ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE GARÇA - ACEG FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FASU CURSO DE PSICOLOGIA “ETIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA ESQUIZOFRENIA: DIFERENTES PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS ATUAIS” Geuza Ferreira De Morais Garça – São Paulo – Brasil 2006 2 ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE GARÇA - ACEG FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FASU CURSO DE PSICOLOGIA “ETIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA ESQUIZOFRENIA: DIFERENTES PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS ATUAIS” Geuza Ferreira De Morais Orientadora: Dra. Regina de Cássia Rondina Trabalho apresentado à Faculdade de Ciências da Saúde, como uma das exigências para obtenção do grau de Bacharel Psicologia. Maio / 2006 Garça - SP 3 Ficha Catalográfica: Morais, F. Geuza Etiologia e Desenvolvimento da Esquizofrenia: Diferentes Perspectivas e Tendências Atuais/ Geuza F. Morais – Garça – São Paulo.FASU.2006 84 páginas. Psicologia 1.Psicologia I. Morais,F. Geuza II. Título 4 FOLHA DE APROVAÇÃO: Geuza Ferreira de Morais “ETIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA ESQUIZOFRENIA: DIFERENTES PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS ATUAIS” Este trabalho de Conclusão de Curso foi aprovado como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia. Realizado na Faculdade de Ciências da Saúde – FASU, pela Banca Examinadora formada pelos professores: ___________________________________________Nota:_____ _ Prof. ___________________________________________Nota:_____ _ Prof. ___________________________________________Nota:_____ _ Prof. Média:__________ Data da apresentação: _______/________/_______ Garça – São Paulo – Brasil 2006 5 EPÍGRAFE: HAVERÁ SEMPRE UMA LUZ QUE NOS GUIA Por mais difícil que seja... Uma solução haverá de ter... Uma luz... Por menor que seja haverá de aparecer, quando tudo na vida escuro estiver. Por mais sofrida que seja a luta, sairemos vencedores se acreditarmos, se enxergarmos além de toda escuridão... O importante é não desistir nunca! Mesmo que venham ventos contrários...Mesmo quando parecer que todos o esqueceram...alguém há de se lembrar de sua importância... E se este alguém tiver que ser você mesmo...só você...acredite mais profundamente ainda... Pelo menos você acredita e isso é muito importante quando se está numa batalha! Acreditar em sua competência, seus bons propósitos...Acreditar que a vida poderá, sim, oferecer-lhe algo de bom através de seus esforços. Há uma luz em cada um de nós que jamais poderemos deixar apagar: a luz do amor próprio, da confiança, a LUZ INFINITA DO AMOR! E se mesmo assim alguém conseguir vencê-lo, seja por que motivo for...ainda assim o vencedor será você! Porque “o maior vencedor não é aquele que vence uma guerra, mas aquele que não perde uma batalha”...Aquele que não desiste nunca de lutar...Pois aquele que não luta, já perdeu antes mesmo de começar! Aquele que o venceu, prejudicando-o de alguma forma, terá uma alegria passageira... enquanto que sua vitória será eterna...Porque sua arma é o AMOR! Autora: Geuza Morais Não há derrota que derrote quem um dia nasceu para vencer! 6 DEDICATÓRIA: Dedico minha monografia a três “Pessoas”, que me ensinaram, com suas maneiras singulares de ser, a importância de se enxergar o outro como um igual, apesar das diferenças físicas, mentais, sociais e econômicas de cada um: Ao Sr.Wilson Shimizu, presidente da ACEG, na figura de “pai”, “amigo” e exemplo de “Ser Humano”; pela compreensão de minhas limitações e dificuldades, por acreditar em minha capacidade de vencer, pelo incentivo e apoio nos momentos mais difíceis, pelo respeito, carinho e atenção. Ao Sidney P. S. Bissoli, meu terapeuta por quatro anos, pelo respeito por minha individualidade como pessoa, pela sabedoria na hora certa, uma palavra amiga e um “colo”, quando ninguém me compreendia e eu mais necessitava, fazendo-se representar em minha vida, como um exemplo, de um grande profissional,conduzindo-me ao início ardoroso, mais necessário, encontro comigo mesma, ajudando-me a perceber que em cada etapa do processo de autoconhecimento além de um desafio, é um aprendizado. Por me ajudar a compreender que “o acreditar e o amar, começa em mim mesma”, que “nada é obra do acaso...e tudo tem uma razão de ser”; e que, aquilo que se opta “Ser” é responsabilidade individual de cada um.Você foi e é um exemplo de profissional e de pessoa que sempre levarei comigo onde eu estiver. Obrigada!!! À minha supervisora: Dra.Regina de Cássia Rondina, pela dedicação, responsabilidade, profissionalismo, por todo incentivo,orientação, colaboração e ajuda para a realização deste trabalho e, principalmente, pela consideração como aluna e pessoa, que sei que teve comigo. Sua atitude nada mais foi que uma atitude de quem realmente tem uma grande alma e também é exemplo de profissional em tudo o que faz. Com certeza, a presença de cada um contribuiu, de maneira especial, para meu crescimento pessoal e profissional . Que Deus os abençoe sempre e que a vida lhes traga muito Sucesso, Paz e Amor! 7 AGRADECIMENTOS: Meus sinceros agradecimentos à direção da FASU, na pessoa da Prof. Dra. Alessandra de Morais Shimizu, por colaborar na minha formação profissional, incentivando-me sempre que necessário com palavras de apoio, carinho e respeito. Aos meus pacientes, que tive durante o período de estágio, por contribuírem de maneira significante na minha formação.Obrigada por me mostrarem o quão é importante saber acolher os tesouros que outro Ser Humano deposita em nossas mãos! Aprendi muito com vocês! A minha colega de sala, Luciana Alves Amorim, por ter me acolhido com meus defeitos e qualidades, e me aceitado como “ Pessoa ”, pela credibilidade e respeito pelo meu caráter como ser humano, quando eu mais precisei. “Que a amizade tome conta de tudo aquilo em que acreditamos, incorporando o sonho de descobrir em cada pessoa que a gente gosta, uma outra metade de si mesmo”. Você é um dos maiores exemplos de “SER HUMANO!” Às demais colegas de classe, Ana Lúcia A . Elias, Fernanda Cantu, Isabela Paganini e Juliana Otomura, pela ajuda em alguns momentos, e pelos momentos de divergências os quais não deixei de aprender com eles e com vocês. Aos professores de todos os períodos, que exerceram de forma nobre e respeitosa sua bela profissão, como verdadeiros sacerdotes, proporcionando - me 8 uma boa formação profissional, deixo aqui, de maneira simples, minha admiração, respeito e gratidão. Ao Coordenador do Curso de Engenharia Florestal da FAEF, o amigo e Prof. Ms. Josébio Esteves Gomes, pela atenção, respeito, carinho, compreensão e ajuda. Ao Prof. Sidney S.P. Bissoli, por colaborar para a conclusão deste trabalho, pela brilhante orientação de supervisão na abordagem psicanalítica, proporcionando um maior conhecimento teórico e prático nessa linha de pensamento escolhida por mim, para o exercício de minha profissão. Também, de maneira especial, quero deixar meu agradecimento, carinho e admiração às alunas da segunda turma de Psicologia: Márcia, Maria Aparecida (Cidinha) e Nátaly, pelas palavras amigas, e os gestos de ajuda em momentos difíceis e de necessidade.Posso dizer, com certeza, que àqueles que forem depositados em suas mãos como pacientes, serão vistos e tratados com o profissionalismo e a humanidade que exige nossa profissão e que em vocês pude presenciar de perto. Aos meus pais, Gerôncio Januário de Morais (in memóriam) e Gersonita Ferreira de Morais (in memóriam) por terem permitido-me passar pela experiência de viver. À minha prima-irmã , Aparecida F. da Silva Oliveira, seu esposo Divino Luis de Oliveira e meus sobrinhos Klauber Augusto,Luis Paulo, Jéssica Cristina, Maria Luiza e Ana Beatriz, por, apesar de todas as dificuldades, terem me acolhido em seu lar como um dos seus, e pelo apoio moral e material sempre que puderam. Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram na realização deste.Dedico meu diploma e meu futuro àqueles que me ensinaram a viver com humildade e dignidade.Àqueles que me criticaram ou não acreditaram em minha capacidade de vencer por algum motivo, meus agradecimentos, pois “cresci com 9 suas atitudes”; vocês também foram motivos de incentivo e persistência nesse caminho percorrido até aqui e continuarão sendo nas, próximas batalhas que a vida me proporcionará. Eu acreditei e venci...Isso me basta! Finalmente, meu agradecimento à Deus e a Nossa Senhora de Fátima, que não me desampararam nesta jornada, tanto nos bons, quanto nos momentos difíceis. “Meus sentimentos são como minha impressão digital, como a cor dos meus olhos e o tom da minha voz: únicos e irrepetíveis. Para você me conhecer, é preciso que conheça meus sentimentos. Minhas emoções são a chave, você pode entrar e compartilhar comigo o que tenho de melhor a oferecer: eu mesmo” (Jonh Powell) 10 SUMÁRIO : Capítulos......................................................................................................Páginas 1- INTRODUÇÃO..................................................................................................13 Objetivos........................................................................................21 Metodologia...................................................................................22 2- DESENVOLVIMENTO......................................................................................23 A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ESQUIZOFRENIA, SEGUNDO EXPLICAÇÕES PERTINENTES A DIFERENTES ABORDAGENS.............................................23 2.1 O QUE É COMPORTAMENTO ANORMAL?...........................................23 2.2 Explicações da Teoria da Aprendizagem ................................................24 2.3 Explicações da Teoria Cognitiva..............................................................28 2.4 Explicações de Natureza Orgânico/Fisiológica........................................32 2.5 Explicações de Natureza Humanístico- Existencial.................................36 2.6 Explicações Para a Esquizofrenia, segundo a Ótica Psicanalítica...................................................................................................39 2.6.1 A Psicanálise: Ciência do Inconsciente................................................39 2.6.2 A Psicanálise: Evolução e Desdobramentos.......................................49 2.6.3 A Esquizofrenia, segundo a Ótica Psicanalítica...................................52 2.6.3.1 Influência da Dinâmica de Interação familiar no Desenvolvimento da Esquizofrenia, Segundo uma Visão Sistêmica............................................58 2.6.3.2 Transmissão Geracional........................................................................60 2.6.3.3 - A Construção da Psicose no Seio das Relações Familiares: O Papel dos Vínculos.......................................................................................................65 2.6.3.4 – Os Processos de Comunicação Intrafamiliares e o Surgimento de Sintomas Psicóticos...........................................................................................70 2.6.3.5 - O Tratamento da Pessoa com Esquizofrenia:Importância do Envolvimento de Familiares...............................................................................75 3-CONCLUSÃO....................................................................................................78 4-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................81 11 ETIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA ESQUIZOFRENIA: DIFERENTES PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS ATUAIS RESUMO:Este trabalho consiste em uma revisão da literatura sobre os fatores determinantes da origem e desenvolvimento da esquizofrenia. Foi efetuado um levantamento sistemático sobre as explicações de diferentes perspectivas do conhecimento científico sobre o assunto, destacando as tendências que estão surgindo sobre este assunto, no ideário contemporâneo vigente. Foi desenvolvida uma revisão da literatura sobre o conceito de "anormalidade", sendo este, subdividido em sub-tópicos que abordam as explicações de várias abordagens psicológicas sobre o assunto: Explicações da Teoria da Aprendizagem e Cognitivas; Explicações de Natureza Orgânico/Biológica, Explicações de natureza Humanístico-Existencial e Explicações Psicanalíticas. Em especial, este estudo aborda explicações de cunho psicanalítico para a origem e desenvolvimento da esquizofrenia, como o papel da dinâmica familiar no desenvolvimento da esquizofrenia segundo a ótica psicanalítica, transmissão geracional, o papel dos vínculos familiares na construção das psicoses, bem como os processos de comunicação intrafamiliar e sua contribuição no surgimento de sintomas da esquizofrenia. Finalmente, este estudo aborda a importância terapêutica do envolvimento de familiares, no tratamento da pessoa com esse tipo de transtorno. A literatura como um todo, permite afirmar a impossibilidade de tratamento mais eficaz para esse transtorno, sem que o profissional tenha um olhar global envolvendo todos os fatores apresentados por cada abordagem para atingir um diagnóstico mais preciso e cauteloso ,olhando assim pessoa como um todo que se integra: mente e corpo. Palavras-Chave: esquizofrenia, dinâmica familiar, abordagens psicológicas, psicose AETIOLOGY AND DEVELOPMENT OF THE SCHIZOPHRENIA: DIFFERENT PERSPECTIVES AND CURRENT TENDENCIES ABSTRACT: This report consists in a literature review about the determinants elements of the source and development of the schizophrenia. It was made a systematic search about the explanation of different perspectives of the scientific knowledge about the matter, detaching tendencies which are rising about this subject in the contemporaneous idea in force. It was developed a literature review about the abnormal conceit, which is divided in sub topics that approach the explanation of several psychology conceits about the matter such as Learning explanations, Cognitives, Explanations about Organic/Biological Nature, Explanation of humanistic existential Nature and psychoanalytic Explanations. Specially, this report approaches psychoanalytic explanations to the source and development of the schizophrenia, the rolls of the family dynamic in the schizophrenia development according to the psychoanalytic view, generation transmission, the role of the familiar link on the constructions of the psychoses 12 such as the process of communication intra-familiar and its contribution to the appearing of the schizophrenia symptoms. Finally, this report approaches the therapeutic importance of the familiars envelopment to the treatment of this disturb. The literature as a whole, allows to affirm the impossibility of more effective treatment for that upset without the professional has a global glance involving all the factors presented by each approach to reach like this a more necessary diagnosis and cautious, looking person as a whole that becomes complete: he/she/you lies and body Key-Words: Schizophrenia, psychological approaches , familiar dynamics, psychoses. 13 1. INTRODUÇÃO: O aparecimento e evolução de quadros de perturbação psicológica, no decorrer do ciclo vital, podem comprometer o ajustamento psicossocial e profissional do indivíduo, afetando sua saúde como um todo. Perturbações em um ou mais desses aspectos podem comprometer a saúde e a qualidade de vida de qualquer pessoa. Os principais transtornos psicológicos, codificados no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), são agrupados em : Transtornos geralmente diagnosticados no decorrer da infância e adolescência (como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtornos de Conduta, entre outros); Transtornos Relacionados ao Abuso ou Dependência de Substâncias; Transtornos do Humor; Transtornos Psicóticos; Transtornos Sexuais; Transtornos do Sono; Transtornos da Alimentação; Transtornos da Personalidade, entre outros (APA, 2002). Dentre os diferentes quadros de transtornos mentais descritos na literatura pertinente, destaca-se a esquizofrenia. Esta perturbação psiquiátrica vem sendo objeto de maciça investigação científica nas últimas décadas. A esquizofrenia é um transtorno psicótico caracterizado, principalmente, por sintomas como delírios, alucinações, disfunção social / ocupacional, entre outros critérios (APA, 2003). Há dois grupos principais de sintomas, que caracterizam o problema: (...) A esquizofrenia é uma doença mental crônica e incapacitante (...) geralmente se manifesta na adolescência ou início da idade adulta, entre 20 e 30 anos de idade (...).seus principais sintomas são: positivos: - diminuição ou perda das funções psíquicas , redução da afetividade, da motivação, pobreza de discurso e retraimento social; negativos: – distorção do funcionamento psíquico,com alucinações,delírios. (APA, 2003, p. 149). 14 Contudo, o diagnóstico da esquizofrenia nem sempre é fácil. Segundo critérios estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM-IV-TR (APA, 2003), a esquizofrenia caracteriza-se por: A - Sintomas característicos: No mínimo dois dos seguintes quesitos, cada qual presente por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês ( ou menos , se tratados com sucesso): (1) delírios (2) alucinações (3) discurso desorganizado (4 ) comportamento amplamente desorganizado ou catatônico (5) sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou abulia. Nota: Apenas um sintoma do critério A é necessário quando os delírios são bizarros ou as alucinações consistem em vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos do indivíduo, ou duas ou mais vozes conversando entre si.. B - Disfunção social/ocupacional: Por uma porção significativa do tempo desde o início da perturbação uma ou mais áreas importantes do funcionamento, tais como trabalho, relações interpessoais ou cuidados pessoais, estão acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou quando o início ocorre na infância ou adolescência,incapacidade de atingir o nível esperado de realização pessoal, acadêmica ou profissional. C – Duração: sinais contínuos da perturbação persistem pelo período de 6 meses.Esse período de 6 meses deve incluir pelo menos 1 mês de sintomas (ou menos se tratados com sucesso) que satisfazem o critério A (i.é, sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodômicos e residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas relacionados no Critério A presentes de uma forma atenuada (p.ex., crenças estranhas, experiências perceptuais incomuns). D – Exclusão de transtorno Esquizoafetivo e Transtorno de Humor. O Transtorno Esquizoafetivo e o Transtorno de Humor com Características Psicóticas foram descartados, porque (1) nenhum Episódio Depressivo Maior, Maníaco ou Misto ocorreu concomitantemente aos sintomas da fase afetiva, sua duração total breve com relação à duração dos períodos ativo e residual. E – Exclusão de substância/condição médica geral: A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou uma condição médica geral. F – Relação com um Transtorno Global do Desenvolvimento: Se existe um histórico de Transtorno Autista ou de outro Transtorno Global do Desenvolvimento, o diagnóstico adicional de Esquizofrenia é feito apenas se delírios ou alucinações proeminentes também estiverem presentes pelo período mínimo de 1 mês (ou menos, se tratados com sucesso) (APA, 2003 p.149-150). Critérios semelhantes são estabelecidos na Classificação Internacional das Doenças (CID-10): 15 F20- Esquizofrenia - Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto inadequado ou embotado. A consciência clara e a capacidade intelectual estão usualmente mantidas, embora certos déficits cognitivos possam surgir no curso do tempo. A perturbação envolve as funções mais básicas que dão à pessoa normal um senso de individualidade, unicidade e de direção de si mesmo. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem de desenvolver delírios explicativos, a ponto de que forças naturais ou sobrenaturais trabalham de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido, de forma que são muitas vezes bizarros (CID-10, 1993, p.85). Além disso, postula-se a existência de vários subtipos de esquizofrenia, definidos, principalmente, segundo a natureza dos sintomas apresentados pelo indivíduo: Pode-se subdividir a esquizofrenia em cinco tipos, de acordo com a sintomatologia predominante na ocasião da avaliação. São eles: tipo paranóide, desorganizado ou hebefrênico, catatônico, indiferenciado ou simples e tipo residual. A esquizofrenia paranóide é o tipo mais comum; no quadro clínico, predominam delírios e alucinações, além da perturbação do afeto e pragmatismo. No tipo desorganizado ou hebefrênico, a característica principal é a desorganização do pensamento; o discurso é incoerente, as associações de idéias são ilógicas; o prognóstico é ruim, principalmente pelo rápido desenvolvimento de sintomas negativos, como embotamento afetivo e perda da volição. A forma catatônica se caracteriza pelos sintomas psicomotores proeminentes, que podem se alternar, como hipercinesia, estupor ou obediência automática e negativismo. Atitudes e posturas forçadas podem ser mantidas por longos períodos, e episódios de agitação extrema podem ocorrer. Por razões desconhecidas, esta forma de esquizofrenia tem sido pouco vista nos dias atuais. A forma indiferenciada é a mais complicada de ser caracterizada; o quadro preenche critérios para esquizofrenia, mas não satisfaz os critérios para o tipo paranóide, desorganizado ou catatônico. Muitas vezes, esta forma de esquizofrenia é confundida com transtorno de personalidade. O tipo residual é a forma crônica da doença, onde se percebe uma progressão clara dos sintomas psicóticos da esquizofrenia; no estágio mais tardio, há predominância de sintomas negativos. (TENGAN; MAIA,2005, p.6). Estudos epidemiológicos sugerem que se trata de um problema com acentuada prevalência na população: A esquizofrenia acomete cerca de 1% da população; normalmente, a idade de início está entre 15 e 30 anos de idade. O termo ‘esquizofrenia 16 de início precoce’ se refere à idade de início anterior a 17-18 anos, e a de início muito precoce consiste em início antes dos 13 anos de idade. É uma doença rara na infância e, conforme avança a adolescência (próximo dos 11 anos), esses casos tornam-se mais expressivos. Apesar de existirem alguns relatos com idade inferior a 5 anos, estes são extremamente raros. Estima-se que cerca de 0,1 a 1% dos casos de esquizofrenia tenha iniciado antes dos 10 anos de idade e aproximadamente 4% antes dos 15 anos de idade. Talvez um subdiagnóstico da doença possa ocorrer devido a uma sobreposição de sintomas com outras patologias psiquiátricas (TENGAN; MAIA, 2005, p.7). Embora não seja comum, essa perturbação psiquiátrica pode ter início durante a infância. Segundo Tengan e Maia (2005, p. 7): (...) a esquizofrenia com início na infância apresenta algumas particularidades, quando comparada à de início na fase adulta. Quando iniciada antes dos 12 anos de idade, geralmente está associada a problemas de comportamento. Essas crianças costumam ser vistas como socialmente desadaptadas, estranhas e isoladas, com distúrbios de comportamento e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, entre outros aspectos. Os distúrbios do pensamento, principalmente desorganização de idéias, delírios, alucinações e afeto com pouca ressonância, são freqüentemente observados. Esses sintomas não se modificam com a idade, mas sua expressão varia, havendo em geral uma maior riqueza nas descrições, da doença conforme avança a idade (TENGAN; MAIA, 2005, p.7). Os mesmos autores acima citados ainda ressaltam que: Na infância, o problema costuma ter um início mais insidioso e muitas vezes, difícil de ser delimitado. Normalmente, os sintomas persistem por um ano antes de o problema ser diagnosticado, acarretando prejuízo para a criança e a família, já que o diagnóstico é feito na maioria das vezes, tardiamente, o que compromete as possibilidades de tratamento. A principal diferença entre a esquizofrenia de início na infância e na idade adulta é a diferença de prevalência entre os sexos. Enquanto na população adulta, incidência entre homens e mulheres é praticamente a mesma, na população infantil os meninos são duas vezes mais acometidos pelo transtorno, em comparação às meninas. Além disso, estudos têm apontado diferenças no curso da doença entre os sexos (TENGAN; MAIA, 2005, p. 7). Em geral, efeitos devastadores decorrem do aparecimento desta 17 perturbação: A deterioração mental nos pacientes com esquizofrenia é quase inevitável (...) Aproximadamente 10 a 20% das crianças com esquizofrenia apresentam rebaixamento de inteligência. A deterioração mental é significativamente maior, se comparada com as psicoses nãoesquizofrênicas. Além do déficit cognitivo, encontra-se também, em geral, déficit na atenção e no aprendizado e abstração, problemas comuns em pacientes com esquizofrenia (...) (TENGAN; MAIA, 2005, p. 7) É importantíssimo observar que a esquizofrenia apresenta um curso bastante variado e o surgimento / evolução de quadros deste problema pode ser influenciado por fatores de natureza diversa, tais como idade de início, tipo de esquizofrenia, gênero, além de uma gama de fatores individuais e ambientais, que podem interferir no prognóstico e evolução do quadro (TAYLOR, 1994 apud TENGAN; MAIA, 2005). A literatura como um todo, denota que o problema é altamente complexo: “O curso da esquizofrenia é bastante variado e influenciado por diversos fatores, como idade de início, tipo de esquizofrenia, gênero, além de fatores individuais e ambientais que podem interferir em seu prognóstico. Normalmente, o curso da doença é flutuante, inicialmente com uma fase prodrômica, seguida por uma fase ativa, de crise, com sintomatologia variada, onde normalmente é feito o diagnóstico. Com a evolução, episódios de crise, recuperação e fase residual são observados. Na esquizofrenia, normalmente após a estabilização da crise, o indivíduo não volta ao estado anterior; geralmente se percebe alguma alteração na afetividade e no pragmatismo: o chamado ‘defeito’ pós-crise. O prognóstico da doença é reservado, apesar de as novas terapêuticas farmacológicas terem favorecido muito uma melhora da doença. Fatores de um melhor prognóstico são: início tardio, fator precipitante claro, início agudo, antecedente social favorável, como trabalho e relacionamentos interpessoais, presença de sintomas depressivos, ser casado (o que claramente não se aplica aqui), sintomas positivos (delírios e alucinações) e suporte familiar e social favorável. Fatores de um pior prognóstico seriam: início precoce, não existência de fatores precipitantes, fatores pré-mórbidos, como má adaptação social e no trabalho, comportamentos autísticos, sintomas negativos, pouco suporte familiar e social, não remissão no período de 3 anos, muitas recaídas. A esquizofrenia na infância acaba tendo um pior prognóstico principalmente pelo início precoce e pela predominância de sintomas negativos (TENGAN; MAIA, 2005, p.10). 18 Diante do exposto, é possível afirmar que a revisão da literatura sobre doenças mentais, em geral, sugere que uma gama de variáveis de natureza diversa pode influenciar na etiologia e desenvolvimento de transtornos mentais, como a esquizofrenia. Atualmente, pesquisas efetuadas por psicólogos (de diferentes abordagens), psiquiatras, neurocientistas e profissionais de áreas afins, vêm resultando em um conjunto de explicações variadas, para a origem e evolução das psicoses esquizofrênicas. Como exemplo, Holmes (2001), destaca algumas das principais explicações científicas para quadros de perturbação mentais, vigentes no ideário contemporâneo: Explicações psicodinâmicas: o comportamento anormal origina-se de 1 conflitos intrapsíquicos; explicações baseadas em teorias da 2 aprendizagem: o comportamento anormal é aprendido no decorrer da história do indivíduo, segundo exposição a contingências de natureza diversa ; 3 explicações cognitivas: o comportamento anormal resulta dos problemas com o conteúdo cognitivo (pensamento) ou rupturas nos processos de pensamento; 4 explicações de natureza fisiológica: o comportamento anormal é devido a problemas relacionados à transmissão sináptica, a fatores relacionados à estrutura cerebral e níveis hormonais; 5 explicações de natureza humanístico - existencial: o comportamento anormal é decorrente de escolhas conscientes e as escolhas de uma pessoa são influenciadas pela percepção pessoal da situação, singular para cada indivíduo. Diante disso, considera-se de suma importância efetuar pesquisas de revisão bibliográfica, enfocando a origem e o desenvolvimento da esquizofrenia, sob a ótica de diferentes abordagens do conhecimento científico. É fundamental 19 abordar o problema através de uma visão abrangente; ou seja, abster-se do propósito de buscar a verdade somente através de uma ou outra teoria. Outrossim, é importante encarar o conjunto de explicações sobre o assunto, como um “todo” , composto por partes que se complementam, possibilitando, dessa forma, uma compreensão mais ampla ou profunda acerca desta problemática. Este estudo tem como finalidade básica, portanto, apresentar uma revisão da literatura recente sobre os principais fatores que influenciam a origem e evolução de quadros de psicose esquizofrênica. Com esta finalidade, este trabalho aborda o papel de fatores de natureza bipsicofisiológica, psicossocial e psicodinâmica que podem predispor o indivíduo à esquizofrenia. Este trabalho destaca, em especial, a influência de fatores ou aspectos pertinentes à dinâmica de interação familiar no aparecimento dos sintomas e/ ou na progressão deste quadro psicótico, segundo um referencial teórico de cunho psicanalítico. É importante salientar, de antemão, que este estudo apresenta, também, uma compilação da literatura sobre os recentes avanços das neurociências no estudo da esquizofrenia. Na década de 70, foram publicados os primeiros estudos de tomografia computadorizada em pacientes com transtornos mentais. A partir de então, desenvolveram-se métodos que propiciam a produção de imagens (com nitidez impressionante) do cérebro humano, destinadas à investigação de aspectos anatômicos, estruturais e funcionais (como tomografias para emissão de pósitrons e fóton único e as técnicas de ressonância magnética espectroscópica funcional). Técnicas como essas podem detectar alterações sutis na estrutura e metabolismo de áreas cerebrais portadores de diversos transtornos específicas de pacientes mentais, como transtornos psicóticos, afetivos, transtornos ansiosos, entre outros (HOLMES, 2001; MACHADO, 2000) 20 Com o avanço das neurociências, atualmente vem sendo possível estudar, por exemplo, mudanças dinâmicas do funcionamento cerebral, durante tarefas de estimulação mental ou exacerbação de sintomas, alterações em vias neuropsíquicas - antes e depois da administração de tratamentos farmacológicos entre outros aspectos. A literatura denota que a multiplicidade de estudos e pesquisas desenvolvidos por neurocientistas, nos últimos anos, vem trazendo contribuições importantes para o entendimento do assunto. Diante disso, optou-se por incluir neste estudo, uma seção destinada a apresentar uma compilação da bibliografia sobre os avanços do conhecimento sobre esquizofrenia, nessa área do conhecimento científico. Supõe-se que os dados coletados através desta pesquisa poderão subsidiar o trabalho de profissionais que atuam na área da saúde mental, contribuindo para atualização em torno do assunto, bem como para a elaboração e/ou aperfeiçoamento de estratégias terapêuticas. Este estudo aponta, ainda, indícios para que novas pesquisas sejam desenvolvidas. Com essa finalidade, foram estabelecidos os seguintes objetivos: OBJETIVO GERAL - Identificar, via levantamento bibliográfico, os principais fatores que contribuem para o início e desenvolvimento da psicose em pacientes esquizofrênicos, segundo diferentes abordagens da Psicologia e Psiquiatria. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - identificar os principais fatores determinantes da esquizofrenia, segundo a ótica psicanalítica; 21 - descrever e caracterizar o papel de fatores pertinentes à dinâmica familiar, na construção das psicoses esquizofrênicas, com base em um referencial psicanalítico; - caracterizar os principais fatores que influenciam no desenvolvimento e evolução de quadros de psicose esquizofrênica, segundo as teorias cognitivas e teorias da aprendizagem; - descrever e caracterizar o papel de fatores de natureza genética e neurobiológica, no surgimento e progressão de quadros de psicose esquizofrênica; - investigar e caracterizar algumas das principais contribuições das neurociências para o entendimento da etiologia e desenvolvimento de quadros de psicose esquizofrênica, presentes no ideário científico contemporâneo; - analisar o papel de fatores de natureza psicossocial e humanístico existencial, no início e progressão de quadros de esquizofrenia. METODOLOGIA Este estudo consiste em uma pesquisa de natureza bibliográfica sobre o assunto. Para a coleta de dados, foram adotados os seguintes procedimentos: efetuou-se consultas sistemáticas, junto a sites especializados na Internet, tais como os sistemas “Google”, “Scielo”, “Medline”. Através dessa consulta, foi efetuado um levantamento de trabalhos publicados em periódicos, abordando a temática em questão. Selecionou-se artigos sobre o tema, publicados em periódicos das áreas de Psicologia e de Psiquiatria no decorrer dos últimos seis 22 anos, em virtude do acelerado avanço das neurociências no decorrer desse período. Desta forma, pretende-se apresentar um conjunto de dados atualizados sobre o assunto. Para coleta dos artigos, foram utilizadas palavras chaves como : “Esquizofrenia”, Esquizofrênicas”, “Duplo Vínculo”, “Psicanálise”, “Esquizofrenia “Psicanálise e na Família”, “Psicoses Esquizofrenia”, “Família”, ”Transmissão Psíquica entre Gerações”, entre outras, para busca do material. Foram coletados e analisados 19 artigos ao todo. Dentre estes, foram selecionados 16, os quais aparecem citados neste nas várias citações feitas no decorrer deste estudo, segundo critérios de pertinência ao assunto-objeto deste trabalho. Além disso, foi efetuado um levantamento bibliográfico, junto a obras especializadas. Após a coleta e seleção do material bibliográfico, foi efetuado um trabalho sistemático de leitura, fichamento e análise dos dados coletados. As informações coletadas foram organizadas em categorias ou seções, de modo a atender aos objetivos estabelecidos neste estudo. Assim, este trabalho apresenta uma descrição compreensiva do material bibliográfico coletado. 23 2. DESENVOLVIMENTO A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ESQUIZOFRENIA, SEGUNDO EXPLICAÇÕES PERTINENTES A DIFERENTES ABORDAGENS 2.1 – O QUE É COMPORTAMENTO ANORMAL??? “ Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais” (TÁVOLA, A. – A ALMA DOS DIFERENTES) Chegar a um conceito geral do que é o comportamento anormal não é fácil. Alguns teóricos definem o conceito de “anormalidade”, sob o ponto de vista do indivíduo, no qual o comportamento está sendo considerado; outros o definem sob o ponto de vista da cultura na qual vive o indivíduo. Contudo, é importante aqui destacar que diferentes interpretações ou pontos de vista que podem ser conjugados ou integrados, no sentido de possibilitar uma definição de comportamento “anormal”. Quando se tenta definir em que consiste o comportamento “anormal”, sob uma ótica voltada para ponto de vista do indivíduo, a atenção é voltada para o sofrimento da pessoa. Assim, algumas pessoas são definidas como “anormais” quando estão ansiosas, deprimidas, insatisfeitas ou seriamente perturbados e, posteriormente, a atenção é voltada para a incapacidade da pessoa de funcionar em nível pessoal, social, fisiológica ou profissionalmente (HOLMES, 2001). De acordo com o ponto de vista pessoal, a anomalia é definida em termos da 24 felicidade e eficácia da pessoa, e o que os demais pensam sobre ela, também, se faz relevante para tal definição. Culturalmente, a definição de comportamento anormal remete ao conceito de desvio da norma, ou ao grau em que o comportamento da pessoa se desvia das normas culturais. Por exemplo: Uma pessoa que alucina será definida como anormal porque a maioria das pessoas não alucina. Além disso, é importante também salientar que o conceito de anormalidade varia muito de uma cultura para outra, pois o que é considerado um comportamento normal em uma determinada cultura, pode não ser em outra (HOLMES, 2001). O assunto, portanto, é complexo e intrincado. Para obter uma compreensão ampla e abrangente do assunto, portanto, torna-se necessário englobar diferentes ângulos de interpretação: “É arriscado tentar uma definição específica, mas se poderia dizer que comportamento anormal é o comportamento que é pessoalmente angustiante ou pessoalmente incapacitante ou é culturalmente tão afastado da norma que outros indivíduos o julgam como inapropriado ou mal-adaptado.”( HOLMES,2001.p.3). Conforme foi explicitado anteriormente, a origem e evolução dos quadros de psicose esquizofrênica vêm sendo investigadas através de diferentes abordagens de pesquisa, nas últimas décadas. Assim, as seções seguintes apresentam algumas das principais explicações sobre o problema, vigentes no cenário atual. 