UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Odontologia de Araraquara Flávio Salmeron Lopes “ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DE FRATURAS DO SEIO FRONTAL” Araraquara/SP Fevereiro de 2015 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE- SES -SP COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS-CRH GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS-GDRH CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS “Dr. Antonio Guilherme de Souza” SECRETARIA DE ESTADO DA GESTÃO PÚBLICA FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL – PAP Flávio Salmeron Lopes “ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DE FRATURAS DO SEIO FRONTAL” Monografia apresentada Aprimoramento ao Profissional programa SES – de SP, elaborada na Faculdade de Odontologia de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista, Departamento de Diagnóstico e Cirurgia. Área: Cirurgia e Traumatologia Buco-MaxiloFacial Orientadora: Profa. Dra. Marisa Aparecida Cabrini Gabrielli Araraquara/SP Fevereiro de 2015 AGRADECIMENTOS: Agradeço a FUNDAP por fornecer o financiamento do meu aprimoramento. Agradeço a Faculdade de Odontologia de Araraquara, em nome de sua Diretora Profa. Dra. Andréia Affonso Barretto Montandon, pela disponibilização de todo o seu espaço físico, bens materiais e de consumo bem como sua biblioteca para que eu pudesse desenvolver tanto o meu aprendizado no Curso de Graduação, quando no meu curso de aprimoramento profissional. Agradeço aos meus familiares por ter me permitido e por ter me dado suporte durante o meu desenvolvimento profissional. Agradeço ao Serviço de Cirurgia e Traumatologia e todos os docentes envolvidos pela oportunidade de e ensinamentos. Agradeço aos funcionários e professores do Departamento de diagnóstico e Cirurgia pela oportunidade de aprendizado. Agradeço aos meus amigos que compartilhei pacientes, alegrias e companheirismo durante o meu aprimoramento profissional. Agradeço a todos os pacientes que pude acompanhar durante o meu aprimoramento profissional e que permitiram o meu desenvolvimento e aprendizado. Título: “ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DE FRATURAS DO SEIO FRONTAL” RESUMO: Objetivo: o objetivo do presente estudo foi avaliar por meio de informações obtidas em prontuários de pacientes com fratura de seio frontal, tratados cirurgicamente ou não. Foram avaliados, retrospectivamente, os prontuários no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2014 e foram comparados os resultados obtidos com os mostrados pela literatura. Métodos: foram avaliados 73 prontuários de pacientes diagnosticados com fratura de osso frontal, associando-os a dados demográficos, etiologias, tipos de lesões corporais e fraturas faciais associadas, métodos de diagnóstico e condutas de tratamento a serem tomadas e apresentando os resultados obtidos. Resultados: os 73 prontuários utilizados para o presente estudo mostraram 73 pacientes com fratura do seio frontal associada a outras fraturas faciais, sendo o sexo masculino mais prevalente com 70 (95,9%) casos. A etiologia mais comum foi os acidentes de trânsito (45,2%), seguido de agressões físicas (32,8%). Os diagnósticos foram realizados meio de tomografia computadorizadas acompanhadas de exame clínico. Das fraturas faciais associadas, notamos uma prevalência de 53,8% de fraturas de órbita e 40,4% de fraturas no complexo zigomático. Em 11 (15,1%) dos casos, houve lesões corporais associadas, sendo os mais prevalentes o trauma ortopédico (6,8%) e o trauma craniano (5,5%). O tratamento foi cirúrgico em 56 (76,7%) casos e não cirúrgico em 12 (16,4%) casos. Dos casos cirúrgicos, o acesso bicoronal foi utilizado em todos os pacientes. Conclusão: os pacientes tratados, cirurgicamente, de fraturas deslocadas e/ou com maior cominução foram mais propensos a complicações infecciosas no pós-operatório; os tratados de forma precoce, apresentaram melhores chances de boa evolução; quando a cirurgia foi bem indicada, o tratamento não cirúrgico apresentou, de forma geral, boa evolução pós-operatória; o acesso utilizado para o tratamento cirúrgico de fratura do seio frontal, permitiu baixos índices de complicações e pacientes tratados de fratura de seio frontal, devido a sua complexidade anatômica, devem ser acompanhados em longo prazo, devido ao alto potencial