PAULO COSTA SANTANA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA – PR CURITIBA 2005 PAULO COSTA SANTANA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA – PR Trabalho apresentado ao Curso de Pós – Graduação em Ciências Farmacêuticas, na área de concentração de Microbiologia Aplicada, do Departamento de Farmácia, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista. Orientador: Pontarolo CURITIBA 2005 Professor Dr. Roberto iii Dedicatória À minha esposa Andreia, que tanto me apoiou durante o curso. Ao meu filho que é a maior dádiva que Deus colocou na minha vida. iv AGRADECIMENTOS Ao professor Roberto Pontarolo, pela orientação, apoio e estímulo. À Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais – Seção Paraná, pelo apoio e colaboração na obtenção das amostras. À técnica de laboratório de Controle de Qualidade II, Geni Peruzzo, que me auxiliou no preparo dos meios de cultura, dos materiais e realização das análises. À Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Curitiba, por ter me dado a oportunidade de fazer parte do curso de Especialização em Microbiologia Aplicada. v SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................................vii RESUMO...................................................................................................................viii ABSTRACT.................................................................................................................ix 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10 2 OBJETIVOS .......................................................................................................13 2.1 GERAL:.............................................................................................................13 2.2 ESPECÍFICOS..................................................................................................13 3 REVISÃO DE LITERATURA ..............................................................................14 3.1 FORMAS FARMACÊUTICAS COMUNS EM FITOTERÁPICOS ......................14 3.1.1 Formas farmacêuticas sólidas .............................................................15 3.1.2 Formas farmacêuticas líquidas ............................................................17 3.2 DROGAS VEGETAIS SELECIONADAS PARA O PRESENTE ESTUDO ........18 3.2.1 Cimicífuga (Cimicifuga racemosa) .......................................................18 3.2.2 Gingkgo Biloba (Gingko biloba) ...........................................................19 3.2.3 Carqueja Amarga (Baccharis sp) .........................................................20 3.2.4 Centella Asiática (Centella asiática).....................................................21 3.2.5 Cava-cava (Piper methysticum) ...........................................................21 3.2.6 Guaraná (Paullinia cupana) .................................................................22 3.2.7 Castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum) ....................................22 3.2.8 Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana)..............................................23 3.2.9 Alcachofra (Cynara scolymus) .............................................................23 3.2.10 Hipérico (Hypericum perforatum) .........................................................23 3.2.11 Sene (Cassia acutifolia Delile) .............................................................24 3.3 CONTROLE DE QUALIDADE DE DROGAS VEGETAIS .................................24 3.4 PARÂMETROS DE QUALIDADE MICROBIOLÓGICA.....................................26 4 MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................28 4.1 MATERIAL ........................................................................................................28 4.1.1 Material Vegetal para o Estudo............................................................28 4.1.2 Material de Laboratório: .......................................................................29 4.1.3 Reagentes Utilizados na Análise .........................................................29 4.1.4 Equipamentos ......................................................................................30 4.2 MÉTODOS........................................................................................................30 4.2.1 Análise microbiológica .........................................................................30 4.2.2 Análise microscópica ...........................................................................36 5 RESULTADOS ...................................................................................................37 6 DISCUSSÃO.......................................................................................................43 7 CONCLUSÃO .....................................................................................................48 vi REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................49 ANEXOS ...................................................................................................................54 ANEXO 1 - FIGURAS................................................................................................55 ANEXO 2 – OFÍCIO N.