, ela foi retomada e reconhecida como verdadeira por
economistas de todo o mundo, principalmente por destacar “[...] o papel central desempenhado
pela inovação tecnológica na dinâmica do sistema econômico.” (BENKO, 1999, p. 26).
Schumpeter elabora um modelo, explicando que quando ocorre a completa difusão das
inovações anteriores, o lucro líquido é nulo. Diante desse estado de equilíbrio, os empresários são
estimulados a inovar. Se ocorrer uma pressão geral, isso pode resultar em inovações
revolucionárias, ou seja, aquelas que estabelecem complementariedades entre produtos, processos
de produção e espaços geográficos. Ocorre, assim, uma expansão geral do investimento e a
economia entra em longa fase de ascensão, contribuindo à difusão dos novos produtos e suas
técnicas para um vasto conjunto de empresas e consumidores. A partir daí, entretanto, as rendas
iniciais começam a cessar, pois, ao atingir certo limite, a ação dos imitadores é tanta que gera um
completo saturamento, desestabilizando as formas anteriores de concorrência. Dessa forma, ou
seja, endogenamente, o ciclo ascendente se renova, porém o investimento diminui naturalmente e
a taxa de lucro líquido tende a anular-se. (BENKO, 1999).
36
Segundo a teoria dos ciclos econômicos, o sistema econômico mundial está relacionado
com as ondas largas, que compreendem desde a fase de crescimento ou expansão deste sistema
até sua fase de depressão e, em seguida, recessão. Diante disso, essa análise descreve um ciclo
econômico vicioso, isto é, ele parte do mesmo ponto de sua chegada, porém o momento de
partida será diferente do de chegada dando ao ciclo novas e diferentes características. Assim, um
ciclo econômico é caracterizado pela fase de ascensão econômica até atingir seu ponto de
equilíbrio entre a oferta e a procura, quando a tecnologia anterior já foi completamente difundida
e copiada. A partir daí, o consumo e produção não conseguem se autoregular. O consumo cai
primeiramente e a produção, até aqui crescente, começa a cair também, afetando todo o sistema.
Os investimentos caem, a inovação cessa, o desemprego aumenta e a crise se generaliza. Esta
fase é caracterizada pela fase de depressão da onda ou do ciclo econômico, quando o consumo e a
produção caem constantemente.
Segundo Schumpeter (1982), começa a aparecer a pessoa do empresário inovador, que
busca na crise a oportunidade de voltar a crescer. E a crise se aprofunda e a economia chega
numa fase de recessão, que culmina na pior fase do ciclo econômico. A oferta e a demanda estão
muito baixas, praticamente nulas. Entretanto, são nas fases de recessão que surgem as maiores
inovações no setor produtivo. Os empresários inovadores entram em ação e introduzem a
inovação tecnológica em processos e produtos, dando impulso para o surgimento de um novo
ciclo econômico.
Durante o período da crise, ou seja, quando ocorre o desequilíbrio da conhecida lei da
oferta e da procura, chega-se ao ponto da “destruição criadora”, que segundo Schumpeter e seus
sucessores, seria condição necessária para um novo surto tecnológico e, conseqüentemente, a um
novo ciclo econômico. Neste ponto, as inovações produzidas pelos empresários inovadores já
foram apropriadas pelos empresários imitadores e totalmente difundidas em todas as atividades
econômicas, iniciando-se um período de depressão. E, a partir daí, inicia-se um novo processo de
inovações, que resultará num novo ciclo econômico provavelmente com maiores inovações
tecnológicas. (BENKO, 1999).
Segundo os estudos de Kondratieff, o sistema capitalista historicamente pode ser dividido
em quatro diferentes ciclos longos de mais ou menos cinqüenta anos cada um, envolvendo as
fases ascendente (ou fase “a”) e descendente (ou fase “b”). Cada ciclo longo pode ser relacionado
com alguns dos mais importantes fatos do capitalismo mundial, especialmente evoluções ou
37
descobertas técnico-científicas e outros eventos políticos e sociais como guerras ou revoluções,
que se constituem etapas da evolução capitalista. Dessa maneira, conforme os estudos iniciais de
Kondratieff e os complementares de Schumpeter, pode-se sistematizar um quadro com os
diferentes ciclos, fases, durações e fatos importantes ao capitalismo contemporâneo.
Os ciclos longos do sistema capitalista
Ciclo Longo
1º
Fase
“a”
Duração
1790 - 1815
Evento(s) Importante(s)
Primeira Revolução Industrial
(Reino Unido)
“b”
1815 - 1847
Difusão de Inovações
2º
“a”
1847 - 1873
Novas Invenções
“b”
1873 - 1896
Segunda Revolução Industrial
(Alemanha, França e EUA)
3º
“a”
1896 - 1920
Revolução Russa e Primeira
Guerra Mundial
“b”
1920- 1948
Crise de 1929 e Segunda Guerra
Mundial
4º
“a”
1948 - 1973
Primeiro Choque do Petróleo e
Novas Invenções
“b”
1973 - ?
Segundo Choque do Petróleo e
Terceira Revolução Industrial
(Alemanha, EUA e Japão)
Fonte: Adaptação de Rangel (1982); Araújo Junior (2002).
No início do século XX, surgem grandes eventos mundiais que marcaram profundamente
toda a estrutura do capitalismo mundial. Entre eles destacam-se as duas guerras mundiais, a
Primeira (1914-1918) e a Segunda (1939-1945), a quebra da bolsa de valores de Nova York em
1929 e a grande recessão econômica dos anos 30. Neste período,
As competições entre empresas e as disputas entre potências econômicas estabelecidas e
emergentes acabaram provocando tensões políticas e militares, tornando a primeira
metade do século XX um período de extrema instabilidade [...]. (MOTOYAMA, 2004,
p. 194).
Diante disso, vemos que o ciclo econômico mundial está na sua fase mais crítica, ou seja,
a recessão. Justamente neste ponto surgem as inovações tecnológicas necessárias para que o
38
crescimento seja retomado, como o foi a partir do final da década de 1930. No período entre as
duas Grandes Guerras, a atividade econômica nos países centrais do sistema capitalista, com
algumas poucos exceções, mantinha-se em níveis muitos baixos, porém isso não significava que a
ciência e a tecnologia não estivessem acumulando pré-condições para o surgimento de uma fase
repleta de inovações tecnológicas. (RANGEL, 1982).
No decorrer da década de 1930 e 1940, ocorre portanto a retomada do crescimento
econômico mundial em função principalmente do esforço de guerra, saindo da fase de recessão
para a fase de ascensão do ciclo longo. Nela, as inovações tecnológicas produzidas na fase
anterior, ou seja, durante a recessão, começam a difundir-se em larga escala. O crescimento
econômico mundial conheceu uma fase de ascensão de cerca de 30 anos, beneficiando
principalmente as grandes potências mundiais ganhadoras da Segunda Guerra Mundial, ou seja,
Estados Unidos e União Soviética, e possibilitando também que países periféricos como Brasil e
Índia iniciassem seu processo de industrialização e desenvolvimento econômico. Entretanto, a
partir dos anos 70 e principalmente nos anos 80, o capitalismo mundial entra em crise,
aprofundada pelas constantes crises do petróleo e das novas tendências estruturais do novo
período da economia mundial, que estava sendo cunhado.
O enfraquecimento do Fordismo e a desaceleração do crescimento econômico nos anos 70
e 80 se refletem profundamente até hoje. Novos processos oriundos desta nova fase do
capitalismo mundial surgem, como por exemplo,
[...] a passagem dos mecanismos monopolistas [...] para os mecanismos concorrenciais,
contribuiu na manutenção do crescimento e foi uma das principais razões que
permitiram evitar uma estagnação como [...] nos anos 30 (BENKO, 1999, p. 114).
Além desse, outro novo processo, que Rattner (1988) destaca, é a internacionalização das
atividades econômicas mundiais comandadas pelos grandes conglomerados transnacionais, por
causa de suas altas concentrações de capital e de tecnologia. Como Motoyama (2004, p. 194)
destaca,
[...] é importante ressaltar que, em função de uma série de fatores de natureza política e
econômica, o desencadeamento desse processo acabou contribuindo para gerar novas
contradições no mundo capitalista. Formaram-se grandes conglomerados industriais
como a Du Pont, General Motors, I. G., Siemens, Mitsubishi, Shell, entre outros, que
ultrapassaram barreiras dos territórios nacionais para vender seus produtos no mercado
internacional, ou mesmo exportar capitais e instalar filiais, assinalando a passagem da
hegemonia do capital industrial para o financeiro.
39
Como sabemos, os conglomerados transnacionais estão presentes e ainda dominam
grande parte da economia e das inovações tecnológicas mundiais. Entretanto depois da crise dos
anos 70 e 80, caracterizada pela crise dos modelos taylorista e fordista, vemos uma nova
tendência na economia mundial, isto é, a adoção de um novo modelo capitalista de produção em
substituição aos anteriores Taylorismo e Fordismo. Trata-se do Toyotismo, visto que
[...] a demanda por bens produzidos em série estagnou num período em que os
mercados nos países adiantados estavam saturados e no momento em que os
consumidores procuravam bens mais diversificados e apelavam para uma concepção
mais elaborada. Nessa conjuntura, empresas menores e mais flexíveis que fabricavam e
ofereciam bens e serviços diversificados, que empregavam mão-de-obra qualificada,
começaram a tornar-se competitivas e deixavam pressagiar novo modelo de
desenvolvimento denominado especialização flexível (BENKO, 1999, p. 115).
O Toyotismo surge no Japão na década de 1930, quando a fábrica de automóveis da
Toyota estabelece um novo modelo produtivo baseado na flexibilização não somente de
processos ligados à produção, mas também de outros ligados à administração e ao funcionamento
em geral das empresas. O modelo caracteriza-se ainda pela adoção de políticas e programas
inovadores, como por exemplo o just-in-time, a terceirização, o aperfeiçoamento logístico e
outros de melhoria de qualidade dos produtos e dos serviços prestados, visando aumentar a
produtividade, a competitividade das empresas para que elas possam, além de lucrar mais,
conquistar maiores parcelas de um mercado internacional altamente concorrido. Seguindo esses
novos conceitos de produção e de administração, a empresa Toyota desbancou as grandes
fábricas automobilísticas dos EUA na década de 1970, quando ela penetrou no país e conquistou
boa parte do mercado norte-americano com automóveis diferenciados e de alta qualidade, em
comparação com os automóveis norte-americanos fabricados em série e destinados ao consumo
em massa conforme os conceitos fordistas e que não atendiam as reais necessidades dos
consumidores. Inicialmente, a invasão de carros japoneses fez com que as fábricas norteamericanas General Motors e Ford perdessem muito do grande mercado interno dos EUA,
obrigando-as a adotar posteriormente também técnicas e processos inovadores mais flexíveis para
reconquistar o mercado anos mais tarde.
Neste ponto, vale salientar que sem a difusão tecnológica ocorrida nas últimas décadas
seria impossível tal fenômeno. Diante disso, empresas menores e com uma estrutura
organizacional e produtiva mais flexíveis adequaram-se às novas tendências mundiais de
40
consumo e se beneficiaram das novas tecnologias, em parte, difundidas pelos grandes
conglomerados industriais e, em parte, desenvolvidas por elas mesmas através de um
significativo investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Aqui vale ressaltar que, geralmente, a tecnologia é um bem muito caro, não sendo
possível sua aquisição por todas as pequenas empresas. Razão pela qual, o mercado mundial da
tecnologia ainda está concentrado nos domínios dos grandes conglomerados transnacionais.
Mesmo assim, como a tecnologia não é um bem de um único dono, sua difusão é real e sem
espaço temporal ou geográfico determinados para acontecer. Neste novo contexto mundial, isto é,
a chamada Era da Informação, é que se destacam os principais meios de difusão tecnológica
conhecidos atualmente, ou seja, a transferência, a incorporação e o desenvolvimento de
tecnologia.
Neste capítulo, pôde ser visto desde a evolução do pensamento econômico acerca do
desenvolvimento econômico até a importância da tecnologia e suas inovações neste contexto. A
interrelação entre o desenvolvimento econômico e a tecnologia foi também destacada
especialmente pela teoria dos ciclos econômicos, atribuindo à tecnologia uma importância vital
no desenvolvimento econômico de um país e na evolução do sistema capitalista mundial. No
próximo capítulo, a Alemanha, vista como referência tecnológica mundial será o principal tema
abordado.
Iniciar-se-á com uma breve histórica econômica e industrial do país até o seu
surpreendente nível tecnológico alcançado com o passar dos anos, o que tornou a Alemanha um
centro produtor e difusor de tecnologia mundialmente reconhecido e referenciado.
41
2. A Alemanha como Referência Tecnológica Mundial
A Alemanha se apresenta hoje como um dos principais países do mundo, merecendo
destaque nos mais diversos campos do cenário internacional. Tanto sua economia quanto sua
política, desenvolveram modelos de atuação que colocam o país num patamar muito elevado e
que servem como referência a outros países. Entre as áreas de destaques internacionais do país
estão a indústria, o transporte, a logística, a educação, a ciência e a tecnologia. Todos estes pontos
evidenciam a Alemanha como referencial nestas áreas, dentre as quais a ciência e tecnologia são
destaque especial e, além de seu peso econômico e político, colocam o país no topo dos países
mais desenvolvidos do mundo.
Todos sabemos, entretanto, que o caminho percorrido pela Alemanha até chegar a este
nível foi muito tortuoso e, portanto, com muitas dificuldades. Entretanto, ele foi percorrido num
prazo relativamente curto, ou seja, em menos de dois séculos o país superou vários obstáculos
para se tornar um fenômeno mundial. Nenhum outro país do mundo passou pelas circunstâncias
que a Alemanha passou, especialmente em função da destruição total e das graves e profundas
conseqüências causada pelas duas Grandes Guerras. Mesmo assim, o país demonstrou uma força
inacreditável para transpor todas as barreiras, obter o êxito e figurar entre as grandes potências
econômicas mundiais da atualidade.
O desenvolvimento econômico alemão, enquanto país industrializado, pode ser entendido
a partir da segunda metade final do século XIX, ou seja, durante a Segunda Revolução Industrial.
Não que antes a Alemanha não tivesse desenvolvido algumas atividades industriais, mas,
especialmente a partir desta época, o país realmente prospera e atinge seu desenvolvimento
econômico, o qual servirá de base ao progresso científico e tecnológico alcançado nas décadas
posteriores. Portanto, a análise abrangerá desde os primórdios da industrialização alemã no início
do século XIX, passando pela Segunda Revolução Industrial até chegar na atualidade, retratando
o rápido desenvolvimento do seu avançado estágio tecnológico e econômico no mundo atual.
42
2.1 Os Primórdios da Industrialização Alemã
Antes de analisar e para melhor entender como se deu o desenvolvimento industrial e
econômico da Alemanha, vale ressaltar um fato importante ao país: a Alemanha, tal como a
conhecemos hoje, é fruto da unificação do país ocorrida somente em 1871. Antes disso, existiam
apenas os Estados-alemães, ou seja, eram aqueles Estados de origem étnica predominantemente
germânica3. Desde a antiguidade, os povos germânicos estavam organizados em pequenos
Estados ou principados, nos quais cada um deles possuía seu governo, seu dialeto, seus costumes
etc. Portanto, antes do final do século XIX, a Alemanha era constituída por vários pequenos
Estados absolutistas, impedindo por muito tempo que o país se organizasse para desenvolver sua
economia como um todo.
As tentativas de unificação não foram poucas, porém quase não apresentaram êxitos
significativos. Somente a partir do século XI, o então Império Romano-Germânico começou a
livrar-se da influência de Roma, que vinha desde o Império Romano e depois com a Igreja
Católica Romana. No entanto, com tal acontecimento, a divisão territorial do Império foi
inevitável e a partir do século XII ocorre o surgimento de vários novos pequenos Estadosalemães. Estas forças desagregadoras no seio do Império impediam a formação de um Estado
Nacional alemão, enquanto o movimento pela unificação de Estados nacionais já havia iniciado
em outros países da Europa. Esta desagregação é considerada, por muitos estudiosos, um dos
principais elementos que fizeram com que a Alemanha se tornasse uma país de industrialização
tardia, se comparado com Inglaterra e França.
3
A maioria dos Estados-alemães possuía somente etnias pertencentes da grande família de povos germânicos, que
incluía os boêmios, os borússios, os bávaros, os anglo-saxões, os turíngios, etc.. Desde os tempos do Império
Romano, esses povos são conhecidos, porém todos eram chamados de bárbaros por não cultuar a cultura e os
costumes romanos. Todos eles possuíam costumes e formas de organização social muito semelhantes, além dos
traços culturais e lingüísticos muito próximos. Essas questões foram cruciais séculos mais tarde durante a Unificação
da Alemanha em 1871, pois procurava-se manter e reunir todos esses povos germânicos sob um único território a
partir da formação de um único Estado Nacional, ou seja, o Império Alemão. No final, a Prússia e a Áustria, os dois
maiores Estados-alemães, travavam intensas disputas políticas para decidir de como se daria a unificação alemã.
Além de defender seus interesses políticos e econômicos frente a Áustria, a Prússia queria inicialmente reunir todos
os Estados-alemães e formar a grande Alemanha sob sua hegemonia. Esse era o mesmo desejo austríaco. Como se
sabe, a Prússia viu-se obrigada a optar pela pequena Alemanha, ou seja, uma Alemanha sem a Áustria. Uma das
alegações prussianas foi devido a questões culturais, pois a Áustria na época fazia parte do Império Austro-húngaro e
possuía outras etnias sob seu território, como os próprios húngaros e outros povos eslavos, não abrindo mão dessa
situação frente um Império Alemão. Foi quando a Prússia declarou guerra à Áustria e a eliminou de vez do contexto
alemão.
43
Além disso, outros importantes acontecimentos dificultavam a unificação alemã: a
Reforma religiosa idealizada por Martinho Lutero, dividindo os povos germânicos religiosamente
em católicos e protestantes a partir do século XVI; a Guerra dos Trinta Anos (1618 – 1648)
desencadeada por motivos políticos e religiosos entre católicos e protestantes no século XVII,
arrasando várias regiões da Alemanha e dizimando vários de seus povos; a Paz de Vestefália
(1648) que causou ainda mais divisões políticas e territoriais chegando a cerca de 360 pequenos
Estados-alemães; e as constantes disputas territoriais e de poder no século XVIII entre os
Estados-alemães e outras potências, particularmente entre Prússia, Áustria e França. (PERFIL
DA ALEMANHA, 2000).
A partir do século XVIII, as cidades tornaram-se centros do poder econômico, surgindo
nesta época a burguesia comercial urbana na Alemanha; apesar de que o campo, ou seja, os
grandes proprietários agrários ainda detinham uma significativa influência na política e
economia. Por seu lado, as cidades se beneficiavam sobretudo do comércio, cada vez mais
florescente e que transformava cada vez mais numa economia monetária a região que hoje
compreende a Alemanha. O feudalismo estava iniciando seu processo de decadência na
Alemanha, enquanto outros países da Europa, desde o século XVI, já passavam por esta
transformação. Nos setores da indústria têxtil e da mineração surgiam novas formas de economia
que ultrapassavam o corporativismo artesanal e, juntamente com o comércio com regiões
distantes, já formavam feições pré-capitalistas. Por outro lado, a política econômica mercantilista
fortalecia economicamente os Estados absolutistas, dentre os quais merecem destaque a Baviera,
a Prússia, a Saxônia, Hanover e a Áustria. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
Com a ocupação francesa nos territórios germânicos logo após a Revolução Francesa
(1789), Napoleão estendeu sua área de influência e dominação sob boa parte da Alemanha. No
entanto, esta ocupação fez com que surgisse um grande ressentimento contra a França,
particularmente pela Prússia e Áustria.
Paralelo a este processo político, iniciava-se um desenvolvimento econômico moderno,
ainda que a passos lentos e que contrariava as tendências reacionárias. Quando em 1806 a Prússia
é derrotada em Iena pelos franceses e apesar da dominação francesa de boa parte da Alemanha,
os prussianos tenderam a um processo de renovação política e econômica. Dessa forma, foi
promovida pela monarquia prussiana uma reforma agrária e o início de uma política econômica
mais liberal. (KEMP, 1985). A reforma agrária contribuiu para transformar a estrutura agrária do
44
país, eliminando os últimos resquícios do feudalismo e colocando a agricultura sob o modo de
produção capitalista. Os trabalhadores rurais, antes servos, tornaram-se agora trabalhadores livres
e assalariados, aumentando a produtividade agrícola alemã, impulsionando o consumo e criação
de um mercado interno e de uma economia monetária na Alemanha. Como Kemp (1985, p. 105)
destaca:
Embora não fosse essa a sua intenção, a emancipação dos servos contribuiu para
preparar o terreno para a industrialização. Estavam lançados os fundamentos para o
crescimento de uma força de trabalho livre e para a integração [...] camponesa e da
propriedade do senhor da terra numa economia de mercado. A mobilidade pessoal, a
divisão do trabalho e a ênfase na obra individual que o capitalismo exige teriam sido
impossíveis sem uma reforma do velho sistema agrário.
Com a prosperidade de um sistema agrário reorganizado a partir de 1815, devido à
expansão da procura por produtos agrícolas tanto interna quanto externamente, ocorre um relativo
aumento da qualidade de vida da população, que, combinada com outros fatores, impulsionou um
robusto crescimento demográfico. Como essa revolução, segundo Kemp (1985, p. 109), “[...]
começou num país [...] predominantemente agrícola, mas, dada a presença de outras condições
favoráveis, deve ser visto como favorecendo a industrialização a longo prazo.[...]. Criava-se uma
reserva de trabalho para a indústria [...].” Claro que somente em algumas regiões, este processo
contribuiu à eliminação total do feudalismo e à criação das bases capitalistas necessárias para o
desenvolvimento da economia alemã.
Nesta época, a Prússia e a Áustria despontavam como os dois maiores e mais fortes
Estados-alemães. Com a junção de ambas as forças, conseguiram expulsar as tropas francesas e já
em 1815 fundaram a Confederação ou Liga Alemã. Por muitos anos, a Liga se constituiu num
novo esforço dos povos germânicos pela unificação num único Estado livre e soberano. Ela era,
entretanto, uma união pouco coesa dos Estados-alemães, pois sua capacidade de ação somente era
possível quando os dois grandes, Prússia e Áustria, entravam em acordo. Além disso, havia ainda
uma grande irregularidade no desenvolvimento econômico entre as diferentes regiões de uma
Alemanha politicamente dividida, pois vigoravam várias divisões administrativas politicamente
independentes.