de complicações tardias. Palavras-chave: fratura de seio frontal, fratura facial, tratamento de seio frontal INTRODUÇÃO: O osso frontal é composto por três camadas distintas: a parte mais externa ou camada cortical; uma camada intermediária e vascularizada chamada díploe e a camada interna1. Na porção inferior e central do osso frontal, não há camada intermediária, devido à presença do seio frontal. O seio frontal embriologicamente possui origem intramembranosa, derivando das células aéreas do infundíbulo etmoidal, do recesso frontal e de uma porção do meato médio14, sua ossificação ocorre entre a 8ª e 9ª semana de vida intra-uterina10,12. Radiograficamente, torna-se evidente a partir dos 5 ou 6 anos de idade. A pneumatização completa do seio frontal ocorre por volta dos 12 aos 16 anos de idade, após esse período pode-se evidenciar claramente o espaço do seio frontal, em muitos casos com presença de septos completos ou incompletos separando os seios direito e esquerdo que também podem estar divididos em subcompartimentos ou recessos por septos ósseos completos ou incompletos10,12. Por isso, a anatomia e tamanho do seio frontal apresentam-se extremamente variáveis, entretanto a literatura descreve que a amior parte apresenta superfície de aproximadamente 720mm1,4,12. A ausência do seio frontal é observada em cerca de 4% da população3,4,12 e outros 5% tem somente pequenas células superiores10. A mucosa encontrada nessa cavidade é do tipo respiratória com epitélio ciliado, a camada de mucina presente possui um movimento espiral, de sentido lateral para medial fluindo mais lentamente no teto do seio frontal4. A área óssea mais delgada e, portanto, mais frágil é a região da glabela, já as regiões compreendidas pelos arcos superciliares são mais espessas12, consequentemente, mais resistentes. Em média, as fraturas do seio frontal correspondem de 2% a 15% das fraturas em face 3,4,5,6 . Sua etiologia é conhecida e bem definida, estando entre as principais causas os acidentes de trânsito, agressões físicas, quedas de altura, acidentes de trabalho e acidentes desportivos4,5,12,17. Muitos dos pacientes que apresentam fratura de osso frontal são também diagnosticados com outros tipos de fratura de face associadas, provavelmente, devido à força necessária para causar esse tipo de lesão15,19. Fraturas nasais, naso-etmóide-orbitária, maxilar e do complexo zigomático por conta da proximidade anatômica, estão entre as mais comuns3,12,17. Existem várias classificações para as fraturas de osso frontal, no entanto esse ainda é um tema controverso17. O tratamento cirúrgico das fraturas do seio frontal, de modo geral, visa a restauração do contorno da fronte quando o mesmo está alterado e a prevenção de infecções intracranianas e desenvolvimento de lesões do tipo mucocele que podem invadir o seio frontal11. A avaliação da extensão da fratura, do deslocamento ósseo e da permanência do ducto nasofrontal é indispensável e determinante ao tratamento, a fim de se minimizar possíveis complicações pós-operatórias. Devemos também levar em consideração que muitas das complicações graves podem estar presentes independentemente do correto manuseio desses traumas, como fístula liquórica e danos oculares, por exemplo. Além disso, as complicações pós-operatórias de fraturas do seio frontal ocorrem com mais freqüência tardiamente9. O objetivo do presente estudo foi avaliar os achados epidemiológicos de pacientes com fratura de seio frontal atendidos no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2014, considerando os dados obtidos na literatura e comparando-os às condutas de tratamento adotadas para os pacientes dos prontuários avaliados. MATERIAL E MÉTODO: Para a realização do estudo epidemiológico, retrospectivo, referente ao período do ano 2000 até o ano de 2014, foram colhidos dados relatados em evolução dos prontuários de pacientes que apresentaram fratura de seio frontal tratados pelo Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Araraquara Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. Como critério para inclusão no presente estudo foram pacientes com fratura de seio frontal. As falhas ocorridas nos registros de prontuários foram critérios para exclusão da amostra. Para tanto, foi elaborada uma ficha com os dados interessados para a pesquisa (Anexo 1). O diagnóstico foi estabelecido