º 127 ANF/DIR/PR ................................................................58 ANEXO 3 – CÓPIAS DOS CERTIFICADOS DE ANÁLISE DOS FORNECEDORES .................................................................................60 vii LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELA 1 – DESCRIÇÃO DA APARÊNCIA DAS COLÔNIAS DE SALMONELLA NOS DIFERENTES MEIOS DE CULTURA..........................................25 TABELA 2 – RESULTADOS DA ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DAS DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA, EM 2005.............................................................................28 TABELA 3 – RESULTADOS DAS ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS DESCRITOS NOS LAUDOS DE ANÁLISE DOS FORNECEDORES DAS DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA.............................................................................................29 TABELA 4 – RESULTADO DA ANÁLISE MICROSCÓPICA DAS DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA, EM 2005................... .........................................................31 FIGURA 1 – CIMICIFUGA EXTRATO SECO............................................................47 FIGURA 2 – CENTELLA ASÍÁTICA PÓ.....................................................................47 FIGURA 3 – CASTANHA DA ÍNDIA EXTRATO SECO.............................................47 FIGURA 4 – GUARANÁ PÓ.......................................................................................47 FIGURA 5 – MICROSCOPIA DE CARQUEJA PÓ.....................................................48 FIGURA 6 – MICROSCOPIA DE SENE EXTRATO SECO.......................................48 FIGURA 7 – CRESCIMENTO DE COLÔNIA DE BACTÉRIAS AERÓBIAS EM MEIO ÁGAR CASEÍNA DE SOJA...................................................................49 FIGURA 8 - CRESCIMENTO DE COLÔNIA DE BOLOR EM MEIO ÁGAR SABOURAUD.......................................................................................49 viii RESUMO Doze amostras de dez drogas vegetais foram adquiridas em farmácias de manipulação de Curitiba - Paraná, devidamente embaladas e identificadas no rótulo, juntamente com laudo de análise do fornecedor, e analisadas segundo metodologia preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os resultados das análises microbiológicas realizadas (contagem de microrganismos aeróbios totais, contagem de bolores e leveduras, pesquisa de enterobactérias, Escherichia coli, Salmonella sp., Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa) indicaram que 83,33% das amostras atendem aos limites microbianos estabelecidos pela OMS para material vegetal destinado a uso interno. A principal razão desta qualidade microbiológica satisfatória foi devido a processos de preparo e tratamento antimicrobiano a que foram previamente submetidas essas amostras, o que resultou na diminuição ou eliminação da carga microbiana. Porém, informações incompletas e ausência de informações nos certificados de análise dos fornecedores deixam dúvidas quanto a essa qualidade. A reprovação de duas amostras e o aumento na carga microbiana observado em cinco amostras, quando se compara os resultados dos certificados de análise dos fornecedores e os do presente estudo, mostra a necessidade da execução de medidas de reforços que evitem ou minimizem o risco de contaminação nos produtos. Palavras-chave: microbiologia, controle de qualidade, drogas vegetais, farmácias de manipulação ix ABSTRACT Twelve samples of ten vegetable drugs had been acquired from compounding pharmacies of Curitiba - Paraná, duly packed and identified in the label, together with analysis certificate of the supplier, and were analyzed according to the Word Health Organization (WHO) methodology. Microbiological analysis (total viable aerobic count, yeasts and moulds count, detection of Enterobacteriaceae, Escherichia coli, Salmonella sp., Staphylococcus aureus and Pseudomonas aeruginosa) indicated that 83,33% of the samples were according to the microbial limits settled by the WHO for herbal material intended to the internal use. These satisfactory results were mainly due to the processes of preparation and antimicrobial treatment that these samples had previously been submitted, what resulted in a reduction or elimination of the microbial load. However, incomplete information and absence of information in the analysis certificates provided by the suppliers make these results doubtful. The rejection of two samples and the increasing in the microbial load detected in five samples when the results of the analysis certificates and those provided by our study were compared, demonstrates the need for further measures to avoid or to minimize the risk of microbiological contamination in theses products. Keywords: microbiology, quality control, herbal drugs, compounding pharmacies. 