Ainda no campo político, o Congresso de Viena (1814-1815) se reúne para redefinir o
mapa político da Europa depois da derrota de Napoleão e o fim de seu reinado europeu. Com
isso, ficaram estabelecidos cinco grandes pólos de poder: Inglaterra, França, Rússia, Áustria e
45
Prússia, equilibrando os poderes político, econômico e militar na Europa. Para a Alemanha, ainda
separada, o Congresso de Viena trouxe um importante benefício, ou seja, a junção de pequenos
Estados em outros maiores. Dessa forma, a Alemanha, que antes era um emaranhado de cerca de
360 pequenos Estados, passa a contar com exatos 35 Estados maiores e mais fortes e quatro
Cidades-Estados livres (Bremen, Frankfurt, Hamburgo e Lübeck), visando justamente à
manutenção da segurança interna e externa da Alemanha, da independência e da
invulnerabilidade de cada Estado-alemão.4
Portanto, até aqui não se pode dizer que havia na época uma economia nacional na
Alemanha e os motivos eram vários: a fragmentação, a fragilidade política e econômica dos
pequenos Estados; a burocracia estatal e as fidelidades locais; o grande predomínio de uma
economia de camponeses e pequenos artesões; a falta de facilidades de transporte entre as
diferentes regiões; os interesses imutáveis das classes dominantes da sociedade (proprietários de
terras, dirigentes, funcionários e chefes das guildas, aristocracia e alguns setores dos governos
estatais) que sempre se oporam à mudança; e o desconhecimento pela Alemanha dos reflexos da
revolução comercial dos séculos XVII e XVIII, refletido na insignificante participação alemã no
comércio internacional se comparado com Grã-Bretanha, Holanda ou França nessa época.
(KEMP, 1985). Essa era portanto a situação da Alemanha no início do século XIX: politicamente
conservadora e desunida, economicamente distinta, institucionalmente autocrática e burocrática,
e socialmente desorganizada e injusta.
Diante dessa situação e com o fracasso da Liga Alemã, a Prússia, cada vez mais forte,
decide tomar a dianteira rumo à unificação política e econômica da Alemanha. Já que a Liga não
deu certo devido às disputas pelo maior poder entre Áustria e Prússia e, na qual, a predominância
incontestável era austríaca, a Prússia aposta numa nova forma de organização econômica e
política aos Estados-alemães e cria a Zollverein, ou seja, uma união aduaneira que reuniu 18
Estados-alemães e atingiu 25 milhões de pessoas em 1834. (SOUZA, 1999). A intenção prussiana
era com ela intensificar o intercâmbio comercial e contribuir a uma maior integração econômica e
política entre os Estados-alemães, isolando de vez a Áustria e sua possibilidade de fazer parte de
um possível Estado nacional alemão.
Seguindo as necessidades de se desenvolver economicamente e de se integrar
definitivamente ao sistema capitalista vigente, com a Zollverein a partir 1834, a situação
4
Didaktisches
Begleitmaterial.
Disponível
em:
46
econômica alemã começa a se transformar. Esta ação representou a sonhada criação de um
mercado nacional uniforme alemão e também se tornou o primeiro grande impulso à integração
do país. Nesse sentido, a Zollverein aboliu as várias barreiras alfandegárias e com elas as
cobranças de vários impostos às mercadorias que circulavam entre os diversos Estados-alemães e
ainda estabeleceu elevadas taxas a produtos estrangeiros. Com isso, mercadorias, pessoas e
capitais passaram a circular mais facilmente entre as fronteiras entre os Estados-alemães,
incentivando o comércio interno, protegendo o mercado interno alemão da concorrência externa e
facilitando ainda mais a integração nacional.
No entanto, faltava algo mais. Com o aumento significativo do comércio entre os Estados
após a criação da Zollverein, a necessidade da melhoria na infra-estrutura torna-se evidente,
principalmente no que se refere à melhoria dos transportes para facilitar a circulação de
mercadorias e integrar todos os territórios alemães. Nesse contexto, em 1835 foi construída a
primeira estrada de ferro na Alemanha, constituindo-se no impulso inicial à industrialização
alemã. Se por um lado a Zollverein foi o impulso essencial à integração do país, por outro, a
construção de ferrovias o foi à industrialização alemã.
Para a melhoria e investimento em transportes, a obtenção de capital estrangeiro tornou-se
essencial, como destacado por Kemp (1985, p. 116).
O capital estrangeiro era importante, não tanto pelo seu valor total, mas mais porque era
canalizado para as empresas mais modernas e vanguardistas, onde o capital interno podia
ficar atemorizado dados os altos riscos. Era amiúde acompanhado por empresários
estrangeiros que levavam consigo a tecnologia avançada, como a mineração em
profundidade ou a produção de ferro com carvão de coque, tecnologias tão necessárias
eram para dar o empurrão inicial à industrialização alemã. A construção do caminho de
ferro e a indústria pesada eram os principais sectores captadores de capital estrangeiro,
atraído pelos lucros potencialmente elevados.
A melhoria nos transportes nos Estados-alemães apontou ao transporte ferroviário como o
mais viável e adequado por várias razões. O transporte rodoviário de longa distância era
praticamente inexistente e de custo muito alto. Já o transporte fluvial, apesar de estar
desenvolvido e utilizado há séculos na Alemanha, apresenta limitações geográficas, impedindo
ligações entre as diversas regiões. Por outro lado, a construção de estradas de ferro representava
um produto da tecnologia industrial avançada e que podia ser introduzido em países
relativamente atrasados como a Alemanha através de financiamentos estrangeiros, utilizando
<http://www.ilch.uminho.pt/kultur/Didaktik%20Begeleitmaterial%20index.htm>. Acesso em: 10 janeiro 2005.
47
capital, material e engenheiros importados e ainda como um negócio muito próspero. Diante
disso, a Alemanha se colocava numa situação privilegiada, permitindo-lhe avançar e saltar
rapidamente várias fases no seu desenvolvimento econômico e industrial. (KEMP, 1985).
Muitos estudiosos modernos atribuem às ferrovias como a grande “heroína” da
industrialização alemã por desempenhar um papel primordial no desenvolvimento econômico,
desde os efeitos de demanda pela sua construção como também pelo seu importante fator de
integração nacional. A importação inicial de materiais e a adoção de tecnologia britânica na
indústria do ferro e da construção de ferrovias incentivaram rapidamente a substituição de
importações e o crescimento de engenharia própria alemã a partir de 1840, contribuindo ao
fortalecimento econômico interno e, por outro lado, ao aperfeiçoamento na exploração das
reservas de carvão nos territórios alemães. Por isso, a ferrovia e a indústria pesada formaram os
setores de vanguarda no estágio inicial da industrialização alemã a partir de meados do século
XIX, não havendo nessa época nenhum outro setor industrial que tivesse algum destaque
econômico na Alemanha. (KEMP, 1985).
Este fenômeno aconteceu, pois tanto a indústria têxtil como a de bens de consumo
enfrentavam uma forte concorrência com os produtos britânicos, mais baratos e de melhor
qualidade. Isso se deve ao auge industrial da Grã-bretanha, que se tornara o país anfitrião da
Primeira Revolução Industrial e, conseqüentemente, muito mais avançado tecnológica, industrial
e economicamente se comparada com qualquer outro país do mundo. Dessa maneira, a
concorrência britânica impedia o desenvolvimento de muitos setores industriais e, por efeito,
prejudicava a atração de investimentos externos a tais setores na Alemanha. Somente setores
estratégicos e que eram muito atrativos e lucrativos, como foi o caso das indústrias metalúrgica e
carbonífera, foram creditadas pelo Estado e/ou de empresários nacionais e receberam
investimentos externos, principalmente britânicos e franceses.
No campo social, o rápido desenvolvimento econômico e industrial da Alemanha no
século XIX passou a alterar significativamente o cotidiano das pessoas e da sociedade em geral.
De uma sociedade tipicamente agrária e praticamente feudal, o país passa a se transformar
gradativa e profundamente a partir do surgimento das indústrias e da formação das cidades. Nesse
novo contexto, o advento da atividade industrial na Alemanha faz surgir novas classes sociais,
organizadas segundo seus interesses, condições e necessidades. Uma nova classe social surgida
nesse período inicial da industrialização alemã foi a burguesia industrial, formada pelos
48
industriais, isto é, pelos donos dos meios de produção, e que vinham ascendendo forte e
constantemente no cenário social alemão. Outra classe social foi a classe média liberal, formada
pela decadente burguesia comercial e que agora passa a adotar tendências mais liberais e apoiar a
burguesia industrial. E, por último, surge a classe trabalhadora, formada pelos trabalhadores das
indústrias e constituíam-se na classe social menos privilegiada na Alemanha, por serem
explorados,
marginalizados
e
sem
possibilidades
de
ascensão
numa
sociedade
predominantemente burguesa.
2.2 A Imigração Alemã ao Brasil
O aumento da população alemã se dava de forma excessiva devido às melhorias das
condições de vida dos alemães e cada vez mais camponeses saíam do campo em direção às
cidades, buscando melhores condições de vida nas cidades ao trabalhar nas indústrias.
Inicialmente, a industrialização e a urbanização aprovaram o êxodo rural, pois abastecia as
indústrias com mão-de-obra barata e em grande proporção. Porém, logo surgem os problemas
mais graves por causa desse desequilíbrio populacional na Alemanha. A partir da década de
1820, o êxodo rural intensificou-se muito rapidamente, já que as condições no campo eram
precárias. Por isso, muitos migraram às cidades para trabalhar nas indústrias e fugir da fome e da
miséria.
Até certo ponto, as indústrias continuavam a empregar cada vez mais e mais pessoas, pois
a produção industrial estava em expansão. No entanto, como a população estava aumentando de
forma excessiva e a maioria dela fugindo dos campos para as cidades, a situação começou a se
descontrolar. As indústrias já não absorviam toda essa mão-de-obra excedente, causando
verdadeiros inchaços urbanos e aumentando ainda mais pobreza das populações urbanas. Essa
crise social na Alemanha, na metade inicial do século XIX, beneficiou os empresários, que
aproveitaram a grande oferta de mão-de-obra, que já era barata, para aumentar cada vez mais seus
lucros. Assim, eles aumentaram a produtividade e o lucro através da maior exploração da mão-
49
de-obra, proporcionando-lhes condições ideais para aumentar a jornada de trabalho e para manter
os salários dos trabalhadores tão baixos5.
Durante a primeira metade do século XIX, a Europa no geral e, particularmente, os
Estados-alemães passavam por constantes períodos de profundas crises alimentares por causa
justamente do crescimento excessivo de suas populações. Os camponeses, dominados pela
aristocracia grande detentora de terras, e os trabalhadores urbanos, explorados pela recente
burguesia industrial detentora dos meios de produção e capitais, viviam sem as mínimas
condições de vida e, para piorar a situação, sob regimes absolutistas desinteressados por estas
classes menos favorecidas. Associados com esses fatos, a propaganda na Europa de riqueza fácil
nas Américas e a grave situação sócio-econômico da população contribuíram para o aumento de
um expressivo contingente de europeus dispostos a imigrar para esse novo continente. Já que
diante desse caos, no qual muitas pessoas estavam morrendo por causa das mínimas condições de
vida ou das graves epidemias comuns na Europa nessa época, muitas pessoas não tinham outra
opção a não ser optar pela imigração para a América, principalmente para países como Estados
Unidos e Brasil, que lhes ofereceriam boas possibilidades de melhorar suas condições sócioeconômicas e políticas. (PIAZZA, 1987).
Ainda nas primeiras décadas do século XIX, os primeiros fluxos migratórios europeus
com destino à América foram compostos por imigrantes de várias partes da Europa,
principalmente alemães, italianos e poloneses. No caso do Brasil, a maioria deles destinou-se
para as regiões sul e sudeste do país devido a alguns fatores, como: a demanda por mão-de-obra
imigrante para trabalhar como trabalhadores assalariados nas plantações de café no caso da região
sudeste, já que a mão-de-obra escrava negra já era muito escassa; e a necessidade de povoamento
do sul do Brasil, até então pouco povoado e explorado, para garantir a soberania brasileira sobre
essas terras e desenvolver alguma atividade econômica na região, integrando-a com a economia
nacional.
Em 1818 e 1820, foram criadas respectivamente as colônias de Leopoldina e Frankenthal
no sul da Bahia, sendo elas as primeiras colônias alemãs no Brasil. A imigração em grande escala
ocorreu somente após a melhoria por parte do governo brasileiro das condições concedidas aos
imigrantes, particularmente após a promulgação da primeira Constituição do Brasil em 1824, que
lhes assegurou alguns direitos e uma política de incentivo à imigração mais específica e melhor
5
Die
beginnende
Industrialisierung.
Disponível
em:
50
elaborada. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000). Já em 1824, o fluxo migratório aumentou
expressivamente e principalmente para a região sul do Brasil, destacando-se a criação das
colônias de São Paulo e São Leopoldo no Rio Grande do Sul ainda nesse ano, e a colônia de São
Pedro de Alcântara em 1829 na Província de Santa Catarina.
Anos mais tarde, principalmente a partir da década de 1850, a imigração alemã continuou
e surgiram muitas outras colônias no sul e sudeste do Brasil, principalmente as colônias de
Petrópolis no Rio de Janeiro; Blumenau e Joinville em Santa Catarina; e Novo Hamburgo e Nova
Petrópolis no Rio Grande do Sul. Entre essas colônias, a maioria prosperou economicamente, por
causa principalmente do surgimento da atividade industrial, dado os conhecimentos e
experiências profissionais que muitos dos imigrantes dessa época presenciaram durante a fase de
industrialização da Alemanha e trouxeram consigo ao Brasil. Entre as colônias, destacam-se
Blumenau, Joinville e Novo Hamburgo, que tornaram-se importantes centros industriais
brasileiros.
2.3 O Contexto da Unificação Alemã
Como a situação sócio-econômica era grave na Alemanha, logo os reflexos da Revolução
Francesa (1789) surtiram efeito no país a partir do surgimento e da consolidação das novas
classes sociais alemãs, especialmente a burguesia industrial e a classe trabalhadora. Um
importante reflexo disso foi quando em 1848 acontece a Revolução Alemã, que procurou
estabelecer uma nova ordem de poder e influência entre estas novas classes sociais e os governos
autocráticos e conservadores alemães. Por isso, a recente burguesia industrial tomou a dianteira
do movimento, já que ela representava a força inovadora e liberal de uma Alemanha em
transição. Nesse mesmo sentido, os trabalhadores também buscavam ter mais peso político frente
aos governos e empresários, inspirados principalmente pelo famoso Manifesto do Partido
Comunista de Karl Marx e Friederich Engels. Entretanto, mesmo com a importância e a
profundidade do movimento, a Revolução de 1848 fracassou e o conservadorismo continuou
<http://www.lsg.musin.de/Geschichte/gk/industrialisierung.htm>. Acesso em: 10 janeiro 2005.
51
reinando na Alemanha, pois não alterou a estrutura política e, por conseqüência, adiou novamente
o projeto de unificação do país.
Diante de um conturbado contexto social e econômico, marcado pela luta entre as classes
sociais alemãs conforme descrito por Marx, a disputa por maior influência e poder atingiu e
dominou o contexto político alemão durante todo o século XIX. E nele, o assunto mais discutido
era justamente a questão da unificação da Alemanha, pois nela estava em jogo não somente
questões em torno de como ela se daria, mas também questões em torno da disputa pelo poder e
hegemonia política, econômica e social dentro de uma nova Alemanha.
Os governos da maioria dos Estados-alemães, devido suas tendências conservadoras e
sempre em favor dos interesses monárquicos, temiam que a crescente força e influência da
burguesia industrial e da classe média liberal passassem a influenciar cada vez mais nas decisões
políticas estatais. Por isso, a oposição dos conservadores monárquicos e aristocráticos frente às
novas tendências liberais sempre fora muito forte, pois aqueles eram considerados os
“acomodados” (os Biedermeier) e procuravam conservar o seu poder enquanto os liberais e
inovadores procuravam deter algum poder ou mesmo aumentá-lo. Por isso, a aristocracia,
formada principalmente pelos grandes proprietários rurais e por estar muitos anos na esfera
política alinhada à monarquia, era contra essas novas tendências liberais e inovadores, sendo
automaticamente contra as transformações que defendidas pelo empresariado liberal e inovador
como a abertura comercial alemã e o próprio projeto de unificação da Alemanha. A principal
razão desse posicionamento retrógrado adotado pela aristocracia era a manutenção desse sistema
e de sua hegemonia e influência política na Alemanha. Dessa forma, qualquer tipo de levante ou
movimento de organização liberal ou trabalhadora era rapidamente abafado pela monarquia, tal
como foi a Revolução de 1848 e outros eventos.
Por outro lado, a evolução e a transformação econômica e social da Alemanha tornava-se
cada vez mais profunda e real. As novas forças impulsoras da economia alemã, ou seja, as
indústrias metalúrgica e carbonífera, tendiam através da ascensão empresários empreendedores e
inovadores a influenciar cada vez mais as decisões econômicas e políticas alemãs, para que essa
influência se voltasse a seus interesses, ou seja, ao incentivo de suas indústrias e à abertura
comercial da Alemanha. A ascensão econômica da burguesia industrial fez com que o
empresariado nacional fosse cada vez mais influente no cenário político alemão na metade final
do século XIX e passasse a defender a abertura comercial e o projeto de unificação alemã,
52
visando a conquista de novos mercados através da expansão das pretensões políticas da
Alemanha.
Além disso, a classe média liberal (comerciantes) e a classe trabalhadora também eram
favoráveis à unificação alemã por motivos idênticos ao da burguesia industrial, no que se refere à
mudança da ordem política na Alemanha. A partir do momento que a aristocracia fosse destituída
de seu poder político junto à monarquia, seria possível estabelecer uma nova ordem política numa
nova Alemanha. Assim, essas classes sociais em conjunto conquistariam maior poder e influência
num novo cenário político que viesse a se formar, podendo beneficiá-las não somente
politicamente, mas também social e/ou economicamente.
Apesar de que a Alemanha conhecera muitas transformações econômicas, políticas e
sociais na sua fase inicial de industrialização, ela possuía até meados do século XIX um perfil
ainda diferenciado. “Uma indústria que crescia e avançava rapidamente combinava-se com uma
base política arcaica e com uma sociedade ainda dominada por uma classe alta agrária, agarrada a
valores pré-industriais”. (KEMP, 1985, p. 120). Somente após a Segunda Revolução Industrial e
de sua Unificação no final do século XIX, é que a Alemanha sairá do estágio de país atrasado
para se tornar uma das maiores economias entre os países capitalistas.
2.4 Da Unificação Alemã até a Alemanha Atual
A metade final do século XIX representou à sociedade alemã uma época de profundas
mudanças culturais, políticas e econômicas. Depois da Revolução de 1848, as condições de vida
no campo e na cidade continuavam precárias e, diante disso, ocorre a substituição da antiga
rivalidade Aristocracia governamental vs. Burguesia Industrial ou Classe Média para uma nova:
Burguesia vs. Classe Trabalhadora. Essa rivalidade surge por causa da crescente ascensão
econômica, política e social da burguesia industrial e da constante decadência econômica e social
dos trabalhadores, além, é claro, da situação miserável em que estes viviam em função da superexploração do trabalho por aqueles.
A integração espaço-territorial da Alemanha completa-se com a construção de ferrovias e,
após a implantação da Zollverein em 1834, a economia alemã cresce rapidamente, trazendo
53
profundas transformações econômicas e sociais que contribuíram para criar e consolidar uma
consciência nacional alemã. Os efeitos da Revolução de 1848 emergem, o que contribuiu na luta
interna pela unificação do país e na mudança de conduta dos governos ao iniciar a adoção de
medidas liberais na economia dos Estados-alemães. (SOUZA, 1999).
No campo político, vemos a continuação de regimes reacionários, autoritários e
antiliberais até os anos 1860 na Alemanha, quando a partir daí a influência e a força do
empresariado e dos liberais começam a ter mais peso. A liderança entre os Estados-alemães é
agora totalmente da Prússia, governada pelo rei Guilherme I, que tinha como idéia fundamental
eliminar a Áustria definitivamente da Liga Alemã, já que ela era sempre contrária às opiniões e
ao projeto prussiano de unificação. Eliminando a Áustria da Liga, o caminho ficaria livre e sem
os obstáculos austríacos que tardavam a almejada unificação alemã. O próximo passo seria
anexar à Prússia o restante dos Estados-alemães para a formação de um grande Império Alemão.
Em 1866, a Prússia, comandada pelo Primeiro-ministro Otto Von Bismarck derrota a Áustria,
pondo fim à Liga Alemã e eliminando de vez os austríacos do projeto imperial alemão. Com duas
outras guerras, uma contra a Dinamarca em 1864 e outra contra a França em 1870-71, a Prússia
conquistou mais duas importantes vitórias, que moldaram as novas fronteiras do Império Alemão,
que surgira ainda em 1871.
A formação de um novo Estado-nação, política, militar e economicamente forte, como era
a Alemanha em 1871, mexeu com o cenário político europeu e mundial. A Alemanha, que já
havia derrotado a França e a Áustria antigas rivais mais fortes, passou a rivalizar agora
arduamente com a Grã-Bretanha e com os EUA, visando à liderança político-militar e econômica
no cenário internacional.
A preocupação britânica e norte-americana não era em vão, já que a Alemanha aspirava a
uma política expansionista e poderia interferir com seus interesses políticos e econômicos ou até
mesmo desestabilizar a ordem internacional vigente. A anexação de territórios na Europa e a
expansão colonialista a alguns países africanos, devido à expansão de suas indústrias e à demanda
de matérias-primas, comprovavam tais tendências e as desconfianças britânicas e norteamericanas aumentavam, tanto que passaram a considerar a Alemanha como uma emergente
ameaça ao equilíbrio do poderio mundial.
Enquanto isso, a economia alemã crescia a níveis relativamente altos após a constituição e
integração completa do mercado interno ao externo, importando somente algumas novas
54
tecnologias que o país não possuía e exportando cada vez mais produtos industrializados. Além
disso, o forte e rápido crescimento econômico alemão se deve, em boa parte, à política
protecionista contra a concorrência estrangeira e à política de melhorias nos transportes fluvial e
ferroviário, interligando a Alemanha com a maioria dos países europeus e do mundo. (SOUZA,
1999).
O protecionismo econômico adotado pela Alemanha era fruto da aliança tácita entre o
empresariado e o governo, já que alguns setores estavam sendo prejudicados pela concorrência
estrangeira a partir da abertura comercial iniciada nos anos 1860. (KEMP, 1985). Por outro lado,
essa nova aliança entre empresariado e governo não foi bem vista pela classe trabalhadora,
contribuindo ainda mais para o acirramento da rivalidade entre empresários e trabalhadores, já
que essa nova aliança política não defendia os interesses da classe trabalhadora, e ainda ajudava a
manter a classe trabalhadora fora do cenário político na Alemanha.
“A Alemanha sobressaiu entre os países europeus ao aproveitara vantagens de ser um
industrializado ‘tardio’ em relação à Inglaterra.” (KEMP, 1985, p. 125). Segundo esse autor, este
fato pode ser confirmado pela vanguarda tecnológica já no final do século XIX em importantes
áreas como: produção em larga escala de aço, alguns ramos da engenharia, da indústria química e
da eletricidade. Em plena Segunda Revolução Industrial, a Alemanha foi um dos países mais
ativos, no que diz respeito a sua grande capacidade em desenvolver importantes inovações
científicas e tecnológicas. Alguns fatores contribuíram para que a Alemanha se tornasse um dos
berços dessa Revolução e um destaque industrial e tecnológico mundial, ficando em muitos casos
à frente da própria Grã-Bretanha. Entre eles destacam-se: o papel do Estado com um governo
preocupado com o estímulo e crescimento da economia; uma indústria de base já consolidada e
avançada; a proximidade dos principais países centrais como Inglaterra e França, o que
contribuiu para uma melhor difusão dos conhecimentos técnicos e científicos na época; elevados
investimentos na educação pública técnica e científica de alta qualidade; uma quantidade
considerável de técnicos e cientistas em indústrias avançadas e em renomados institutos
científicos e tecnológicos; uma excelente competência administrativa e organizacional nos mais
diversos setores; a relativa abundância de capital de alguns setores mais fortes, que era investida
no constante aperfeiçoamento tecnológico e científico ou ainda remetida ao desenvolvimento de
outros setores da economia menos favorecidos; entre outros fatores.