através de descrição dos achados clínicos, imagiológicos e intra-operatórios. Os dados analisados incluíram: − variáveis populacionais (idade, gênero), − etiologia do trauma, − fraturas craniofaciais associadas, − lesões em outras áreas do corpo associadas, − tipo de tratamento utilizado, − manejo do ducto nasofrontal, − complicações pós-operatórias e tempo de ocorrência da complicação, − acesso cirúrgico, − uso de tabaco, álcool e/ou drogas ilícitas. RESULTADOS: No período referente à Janeiro de 2000 até dezembro de 2014, puderam ser selecionados 76 pacientes tratados decorrentes de fratura de seio frontal que apresentavam documentação adequada bem como acompanhamento pós-operatório. A amostragem foi composta por 72 pacientes do sexo masculino (94,7%) e apenas 4 do sexo feminino (5,2%) (Figura 1). masculino feminino Figura 1: distribuição da população por sexo. Dentre a população estudada, 7 (9,2%) pacientes na época do trauma, ocupavam a faixa etária entre os 10 e os 19 anos, 29 (38,1%) entre 20 e 29 anos, 20 (26,3%) entre 30 e 39 anos, 13 (17,1%) entre 40 e 49 anos, 4 (5,2 %) entre 50 e 59 anos e 3 (3,9%) apresentavam 60 anos ou mais (Figura 2). 30 25 20 15 10 5 0 faixa etária 10 a 19 20 a 29 30a 39 40 a 49 50 a 59 60 ou mais Figura 2: distribuição da população de acordo com a faixa etária. A etiologia do trauma foi bastante distinta. Como causa principal do trauma, foram 34 (44,7%) casos de acidentes de trânsito, 25 (32,8%) casos de agressão física, 7 (9,2%) decorrentes de queda de altura, 3 (3,9%) casos de acidente esportivo, 3 (9,9%) casos de acidente de trabalho, 1 (1,3%) caso de queda da própria altura, 1 (1,3%) caso devido à sequela de traumatismo facial prévio e 1 (1,3%) caso de acidente de barco e 1 vítima de arma de fogo (1,3%) (Figura 3). 35 acidente de transito 30 acidente esportivo 25 queda da própria altura agressão física 20 acidente de trabalho 15 sequela de trauma 10 acidente de barco arma de fogo 5 queda de altura 0 Figura 3: etiologia das fraturas de seio frontal. Dos 76 pacientes, 62 (81,5%) apresentaram trauma de face com fratura do seio frontal isolado de injúrias de outros sistemas do corpo e 14 (18,4%) sofreram lesões associadas a outros sistemas. Dentre elas, 5 (6,5%) sofreram trauma ortopédico, 7 (9,2%) trauma craniano, 1 (1,3%) sofreu trauma torácico e 1 (1,3%) foi acometido de trauma raquimedular (Figura 4). 6,8% 5,5% 2,7% 84,9% Sem Traumas Associados Truma Craniano Truma Ortopédico Outros Figura 4: fratura de seio frontal associada a traumatismo em outros sistemas. Em relação a ocorrência concomitante de outra fratura facial associada, foram encontrados 53 (69,7%) casos de fraturas de osso frontal associadas a outras fraturas de ossos da face, com as seguintes associações: 22 casos envolvendo apenas mais um osso da face associado a fratura do frontal, 17 envolvendo dois outros ossos da face e em 13 casos estava envolvendo três ou mais ossos faciais associados. Dessas fraturas pudemos observar 29 (53,8%) fraturas de órbita, 21 (40,4%) fraturas no complexo zigomático, 17 (32,7%) fraturas em maxila, 14 (26,9%) fraturas nasais, 11 (21,1%) casos de fraturas do tipo NOE, 7 (13,5%) fraturas mandibulares, 3 (5,8%) fraturas em ossos cranianos e 1 (1,9%) fratura dento-alveolar (Tabela 1). 60% Órbita Complexo Zigomático Maxila Nariz NOE Mandíbula Ossos Craniano Dento-Alveolar 50% 40% 30% 20% 10% 0% Figura 5: fratura de seio frontal associada a outras fraturas faciais. Quanto ao tratamento, em 64 (84,2%) casos houve intervenção cirúrgica, 12 (15,7%) casos foram tratados de maneira conservadora. Os casos tratados cirurgicamente receberam o acesso bicoronal e a fixação dos fragmentos ósseos foi realizada com mini-placas e parafusos de fixação de titânio. Em 46 (71,8%) casos, o tratamento cirúrgico recebido foi a reconstrução da parede anterior do seio frontal; em 9 (14,0%) foi realizada cranialização e em 7 (10,9%) foi realizada obliteração (Figura 6). Reconstrução de Anterior Cranialização Outros Observação Obliteração Figura 6: tipos de tratamentos cirúrgicos. Observamos que em 39 (60,9%) casos o ducto naso-frontal foi mantido e estava patente, em 17 (26,5%) casos foi obliterado e em 3 (4,6%) casos o mesmo foi canulado (Figura 7). 