2.2 - EXPLICAÇÕES DA TEORIA DA APRENDIZAGEM Segundo Holmes (2001), basicamente, a Teoria da Aprendizagem defende que o comportamento anormal é aprendido. Dois são os pontos gerais que devem ser observados nessa perspectiva . O primeiro é o de que os teóricos 25 tradicionais dessa abordagem não fazem suposições sobre processos internos, como o pensamento, para entendimento do comportamento anormal. Para eles, as explicações sobre o comportamento devem ser embasadas somente em variáveis observáveis, limitando assim sua atenção para fatores externos como, estímulos e reforços (gratificações). Em segundo lugar, postula-se que dois tipos distintos de aprendizagem podem desempenhar papéis diferentes no desenvolvimento do comportamento anormal: Condicionamento Clássico e Condicionamento Operante (HOLMES,2001). O processo de condicionamento clássico foi descrito inicialmente por Ivan Pavlov, no início do século XX. Entende-se por Condicionamento Clássico: (...) o Condicionamento Clássico ocorre quando um estímulo que induz uma resposta particular é consistentemente emparelhado com um estímulo neutro que não induz a resposta, como quando o alimento com o som de uma sineta. Após combinações repetidas dos dois estímulos, o próprio estímulo anteriormente neutro induz sozinho também a resposta; por exemplo,o som da sineta induz salivação.O estímulo que originalmente induzir a resposta (o alimento) é chamado de estímulo não-condicionado e o estímulo neutro que assume a potencialidade de induzir a resposta ( o som da sineta) é chamado de estímulo condicionado (SKINNER,1953 apud HOLMES, 2001, p.41-42). Condicionamentos Clássicos podem contribuir para o aparecimento e manutenção de comportamentos “anormais” : Talvez o exemplo mais famoso de condicionamento clássico em humanos seja o caso do ‘Pequeno Albert’, um menino que foi condicionado por Jhon B. Watson em sua tentativa de demonstrar que os medos são aprendidos ao invés de inatos.Watson primeiro apresentou um rato branco ao pequeno Albert, que não demonstrou medo algum do rato e apreciou brincar com ele.Quando Watson, em seguida, apresentou o rato para Albert, soou também um gongo muito intenso que assustou a criança. Este mesmo procedimento da combinação do rato com o gongo assustador foi repetido inúmeras vezes até que, posteriormente, quando apenas o rato era apresentado, Albert imediatamente demonstrava medo. (...) O condicionamento clássico é relevante para o nosso entendimento do comportamento anormal porquê provê a base para muitas respostas emocionais e fisiológicas inapropriadas, como o medo do pequeno Albert e a minha 26 náusea.O medo de ratos do pequeno Albert certamente seria considerado anormal.Em realidade se fosse levado a uma clínica, provavelmente Albert teria sido diagnosticado como sofrendo de uma fobia (um medo irracional) (HOLMES, 2001, p. 42) Também o conceito de Condicionamento Operante pode explicar o aparecimento e manutenção de comportamentos anormais. Para melhor entendimento do assunto, é necessário, inicialmente, atentar para o conceito de comportamento operante: “inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor.O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta ou indiretamente” (KELLER apud BOCK, 2001, .p.48). Com base na exposição a contingências ambientais, o comportamento operante pode ser condicionado. O condicionamento de respostas ou comportamentos acontece por meio das conseqüências que se seguem à emissão dos mesmos. Bock (2001), afirma que o comportamento operante é representado por: “ R – S” ; R significa resposta e S, significa estímulo reforçador o qual interessa ao organismo e este estímulo reforçador é chamado de “reforço”. A autora define o conceito de reforço, proposto originariamente por Skinner, da seguinte forma: Chamamos de reforço a toda conseqüência que , seguindo uma resposta , altera a probabilidade futura de ocorrência dessa resposta.O reforço pode ser positivo ou negativo.O reforço positivo é todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o produz.O reforço negativo é todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua.(...) O reforçamento positivo oferece alguma coisa ao organismo (gotas de água com a pressão à barra por exemplo); o negativo permite a retirada de algo indesejável (os choques ...) (BOCK, 2001, p. 50). 27 Assim, entende-se por condicionamento operante: (...) “ocorre quando uma resposta é seguida por uma gratificação (reforço), de modo que no futuro você tenderá mais a usar a resposta para obter a recompensa” (SKINNER,1953 apud HOLMES,2001, p.41-42). Aqui, entra em jogo o papel das gratificações. As gratificações são poderosos reforçadores. Os estudiosos dessa abordagem sugerem que gratificações de natureza diversa podem manter comportamentos considerados “anormais”, através de um esquema de Condicionamento Operante: (...) as pessoas com esquizofrenia usam seu comportamento anormal para obter gratificações, por exemplo ‘atenção’. É improvável que em uma ala hospitalar superlotada e com escassez de funcionários, um paciente silencioso, livre de sintomas, obtenha muita atenção; portanto convém ao paciente que deseja atenção a encenar um pouco de ‘loucura’. Assim como a roda ganha o óleo, do mesmo modo o ‘esquizofrênico esquisito’ obtém a atenção.Atenção pode ser um a gratificação particularmente poderosos em um hospital onde os pacientes são raramente visitados e em geral ignorados por uma equipe sobrecarregada(...) (HOLMES, 2001, p. 264). Ainda, segundo Holmes (2001), as gratificações são importantes para desenvolver e manter os comportamentos em geral; e o comportamento esquizofrênico não é uma exceção. Por isso, ao considerar sintomas, é necessário diferenciar os sintomas estratégicos usados como uma estratégia para obter gratificações e outros sintomas psicóticos, originários de outras causas. Muitos dos estudiosos dizem que tais gratificações podem explicar o comportamento superficial dos pacientes. Contudo, não explicam as causas graves e incontroláveis, na maioria das vezes, como os processos de pensamentos desses pacientes (HOLMES, 2001). Estudiosos da análise do comportamento alertam, ainda, para o papel da atribuição de “rótulos” no desenvolvimento e manutenção de sintomas psicóticos. Nessa linha de interpretação, alguns dos sintomas da esquizofrenia podem ser 28 desenvolvidos por causa do rótulo de “esquizofrênico” atribuído a pacientes com sintomatologia psicótica, dando assim origem a comportamentos anormais. Alguns dos sintomas da esquizofrenia podem desenvolver-se porque os indivíduos são rotulados como ‘esquizofrênicos’ , e tais rótulos podem resultar em comportamento anormal, de dois modos. Primeiro porque as esperamos que os indivíduos rotulados como sofrendo de esquizofrenia se comportem como ‘loucos’, podemos sutilmente lhes sugerir comportamentos anormais...ser rotulado de estar sofrendo de esquizofrenia, pode também conduzir aos sintomas porque o ‘papel’ de ser ‘esquizofrênico’, permite uma variedade ampla de comportamentos do que o ‘papel’ de ser ‘normal’ portanto, um indivíduo rotulado de ‘esquizofrênico’ poderia usar comportamentos que comumente seriam suprimidos.(...) Além do fato de que os rótulos e os papéis influenciam o que as pessoas fazem, eles influenciam nossa interpretação do que elas fazem e porque fazem (HOLMES, 2001, p.265-267). Segundo o autor, parece estar claro que os rótulos e papéis são responsáveis por alguns dos sintomas na esquizofrenia e pelas interpretações que são atribuídas aos seus comportamentos; mas, os mesmos não podem explicar todos os sintomas, uma vez que os rótulos e papéis podem apenas exercer seus efeitos quando a pessoa já foi diagnosticada (rotulada) e, até então, alguns dos sintomas já existiam. Portanto, esse ângulo de interpretação pode oferecer apenas explicações parciais para a origem e desenvolvimento da esquizofrenia. Diante disso, fica evidente a necessidade de conjugar esta vertente de interpretação, com explicações apresentadas em abordagens diversas, para um entendimento mais profundo do assunto. 2.3 – EXPLICAÇÕES DA TEORIA COGNITIVA As explicações cognitivas, defendem que as experiências sensoriais dos esquizofrênicos são reais e são a causa do distúrbio. Nessa linha de 29 interpretação, as explicações para a esquizofrenia são baseadas em um conjunto de suposições ou pressupostos: 1-As pessoas com esquizofrenia realmente tem experiências sensoriais diferentes das dos indivíduos normais; 2- Muitos dos sintomas da esquizofrenia (ex. alucinações, delírios) originam-se das tentativas das pessoas de explicar suas experiências sensoriais diferentes. 3-O desempenho intelectual e verbal perturbados observados na esquizofrenia, deve-se ao fato de que as experiências sensoriais interferem no funcionamento cognitivo, de outro modo normal da pessoa (HOLMES, 2001, p.268) De acordo com Holmes (2001), os teóricos cognitivos sugerem que os processos de pensamentos na esquizofrenia são semelhantes aos das pessoas normais e só parecem perturbados, porque o indivíduo tem experiências sensoriais diferentes, que interferem nos processos normais do pensamento. Ou seja, alguns indivíduos apresentam níveis diferenciados de percepção sensorial, em comparação a pessoas “normais”. Assim, pode ocorrer um processo denominado de “inundação cognitiva” ou uma sobrecarga, decorrente da percepção de estímulos como sons, imagens e sensações, que as pessoas normais geralmente filtram. Isto resultaria no que tradicionalmente se denomina de alucinações e delírios (HOLMES, 2001). Pessoas com esse transtorno não são capazes de filtrar estímulos irrelevantes e, desta forma, os mesmos acabam rompendo os processos de pensamento. A sensibilidade sensorial mais intensa pode desempenhar um papel no déficit esquizofrênico, como se acontecesse um colapso no mecanismo responsável pela filtragem dos estímulos que não estão relacionados ao pensamento corrente (PAYNE,1959 apud HOLMES, 2001). Além disso, os teóricos dessa linha de interpretação, também, sugerem que os problemas de linguagem em esquizofrênicos resultam da incapacidade dessas pessoas em manter a atenção e por intrusões de pensamentos irrelevantes. 30 Essas intrusões se devem às associações que a pessoa faz entre as palavras que estão sendo usadas. Há diversos tipos de associações: “intrusão semântica, intrusão de conteúdo de pensamento, associações sonoras e intrusões por força do hábito”. As intrusões semânticas ocorrem quando se usa um sentido alternativo para uma palavra particular introduz um pensamento novo, ou seja, a pessoa passa a ter lapsos de atenção durante os quais outros pensamentos aparecem e assim, a pessoa associa uma palavra à outra (HOLMES,2001). Nas palavras do autor: “quando um indivíduo usa a palavra rio para indicar um rio e um outro indivíduo responde e fala sobre rir é fácil ver como confusões surgirão e como se pode concluir que um indivíduo que respondeu com a associação errada apresenta um transtorno de pensamento” (HOLMES, 2001, p.271) Um exemplo de intrusão de conteúdo de pensamento ocorre quando uma palavra faz com que o indivíduo se lembre de um tópico diferente. Um exemplo seria: “(...) quando uma pessoa conta uma história sobre um gato especial e ao dizer a palavra gato, lembra-se de um outro gato e, no meio da frase, começa a relatar a história desse outro gato, que acabara de se lembrar. Isto, sem que essa mudança de relato tenha ficado clara em seu discurso” (HOLMES, 2001, p.271). Já as associações sonoras são baseadas em sons parecidos de algumas palavras. A pessoa troca uma palavra por outra, pela semelhança de sons das duas, como, “torta e porta, boa e proa, cola e bola”, entre outras: ‘Quando ouvi a porta bater tapei os ouvidos’ , ao pronunciar a palavra porta a pessoa com esquizofrenia poderia pensar sobre a palavra torta e então completar a sentença com uma frase envolvendo a palavra torta. A sentença resultante ‘Quando ouvi a torta bater ,tapei os ouvidos’ não faz sentido(HOLMES, 2001 p. 271) . Assim, as intrusões de pensamento, para o observador externo, se apresentam como discurso desorganizado, confusão de pensamento e até delírios 31 ou alucinações. Ainda, de acordo com Holmes (2001, p. 272): (...) Dois pontos finais devem ser levados em conta em relação aos problemas de linguagem na esquizofrenia (...) primeiro é importante reconhecer que o conteúdo da intrusão pode estar relacionado a algo nos antecedentes da pessoa, mas este fator de fundo não é a causa da intrusão. Entender o conteúdo da intrusão não levará a um entendimento da esquizofrenia. (...) Segundo, os processos que resultam em problemas de linguagem observados na esquizofrenia, não são diferentes dos que conduzem a erros ou enganos na linguagem dos indivíduos normais. Os erros cometidos por pessoas perturbadas não são singulares; eles simplesmente cometem erros mais extremos ou mais freqüentes que os dos tipos cometidos por pessoas normais. Finalmente, é importante notar que os sintomas psicóticos, como alucinações podem ser entendidos, também, através de um processo de mediação cognitiva. Ou seja, processos cognitivos podem favorecer o aparecimento e/ou agravamento de sintomas psicóticos: (...) As alucinações, podem também ser explicadas por atenção seletiva. Há uma linha tênue entre ‘pensamentos’ e ouvir vozes quando não há ninguém mais presente (alucinações auditivas) Amiúde, recordamos e ensaiamos mentalmente conversações que envolveram inúmeras ‘vozes’. Porque o mundo é ameaçador, a pessoa com esquizofrenia pode deixar de prestar atenção a indícios externos focalizar a atenção internamente.(Diz-se que o indivíduo infeliz volta-se para dentro para buscar consolo). Então porque ele ou ela não está prestando atenção aos indícios sociais relevantes no ambiente, o indivíduo não perceberá que prestar atenção a indícios internos é inapropriado. A partir daí é apenas um pequeno salto lidar com estes estímulos internos como se fossem reais (HOLMES, 2001, .p.264-265). Segundo vários autores, parece estar claro que os rótulos e papéis são responsáveis por alguns dos sintomas na esquizofrenia e pelas interpretações que são atribuídas aos seus comportamentos; mas, os mesmos não podem explicar todos os sintomas, uma vez que os rótulos e papéis podem apenas exercer seus efeitos quando a pessoa já foi 32 diagnosticada(rotulada) e, até então, alguns dos sintomas já existiam. Portanto, esse ângulo de interpretação pode oferecer apenas explicações parciais para a origem e desenvolvimento da esquizofrenia. Diante disso, fica evidente a necessidade de conjugar esta vertente de interpretação com explicações apresentadas em outras abordagens diversas, para um entendimento mais profundo do assunto. 2.4 - EXPLICAÇÕES DE NATUREZA ORGÂNICO/FISIOLÓGICAS Atualmente, numerosos estudos vêm sendo desenvolvidos em diversas partes do planeta, enfocando o papel de fatores de natureza orgânica/ biológica no surgimento da esquizofrenia e na evolução de quadros dessa psicose. Nessa vertente de investigação científica, postula-se, principalmente, que fatores de natureza genética e neurobiológica desempenham papel fundamental no problema. Em especial, os sintomas da esquizofrenia estão relacionados aos complexos mecanismos de transmissão e captação de neurotransmissores, entre outros aspectos. Segundo Holmes (2001), existem três grupos diferentes de explicações fisiológicas principais para a esquizofrenia: A primeira delas é de que ‘níveis excessivamente altos de atividade neurológica em algumas áreas do cérebro podem romper a atividade cognitiva, resultando principalmente em sintomas positivos como processos de pensamentos perturbados e alucinações. Este nível alto de atividade é, em sua maior parte, limitado às áreas do cérebro onde a dopamina é o neurotransmissor; altos níveis de dopamina levam a altos níveis de atividade neurológica e , assim a alguns dos sintomas da 33 esquizofrenia; e uma vez que a dopamina provê a base para a atividade disruptiva, freqüentemente referem-se a hipótese da dopamina para a esquizofrenia. A segunda explicação é a de que níveis muito baixos de atividade neurológica em algumas áreas do cérebro podem servir para retardar a atividade cognitiva e por meio disso, resultam em sintomas positivos como pobreza de fala e apatia.A terceira explicação é a de que anomalias estruturais no cérebro podem servir para retardar a atividade cognitiva e por meio disso, resultar principalmente em sintomas negativos.Os problemas estruturais poderiam incluir másformações, dano e deteriorização. Os fatores genéticos e traumas biológicos conduzem a problemas como níveis de atividade neurológica e estrutura cerebral, os quais por sua vez, conduzem a sintomas positivos e negativos da esquizofrenia. E a terceira explicação é de que, anomalias estruturais do cérebro podem servir para retardar a atividade cognitiva, resultando em sintomas negativos (HOLMES, 2001, .p.272). No cenário contemporâneo, vêm sendo desenvolvidos sofisticados procedimentos tecnológicos, que possibilitam novas perspectivas para o entendimento dos complexos mecanismos responsáveis pela etiologia e desenvolvimento das doenças mentais. Segundo Machado, (2000), algumas das principais técnicas que vêm imprimindo novas concepções para o entendimento do assunto são a TC (Tomografia Computadorizada); a TRM (Tomografia por Ressonância Magnética); e o exame PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons): (...) essa técnica (TC) emprega fontes múltiplas de raios X capazes de produzir feixes muito estreitos e paralelos que percorrem ponto a ponto o plano que se pretende visualizar no encéfalo ou na medula, medindo então, a radiodensidade de cada ponto.Os dados obtidos da medida de milhares de pontos são levados a um computador e por ele utilizados para a construção da imagem. A técnica mostra facilmente sangue, líquor e tecido nervoso, permitindo ainda a identificação das áreas maiores de substâncias branca e cinzenta.Já a TRM (Tomografia Por Ressonância Magnética), difere da anterior porque não emprega os raios X.Ela baseia-se na propriedade que têm de certos núcleos atômicos de sofrer o fenômeno de ressonância e, emitir sinais de radiofreqüência quando colocados em campos magnéticos adequados(...)Distingue-se, facilmente a substância branca da cinzenta, e até mesmo pequenas massas de substância cinzenta como a do núcleo rubro ou da substância negra , podem ser visualizadas.As imagens por PET (Tomografia Por Emissão de Pósitrons), mais conhecida como PET (Pósitrons Emission Tomography), que permite estudar ao mesmo tempo aspectos morfológicos e funcionais de áreas 34 cerebrais (...) indivíduos inalam ou recebem injeção de isótopos capazes de emitirem pósitrons, como por exemplo, o flúor.As moléculas de compostos biológicos relevantes aclopam-se aos isótopos , como a glicose e os neurotransmissores, podendo assim, mapear sua distribuição no cérebro de pessoas durante os exercícios de diferentes atividades.Como a captação de glicose pelos neurônios é proporcional à sua atividade de pequenas áreas do cérebro de um indivíduo em diferentes condições normais e patológicas, podendo-se localizar com precisão as áreas corticais , que são ativadas quando o indivíduo é submetido a diversos estímulos sensoriais, quando executa um ato motor ou até mesmo na fase de planejamento desse ato (MACHADO, 2000, .p.319-321) . Através de recursos dessa natureza, pode-se obter imagens claras do cérebro vivo e em funcionamento e então, estudar os relacionamentos entre anomalias estruturais e/ou funcionais e o surgimento de transtornos mentais diversos, como a esquizofrenia (HOLMES, 2001). A revisão da literatura recente denota, claramente, um acelerado avanço no conhecimento a respeito de transtornos mentais, decorrente da realização de estudos embasados em procedimentos dessa natureza. Os estudos em neuroimagem vêm possibilitando uma compreensão mais abrangente da dimensão neurobiológica da esquizofrenia, além de fornecer subsídios para a elaboração e aperfeiçoamento de procedimentos terapêuticos: (...) o diagnóstico é eminentemente clínico, de acordo com a sintomatologia apresentada e sua evolução. Os estudos por imagem têm sua importância, não diagnóstica, mas sim pela propriedade de uma maior compreensão de estruturas cerebrais envolvidas na doença. Estudos através de tomografia computadorizada de crânio têm revelado uma dilatação de ventrículos conseqüente a uma redução do parênquima cerebral em alguns pacientes. Esses mesmos achados têm sido encontrados em crianças, já evidenciando o comprometimento e também a gravidade de áreas cerebrais atingidas. Estudos utilizando ressonância magnética têm revelado diferenças no volume de áreas do lobo temporal e parietal em adultos com esquizofrenia, especialmente redução na porção anterior do complexo amígdala-hipocampo, mais notadamente no lado esquerdo. Essas alterações não são observadas nas crianças e parece que começam a surgir com a adolescência.