55
Com os avanços tecnológicos, a agricultura se tornou mais produtiva e importante à
econômica alemã. Assim, inicia-se um processo de equilíbrio entre os setores primário e
secundário no país, refletindo na diminuição da emigração em larga escala, num menor êxodo
rural e num relativo aumento das condições de vida dos camponeses. Segundo Kemp (1985), o
campesinato continuou a ser uma importante força social, empregando cerca de 35% da
população economicamente ativa em 1914, que produzia em boa parte à exportação e também ao
próprio consumo.
Os industriais, não lhes bastando o mercado interno protegido, queriam mais e mais novos
mercados para absorver a grande capacidade produtiva e que não parava de crescer nas indústrias
alemãs. Por isso, junto ao governo, eles passaram a defender uma política expansionista, uma vez
que o comércio externo alemão já apresentava uma situação bastante competitiva frente seus
concorrentes estrangeiros e cada vez mais a produção industrial alemã ficava dependente das
exportações. Tal política, baseada em conceitos imperialistas6, necessitaria da criação de uma
frota naval maior e de alto-mar para implantá-la e efetivá-la. Diante disso, o incentivo à indústria
naval aliada com equipamentos militares seria uma boa saída à capacidade excedente da indústria
pesada da Alemanha. E foi justamente esta a política adotada por Bismarck: o estabelecimento da
aliança de interesses econômicos internos com interesses político-militares externos,
considerando as ambições do próprio Bismarck de uma futura hegemonia européia e também
mundial. Se economicamente, a Alemanha perturbava diretamente a França e a Rússia, devido
principalmente às medidas protecionistas alemãs, politico-militarmente o país levantava suspeitas
junto à Grã-Bretanha e, mais amplamente, aos EUA. (KEMP, 1985).
Como a Alemanha era um dos berços da Segunda Revolução Industrial, todo o
conhecimento científico e tecnológico produzido nesse período contribuiu para um considerável
6
Imperialismo, segundo Lênin, é o estágio superior do capitalismo. Ou seja, depois que a economia de um país já se
expandiu ao máximo e está dominada por oligopólios (predomínio de um mercado por um grupo de empresas), ela
sente-se a necessidade de expandir seus mercados para absorver o excedente de sua produção. Para isso, na defesa de
seus interesses políticos e econômicos, muito Estados recorrer para uma política imperialista ou expansionista,
utilizando-se muitas vezes de seu poder militar para atingir tal objetivo. Como aconteceu com a maioria das grandes
potências mundiais, entre elas a Alemanha, no que se refere à expansão de seu Lebensraum (espaço vital), pois
garantia-lhe novos mercados fornecedores de matérias-primas e consumidores de seu produtos industrializados, ou
seja, seu excedente de produção. Como se sabe, tal ação da Alemanha gerou muitos choques de interesses e acirrou
disputas comerciais entre as potências, deflagrando as Primeira (1914-1918) e Segunda (1939-1945) Guerras
Mundiais. “As características básicas do Imperialismo são: exportação de capital, juntamente com a exportação de
mercadorias; controle de trustes e cartéis na produção e distribuição; união dos capitais industriais e bancário, dando
origem ao capital financeiro; divisão do mundo pelas potências capitalistas em esferas de influência.” (MICHELS,
1998, p. 126).
56
aumento do poderio militar, econômico e tecnológico do país. Nesse sentido, os reflexos à
economia alemã foram sentidos principalmente no setor produtivo, pois era nele que se aplicava a
maioria desses novos conhecimentos científicos e tecnológicos, criando assim novas interações
entre a ciência e a indústria. A maior integração ciência e indústria pôde comprovar tais
resultados a partir do aumento significativo da produtividade, das novas técnicas e dos novos
produtos que passaram a ser produzidos no país, consolidando a Alemanha como um dos países
de maior destaque econômico e tecnológico do mundo.
Como a difusão científica e tecnológica ocorria no seu próprio território e na sua
indústria, o governo alemão achou conveniente utilizar tais conhecimentos para o fortalecimento
de seu poderio bélico, já que para manter seu status de grande potência econômica mundial era
necessário haver um considerável poderio militar. “O armamentismo, [e] a produção bélica [...]
não podiam deixar de tirar proveito desse estado das coisas, o que representaria,
tecnologicamente, um salto qualitativo.” (RANGEL, 1982, p. 130). Frente aos benefícios da
ciência e tecnologia, o próprio Estado alemão, que antes propiciou o estabelecimento da maioria
dos setores industriais do país, segundo Kemp (1985), passa agora a encorajar algumas atividades
industriais que lhes pareçam úteis e que satisfaçam suas necessidades em tempo de guerra. Dessa
forma, o Estado alemão passa a incentivar alguns setores industriais estratégicos para a
manutenção de sua condição de potência mundial, especialmente nos setores aeronáutico, naval,
automobilístico, energético, entre outros.
Como destaca Sene e Moreira (1998, p. 25),
A Alemanha, por ter se unificado tardiamente (1871), perdeu a fase mais importante da
corrida imperialista e sentiu-se lesada, especialmente frente ao Reino Unido e à França.
Além disso, como a sua indústria crescia em ritmo mais rápido do que a dos demais
países, também se ressentia mais da falta de mercados consumidores. O choque de
interesses internos e externos entre as potências imperialistas européias acabou levando
o mundo à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
E foi justamente este choque de interesses internos e externos entres as potências
imperialistas européias que desencadeou tanto a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quanto a
Segunda (1939-1945). Os dois grandes conflitos mundiais foram marcados pela enorme
destruição e extermínio, atingindo diretamente quase todos os países da Europa e alguns outros
países do mundo, como o Japão e os EUA.
57
Por outro lado, não se pode analisar o período de 1918 a 1948 somente como um período
conturbado internacionalmente, em especial à Alemanha como um dos centros de todos os
importantes acontecimentos mundiais (Crise de 1929 e Primeira e Segunda Guerras Mundiais),
mas também como um importante período de desenvolvimento técnico-científico. Conforme a
teoria dos ciclos econômicos de Schumpeter analisada anteriormente, esse longo período obscuro
e de recessão mundial corresponderia a uma fase “b” de um ciclo longo, durante o qual se
produziram significativas inovações técnico-científicas, particularmente na Alemanha.
Nessa época, portanto, a ciência passava por constantes e profundas transformações,
quando novos temas começam a ser pesquisados e quando surgem importantes descobertas
científicas e boa parte delas descobertas por cientistas alemães, como por exemplo o raio-X
(1895) de Wilhelm Conrad Röntgen, a cisão nuclear (1938) de Otto Hahn e Fritz Strassmann, as
novas teorias como a dos quanta (1900) de Max Planck, a da relatividade restrita (1905) e geral
(1916) de Albert Einstein, a nova teoria dos quanta (1925), etc. (MOTOYAMA, 2004).
A Alemanha, estando no centro dos dois grandes conflitos mundiais, foi um dos países
que mais sofreu com suas conseqüências, ficando totalmente arrasado depois das duas Grandes
Guerras. A economia do país ficou desestruturada: grande parte das fábricas e dos campos
agrícolas foi destruída; o desemprego atingiu níveis altíssimos; a miséria novamente voltou entre
a população.
Às relações internacionais contemporâneas, as duas grandes guerras trouxeram como
conseqüência profundas transformações ao mundo, especialmente no que se refere à questão do
poderio econômico e militar num pós-guerra. A destruição causada pelas duas grandes guerras,
segundo Sene e Moreira (1998, p. 29),
[...] agravou o processo de decadência das antigas potências européias, que se refere
desde o final da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram perdendo os seus
domínios coloniais na Ásia e na África e, com a destruição causada pela guerra, houve o
deslocamento do centro de poder mundial com a emergência de duas superpotências: os
Estados Unidos e a União Soviética.
Era o início da Guerra Fria, o conflito ideológico travado entre os EUA capitalista e a
URSS socialista na disputa pela hegemonia mundial. Nesse novo contexto mundial, as antigas
potências européias, arrasadas pelas guerras, tinham um papel secundário. Enfraquecidas
econômica e militarmente restava-lhes tentar reconstruir suas economias e, para isso, se submeter
à esfera de poder e influência de uma ou outra superpotência.
58
A Alemanha, particularmente, teve seu território dividido entre os vencedores da Segunda
Guerra: EUA, Reino Unido, França e URSS. Diante disso, o país ficou dividido em duas partes e
sob a órbita de influência das duas superpotências: a Alemanha Ocidental ou República Federal
da Alemanha (RFA), capitalista e alinhada aos EUA, e a Alemanha Oriental ou República
Democrática Alemã (RDA), socialista e alinhada à URSS. Além de objetivar estabelecer novos
domínios geopolíticos pelas superpotências, essa medida foi tomada para assistir de perto a
Alemanha, evitando que ela recorresse novamente a uma política belicosa e desencadeasse um
novo conflito internacional de proporções como os dois anteriores causados por ela, e também
visando desestruturar a economia alemã e conter o seu poderio econômico-industrial, mesmo que
momentaneamente, abrindo novos espaços econômicos para as duas superpotências.
Entre 1949 e 1990, a Alemanha permaneceu dividida em Alemanha Ocidental e
Alemanha Oriental, não tendo praticamente relações entre si. Durante esse período, a Alemanha
Ocidental, conheceu um rápido e significativo avanço econômico, industrial e tecnológico. O
país, antes destruído pelas guerras, iniciou um processo de recuperação econômica, que já nos
anos 50 apresentava resultados positivos. Isso foi possibilitado por causa do Plano Marshall,
destinado à reconstrução da Europa Ocidental e patrocinado pelos EUA. Além desse objetivo, o
Plano Marshall serviu para estabelecer novos aliados e uma área de influência norte-americana,
mas também para conter o avanço do socialismo sobre a Europa. Com a injeção de capitais e
dólares norte-americanos nas economias da Europa Ocidental, incluindo a Alemanha Ocidental,
estes países prosperaram rapidamente e logo voltaram ao cenário político e econômico mundial.
Já a Alemanha Oriental, sob influência da URSS, não teve a mesma sorte como a vizinha
capitalista. Sua economia foi planificada e os meios de produção coletivizados, prejudicando a
recuperação e o crescimento da economia do país. As indústrias logo se tornaram obsoletas e não
atendiam adequadamente a demanda e a necessidade de consumo da população. Os investimentos
na economia e na indústria eram ínfimos e insuficientes para recuperar e reestruturar a infraestrutura econômica do país após as duas grandes guerras, restando apenas as indústrias de base
(metalúrgica, siderúrgica e construção civil) e as de alguns poucos bens de consumo. A sociedade
era organizada de uma forma que impossibilitava relevantes ascensões sociais, desestimulando as
pessoas que se tornavam acomodadas e sem aspiração empreendedoras ou inovadores. Essa
realidade estagnava e prejudicava significamente o crescimento e o desenvolvimento econômico
e social da Alemanha Oriental.
59
No cenário econômico internacional, como Sene e Moreira (1998, p. 29) citam,
[...] o período do pós-guerra foi marcado por acentuada mundialização da economia
capitalista, sob comando dos grandes conglomerados, agora chamados de multinacionais
ou transnacionais. Foi o período de profundas transformações econômicas pelas quais o
mundo iria passar, principalmente a partir dos anos 80, ou seja, o atual processo de
globalização da economia.
Esse processo de globalização econômica mundial e de profundas mudanças econômicas
e sociais só foi presenciado pela Alemanha Ocidental, já que a Alemanha Oriental se organizava
num diferente sistema econômico, social e político e ficava isolada numa esfera pouco
progressista e impedida de absorver os novos processos e inovações difundidos pelo mundo
ocidental.
Por isso, torna-se necessário levar em conta que somente a Alemanha Ocidental
participou desses processos e progrediu econômica e tecnologicamente, formando a base que lhe
servirá de sustentação ao status de referência tecnológica do mundo atual. Portanto, somente a
Alemanha Ocidental será considerada no decorrer desse estudo para análise do processo de
industrialização e desenvolvimento econômico e tecnológico, pelo menos até a reunificação da
Alemanha ocorrida somente em 1990.
Com os investimentos de capitais norte-americanos através do Plano Marshall criado em
1947, segundo Souza (1999, p. 71), o governo da RFA priorizou alguns setores considerados
essenciais à economia do país, já que estava impedido de investir no setor bélico, direcionando
políticas nesse sentido e investindo fortemente na reimplantação da infra-estrutura física, na
educação, na área social, no controle da inflação, na concessão de créditos a juros baixos às
empresas, no incentivo ao empreendedorismo e à inovação empresarial, na promoção das
exportações e na reestruturação de setores básicos como aço, cimento, transportes, construção
civil, alimentos, comunicações, entre outros.
Tal postura deu resultados muito positivos já na década de 1950 com a diminuição do
desemprego e da inflação, associada com um robusto crescimento econômico e industrial. Isso se
deve especialmente à abertura da Alemanha ao capital estrangeiro, pois mais “[...] do que
qualquer outro país da Europa continental, a Alemanha abriu-se ao capital estrangeiro e inúmeras
multinacionais implantaram-se nesse país, contribuindo decisivamente para a consolidação de seu
parque industrial.” (SOUZA, 1999, p. 71). Ainda segundo Souza, as indústrias resultantes desse
processo se desenvolveram associadas ao uso do carvão das grandes reservas do vale do Ruhr,
60
especialmente a indústria siderúrgica e, suas derivadas, como a indústria mecânica e a indústria
automobilística, que representam a base das exportações da Alemanha ainda hoje e os mais
diversos produtos de alta precisão e tecnologia.
Conforme a influência política econômica dos EUA, que passara pela grave crise da
década de 1930 e adotara a política keynesiana, ou seja, de intervenção do Estado na economia
para garantir o seu reaquecimento e alcançar o pleno emprego, após a Segunda Guerra Mundial, a
Alemanha também passa a adotar tal política econômica para reconstruir a infra-estrutura
econômica do país e voltar a crescer economicamente. Por isso, na Alemanha, na Europa em
geral, no Japão e no Canadá, além dos EUA, segundo Souza (1999, p. 87):
O Estado desempenhou papel importante na expansão de mercados, muitas vezes com o
auxílio de esquadras de guerra, obtendo acordos comerciais na base da intimidação. No
plano interno, ele também foi fundamental na implementação da infra-estrutura
econômica, como ferrovias, canais, portos, rodovias [...]. Na Alemanha e no Canadá,
embora o Estado não tenha investido diretamente na infra-estrutura, ele foi o grande
mobilizador de grandes empreendimentos realizados pela iniciativa privada.
Em países como a Alemanha, um Estado forte e ativo na economia nacional contribuiu ao
desenvolvimento econômico e social, ainda mais em modelos associados com uma forte ação
empreendedora e inovadora do empresariado e com um farto financiamento bancário destinados a
novos investimentos. Segundo Schumpeter (1982), o empresário é o responsável por trazer o
dinamismo à economia e por criar as novas combinações de processos necessários ao
desenvolvimento econômico, pois ele tende a encontrar novas maneiras de aumentar a
produtividade, reduzir os custos produtivos e, ainda, aumentar seus lucros. Em relação ao crédito
bancário, ele torna-se necessário ao empresário, pois este capital será empregado na aquisição de
novos meios de produção, matérias-primas e mão-de-obra.
Essa era a situação na Alemanha pós-guerra: um Estado atuante na economia, regulando o
mercado através de uma legislação competente, da aplicação de uma política econômica
adequada e de uma íntima parceria com a iniciativa privada no desenvolvimento de grandes
empreendimentos; um empresariado empreendedor e inovador, disposto a abraçar grandes
empreendimentos e a reestruturar a infra-estrutura econômica do país em parceira com o governo
ou instituições de crédito privadas; e uma disponibilidade de linhas de crédito, tanto nacionais ou
estrangeiros, para investimentos diretos redirecionados aos mais diversos setores industriais e em
setores estratégicos da economia.
61
A combinação dos fatores descritos acima fez com que a Alemanha prosperasse muito
economica e tecnologicamente, reestruturando e diversificando totalmente seu parque industrial.
Além disso, foram se desenvolvendo vários setores industriais de alta tecnologia, como as
indústrias da informática, da biotecnologia, da robótica, das telecomunicações, de automóveis,
entre outros, sendo eles que ostentam o importante e praticamente imbatível status da Alemanha
de referência tecnológica mundial.
Como Oliveira (2000, p. 38) destaca,
[...] Japão e Alemanha em particular souberam tirar proveito do período de tolerância
dado pelos EUA aos seus aliados e, servindo-se também dos gastos relativamente baixos
que precisavam fazer com armamentos, reconstituíram rapidamente suas economias,
como sistemas mercantilistas voltados para a exportação. Japão e Alemanha alcançaram
tecnologicamente os EUA, em termos de II Revolução Industrial, e o Japão [e porque
não dizer a Alemanha também] começou [começaram] inclusive a investir contra a
liderança americana nas novas tecnologias prenunciadoras da III Revolução Industrial.
Tal situação confere à Alemanha um novo status internacional: um importante
exportador, não somente de produtos de alta tecnologia, mas também de tecnologia em si, isto é,
básica e aplicada. Tornando-se um dos grandes exportadores mundiais de tecnologia, a Alemanha
assumiu um novo papel no comércio internacional, ou seja, de grande exportador mundial tanto
de produtos quanto de know how e novas tecnologias. Uma boa fatia do total das exportações
mundiais pertence à Alemanha, tornando sua economia em boa parte dependente do comércio
internacional.
Devido ao seu perfil de país industrializado, não é de se estranhar que seus produtos
industriais respondam pela maior fatia do comércio exterior da Alemanha. Automóveis
e autopeças apareciam em 2002, mais uma vez, como o item mais importante das exportações
alemãs, com faturamento de 123,918 bilhões de euros. As máquinas pesadas ocupam o segundo
lugar com 91,667 bilhões de euros, e os produtos químicos o terceiro, com 76,536 bilhões de
euros. Os mesmos itens lideraram também as importações alemãs: o primeiro lugar foi dos
produtos químicos, com 55,153 bilhões de euros, seguidos dos automóveis e autopeças, com
53,482 bilhões de euros, e no terceiro lugar das máquinas, com 36,250 bilhões de euros7.
7
A ESTRUTURA Econômica. Disponível em: <http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1050172,00.html>.
Acesso em: 05 janeiro 2005.
62
A Alemanha apresenta superávit na balança comercial desde 1952. Quanto ao volume do
comércio exterior, o país é o segundo no ranking mundial, após os EUA e antes do Japão.
Atualmente, os cinco principais parceiros comerciais da Alemanha são França, Holanda, Estados
Unidos, Reino Unido e Itália, para os quais se destinam cerca de 75 % do volume total
comercializado pelo país. Entre estes países, a Alemanha só teve déficit na sua balança comercial
com a Holanda. O Brasil aparece na 25º posição do ranking dos destinos das mercadorias e
serviços alemães e na 26º entre os fornecedores. A Alemanha, em 2003, importou do Brasil um
volume de cerca de 4,4 bilhões de euros e exportou cerca de 4,6 bilhões de euros, obtendo assim
um saldo positivo de 0,2 bilhão de euros8.
Nesse contexto, o Brasil como parceiro comercial da Alemanha importa muitos produtos
industrializados e de alta tecnologia, mas também muito know how e novas tecnologias. Santa
Catarina, por possuir um parque industrial avançado e diversificado, também participa deste
intercâmbio comercial e tecnológico com a Alemanha. E, através dessa participação, Santa
Catarina conseguiu adquirir novas tecnologias, beneficiando vários setores industriais,
especialmente o metal-mecânico, e que, por conseqüência, conseguiu expandir o mercado interno
e externo de sua economia.
Esse contexto será o objeto de estudo do próximo capítulo, ou seja, apontar os principais
benefícios desse intercâmbio comercial e tecnológico com a Alemanha à indústria e à economia
de Santa Catarina.
8
Idem.
63
3. Os Benefícios do Intercâmbio Tecnológico com a Alemanha à Indústria de
Santa Catarina
Anteriormente à formação da Alemanha, como hoje a conhecemos, ocorrida somente em
1871, alguns Estados-alemães, por estarem muito ligados ao comércio internacional, já possuíam
algum tipo de contato e/ou relação com o Brasil. Desde os primeiros anos de existência do Brasil,
contada a partir de seu descobrimento por Portugal em 1500, estes Estados já começaram a
estabelecer contatos com a nação brasileira, mesmo que inicialmente as relações ainda eram
incipientes e irregulares, mas que foram se aprofundando com o passar dos séculos.
Nesse contexto, Santa Catarina, como importante entreposto comercial e marítimo desde
as primeiras décadas de colonização portuguesa, tirou proveito e se beneficiou das relações entre
Brasil e Alemanha, visando dinamizar e desenvolver sua economia. Com a chegada dos primeiros
imigrantes alemães a Santa Catarina no início do século XIX, inicia um processo de significativas
transformações na estrutura econômica catarinense. E os efeitos desse processo estão presentes
até hoje na economia e na sociedade de Santa Catarina, sendo eles o objeto central desse estudo.
Entretanto,
para
essa
análise,
primeiramente
faz-se
necessário
conhecer
o
desenvolvimento das relações entre Brasil e Alemanha no decorrer dos séculos, focando em
seguida as relações alemãs com Santa Catarina. Para constatar os benefícios dessas relações à
economia catarinense, torna-se indispensável retomar um pouco do processo de industrialização e
desenvolvimento econômico do Brasil e de Santa Catarina, para então focar os benefícios do
intercâmbio tecnológico com a Alemanha ao setor metal-mecânico catarinense, que hoje forma a
base econômica e boa parte das exportações do Estado. Estes são, portanto, os principais pontos a
serem abordados neste capítulo.
3.1
As Relações Brasil-Alemanha e Santa Catarina
Como já foram mencionadas anteriormente, as relações entre Brasil e Alemanha,
inicialmente realizadas pelos Estados-alemães, datam já de alguns séculos, sendo que desde a
64
descoberta do Brasil pelos portugueses no ano de 1500 os alemães já se faziam presentes. No
início, eram cartógrafos, pintores, escritores, cronistas e outros estudiosos que navegavam juntos
com os portugueses e espanhóis até o Novo Mundo, ou seja, a América recém descoberta e ainda
inexplorada. Muitos alemães se destacaram ainda no século XVI por seus estudos,
particularmente na cartografia e na escrita, área pela qual tanto os descobridores espanhóis
quanto os portugueses necessitavam desses especialistas às expedições ultramares para a
confecção de mapas, descrições e gravuras, que retratavam as paisagens do Mundo Novo e
contribuíram para divulgar a América pela Europa. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
Até o início do século XIX, no entanto, as relações teuto-brasileiras não apresentavam
muito dinamismo e eram muito irregulares. Uma das principais causas dessas ínfimas relações
foi, sem dúvida nenhuma, a inexistência tanto de um Estado alemão quanto de um Estado
brasileiro. A Alemanha era na época composta por um emaranhado de pequenos Estados
independentes e, geralmente, muito fracos econômica e politicamente, impedindo a elaboração de
uma política externa com interesses nacionais e mais profundos. Já, o Brasil ainda era uma
colônia portuguesa e estava dependente à política externa e aos interesses de Portugal. Somente a
partir da fixação da coroa portuguesa em 1808 no Brasil, por um lado, e da ascensão da Prússia e
da Áustria no cenário alemão, de outro, é que as relações teuto-brasileiras conheceram uma nova
fase mais profunda e contínua.