5,4% 25,0% 69,6% Mantido e Patente Obliterado Canulado Figura 7: tipo de tratamento instituído para o ducto nasofrontal. Dos 64 casos onde houve intervenção cirúrgica, em 34 (53,1%) deles o procedimento foi realizado em menos de 07 dias após o trauma. Das complicações pós-operatórias em decorrência da fratura do seio frontal, observamos: 20 (27,4%) parestesias, 4 (5,2%) pacientes com infecção pós-operatória no seio frontal com necessidade de re-intervenção cirúrgica, 1 (1,4%) déficit motor em pálpebra, 1 (1,4%) sangramento excessivo devido a pico hipertensivo no transoperatório, 1 (1,4%) infecção em região temporal, 2 (6,6%) sinusite frontal, 1 (1,4%) sinusite frontal concomitante com sinusite etmoidal. Do total de pacientes tratados cirurgicamente, 4 (7,1%) deles foram operados em até 72 horas após o trauma. Dentre os 30 pacientes que sofreram complicações, 10 (33,3%) deles foram operados em um prazo de 7 dias ou mais após o trauma e 16 (53,3%) em menos de 72 horas após o trauma DISCUSSÃO: Fraturas de osso frontal correspondem de 2% a 15% das fraturas de face13 e sua etiologia apresenta-se de forma bastante variável. É descrito na literatura uma vasta etiologia de traumas, onde os acidentes automobilísticos são mais prevalentes, seguidos de agressões físicas e por acidentes motociclísticos13. Embora certas etiologias sejam mais freqüentes, normalmente, elas seguem padrão cultural e de hábitos da população local. Pudemos observar nesse trabalho que 44,7% do total dos casos estão relacionados com acidentes de trânsito, lembrando que fazem parte desse percentual os acidentes automobilísticos, motorciclísticos, ciclísticos e atropelamentos; 32,8% dos casos a etiologia foram as agressões físicas; 9,2% em casos de queda de altura; já as outras causas foram bem menos relevantes. Essa casuística é facilmente explicada pelo hábito de utilização de veículos motorizados como meio de transporte de escolha nos centros urbanos como é a região da população estudada, o que aumenta a susceptibilidade a esses traumas. Além disso, podemos dizer que do ponto de vista da etiologia do trauma para as fraturas do seio frontal, o resultado do presente trabalho corrobora com a literatura mundial. As fraturas de face em geral, são achados incomuns para infantes, crianças e adolescentes. Os infantes e crianças ocupam uma faixa etária em que há grande proteção social e cuidados. Porém, à medida que vão se tornando adolescentes, o acometimento por trauma torna-se gradativamente maior. A partir dos 7 anos de idade, a criança começa a ter maior atividade esportiva e na adolescência, maior atividade social. Esse fato faz com que o adolescente seja uma faixa etária de maior risco à violência18. Os resultados obtidos mostram que a idade acometida pelo trauma com fratura do seio frontal variou de 13 a 63 anos, sendo a faixa etária mais acometida foi a dos 20 aos 29 anos (38,1%), apresentando concordância com vários trabalhos da literatura2,6,17. Salientamos o fato de que a faixa etária mais acometida é também a faixa da população mais economicamente ativa e que tem maior atividade social e esportiva. Quanto ao gênero, foram encontrados que a maior parte dos pacientes pertenciam ao gênero masculino (72 pacientes - 94,7%). Nesse sentido, está de acordo com a literatura, pois o gênero masculino é o mais exposto ao trauma de forma geral visto que, os homens praticam maiores atividades relacionadas aos esportes agressivos, da mesma forma, são mais expostos a acidentes de trânsito e agressões físicas5,12. A associação de trauma facial com injúria a outros sistemas do corpo ocorre, provavelmente, devida à grande força de impacto necessária para causar a fratura do seio frontal15,19 e injúria a outros sistemas. Dos 14 pacientes que sofreram tais traumatismos, 8 (57,1%) foram vítimas de acidentes de trânsito, 4 (28,5%) de agressões físicas severas, 1 (7,1%) de acidente de trabalho e 1 (7,1) vítima de arma de fogo. Traumas de grande impacto aplicados diretamente sobre a região anterior do crânio, geralmente, não são restritos à porção anterior do seio frontal e envolvem, frequentemente, a parede posterior do seio frontal, com repercussão a região intracraniana. São esses traumas severos, geralmente causados por projéteis de arma de fogo, acidentes automobilísticos e acidentes de trabalho4. Como é frequentemente relatado na literatura, clinicamente, os pacientes com diagnóstico de fratura de osso frontal apresentam edema local, equimose