1 INTRODUÇÃO O uso das espécies vegetais, com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas, remonta ao início da civilização, desde o momento em que o homem despertou para a consciência e começou um longo percurso de manuseio, adaptação e modificação dos recursos naturais para seu próprio benefício. Esta prática milenar, atividade humana por excelência, ultrapassou todas as barreiras e obstáculos durante o processo evolutivo e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial como fonte de recurso terapêutico eficaz (DI STASI et al, 1996). Em conseqüência deste fator, um marcante crescimento no mercado fitoterapêutico mundial têm ocorrido durante os últimos 15 anos. Só os mercados europeus e americanos alcançaram aproximadamente US$ 7 bilhões e US$5 bilhões por ano, respectivamente, em 1999, e, dessa forma, atraíram o interesse da maioria das grandes empresas farmacêuticas (CALIXTO, 2000). No Brasil, em 1994, as vendas de medicamentos em farmácia somaram US$ 3.831 milhões, dos quais US$ 212 milhões, em torno de 5,5% daquele valor, correspondiam a produtos contendo exclusivamente princípios ativos de origem vegetal (FERREIRA et al., 1998). Esse crescimento deve-se a fatores, tais como, os efeitos indesejáveis causados pelo uso abusivo dos medicamentos sintéticos e o elevado custo de tais medicamentos (ZARONI et al, 2004). Destacam-se também a cultura relacionada ao seu uso e a grande biodisponibilidade de matéria-prima (plantas), principalmente nos países tropicais. Quanto a este fator, o potencial da flora brasileira é indiscutível. O Brasil abriga 55 mil espécies de plantas catalogadas, de um total estimado de 350 a 550.000 (GUERRA; NODARI, 2001). Verifica-se, porém, que o aumento progressivo da demanda de plantas e/ou preparações de origem vegetal, como recurso terapêutico, associada à falta de fiscalização efetiva que garanta desde a exploração racional dos recursos naturais empregados como matéria prima, até a dispensação do produto acabado, contribuíram para a disponibilidade e fácil acesso da sociedade a produtos ditos 11 medicinais de origem vegetal, muitas vezes indesejáveis, desnecessários e/ou perigosos, sem garantia da recuperação ou preservação da saúde do usuário (AMARAL et al, 2002). Segundo ARAÚJO e OHARA (2000), investigações da qualidade microbiológica de drogas vegetais e produtos delas obtidos, realizadas em outros países, mostraram índices de contaminação microbiana em desacordo com normas internacionais aceitas para medicamentos. No Brasil, amostras de produtos fitoterápicos, comercializados em São Paulo e no Rio de Janeiro, apresentaram qualidade inadequada frente ao padrão microbiano da Federação Internacional Farmacêutica (FIP) e a outras normas internacionais existentes, no que diz respeito ao controle da qualidade microbiológica.(FISCHER et al, 1993; SANTOS et al, 1995). Matéria prima utilizada na elaboração e produção dos produtos fitoterápicos, as plantas medicinais apresentam má qualidade que, segundo ZARONI et al, (2004) é decorrente, sobretudo, do desconhecimento dos produtores a respeito dos cuidados especiais nas diversas etapas para a obtenção de uma matéria-prima ou produto de qualidade adequada e da falta de orientação dos mesmos por profissionais capacitados. Num estudo feito na região metropolitana de Curitiba sobre o processo produtivo de carqueja e espinheira santa, CARVALHO et, al. (2003) destacaram a informalidade da exploração de plantas medicinais naquela região como fato que resulta na incerteza das qualidades genética e sanitária, bem como na falta de garantia de existência de princípios ativos responsáveis pelo valor medicinal da espécie. O medicamento fitoterápico pode ser adquirido no comércio farmacêutico como produto industrializado, produzido por indústrias farmacêuticas autorizadas pelo Ministério da Saúde, ou nas farmácias de manipulação, sob a forma de medicamento manipulado, atendendo a uma prescrição médica (preparações magistrais), em diversas formas farmacêuticas. A forma farmacêutica mais comum nas farmácias de manipulação são de cápsulas constituídas do extrato seco da droga vegetal e da droga vegetal pulverizada. 12 De acordo com a Resolução RDC ANVISA/MS n.º 33, de 19 de abril de 2000, que trata sobre as Boas Práticas de Manipulação, as farmácias de manipulação devem realizar apenas o controle físico-químico, não sendo obrigatório o controle microbiológico das drogas vegetais, que são utilizadas na manipulação de fitoterápicos. Como as farmácias de manipulação não executam o controle microbiológico, uma eventual contaminação no material, durante a produção, armazenagem e transporte do fornecedor até a farmácia acaba não sendo detectada, e esta matéria prima vegetal sendo utilizada no preparo do fitoterápico resulta no produto final também contaminado que, dependendo do nível de contaminação, pode por em risco a saúde do consumidor. Acrescenta-se a isso o fato de que o processo de manipulação pode influenciar no aumento da carga microbiana do produto final. As drogas vegetais chegam às farmácias de manipulação acompanhadas do certificado de análise do fornecedor, onde consta o resultado das análises da qualidade do material, mas nem todos descrevem os parâmetros microbiológicos. Dentro deste contexto se apresenta o presente projeto, que tem como objetivo avaliar a qualidade microbiológica de drogas vegetais utilizadas em farmácias de manipulação, para servir de base para uma reflexão sobre a necessidade de medidas de reforço para evitar ou diminuir a contaminação nos processos de produção, envase, transporte e manipulação de drogas vegetais na forma pulverizada (em pó) e na forma de extrato seco. 13 2 2.1 OBJETIVOS GERAL: Avaliação da qualidade microbiológica de drogas vegetais na forma de pó e extrato seco, utilizadas na manipulação de fitoterápicos. 