A independência do Brasil em 1822 e o rápido reconhecimento dela por parte da Prússia e
Áustria foram decisivos às relações entre os países, pois a partir daí os fluxos migratórios
alemães se intensificaram ao Brasil e as relações presenciaram um bom dinamismo. (PERFIL DA
ALEMANHA, 2000). Diante disso, as relações comerciais se aprofundaram e passaram a
abranger novas áreas, especialmente no que diz respeito às relações políticas e culturais. Nesse
contexto, Santa Catarina passou a se destacar com relevância por receber uma grande leva de
imigrantes alemães e por se consolidar como um dos principais destinos no Brasil de imigrantes,
capitais e mercadorias provenientes da Alemanha.
As ondas migratórias iniciaram nas primeiras décadas do século XIX, provocadas pela
difícil situação sócio-econômica na Alemanha após as guerras napoleônicas. O Brasil foi um dos
principais destinos do Novo Mundo, pois o reconhecimento de sua independência pelas potências
européias foi anterior ao das ex-colônias espanholas. Após a promulgação da primeira
Constituição do Brasil em 1824, oficializando a soberania do Estado brasileiro e permitindo a
65
imigração de não católicos, inicia a imigração em grande escala para algumas regiões do
Nordeste, do Sudeste e, principalmente, do Sul do país. Ao Brasil, não vieram apenas
camponeses, mas também artesãos, comerciantes, empresários e profissionais de alguns setores
técnicos e intelectuais. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
A colonização alemã criou e estabeleceu, com suas inúmeras propriedades agrícolas
relativamente pequenas, tanto uma base para a florescente classe média brasileira como uma nova
estrutura econômica no Centro-Sul do país. Nessas áreas, existiam praticamente somente
pastagens e plantações de café. Os colonos alemães introduziram novas culturas e passam a
produzir alimentos até então não cultivados no Brasil, como por exemplo a batata. Algumas
colônias se transformaram em centros urbanos e industriais, como Blumenau e Joinville em Santa
Catarina e São Leopoldo e Novo Hamburgo no Rio Grande do Sul. Nelas surgiram empresas
comerciais e industriais que contribuíram consideravelmente à economia regional brasileira, pois
os imigrantes alemães participaram de várias atividades consideradas essenciais à economia
brasileira da época, ainda desestruturada e pouco dinâmica, como na ampliação das redes de
transporte rodoviário, ferroviário e no desenvolvimento da navegação fluvial e costeira, e na
inovação das comunicações com a introdução do telégrafo no país. E tudo isso ocorreu
principalmente na região Sul do Brasil, onde mais de cem centros de colonização alemã se
originaram. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
O primeiro tratado de que se tem conhecimento e firmado entre Brasil e Alemanha data de
1827, quando o então imperador do Brasil D. Pedro I assinou um Tratado de Comércio e
Navegação com as cidades hanseáticas alemãs de Lübeck, Bremen e Hamburgo. (PERFIL DA
ALEMANHA, 2000). Esse foi somente o primeiro tratado entre Brasil e Alemanha, sendo que
muitos outros e nas mais diversas áreas foram firmados entre ambos os países até o presente.
Depois da unificação alemã e a criação do Império Alemão em 1871, ocorre uma
intensificação da política externa alemã voltada à América Latina no geral, sendo um reflexo do
apoio de um Estado agora centralizado para defender os interesses políticos e econômicos da
Alemanha. Nesse época, a Alemanha já era uma país industrializado e apresentava um excedente
de produção industrial, necessitando com isso novos mercados externos para absorver esse
excedente.
Diante das circunstâncias, a América Latina poderia ser uma boa solução à economia
alemã. Entretanto, não era somente a Alemanha que estava na busca por novos mercados
66
externos consumidores de produtos industrializados e fornecedores de matéria-prima às
indústrias. Outras potências européias, como Grã-Bretanha, França e Itália, também estavam
nessa disputa tanto a nível europeu quanto mundial. Isso fez com que as disputas e tensões entre
esses países aumentassem e a situação logo atingisse seu auge, ou seja, a eclosão da Primeira
Guerra Mundial em 1914. Essa disputa por novos mercados externos entre as potências européias
foi considerada a principal causa de todas as tensões que originaram esse grande conflito
mundial.
A Alemanha, por sua vez, estava no seio do conflito e, durante a Primeira Grande Guerra
(1914-1918), interrompe as relações com a América Latina e, conseqüentemente, com o Brasil. A
partir daí, as relações teuto-brasileiras tardaram a ser retomadas, sendo restabelecidas somente
com a ascensão ao poder de Getúlio Vargas no Brasil e de Adolf Hitler na Alemanha no início da
década de 1930.
A partir do governo Vargas, o governo brasileiro procurou atrair capitais estrangeiros,
inclusive alemães, que serviriam para financiar o desenvolvimento industrial do país. Essa era a
intenção de Vargas. Já Hitler pretendia conquistar novos mercados para beneficiar a indústria
alemã e encontrar novos países aliados, servindo de suporte à pretensão de hegemonia mundial
alemã e dando mais apoio político-militar à Alemanha em caso de guerra.
No entanto, logo a Alemanha inicia uma nova corrida armamentista com intenções
imperialistas, encabeçada pelo regime nazista de Hitler a partir de 1933. Com isso, as tensões
políticas entre as potências européias não tardaram a surgir contra a política imperialista da
Alemanha. Nesse período, visando aproveitar essa situação e atrair vantagens à industrialização
do Brasil, o governo Vargas criou a chamada política externa pendular, que consistia em jogar
com os dois lados, ou seja, com Alemanha e com EUA ao mesmo tempo, já que um novo conflito
entre as potências era somente questão de tempo. O oportunismo de Vargas conseguiu fazer com
que uma considerável quantidade de capital e tecnologia tanto alemães quanto norte-americanos
ingressasse no país, contribuindo ao desenvolvimento industrial e fortalecendo a economia
nacional. Entretanto, já em 1939, as tensões e provocações chegaram a um nível crítico, que
culminaram na eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante a guerra e depois de já
ter aproveitado bem esse situação, o Brasil foi obrigado a se decidir em que lado o país estava, se
dos EUA ou da Alemanha. Diante da situação, o Brasil preferiu se decidir a favor dos EUA,
67
fortalecendo as relações com os norte-americanos e novamente interrompendo-as com os
alemães.
Segundo Seitenfus9, o Brasil, ao ter conquistado junto aos Estados Unidos apoio técnico e
financeiro para o lançamento da indústria pesada – no caso da usina siderúrgica de Volta
Redonda –, ingressa num ciclo de extraordinária industrialização que contrasta com o país agrário
e atrasado que o caracterizava até então. Um pólo industrial se estabelece no triângulo São
Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais, que muda a face do país. Modernizando-se, acontece uma
dupla migração campo/cidade e com elevados índices de urbanização no sentido Nordeste/Sul,
provocando um desequilíbrio de desenvolvimento entre as regiões brasileiras. Surge uma classe
média urbana que ditará os valores culturais e decidirá os rumos da política nacional. O
desenvolvimento econômico brasileiro será estreitamente vinculado ao capitalismo internacional,
sendo o país – pela primeira vez em sua história – integrado ao sistema internacional. A
Alemanha Ocidental será, nessa fase, um dos principais parceiros do país.
Como país perdedor das duas Grandes Guerras, a Alemanha teve seu campo de atuação
político e econômico restringido no cenário internacional por muitos anos. Um exemplo das
limitações impostas pelos vencedores e que beneficiaram diretamente o Brasil foi a restrição da
Alemanha em desenvolver novamente sua aviação civil, ocasionando a imigração de muitos
técnicos dessa área à América Latina e contribuindo com isso à criação de algumas das atuais
companhias áreas do Brasil, Argentina e outros países latino-americanos. A não ser assim de
forma espontânea, a Alemanha não teve mais relações oficiais com nenhum país latino-americano
no imediato pós-guerra. Somente a partir da criação da República Federal da Alemanha (RFA)
em 1949, houve algum clima para restabelecê-las novamente. (PERFIL DA ALEMANHA,
2000).
O restabelecimento das relações entre Brasil e Alemanha encontrava muitas dificuldades
para se consolidar novamente, em parte, devido à desconfiança brasileira diante dos alemães
causadas pelo impacto das duas Grandes Guerras e, em grande parte, à influência norteamericana sobre o país no pós-guerra. Segundo Seitenfus10, as relações exteriores brasileiras
conhecem uma profunda "americanização", tal como ocorreu na segunda metade do século 19.
Washington encontra no Brasil um aliado confiável e o Brasil, por sua vez, não consegue
9
SEITENFUS, Ricardo. Hitler tentou “nazificar” alemães no Brasil. Entrevista a DW-World. Disponível em:
<http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1450461,00.html> . Acesso em: 03 fevereiro 2005.
10
Idem. Op. cit.
68
perceber seus interesses no plano internacional sem referir-se aos Estados Unidos. Sai fortalecida
do episódio, portanto, a influência – cultural, financeira, comercial, política, tecnológica – dos
Estados Unidos no Brasil, a qual não encontra – como sucedeu na década de 1930 – nenhum
obstáculo ou concorrente.
Com relação às relações culturais entre Brasil e Alemanha, pode-se dizer que sempre
decorreram constantemente ao longo dos anos. Apesar do rompimento de relações políticas e
comerciais por causa das duas Grandes Guerras, as relações culturais permaneceram
especialmente devido à significativa quantidade de imigrantes alemães no país e a forte influência
da cultura européia sobre a brasileira, particularmente da cultura alemã. As contribuições de
cartógrafos, cronistas e pintores já foram mencionadas, mas em outras áreas também houve bons
destaques que contribuíram para intensificar a presença da cultura alemã no Brasil, como a
influência de religiosos, juristas, músicos, sociólogos, filósofos, escritores, biólogos e outros
profissionais. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
Segundo Bandeira11, a política de Vargas foi correta. Graças a ele, o Brasil é hoje um país
industrializado, porque pôde implantar o maior complexo siderúrgico da América Latina, que
começou a funcionar em 1946. O Brasil, com abundantes jazidas de ferro e uma indústria de bens
de consumo já bem desenvolvida, pôde desenvolver uma indústria de bens de capital, o setor que
permite a auto-sustentação e a auto-transformação do capitalismo. Assim o país ganhou um
extraordinário impulso, o boom dos anos 50, época em que justamente os capitais alemães para cá
fluíram, porque não podiam ir para o Leste Europeu, subordinado ao regime comunista, e temiam
uma guerra atômica na Europa. Já no tempo de Vargas, em 1953, começaram os entendimentos
para a instalação das fábricas da Volkswagen e da Mercedes Benz, cujos investimentos
amadureceram durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek, principalmente entre os
anos 1957–1959.
Passada a Segunda Guerra Mundial e a fundação da RFA, as condições essenciais para
uma nova fase de cooperação entre a Alemanha e a América Latina foram criadas. Entre 1950 e
1952, a Alemanha firmou tratados de comércio e abriu missões comerciais e diplomáticas em
alguns países latino-americanos, particularmente Brasil, Argentina e Chile. Esses países, por
conseguirem resgatar a confiança presente nas relações passadas, logo se tornaram numa das
regiões prioritárias da política externa alemã. Diante disso, esses países receberam, apenas atrás
69
da Europa e da América do Norte, a maior parte dos investimentos alemães, destacando-se a
atuação de bancos alemães e a fundação de várias escolas e institutos educacionais e técnicos na
região. (PERFIL DA ALEMANHA, 2000).
Ainda na década de 1950, sob o Governo de Juscelino Kubitschek, ocorre no Brasil a
instalação de importantes indústrias alemãs como a Companhia Siderúrgica Mannesmann em
1954, a qual viria a tornar-se a Mercedes-Benz em 1955, e a fábrica da Volkswagen em 1959. A
instalação de importantes empresas alemãs no país foi reflexo de uma situação internacional
favorável ao Brasil na captação de investimentos estrangeiros, especialmente alemães e norteamericanos. No caso alemão, segundo Lohbauer (2000, p. 58), “como terceira potência industrial
do mundo capitalista, a RFA [Alemanha Ocidental] podia oferecer o capital, a tecnologia e, em
parte, o mercado que o Brasil urgentemente necessitava para promover sua expansão
econômica.”
A assinatura do Acordo de Cooperação em Pesquisa Científica e Desenvolvimento
Tecnológico em 1969 entre Brasil e Alemanha inaugura uma nova fase das relações teutobrasileiras. Era a fase de sua consolidação, por duas causas destacadas por Lohbauer (2000): a
busca de uma relativa autonomia em relação aos EUA para o Brasil, abrindo espaço à opção
européia, especialmente à Alemanha, nas relações exteriores brasileiras; e o interesse alemão no
potencial do mercado brasileiro, diante de seu caráter econômico de país exportador de
equipamentos e tecnologia. No redirecionamento da política externa brasileira para a Europa, o
Brasil almejava a concretização do “Brasil-potência”, julgando que os EUA, de alguma forma ou
outra, impedia tal concretização e, nesse contexto, uma maior aproximação com a Alemanha
poderia significar grandes avanços econômicos e tecnológicos para o país.
Nesse sentido, no ano de 1975, durante o governo do General Ernesto Geisel, foi firmado
o Acordo sobre Cooperação nos Campos dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear entre Brasil e
Alemanha, transferindo para o Brasil novas tecnologias na construção de usinas nucleares e
também na produção de energia para abastecer o país. Esse acordo nuclear teve muitas críticas
tanto internas (ambientalistas e políticos pró-EUA), como externas (particularmente dos EUA e
da URSS), devido à dissipação de tecnologia nuclear a um país não-signatário do Tratado de
Não-Proliferação Nuclear (TNP), no caso o Brasil12. A tecnologia nuclear em questão, segundo
11
BANDEIRA, Luis Alberto Moniz. Pentágono quis invadir o Brasil. Entrevista a DW-World. Disponível em:
<http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1450782,00.html>. Acesso em: 03 fevereiro 2005.
12
Idem. Op. cit.
70
Lohbauer (2000), há muito deixara de ser ao Brasil somente uma questão de interesse econômicoenergético, mas uma questão político-estratégico de peso na política externa brasileira.
A década de 1980 foi um período de enfraquecimento das relações entre Brasil e
Alemanha, principalmente por causa de fatores internos e externos que envolviam ambos os
países. Além de uma crises internacional que transcorria no período, o Brasil passava por difíceis
momentos de sua história por se tratar de uma fase de complexa transição econômica, reflexo de
constantes ajustes e planos com vistas à reestruturação da economia brasileira, e política, reflexo
do descontentamento da população com o regime militar e da luta pela vindoura
redemocratização do país. Por sua vez, a Alemanha também enfrentava problemas de origem
econômica e política, em parte, gerada pela desfavorável situação internacional da década de
1980 e, em parte, por fatores internos, como o esforço e as profundas transformações necessárias
à concretização da sonhada reunificação alemã, que viria a acontecer oficialmente somente em
1990.
Apesar dos esforços, as relações entre Brasil e Alemanha se restabeleceram
com
intensidade somente na década de 1990, quando a reunificação alemã e a consolidação da
democracia brasileira se concretizam. A partir daí, as relações teuto-brasileiras apresentaram uma
ampliação e um desenvolvimento muito dinâmicos, especialmente na busca por interesses
comuns. As relações políticas após a redemocratização melhoram a situação dos países latinoamericanos no geral, pois resultaram nos esforços de integração regional, dos quais surgiram o
Mercosul, a Comunidade Andina e o Caricom, por exemplo. A integração regional em blocos
econômicos beneficiou a estabilidade política e econômica na América Latina e incrementou
ainda mais as relações com a União Européia (UE). Um bom exemplo disso foi a criação de um
fórum permanente de negociação entre a UE e o Mercosul, ampliando os acordos de cooperação
e intercâmbio político, econômico, tecnológico, educacional, cultural e ainda nas organizações
internacionais como na ONU e seus órgãos especializados, priorizando as questões de
desarmamento internacional, prevenção de conflitos, manutenção da paz e da estabilidade
internacionais, preservação do meio-ambiente, defesa ao livre comércio e outros assuntos nas
mais diversas áreas.
71
Comparativo Econômico entre Alemanha e Brasil referente 2003
Alemanha
2.408
Brasil
498
População (milhões)
82
176
PIB per capita (US$)
29.366
2.840
Primário - 1
Secundário - 28
Terciário - 71
10
Primário - 8
Secundário - 32
Terciário - 60
1
747,7
73,1
601,5
48,3
PIB (US$ bilhões)
PIB por setores (% do total)
Participação nas exportações mundiais no PIB (estimativa em %)
Exportações (US$ bilhões)
Importações (US$ bilhões)
Saldo Balança Comercial
146,2
24,8
(USS bilhões)
Investimento Direto Externo (IDE)
31,8
10,1
(US$ bilhões)
Fonte: Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. www.ahkbrasil.com
Relações Comerciais Brasil-Alemanha 2003
Exportações (US$ bilhões)
Alemanha
4,6
Brasil
4,4
Importações (US$ bilhões)
4,4
4,6
Saldo (US$ bilhões)
Principais produtos comercializados
entre ambos
0,2
-0,2
Máquinas, motores,
Minério de ferro, soja
automóveis, autopeças,
e derivados, carne e
eletroeletrônicos,
derivados, café,
equipamentos, adubos,
automóveis, autopeças,
fertilizantes, produtos
alumínio, madeiras e
farmacêuticos, químicos e
derivados, fumo e
plásticos.
tabaco.
Importância representada de um país
3°
25 °
para o outro no comércio exterior
(respectivamente)
Fonte: Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. www.ahk.org.br
72
Comparativo Tecnológico entre Brasil e Alemanha
Dispêndios em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) (% do PIB em 2000)
Origem dos recursos (R$ bilhões)*
Total dos dispêndios (R$ bilhões)*
Recursos Humanos em Ciência e
Tecnologia (RHCT) (1999)**
Número de doutores titulados (1999)
Alemanha
2,46
Brasil
1,05
Empresas – 118,8
Governo Federal – 29,7
Governos Estaduais –
24,09
Instituições Privadas –
0,66
173,25
47.370
Empresas – 4,37
Governo Federal - 4,88
Governos Estaduais –
2,01
Instituições Privadas –
0,19
11,45
31.772
24.545
2,9
4.862
29,9
Número de doutores por 100 mil
Habitantes (1999)
Número de publicações científicas
18
12,5
(1999 em milhões)
Fonte: Adaptação de Viotti; Macedo (Org.) (2003) e BUNDESMINISTERIUM FÜR BILDUNG
UND FORSCHUNG. www.bmbf.de
(*) Tomou-se como base o PIB da Alemanha de US$ 2,4 trilhões e o valor do euro R$ 3,30.
(Dados da Alemanha 2003 e do Brasil 2000).
(**) Os Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia (RHCT) incluem os cientistas, engenheiros,
técnicos e pessoal administrativo que se dedicam à C&T.
Conforme as tabelas acima, pode ser constatado que a Alemanha apresenta uma economia
muito maior que a do Brasil, um PIB cerca de cinco vezes maior que o brasileiro, uma renda per
capita dez maior que a brasileira, uma economia muito mais voltada ao comércio exterior e com
uma maior atração de investimentos estrangeiros que a economia brasileira. Nas relações
comerciais entre Alemanha e Brasil, vê-se claramente que a Alemanha exporta para o Brasil,
quase que exclusivamente, produtos de alta tecnologia e valor agregado, enquanto o Brasil
exporta também produtos de alta tecnologia para a Alemanha, porém a maioria das exportações é
73
de compreendidas de produtos de baixo conteúdo tecnológico e pouco valor agregado, como
alguns produtos semi-manufaturados, commodities e outros produtos primários.
Na questão tecnológica, como já fica explícito na pauta de exportação da Alemanha ao
Brasil, os alemães investem muito mais em C&T e P&D do que os brasileiros, ficando muito a
frente no total dispendido nessas áreas em relação ao Brasil. Por isso, pode-se dizer que tanto
econômica quanto tecnologicamente, a Alemanha possui um desenvolvimento bem maior que o
do Brasil, com grandes vantagens nessas áreas, colocando o país como um dos principais
participantes na chamada Terceira Revolução Técno-científica e Industrial.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, a Alemanha é atualmente
um dos principais parceiros do país no campo da cooperação técnica e científica, a qual se dá
principalmente pela execução de projetos de parcerias públicas e/ou privadas. Esses projetos
concentram-se nas áreas de meio ambiente, agricultura, indústria, saúde, desenvolvimento social,
administração pública, energia, transportes, educação e planejamento urbano. Geralmente, eles
são executados e financiados pelas várias organizações ou entidades vinculadas ao governo
alemão que atuam no Brasil, como é por exemplo o caso da Sociedade Alemã para a Cooperação
Científica (GTZ), o Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD), o Serviço Alemão de
Cooperação Técnica e Social (DED), entre outros.
74
Principais Áreas de Execução de Programas Alemães no Brasil
Setores Beneficiados
• Área de Desenvolvimento Regional Integrado
- Programa PRORENDA - visa o desenvolvimento social
e econômico da população de baixa renda rural (pequenos
agricultores) e urbana, apoiando tanto o desenvolvimento urbano
quanto as atividades de microempresários e trabalhadores
autônomos.
- Programa de Indústria - visando o aumento da
produtividade e competitividade das Pequenas e Médias
Empresas Industriais.
• Área de Meio Ambiente
- Programa de Gestão do Meio Ambiente Urbano e
Industrial - apoiando projetos do setor florestal e de gestão do
meio ambiente urbano e industrial.
- Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais
do Brasil - PPG7 - apoia projetos na região Amazônica e na
Mata Atlântica.
• Fundo para Estudos e Técnicos ("Pool" de
Peritos)
- consultorias de curto prazo (até 12 meses) nas mesmas
áreas prioritárias dos projetos.
• Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social
(DED):
1. Saúde; 2. Organização Comunitária; 3. Capacitação
Profissional; 4. Agricultura; 5. Relações de Gênero
Fonte: Adaptação MRE.
Modalidade da
Cooperação
- Projetos
- Vinda de
Peritos
- Vinda de
Cooperantes (em
projetos de menor
porte)
Atualmente, portanto, as relações entre Brasil e Alemanha se dão nas mais diversas áreas,
sendo que o comércio de importação e exportação de mercadorias, capitais, tecnologias e know
how são as áreas nas quais mais se realizam convênios e cooperações. Segundo as pretensões de
ambos os países, os convênios de cooperação no campo tecnológico são os mais comuns e os
principais atos firmados nos últimos anos, visando aprofundar cada vez mais a cooperação
científica e tecnológica com objetivos de metas de desenvolvimento social e econômico de suas
respectivas sociedades. E para isso, foram determinadas algumas áreas prioritárias destinadas à
cooperação teuto-brasileira, dentre as quais se destacam: a biotecnologia, a pesquisa do genoma,
os sistemas e tecnologias da informação e comunicações, as tecnologias de produção mais limpa,
75
as nanotecnologias e as tecnologias de micro-sistemas, as tecnologias ambiental e de marinha, a
pesquisa espacial e a geociência13.