local, alterações estéticas em fraturas com deslocamentos, parestesia de nervo supra-orbitário ipsilateral, limitação de movimentos oculares e rinorréia3,5. Fraturas associadas em face e crânio são também comuns5. Em um estudo epidemiológico realizado em 201017, os autores observaram que as fraturas mais frequentes associadas às fraturas de seio frontal estão: fratura naso-etmóide-orbitária (39,5%), fratura do complexo zigomático (37,2%), fratura orbitária (34,9%), fratura de maxila (27,9%), mandíbula (14%), nasal (11,6%) e temporal (2,3%). Comparativamente a este estudo, observamos semelhanças, afora o fato de que as fraturas orbitárias apareceram mais presentes (53,8%), seguidas de fraturas do complexo zigomático (40,4%), maxilares (32,7%), nasal (26,9%), fraturas naso-etmóide-orbitárias (21,1%), mandibulares (13,5%) e aqui são mencionadas as fraturas de ossos cranianos (5,8%) e dento-alveolares (1,9%). Embora radiografias simples com o auxílio de exame clínico sejam de grande valia e se apresentem disponíveis em praticamente todos os serviços hospitalares, a tomografia computadorizada é o exame que definitivamente representa a confirmação do diagnóstico, além de permitir a observação da extensão da fratura e planejamento cirúrgico5,12,14,17 mais acurado. Por meio dos cortes coronais da tomografia computadorizada, pode-se observar fraturas do soalho do seio frontal e teto de órbita e pelos cortes sagitais o ducto nasofrontal, embora esta última não seja totalmente confiável12. Segundo Doonquah et al.4, as fraturas de seio frontal podem ser classificadas em 5 tipos, sendo elas: Tipo 1 – fratura isolada da parede anterior do seio apresentando mínima cominução; Tipo 2 – fratura em parede anterior cominutiva com possibilidade de associação a fratura naso-etmóide-orbitária e/ou fratura orbitária; Tipo 3 – fraturas envolvendo paredes anterior e posterior do seio frontal, sem grande deslocamento da parede posterior; Tipo 4 – fraturas envolvendo as paredes anterior e posterior associadas à lesão em dura-máter e perda de líquido cefalorraquidiano; Tipo 5 – fraturas envolvendo parede anterior e posterior do seio frontal associada à lesão dural, presença de fístula liquórica, perda grave de tecidos e presença de ruptura na região de fossa craniana anterior. Já para Bell2, descreve as fraturas do seio frontal divididas em dois grupos: lesões tipo I e tipo II. As lesões tipo I são caracterizadas por fraturas fronto-nasoetmoidais e medial de órbita, sem envolvimento de base do crânio, características de absorção e dissipação de impacto, não apresentam lesão cerebral significativa ou laceração de dura-máter, mantendo íntegras a parede posterior do seio frontal e a base do crânio. As lesões do tipo II se diferenciam por envolverem a base do crânio, além das suturas fronto-naso-etmoidais e parede medial de órbita, caracterizadas por traumas de alto impacto, cuja absorção e dissipação das forças é ineficiente e resulta em graves lesões em face e crânio. Frequentemente, há o deslocamento intracraniano da parede posterior do seio frontal, assim como, afundamento da pirâmide nasal e deslocamentos intracranianos ao longo da base do crânio. Nesses casos incluem fraturas do teto orbitário e seio esfenoidal. Dentre as lesões neurológicas frequentes podemos citar: hematoma intracraniano, lesões durais, compressão do nervo óptico e rinorréia. Muitas são as classificações para as fraturas de osso frontal, no entanto, são esquemas complexos, sem valor clínico e que dificultam o processo diagnóstico em si. Uma maneira mais simples seria apenas ser tecidas considerações sobre as tábuas ósseas anterior e posterior, situação dos ductos naso-frontais e a presença de lesões intracranianas e demais fraturas da face associadas12. Diversos autores mostram que o momento correto para o tratamento cirúrgico no paciente com fratura de seio frontal ainda é controverso, no entanto é recomendado que o tratamento cirúrgico seja estabelecido dentro de 72 horas a fim de se evitar complicações ao paciente6. A cirurgia, quando realizada logo após o trauma, diminui a morbidade e mortalidade16, no entanto, foi observado que na maioria dos casos em que a morbidade ou o tempo de internação maior que o recomendado foi determinado, ocorreu mais frequentemente devido a fatores como outras lesões corporais associadas