2.2 ESPECÍFICOS • Realizar levantamento das farmácias de manipulação do município de Curitiba que manipulam fórmulas medicamentosas alopáticas, incluindo fitoterápicas; • Selecionar as drogas vegetais a serem adquiridas; • Selecionar as farmácias onde serão coletadas as amostras; • Avaliar a qualidade microbiológica das drogas vegetais adquiridas, segundo metodologia da Organização Mundial da Saúde (OMS). • Avaliar microscopicamente as drogas vegetais, com o intuito de confirmar a forma farmacêutica informada nos rótulos e laudos de análise do fornecedor. 14 3 3.1 REVISÃO DE LITERATURA FORMAS FARMACÊUTICAS COMUNS EM FITOTERÁPICOS Os medicamentos apresentam-se sob diversas formas, que se denominam formas farmacêuticas. Estas são o resultado das várias operações a que se submetem as substâncias medicamentosas a fim de facilitar a sua posologia, administração, mascarar os caracteres organolépticos e assegurar a ação desejada. (PRISTA et al., 1995). A escolha da forma farmacêutica para um produto fitoterápico deve considerar a consecução dos seguintes objetivos: • manter a eficácia e a segurança do componente ativo e assegurar sua qualidade; • facilitar a aplicação do medicamento, através da via de administração mais apropriada; • permitir a administração de dose efetiva do componente ativo, com precisão adequada ao seu emprego seguro e sua adequação a casos específicos; • contornar problemas de estabilidade, através da adição de adjuvantes primários conservadores, tais como conservantes, com finalidade de manutenção da classe microbiológica, antioxidantes, que reduzem ou evitam reações de oxidação, tamponantes, para manter um valor de pH adequado; • adequar as propriedades das formas farmacêuticas às necessidades fisiológicas da via de administração; • direcionar a cedência dos componentes ativos, seja quanto ao local mais apropriado de absorção ou quanto ao perfil de liberação, e • aumentar o nível de aderência ao tratamento, através de adjuvantes secundários, tais como os adequadores organolépticos, que conferem características sensoriais (gustativas, olfativas e visuais) aceitáveis ao produto (SIMÕES, 2001). 15 3.1.1 Formas farmacêuticas sólidas 3.1.1.1 Espécies Designa-se por espécies as misturas de plantas ou partes de plantas secas, divididas em pequenos fragmentos, as quais eventualmente podem ser adicionadas de compostos quimicamente definidos. Esta forma farmacêutica destina-se à obtenção de outras, como os macerados, infusos, digestos e cozimentos. As misturas de plantas ou de partes de plantas têm ainda larga aplicação para a preparação, por exemplo, dos denominados “chás medicinais” (PRISTA et al., 1995). 3.1.1.2 Pós Os pós são preparações farmacêuticas constituídas por partículas sólidas, livres e secas e mais ou menos finas, cujos componentes estão pulverizados. Apresentam-se dosificados ou não, puros ou misturados, com ou sem adição de excipientes. Devem apresentar, dentro de cada categoria, uma certa homogeneidade entre as partículas que os constituem. O pó como forma farmacêutica final diminuiu muito nos tempos atuais. Porém, seguem exercendo um papel importante, tanto na farmácia como na indústria, como material de partida para numerosas formas farmacêuticas, como, por exemplo, cápsulas, granulados, comprimidos, suspensões e preparações em suspensão (pomadas, supositórios). A qualidade e as propriedades destas formas farmacêuticas é determinada em grande parte pela qualidade de pulverização dos medicamentos que a constituem (DÄRR, et al., 1981; PRISTA et al., 1995). 3.1.1.3 Extratos secos São preparações sólidas obtidas pela evaporação do solvente utilizado na sua preparação. Apresentam, no mínimo, 95% de resíduo seco, calculados como percentagem de massa. Os extratos secos padronizados têm o teor de seus constituintes ajustado pela adição de materiais inertes adequados ou pela adição de extratos secos obtidos com a mesma droga utilizada na preparação (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2002). 16 Os extratos de drogas, animais ou vegetais, plantas ou partes de plantas pertencem às formas farmacêuticas mais antigas. A idéia de administrar drogas naturais sob a forma concentrada parece dever-se ao imperador chinês CHINNONG (2700 a.C.) e foi praticada em todas as épocas. No fim do século XVI, devido aos esforços da escola de Paracelso, o emprego dos extratos generalizouse, especialmente na Alemanha (DÄRR, et al., 1981; PRISTA et al., 1995). 3.1.1.4 Granulados São obtidos pela aglomeração de matérias-primas e pós e outros adjuvantes farmacêuticos através do emprego de aglutinantes. Em geral, têm forma irregular e se comportam como partículas maiores. Variam de tamanho, entre tamises 4 a 12, embora seja possível preparar grânulos de vários tamanhos. Podem ser produzidos por via úmida ou seca, dependendo das características do vegetal. Via de regra, os grânulos são preparados umedecendo-se o pó ou mistura de pós desejada e passando a massa umedecida por uma tela para que produza os grânulos no tamanho desejado. As partículas maiores assim formadas são secas com ar ou sob calor. (SIMÕES et al., 2001; ANSEL et al., 2000) 3.1.1.5 Cápsulas São formas farmacêuticas sólidas nas quais uma ou mais substâncias medicinais e/ou inertes são acondicionadas em um pequeno invólucro ou receptáculo, em geral preparado à base de gelatina. Dependendo da formulação, a cápsula de gelatina pode ser dura ou mole. Representa uma moderna forma farmacêutica que serve para administração de medicamentos em pó e também líquidos (ANSEL et al., 2000; DÄRR, et al., 1981). Todas as formas de cápsulas surgiram da necessidade de uma forma oral agradável para oferecer medicamentos de mau sabor ou difíceis de tomar. São de mais fácil deglutição que os comprimidos e são susceptíveis de serem revestidas por invólucros gastro-resistentes, podendo passar pelo estômago sem serem desagregadas ou constituírem um preparado de ação modificada (DÄRR, et al., 1981; PRISTA et al., 1995). 