3.2
A Economia Brasileira
Durante o período pré-colonial, que compreende desde a descoberta do Brasil em 1500
até 1530, praticamente inexistiu alguma atividade econômica no país. Somente a partir de 1530,
já estabelecido como período colonial devido ao início real da colonização de Portugal no Novo
Mundo, aparecem os primeiros indícios de atividades econômicas. Diante disso, a economia do
Brasil-colônia insere-se na dinâmica do capitalismo mundial e da divisão internacional do
trabalho como fornecedor de matérias-primas e, por outro lado, consumidor de produtos
manufaturados das metrópole portuguesa.
Portugal, na época maior potência marítima e mercante mundial, dominava várias técnicas
agrícolas e manufatureiras. Por isso, necessitava de matérias-primas para abastecer seu mercado e
suas manufaturas e para negociá-las com o exterior. Como o Brasil era um país tropical e com um
clima bem diferente do europeu, Portugal queria aproveitar tal situação para conseguir produtos
exóticos de suas colônias, obtendo maiores lucros na hora de comercializá-los, já que se tratavam
de produtos mais caros por serem exóticos e escassos na Europa. Como conseqüência, o paubrasil foi o primeiro produto brasileiro a ser explorado pelos portugueses, pois essa árvore
possuía uma madeira considerada nobre, de ótima qualidade e apreciada pelos europeus. Além
disso, o seu preço era relativamente alto, compensando muito aos portugueses a sua exploração
em terras brasileiras. Entretanto, a exploração do pau-brasil se deu de forma muito rápida e
descontrolada, logo escasseando essa matéria-prima e extinguindo praticamente essa atividade
econômica no Brasil.
Diante dessa crítica situação em que se encontrava a exploração do pau-brasil, Portugal
viu-se obrigado a procurar por alguma outra vantajosa e lucrativa matéria-prima, capaz de
reativar a exploração econômica dessa colônia tropical. Como o país já possuía experiência e
13
MEMORANDO de Entendimento entre o Ministro da Ciência e Tecnologia da República Federativa do Brasil e a
Ministra da Educação e Pesquisa da República Federal da Alemanha sobre Cooperação Científica e Tecnológica em
Áreas Prioritárias. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/prog/coop_int/coop_bilateral/alemanha.htm#>. Acesso
em: 05 janeiro 2005.
76
também já produzia cana-de-açúcar no arquipélago dos Açores e outras ilhas atlânticas, mas sem
muito sucesso devido sua produção limitada e insuficiente para abastecer Portugal e fortalecer
sua economia, o país decide experimentar a produção desse produto no Brasil. Sua produção seria
voltada à produção de açúcar destinado à exportação, pois este produto também era uma
mercadoria nobre e de alto valor na Europa. Essa experiência deu tão certo, que muitos
consideram o ciclo da cana-de-açúcar como o primeiro e verdadeiro ciclo econômico a se
desenvolver no Brasil. Dessa maneira, o Brasil produzia a cana-de-açúcar e exportava o açúcar
puro, ou mascavo como muitos conhecem, a Portugal, que revendia a outros países europeus,
principalmente à Holanda, para seu refinamento, venda e distribuição do produto final, o açúcar
refinado, a outros países.
Paralelo ao ciclo econômico da cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil, Portugal sempre
teve esperança de descobrir riquezas minerais no solo de sua maior colônia. As expedições
interior a dentro na busca por ouro e prata não cessaram. Contudo, somente no final do século
XVIII, os portugueses descobriram no Sudeste brasileiro ouro em quantidade considerável, que
porém em cerca de três décadas se escasseia. Isso fez com que a exploração do ouro entrasse em
decadência e seu ciclo econômico findasse lentamente. Mesmo assim, o ciclo econômico do ouro
teve muita importância ao Brasil, pois foi a partir dele que, pela primeira vez na história do país,
foram criadas todas as condições necessárias para a criação de um mercado interno brasileiro.
No final do século XVIII, Portugal proíbe qualquer tipo de manufatura no Brasil,
principalmente as têxteis que recém estavam florescendo. Isso reflete já o período da decadência
da hegemonia mundial de Portugal, pois já demonstrava claros sinais da quase que total
dependência à Inglaterra. Em troca de proteção militar, os portugueses assinaram com os ingleses
o Tratado de Methuen em 1773, que, segundo a teoria ricardiana das vantagens comparativas,
daria maiores vantagens comerciais para ambos os países diante da especialização portuguesa na
produção de vinhos e na inglesa na de têxteis. Como se sabe, entretanto, somente a Inglaterra
teve maiores vantagens comerciais nesse contexto. Portugal, diante dessa situação, abriu mão de
desenvolver manufaturas não somente em suas colônias mas também em seu próprio território, o
que provavelmente impediu a participação do país na já vigente Primeira Revolução Industrial,
em troca de um Tratado que não lhe proporcionou nenhuma vantagem considerável. Com isso,
Portugal proíbe a existência de manufaturas no Brasil e aprofunda cada vez mais sua dependência
econômica à Inglaterra, pois, devido às perdas comerciais acumuladas, o país viu-se obrigado a
77
transferir todas as riquezas produzidas e exploradas em suas colônias, inclusive Brasil, à
Inglaterra.
Com forte escolta inglesa, a família real de Portugal vem ao Brasil em 1808, devido às
ameaças de invasão feitas por Napoleão, transferindo a sede do reino português ao Rio de Janeiro
e criando o então Reino Unido de Brasil e Portugal. A partir desse fato, que teve importantes e
profundas repercussões ao Brasil, ao longo do século XIX inicia-se um processo de
transformação sócio-econômica e política no país, resultante de um conjunto de fatores. Os
principais deles, segundo Motoyama (1994), foram: a abertura dos portos brasileiros aos ingleses,
o que, de um lado, transferiu a dependência inglesa de Portugal ao Brasil e, por outro lado,
permitiu a importação de bens manufaturados ingleses a taxas menores em comparação àquelas
praticadas com outros países; a proibição do tráfico de escravos africanos pela Inglaterra, que
inicialmente preocupou, mas que logo passou a incentivar um redirecionamento dos capitais,
antes empregados na compra de escravos, para a formação da base industrial no Brasil; a
independência do Brasil em 1822, possibilitando a elaboração de políticas sociais, econômicas e
comerciais próprias na defesa dos interesses nacionais; a elevação das taxas de importação pela
Tarifa Alves Branco (1844), que consistiu na primeira prática protecionista adotada pelo país
para defender sua indústria nascente diante da concorrência dos produtos importados; a
transformação da mão-de-obra, antes escrava, em assalariada, contribuindo para a monetarização
da economia e para a consolidação de um mercado interno no país; o advento das ferrovias a
partir de 1854 como fator de interligação das várias regiões do Império e suas atividades
econômicas, promovendo o povoamento do interior e o incremento da riqueza nacional; entre
outros fatores.
Até a década de 1930, a economia do Brasil estava vinculada quase que exclusivamente à
atividade agro-exportadora, destacando-se as culturas do café, do algodão e da cana-de-açúcar.
No entanto, a realidade econômica estava em constante mudança. As culturas agro-exportadoras
estavam passando por constantes e profundas crises de demanda, ocasionando a baixa dos preços
dos produtos no mercado internacional por causa de grandes eventos mundiais que ocorreram
nessa época, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) na Europa e a crise de 1929 nos
EUA. Essas crises assolavam os principais países compradores dos produtos do setor agroexportador brasileiro, ocasionando uma forte crise de demanda, o que contribuiu a um novo
redirecionamento de capitais nas atividades econômicas do Brasil.
78
Com os bons preços no mercado internacional dos produtos brasileiros conseguidos
anteriormente às crises iniciais do século XX, os grandes proprietários rurais, especialmente os
cafeicultores, acumularam uma boa quantidade de capitais. Em períodos prósperos e anteriores,
certamente esses capitais seriam aplicados na própria expansão da atividade agro-exportadora.
Entretanto, agora devido às crises de demanda internacional e, conseqüentemente, ao baixo preço
dos produtos, esses capitais acumulados foram redirecionados e acabaram por financiar a futura
industrialização do Brasil. A partir daí, surge um empresariado nacional, predominantemente
formado por imigrantes europeus, alguns já radicados no Brasil e outros recém chegados. Estes
aproveitaram a grande oferta de capital no mercado interno, devido à grande acumulação
ocasionada pela exportação do café, e a associaram com seus conhecimentos prévios e alguns
recursos financeiros disponíveis de seus lugares de origem, investindo na implantação das
primeiras indústrias brasileiras, voltadas inicialmente à produção de bens de consumo nãoduráveis ou semi-duráveis destinados ao abastecimento do mercado brasileiro.
A partir de 1930, o governo de Getúlio Vargas prioriza a questão de transformar o Brasil
num país industrial e desenvolvido. Aproveitando-se da situação então favorável, o país
conseguiu atrair capitais e novas tecnologias, não mais somente da Inglaterra, mas de outros
países como EUA e Alemanha, particularmente no período anterior a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). A política de Vargas deu certo e industrializou o país, principalmente com a criação
e a consolidação do Departamento 1 (D1), ou seja, o setor das indústrias de base e fornecedoras
de matérias para outros setores industriais, como a metalurgia, a siderurgia, a construção civil,
etc. A partir da consolidação do D1 na década de 1930, estava formada a base industrial, que
antes faltava ao Brasil para compensar o relativo atraso industrial e tecnológico do país em
relação a outros países e para iniciar um processo de diversificação da indústria nacional e de
dinamização da economia brasileira.
O advento das duas Grandes Guerras Mundiais e da crise de 1929, sem dúvida nenhuma,
impulsionou de fato o desenvolvimento industrial brasileiro. Como as potências européias
(Alemanha, França, Itália e Inglaterra), assim como o Japão e, posteriormente os EUA, estavam
inicialmente envolvidas num grande esforço de guerra e, posteriormente, passando por períodos
de crise e de grande esforço à reconstrução de suas economias, a situação ficou muito favorável
ao Brasil.
79
A industrialização via processo de substituição de importações (PSI), que, segundo a
Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), era o caminho mais viável aos
países da América Latina para superar o atraso econômico em relação aos países desenvolvidos,
se aprofunda no Brasil a partir da década de 1930. Os fatores que impulsionaram esse processo
foram, sem dúvida, os baixos fluxos registrados no comércio internacional durante as guerras e
as crises econômicas mundiais, que impossibilitaram a exportação do café brasileiro e,
conseqüentemente, a importação de máquinas e outros produtos industrializados. Além disso,
esse fatores estiveram ainda associados à escassez de capitais estrangeiros no mercado
internacional, impossibilitando a atuação dessas capitais para seu investimento na indústria
nacional. Todos esses fenômenos ocorreram em conjunto, simultânea e paralelamente, e não
isolados, o que fez com que as condições necessárias à industrialização fossem formadas
internamente.
O Governo Vargas cria uma nova política econômica a partir de 1930. Aproveitando-se
da situação internacional e das oportunidades nela dadas, Vargas cria um novo modelo
econômico no Brasil, baseado na substituição de importações, no aproveitamento do capital
nacional e na intervenção estatal na economia. Seguindo as tendências internacionais da época, o
Brasil adota um modelo econômico de inspiração keynesiana, segundo as quais o Estado deveria
passar a intervir direta e constantemente na economia através de elevados gastos públicos,
transformando-se assim
no principal agente de fomento ao desenvolvimento econômico e
industrial de um país. Dessa forma, o Estado brasileiro passou a conceder subsídios à formação
de empresas nacionais ou ele mesmo constituir as empresas estatais, consideradas essenciais na
promoção do desenvolvimento nacional. A questão priorizada por Vargas foi, com certeza, a
internalização do D1 da economia brasileira, fortalecida pela nacionalização dos recursos naturais
e minerais e da responsabilidade estatal referente à importação de capitais e tecnologias às
empresas nacionais.
A partir de 1930, altera-se o padrão de acumulação de capital no Brasil, quando a
indústria finalmente passa a ser a atividade central e mais dinâmica da economia brasileira,
substituindo a tradicional agricultura. Graças a essa mudança na dinâmica econômica brasileira,
mesmo em períodos recessivos e/ou de guerras, que ainda estavam por vir, o país conheceu um
avanço considerável na produção de bens de capital, de consumo durável e, principalmente, de
bens intermediários. (MOTOYAMA, 1994). Como centro dinâmico da economia nacional, a
80
indústria possibilitava maior acumulação e reprodução de capital, mesmo em tempo de crises
internacionais quando comparado com qualquer outro setor da economia brasileira, inclusive a
eterna atividade agro-exportadora. Dessa maneira, a indústria foi o único setor econômico
brasileiro capaz de expandir-se diante das condições adversas internacionais da época, passando a
expandir-se não mais somente na tradicional indústria de bens de consumo não-duráveis, mas
também ocorrendo expansão nas indústrias de bens de consumo semi-duráveis, duráveis e, o mais
importante, de bens de capital.
A nova política econômica adotada por Vargas na década de 1930, portanto, logrou
resultados positivos, que porém só foram consolidados nas décadas seguintes. Os grandes
esforços do Estado na nacionalização dos recursos minerais e na internalização do D1 resultaram
na formação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1946 e da Petrobrás em 1954, que
garantiram o monopólio estatal sobre a exploração do ferro e do petróleo brasileiros,
considerados cruciais à produção de outras indústrias, como a de bens de consumo duráveis.
Essas duas indústrias, CSN e Petrobrás, constituíram-se em marcos da industrialização brasileira,
pois pela primeira vez no país alguma indústria nacional alcançava níveis de produção industrial
em larga escala e destinadas a suprir as demandas siderúrgicas e energéticas de um parque
industrial em constante expansão. (MOTOYAMA, 1994). Entretanto, outros setores, como o de
bens de consumo e o de máquinas e equipamentos, não obtiveram na época o mesmo apoio do
Estado durante seu período de
desenvolvimento e consolidação, resultando na constante
necessidade de importar tais bens.
Segundo Motoyama (1994), sem o desenvolvimento tecnológico anterior da siderurgia e
da construção civil, ficaria impossibilitada a implantação da indústria automobilística no país,
demonstrando que houve um certo desenvolvimento tecnológico brasileiro, totalmente benéfico a
tais projetos estatais. Os seus benefícios podem ser vistos num melhor aproveitamento do aço e
na tecnologia desenvolvida na área de barragens e de estradas de rodagem, por exemplo, os quais
foram importantes fatores ao processo de industrialização do Brasil.
A partir da década de 1950, o Brasil teve que novamente mudar sua estratégia de
desenvolvimento econômico para lograr esses setores que ainda não possuía e para completar o
processo de industrialização via PSI. O segundo Governo Vargas (1951-1954) redireciona a
política econômica brasileira, flexibilizando a autonomia estatal na economia e passando a aceitar
a participação de capitais estrangeiros na formação e no desenvolvimento desses setores.
81
Contudo, somente no Governo de Juscelino Kubiteschk (1955-1960) esse processo foi concluído
com grandes investimentos nos diversos setores da economia do país, financiados a partir do
advento de capitais externos.
Nesse período, a atração de capitais se deu na forma de empresas, principalmente
multinacionais, que se instalaram no Brasil e passaram a produzir bens de consumo duráveis,
como automóveis e eletrodomésticos, que antes constituíam grande parte da nossa pauta de
importações.
Embora modernizando os processos de fabricação e especializando a mão-de-obra, as
empresas estrangeiras contribuíram para o alto grau de dependência tecnológica do
Brasil em equipamentos e insumos básicos. (...). Como a transferencia de tecnologia é
ditada pela relação matriz-subsidiária, o Brasil continua dependendo das importações
para certos produtos de tecnologia mais avançada. (MOTOYAMA, 1994, p. 281).
Durante o Governo JK, portanto, iniciou-se um processo inverso ao de internalização da
economia brasileira defendido anteriormente por Vargas, ou seja, o de sua internacionalização.
Mesmo assim, cabia ao Estado dois importantes papéis: o de investir em infra-estrutura e serviços
para garantir a acumulação de capitais pelos setores dinâmicos da economia, ou seja, justamente
os de bens de consumo duráveis dominados pelas empresas multinacionais; e o papel de criar
bancos públicos, como o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) e os Bancos de Regionais
de Desenvolvimento (BRDE), para subsidiar e/ou financiar a expansão da industrialização do
país. Portanto, durante o período do Governo JK, ocorre uma alteração da estrutura produtiva
brasileira, que pode ser acompanhada na tabela a seguir.
82
A Estrutura Produtiva Brasileira nos Anos 1949 e 1959 em %
Anos
Bens de Consumo
Bens de Consumo Semi- Bens de Consumo e de
Capital
Duráveis ou
Intermediários
Não-duráveis
1949
60,7
31,7
7,6
1959
45,2
38,1
16,8
Produtos químicos,
Automóveis, autopeças,
madeira, papel, minerais
mecânica pesada,
não-metálicos
materiais elétricos
Indústria em
Destaque
Têxtil
Fonte: Adaptação de Motoyama (1994).
Como pode-se observar na tabela acima, vemos que em apenas dez anos a estrutura
produtiva brasileira foi sendo profundamente alterada. Nesse contexto, a produção de bens de
consumo não-duráveis decaiu cerca de 30 %, mesmo que a indústria têxtil tenha apresentado
crescimento de 6,2 % ao ano, e passou de 60,7 % em 1949 para 45,2 % do total da produção
industrial do país no ano de 1959. Já a produção de bens de consumo semi-duráveis aumentou
cerca de 20 % durante este período, passando de 31,7 % em 1949 para 38,1 % em 1959. O maior
crescimento ocorreu na indústria de bens de consumo duráveis e de capital, ou seja, entre 1949 e
1959 a produção industrial desse setor cresceu mais de 100 %. Ela passou de 7,6 % em 1949 para
16,8 % do total produzidos pelas indústrias brasileiras em 1959.
O modelo econômico adotado por JK fez, portanto, com que a economia brasileira
crescesse muito, fato comprovado pela consolidação de novas indústrias no cenário econômico
brasileiro, como a indústria de bens de consumo duráveis e de capital antes poucos significativas,
e pela conseqüente alteração da estrutura produtiva do país. Esse processo esteve, porém,
associado a altas taxas de inflação, ao aumento da dívida externa e, conseqüentemente, ao
aumento gradual da dependência externa do Brasil. Dessa forma, tal modelo desenvolvementista
entra em crise, influenciando diretamente na crise política do país e que levaria ao golpe militar
de 1964.
A política econômica adotada pelos governos militares muito se pareceu com a adotada
por JK, atraindo capitais externos e investindo nas empresas estatais e na infra-estrutura do país
83
com grandes obras, como a usina hidrelétrica de Itaipú, as usinas nucleares de Angra dos Reis, a
rodovia Transamazônica, etc.. Essas grandes ações foram reflexos da idealização do projeto
“Brasil-potência” pelos governos militares, visando a expansão e a modernização da economia
brasileira. Essa política logrou, ao mesmo tempo, uma maior expansão do D1 da economia,
através dos grandes investimentos em infra-estrutura, assim como ainda possibilitou uma maior
diversificação da indústria nacional. No processo de diversificação, a indústria nacional,
especialmente o da indústria de bens de consumo duráveis, contou com suporte de capital e
tecnologia estrangeiros. (MOTOYAMA, 1994). A economia voltou a se expandir, principalmente
na década de 1970, que, enquanto a maioria dos países estava em crise devido à falta de petróleo
no mercado internacional, o Brasil passava pelo seu “milagre econômico”14, caracterizado por
altas taxas de crescimento econômico e industrial, mas com um grande aumento da dívida externa
do país.
O robusto crescimento econômico do Brasil não estava relacionado ao desenvolvimento
social do país. Por isso, com inflação e o empobrecimento da população, os descontentamentos
com os governos militares se agravavam, especialmente na década de 1980. Constantes
manifestações populares ocorreram nessa época, já que os governos militares eram autoritários e
priorizavam somente questões voltadas ao desenvolvimento econômico e tecnológico, deixando
de lado questões do desenvolvimento social. Com tantas e violentas pressões, em mais de duas
décadas de governos militares, a redemocratização torna-se possível. E a partir de 1985, com o
Governo Sarney (1985-1990), inicia-se um processo de mudanças das tendências políticas
brasileiras.
Assim como no cenário internacional, a nova postura do governo brasileiro estabelece,
especialmente a partir dos anos 1990, uma política inovadora e com tendências neoliberais. Ou
seja, quando o Estado retira-se da economia e a deixa por conta do mercado, responsável agora
por regular e ditar o ritmo de crescimento das economias nacionais, inclusive a do Brasil, através
da conhecida lei da oferta e da procura. Seguindo tais tendências internacionais, o Estado
brasileiro deixa de investir como antes no D1 e em outros setores antes considerados estratégicos
ao desenvolvimento nacional, deixando que o capital externo assumisse essa responsabilidade.
14
O período conhecido como “milagre econômico” brasileiro compreende entre os anos de 1968 a 1973, quando o
Brasil apresentava altos índices de expansão econômica em relação aos demais países do mundo. O crescimento
industrial na época foi, em média, de 14 % ao ano. O Brasil superou esse período com forte retomada dos gastos
públicos, financiados principalmente por empréstimos internacionais, o que, conseqüentemente, fez a dívida externa
do país aumentar absurdamente nesse período.
84
Dessa forma, inicia-se o processo de privatizações das empresas estatais, terminando aos poucos
com o monopólio estatal em vários setores, como na siderurgia, na energia, nos transportes e na
infra-estrutura.
Como principal conseqüência dessa abertura econômica do Brasil nos anos 1990, tem-se
novamente um aumento acentuado da dependência externa, caracterizada pelo aumento
extraordinário da dívida externa e pela transferência do controle de capitais e tecnologias às
empresas estrangeiras, já detentoras de importantes setores da economia nacional. Por um lado,
esse processo de desnacionalização da economia brasileira beneficiou a modernização do parque
industrial nacional e facilitou o acesso das indústrias para as mais recentes inovações científicas e
tecnológicas mundiais do setor produtivo. Entretanto, por outro lado, reforçou a dependência
externa do país ao capital e tecnologia estrangeiros, como pode ser observado na tabela a seguir,
dificultando a execução de projetos nacionais de desenvolvimento, como ocorria antes nos
setores de informática e biotecnologia, e ainda limitando o desenvolvimento sócio-econômico do
país por causa da subordinação da dinâmica econômica nacional a interesses externos.
Dispêndios nas Atividades Inovativas no Brasil
Brasil ano 2000
Treinamento
R$ mil
417.592
Aquisição externa de P&D
630.739
Aquisição de outros conhecimentos externos
1.168.219
Introdução de inovações tecnológicas no mercado
1.420.759
Projetos industriais e outras preparações técnicas
3.297.406
Atividades internas de P&D
3.741.572
Aquisição de máquinas e equipamentos
11.667.339
Total dos Dispêndios
Fonte: Adaptação de Viotti; Macedo (2003).
22.343.626
85
A estabilidade econômica interna alcançada a partir de 1994, com o Plano Real, fez com
que a realidade começasse a mudar, apesar da continuidade das privatizações e da predominância
do capital e tecnologia estrangeiros na economia nacional. O Estado, impedido de atuar direta e
fortemente na economia, redireciona sua política econômica à manutenção da estabilidade interna
para atrair novos investimentos externos tanto na transferência de capitais e tecnologias como de
empresas, particularmente aquelas multinacionais. Na área social, o governo brasileiro progrediu
consideravelmente em algumas áreas, como combate à pobreza e à fome, melhoria da condições
de vida da população, combate a epidemias, etc.