que requerem um tempo para a estabilização do paciente. Observamos que dentre os 30 pacientes que tiveram algum tipo de complicação, 10 (33,3%) foram operados em 7 ou mais dias após o trauma e 16 (53,1%) foi operado em período inferior a 72 horas após o trauma. Ë importante ressaltar que os pacientes que evoluíram para algum tipo de infecção, seja sinusite ou abscesso local com necessidade de re-intervenção cirúrgica, foram todos pacientes com fraturas mais cominutivas e/ou deslocadas e, todos receberam tratamento cirúrgico tardio, ou seja, com um período de 7 dias ou superior. A redução aberta visa a prevenção de inflamações pós-operatórias, proteção das estruturas intracranianas, restauração do contorno ósseo, simetria facial4,12 e separação do trato naso-sinusal e cérebro5. Existem vários acessos descritos para tratamento cirúrgico de fraturas do osso frontal, entre eles podemos citar: acesso bicoronal, incisão borboleta, incisão de Lynch, incisão em linha fina, por via de ferimento corto-contuso, ou ainda via endoscópica5. Em todos os casos do presente estudo tratados de forma cirúrgica, optou-se pelo acesso bicoronal, uma vez que este permite ampla visualização do terço superior e terço médio da face que muitas vezes se encontra envolvido no trauma. Além de permitir cicatrizes estéticas, estas são recoberta, na maior parte das vezes, pelo cabelo. Mas devemos salientar que o mesmo pode propiciar a formação de cicatrizes pouco estéticas, principalmente, em indivíduos do sexo masculino calvos, ou na presença de faixas de alopécia. Existe ainda, o risco de lesão do VII par craniano (ramo frontal do nervo facial), no caso das extensões muito para lateral da incisão. A escolha pelo tratamento não cirúrgico deve ser tomada frente as fraturas que não alterem a estética ou a simetria e que não envolvam a parede posterior nem o assoalho do seio. Na indicação do tratamento não cirúrgico, essa decisão deverá ser tomada em conjunto com o paciente e o mesmo deve ser informado de todas as possibilidades de complicações possíveis, mesmo as que ocorrem tardiamente. Além disso, o paciente deve ser acompanhado em longo prazo. Um total de 15,7% de casos deste estudo, recebeu tratamento não cirúrgico devido a indicação precisa, conforme já descrito, todos estão em acompanhamento pós-operatório que varia de 4 anos a 6 meses e com prognóstico favorável, até o presente momento. No assoalho póstero-medial do seio frontal encontram-se os ductos nasofrontal, bilateralmente. Eles podem medir de poucos milímetros a até aproximadamente 1 cm de diâmetro, sua principal função é a de drenagem da mucosa do seio frontal até o meato nasal médio5,14. Em 80% da população encontra-se ausente5. Para uma definição correta da conduta de tratamento a ser dada para o ducto nasofrontal, deve-se analisar a presença de fraturas que envolvam o assoalho do seio frontal, deslocamento da mesma, cominução e perda de substância que podem tornar o ducto não patente. As fraturas do tipo naso-etmóide-orbitárias, de soalho do seio frontal e de margem supra-orbitária, associadas a fratura do seio drontal, frequentemente, causam injurias ao ducto prejudicando sua patência3,5,12. A avaliação intra-operatória é também indicada, quando o ducto naso-frontal é destruído ou obstruído. Nessa situação, o muco do seio frontal é acumulado e com isso ocorre um aumento da atividade de bactérias anaeróbias no local, consequente, aumento do risco de sinusites e de cistos mucosos. Quando patente, permite a saída de mucina, seroma e hematoma após a redução da fratura. Uma das formas de tratamento no caso de inviabilidade de sua patência, por exemplo, é a obliteração do mesmo. Para isso, é utilizado retalho de músculo temporal, fáscia ou a associação de um desses com enxerto ósseo, normalmente, isso se faz quando o tratamento do seio requer cranialização ou obliteração. Outra forma, é o tratamento por meio de canulação, para permitir refazer uma nova via de drenagem. A canalização do ducto é realizada devido ao fato dele não ter patência adequada e o tratamento para o seio frontal será por meio de reconstrução da parede anterior. Nas fraturas de parede anterior de seio frontal, onde não ocorrem envolvimento da parede posterior e injúria ao ducto naso-frontal, podemo sreconstruílas e fixa-las rigidamente com miniplacas, malhas e parafusos. Em