17 3.1.1.6 Comprimidos Comprimidos são preparações farmacêuticas de consistência sólida, forma variada, geralmente cilíndrica ou lenticular, obtidas agregando, por meio de pressão, várias substâncias medicamentosas secas e podendo ou não encontrarse envolvidos por revestimentos especiais. Representam, portanto, a forma farmacêutica mais compacta, com um elevado grau de organização das partículas. Face a isso e às diversas variáveis de fabricação que influem na sua qualidade, sua produção está restrita às escalas de produção hospitalar e industrial, que possuem condições de avaliação de características como uniformidade de conteúdo, dureza, desintegração e cedência, entre outras. Como matérias-primas para a produção de comprimidos podem ser empregados pós e granulados. Normalmente são indicados para a administração oral (PRISTA et al., 1995; SIMÕES, et al., 2001). 3.1.2 Formas farmacêuticas líquidas 3.1.2.1 Extratos líquidos São produtos obtidos a partir de matérias-primas vegetais, através de várias metodologias de extração ou dissolução, através do emprego de misturas solventes adequadas, com o objetivo de retirar determinados componentes. Também podem ser preparados a partir da reconstituição dos extratos secos ou concentrados. Através desta ótica, são preparadas soluções extrativas em meio aquoso, hidroetanólico, hidropoligólico ou oleosos (SIMÕES et al. ,2001). 3.1.2.2 Xaropes Os xaropes são preparações farmacêuticas aquosas, límpidas, que contém um açúcar, como a sacarose, em concentração próxima da saturação. Esse açúcar, além de conferir certo valor energético ao xarope, desempenha as funções de edulcorante e de conservante (PRISTA et al., 1995). 3.1.2.3 Tinturas São soluções extrativas alcoólicas, obtidas a partir de drogas vegetais, animais e minerais, no estado seco. Entretanto, é vulgar dar-se a mesma 18 designação às soluções extrativas preparadas com outros dissolventes que não o álcool. O nome tintura provém da circunstância destas formas galênicas se apresentarem coradas, pois sendo soluções extrativas contém princípios dotados de cor (taninos, por exemplo) e vários pigmentos (clorofila, flavonas, quinonas, etc.). Entre as suas vantagens figura a grande riqueza em princípios ativos, a excelente conservação frente às invasões microbianas e a facilidade de medição posológica que apresentam. Habitualmente, são as drogas vegetais que se utilizam para preparar tinturas. Raras vezes se recorre ao uso de drogas animais (PRISTA et al., 1995). 3.1.2.4 Extratos fluídos São preparações líquidas de matéria-prima vegetal, preparadas por percolação. Contém álcool como solvente ou como conservante, ou ambos, e são preparadas de modo que cada mililitro contenha a quantidade de fármacos contida em 1g da droga. Por causa de sua natureza concentrada, muitos extratos fluidos são considerados demasiado potentes para que o paciente se automedique e seu uso como tal é quase inexistente na prática médica (ANSEL et al., 2000). 3.1.2.5 Extratos Moles São preparações de consistência pastosa, obtida por evaporação parcial do solvente utilizado na sua preparação. São obtidos utilizando-se como solvente unicamente etanol, água ou misturas etanol/água de proporção adequada Os extratos moles podem ser adicionados de conservantes para inibir crescimento microbiano (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2002). 3.2 DROGAS VEGETAIS SELECIONADAS PARA O PRESENTE ESTUDO 3.2.1 Cimicífuga (Cimicifuga racemosa) Conhecida popularmente como cimicífuga, erva-de-são-cristóvão, erva-dos piolhos, raiz-preta-de-cobra, raiz-cascavel. Nativa do Canadá e Estados Unidos, atualmente é cultivada na Europa. Utiliza-se raiz e rizomas (NEWALL et al., 2005). 19 É uma planta herbácea alta, com finos ramos cobertos de flores brancas, com atividades adstringente, emenagoga, diurética e expectorante. Utilizada como antídoto contra veneno de cobra cascavel e, em pequenas doses, é utilizada em diarréias infantis. Na crise aguda da tuberculose, fornece alívio por acalmar a tosse, reduzindo a pulsação e o suor. A infusão e decocção têm sido utilizadas com sucesso no reumatismo, porém o uso de altas doses provoca náuseas e vômitos (GRIEVE, 1998). Foram-lhe atribuídas ainda ações antiinflamatórias, diurética, vasodilatora, antiespasmódica e hipotensora (CUNHA et al., 2005). Ë indicada no tratamento dos sintomas do climatério, tais como ondas de calores, sudorese profusa, desordens do sono e irritabilidade nervosa, assim como no tratamento da síndrome pré-menstrual e dismenorréia. (WHO HEALTH ORGANIZATION, 1999). Dose excessiva pode produzir sintomas de náuseas, vômito, tontura, distúrbios visuais e nervosos, juntamente com redução dos batimentos cardíacos e aumento de sudorese, além de transtornos visuais e ocasionalmente, desconforto gástrico (NEWALL et al., 2005). Só deve ser usada em doses terapêuticas (40 mg de extrato seco contendo 2,5% de glicosídeos triterpênicos calculados como desoxiacteína, duas vezes ao dia). Doses elevadas são potencialmente perigosas. Seu uso é contra-indicado durante a gravidez (doses elevadas possuem risco de causar abortos). É contraindicada durante a lactação e em crianças menores de 12 anos (WHO HEALTH ORGANIZATION, 1999). Deve ser utilizada com cautela em pacientes em uso de medicações anti-hipertensivas, visto que a ação vascular da acteína pode causar hipotensão adicional (FETROW; AVILA, 2000). 