Gráficos das Exportações e Importações Brasileiras por Fator Agregado (2004)
EXPORTAÇÃO POR FATOR AGREGADO
PRODUCTS CATEGORIES OF EXPORTS
PARTICIPAÇÃO % / % SHARE
JANEIRO-DEZEMBRO/ JANUARY-DECEMBER – 2004
Op. Especiais
Special Op.
1,6%
Básicos
Basics
29,6%
Semimanufaturados
Semimanufactureds
13,9%
Fonte: MDIC/SECEX. www.mdic.gov.br
Manufaturados
Manufactureds
54,9%
86
IM PO RTAÇÃ O PO R FATO R AGR EG AD O
PRODUCTS CATEG ORIES O F IM PO RTS
PARTICIP AÇÃO % / % SHARE
JANEIRO-DEZEM BRO / JANUARY-DE CEM BER – 2004
Básicos
Basics
18,6%
Sem im anufaturados
Sem im anufactureds
4,5%
M anufaturados
Manufactureds
76,9%
Fonte: MDIC/SECEX. www.mdic.gov.br
Atualmente, a economia brasileira apresenta uma boa diversificação de suas atividades e
setores econômicos e industriais, ainda que a maioria sob controle de empresas ou investidores
estrangeiros, e constitui-se numa das dez maiores economias do mundo. Tem um mercado interno
forte, mas boa parte de seu potencial está direcionado ao mercado externo. Como pode ser
observado nos gráficos anteriores, o Brasil exporta desde produtos agrícolas como soja, café e
algodão, produtos semi-industrializados como carnes, sucos, produtos lácteos, até produtos
industrializados com alto valor agregado e alto nível tecnológico como automóveis, aviões,
softwares, entre outros. Apesar disso, o Brasil necessita importar ainda muitos outros produtos,
principalmente aqueles dotados de alta tecnologia como produtos de informática, robótica e
biotecnologia, como pode ser comprovado pelas tabelas acima. Por isso, o crescimento e o
dinamismo da economia brasileira está condicionado à dinâmica econômica internacional, tanto
quanto a questões de investimento, capital, tecnologia estrangeiros como também a questões
ditadas pela lógica do mercado internacional, como por exemplo o desempenho de seu comércio
exterior.
87
3.3
A Economia Catarinense
Até o século XIX, o Estado de Santa Catarina apresentava uma economia pouco dinâmica
e praticamente agrícola e extrativista, geralmente voltada à subsistência de seus poucos habitantes
na época. A maioria deles era indígenas de várias etnias e alguns poucos portugueses que viviam
ao longo da costa marítima catarinense. Apenas as atividades pesqueira, extrativista e agrícola
tiveram algum destaque, como a pesca da baleia e a produção de farinha de mandioca, sendo
ambos destinados ao próprio consumo da população e o seu excedente ao comércio local.
Somente a partir do início do século XIX, Santa Catarina passa a conhecer um processo
de profundas transformações econômicas, políticas e sociais, particularmente após a chegada dos
primeiros imigrantes europeus, majoritariamente alemães e italianos. Até então, a paisagem
econômica catarinense era constituída pelas áreas de colonização açoriana no litoral, ligada a
atividade econômica da produção de farinha de mandioca, e paulista no planalto e serra, que
recém iniciara sua atividade como entreposto comercial do gado vindo do Rio Grande do Sul em
direção a São Paulo. Entretanto, ambas as atividades econômicas não produziram um dinamismo
suficiente, para que tais atividades pudessem dar um suporte adequado ao desenvolvimento
econômico catarinense. Mesmo assim, elas foram de suma importância no que se refere ao
povoamento do litoral e interior de Santa Catarina, que, mais tarde, serviria ao desenvolvimento
de um mercado interno estadual.
Segundo Hering (1987), o processo de desenvolvimento sócio-econômico catarinense
seria um processo específico e diferenciado em relação ao desenvolvimento econômico nacional.
Santa Catarina, ao contrário de outras regiões brasileiras, não contou com um meio-ambiente
favorável que propiciasse uma antevisão de suas possibilidades econômicas, como aconteceu
com o cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste e a mineração no Sudeste. Por isso, a colonização
em Santa Catarina estaria ligada muito mais a um transplante de uma cultura européia, segundo a
política do governo imperial, do que à potencialidade dos recursos naturais disponíveis na região.
Além disso, a ocupação de Santa Catarina por se tratar de uma região estratégica, já que o estado
sempre fora passagem entre o extremo-sul e os centros vitais da economia nacional, fez com que
88
a economia catarinense se desenvolvesse dentro de um isolamento regional e pouco integrado
com o conjunto da economia brasileira.
De qualquer maneira, a colonização européia em Santa Catarina, iniciada no final da
década de 1820, teve um papel crucial ao desenvolvimento econômico e industrial catarinense. A
forma de como ela foi feita determina muitas características marcantes ainda hoje na economia
do estado, como, por exemplo, a predominância de pequenas e médias empresas fundadas, na sua
grande maioria, por empresários-imigrantes, e o destacado dinamismo dos principais setores
industriais catarinenses quando foram fundadas as principais indústrias, principalmente têxteis
como a Hering (1880), Karsten (1882), D hler (1881) entres outras, mas também em outros
setores como por exemplo a primeira fundição, a Motzkeit (1893).
Durante as Primeira (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os reflexos à
Santa Catarina foram profundos, principalmente no que se refere à consciência, à cultura e à vida
dos imigrantes alemães frente a crescente desconfiança e discriminação social no Brasil. No
campo econômico, um dos principais impactos à economia catarinense, segundo Piazza e
Hübener (1987), foi o cancelamento do comércio com a Alemanha. Como a importação de
produtos alemães por Santa Catarina era bastante significativa, a interrupção do comércio
impediu a compra de matérias-primas e máquinas, prejudicando o desenvolvimento e a expansão
do parque industrial do estado, que nessa época já contava com cerca de oito mil
estabelecimentos industriais, na sua maioria têxteis e extrativistas.
O período entre 1914 e 1945, foi determinante ao processo de industrialização de Santa
Catarina por causa de uma série de fatores. Entre os principais estão o desenvolvimento e
consolidação de uma estrutura econômica e industrial baseada em pequenas e médias empresas; a
transição do país de uma economia agro-exportadora de café para uma industrial, devido à
necessidade de substituir importações em função da menor oferta internacional gerada pelas duas
Grandes Guerras, gera uma demanda interna maior por bens de consumo finais, o que abriu aos
poucos um importante espaço às indústrias catarinenses no cenário nacional; o setor têxtil voltase à exportação; os setores de extração de madeira e carvão crescem robustamente; o setor metalmecânico inicia suas atividades; o setor alimentício conhece uma forte expansão; ocorre a
incorporação da região Oeste na economia catarinense, depois do ganho de causa por Santa
Catarina frente ao Paraná na disputa territorial dessa região, a qual passa a ser colonizado por
gaúchos ítalo-germanos voltados à extração da madeira, à agricultura, à suinocultura e, mais
89
tarde, à agroindústria15; embora pouco expressiva nesse período, a imigração alemã foi mais
seleta, chegando pessoas com experiência técnica e organizacional, operários especializados,
engenheiros, técnicos e pequenos empreendedores, que contribuíram para a formação de mão-deobra mais especializada e até para a fundação de muitas empresas no Vale do Itajaí e na região de
Joinville; a proibição das importações, principalmente da Alemanha, contribuíram ao surgimento
do setor metal-mecânico, no que se refere à substituição de peças, máquinas e teares antes
produtos importados;
a substituição da erva-mate pela madeira como principal produto de
exportação catarinense na década de 1930. (FIESC, 2000).
O pioneirismo da indústria têxtil, portanto, interrompe-se a partir da Segunda Guerra
Mundial, quando a proibição das importações da Alemanha instaurou uma grande demanda por
bens e matérias-primas importadas para abastecer, principalmente, as indústrias têxteis, com
maquinários e matérias-primas, e as casas comerciais com bens de luxo ou manufaturados. Para
suprir essa demanda crescente, destaca-se novamente o papel de empresário-empreendedor,
quando ele redireciona capitais e investe em novos e diversificados empreendimentos conforme a
demanda por determinados bens, antes importados e que apresentam demanda crescente nas
cidades catarinenses. Nesse período, nasceram, ainda que de forma lenta e de caráter incipiente,
diversos ramos industriais com destaque ao surgimento das indústrias metalúrgica, siderúrgica,
material elétrico e de transporte, cerâmica, carbonífera, agroindústria, etc.
Nesse sentido, os imigrantes alemães desenvolveram as industrias têxteis, metal-mecânica
e alimentar no Vale do Itajaí e região Nordeste do Estado; enquanto os descendentes de italianos
foram responsáveis pela indústria carbonífera no Sul e os descendentes ítalo-germânicos pela
agroindústria no Oeste. Dessa maneira, a indústria de transformação sofre um alteração na sua
estrutura: as indústrias tradicionais (têxtil, vestuário, alimentícia e mobiliária) apresentaram um
redução da sua participação na produção industrial catarinense, passando de 87,5 % em 1939 para
76,8% em 1965; enquanto as indústrias dinâmicas (minerais não-metálicos, metalúrgica, papel,
plásticos, mecânica, material de transporte e elétrico) progrediam constantemente e praticamente
dobraram sua participação no mesmo período, passando de 12,5% em 1939 para 23,2% em 1965
do total da produção industrial catarinense. (SANTAMARÍA, 1994).
15
Segundo dados da FIESC (2000), 76.394 migrantes descendentes de alemães e italianos oriundos do Rio Grande
do Sul ingressaram na região Oeste de Santa Catarina entre as décadas de 1920 e 1940. Esse robusto fluxo migratório
fez com que a participação do estado na população brasileira subisse de 2, 18 % em 1920 para 2,9 % em 1940.
90
Paralelamente, conforme Michels (1998), inicia o processo de integração da economia
catarinense à economia nacional, a partir do momento, que esta passa a demandar por produtos
produzidos pelas indústrias catarinenses, como foi o caso das indústrias metais-mecânicas à
indústria automobilística de São Paulo, o da indústria carbonífera ao setor energético (Usina de
Volta Redonda) do Rio de Janeiro e da agroindústria no abastecimento da região Sudeste. Nesse
contexto, a economia catarinense passa a integrar-se cada vez mais com a economia brasileira,
tanto como fonte consumidora quanto fornecedora de produtos e serviços ao resto do país.
A partir da década de 1970, a paisagem industrial de Santa Catarina conhece novamente
significativas transformações, especialmente após uma melhoria nas infra-estruturas do estado e
nas linhas de crédito aos empresários. Projetos e créditos financiados a partir de instituições do
governo federal e estadual, como o BNDES, BRDE e BESC, possibilitam uma maior oferta de
energia elétrica com o aumento da capacidade produtora da CELESC, de estradas de rodagem
como a BR 101, a 470 e a 282, e ainda a ampliação de empresas já constituídas e a criação de
várias novas empresas no estado através do uso desse crédito oferecido.
A consolidação da maioria das indústrias e da diversificação industrial catarinense ocorre
nos anos 1970, quando Santa Catarina conquista o mercado nacional em vários segmentos, como
os de produtos eletro-metal-mecânicos, têxteis e vestuários, revestimentos cerâmicos, tubos e
conexões, produtos agro-industriais, etc. Por isso, a década de 1970 foi considerada como a
década de ouro ao desenvolvimento industrial catarinense. A partir daí, “Santa Catarina passou a
figurar com destaque na oferta brasileira nos ramos tradicionais e dinâmicos, conforme se
desprende das participações nos valores de transformação industrial do Brasil.” (CUNHA, 2000,
p. 298).
A década de 1990, quando ocorre a abertura econômica do Brasil e sua integração na
economia internacional globalizada, trouxe às indústrias brasileiras e também às catarinenses, no
geral, profundas e importantes transformações. Os resultados foram uma verdadeira
reestruturação produtiva, exigida segundo as novas tendências mundiais ditadas num cenário de
grandes conglomerados empresariais altamente competitivos e inovadores. Diante disso, a
indústria brasileira viu-se obrigada não somente a renovar seu parque de máquinas para tornar-se
internacionalmente competitiva, mas principalmente a reorganizar sua forma de administrar
produção e recursos humanos e a reestruturar sua produção através da introdução de processos
inovadores e/ou novas tecnologias como programas de controle de qualidade total (total quality
91
control) e processos mais flexíveis de produção e gestão empresarial como a terceirização, o
quick response, o just-in-time16, etc.. Fatores ou processos, que sem os quais, certamente os
vários setores industriais brasileiros, especialmente setores com um forte perfil exportador como
os catarinenses, não seriam capazes de ganhar em produtividade e competitividade diante dos
grandes conglomerados internacionais dominantes no atual contexto internacional.
Ao explorar nichos de mercados nos quais eram competitivas, as empresas catarinenses
assumiram rapidamente a liderança nacional em vários setores industriais como a agroindústria
(suínos e aves), tubos e conexões, matérias plásticas, cerâmica de revestimento, refrigeradores e
ar condicionado, motocompressores e motores elétricos. Além disso, os produtos catarinenses
passaram a ocupar cada vez mais a pauta de exportações brasileiras, a partir da abertura de novos
mercados e com a comercialização de produtos de alto índice de competitividade, de tecnologia e
de qualidade. (FIESC, 2000).
3.3.1 A Imigração Alemã
A Alemanha durante o século XIX, século no qual iniciaram-se os movimentos
migratórios, passava por profundas e graduais transformações políticas, sociais e econômicas,
resultantes de três importantes processos que aconteciam paralela e concomitantemente na época,
ou seja, a industrialização, a urbanização e a unificação do país.
A industrialização alemã iniciou-se a partir da década de 1820, quando surgiram as
primeiras fábricas têxteis. Esse processo intensificou-se mesmo na década de 1830, com os
adventos da Zollverein (União Aduaneira Alemã) em 1834 e da ferrovia em 1835, que
desempenharam uma contribuição muito importante para o surgimento, desenvolvimento e
aperfeiçoamento de novos setores industriais na Alemanha, especialmente o carbonífero, o
siderúrgico, o metalúrgico e o da construção naval. Estes foram, portanto, os primeiros setores de
vanguarda no processo de industrialização da Alemanha, pois foram eles os que mais
16
Segundo Moraes (2002, p. 75), “Just-in-time é o sistema desenvolvido pela Toyota nos anos 30, próprio para a
economia japonesa, para a produção de pequenas quantidades de automóveis diferentes, no mesmo processo
produtivo. Consiste em suprir o mercado com aquilo que é demandado, quando é demandado, e na exata quantidade
demandada. O sistema de produção ‘toyotismo’ permite a redução dos estoques, dos custos de administração dos
estoques e do espaço físico”.
92
dinamizaram o desenvolvimento econômico alemão e serviram de sustentação ao
desenvolvimento industrial e tecnológico do país, inserindo-o anos mais tarde no centro da
Segunda Revolução Industrial.
Por outro lado, se o processo de industrialização na Alemanha se intensificava, as
indústrias necessitavam cada vez mais de mão-de-obra, já que a expansão industrial estava em
franca ascensão por causa da rápida consolidação do país como potência econômica de base
exportadora ainda no século XIX. Dessa forma, a constante demanda por mão-de-obra pela
indústria fez com muitos camponeses migrassem para as cidades na busca por melhores
condições de vida, intensificando expressivamente o processo de urbanização na Alemanha
especialmente nas décadas de 1840 e 1850. No campo, os camponeses viviam em precárias
condições e/ou eram expropriados de suas terras pelos grandes proprietários rurais, formada
principalmente pela aristocracia alemã da época. Por isso, cada vez mais os pequenos
camponeses abandonavam o campo e fugiam para as cidades, atraídos pela esperança de melhoria
de vida e ascensão social com o emprego nas indústrias urbanas. No entanto, o êxodo rural tomou
proporções gigantescas com a vinda de uma imensa massa de camponeses, principalmente
pequenos camponeses que formavam a maioria da população alemã nesse período, devido às
condições insustentáveis no campo. Com isso, o inchaço urbano tornava-se caótico, pois as
indústrias já não mais absorviam como inicialmente toda essa oferta de mão-de-obra crescente,
ou seja, a oferta de mão-de-obra era superior em relação à demanda nas indústrias.
Diante dessa situação, muitas pessoas ficaram desempregadas e as que estavam
empregadas recebiam, em geral, muito pouco pelo seu trabalho nas indústrias, pois, como havia
um significativo excedente de mão-de-obra, os empresários aproveitavam as circunstâncias para
superexplorar a mão-de-obra empregada e assim aumentar a produtividade das fábricas e seus
lucros.
A superexploração do trabalho da grande massa de trabalhadores proporcionou aos
capitalistas industriais uma grande acumulação de capitais, fazendo com que seus negócios
prosperassem e os ascendessem política e socialmente. Por isso, durante o século XIX quando as
indústrias estão surgindo e/ou consolidando-se na Alemanha, o prestígio político e social dos
empresários conhece uma significativa ascensão, passando a quebrar a longa relação monarquia e
aristocracia e a disputar novos espaços políticos nesse novo e transitório cenário político na
defesa de seus interesses. Dessa maneira, os empresários passam a influenciar cada vez mais na
93
política alemã, tanto que vão alicerçando uma aliança política com a monarquia e desbancando
cada vez mais a aristocracia alemã. O cenário político alemão estava passando por constantes
transformações, dentre elas as fortes influências liberais presente na Europa nessa época e a
consolidação dessa nova aliança monarquia e empresariado, o que fortalecia o poder dos
empresários e avalizava a situação dominante empresarial, ou seja, frente aos protestos de
trabalhadores contra a superexploração de seu trabalho.
Perante um contexto caótico de impotência e insignificância na política e de
superexploração do trabalho, desemprego, miséria em massa nas cidades, aliadas com precárias
condições de vida no campo e com as epidemias e as crises alimentares constantes na Europa no
século XIX, criou-se um contigente de alemães dispostos a imigrar para o Mundo Novo, ou seja,
a América. Somam-se ainda a essas pessoas os vários artesãos, desempregados e prejudicados
pela concorrência desleal com a indústria, colocando-os também em situação preocupante e
dispostos a imigrar. A opção pela imigração foi vista por muitos como a única saída da profunda
crise sócio-econômica, pela qual estavam passando. Além disso, a propaganda na Europa de
riqueza fácil e de rápida melhoria de vida na América fez com que muitos alemães optassem pela
imigração ao Brasil ainda na década de 1820.
Os primeiros imigrantes alemães chegaram no Brasil a partir de 1824 e tiveram como
principais destinos o Sul do país, segundo pretensões do governo imperial de colonização e
povoamento da região. Dessa maneira, as províncias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina
receberam as maiores levas de imigrantes, não somente alemães, mas também italianos,
poloneses, entre outros, que também fugiam das difíceis condições de vida em seus países. A
grande proporção dos fluxos imigratórios reflete a dimensão dos graves problemas sociais e
econômicos de quase todos os países europeus no século XIX.
A primeira colônia alemã em Santa Catarina foi São Pedro de Alcântara, criada em 1829,
mas que não obteve tanto sucesso como as colônias de Blumenau, Brusque e Joinville, fundadas
na década de 1850. Elas logo se desenvolveram por causa de suas melhores condições agrícolas
e, mais tarde, do advento da atividade industrial, possibilitando que elas prosperassem e se
estabelecessem como principal pólo econômico e industrial de Santa Catarina.
94
3.3.2
O Empreendedorismo do Imigrante Alemão
Recém chegados ao Brasil, os imigrantes alemães receberam pequenos lotes de terras para
cultivar e trabalhar. Aquela propaganda de riqueza fácil foi pura ilusão, porém a de melhorias nas
condições de vida foi real, mesmo que para isso alcançá-las fosse necessário muito trabalho.
Mesmo assim, a motivação dos imigrantes alemães sempre fora grande, pois já haviam superados
dois problemas que lhes afligiam na Alemanha: a fome e a falta de terra. Com seu trabalho no
Brasil, estabeleceram um sistema produtivo de subsistência, baseado no cultivo de alimentos para
o próprio consumo, nas pequenas propriedades de terras recebidas e não mão-de-obra familiar.
Inicialmente, foi assim que a maioria dos imigrantes alemães se instalou no Sul do Brasil.
Juntamente com eles, os imigrantes trouxeram técnicas de produção agrícola mais
avançadas em relação às praticas brasileiras, já que a maioria deles era de origem camponesa e
dominavam técnicas e conhecimentos de cultivo que se desenvolveram e evoluíram com o passar
dos séculos na Europa. Com isso, muitos imigrantes progrediram e melhoram suas condições de
vida, pois logo começaram a produzir excedentes e a comercializá-los nas vilas coloniais. Esse
comércio foi aos poucos formando uma economia monetária e um mercado interno regional.
Com a venda dos produtos agrícolas excedentes nas vilas, os imigrantes foram acumulando
lentamente pequenas quantias de capital, as quais muitas vezes foram utilizadas para quitar
dívidas, comprar novas terras ou ainda aplicadas na criação de pequenas manufaturas, muitas
delas comunitárias, para manufaturar e agregar valor à produção agrícola dos agricultores,
aumentando assim seus ganhos no momento de comercializá-los.
Por outro lado, entre os imigrantes alemães não vieram somente agricultores, mas também
artesãos e pequenos comerciantes. Estes, ao dedicaram-se inicialmente à agricultura, também
conseguiram acumular algum capital pelo comércio de seus excedentes agrícolas e, juntamente
com alguns poucos recursos financeiros trazidos da Alemanha, passaram a investir no comércio
e/ou na manufatura artesanal. Nesse contexto, surgiram as casas comerciais, estabelecimentos
que abasteciam as colônias e vendiam desde produtos agrícolas, alimentos até fios, ferramentas e
outros utensílios importados. Já os artesãos passaram a exercer
suas velhas atividades
profissionais em que trabalhavam na Alemanha, abrindo sapatarias, alfaiatarias, ferrarias,
95
chapelarias, etc.. A partir do desenvolvimento desses ramos e de seus capitais reinvestidos,
criaram-se as primeiras fábricas, especialmente na região de Blumenau e Joinville.
As primeiras fábricas surgidas foram as têxteis e de vestuário, apesar das péssimas
circunstâncias, que aliás eram muito contrárias ao surgimento das primeiras indústrias,
especialmente em função da escassez de crédito e falta de apoio governamental. Mesmo assim, as
indústrias surgiram e se consolidaram como importante atividade econômica ainda no final do
século XIX na região do Vale do Itajaí e Nordeste de Santa Catarina, particularmente devido a
um importantíssimo fator: o empreendedorismo do empresário-imigrante de origem alemã17. Os
imigrantes alemães que chegaram no Brasil durante a metade final do século XIX viram em seu
país de origem, no caso a Alemanha, o processo de industrialização nascer e se aprofundar,
trazendo consigo suas próprias experiências que lá presenciaram durante esse período. Por isso,
muitos artesãos, desempregados pela própria indústria alemã, e mesmo trabalhadores e técnicos
industriais imigraram para o Brasil e continuaram a trabalhar nesses ramos voltados à indústria,
contribuindo no estabelecimento e consolidação da atividade industrial como um importante setor
à economia catarinense.
A experiência profissional, de uns, e o espírito empreendedor, de outros imigrantes,
fizeram com que as condições necessárias ao surgimento das primeiras indústrias em Santa
Catarina florescessem com êxito. Através do capital, gerado no próprio mercado interno regional
e depois reinvestido na atividade industrial, foi possibilitada a importação de bens de capital da
Alemanha, destacando maquinário (teares, agulhas, ferramentas, peças de reposição, corantes,
etc.) e matérias-primas, as quais ainda eram escassas no Brasil como o algodão e a lã, para o
estágio inicial da produção têxtil catarinense.