(...) (TENGAN; MAIA, 2005, p.10-11). 35 Além disso, é importante salientar também, que no âmbito das explicações de natureza orgânico/biológicas, há um consenso entre os estudiosos, no sentido de que fatores de natureza genética exercem papel fundamental no surgimento e evolução de transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia. Como exemplo, numerosos estudos controlados (efetuados em diferentes regiões do planeta) com gêmeos idênticos, criados em ambientes diferentes, evidenciam claramente o papel da hereditariedade, na predisposição ao problema. De forma geral, os dados dos estudos sugerem que a esquizofrenia resulta da confluência ou interação entre predisposição genética e fatores ambientais. Assim, autores apresentam interessantes considerações, nesse sentido: Gêmeos monozigotos (MZ) têm índice de concordância de 48% para a esquizofrenia, em comparação com o índice de 17% para gêmeos dizigóticos (DZ). Irmãos não-gêmeos têm somente 9% de chance de ambos terem esquizofrenia, a menos que um dos pais seja afetado, quando o risco volta para 17%. A hereditariedade tem sido calculada em 0,68. Se ambos os pais têm esquizofrenia, o risco da doença é de 46% para a criança. Há um efeito genético claro na esquizofrenia, mas também há uma influência óbvia do ambiente, muito maior do que para o transtorno bipolar ou TDAH. Igualmente de interesse é a diferença no risco para os gêmeos DZ e os irmãos não-gêmeos.Os gêmeos, é claro, índice mais elevado de complicações durante a gravidez e o parto, um fator que mostrou ter um papel na esquizofrenia (PLISZKA, 2004, .p.178). Contudo, o cômputo da literatura denota que o assunto é extremamente complexo, intrincado e que ainda são necessários novos estudos, até que se chegue a um consenso, nesse sentido. Ao que tudo indica, uma complexa rede de variáveis inter-relacionadas atua no aparecimento da esquizofrenia e/ ou na evolução do problema: Recentemente, William Barre e colaboradores estudaram 15 gêmeos 36 MZ e 14 DZ que eram discordantes para a esquizofrenia e comparamnos com outras 29 duplas de gêmeos dos quais nenhum tinha a doença (os controles eram pareados pelo tipo zigótico). Em geral as correlações do tamanho das regiões do cérebro eram maiores para os gêmeos MZ do que para os DZ; ou seja, a estrutura cerebral era mais semelhante nos primeiros. Os investigadores estudaram tanto o volume intracraniano (espaço interno do crânio,que é estabelecido pelo crescimento inicial do cérebro) como o volume do próprio cérebro(volume total do mesmo). Primeiro o volume, intracraniano era reduzido nos MZ discordantes para a esquizofrenia. Segundo, o tamanho do lobo frontal era diminuído nos MZ doentes em relação aos seus irmãos saudáveis. Essa descoberta sugere que tanto os gêmeos MZ doentes como os saudáveis tinham crescimento inicial reduzido do cérebro (particularmente do lobo frontal), mas que somente um deles desenvolveu a doença. Assim o crescimento inicial reduzido do cérebro é um fator de risco para a esquizofrenia, mas não causa a doença por si só. Em contraste, o volume total do cérebro, bem como o volume hipocampal era reduzido nos gêmeos com esquizofrenia a despeito do tipo zigótico. Essa diminuição adicional no tamanho do cérebro pode ser causada pelo próprio processo da doença. Os dados de imagens são consistentes com a hipótese do duplo golpe: um fator genético prejudica o desenvolvimento do cérebro, enquanto outros fatores desencadeiam outros eventos que levam a diminuições ulteriores no volume do cérebro(PLISZKA, 2004, p.181). Finalmente, é importante notar que pesquisas dessa natureza vêm subsidiando propostas terapêuticas diversas. Atualmente, a Psiquiatria propõe o tratamento farmacológico combinado ao sócio-educativo: A base do tratamento farmacológico restringe-se aos neurolépticos ou antipsicóticos. A eficácia dessas drogas sobre as psicoses tem sido demonstrada em vários trabalhos. Infelizmente, os estudos dessas drogas na infância são em número infinitamente menor que em adultos. Por uma série de razões, as pesquisas com os neurolépticos iniciam-se na população adulta, e somente após alguns anos essas drogas são autorizadas para uso na infância (TENGAN; MAIA, 2005, .p.11). Em suma, é possível notar que os estudos em neuroimagem vêm retroalimentando a elaboração de novas modalidades de tratamento do problema e o aperfeiçoamento das já existentes. Assim sendo, supõe-se que o avanço nos conhecimentos acerca da dimensão neurobiológica da esquizofrenia possibilite, nos próximos anos, novas e refinadas propostas terapêuticas para o problema. Fármacos de última geração vêm sendo desenvolvidos para controle 37 do problema. Atualmente, é consenso entre os pesquisadores, contudo, que a administração de fármacos, associada à psico-educação de pacientes e familiares sobre o problema aumenta o grau de eficácia do tratamento (HOLMES, 2001; CABALLO, 2003). 2.5 - EXPLICAÇÕES DE NATUREZA HUMANÍSTICO-EXISTENCIAL: Nessa abordagem, o comportamento anormal é aquele em que a pessoa simula uma sanidade mental de acordo com as regras impostas pela sociedade. Para os teóricos dessa vertente, pacientes esquizofrênicos são pessoas que têm uma maior probabilidade de encontrar seu verdadeiro eu, em comparação àqueles que se submetem às regras da sociedade. Os rótulos são atribuídos aos esquizofrênicos, justamente por estarem em contraste, em desobediência a tais regras e assim, comportarem-se de maneira diferente do que foi estabelecido socialmente: “Os teóricos humanísticos-existenciais, acreditam que a esquizofrenia não é um transtorno, ao contrário,é uma forma alternativa de adaptação. (...) o comportamento esquizofrênico é definido como anormal apenas porque desvia do padrão de comportamento aceito pela maioria das pessoas (HOLMES, 2001, .p.280)”. Assim, o comportamento “anormal” apresentado pelo indivíduo com esquizofrenia, segundo a vertente humanístico-existencial, reflete-se em um desvio ou ruptura com os padrões de normalidade impostos pela sociedade: Mais especificamente, eles sugerem que o que nós em geral nos referimos como comportamento ‘normal’ é na realidade anormal porque pressões sociais forçaram a maioria das pessoas a adotar eus falsos e distorcidos e tornar–se robôs ou autômatos programados para seguir os ditames da sociedade. A partir da perspectiva humanísticoexistencial, as pessoas diagnosticadas como apresentando a esquizofrenia são considerados como indivíduos que rompem do molde 38 da sociedade, retiram–se para dentro de si mesmas em uma tentativa de encontrar – se como indivíduos singulares à parte dos papéis estabelecidos pela sociedade. Na esquizofrenia, os indivíduos desistem da simulação de sanidade e encetam uma viagem de descoberta do eu real. Em busca por si mesmos, estes indivíduos poderiam demonstrar algum comportamento incomum ou inapropriado (...) seu comportamento não é nada mais inapropriado do que o comportamento prescrito pela sociedade (...) os indivíduos com esquizofrenia são considerados como mais próximos a encontrar seus eus verdadeiros do que as outras pessoas, mas eles são rotulados anormais porque estão em descompasso com a maioria (...) (HOLMES, 2001, p.280). Outros autores apresentam considerações, nesse sentido. Laing (1964) apud Holmes (2001), por exemplo considera: Alguns teóricos focalizam a maior parte de sua atenção sobre os transtornos menos sérios como ansiedade e depressão, mas oferecem uma explicação radical para a esquizofrenia. Alguns teóricos humanísticos-existenciais sugerem que o comportamento observado na esquizofrenia é rotulado como anormal porque difere do modo como a maioria das pessoas se comporta, mas que é de fato o comportamento das pessoas que não tem esquizofrenia que é anormal (LAING, 1964 apud HOLMES, 2001, p. 280). De certa forma, esta concepção é compatível, pelo menos parcialmente, com as anteriormente apresentadas, corroborando a noção de que um conjunto de aspectos de natureza diversa podem contribuir para o desenvolvimento e/ou agravamento de comportamentos tidos como anormais, sob o ponto de vista social. É importante destacar aqui, que a teoria humanítico-existencial, em seu discurso sobre comportamento anormal, deixa claro a importância do respeito pela individualidade do outro, mesmo sendo visto como um “diferente” socialmente. 39 2.6 – EXPLICAÇÕES PARA A ESQUIZOFRENIA, SEGUNDO A ÓTICA PSICANALÍTICA “...Ah, o diferente, esse ser especial!... O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual: a inveja do comum; o ódio do mediano. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.” (TÁVOLA, A Alma dos Diferentes) Esta seção enfoca explicações sobre a origem dos sintomas e evolução de quadros de psicoses esquizofrênicas, segundo a ótica psicanalítica, destacando a influência de aspectos pertinentes à interação desenvolvimento de quadros desta psicose. familiar, na origem e Para facilitar o entendimento do assunto, inicialmente, será apresentada uma visão geral sobre conceitos fundamentais da Psicanálise, enquanto teoria, método de investigação e prática psicoterapêutica. 2.6.1. A Psicanálise: Ciência do Inconsciente A Psicanálise surgiu, originariamente, a partir dos trabalhos do médico austríaco Sigmund Freud. O termo “Psicanálise” refere-se, simultaneamente, a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática psicoterápica: (...) Enquanto teoria, é definida por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica...; (...) enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto do que é manifesto através de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres,os atos falhos. A prática profissional refere-se à forma de tratamento - à Análise - que busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse autoconhecimento . (...) A psicanálise também é uma ferramenta importante para a análise e compreensão de fenômenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimentos 40 psíquicos,excesso de individualismo no mundo exacerbação da violência etc.(BOCK, 2001, p.71). contemporâneo, Sigmund Freud formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881, e se especializou em Psiquiatria (BOCK,2001; FADMAN; FRAGER, 2002). Freud nasceu na cidade de Freiberg, na Moravia (hoje Tchecoslováquia), em 06 de maio de 1856. Formou-se aos 26 anos em Medicina, desenvolveu várias pesquisas independentes sobre Histologia e publicou artigos sobre Anatomia e Neurologia. Apesar de se dirigir, relutantemente, para a clínica particular, seus principais interesses permaneciam na área da observação e exploração científicas. Trabalhou como cirurgião, depois em clínica geral, tornou-se médico interno do principal hospital de Viena. Fez curso de Psiquiatria, o que reforçou ainda mais seu interesse pelo estudo das relações entre sintomas de doenças mentais e distúrbios físicos. Em 1885, tinha se estabelecido na posição prestigiosa de conferencista da Universidade de Viena.(BOCK, 2001 ;FADMAM; FRAGER, 2002). Ao final de sua residência médica, trabalhou em Paris com outro médico psiquiatra, Jean Charcot, o qual tratava quadros de histeria, através do método hipnótico. Segundo Freud (1895) histeria consiste em: (...) Os sintomas cujo rastro pudemos seguir até os referidos fatores desencadeadores deste tipo abrangem nevralgias e anestesias de natureza muito diversas, muitas das quais haviam persistido anos, contraturas e paralisias, ataques histéricos e convulsões epileptóides, que os observadores consideravam como epilepsia verdadeira, petit mal e perturbações da ordem dos tiques, vômitos crônicos e anorexia, levados até o extremo de rejeição de todos os alimentos, várias formas de perturbação da visão, alucinações visuais constantemente recorrentes, etc (...) (FREUD, 1895, p. 40). Em 1886, Freud retornou a Viena e voltou a clinicar, usando como instrumento na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervoso “a sugestão 41 hipnótica”. Com Breuer, Freud explorou a dinâmica da histeria (1895): (...) A doença manifesta. Uma psicose de maneira peculiar, com parafasia, estrabismo convergente, graves perturbações da visão, paralisias (sob a forma de contraturas) completa na extremidade superior direita e ambas as extremidades inferiores, e parcial na extremidade superior esquerda, e paresia dos músculos do pescoço. Redução gradual da contratura nas extremidades o qual a melhora foi interrompida por um grave trauma psíquico; ( C ) Um período de sonambulismo persistente, alternando-se com estados mais normais (Freud,1895, p.57-58) . Um dos casos de pacientes com distúrbios nervosos e sintomas histéricos que Freud estudou, foi o de Anna O., paciente de Breuer. Este caso foi decisivo para o processo de descoberta do inconsciente e para a formulação de suas teorias sobre o funcionamento da mente humana. A paciente sofria de sintomas como paralisia com contratura muscular, inibições e dificuldades de pensamento, os quais tiveram início quando ela cuidava de seu pai enfermo. Enquanto Anna O. cuidava de seu pai, ocorriam-lhe pensamentos e afetos referentes ao desejo de morte de seu pai. Tais desejos, ela reprimiu, substituindo-os pelos sintomas. No estado de vigília, ela era incapaz de falar sobre a origem de seus sintomas, mas, quando hipnotizada, relatava a origem de cada um deles. Com a lembrança de cenas e vivências, os sintomas desapareciam, não de forma mágica, mas por causa da liberação das emoções que foram associadas ao trauma - a doença de seu pai, e o desejo de sua morte (FADIMAN; FRAGER, 2001). A essa liberação de afetos e emoções, relacionada a acontecimentos traumáticos, Breuer chamou de método catártico. Segundo ele, essa liberação de afetos leva à eliminação dos sintomas histéricos. Freud começou, então, a trabalhar com pacientes que sofriam de sintomas histéricos, através da hipnose, abandonando posteriormente esse método, porque notou que nem todos os seus 42 pacientes se prestavam à hipnose. Modificando a técnica de Breuer, desenvolveu a técnica da concentração, que consistia na rememoração sistemática dos fatos de sua vida interior e exterior, feita por meio da conversação normal. Em seguida, aceitando a sugestão de uma jovem anônima, abandonou as perguntas e a direção da sessão, passando a confiar às falas desordenadas dos pacientes, deixando que suas idéias fluíssem de forma livre (BOCK, 2001). Surgiu, então, o método de associação livre: “Ele achou que a hipnose não era tão efetiva quanto esperava, abandonou-a por completo, passando a encorajar seus pacientes a falarem e a relatarem o que quer que pensassem independentemente da aparente relação – ou falta de relação – com seus sintomas” (FADIMAN; FRAGER, 2002 p. 4-5). Bock (2001) descreve a descoberta do inconsciente e o modelo psicodinâmico do funcionamento da mente, formulado por Freud através da prática terapêutica: Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso às suas idéias, observou então que os pacientes ficavam embaraçados, envergonhados com algumas idéias ou imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud então, denominou essa força psíquica de resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Esses conteúdos psíquicos ‘localizam-se’ no inconsciente. (BOCK, 2001, p. 73) Freud, então, apresentou o conceito de inconsciente: O inconsciente exprime o ‘conjunto de conteúdos não presentes no campo atual da consciência’. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, ‘foram’ para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias 43 de funcionamento. Por exemplo, é atemporal, não existem as noções de passado e presente (BOCK, 2001, p.73-74). Segundo a mesma autora, Freud elaborou uma teoria sobre o funcionamento da mente humana, postulando a existência de níveis diferenciados de consciência, a abordagem estrutural do psiquismo humano. Nesta abordagem, a vida mental do ser humano é composta por três instâncias distintas (ou três níveis de vida mental): o inconsciente, pré-consciente e consciente (BOCK, 2001). Surgiu, então, a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da mente: O inconsciente exprime o conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. (...) o inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento. O pré-consciente, refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar. O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio (BOCK, 2001, p. 73-74). Através do atendimento de numerosos pacientes com problemas nervosos e/ou quadros de histeria, Freud foi, paulatinamente, construindo uma complexa teoria sobre o funcionamento do psiquismo, desenvolvimento emocional e formação da personalidade humana, que influenciou a concepção de homem em diversas áreas do conhecimento, no decorrer do século XX. Alguns conceitos básicos, originariamente postulados por Freud, são fundamentais para o entendimento da Psicanálise como um todo. Destacam-se os conceitos de pulsão e de libido, centrais em sua teoria. Inicialmente, Freud 44 caracteriza o conceito de libido como energia sexual, num amplo sentido: libido, nas palavras de Freud, “(...) é a energia dos instintos sexuais e só deles” (BOCK, 2001, apud ROCHA, 2005, p.1). Segundo Gomes (2001), Freud, em seu livro “Além do Princípio do Prazer”, discorre sobre o novo conceito de pulsão: M Contudo, a partir de ’Além do Princípio do Prazer’, de 1920, surge não só uma nova teoria das pulsões, mas um novo conceito de pulsão. As pulsões - pulsão de vida e de morte – passam a ser os princípios gerais que regem o funcionamento não só da vida psíquica, mas de toda a vida orgânica, presente nos animais, nas plantas e nos organismos unicelulares. A pulsão de vida é concebida como uma tendência à formação de unidades maiores, à aproximação e a unificação entre as partes dos seres vivos. A pulsão de morte, ao contrário, é vista como a tendência à separação, à destruição e, em última análise, à volta ao estado inorgânico. As pulsões que se manifestam na vida psíquica passam a ser vista como resultado da ação confluente ou antagônica destas duas tendências, que emanam a nível biológico (GOMES, 2001, p. 8). Em “Estudos Sobre a Histeria”, (1895), Freud considera: As forças que existem por trás das tensões causadas pelas necessidades do id são chamadas de instintos. Representam as exigências somáticas que são feitas à mente. Embora sejam a suprema causa de toda atividade, elas são de natureza conservadora; o estado, seja qual for, que um organismo atingiu dá origem a uma tendência a restabelecer esse estado assim que ele é abandonado (...) os instintos podem mudar de objetivo (através do deslocamento) e também podem substituir-se mutuamente, a energia de um instinto transferindo-se para outro (...) a existência de apenas dois instintos básicos, Eros e o instinto destrutivo. (O contraste entre os instintos de autopreservação e a preservação da espécie, assim como o contraste entre o amor do ego e o amor objetal, incidem dentro de Eros) O objetivo desses instintos básicos é estabelecer unidades cada vez maiores e assim preservá-las – em resumo, unir; o objetivo do segundo, pelo contrário, é desfazer conexões e, assim destruir coisas. No caso do instinto destrutivo, podemos supor que seu objetivo final é levar o que é vivo a um estado inorgânico. Por essa razão, chamamo-lo também de instinto de morte. Se presumimos que as coisas vivas apareceram mais tarde que as inanimadas e delas se originam, então o instinto de morte se ajusta à fórmula que propusemos, a qual postula que os instintos tendem a retornar a um estado anterior. No caso de Eros, (ou instinto do amor), não podemos aplicar essa fórmula (FREUD, 1895, .p.161). 45 Freud construiu, também, uma teoria sobre a estrutura da personalidade humana. Nessa concepção, a personalidade seria composta de três instâncias distintas, que ele denominou de id, ego e superego. Em 1905, nos “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, Freud desenvolveu a teoria do desenvolvimento psicossexual, trabalhando com os conceitos de pulsão sexual e pulsão de autoconservação. A partir de 1920, a teoria pulsional se transforma em uma teoria que tem como base as pulsões de vida e de morte. Apenas em 1923 surge a segunda tópica freudiana, com os conceitos de id e superego: O id, é o reservatório inconsciente das pulsões, regido pelo princípio do prazer, exige sempre satisfação imediata desses impulsos, sem levarem conta a possibilidade de conseqüências indesejáveis. O ego, funciona a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id. Regido pelo princípio da realidade, o ego cuida dos impulsos do id, tão logo encontre a circunstância adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos... parcialmente consciente, o superego serve como um censor das funções do ego (contendo os ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição (ROWELL, 1998, p.2). Freud foi, então, progressivamente, formulando uma complexa teoria sobre o desenvolvimento da personalidade, segundo a qual a formação de características de personalidade é decorrente da evolução e organização da libido em zonas erógenas, em momentos distintos do ciclo vital. Desta forma, postulou a existência de fases ou estágios de desenvolvimento psicossexual, caracterizados pela organização da libido. Um dos principais aspectos dessa teoria é o de que a função sexual existe desde o princípio de vida, logo após o nascimento e não só na puberdade. O desenvolvimento da sexualidade humana percorre um processo longo e complexo, até atingir a forma adulta (ROCHA, 2005). Freud sugeriu que a personalidade se desenvolve em cinco estágios 46 psicossexuais: oral, anal, fálico, latência e genital. Os estágios iniciais do desenvolvimento provêem a fundação para os estágios posteriores e, caso ocorram problemas nos estágios iniciais, o desenvolvimento da personalidade nas fases subseqüentes tende a ser comprometido (HOLMES, 2001). Bock (2001) apresenta uma breve caracterização de cada etapa do desenvolvimento psicossexual: (...) fase oral (a zona de erotização é a boca), fase anal (a zona de erotização é o ânus), fase fálica (a zona de erotização é o órgão sexual); em seguida vem o período de latência, que se prolonga até a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das atividades sexuais, isto é, há um ‘intervalo’ na evolução da sexualidade. E, finalmente na puberdade é atingida a última fase, isto é, a fase genital, quando o objeto de erotização ou de desejo não está mais no próprio corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo – o outro (BOCK, 2001, p.75). Autores enfatizam que a partir da formulação dessa teoria, se formaram as primeiras concepções psicanalíticas acerca das perturbações psicológicas. Rocha (s.d), por exemplo, ressalta que: O primeiro grande conceito desenvolvido por Freud (1856-1939) foi o de inconsciente, assumindo em seu pensamento teórico que, não há nenhuma descontinuidade na vida mental, que nada ocorre por acaso. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento determinado pelos fatos que o precederam (determinismo psíquico). (...) Freud em suas investigações na prática clínica, sobre as causas e funcionamento das neuroses, descobriu que a grande maioria de pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais e, confirmava-se dessa forma, que as ocorrências desse período de vida deixam marcas profundas na estruturação da personalidade. As descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica e é desenvolvido o segundo conceito mais importante da teoria psicanalítica: ‘a sexualidade infantil’ (ROCHA, s.d., p.1). Observa-se, portanto, que os conceitos sobre o funcionamento da psique humana e desenvolvimento da personalidade lançaram as bases para o início do 47 entendimento de psicopatologias, com base na ótica psicanalítica. O pressuposto inicial de Freud, portanto, foi o de que a não-elaboração dos conflitos em determinada fase do desenvolvimento psicossexual pode se refletir em sintomas psiconeuróticos, no decorrer da vida adulta. Além disso, outros conceitos básicos, apresentados por Freud, são também fundamentais para o entendimento de psicopatologias, segundo a perspectiva psicanalítica. Freud postulou que o ser humano utiliza recursos psicológicos diante de determinadas situações, as quais ele deu o nome de mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa são manobras psicológicas pelas quais a realidade é distorcida, para evitar conflitos e reduzir sentimentos de ansiedade (HOLMES, 2001). Segundo ROWELL (2005), os mecanismos de defesa são vários. Os principais são: 1 Repressão: retirada de idéias, afetos ou desejos que perturbam a consciência, pressionando-os para o inconsciente. 2 Supressão: o modo de evitar intencionalmente de pensar sobre os materiais provocadores de conflitos. 3 Negação: envolve a reinterpretação do material provocador de conflitos, ansiedades, para torná-los menos ameaçadores. 4 Projeção: o processo através do qual o sujeito atribui suas próprias características de personalidade a outras pessoas. 5 Deslocamento: há dois tipos – deslocamento de objeto – ocorre quando expressa um sentimento em direção a um indivíduo, que deveria ser expressado em direção a outro alguém; deslocamento de impulso – ocorre quando o sujeito tem um sentimento (impulso) que não pode ser expressado, então a energia daquele sentimento é transferida para um outro sentimento que pode ser 48 expressado. 6 Regressão: quando diante de um conflito, estresse e, particularmente, com a frustração, a pessoa volta-se para um estágio anterior, da vida no qual se sentia mais segura e bem-sucedida. 7 Identificação: no qual a pessoa características pessoais de um outro indivíduo e, em certa extensão torna-se o outro indivíduo. 8 Racionalização: envolve dar uma boa razão para algum comportamento que não é a razão real, podendo disfarçar motivações reais, porém inaceitáveis. 9 Compensação: é a tentativa de superação da fraqueza real ou imaginária, ao se sentir ameaçado em alguma área. 10 Intelectualização: para evitar emoções ameaçadoras, a pessoa focaliza- se nos detalhes objetivos, não emocionais, de uma situação de outro modo emocional. 11 Formação Reativa: ocorre quando se deseja algo ou se quer fazer algo, mas, devido a um conflito, transforma-se o desejo ou o comportamento no oposto. (HOLMES, 2001; ROWELL, 1998). Embora esses mecanismos ajudem a evitar ou reduzir os conflitos psicológicos e diminuir, momentaneamente, a ansiedade, eles dependem de uma grande liberação de energia por parte da pessoa. Quando um desses mecanismos é usado, tende-se a não trabalhar sobre modos realistas para eliminar o conflito. A utilização maciça de mecanismos de defesa pode levar a sérias distorções da realidade e tais distorções reduzem a habilidade de o indivíduo funcionar com eficácia, diante do meio ambiente (HOLMES, 2001). Na projeção, por exemplo: (...) a pessoa passa a fazer distorções do mundo externo e interno, localizando (projetando) algo de si no mundo externo e, assim, não 49 percebe que aquilo que foi projetado como algo seu que considera indesejável. Ex: Uma pessoa que critica os outros por serem extremamente invejosos, não se dando conta de que também o é, às vezes, até mais que os outros os quais ele tanto critica (BOCK, 2001, p. 79). Em resumo, a Psicanálise defende que a partir do momento em que começa a se socializar, no convívio com seu meio, à medida que vai criando vínculos, o indivíduo começa a desempenhar papéis e luta com os conflitos que ficaram mal resolvidos em fases anteriores, causando assim ansiedade. Assim, começa a usar seus mecanismos de defesa como forma de evitar o confronto com tais conflitos e com sua ansiedade, o que, muitas vezes, é insuportável, no plano mental, para essas pessoas. Esses mecanismos contribuem tanto para a manutenção do equilíbrio humano, como também para o aparecimento de comportamentos anormais, por envolverem distorções da realidade. Portanto, dependendo de como a pessoa lida com eles, pode passar a ter um comportamento “anormal” e este comportamento pode comprometer, ainda mais, seu convívio social, familiar, entre outros, resultando em sintomas psicopatológicos. 2.6.2 A PSICANÁLISE: EVOLUÇÃO E DESDOBRAMENTOS A Psicanálise comemorou, há pouco tempo, um século de existência. E nesse período de existência, a exemplo de outras áreas científicas e no pensamento humano, em geral, também ela sofreu e continua sofrendo profundas transformações. Surgiram correntes psicanalíticas, com concepções contestadoras, inovadoras ou ampliadoras. Ao mesmo tempo, tais correntes, também, passam por constantes mudanças, desde suas formas originais. Para 50 um melhor entendimento da esquizofrenia, sob a ótica psicanalítica, será apresentada, na seqüência, uma breve revisão da literatura sobre a evolução da Psicanálise e seus desdobramentos. De forma esquemática, a Psicanálise pode ser dividida em três importantes períodos: a Psicanálise Ortodoxa, a Clássica, e a Contemporânea (ZIMERMAN, 1999, p.63). Os principais representantes de cada período são, respectivamente : no período ortodóxico, Freud e seus seguidores; o período clássico foi representado por Melanie Klein e Wilhelm Reich; finalmente, o período contemporâneo tem como os maiores representantes Lacan, Bion, Winnicott, Bateson, Heisenberg, entre outros. É importante apresentar, inicialmente, uma breve caracterização de cada corrente psicanalítica, em seu respectivo período histórico, de modo a possibilitar uma diferenciação e compreensão de cada uma: Psicanálise Ortodoxa: a que foi criada, usada por Freud e algumas gerações de seus seguidores, onde o aspecto da investigação enfatizava os processos psíquicos, razão a qual dava-se importância aos sonhos trazidos pelos pacientes e a necessidade de uma análise dos mesmos de forma meticulosa e detalhista, sendo seu enfoque quase exclusivo nos, proibidos, desejos edípicos, reprimidos no inconsciente; consistindo seu objetivo terapêutico unicamente na remoção dos sintomas. A análise era feita de forma mais rígida, basicamente de seis sessões semanais e o mérito do analista estava em sua capacidade de decodificar as manifestações simbólicas; a cura situava em três princípios formulados por Freud, onde o primeiro era ‘o neurótico sofre de reminiscências e a cura consiste em rememorá-las’ (teoria do trauma psíquico)’; o segundo era, ‘ tornar consciente o que é inconsciente’ (teoria topográfica)”; e o terceiro, ‘onde houver o id, o ego deve estar’ (teoria estrutural) (ZIMERMAN,1999, p. 64). Por outro lado, segundo o mesmo autor entende-se por Psicanálise Clássica: Psicanálise Clássica: Começa com o surgimento de novas vertentes psicanalíticas que se diferenciavam dos ‘postulados’ freudianos. O interesse do analista voltava-se para a ‘interpretação das emoções arcaicas, relações objetais parciais, fantasias inconscientes e suas ansiedades e defesas primitivas.’ Dava-se ênfase nas interpretações 51 dos sentimentos agressivos do paciente, ligados ao ‘instinto de morte’; com sessões mais longas, e menor rigidez nas regras técnicas e redução do número de sessões para cinco semanais e posteriormente quatro, em alguns centros. Conservou-se nesse período, a regra de somente ter um valor psicanalítico as interpretações feitas à ‘neurose da transferência’, ganhando aqui valor e espaço a contratransferência ‘ voltando para os primórdios da psicanálise vincular baseada na relação transferencial - contratransferencial; caindo num extremo oposto de que tudo o que o analista sentisse seria literalmente sempre resultante de identificações projetivas do paciente (ZIMERMAN,1999, p. 64) . Com relação à Psicanálise Contemporânea, Zimerman (1999) afirma: Psicanálise Contemporânea: Esta dá prioridade aos ‘vínculosemocionais e relacionais de amor e ódio, ódio e conhecimento, que permeia a dupla analítica.’ Os psicanalistas atribuem uma importância bastante mais significativa à influência da mãe real, no psiquismo da criança.(...) é cada vez maior a crença de que a ‘pessoa real’ do analista exerce uma grande influência na evolução da análise.’ O leque de analisabilidade, incluindo pacientes bastante agressivos, ficou mais ampliado, sendo que o conceito de ‘analisabilidade’ (que precipuamente leva em conta os – antecipados - aspectos de diagnóstico e prognóstico) começa ceder lugar aos critérios de “acessibilidade” (alude mais do que ao diagnóstico clínico, à motivação e a capacidade de o paciente permitir, ou não, um acesso ao seu inconsciente) (...) O estilo interpretativo do analista adquire um tom algo mais coloquial (...) a análise das funções do ego, incluídas aquelas que pertencem ao consciente, ocupam um interesse bem maior por parte dos psicanalistas. Cresce de forma significativa o enfoque nos transtornos narcisistas da personalidade e, da mesma forma começa a ganhar corpo a análise de ‘autismo psicogenético’, tanto em crianças com autismo secundário como com certos casos de adultos neuróticos.’ A psicanálise começa a abrir portas para as outras ciências, como a lingüística, a teoria sistêmica, as neurociências, psicofarmacologia, etologia, etc. Em relação aos critérios de formação de psicanalistas, o pêndulo contemporâneo inclina-se nitidamente para uma ‘formação pluralista’, ou seja, para uma recomendação de que o psicanalista conheça os postulados das diversas escolas de psicanálise e, a partir dessas, juntamente com sua experiência de análise pessoal e de supervisões, construa a sua formação, de forma livre e coerente com seu jeito autêntico de ser (ZIMERMAN,1999, p. 64). Zimerman (1999) ressalta que a primeira fase pode ser chamada de Psicanálise pulsional, a segunda fase de Psicanálise objetal e o terceiro período, o atual, pode ser chamado de Psicanálise vincular. 52 Muita coisa mudou, mas, muito foi preservado e, ainda, pode-se notar que entre os três períodos, existem pontos em comum: A regra fundamental (...) Essa regra consistia fundamentalmente no compromisso assumido pelo analisando, em associar livremente as idéias que lhe surgissem espontaneamente na mente, e verbalizá-las ao analista, independentemente de suas inibições , ou do fato se ele as julgasse importantes ou não.’(...) a regra da abstinência (...) Tal como o nome ‘abstinência’ sugere, essa regra alude à necessidade de o psicanalista abster-se de qualquer tipo de atividade que não seja a de interpretar, portanto ela inclui a proibição de qualquer tipo de gratificação externa, sexual ou social, ao mesmo tempo em que o terapeuta deveria preservar ao máximo o seu anonimato para o paciente’ (...) a regra da atenção flutuante , o terapeuta deve propiciar condições para que se estabeleça uma comunicação de ‘inconsciente para inconsciente’ (...) equivalem a um estado mental de ‘préconsciência’ que, portanto, propicia ao analista estar ligado ao mesmo tempo para os fatos externos e conscientes , e a uma área do inconsciente que lhe favorece uma ‘escuta intuitiva’, que possibilita a arte e a criatividade psicanalítica (ZIMERMAN, 1999, p.291-296). É importante salientar, no âmbito deste estudo, que nos três períodos da Psicanálise existem conceitos que contribuem para um melhor entendimento das doenças mentais, como a esquizofrenia. 