3.2.2 Gingkgo Biloba (Gingko biloba) Conhecida popularmente como Ginkgo, Gingo biloba, nogueira do Japão, utilizam-se folhas e sementes (NEWALL et al., 2005). Essa planta é uma árvore dióica que cresce até trinta metros de altura e é descrita como fóssil vivo, por sobreviver sem alterações, no leste da Ásia, há cerca de duzentos milhões de anos. Atualmente, é um medicamento popular na Europa para tratamento das 20 doenças vasculares periféricas, sobretudo dos distúrbios circulatórios do cérebro e de outros do sistema arterial periférico (ROBBERS, et al., 1997). Contém a toxina 4-0-metilpiridoxina responsável por perda da consciência, convulsões (NEWALL et al., 2005). O contato com os frutos pode ocasionar dermatite, pois a polpa dos frutos e a casca das sementes contêm ácido ginkgólico e bilobina, que são estruturalmente relacionados com os uruchóis encontrados na hera venenosa (Toxicodendron), na casca da manga e na casca da castanha de caju (FETROW; AVILA, 2000). 3.2.3 Carqueja Amarga (Baccharis sp) Conhecida popularmente como carqueja-amarga, carqueja-amargosa, carqueja-do-mato, carquejinha, condamina, tiririca-de-babado, cacaia-amarga, bacanta, cacália-amarga, cacália-doce, cuchi-cuchi, quinsu-cucho, três-espigas, bacárida, quina-de-condamine, tiririca-de-balaio e vassoura, é considerada invasora de pastagens, sendo adaptada a lugares abertos ou campos. Ocorre nos solos pedregosos, às margens de estradas, em barrancos à beira dos caminhos, ou em lugares úmidos nas ribanceiras dos rios e até 2.800 m de altitude. Sua dispersão estende-se da Região Sudeste à Região Sul do Brasil, indo até a Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia (CASTRO; FERREIRA, 2000). É utilizada contra a dispepsia, a diarréia e as afecções gástricas, intestinais e hepáticas, ativando tais funções. Seu óleo também é indicado como droga antireumática, devido à presença de carquejol e acetato de carquejila (CASTRO; FERREIRA, 2000). É indicada na azia devido à má digestão, cálculos biliares, e é considerada uma opção suave para estimular o intestino quando ocorre prisão de ventre, não havendo efeitos colaterais se administrada na posologia recomendada, que é do infuso a 15 % de 50 a 200 ml/dia, tintura, de 5 a 25 ml/dia, extrato fluido, 1 a 5 ml/dia e dose de 1 a 4 g/dia (TESKE; TRENTINI, 1997) 21 3.2.4 Centella Asiática (Centella asiática) Conhecida popularmente como centelha-asiática, coairusso, codagem, pata-de-cavalo, pé-de-cavalo, centela, dinheiro-em-penca, corcel, pata-de-mula, pata-de-burro, cairuçu-asiático. Utilizam-se as partes aéreas (NEWALL et al., 2005). Essa planta possui propriedades anti-reumáticas, dermatológicas, e levemente diuréticas, além de ser um vasodilatador periférico. Seu uso é indicado no tratamento de quadros reumáticos e afecções cutâneas. Além disso, é aplicada topicamente em feridas, úlceras leprosas e cicatrização cirúrgica. Pode produzir fotossensibilidade. Doses excessivas podem interferir com terapia hipoglicêmica em curso e aumentar as concentrações séricas de colesterol. É considerada abortiva e capaz de alterar o ciclo menstrual (NEWALL et al., 2005). 3.2.5 Cava-cava (Piper methysticum) Popularmente conhecida como Kava-kava, Kawa-kawa, amekava, cavacava, Kava, metístico, pimenteira embriagante (CUNHA et al., 2005). Trata-se de um grande arbusto muito cultivado na Oceania; suas partes subterrâneas sempre foram muito usadas pelos nativos dessas ilhas na preparação de uma bebida embriagante (ROBBERS et al., 1997). O efeito nos centros nervosos é primeiro estimulando, depois deprimindo, terminando com paralisia do centro respiratório. Utilizada como anestésico local, porém, por mais de vinte e cinco anos foi utilizada no tratamento de gonorréia aguda e crônica, vaginite, leucorréia, incontinência noturna e outras indisposições do trato urinário (GRIEVE, 1998). Contra-indicada na gravidez, aleitamento e para crianças, em depressões endógenas, pois pode conduzir ao suicídio. O uso abusivo pode originar erupções cutâneas, magreza, hiperbilirrubinemia, trombocitopenia e hipertensão arterial (CUNHA et al., 2005) 22 3.2.6 Guaraná (Paullinia cupana) É uma planta trepadeira nativa do Brasil e do Uruguai. Foi introduzida na França, proveniente da América do Sul, em 1817, descobrindo-se em 1840 que um dos seus principais componentes é a cafeína (2,5 a 5%), possuindo também em sua composição cerca de 25% de tanino (ROBBERS et al., 1997). Os efeitos do guaraná, cujas partes utilizadas são as sementes, são atribuídos diretamente a seu elevado teor de cafeína. As ações farmacológicas da cafeína incluem estimulação do sistema nervoso central (por aumento de liberação de catecolaminas), diurese, hiperglicemia, estimulação cardíaca, vasodilatação coronariana e periférica, vasoconstrição vascular cerebral, estimulação da musculatura esquelética, aumento da secreção de ácido gástrico e relaxamento da musculatura lisa brônquica. É contra-indicado nos estados de ansiedade, agitação, hipertireoidismo, hipertensão e inflamações gastrointestinais. O guaraná e outros produtos que contém cafeína estão contra-indicados para pacientes com arritmias, visto que os níveis elevados desta podem provocar agravamento dos sintomas e das arritmias e inibir a cardioversão com adenosina (CUNHA et al., 2005). 