“A contribuição técnica e empreendedora desses pioneiros [imigrantes alemães] em muito
facilitou o desenvolvimento da industrialização na Região Sul e fundamentalmente em Santa
Catarina.” (VIEIRA FILHO, 1986, p. 11). Portanto, o empresário-empreendedor, de origem
imigrante e germânica, foi o principal responsável pela consolidação e o sucesso alcançado pela
indústria de Santa Catarina, pois ele soube acreditar em seu espírito empreendedor e lidar com as
mais diversas adversidades da época, logrando sucesso indiscutível em seus empreendimentos e
contribuindo significativamente ao desenvolvimento econômico e industrial catarinense.
17
Schumpeter (1982) define o empresário-empreendedor como um dos principais agentes na promoção do
desenvolvimento, pois ele será o agente inovador do processo produtivo e realizará as novas combinações
necessárias para a evolução do sistema capitalista.
96
3.3.3 O Papel do Estado
Durante a fase inicial de implantação da indústria em Santa Catarina no final do século
XIX, os governos tanto o provincial quanto o imperial não se fizeram presente no processo de
industrialização catarinense. O governo catarinense estava ligado às elites estabelecidas no litoral,
desatentando-se das regiões interioranas do território catarinense.
A demora na implantação de políticas públicas voltadas à indústria na maioria das regiões
de Santa Catarina, principalmente nas de colonização alemã no Vale do Itajaí e no Nordeste
catarinense, incentivou um movimento dos próprios empresários na busca por melhores
condições e aportes para seus empreendimentos. Diante dessa situação, alguns empresários,
destacando novamente o espírito empreendedor do empresário-imigrante alemão, tomaram
importantes e decisivas iniciativas para criar linhas de crédito para investimentos, financiamentos
e infra-estruturas nessas regiões, garantindo assim a sustentabilidade de seus empreendimentos.
Entre as principais iniciativas estão a criação de companhias de navegação pelo Rio Itajaí-Açú, a
construção de pequenas ferrovias de ligação entre as cidades e os portos de Itajaí ou São
Francisco do Sul, a criação de casas bancárias ou sociedades de crédito, a instalação de pequenas
usinas hidrelétricas, etc. Estes novos empreendimentos foram, portanto, praticamente financiados
e liderados pelos próprios empresários-imigrantes, que viam nessas ações um complemento para
as atividades industriais da região e que o Estado deixou de lhes proporcionar.
No final da década de 1940, segundo Piazza e Hübener (1987), viu-se que a continuidade
do desenvolvimento econômico de Santa Catarina dependia de maiores investimentos por parte
do governo estadual em infra-estrutura para melhorar o escoamento da produção agrícola e
industrial de todas as regiões catarinenses. Com isso, Santa Catarina torna-se um dos primeiros
estados brasileiros a elaborar seu planejamento governamental. “Trata-se do ´Plano de Obras e
Equipamentos` - POE, com vistas a atingir o desenvolvimento através da construção de estradas
de rodagem, energia elétrica, agricultura, educação e saúde.” (PIAZZA; H BENER, 1987, p.
145). Esse plano foi efetivado somente em 1951, durante o governo Irineu Bornhausen, quando o
governo estadual realmente passa a investir em infra-estrutura e em outras políticas de apoio para
97
a maioria das atividades econômicas do estado, especialmente para as indústrias do Vale do Itajaí
e Nordeste catarinense.
Desde a década de 1930 com o governo Getúlio Vargas, o governo federal passou a atuar
diretamente
no
plano
econômico
brasileiro
através
da
elaboração
de
políticas
desenvolvementistas, as quais eram voltadas ao desenvolvimento econômico e industrial do país.
Iniciava-se o período da industrialização forçada pelo Estado via programa de substituição de
importações, comprovando o início da tendência para um Estado de inspiração política
keynesiana, ou seja, pela sua atuação direta e determinante na economia nacional, tendência a
qual se estenderá até a década de 1980. Entretanto, durante essas longas décadas (1930 – 1980)
de políticas públicas federais voltadas ao desenvolvimento econômico e industrial do Brasil, as
políticas do Estado foram destinadas, na sua grande maioria, aos setores industriais dos grandes
centros dinâmicos da economia nacional, isto é, às indústrias dos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, deixando a maioria das regiões periféricas industriais do país desprovidas de tais
benefícios federais. Por isso, muitos estados brasileiros, dentre eles Santa Catarina, viram-se
diante dessa situação obrigados a buscar outras alternativas e elaborar suas próprias políticas de
incentivo para suas indústrias.
A implementação de políticas públicas tanto pelo governo federal como pelo estadual fez
com que alguns poucos grupos empresariais fossem beneficiados. Em Santa Catarina a partir de
1950, constata-se que a maioria das políticas públicas estaduais nesse sentido beneficiara os
atuais grandes grupos empresariais catarinenses. O apoio do governo estadual, referente a
incentivos fiscais, financiamentos e promoção de infra-estruturas de apoio, beneficiou
especialmente os grupos empresariais do Vale do Itajaí e da região Nordeste do estado. Com
certeza, tal apoio do governo estadual a algumas poucas indústrias foi determinante na
consolidação de tais grupos no cenário nacional e internacional.
Com o fortalecimento do setor industrial em Santa Catarina, ocorre uma ascensão não só
social dos empresários, mas também política. Os principais grupos empresariais catarinenses
passam a influenciar na política estadual, principalmente na defesa de seus interesses. Reflexo
disso, foi a criação da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) e o
estabelecimento de outras entidades nacionais voltadas à indústria no estado, como o Serviço
Social da Indústria (SESI) em 1951 e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
em 1954. Com isso, os empresários passam a ter destacada atuação política e social em Santa
98
Catarina, mesmo que direta e/ou indiretamente. Ou seja, com o passar dos anos, a influência do
empresariado catarinense na política estadual gerou um evidente benefício em favor de seus
empreendimentos, principalmente em relação aos grandes grupos industriais do Vale do Itajaí e
da região de Joinville. Estes passaram a influenciar cada vez mais nas decisões políticas do
governo estadual e, geralmente, em seu favor. Como pode-se perceber, várias políticas estaduais
de incentivos fiscais, de financiamentos e de melhorias da infra-estrutura foram destinados ao
benefício direto das principais indústrias catarinenses. Certamente, se não houvesse tal influência
empresarial, o governo estadual não se voltaria de livre e espontânea vontade para viabilizar
recursos públicos para financiar obras, conjuntamente ou não com o governo federal, como a BR
101 e a modernização dos portos de Itajaí e São Francisco do Sul.
Além dos pontos já mencionados sobre o papel do Estado no desenvolvimento
catarinense, destaca-se ainda a associação entre o governo estadual e entidades comerciais e/ou
industriais catarinenses no que se refere à participação em ferias ou eventos internacionais. Como
exemplo disso, anualmente ocorre a missão empresarial catarinense à Feira Internacional de
Hannover na Alemanha. Nessa, que é a maior feira multisetorial do mundo, essa missão é
empreendida e formada pelo governo estadual em conjunto com o empresariado catarinense, o
qual é representado pelas suas entidades, a FIESC e o SEBRAE-SC. Ela tem como objetivos
primordiais divulgar as potencialidades de Santa Catarina no exterior, firmar negócios, contatos e
acordos de parcerias público-privadas e, especialmente, atrair novas e maiores possibilidades
através do intercâmbio de novas tecnologias, de informações, conhecimentos e experiências para
alavancar o desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico catarinense.
Portanto, o papel do Estado na economia catarinense torna-se contraditório, mas normal
em relação ao Brasil ou a maioria dos países periféricos mundiais que vivem sob a égide do
sistema capitalista. Se de um lado, o governo estadual interveio positivamente na economia
catarinense, quando implementou políticas para a expansão das atividades industriais e para a
melhoria das condições sociais, colocando o estado com destaques nacional e internacional por
possuir indústrias alta e tecnologicamente competitivas e por contar com um dos melhores
índices de desenvolvimento humano; de outro, ele contribuiu para aumentar a acumulação de
capitais e riquezas dos grandes grupos empresariais de Santa Catarina, calcada na
superexploração da massa trabalhadora, e que hoje despontam nacional e internacionalmente.
99
3.4
O Setor Metal-Mecânico Catarinense
Primeiramente, faz-se necessário definir quais ramos ou atividades industriais o setor
eletro-metal-mecânico abrange, para mais tarde partir para a sua análise em Santa Catarina. O
setor metal-mecânico é compreendido pelos seguintes ramos: a metalurgia, a mecânica, o
material elétrico, de comunicações e de transporte. Portanto, segundo Santamaría (1994), são
todos aqueles ramos que se dedicam à transformação de metais, englobando as fábricas de bens e
serviços intermediários, como fundições, forjarias, soldagem, etc., bem como aquelas que
produzem bens finais, como equipamentos, a maquinaria, veículos e outros materiais de
transporte e de comunicações. Essas são consideradas as atividades industriais dinâmicas da
economia, ou seja, as indústrias de bens de capital e bens de consumo duráveis.
Na análise sobre o setor metal-mecânico de Santa Catarina, como já visto anteriormente, a
colonização alemã teve um papel crucial ao desenvolvimento econômico e industrial catarinense,
especialmente a partir da metade final do século XIX quando aqui chegaram os imigrantesempreendedores. Eles foram responsáveis pelo surgimento da atividade industrial em Santa
Catarina ao aplicar os seus conhecimentos e técnicas mais avançadas no desenvolvimento dos
principais setores industriais catarinenses, dando impulso e dinamismo nas pioneiras e principais
indústrias têxteis como a Hering (1880), D hler (1881), Karsten (1882), entres outras. Além
dessas, os imigrantes alemães tiveram importante participação também em outras atividades
industriais, como por exemplo na primeira fundição, a Motzkeit fundada em 1893, constituindo
na primeira empresa desse ramo na época.
Nessa época, a participação alemã no processo de industrialização de Santa Catarina
inicia, portanto, no próprio processo de colonização das regiões do Vale do Itajaí e Nordeste
catarinense por imigrantes alemães, quando nelas muitos deles passam a dedicar-se ao
desenvolvimento inicial da atividade industrial. Por outro lado, vê-se que capitais alemães
também tiveram participação nesse processo, ou seja, além de alguns poucos recursos que alguns
imigrantes trouxeram consigo da Alemanha, houve a participação de alguns bancos alemães
nessas duas regiões. Um exemplo disso, é o financiamento feito por bancos alemães para a
construção de ferrovias, uma que ligaria várias cidades do Vale do Itajaí e outra Joinville às
cidades vizinhas. Esse financiamento foi realizado em 1899, mas as ferrovias foram concluídas
100
somente em 190918. (VIDOR, 1995). Esse fato comprova que, de alguma forma ou outra,
recursos e capitais alemães vindos da Alemanha contribuíram ao desenvolvimento industrial e
econômico de Santa Catarina.
Segundo Vidor (1995), as primeiras fundições criadas em Santa Catarina, nas duas
primeiras décadas do século XX, situaram-se principalmente na região Nordeste e no Vale do
Itajaí, quando os capitais para sua criação foram coletados junto à burguesia local e a bancos
alemães. A sucata de ferro era a matéria-prima e tecnologia utilizada nessas fundições era alemã,
produzindo utensílios agrícolas, peças avulsas para reposição e artigos domésticos.
Apesar das primeiras indústrias que compreendem o setor eletro-metal-mecânico em
Santa Catarina surgirem anteriormente, somente a partir das restrições de importar máquinas e
equipamentos provocadas pela Segunda Guerra Mundial, particularmente da Alemanha o maior
fornecedor dessas mercadorias até então19, o setor se expande significativamente, quando surgem
as suas principais e mais dinâmicas indústrias na região Nordeste do Estado, principalmente em
Joinville e Jaraguá do Sul. Nesse contexto, surgiram empresas como, por exemplo, a Fundição
Tupy (1938), a Schneider Motobombas (1946), a Carrocerias Nielsen (1946) e a Refrigeração
Consul (1950). Nas décadas seguintes, seguindo as oportunidades geradas na época pela restrição
de importações e a real necessidade de substituí-las, surgem novas e dinâmicas empresas no setor
eletro-metal-mecânico, como a Docol Metais Sanitários (1956), a Weg Motores Elétricos (1961),
a Schulz Compressores (1963), a Empresa Brasileira de Compressores – Embraco – (1971), a
Intelbrás (1976), entre outras. Por isso, pode-se dizer como Santamaría (1994, p. 2), ou seja, que
o “[...] setor Metal-Mecânico catarinense surgiu de igual forma ao nacional, produto da política
de substituição de importações.”
18
“No ano de 1899, na cidade de Berlim, foi fundada uma empresa, cujo maior acionário, o Banco de Bleishroeder e
Warschauer, colocou nove milhões de francos para a construção de uma rede ferroviária com vagões movidos a
vapor, que iria ligar várias cidades no Vale do Itajaí e, mais no norte, uma outra via que ligava Joinville às cidades
vizinhas. Os trabalhos em Blumenau não começaram senão em 1907, com novos acionistas, mantendo-se os bancos
alemães com o controle acionário. O primeiro segmento, de 31 km, foi concluído em maio de 1909. No mês de
outubro deste mesmo ano foram terminado mais 70 km e, mais tarde, esta via ligar-se-ia ao sudeste do Vale, tendo
como ponto final a cidade de Trombudo Central. A leste, a ferrovia chega ao porto de Itajaí.” (VIDOR, 1986, p. 35).
19
Para se ter uma idéia da importância da Alemanha nas importações totais catarinenses nessa época, Cunha (1982)
afirma que em 1886, Santa Catarina importava da Alemanha 36,4% do total de suas importações, alcançando a
incrível marca de 51,3% em 1908. Segundo Vidor (1986), em 1928, foram registrados 515 mil réis de importações
vindas da Alemanha, ficando muito acima do segundo colocado a Suécia com apenas 80 mil réis. Diante disso, a
Alemanha consolidou-se com principal país nas importações catarinenses, pelo menos até a Segunda Guerra
Mundial.
101
Portanto, nas décadas de 1950 e 1960, ocorrem a expansão e a diversificação das
atividades industriais em Santa Catarina e, nesse processo, ocorre também a ascensão das
industrias dinâmicas catarinenses, com destaque às do setor metal-mecânico. Elas consolidam-se
e já apresentam um bom desempenho, passando de uma participação de 5,2 % em 1949 para um
11,7 % em 1965 no total da produção industrial catarinense. (SANTAMARÍA, 1994). Segundo
Vidor (1995), esse crescimento quantitativo das indústrias do setor metal-mecânico deveu-se à
expansão das pequenas empresas, que passaram a fabricar materiais para a construção civil, como
portas, janelas, estruturas metálicas, esquadrias de alumínio, além dos já mencionados utensílios
agrícolas e peças de reposição. De qualquer forma, o setor metal-mecânico tornou-se nesse
período um importante setor econômico catarinense, que já começara a despontar nacionalmente.
Os capitais necessários para a formação das primeiras empresas do setor eletro-metalmecânico em Santa Catarina tiveram origem na acumulação de capital, permitida anteriormente
pelo comércio externo da erva-mate e da madeira que atingiram o seu auge nas décadas de 1920 e
1930. Entretanto, logo na década de 1940 e 1950, essas duas atividades econômicas entraram em
decadência, devido à crise vivida nesse período pela Argentina, principal importador de ervamate e também de madeira, e à Segunda Guerra Mundial que envolvia muitos países no esforço
de guerra, prejudicando as exportações catarinenses de madeira. Diante disso, houve um
redirecionamento de capitais dessas atividades para outras, especialmente às atividades
industriais como fundições, forjarias, fábricas de máquinas e equipamentos, ou seja, aquelas de
bens de capital e de consumo duráveis que até hoje dão importante sustentação à economia do
estado e alavancam as principais exportações catarinenses.
A alocação de recursos e capitais na formação do setor metal-mecânico se deu, além
daqueles gerados pelo comércio exterior (erva-mate e madeira), também pelo surgimento de
pequenas agências financiadoras e alguns bancos maiores, como, por exemplo, o Banco Regional
de Desenvolvimento do Sul (BRDE), o Banco da Indústria e Comércio (INCO) e o Banco do
Estado de Santa Catarina (BESC). Elas contribuíram ao desenvolvimento industrial catarinense,
quando redirecionaram os recursos para o financiamento e investimento em máquinas,
equipamentos, instalações físicas e infra-estruturas necessárias. (VIEIRA FILHO, 1986).
Além disso, na formação do setor eletro-metal-mecânico de Santa Catarina temos que
destacar a importante e destacada presença do empresário-empreendedor de origem alemã, este
que como Schumpeter (1982) destaca ser o principal determinante do desenvolvimento
102
econômico por realizar as novas combinações necessárias à inovação nas atividades produtivas.
Por isso, Schumpeter afirma que nem todos os empresários são empreendedores, pois muitos não
realizam as novas combinações (novos processos e produtos) e sim as copiam de outros, ou seja,
dos empreendedores. Dessa forma, pode-se afirmar que os empresários catarinenses, pelo menos
a grande maioria deles do setor eletro-metal-mecânico, são empresários-empreendedores,
conforme a definição schumpeteriana, pois eles foram um dos principais determinantes na
consolidação desse setor como uma importante e destacada atividade econômica para Santa
Catarina.
No âmbito nacional, em meados da década de 1950, o Governo de Juscelino Kubitschek
passou a atrair capitais externos na forma de empresas multinacionais, as quais foram
responsáveis pela implantação da indústria automobilística no Brasil. Isso fez com algumas
indústrias metais-mecânicas catarinenses, como por exemplo a Fundição Tupy, se tornassem
importantes fornecedoras de máquinas, equipamentos e peças para a indústria automobilística
nacional. Além disso, esse fato contribuiu para o salto desse setor em Santa Catarina e para
iniciar a progressiva integração da economia catarinense com a nacional.
É importante observar que a indústria de Blumenau [Vale do Itajaí e Nordeste
catarinense] não concorre, via de regra, com a de São Paulo e a do Rio. As empresas
que atingem o estágio de grande indústria, possuindo participação ponderável no
mercado nacional, são as que desempenham papel pioneiro em ramos virgens ou quase
virgens no Brasil. [...]. A condição de sucesso da penetração no mercado nacional
parece ter sido abrir mercados como estruturas monopolísticas ou oligopolísticas (oferta
concentrada em uma ou poucas empresas).” (SINGER apud MICHELS, 1998, p. 140).
No âmbito estadual, as relações de Santa Catarina com a Alemanha sempre foram muito
próximas, não somente no período inicial da colonização alemã no Estado, mas elas também
foram muito próximas e importantes durante o processo de industrialização catarinense. “O
relacionamento refletia a importância dos laços extracomerciais, dos quais Santa Catarina se
beneficiava com a transmissão de ‘know how’ e pelo estímulo ao ingresso de pessoal técnico da
Alemanha.” (CUNHA, 1982, p. 110). Dessa forma, Santa Catarina adquiriu conhecimentos
técnicos vindos da Alemanha, especialmente pelo ingresso de pessoal técnico e imigrantes
especializados e pela importação de máquinas e equipamentos mais avançados, que sem dúvida
contribuíram ao desenvolvimento industrial catarinense.
103
O setor metal-mecânico foi um dos mais beneficiados nesse processo de intercâmbio
tecnológico com a Alemanha. Como tratavam-se inicialmente de pequenas empresas industriais,
conforme Michels (1998), elas davam grande importância ao vínculo com a Alemanha, pois era
onde elas buscavam atualizar-se e modernizar-se. um exemplo disso, pode ser acompanhado pelo
exemplo da Weg de Jaraguá do Sul, fundada em 1961, mas que somente em 1968 inicia
[...] sua evolução efetiva, após viagem dos três fundadores à Europa e principalmente à
Alemanha, onde sentiram a necessidade de atualização da empresa. Inicialmente, sob o
aspecto tecnológico, passando a padronizar e estandartizar os produtos que até então
eram fabricados de forma empírica. Isto, envolveu a aquisição de um pacote
tecnológico (desenhos, especificações de motores, etc.). Feita a aquisição a Weg passou
a absorver e desenvolver a tecnologia, simultaneamente. Paralelamente, foi elaborado
um projeto de modernização do parque fabril [...]. Na ocasião foram feitos contatos com
fornecedores de máquinas e equipamentos visando dotar a empresa de uma
ferramentaria (Departamento Mecânico). Aparelhos de metrologia para a introdução do
controle de qualidade e equipamentos de produção modernos para a época. (VIEIRA
FILHO, 1986, p. 110-111).
A partir do exemplo da Weg, pode-se constatar um modelo muito comum de como ocorre
o intercâmbio tecnológico de empresas alemães para as catarinenses. Ou seja, inicia-se
geralmente com a ida de empresários catarinenses à Alemanha para estabelecer contatos e
acordos diretamente com empresas e/ou fornecedores alemães, visando transferir inovações
tecnológicas, seja na forma de máquinas ou equipamentos ou ainda na de processos inovadores
de produção e/ou de administração, as quais serão adquiridas e posteriormente incorporada na
produção e/ou na administração da empresa. Muitas empresas catarinenses, especialmente do
setor metal-mecânico, buscam constantes atualizações tecnológicas na Alemanha, sendo que tais
inovações são primeiramente incorporadas na produção e, depois de assimilada e aperfeiçoada tal
tecnologia, as empresas passam geralmente a desenvolver algum tipo de tecnologia ao mesmo
tempo que continuam a importar outros tecnologias.
Nas décadas de 1970 e 1980, devido à grande diversificação e à especialização técnica e
produtiva da indústria catarinense, ocorre a internacionalização das principais empresas
catarinenses, especialmente as do setor metal-mecânico, como a Weg, a Embraco, a Nielsen, etc.
Para tal internacionalização, muitas delas precisaram atualizar-se novamente e modernizar sua
produção para competir no mercado internacional. Pode-se constatar mais um benefício do
intercâmbio tecnológico com a Alemanha, no caso da Weg, mas que outras empresas catarinenses
também o fizeram.
104
Os anos oitenta levam os fundadores da Weg novamente à Europa, com o objetivo de
encontrar saída para o alto risco que corriam com a concentração das atividades
industriais no desenvolvimento de motores elétricos. [...]. Surge a diversificação, dentro
do produto básico: motores elétricos. O objetivo a sinergia, principalmente dentro do
campo eletroeletrônico e mecânica. As unidades industriais passariam a produzir: a)
alternadores, b) tacogeradores, c) motores de maior potência, e d) motores de corrente
contínua formando um pacote. Mais tarde, essa diversificação passou a complementar
outros produtos como, por exemplo, contadores, conversores, já entrando na eletrônica,
painéis para comando de motores, sub-estações, acionamento para máquinas, de forma
bastante ampla entre si. O projeto estava implantado. Recentemente, o grupo Weg
decidiu entrar na área de informática ou tecnologia de ponta (automação). (1986, 114115).
A década de 1970, segundo Cunha (2000), ficou caracterizada como os anos de ouro da
indústria catarinense. Houve a consolidação dos grandes grupos empresariais, os quais passaram
a ocupar a liderança em vários segmentos nacionais. Por outro lado, foi também a consolidação
das exportações catarinenses, devido à sua enorme expansão ocorrida nesse década. Em 1975,
elas eram de US$ 213 milhões, passando em 1980 para US$ 858 milhões, principalmente de
produtos agroindustriais e têxteis.