alguns casos onde houver perda óssea ou cominução excessiva podemos também utilizar enxertos ósseos. Já as fraturas da parede posterior do seio frontal, quando se apresentam com deslocamento significativo ou cominução, necessitam ser removidas. Esse procedimento é conhecido como cranialização. Devemos considerar a realização de cranialização, principalmente, quando houver cominução da parede posterior, lesão da dura-máter e drenagem de líquor.7,8,11,20. A obliteração do seio frontal, geralmente, é realizada quando há injúria ao ducto naso-frontal, de maneira que a canulação não seja possível, nesta técnica o espaço do seio frontal pode ser preenchido com diversos tipos de materiais, entre eles: osso autógeno, fáscia muscular, músculo, gordura, hidroxiapatita, cartilagem3,5,12. Essa técnica é também empregada em alguns casos de fraturas da parede posterior do seio frontal, onde não ocorrem grandes deslocamentos ou cominuções. No presente estudo, um total de 64 (84,2%) pacientes foi submetido a procedimento cirúrgico para tratamento de fratura de seio frontal, 12 (15,7%) foram tratados de forma conservadora. Dentre os pacientes tratados cirurgicamente, em 39 (60,9%) casos o ducto naso-frontal foi mantido e patente, em 17 (26,5%) casos o ducto foi obliterado e em 3 (4,6%) casos o mesmo foi canulado. CONCLUSÃO: Com base neste estudo retrospectivo realizado por meio de informações obtidas de prontuários, observamos que: − Os pacientes tratados cirurgicamente de fraturas deslocadas e/ou com maior cominução, foram mais propensos a complicações infecciosas no pós-operatório; − Os pacientes tratados cirurgicamente de forma precoce, apresentaram melhores chances de boa evolução; − Desde que bem indicado, o tratamento não cirúrgico apresentou, de forma geral, boa evolução pós-operatória; − O acesso utilizado para o tratamento cirúrgico de fratura do seio frontal permitiu baixos índices de complicações; − Pacientes tratados de fratura de seio frontal, devido a sua complexidade anatômica, devem ser acompanhados em longo prazo devido ao alto potencial de complicações tardias. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 1. Barros JJ, Souza LCM. Traumatismo bucomaxilo-facial. 2ª ed, São Paulo: Ed Rocca, 2000. 2. Bell RB. Management of Frontal Sinus Fractures. 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Laryngoscope. 1988;98(5):516-20 ANEXO 1 Título: “ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO RETROSPECTIVO DE FRATURAS DO SEIO FRONTAL” Nome:........................................................................................Prontuário:........................ Idade:................................data nascimento:.............................sexo: ( ) M ( ) F Raça:......................... data cirurgia:.......................................profissão:................................. Data da hospitalização:...................................... 1. Etiologia da fratura: ( )acidente automobilístico ( )acidente com bicicleta ( )agressão física ( )queda da própria altura ( )queda de altura ( )outras (especificar)................................................ 2. Fraturas faciais associadas: ( )NOE ( )órbita ( )maxila.................................... ( )nariz ( )ossos cranianos ( )complexo zigomático.............................. ( )mandíbula.................................... ( )outros (especificar).................................... 3. Traumatismo em outros sistemas: ( )trauma torácico ( )trauma abdominal ( )trauma ortopédico................................ ( )trauma raquimedular ( )trauma craniano 4. Acesso cirúrgico: ( )retalho bicoronal ( )outros (especificar)................................... 5. Tratamento cirúrgico: ( )observação ( )reconstrução da parede anterior ( )obliteração ( )cranialização 6. Ducto naso-frontal: ( )mantido e patente ( )obliterado ( )canulado 7. Vícios ( )fumante ( )alcoólatra ( )uso de drogas ilícitas 8. Complicações e tratamento (tempo decorrido): ............................................................................................................................... ............................................................................................................................ ...............................................................................................................................