3.2.7 Castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum) Popularmente conhecida como castanheiro-da-índia, castanha-da-índia, castanheiro-de-flor-vermelha, marronier d”Indie, castanheiro-de-cavalo, aescina, escina (NEWALL et al., 2005). É nativa das partes nordeste e central da Ásia, da qual foi introduzida à Inglaterra aproximadamente na metade do século XVI. A árvore é plantada principalmente com objetivos ornamentais em cidades, parques, jardins privados e belas avenidas que, na primavera, quando as árvores estão em pleno florescer, fornece uma bela paisagem (GRIEVE, 1998). É utilizada no tratamento de insuficiência venosa crônica, varizes, cansaço das pernas, edemas de diversas origens e como coadjuvante no tratamento da celulite. Também tem sido utilizada no caso de equimoses, diáteses hemorrágicas, síndrome de Raynaud, metrorragias e fragilidade capilar (CUNHA et al., 2005). 23 3.2.8 Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana) O nome cáscara sagrada vem do espanhol e significa casca sagrada. Tratase de uma árvore nativa da costa do pacífico da América do Norte, que atinge a altura de dez metros. A cáscara sagrada é um catártico. Seu principal uso é na correção da constipação habitual, em que não só atua como laxativo, mas restaura a tonicidade natural do cólon (ROBBERS et al., 1997). Está contra-indicada para gestantes e lactantes, pois atravessa a barreira placentária e é excretada no leito materno, aumentando o risco de diarréia nos lactentes. Contra-indicada para menores de 10 anos (FETROW; AVILA, 2000). 3.2.9 Alcachofra (Cynara scolymus) É um dos mais antigos vegetais cultivados, plantado pelos gregos e romanos no apogeu do poder. Foi introduzido na Inglaterra no início do século XVI como uma verdura e uma planta ornamental em jardins de monastérios (GRIEVE, 1998). As folhas são amplamente utilizadas em preparações fitoterápicas, com indicação principalmente para problemas hepáticos, como cirrose e intoxicação hepática. Também utilizada como preventivo da arteriosclerose, bem como tônico em convalescenças (CUNHA et al., 2005). A alcachofra contém cinaropicrina, uma lactona sesquiterpênica altamente alergênica. Uso não aconselhado durante a gravidez e lactação (NEWALL et al., 2005). 3.2.10 Hipérico (Hypericum perforatum) Conhecido popularmente como erva-de-são-joão, hipérico, milfurada, hipericão (CUNHA et al., 2005). É uma planta nativa de todas as partes da Europa e comum na Inglaterra em pastos secos e beiras de estrada (GRIEVE, 1998). Utiliza-se toda a planta, em especial as partes floridas, indicada em ansiedade e depressão (uso interno) e inflamação da pele, lesões causadas por injúrias e ferimentos e queimaduras (uso externo) (CUNHA et al., 2005). 24 É contra-indicada na gravidez e lactação (FETROW; AVILA, 2000). Não é recomendado para pacientes com depressão crônica. Overdoses podem potencializar terapia com IMAO (inibidor da monoaminooxidase) que esteja em andamento, e causar reação alérgica em indivíduos sensíveis à hipericina (NEWALL et al., 2005). 3.2.11 Sene (Cassia acutifolia Delile) O sene, ou folhas de sene, consiste nas folhas dessecadas da Cássia acutifólia Delile, conhecida no comércio como sene de Alexandria, ou da C. angustifolia Vahl, conhecida no comércio como sene de Tinnevelly (ROBBERS et al., 1997). A primeira é nativa do norte da África, Egito e Sudão, sendo exportada sobretudo através do porto de Alexandria, enquanto a segunda é originária do Egito, mas vem sendo cultivada na Índia, especialmente nas regiões de Tinnevely, Madras e Bombain desde o século XIX. Estes dois nomes foram sinomizados (SIMÕES et al., 2001). Trata-se de arbustos de ramos curtos (ROBBERS et al., 1997). O sene é usado como purgativo. Aumenta os movimentos peristálticos do cólon por sua ação local sobre a parede intestinal (GRIEVE, 1998). Embora o sene não tenha ação laxativa tão suave quanto a cáscara sagrada, provocando mais cólicas, seu uso é difundido por tratar-se de medicamente mais barato (ROBBERS et al., 1997)> O sene é contra indicado em condições inflamatórias do trato digestivo, como hemorróidas, prolapsus, entre outras (GRIEVE, 1998). 3.3 CONTROLE DE QUALIDADE DE DROGAS VEGETAIS Entende-se por qualidade o conjunto de critérios que caracterizam a matéria-prima para o uso ao qual se destina. A partir do estabelecimento dos parâmetros de qualidade para a matéria-prima, e considerando-se um planejamento adequado e um controle do processo de produção do medicamento, a qualidade do produto final estará, em grande parte, assegurada. Portanto, a 25 qualidade da matéria-prima vegetal é a determinante inicial da qualidade do fitoterápico (SIMÕES, 2001). O controle de qualidade e padronização de drogas vegetais envolve etapas relacionadas aos fatores que possam afetar a concentração de constituintes presentes nas plantas. Tais fatores são o uso de plantas frescas, temperatura, exposição à luz, atividade de água, nutrientes, período e hora de coleta, método de