Além disso, a década de 1970 trouxe bons resultados às indústrias catarinenses,
especialmente as do setor metal-mecânico devido à expansão dos investimentos alemães no
Brasil. Durante a década de 1950, o Brasil recebeu muitos investimentos alemães, especialmente
na forma de empresas que se instalaram principalmente na região Sudeste do país. Entretanto, a
partir da década de 1970 outras regiões do Brasil começaram a beneficiar-se desse processo.
Nesse contexto, as empresas catarinenses se beneficiaram, pois conforme Lohbauer (2000, p. 5354) “o forte engajamento de grandes empresas [alemãs] no Brasil garantia o fornecimento de
produtos tecnológicos e de maior valor agregado das fábricas sediadas na Alemanha [...].” Assim,
as empresas catarinenses receberam consideráveis investimentos alemães, os quais se davam
especialmente na forma de novos produtos e/ou processos repassados por empresas alemãs e que
foram incorporados ao setor produtivo catarinense, significando um salto para a produção
industrial catarinense e um importante fator preparativo para a expansão das exportações
catarinenses verificada na década seguinte.
Nas décadas de 1980 e de 1990, vê-se uma constante alteração na pauta das exportações
catarinenses, quando as indústrias dinâmicas, especialmente as do setor metal-mecânico, passam
a participar mais ativamente e a conquistar cada vez mais novos mercados externos. Aqui,
105
destacam-se como principais produtos de exportação os motocompressores (Embraco), os
eletrodomésticos (Multibrás/Consul), os materiais elétricos (Weg) e de comunicação (Intelbrás).
A concentração das indústrias do setor metal-mecânico no Nordeste de Santa Catarina fez
com que ocorresse a formação de um cluster, ou seja, uma aglomeração das atividades industriais
de um mesmo setor numa determinada região, onde as empresas nela localizadas estabelecem um
tipo de inter-relação mútua entre elas. Esse relacionamento entre empresas não acontece apenas
por ligações físicas como rodovias ou ferrovias, mas também por meio de compartilhamento de
serviços, fornecedores e estratégias como consórcio de exportação ou estabelecimento de jointventures.20Além disso, como Nunes (2000, p. 413) destaca, que esse ambiente pode “[...]
representar o tipo de terreno mais fértil às estratégias de estímulo à inovação [...]”. Portanto, no
Nordeste catarinense consolida-se um cluster do setor eletro-metal-mecânico, o qual, de alguma
forma ou outra, beneficia o intercâmbio de tecnologias e informações entre as empresas que o
formam.
A abertura econômica do Brasil, ocorrida a partir da década de 1990, quando houve uma
significativa redução da taxa de importação, possibilitou a entrada de maiores quantidades de
mercadorias, capitais, investimentos e novas tecnologias, provenientes do exterior. A Alemanha,
nesse contexto, como uma das maiores economias exportadoras do mundo, passou a participou
ativamente nesse processo, exportando e importando tais bens e consolidando-se como um dos
principais parceiros comerciais brasileiros.
Além da esfera econômica, o Brasil tornou-se um dos principais países parceiros da
Alemanha na área da cooperação técnica e cientifica, como visto anteriormente segundo o MRE,
dada principalmente pela execução de projetos de parcerias públicas e/ou privadas nos mais
diversos setores. Santa Catarina também aparece nesse contexto. Nesse sentido, as parcerias e
acordos entre catarinenses e alemães abrangem várias áreas, destacando-se a execução de
projetos ambientais, agrícolas, industriais, educacionais, sociais, energéticos, de transportes e de
planejamento urbano. Entretanto, é na atividade industrial que mais ocorre a interação e a
cooperação técnico-científica entre ambos, sendo o setor metal-mecânico o mais atrativo e
beneficiado dos setores catarinenses nesse processo.
20
Joint-venture, segundo o dicionário Michaelis, trata-se de um empreendimento conjunto com fins lucrativos, do
qual participam duas ou mais pessoas (empresas) por um tempo determinado. Uma joint-venture acontece,
geralmente, quando duas ou mais empresas participam na formação de um empreendimento com fins de exportar
seus produtos, através do estabelecimento de uma firma ou de um ponto de distribuição e/ou representação no país
que desejam vender seus produtos.
106
Relações Comerciais entre Alemanha e Santa Catarina em 2004
Importações (US$)
Alemanha
249.991.699
Santa Catarina
111.471.686
Exportações (US$)
111.471.686
249.991.699
Saldo Comercial (US$)
- 138.520.013
+ 138.520.013
Principais Produtos Comercia
Máquinas,
lizados entre ambos
equipamentos, cevada,
produtos petroquímicos,
fertilizantes, etc.
Fonte: MDIC/SECEX. www.mdic.gov.br
Carnes, motores
elétricos,
motocompressores, móveis,
cerâmicas, refrigeradores,
autopeças, óleo de soja,
produtos alimentícios, etc.
Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), a Alemanha ocupa a quarta posição como principal destino das exportações
catarinenses, atrás respectivamente de EUA, Rússia e Argentina, e também a quarta posição na
origem das importações catarinenses, atrás respectivamente de Argentina, Chile e EUA. O total
das exportações catarinenses em 2004 foi cerca de US$ 4. 853 milhões e as importações somaram
em torno de US$ 1.508 milhões, gerando um saldo positivo na balança comercial de US$ 3.345
milhões. Isso representou quase 10 % do total do superávit registrado na balança comercial do
Brasil em 2004, ou seja, US$ 33.696 milhões. Com esses números, Santa Catarina aparece como
o sexto principal estado exportador do país, com cerca de 5% do total das exportações brasileiras,
atrás respectivamente de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.
Em relação a 2003, as exportações catarinenses tiveram um crescimento de 31,3% em 2004.
O intercâmbio tecnológico com a Alemanha, portanto, beneficiou o desenvolvimento
industrial de Santa Catarina, direta e/ou indiretamente. Pôde ser constatado que a importação de
máquinas, equipamentos, capitais, informações e novas técnicas e processos produtivos e
administrativos foram os principais mecanismos utilizados pelas empresas catarinenses para
adquirir e absorver novas tecnologias junto à empresas da Alemanha, um dos país mais
desenvolvidos econômica e tecnologicamente do mundo atual. A transferência da tecnologia
107
alemã às empresas catarinenses contribuiu, sem dúvida, à consolidação do parque industrial
catarinense e o seu destaque nos cenários nacional e internacional. Diante disso, as principais
empresas catarinenses, em especial as do setor metal-mecânico, estabeleceram-se como
importantes fornecedoras de mercadorias de alto conteúdo tecnológico e alto valor agregado aos
mercados nacional e internacional, consolidando a região Nordeste de Santa Catarina como um
dos principais pólos industriais do Brasil e com um importante nível de participação na pauta de
exportação brasileira.
108
Considerações Finais
Conforme descrito nos capítulos precedentes, a tecnologia está no centro de qualquer
evolução necessária ao desenvolvimento econômico de um país, enfatizando sua destacada
importância nesse contexto. No setor produtivo, no qual ela se destaca por ser vista e presenciada
mais facilmente por nós, ela engendra novos processos e novos produtos, expandindo o
crescimento industrial, impulsando o desenvolvimento de uma economia nacional e, muitas
vezes, também livrando o sistema capitalista mundial de uma crise ou recessão. Uma importância
da tecnologia no desenvolvimento econômico, além de gerar novos processos e/ou produtos, é o
seu poder de aumentar a produtividade, a competência, a competitividade e, finalmente, a
lucratividade de um setor industrial ou de uma empresa, por exemplo. Visto esses quesitos e,
conseqüentemente, a maior acumulação de capital que ela proporciona, seu valor comercial é
altíssimo e, em função disso, os poucos países do mundo que a dominam, como Alemanha, Japão
e EUA, e criam restrições para exportá-la. O domínio tecnológico tornou-se, portanto, uma
importante peça no jogo geopolítico e econômico disputados pelos países centrais do capitalismo
mundial, restando à maioria dos países periféricos apenas tecnologias já difundidas e obsoletas
descartadas por aqueles. Por isso, torna-se praticamente impossível um país, somente pela sua
própria vontade, alcançar um alto nível tecnológico, bastando-lhes contentar-se com aquela
tecnologia já repassada e ultrapassada e dependendo tecnologicamente dos centros dinâmicos
mundiais.
Nesse contexto, os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, buscam
incessantemente adquirir tecnologias dos países desenvolvidos, importando-as na esperança de
contribuir ao desenvolvimento de suas economias, visto que geralmente preferem importar do
que incentivar a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico em seu próprio território.
O Estado, muitas vezes endividado interna e externamente, não consegue nem se quer
impulsionar o seu próprio desenvolvimento econômico e social, quem dirá subsidiar a pesquisa e
o desenvolvimento científico e tecnológico. Tornando impossível investir em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), o Estado atribui essa função à iniciativa privada, na qual há uma
relativa predominância de empresas multinacionais, as quais geralmente não estão preocupadas
com desenvolvimento econômico e tecnológico do país. O que fazem, é explorar a mão-de-obra
barata e apossar-se dos recursos naturais disponíveis e dos incentivos governamentais dados.
109
Além disso, a maior parte da tecnologia empregada no desenvolvimento e fabricação de seus
produtos não é repassada ao país, pois ela é pesquisada e desenvolvidas nos países-sede ou de
origem dos grandes conglomerados transnacionais, estabelecendo num país em desenvolvimento
somente instalações fabris destinadas à montagem final de seus produtos ou algumas
representações comerciais. Nesse contexto, o domínio tecnológico é totalmente preservado pela
matriz, ou seja, pela empresa multinacional sediada num país desenvolvido, restando ao país da
filial pouco ou quase nenhum benefício ao seu desenvolvimento econômico e tecnológico. Por
isso, muitos países, como o Brasil, apesar de dominarem alguns poucos ramos tecnológicos,
tornam-se ainda dependentes do dinamismo técnico-científico dos países desenvolvidos.
Nesse ponto, já se comprova a superioridade do desenvolvimento tecnológico da
Alemanha, pois ela é um dos países desenvolvidos que mais investe no Brasil na área industrial,
principalmente na forma de transferência e instalação de empresas multinacionais alemãs no país.
Somente pelo fato de a Alemanha possuir um número elevado de empresas multinacionais muito
conhecidas mundialmente, vê-se que as empresas alemãs, por terem e para sustentarem tal status,
investem muito em pesquisa e desenvolvimento e, com o importante papel do Estado alemão
como provedor de infra-estrutura e investidor assíduo em educação e formação técnica de alta
qualidade, em ciência e tecnologia (C&T) e em pesquisa e desenvolvimento (P&D), tem
contribuído, e muito, ao desenvolvimento econômico e tecnológico da Alemanha nos últimos
anos.
Além disso, o avançado nível do desenvolvimento tecnológico da Alemanha deve-se à
razão de que ela foi um dos países-berços da Segunda Revolução Industrial no final do século
XIX e início do século XX e que ela participa ativamente na presente Terceira Revolução
Industrial, em curso desde o final do século passado, juntamente com outros países
desenvolvidos, como EUA e Japão. Portanto, se comparada com o Brasil, a Alemanha teve um
capitalismo diferenciado, isto é, um capitalismo que, apesar dos adventos contrários como as
duas Grandes Guerras por exemplo, ofereceu todas as condições necessárias (mão-de-obra
especializada, significativa acumulação de capital e crédito bancário) para que ela se
desenvolvesse muito rapidamente e se tornasse essa potência econômica mundial, calcada nas
exportações de produtos sofisticados e altamente competitivos com um alto valor agregado e um
alto grau tecnológico dos mais diversos ramos industriais do país, destacando-se os setores eletrometal-mecânico, automobilístico, de biotecnologia, robótica e informática.
110
Não é à toa, portanto, que Santa Catarina tentava de todas as maneiras absorver um pouco
desse dinamismo industrial e tecnológico alemão para desenvolver sua economia. Conseguiu
isso, por um acaso inicial, quando chegaram os imigrantes alemães em terras catarinenses, os
quais foram expulsos de sua pátria por causa das péssimas condições sócio-econômicas em que
viviam, frutos daquele mesmo capitalismo que ajudou o seu país a desenvolver-se. Em Santa
Catarina, os recém chegados imigrantes alemães trataram logo de construir sua nova pátria,
desempenhando um importante papel no desenvolvimento econômico catarinense. Fruto de seu
trabalho na aplicação de seus conhecimentos profissionais e técnicos, proporcionaram o
surgimento da atividade industrial em solo catarinense. Devido a relativa escassez de capital, de
crédito e de políticas públicas por parte dos governos estadual e federal, o advento da indústria
em Santa Catarina deveu-se especialmente ao empreendedorismo do imigrante-empresário de
origem germânica. Isso comprova o caráter do empresário-empreendedor segundo as concepções
de Schumpeter, pois ele torna-se o principal determinante do desenvolvimento econômico ao
combinar processos e produtos inovadores no setor produtivo. Em Santa Catarina, apesar de todas
as adversidades da época, o empresário-empreendedor, especialmente o de origem imigrante e
germânica, viu nos momentos difíceis e de crise a oportunidade de crescer, fazendo surgir as
primeiras fábricas têxteis e, mais tarde, de outras atividades de transformação industrial, como as
dos setores alimentícios, de bebidas e do importante eletro-metal-mecânico.
Além do próprio advento da indústria, outros benefícios originados pelo estabelecimento
de relações entre a Alemanha e Santa Catarina foram, especialmente, conquistados e/ou
relacionados à atividade industrial catarinense. Os benefícios pela importação de tecnologia
alemã estão evidentes no alto grau tecnológico alcançado pelos setores industriais catarinenses,
impulsionando a produtividade, a competência e a competitividade das empresas catarinenses,
fazendo-as conquistar rapidamente posições de liderança em vários setores no mercados nacional
e de destaque no mercado internacional. O setor eletro-metal-mecânico foi o principal
beneficiado nesse contexto, importando não somente tecnologia mas também técnicos alemães ou
enviando muitas vezes pessoas para a Alemanha com intenção de treinar e qualificar recursos
humanos junto a importantes e destacadas empresas alemãs ou participando de feiras
internacionais para o estabelecimento de acordos ou parcerias entre empresas para adquirir novas
tecnologias e conhecimentos. A partir daí, muitos moldes ou métodos alemães de pesquisa e
desenvolvimento foram incorporados e aplicados nas empresas catarinense, o que sem dúvida
111
impulsionou o seu próprio crescimento e beneficiou o desenvolvimento econômico de Santa
Catarina.
Conforme visto e analisado, conclui-se que o papel do Estado, no que diz respeito à sua
participação no desenvolvimento econômico de Santa Catarina, torna-se um tanto contraditório.
Ou seja, a partir do momento em que ele se posiciona como um importante agente fomentador e
regulador do processo de desenvolvimento econômico e industrial catarinense, conforme as
concepções de Keynes de Estado-interventor direto na economia através de seus vultuosos gastos
públicos, ele transforma-se gradativamente num simples instrumento de manipulação dos grandes
grupos empresariais catarinenses. Segundo as idéias de Marx, um Estado controlado pela
burguesia industrial e voltado para seus próprios interesses, ou seja, pura e simplesmente
aumentar a sua acumulação de capital.
Para finalizar as considerações finais, é imprescindível comentar dois importantes pontos
discutidos nesse estudo e que podem a vir constituir base para novos e futuros estudos em
diversas áreas, especialmente das relações econômicas internacionais. Primeiramente, a questão
de que Santa Catarina teria um desenvolvimento econômico diferenciado e isolado da economia
brasileiro é bastante complexa. Muitos autores chegaram a essa conclusão tendo como base que
Santa Catarina não dependeu dos fatores e condições geralmente apresentados no
desenvolvimento econômico do Brasil, constituindo-se numa diferenciação por possuir
endogenamente os fatores e as condições para o seu próprio desenvolvimento econômico. Como
visto no estudo, até certo ponto essa questão é verdadeira e clara. Entretanto, a partir das décadas
de 1950 e 1960, Santa Catarina passa a integrar-se, ainda que de forma lenta porém progressiva,
na economia brasileira. Portanto, atualmente, não se pode falar num “modelo catarinense de
desenvolvimento”, diferenciado e isolado da economia brasileira, ainda que essa questão seja
muito debatida e defendida por muitos economistas catarinenses hoje em dia.
Além da questão sobre o “modelo catarinense de desenvolvimento”, é também de
apreciável discussão a questão da acumulação de capital pelos grandes grupos empresariais de
Santa Catarina, sobre a qual a realidade muitos ocultam ou desconhecem. Ou seja, de que a
acumulação de capital foi forçada em cima da superexploração do trabalho e da manipulação do
aparelho do Estado em favor dos grandes grupos empresariais catarinenses. Certamente, essa foi
a forma encontrada para acumular uma grande quantidade de capital que elevou esses grandes
grupos empresariais catarinenses à elite empresarial nacional e, em alguns casos, à internacional.
112
Referências Bibliográficas
A
ESTRUTURA
Econômica.
Disponível
em:
<http://www.dw-
world.de/dw/article/0,1564,1050172,00.html>. Acesso em: 05 janeiro 2005.
ARAÚJO JÚNIOR, Aloysio Marthins. Tecnologia e crescimento econômico: a perspectiva
brasileira. São José: UNIVALI, set. 2002. Artigo desenvolvido para o evento “São José
Debate – A Cooperação Universidade-Empresa”.
BANDEIRA, Luis Alberto Moniz. Pentágono quis invadir o Brasil. Entrevista a DW-World.
Disponível em <http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1450782,00.html>. Acesso em:
03 fevereiro 2005.
BENKO, Georges. Economia, espaço e globalização: na aurora do século XXI. 2. ed. São
Paulo: Hucitec, 1999. Tradução de Antônio de Pádua Danesi.
BIELSCHWOSKY, Ricardo. Vinte anos da Ierj, cinqüenta anos de Cepal. In: MAGALHÃES,
João Paulo de Almeida; et al (Org.). Vinte anos de política econômica. Rio de Janeiro:
Contraponto, 1999.
BUNDESMINISTERIUM FÜR BILDUNG UND FORSCHUNG. www.bmbf.de
CÂMARA DE COMRCIO E INDUSTRIA BRASIL-ALEMANHA. www.ahk.org.br
CUNHA, Idaulo José. A industria catarinense no século XX. In: CORRÊA, Carlos Humberto
(ORG.). A realidade catarinense no século XX. Florianópolis: Instituto Histórico e
Geográfico de Santa Catarina, 2000.
______. Evolução econômico-industrial de Santa Catarina. Florianópolis: Fundação
Catarinense de Cultura, 1982.
DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E INFORMAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL. Perfil
da Alemanha. Frankfurt/Meno: Societätsverlag, 2000. Tradução de Assis Mendonça.
DIDAKTISCHES
Begleitmaterial.
Disponível
<http://www.ilch.uminho.pt/kultur/Didaktik%20Begeleitmaterial%20index.htm>.
em:
Acesso
em: 10 janeiro 2005.
DIE
BEGINNENDE
Industrialisierung.
Disponível
em:
<http://www.lsg.musin.de/Geschichte/gk/industrialisierung.htm>. Acesso em: 10 janeiro
2005.
113
DILLARD, Dudloy. A teoria econômica de John Maynard Keynes: teoria de uma economia
monetária. São Paulo: Pioneira, 1964.
FIESC 50 anos: uma história voltada para a indústria catarinense. Florianópolis: Editora
Expressão, 2000.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Org.). Alemanha: visões brasileiras. Brasília: Instituto de
Pesquisa em Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2000.
______. Brasil e Alemanha: a construção do futuro visões. Brasília: Instituto de Pesquisa em
Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 1995.
HERING, Maria L. R.. Colonização e indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de
desenvolvimento. Blumenau: Editora da FURB, 1987.
KEMP, Tom. A revolução industrial na Europa do século XIX. Lisboa: Edições 70, 1985.
LINS, Hoyêdo Nunes. Acenando para o novo século. In: CORRÊA, Carlos Humberto (ORG.). A
realidade catarinense no século XX. Florianópolis: Instituto Histórico e Geográfico de
Santa Catarina, 2000.
LOHBAUER, Christian. Brasil – Alemanha: fases de uma parceria (1964-1999). São Paulo:
Fundação Konrad Adenauer, 2000.
MAGALHÃES, João Paulo de Almeida et al (Org.). Vinte anos de política econômica. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1999.
MEMORANDO de Entendimento entre o Ministro da Ciência e Tecnologia da República
Federativa do Brasil e a Ministra da Educação e Pesquisa da República Federal da
Alemanha sobre Cooperação Científica e Tecnológica em Áreas Prioritárias. Disponível
em: <http://www.mct.gov.br/prog/coop_int/coop_bilateral/alemanha.htm#>. Acesso em: 05
janeiro 2005.
MICHELS, Ido Luiz. Crítica ao modelo catarinense de desenvolvimento: do planejamento
econômico – 1956 aos precatórios – 1997. Campo Grande: Ed. UFMS, 1998.
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. www.mre.gov.br
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR.
www.mdic.gov.br
MORAES, Orozimdo José de. Investimento Direto Estrangeiro no Brasil. São Paulo:
Aduaneiras, 2002.
114
MOTOYAMA, Shozo (Org.). Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil. São
Paulo: EDUSP, 2004.
_______. (Org.). Tecnologia e industrialização no Brasil: uma perspectiva histórica. São Paulo:
Editora da USP: Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, 1994.
OLIVEIRA, Amaury B. P. de. A questão alemã desgasta a pax americana. In: GUIMARÃES,
Samuel Pinheiro (Org.). Alemanha: visões brasileiras. Brasília: Instituto de Pesquisa em
Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, 2000.
PIAZZA, Walter F; H BENER, Laura M.. Santa Catarina: história da gente. 2. ed., rev. e amp.
Florianópolis: Editora Lunardelli, 1987.
RANGEL, Ignacio. Ciclo, tecnologia e crescimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1982. Coleção Retratos do Brasil, vol. 158.
RATTNER, Henrique. Impactos sociais da automação: o caso do Japão. São Paulo: Nobel,
1988.
SANTAMARÍA, Luis F. S. Diagnóstico da produtividade do setor metal-mecânico do Estado
de Santa Catarina. 1994. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC,
1994.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.
SCHUMPETER, Joseph A.. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Série Os
Economistas. Introdução de Rubens Vaz da Costa. Tradução de Maria Sílvia Possas.
SEITENFUS, Ricardo. Hitler tentou “nazificar” alemães no Brasil. Entrevista a DW-World.
Disponível em <http://www.dw-world.de/dw/article/0,1564,1450461,00.html>. Acesso em
03 de fevereiro de 2005.
SENE, E.; MOREIRA, J. C.. Espaço geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 1998.
SIMÕES, Auriphebo Berrance. Dicionário Michaelis - UOL. Michaelis Soft Executivo.
SINGER, Paul. Curso de introdução à economia política. 8. ed.. Rio de Janeiro: Forense;
Universitária, 1983.
SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento econômico. 4. ed.. São Paulo: Atlas, 1999.
VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Blumenau; Ed. da
FURB, 1995.
115
VIEIRA FILHO, Ady. As raízes da industrialização: grupos empresariais catarinenses – origem
e evolução. Florianópolis: Ed. do Autor, 1986.
VIOTTI, Eduardo Baumgratz; MACEDO, Mariano de Matos (Org.). Indicadores de ciência,
tecnologia e inovação no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2003.
Download