53 2.6.3 A ESQUIZOFRENIA, SEGUNDO A ÓTICA PSICANALÍTICA “...O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações os quais acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores...” (TAVOLA,A. – A Alma dos Diferentes) Na concepção psicanalítica, a saúde mental estaria ligada, diretamente, à capacidade do indivíduo de estabelecer vínculos com as pessoas e, de alguma maneira, encontrar formas de suportar o mal-estar e as dores que se apresentam, fugindo, às vezes, ao seu controle. Na teoria freudiana, o comportamento anormal resulta da seguinte seqüência: conflito - ansiedade - defesa - sintomas. O conflito leva à ansiedade; o indivíduo utiliza, então, mecanismos de defesa para reduzir a ansiedade. Os mecanismos de defesa podem distorcer a visão de realidade e conduzir a sintomas de perturbação psicológica. Assim, quando o indivíduo é mal sucedido na resolução de um conflito por meio de ações construtivas normais, pode tornar-se ansioso; e a ansiedade é considerada tanto um sintoma do conflito, como um sinal para a utilização de mecanismos de defesa (HOLMES, 2001 apud MORAIS, 2005). Esse processo pode predispor a pessoa a desenvolver sintomas de perturbação psicológica diversos. Numerosos especialistas interpretam o surgimento de sintomas de psicose, com base nesta ótica. A utilização maciça de mecanismos de defesa pode comprometer, severamente, o contato com a realidade e, conseqüentemente, o ajustamento do indivíduo como um todo: Psicose pode ser definida como uma desordem mental na qual o pensamento, a resposta afetiva e a capacidade em perceber a realidade estão comprometidos. Somado a estes sintomas, o relacionamento interpessoal costuma estar bastante prejudicado, o que interfere 54 substancialmente no convívio social. As características clássicas da psicose são: prejuízo em perceber a realidade de forma adequada, presença de delírios, alucinações e ilusões (TENGAN; MAIA, 2005, p.2). A idéia ou concepção central, nessa perspectiva, é a de que o nível de comprometimento da percepção da realidade, resultante da utilização maciça de mecanismos de defesa, está por trás do aparecimento dos sintomas. Esse processo está presente em diferentes quadros psicóticos, como a esquizofrenia: “psicoses implicam um processo deteriorativo das funções do ego, a tal ponto que haja, em graus variáveis, algum sério prejuízo do contato com a realidade. É o caso, por exemplo, das diferentes formas de esquizofrenias crônicas” (ZIMERMAN, 1999, p. 227) A esquizofrenia é um transtorno que acarreta, na maioria das vezes, acentuado sofrimento ao portador e às pessoas com quem convive. São comuns os delírios de perseguição, por exemplo: Na sua ‘forma clássica’ (forma paranóide), estão presentes delírios e alucinações auditivas e visuais. As descrições desses estados de "loucura" são as mais variadas e, muitas vezes, provocam um fascínio muito grande, não só para pessoas que estudam psiquiatria, mas também para a sociedade. Os delírios muitas vezes possuem grande complexidade na organização das idéias e, se vistos por um determinado ângulo, são passíveis de compreensão, embora não se exclua a possibilidade de um quadro delirante. Poderíamos citar alguns exemplos desses quadros delirantes: ’Durante a madrugada, seres extraterrenos implantaram um chip em meu corpo; estou sendo controlado durante as 24 horas do dia; cada passo meu é observado por esses seres, e tenho a missão de ajudá-los’, ou então ‘Estou sendo perseguida pelos traficantes do meu bairro, doutor; eles sabem que eu os vi passando a droga; agora eles me ameaçam a todo instante; não posso assistir TV, pois eles colocaram uma câmera dentro da TV que observa todo o movimento da casa; mesmo quando venho às consultas, eles estão a par de tudo, pois eles colocaram câmeras aqui também e estão ouvindo tudo, eu não tenho mais paz!’. Com a evolução da esquizofrenia, a convivência com a família e grupos sociais torna-se impossível, fazendo com que o paciente fique excluído e sendo forçado pela família a procurar tratamento (TENGAN; MAIA, 2005, p.3). 55 A literatura psicanalítica, como um todo, sugere que, além da utilização de mecanismos de defesa, outros fatores diversos podem influenciar o aparecimento de quadros de psicose esquizofrênica. Na seqüência, será apresentado um breve resumo sobre algumas das principais concepções teóricas sobre o desenvolvimento da esquizofrenia, segundo a ótica psicanalítica. De acordo com Holmes (2001), há um processo por trás da esquizofrenia que é “a regressão intrapessoal”. Segundo o autor: Freud sugeriu uma tática que os indivíduos usam para lidar com o conflito e estresse esmagador é a regressão (regressão a um estágio anterior do desenvolvimento psicossexual, no qual o indivíduo sentiu-se mais seguro) (ARIETI, 1974; FENICHELl, 1945; apud HOLMES, 2001). Além disso, conflitos na interação social, ou um processo de retração interpessoal (retração social), também, podem influenciar no aparecimento do problema: Uma outra teoria, sugere que pessoas com esquizofrenia consideram estressante o contato com os outros indivíduos, então elas se retraem e essa retração intrapessoal impede os indivíduos de receber feedback sobre que comportamentos ou pensamentos são inapropriados, e na ausência do feedback corretivo, eles começam a comportar-se de modo estranho (FARIS, 1934 apud HOLMES, 2001 p. 261). Outro fator a ser ressaltado nessa doença é o estresse, que, segundo essa perspectiva, desempenha um papel importante na etiologia da esquizofrenia. Uma pesquisa realizada com 50 pessoas com esquizofrenia e 325 normais, entrevistados sobre suas experiências durante um período de 13 semanas; demonstrou que para os pacientes com esquizofrenia, o período em questão era o das 13 semanas imediatamente anteriores ao início dos seus sintomas e hospitalização; sendo que os resultados indicaram que os que tinham 56 esquizofrenia, tenderam mais a ter experimentado eventos de vida estressantes (ex.: perda de emprego, mudança geográfica, divórcio) do que os “normais” (BROWN; BIRLEY,1968 apud HOLMES, 2001). Contudo, o estresse, por si só, não explica a complexa dinâmica envolvida no problema: “...o estresse provavelmente desempenha um papel no desenvolvimento da esquizofrenia, porém o relacionamento não é simples e devese considerar outros fatores ...” (HOLMES, 2001, p. 262). Com base em Mannoni (1988), Ribeiro(1998), também aborda o universo da psicose explicitando que: (...) o psicótico é um sujeito em busca de uma referencia que lhe falta, ou seja, o referencial da lei não simbolizada por ele (...) A constituição do sujeito sempre se dá em referência a um outro, servindo como espelho, uma relação de indistinção funcional com a necessidade da interferência de uma lei, que rompe com essa completude imaginária, instalando-se a falta, a pessoa torna-se um ser desejante, não ligado ao desejo do outro. Se essa interferência falha compromete gravemente o acesso ao simbólico (mundo da lei) e essa falta fica não simbolizada em virtude da ausência da lei, e tende a voltar na realidade. A metáfora paterna é a ‘encruzilhada estrutural’ da subjetividade (Mannoni,1988 apud RIBEIRO, 1998, p.12-13). Embasado em Calligaris (1989), Ribeiro (1998), ainda, afirma: A ausência de uma referência a um sujeito que detém um saber, que instaura uma lei, é condição para a psicose (...). O psicótico é um sujeito livre, solto, por não estar amarrado a nenhum eixo central que lhe guie, falta um ordenador (...) é um sujeito errante em busca de uma referência que lhe falta (...) está sujeitado a consistência de uma referência imaginária, advinda da realidade, pela qual ele está estabilizado. É como se ele inventasse uma referência que desse conta da ordenação que ele necessita para se relacionar com o mundo, referência muitas vezes precária e que ainda não encontrou com o referencial da lei que rege o universal neurótico.(...) O rompimento surge do encontro do psicótico com a lei, que não vê significado nesse encontro, perde sua referencia artificial e se desestabiliza. A realidade obriga o psicótico a se sustentar num saber organizado como o saber neurótico – é o momento da injunção, que coloca seu saber em estado crepuscular, retira a validade desse saber, deixando o sujeito sem nenhum tipo de 57 significação do mundo, e impõe o saber neurótico, que por não estar simbolizado pelo psicótico, retorna enquanto algo real e concreto: são as alucinações e os delírios (CALLIGARIS, 1989 apud RIBEIRO,1998, p.13-14.) Ribeiro (2002), também, afirma que quando o acontecimento psicótico se dá pela irrupção de um surto, ocorre um acidente psíquico, causado por diversas razões, levando a pessoa à impossibilidade de simbolizar. Desta forma, as possibilidades metafóricas tornam-se restritas e simbólica sustentada pela lei a articulação com a ordem é anulada. A crise causa uma ruptura com o universo, denominado por Lacan como ‘crepúsculo do mundo’ . Um outro não barrado exerce uma influência e esmaga-o, tomando a forma de diversos seres imaginários, comprometendo qualquer idéia de unidade em relação ao eu e ao corpo do psicótico. O estilhaçamento do imaginário manifesta-se através de alucinações verbais (palavras ou frases incompletas que são ouvidas pela pessoa) ou alucinações visuais, além de outros fenômenos que a Psiquiatria descreve. A palavra do psicótico é (invadida) contaminada pela presença de um outro que o controla. A pessoa é levada pelo controle desse outro, reduzindo-se à condição de objeto e vítima de seu bel-prazer, é invadido por suas próprias pulsões, perseguido por demandas imaginárias. O psicótico se aliena, oferecendo seu ser em resposta a essa demanda absoluta. Ameaçado de extermínio, ele sofre com a solidão e o isolamento, e gasta toda sua energia tentando fugir deste empreendimento destrutivo. Contra essa invasão do real, virão algumas palavras, atitudes e gestos “estranhos”, frases murmuradas e o delírio: “(...) nas crises mais agudas predominantemente ele age em função da palavra, porque seu corpo dissocia-se da cadeia significante e o sujeito 58 expõe os outros e a si mesmos a muitas situações de risco, e não podemos esperar do psicótico um chamado sem ambigüidades“ (RIBEIRO, 2002, p.80). Autores diversos apontam para uma outra dimensão do problema, que merece destaque no âmbito do estudo da esquizofrenia, através da perspectiva psicanalítica. Teóricos diversos afirmam e especulam que problemas na dinâmica de interação familiar podem estar na raiz da esquizofrenia. Aspectos diversos, como os padrões de comunicação permeados pelo “duplo vínculo”, pesquisado por Bateson e seus colaboradores em 1956, podem exercer um papel central, no aparecimento dos sintomas e evolução do quadro como um todo (HOLMES, 2001). Ou seja, padrões perturbados de comunicação na família podem conduzir à esquizofrenia e/ou exacerbar os sintomas. Desta forma, é essencial investigar como se caracterizam os padrões de comunicação no seio da família e de que modo os mesmos, combinados a outros fatores de natureza diversa, podem influenciar no aparecimento do problema (HOLMES, 2001). Considerando a vasta produção teórica em abordagem psicanalítica em torno deste aspecto, bem como a relevância do assunto, as seções seguintes apresentam considerações sobre a dinâmica de interação familiar do paciente, destacando o papel de padrões vinculares e processos de comunicação intrafamiliares, no surgimento dos sintomas e progressão de quadros de psicose esquizofrênica, segundo a perspectiva psicanalítica e sistêmica. 59 2.6.3.1 INFLUÊNCIA DA DESENVOLVIMENTO DA DINÂMICA DE INTERAÇÃO FAMILIAR NO ESQUIZOFRENIA, SEGUNDO UMA VISÃO SISTÊMICA “...o diferente começa a sofrer cedo, já no primário,onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura...O que é percepção aguçada em:” Puxa, fulano, como você é complicado”. O que é o embrião de um estilo próprio em: “ Você não está vendo como todo mundo faz ?” (TÁVOLA, A . – A Alma dos Diferentes)”. Conforme foi explicitado anteriormente, os mecanismos de defesa podem exercer um papel fundamental no aparecimento de sintomas de perturbação psicológica. No interjogo de forças que se configura na dinâmica familiar, os mecanismos de defesa assumem papel central na configuração dos sintomas. Textualmente, Bowen (1978) descreve esse processo na seguinte passagem: [...] a projeção ocorre em torno do instinto maternal e da maneira pela qual ansiedade permite que este atue durante os períodos de reprodução e de infância da prole. Nele, geralmente o papel do pai é o de suporte [...] O processo tem início com a ansiedade da mãe. O esforço parental ansioso é canalizado por uma energia compassiva , solícita, superprotetora , dirigida pela ansiedade desse filho ou filha , o qual, gradualmente se torna mais debilitado e mais exigente. Uma vez iniciado o processo, este pode ser motivado tanto pela ansiedade materna, como pela ansiedade do filho ou da filha (BOWEN,1978 apud ELKAÏM,1998 p.90). Isto remete à importância de atentar, também, para aspectos de natureza diversa, relativos à constelação familiar, que podem influenciar no aparecimento quadros psicopatológicos. É na família que todo ser humano dispõe de anos de formação e aprendizado; e, partindo desse pressuposto, alguns autores acreditam que problemas na família podem estar por trás do aparecimento da esquizofrenia. 60 Assim, atentam para fatores como as características de personalidade dos pais, padrões de comunicação estabelecidos dentro do seio familiar, entre outros aspectos. É importante notar também que existem evidências de que, muitas vezes, os pais das pessoas que desenvolveram esquizofrenia são menos bem ajustados emocionalmente, em comparação aos de pessoas “normais” (HOLMES, 2001). Segundo Minuchin (1974 apud ELKAÏM 1998) o sistema familiar tem um papel essencial para a evolução do indivÍduo, pois a noção de identidade do indivíduo tem origem, ao mesmo tempo, no sentimento de pertencimento e no de separação. As famílias são laboratórios onde esses dois ingredientes são ministrados e misturados, dando base, simultaneamente, à identidade individual e a instrumentos de socialização. A família “normal”, segundo essa perspectiva, é definida como um sistema que encoraja à socialização, possibilitando aos seus membros apoio, regulação, um desabrochar pessoal e relacional (ELKAÏM,1998). Nessa linha de interpretação, um aspecto ou elemento relativo à constelação familiar que pode contribuir para o surgimento de psicopatologias, segundo a ótica psicanalítica, é a questão da transmissão geracional. Nichols e Schwartz (1998), definem o processo de Transmissão Multigeracional, segundo a ótica psicanalítica: “Este conceito descreve a transmissão do processo emocional da família através de gerações múltiplas” (NICHOLS; SCHWARTZ,1998, p.314) Como este tema é abordado por numerosos estudiosos, será apresentada, a seguir, uma breve caracterização do mesmo, destacando sua influência no aparecimento da esquizofrenia. 61 2.6.3.2 TRANSMISSÃO GERACIONAL: “Estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é um homem e tem necessidade de afeto, de dinheiro e de trabalho: é um homem total e nós devemos responder não à sua esquizofrenia mas ao seu ser social e político.” (FRANCO BASAGLIA) De acordo com Elkaïm (1998), um dos precursores da terapia familiar é Murray Bowen, o qual vê a família humana multigeracional como uma rede relacional que possui um papel fundamental na vida do indivíduo. A família que abriga em seu seio um esquizofrênico é caracterizada, de um lado, por uma rede estreita de relações; e de outro lado, pela presença de uma angústia marcante, que tende a ser transmitida com facilidade de um membro para outro. Vários autores sugerem que conflitos vividos no seio familiar são transmitidos, de alguma forma, de geração em geração. Entre eles, Nichols e Schwartz (1998), afirmam: O conceito de transmissão multigeracional de Bowen conduz a doença emocional não somente além do indivíduo – para família - , mas também além da família nuclear – para várias gerações.O problema do paciente identificado é um produto do relacionamento dos pais daquela pessoa, que por sua vez é um produto do relacionamento de seus pais, e assim sucessivamente, continuando por várias gerações atrás.O problema não está no filho; os pais também não devem ser responsabilizados. O problema é o resultado de uma seqüência multigeracional em que todos os membros da família são agentes e reagentes (NICHOLS; SCHWARTZ ,1998, p. 314). O centro da teoria de Bowen, segundo Elkaïm (1998), diz respeito ao conceito de diferenciação do eu, que consiste na capacidade que cada pessoa possui de manter a separação entre seus sistemas emocional/ intelectual, em relação aos demais componentes familiares. Bowen (1978 apud ELKAÏM 1998) 62 ressalta duas variáveis que influenciam a operação do sistema emocional humano: ‘a diferenciação do eu’ e a ‘ansiedade’”. Segundo o autor, o que impede o andamento natural no processo de diferenciação do ego é o nível dessas duas variáveis, apresentado pelos pais ou responsáveis pela criança (ELKAÏM,1998). O primeiro conceito (diferenciação do eu) ocupa lugar central na teoria de Bowen (1978). De acordo com Nichols & Schwartz (1998), em toda geração, a criança que estiver mais envolvida na fusão familiar vai de encontro a um nível de diferenciação mais baixo do self, enquanto que a criança que se encontra menos envolvida, desenvolve um nível mais elevado de diferenciação do seu “eu” em relação aos seus pais: “ O filho que é objeto do processo de projeção torna-se aquele mais ligado aos seus pais(positiva ou negativamente) e aquele com a menor diferenciação do self.” (NICHOLS; SCHWARTZ,1998, p.314) A capacidade que cada indivíduo possui de manter a separação entre seus sistemas emocionais e intelectuais é influenciada, em parte, por experiências pertinentes ao passado multigeracional, bem como por experiências de vida de sua própria família. Bowen (1978) apud Elkaïm (1998), apresentam dois processos que descrevem como o passado pode influenciar no presente: O processo de ‘projeção’ – familiar – o modo pelo qual o grau de diferenciação atingido pelos pais se transmite aos filhos de maneira não uniforme. Um filho ou filha pode sair de seu processo de desenvolvimento com um grau de diferenciação maior do que aquele apresentado por seus pais. Outro pode desenvolver o mesmo nível que estes e um terceiro, um nível mais baixo.As crianças que emergem do processo com um nível de diferenciação mais baixo, foram expostas à ansiedade crônica de seus pais. São, por isso, mais sensíveis a estes do que seus irmãos e levam consigo esse alto nível de sensibilidade para todo o relacionamento que venham a formar.(...)levam consigo um modo de perceber e interpretar o comportamento dos demais, que desenvolveram com seus pais, e um conjunto de comportamentos emocionais associados ao complexo formado por sensibilidade, percepção e interpretação. Essas crianças se encontram mais expostas a imaturidade de seus pais do que seus irmãos, estes mais afortunados. Apresentam uma menor capacidade de separar seu sistema emocional do intelectual e sua vida é dominada mais pelos sentimentos e pelo automatismo de respostas do que a vida de seus irmãos.Tem mais 63 dificuldades de separar-se sem traumas de seus pais e, em casos extremos,podem nunca chegar a fazê-lo. O conceito de processo de transmissão multigeracional aplica-se ao modo pelo qual os processos de projeção familiar, repetidos de geração em geração durante longos períodos de tempo levam os diferentes ramos de uma família a alcançar níveis mais baixos ou mais altos de diferenciação (Bowen,1978 apud ELKAÏM,1998, .p.87). Bowen (1978) apud Elkaïm (1998), descreve a existência de padrões diversos de manifestação de ansiedade entre o casal, que se refletem em ligações emocionais não-resolvidas, as quais podem promover sérios distúrbios na personalidade da pessoa envolvida em tais padrões, principalmente em um dos filhos. O autor descreve alguns dos principais modelos de manifestação de ansiedade, que podem desencadear processos dessa natureza: ‘O Processo emocional da Família Nuclear’ - está relacionado aos processos desenvolvidos no seio do par conjugal e da família nuclear, destinado a solucionar as dificuldades decorrentes de ligações emocionais não-resolvidas.O nível de diferenciação dos parceiros e a intensidade da ansiedade determinam o limiar além do qual esses processos e seus sintomas ocorrem.Quanto mais alto o nível de diferenciação do ego em uma família, mais capazes serão os indivíduos que a compõem de manter seus níveis funcionais na presença do aumento dos níveis de ansiedade - e menos radicais serão as mudanças funcionais, quando de sua ocorrência(...)O primeiro deles denominou distância emocional. À medida que a ansiedade sofre um aumento, os cônjuges envolvidos reduzem seu contato mútuo.Tanto podem chegar a evitar-se mutuamente quanto os processos de redução de contato podem se dar em nível interno a cada um deles.(...) A distância torna-se tão grande que ambos acabam por saber muito pouco sobre os pensamentos, sentimentos ou mesmo sobre a forma de viver do outro.As manifestações específicas da distância emocional dependem do grau de diferenciação dos indivíduos nela envolvidos e da intensidade do nível de ansiedade com o qual são obrigados a defrontar-se.O segundo padrão do processo emocional da família é o do conflito entre os cônjuges. A intensidade do conflito pode variar de pequenas alterações à violência física.(...) o conflito em si,poderia ser definido como uma reação em cadeia, em que cada ataque conduz a um contra-ataque, e os questionamentos(...) A reação emocional em cadeia bloqueia o encontro de uma solução para o problema – e o conflito revela a fusão primária entre as pessoas.Cada uma delas declara à outra o quanto ela ou ele, de maneira clara e com toda a sua força, violou a interdependência estabelecida e o que deve fazer para corrigir a situação.O terceiro padrão que se evidencia na família nuclear Bowen denominou disfunção de um dos cônjuges. Um deles mostra delegar ao outro a responsabilidade por seu próprio ego e esse outro, por sua vez, mostra estar administrando áreas cada vez mais 64 complexas de responsabilidade.(...) quando esse processo é alimentado por uma carga suficiente de ansiedade e não sofre um desvio que o transforme num outro processo, o cônjuge submisso pode desenvolver uma disfunção emocional, física ou social.Bowen via esse quadro como um processo de reciprocidade no qual um dos cônjuges reduz seu funcionamento - e o outro, proporcionalmente o aumenta.Nessa reciprocidade,cada um tem um preço a pagar: o cônjuge submisso torna-se predisposto a apresentar disfunções físicas e psíquicas e sua postura básica em relação à vida assume os contornos da pessoa que se rende, indefesa. O que toma para si as responsabilidades carrega um sentimento de enorme responsabilidade, que pode atuar como cadeias a limitar sua energia e liberdade de perseguir metas importantes para o ego.O quarto padrão da família nuclear, a projeção do problema sobre um dos filhos, representa a operação de uma versão intensa do triângulo parental (BOWEN,1978 apud ELKAÏM,1998, p. 89-91). Por sua vez, Correa ( 2004), considera, ainda, que : O reconhecimento da alienação da subjetividade, comprometida numa transmissão psíquica geracional defeituosa, possibilita um novo olhar clínico sobre as patologias da modernidade. O vínculo mãe-bebê e o grupo familiar constituem o berço psíquico do sujeito, constituído por uma tecelagem grupal geracional que poderíamos denominar arquivos de família. Os processos de transmissão são sustentados por mecanismos de identificação junto a um interjogo de projeções introjeções e incorporações, assim como por uma referência ao superego parental (CORREA, 2004, p. 1- 2). De acordo com Nichols; Schwartz (1998), ao atuar na Psiquiatria, Bowen voltou-se para o enigma da esquizofrenia. Além disso, por ter raízes na Psicanálise e ter se submetido à análise por 13 anos, Bowen procurou aplicar os conceitos da Psicanálise em seus estudos sobre a esquizofrenia, expandindo assim, seu enfoque do paciente esquizofrênico para a díade ‘mãe-filho’, com o propósito de ampliar o conhecimento acerca da ‘simbiose mãe-filho’, e sua influência no aparecimento de patologias. Dessas suas pesquisas sobre a simbiose mãe-filho, Bowen observou os padrões de relacionamentos repetitivos: ‘ 65 alternação de ciclos de proximidade e distanciamento, estranhamente sensíveis a deslocamentos na tensão emocional na mãe ou no filho, ou no relacionamento entre eles.’ O autor acreditava que a ansiedade de separação, associada à ansiedade da incorporação, era a dinâmica básica desse tipo de relacionamento. Partindo dessas observações, Bowen introduziu o conceito de ‘apego ansioso’, uma forma patológica de ligação orientada pela ansiedade e pela emocionalidade que reviram a razão e o autocontrole. “(...) o apego ansioso é o oposto do apego funcional, que é um aspecto fundamental da diferenciação”. (NICHOLS & SCHWARTZ, 1998, p. 310). 66 2.6.3.3 - A CONSTRUCÃO DA PSICOSE NO SEIO DAS RELAÇÕES FAMILIARES: O PAPEL DOS VÍNCULOS “...A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender...” (TAVOLA, A . – A Alma dos Diferentes) Elkaïm (1998) propõe uma explicação da esquizofrenia relacionada a um fenômeno interpessoal: a doença mental já não é mais considerada como conseqüência de um psiquismo perturbado, mas como um problema de comunicação surgido no interior das células familiares. Assim, é importante atentar para questões como a natureza dos vínculos e processos que se estabelecem no seio familiar.Para Pichon-Rivière (2000), em sua Teoria do Vínculo : (...) dá o salto qualitativo de uma teoria psicanalítica predominantemente intrapsíquica, para uma psiquiatria social, considerando indivíduo como um resultante dinâmico – mecanicista não da ação dos instintos e dos objetos interiorizados, mas do interjogo estabelecido entre o sujeito e os objetos internos em uma relação de interação dialética, a qual se expressa através de certas condutas. Relata o vínculo como uma estrutura dinâmica em contínuo movimento englobando o sujeito e o objeto, tendo essa estrutura características consideradas normais e alterações interpretadas como patológicas. A todo o momento o vínculo é estabelecido pela totalidade da pessoa que ele interpreta como uma Gestalt, em constante processo de evolução (PICHON-RIVIÈRE, 2000 p. XI). Pichón-Rivière (2000), ressalta o papel dos vínculos familiares e a importância de sua análise para uma melhor compreensão do modo como acontece a disfunção da estruturação normal da personalidade e como a mesma 67 age sobre a pessoa, afirmando, também, a existência de uma variedade de vínculos: A análise do vínculo patológico que o sujeito estabelece com o outro, permite compreender de que modo se perturba a estruturação normal da personalidade e de que forma deve se operar sobre o paciente para reitificar seus vínculos patológicos e contribuir terapêutica e profilaticamente para a proteção da evolução sadia de sua personalidade (...) Para ele, nunca existe só um tipo de vínculo, mas que as relações que o sujeito estabelece com o mundo são mistas, na medida em que emprega, simultaneamente, estruturas vinculares diversas. Ele estuda o indivíduo não como um ser isolado, mas incluído dentro de um grupo, basicamente familiar; investiga a inclusão e significação que esse grupo tem dentro da sociedade na qual está inserido, que ele denomina de investigação institucional (PICHONRIVIÉRE, 2000, p. XII – XIII). Portanto, nessa perspectiva, o aparecimento de sintomas psicóticos pode ser entendido dentro de uma perspectiva sistêmica, na qual o papel das vinculações familiares se reveste de uma dimensão fundamental: O estudo psicossocial, sociodinâmico e institucional coleta no exterior informações que fornecem dados sobre o interior do paciente, permitindo detectar e/ou descobrir as causas, em termos gerais, que provocaram a ruptura do equilíbrio psicológico do paciente que se mantinha, até o momento mais estável. Segundo ele, em razão de um determinado fator; geralmente a perda do prestígio do líder da família – que se relaciona com a totalidade daquilo que acontece dentro desse grupo – a estabilidade grupal é perdida, surgindo condições para o aparecimento, em um de seus membros, da ‘psicose’, que aparece como emergente novo e original; levando tal “psicótico” a se transformar pouco a pouco no líder familiar. Assinala também, a necessidade de que esse membro psicótico se encarregue da doença mental de todo grupo familiar. O delírio deve ser compreendido como uma tentativa do paciente de solucionar um determinado conflito e, ao mesmo tempo, como uma tentativa de reconstruir não apenas seu mundo individual mas, o de seu grupo familiar e, secundariamente o social. Isso determina o fato de que para compreender um delírio, é fundamental investigar o conjunto de forcas que atuam no meio familiar do qual emerge a doença mental. (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p.XIII). Ainda, o autor salienta que a pessoa se despersonaliza para romper o compromisso vincular estabelecido com o outro.Também, caracteriza que o vínculo normal se dá a partir de uma boa diferenciação entre o sujeito e os objetos 68 internalizados por ele, e que o vínculo é uma estrutura dinâmica em contínuo movimento, que através de motivações psicológicas resultam em variadas condutas as quais a pessoa tende a repetir em suas relações internas e externas com tais objetos: De acordo com sua teoria do vínculo, interpreta a despersonalização com a negação do vínculo, como uma tentativa de perda do ser, de não ser ninguém para não ter compromisso no vínculo com o outro. Considera o vínculo normal, aquele que se estabelece entre o sujeito e um objeto, como resultado de uma boa diferenciação entre ambos. O vínculo é uma estrutura em contínuo movimento, que funciona acionada por motivações psicológicas, resultando daí uma determinada conduta, que se repete tanto na relação interna como na relação externa com o objeto. Descreve dois campos psicológicos nos quais o vínculo se expressa: o interno e o externo, e é o vínculo interno, que condiciona muitos dos aspectos externos e visíveis da conduta da pessoa. O caráter torna-se mais compreensível à medida que se descobrem seus vínculos internos (PICHON - RIVÉRE, 2000 .p.XIV). Diante disso, as condutas psicóticas são entendidas como o resultado de um constante interjogo de vínculos internos exteriorizados e reintrojetados. O depositário assume um determinado papel, que está relacionado com as características daquilo que foi depositado e com a função que o depositante lhe adjudica em relação ao depositado: Na psicose, o vínculo paranóide, o vínculo depressivo e o vínculo maníaco também se caracterizam por serem vínculos de controle, semelhantes ao da neurose obsessiva, só que muito mais rápidos quanto à velocidade e mais operantes quanto a paralização do objeto. O aumento da ansiedade experimentada pelo psicótico determina a necessidade de um controle maior do outro. Na esquizofrenia, esses vínculos podem aparecer juntos, alternadamente ou com predominância de um deles, mas com uma característica adicional (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p.4). Para esse autor, são múltiplos os laços vinculares: 69 (...)todas as relações de objeto e todas as relações estabelecidas com o mundo são mistas.Existe uma divisão que é mais ou menos universal, no sentido de que por um lado se estabelecem relações de um tipo, e por outro, de um tipo diverso.O grupo social em que esse sujeito está atuando adquire uma dupla significação.(...) se juntarmos os diferentes tipos de relações que esse paciente se estabelece com seu grupo familiar e levarmos em conta os diversos tipos de conduta que ele manifesta em relação a cada membro do grupo, teremos a descrição de um quadro clínico visto do seu lado de dentro (PICHON-RIVIÈRE, 2000 p. 5) O mesmo autor enfatiza, ainda, a importância da investigação sob o ponto de vista psicossocial, analisando a parte da pessoa que se expressa para fora, dirigindo-se aos outros membros de sua família que o rodeiam. O autor, também, aponta a finalidade do estudo sociodinâmico para uma melhor compreensão da configuração dos vínculos estabelecidos dentro do seio familiar, permitindo, assim, a análise das tensões que existem entre os membros que configuram a estrutura do grupo familiar onde a pessoa está inserida, no qual as tensões dirigem-se para um certo ponto fazendo a parecer um emergente, como um todo que atua através de um membro do grupo familiar (PICHON-RIVÈRE,2000). O autor ressalta, portanto, a necessidade de estudar as tensões internas do grupo familiar e analisar em que momento ocorreu a ruptura do equilíbrio do grupo e os motivos dessa ruptura. Em relação à patologia do vínculo, o campo psicológico mais importante na patologia mental é o campo intrapsíquico (PichonRivière, 2000). Nas palavras do autor: O vínculo com a mãe é chamado de vínculo uterino.O feto estabelece um vínculo parasitário com a mãe, que mais tarde, pode tornar se simbiótico, e em certas ocasiões, siamésico. Este último é o mais angustiante de todos, porque a criança pode experimentar a separação da mãe, com se acarretasse a morte das duas, ou a impossibilidade de sobrevivência de uma delas, o que poderia acontecer, na situação 70 parasitária ou na simbiótica, como se observa em determinadas esquizofrenias e em certos processos psicóticos. Em uma projeção paranóide, aquilo que o sujeito coloca fora, no mundo exterior ou na sociedade, é a pauta da conduta dos vínculos internos com seus objetos internos. Os objetos atuais funcionam para o sujeito como telas referenciais sobre as quais coloca toda uma estrutura, um modo de ser. À medida que o vínculo interno se fortalece, vai passando da neurose par a psicose (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p.36-37). Pichon-Rivière, ainda, ressalta que, de uma maneira particular, em meio a este jogo de forças, de algum modo, a pessoa doente tenta se comunicar: Podemos dizer que até nos quadros catatônicos mais severos os pacientes buscam um tipo particular de contato com o mundo exterior. Um paciente catatônico sempre tem algum movimento, sempre apresenta alguma estereotipa que estabelece uma linguagem, uma comunicação através de um movimento com as mãos, dedos, etc. Instalando aí o aparelho de transmissão com seu código ‘Morse’ privado, enviando uma comunicação. Todo o psiquismo e toda a personalidade do paciente se expressam através desses pequenos gestos, que têm uma significação simbólica total. Uma conduta particular, uma atitude simbólica particular, representa a totalidade da vida mental do paciente, refletida em uma pequena conduta, num processo de intensa condensação sobre essa situação. Aquilo que ele está expressando através desse gesto, expressa toda a sua vida mental. A pessoa repete diante de todas as pessoas que se encontram ao seu redor sua estereotipa, como se estivesse buscando alguém que fosse capaz de compreender a significação de sua mensagem (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p.111-112). Como ressaltou anteriormente, Pichon-Rivière(2000), as condutas e atitudes simbólicas particulares das pessoas acometidas pela doença mental, como a esquizofrenia, por exemplo, representam a totalidade da vida mental da pessoa, que se reflete em uma determinada conduta, e o que ela expressa, através de tais atitudes, gesticulações, também, deve ser levado em conta para uma melhor compreensão do quadro. 71 2.6.3.4 - OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO INTRAFAMILIARES E O SURGIMENTO DE SINTOMAS PSICÓTICOS “...Nessas moradas estão tesouros da ternura humana.De que só os diferentes são capazes.Não mexa com o amor de um diferente.A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois” (TAVOLA, A . – A Alma dos Diferentes) Conforme foi mencionado anteriormente, padrões de comunicação perturbados no seio familiar, também, exercem um papel fundamental no aparecimento e evolução de sintomas psicóticos. Assim sendo, esta seção apresenta algumas considerações sobre este aspecto, em específico. Villares et al.(2005) propõem uma explicação da esquizofrenia relacionada a fenômenos interpessoais: O modelo comunicacional passou a determinar as abordagens a partir da década de 60, concomitante ao desenvolvimento de estudos dirigidos à família como um sistema. Os estudos de Wynne & Singer (1963), sobre os padrões comunicacionais familiares na esquizofrenia e a teoria do duplo-vínculo proposta por Bateson e col. (1956) são exemplos deste modelo de pesquisa. As pesquisas conduzidas pelo grupo de Palo Alto, lideradas por Bateson, representaram uma importante articulação da compreensão da esquizofrenia em termos comunicacionais no contexto das relações familiares. Entretanto, tais proposições foram freqüentemente mal interpretadas e o foco causal continuou a predominar, com concepções de esquizofrenia como um ‘produto’, ou uma ‘solução’, por um membro da família, para lidar com uma estrutura familiar doentia.(...) O modelo familiar sistêmico evoluiu com o reconhecimento das limitações do enquadre proposto inicialmente, linear e homeostático, chegando à formulação de abordagens do sistema familiar como um conjunto interacional orgânico ( VILLARES et .al. 2005, p. 3). Assim, a doença mental já não é mais considerada como conseqüência, apenas ou somente, de um psiquismo perturbado, mas como um problema decorrente, também, de processos de comunicação perturbados, no interior da 72 célula familiar. Segundo a teoria da comunicação citada por Pichon-Rivière (2000), se o paciente esquizofrênico se comunicasse diretamente, experimentaria uma ansiedade tão forte, que não a poderia tolerar, por isso ele distorce o processo de comunicação. Assim, a loucura é também um fruto de distorções da comunicação. Nessa linha de interpretação, a comunicação distorcida serve, também, ao propósito de se comunicar algo, já que a comunicação direta é vivida como perigo de sua interrupção. A pessoa tem medo de não ser aceita em uma situação de comunicação direta, ou que se rompa a comunicação, ou de atacar e destruir o objeto, perdê-lo, e interromper a relação com ele. O esquizofrênico inicia, teoricamente, um longo relato, ou um monólogo, ou um diálogo incoerente,com a finalidade aparente de tomar distância. A “salada” de palavras acontece em momentos de grande ansiedade, como uma defesa aguda, a qual poderá se tornar crônica. O distanciamento é uma forma de conduta defensiva, para evitar a frustração de perder a comunicação, seja pelo perigo de destruir o objeto e ficar desamparado, ou pelo medo de ser pego pelo objeto em uma situação paranóide e ser ele destruído por esse objeto. Pichon-Rivière (2000), afirma que: A teoria da comunicação não nos obriga a julgar se uma conduta é boa ou má: sempre observamos simplesmente qual é a finalidade da comunicação, conscientes de que aquilo que o paciente está fazendo é a única coisa que ele pode fazer nesse momento, nessa situação particular. Sempre temos a hipótese de que um paciente tenta se comunicar de alguma forma (PICHON-RIVIÈRE,2000, p.118). Um aspecto da comunicação, familiares conflituosas, é diretamente relacionado às relações justamente o “duplo vínculo” que, segundo alguns autores, tem papel fundamental no desenvolvimento da esquizofrenia. Entende- 73 se por duplo vínculo: (...) uma situação que se estabelece quando uma pessoa se vê diante de mensagens de aceitação (amor) e rejeição. Tais mensagens são simultâneas e contraditórias, de modo que quem as recebe fica confuso. Segundo Bateson, adultos jovens que desenvolveram esquizofrenia freqüentemente têm história de relação de duplo vínculo na infância (MARIOTTI, 1999, p.2.). Em seus estudos sobre a análise das comunicações interpessoais e a estrutura da família, Bateson (1956), define o duplo vínculo como uma distorção da comunicação, ou seja, uma mensagem que chega para quem a recebe, com duplo sentido. A pessoa não consegue assim, distinguir qual das mensagens deve ser descartada e qual deverá ser considerada, o que a conduz a um impasse, fazendo com que veja o mundo pela ótica da dupla vinculação. A vivência desse processo, para muitos indivíduos,chega a atingir níveis intoleráveis: O duplo vínculo permeia os processos de comunicação humana. De acordo com Bateson e colaboradores (1956), o esquizofrênico é fruto dessa modalidade de comunicação. Fruto de um contexto relacional ameaçador, confuso e imobilizante,que pode levar o indivíduo constantemente a confundir o literal e o metafórico. O único caminho encontrado pelo membro de uma família envolvida por longo período nesse tipo de comunicação, pode ser justamente o que conduz à esquizofrenia, através da qual sua confusão pode ser expressa, sem medo de atacar diretamente aquele que o ataca (BATESON, et. al. 1956 apud CALLIL,1987, p.29-30). Segundo Mariotti (1999), pessoas tidas como “normais” tomam as situações do duplo vínculo como desafios, reagindo sobre elas, intervindo, questionando, pedindo mais clareza sobre tal comunicação. Bateson (1956 apud MARIOTTI (2005), chama essa capacidade de “metacomunicação”. Nos indivíduos esquizofrênicos, a saída adotada nesse caso é o afastamento do mundo real, porque a constante exposição ao duplo vínculo os faz perder essa a capacidade de intervir, de metacomunicar. Essas pessoas substituem a comunicação normal 74 por outro modo de comunicação, diferente dos que as pessoas “normais” usam. Imaginam, por exemplo, que toda mensagem tem “algo por trás” e tornam-se pessoas constantemente desconfiadas. Adquirem um padrão de pensamentos concreto e infantil, ou ignoram sistematicamente essas mensagens, afastando-se de tudo e encastelando-se em seu próprio mundo interior, perdendo sua autocapacidade de comunicação (MARIOTTI, 1999). Desta forma, para o entendimento dessa patologia, é importante tentar compreender ou decifrar a finalidade da comunicação consciente, que a pessoa “doente” ou “anormal” está fazendo. A sintomatologia psicótica, nessa perspectiva, pode ser entendida como o único recurso utilizado pelo indivíduo nesse momento e nessa situação particular. Sempre tendo em mente a hipótese que, dessa forma, ele tenta comunicar algo (PICHON-RIVIÈRE, 2000, apud MORAIS, 2005). É importante observar, ainda, que teóricos psicanalíticos diversos sugerem que um dos esquizofrenia principais fatores que influenciam no desenvolvimento da reside na qualidade do relacionamento mãe-filho. Mães superprotetoras e controladoras, mas ao mesmo tempo, rejeitadoras e distantes, podem contribuir para o aparecimento da esquizofrenia. Essa superproteção, supostamente, sufoca o desenvolvimento emocional da criança e sua distância emocional provoca nela uma insegurança pessoal, deixando-a fragilizada e vulnerável. Com isso, ao se depararem com o estresse (conflito), tais pessoas entram em desequilíbrio (HOLMES, 2001), o que predispõe ao aparecimento de sintomas psicóticos. Contudo, é importantíssimo atentar para o papel do duplo vínculo no processo de comunicação mãe-criança, no surgimento e evolução de sintomas psicóticos. Bateson e seus colaboradores (1956), dão um exemplo 75 claro de interação entre mãe e filho, situando os processos de duplo vínculo nessa relação: A mãe apresenta um comportamento afetivo um convite à aproximação e a criança então reage a esse convite tornando – se mais próxima de sua mãe. Essa aproximação do filho, gera ansiedade na mãe por temer uma relação excessivamente intima. Ela então sente a necessidade de se distanciar do filho, mas não consegue aceitar seu ato hostil em relação à criança Ela então, nega sua hostilidade e, simulando afeição diz: ‘Vá para a cama, filho.Você está muito cansado’.Essa comunicação tem na verdade a intenção de negar um sentimento que poderia ser comunicado da seguinte maneira: ’Saia da minha frente, pois estou cheia você’.de você. (BATESON,1956, apud CALIL,1987.p.29) Desta forma, a discriminação da mensagem se torna um processo complexo: Se a criança discrimina os sinais metacomunicativos da mensagem enviada pela mãe, terá que encarar o fato de que sua mãe não a quer e que, e que por detrás dessa atitude afetiva, sua mãe a está na verdade enganando (...) ‘ao discriminar corretamente a mensagem emitida por sua mãe a criança seria punida’. É melhor então aceitar a idéia de que está cansada, do que admitir que sua mãe a está enganando (BATESON, 1956 apud CALIL,1987,p.29). Resumindo, o filho é punido se discriminar corretamente a mensagem da mãe e é também punido caso a discrimine incorretamente. Essa criança está presa em um processo de comunicação permeado pelo duplo vínculo. Para sair dessa situação, o pai poderia ser solicitado, mas, geralmente, não é capaz de intervir na relação mãe-filho e de apoiar a criança, face às contradições utilizadas. Ele está, também, numa situação difícil, pois, se concordar com o filho sobre a atitude enganosa da mãe, terá que reconhecer também a natureza do seu próprio relacionamento com ela (CALIL,1987). Forma-se, então, um triângulo de relações conflituosas, permeado por processos extremamente perturbados de comunicação. 76 2.6.3.5 - O TRATAMENTO DA PESSOA COM ESQUIZOFRENIA: IMPORTÂNCIA DO ENVOLVIMENTO DE FAMILIARES “A beleza de um jardim está na diferença e multiplicidade de espécies, cores, formatos e perfumes...cada um fazendo sua parte, por mais insignificante que pareça...e assim devemos ser...com a união de nossas diferenças, construir um todo! É na diferença que nos tornamos iguais!” (GEUZA MORAIS) Finalizando, cabe aqui tecer algumas considerações sobre os diferentes aspectos envolvidos nas explicações de cunho psicanalítico para a esquizofrenia. Villares et al. (2005), afirmam que a literatura revela que, grande parte dos estudos realizados a partir de um referencial psicodinâmico tem procurado, de alguma forma, lidar com uma relação de causalidade linear entre a doença mental e a família. Esse foi um pressuposto básico de estudos conduzidos a partir do final da década de 50, que procuraram estabelecer relações de causalidade entre aspectos das relações e estruturas familiares (em especial o relacionamento mãefilho e as relações maritais) e a manifestação da doença (VILLARES et al. 2005). Contudo, o autor apresenta um resumo da evolução do pensamento psicanalítico, nesse sentido, nos períodos seguintes: As investigações recentes mais importantes nesse terreno, segundo Marsh,(1992) têm se realizado a partir de um enfoque multidimensional, formulação teórica que pretende reunir evidências complementares das ciências biológicas, sociais e do comportamento. No estudo da esquizofrenia, esse modelo procura considerar de maneira integrada aspectos do substrato biológico da doença e fatores ambientais e psicológicos, apoiados em análises das evidências de pesquisas realizadas na área. Os aspectos psicossociais mais estudados dentro do ambiente familiar são os fatores de estresse que influenciam o curso do transtorno, sendo as principais variáveis medidas, os Desvios de Comunicação e o índice de Emoções Expressas (EE) na convivência familiar. As EE, particularmente, tornaram-se uma das principais variáveis pesquisadas, promovendo o encontro (e confronto) de modelos teóricos e merecendo, portanto, análise mais detalhada em seguida à descrição de estudos realizados a partir das abordagens epidemiológicas e sociais. (VILLARES. et al., 2005, p.3). 77 Segundo esses autores, freqüentemente incapacitante, a esquizofrenia é uma doença crônica, cabendo assim aos familiares cuidar ou administrar, de alguma maneira, o membro da família que sofre, fica dependente e desorganizado, bem como promover o contato entre o doente e os serviços de saúde existentes. Esta é uma tarefa complexa, que envolve as etapas de procurar, avaliar e encaminhar o doente ao médico, hospital ou serviço de saúde disponível; conduzir as "negociações" entre o profissional que prescreve determinado tratamento e o familiar, que identificado como paciente, reluta em aceitá-lo; lidar com as situações de crise, decidindo quando é possível o manejo em casa e quando buscar ajuda emergencial. Salientam, contudo, as dificuldades envolvidas no processo: (...) nem todos os familiares possuem condições estruturais, econômicas e emocionais para conduzir satisfatoriamente esses aspectos da convivência com a doença mas, que de alguma forma elaboram a experiência, lidam com seu sofrimento e expectativas viabilizando a convivência com a doença, buscando apoio em sua rede de conhecidos, em algum sistema de crenças e em tratamentos alternativos. O envolvimento afetivo característico dos laços familiares, de alguma forma orienta as tentativas de entendimento e as buscas de soluções para muitas questões pertinentes ao convívio com um familiar doente (VILLARES et al., 2005, p.2). Nos casos de esquizofrenia com início na infância, a literatura sugere que problema adquire contornos ainda mais peculiares: A presença de uma criança doente em uma família quase que inevitavelmente acaba levando a um desequilíbrio nas relações familiares, principalmente quando se trata de doença mental. Muitas vezes, um ser doente acaba mobilizando sentimentos variados, como culpa, raiva, medo, vergonha, fracasso, entre outros, os quais necessitam ser trabalhados. Em algumas situações, uma orientação familiar pode solucionar o problema. Entretanto, nas famílias onde as relações já eram conflituosas, o surgimento de uma criança doente somente favorece a rede de problemas já existente, e a criança não tem 78 a possibilidade de mudanças, sendo necessário um processo de terapia de família, com o objetivo de uma melhor compreensão e solução desses conflitos (TENGAN; MAIA, 2005, p.11). Os mesmos autores, enfatizam que: Na literatura não existem trabalhos mostrando que determinadas técnicas psicoterápicas são efetivas no tratamento da esquizofrenia na infância. Parece que ações socioeducativas voltadas ao funcionamento da família, soluções de problemas e habilidades de comunicação têm sido mais efetivas na diminuição das crises. No nosso meio, o tratamento desses casos em nível de hospital/dia (HD) tem mostrado uma evolução mais favorável. De um modo geral, a criança permanece no HD cerca de duas a cinco vezes por semana, por meio período, onde é assistida por uma equipe multidisciplinar. A família também participa de algumas atividades, onde é realizado um trabalho de orientação sobre a doença e muitas vezes tenta-se abordar possíveis fatores dinâmicos que possam interferir no quadro (TENGAN; MAIA, 2005, p.11). Com base em Villares et al.(2005), é de suma importância o envolvimento dos familiares para a compreensão e convivência com a esquizofrenia, oferecendo um suporte para melhor lidarem com esse transtorno, desmistificando conceitos e imagens do universo cultural e social-familiar, onde a maioria das pessoas a caracterizam como: ‘Problema de Nervoso’, Problema na Cabeça’, ‘Problema Espíritual’, as quais partem de uma construção cultural muitas vezes carregada de preconceitos, causando danos e sofrimento para o portador da doença , bem como, para seus familiares. A discussão dessas questões junto à família, levando-a rumo a uma melhor compreensão da doença e, conseqüentemente, a um melhor cuidar sobre do membro acometido pelo transtorno, é de capital importância. 79 3 - CONCLUSÃO O conjunto dos aspectos abordados neste estudo sugere, portanto, uma conjugação ou integração de diferentes perspectivas, na busca do entendimento do complexo assunto da esquizofrenia. Embora haja controvérsia entre as diferentes abordagens sobre o assunto, as mesmas não devem ser consideradas como concorrentes ou antagônicas, mas como partes de um mesmo todo. Cada concepção teórica contribui, de alguma forma, para o entendimento do comportamento anormal e, conseqüentemente, da esquizofrenia. Em alguns casos, as diferentes explicações podem ser associadas, de modo a promover uma explicação mais abrangente para os transtornos mentais (MORAIS, 2005). A revisão da literatura, como um todo, permite supor que é impossível trabalhar a questão da esquizofrenia, sem levar em conta o contexto familiar e social em que o paciente está inserido. Concepções e abordagens diferenciadas sobre o assunto, sugerem que a participação e colaboração de familiares no processo de tratamento de pacientes com esquizofrenia, se revestem de uma dimensão especial. É importante atentar não apenas ao controle dos surtos e das crises, mas ter em mente que a família, também, deve ser envolvida, para ajuda no processo terapêutico. É importante, ainda, sensibilizar a sociedade no sentido de aceitação e respeito para com tais pessoas, para que as mesmas venham a ser tratadas com mais humanidade. As possibilidades de tratamento, vigentes no cenário atual, bem como as sofisticadas estratégias tecnológicas para investigação do problema, como exames de tomografia computadorizada, tomografia por emissão de pósitrons (entre outras) possivelmente, conduzam a um “olhar” mais global para esta 80 problemática, nas próximas décadas. A integração entre todas as hipóteses levantadas sobre a origem, o desenvolvimento e/ou agravamento da esquizofrenia, nas várias abordagens de pesquisa e opções psicoterapêuticas existentes no cenário atual, podem vir a possibilitar o desenvolvimento de novos paradigmas com relação ao assunto, que permitam conceber o paciente não somente como um “indivíduo” ou “sujeito”, mas acima de tudo como “Pessoa”, contribuindo para uma melhora significante no quadro em que se insere essa doença. O desenvolvimento dessa pesquisa contribuiu, de modo satisfatório, no que diz respeito à minha formação acadêmica, proporcionando um variado e importante embasamento teórico, oferecendo, conseqüentemente, um suporte melhor para a prática, levando em consideração a máxima que essa nobre profissão exige “olhar para o Ser Humano” sob outra ótica com os olhos do Amor, independente da abordagem teórica na qual se for trabalhar. A presente pesquisa poderá ser de grande importância para o desenvolvimento científico, para uma maior e melhor compreensão das causas já existentes dessa doença, levando o profissional da saúde (psicólogos, psiquiatras, médicos, enfermeiros, entre outros) a buscar uma compreensão mais global dessa doença, suas manifestações, e diversas causas e fatores que contribuem para o desenvolvimento, e/ou agravamento da mesma, para a elaboração de um diagnóstico mais preciso e cauteloso, bem como de estratégias psicoterapêuticas mais eficazes. O clínico que atua junto a portadores deste transtorno, precisa estar atento para todos esses aspectos, para assim manter uma visão mais ampla do problema, evitando rótulos, julgamentos desnecessários, os quais podem comprometer mais ainda a saúde mental dessas pessoas, despersonalizando-as, 81 ainda mais, reduzindo-as a “coisas” e levando-as a um desmerecimento; de serem vistas, antes de qualquer quadro clínico, como “Pessoas”, no pleno e total sentido dessa palavra, deixando de infringir assim, seus direitos como seres humanos. De modo particular, é necessário encarar o ser humano não somente como um “indivíduo” mas, como “Pessoa” em sua totalidade, levando em conta a necessidade de complementar a investigação psicanalítica, com a investigação social, voltada para uma tríplice direção: psicossocial, sociodinâmica e institucional. É importante considerar o homem em uma só dimensão, a humana, concebendo a pessoa como uma totalidade integrada por três dimensões: a mente, o corpo e o mundo exterior, como considera Pichon-Rivière (2000) apud MORAIS (2005), que propõe uma forma sistemática de ver, sentir e explicar: (...) O que nós psiquiatras, e (psicólogos), temos feito por nossos pacientes esquizofrênicos?Nos limitamos a discutir o efeito de tal droga,a dosagem de tal cura (algumas sessões de terapia) e pronto!(...) Temos um trabalho que transcende as salas fechadas de nossos consultórios. Precisamos sensibilizar a sociedade, em paralelo com a necessidade de desmistificarmos a esquizofrenia, que não raro, é impregnada de tantos preconceitos (CAVALCANTE, 2002, p. 3). 82 4 . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais. 4. ed. American Psychiatric Association, 2002. 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