coleta, secagem, embalagem, armazenamento e transporte da matéria-prima, idade e parte da planta coletada, entre outros, os quais podem afetar significativamente a qualidade e conseqüentemente o valor terapêutico das drogas vegetais. Alguns constituintes de plantas são termolábeis e as plantas que os contêm necessitam ser secas a baixas temperaturas. Também, outras atividades principais são destruídas por processos enzimáticos que continuam por longos períodos de tempos após a coleta da planta. Isto explica porque a composição das drogas vegetais varia freqüentemente. Outros fatores, tais como o método de extração e contaminação com microorganismos, metais pesados, pesticidas, entre outros, também podem interferir com a qualidade, segurança e eficácia das drogas vegetais. Por estas razões, indústrias farmacêuticas preferem usar plantas cultivadas ao invés de plantas coletadas por extrativismo, porque elas tendem a apresentar menores variações em seus constituintes. Além disso, quando plantas medicinais são produzidas por cultivo, os principais metabólitos secundários podem ser monitorados e isto permite definir o melhor período de plantio (CALIXTO, 2000). Os parâmetros de qualidade para fins farmacêuticos são estabelecidos nas Farmacopéias e Códigos Oficiais. No caso das matérias-primas vegetais oriundas de plantas clássicas, estudadas química e farmacologicamente, existem monografias definindo critérios de identidade, de pureza e de teor de constituintes químicos. Dependendo da origem do vegetal, podem ser utilizadas, além da Farmacopéia Brasileira, farmacopéias de diferentes países como a Farmacopéia Alemã, a Farmacopéia Francesa, a Farmacopéia Britânica, a Farmacopéia Européia, Farmacopéia Helvética, Farmacopéia Americana, entre outras, além de monografias complementares, como as elaboradas pela Organização Mundial da 26 Saúde, pela Comissão E do Ministério da Saúde alemão ou pela União Européia (FARIAS, 2001). Alguns parâmetros essenciais para a qualidade das matérias-primas vegetais podem variar dependendo da procedência do material. A origem geográfica exata e as condições de cultivo, estágio de desenvolvimento, colheita, secagem e armazenamento, bem como de tratamentos com agrotóxicos, descontaminantes e conservantes devem ser conhecidos (FARIAS, 2001). Nos procedimentos rotineiros de análise da qualidade, geralmente é preconizado o emprego de metodologias químicas, físicas ou físico-químicas e biológicas, sendo necessária a correlação entre os parâmetros analisados e a finalidade a que se destina (SIMÕES, 2001). As análises, ensaios e testes realizados com materiais de plantas medicinais, bem como as efetuadas com o produto acabado, implicitam e envolvem várias técnicas cujas metodologias são, senão idênticas, bastantes semelhantes àquelas utilizadas para os demais medicamentos. Assim, os métodos clássicos de gravimetria, volumetria, cromatografias, espectroscopias – ultra violeta-visível, infravermelho, ressonância magnética nuclear 1H, 13C, espectrometria de massas permitem avaliações qualitativas e quantitativas das plantas medicinais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu documento WHO/Pharm/92.559, apontou um roteiro básico para analisar a qualidade de plantas medicinais abrangendo tópicos que vão desde a classificação e identificação da espécie botânica, doseamento de princípios ativos (quando conhecidos) até as possíveis e prováveis contaminações radioativas provenientes dos processos de esterilização do produto ou de suas contaminações ambientais.Os controles fisico-químico, químico e microbiológico são apontados no documento da OMS como relevantes e imprescindíveis (GARCIA, 2005). 3.4 PARÂMETROS DE QUALIDADE MICROBIOLÓGICA Segundo FARIAS (2001), as drogas vegetais podem conter um grande número de fungos e bactérias, respectivamente, a níveis de 104 UFC/g e 105 27 UFC/g, geralmente provenientes de solo, pertencentes à microflora natural de certas plantas ou mesmo introduzidas durante a manipulação. Os contaminantes mais comuns são: Aspergillus e Penicillium, assim como esporos do gênero Bacillus, e às vezes Micrococcus sp e Staphylococcus sp. Dependendo das condições de manejo, secagem e armazenamento, microrganismos viáveis podem desenvolver-se, intensificando a contaminação (WORLD HEALTH ORGANIZATION,1998; PINTO, KANEKO e OHARA, 2000), . A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n º 48, de 18 de março de 2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos, recomenda que os testes de pesquisa de contaminantes microbiológicos devem estar de acordo com a Farmacopéia Brasileira ou com as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Os limites adotados pela Organização Mundial da Saúde variam conforme tratamento ou aplicação do material de origem. Para materiais destinados a processo de descontaminação química ou física os limites microbianos adotados são: Escherichia coli, no máximo 104 UFC por grama, bolores, no máximo 105 UFC por grama; para materiais destinados a infusões ou chá para uso tópico, as especificações são: bactérias aeróbias, no máximo 107 UFC por grama, bolores e leveduras, no máximo 104 UFC por grama, Escherichia coli, no máximo 102 UFC por grama, outras enterobactérias, no máximo 104 UFC por grama, Salmonella, ausência, Pseudomonas aeruginosa, ausência, Staphylococcus aureus, ausência. Para outros materiais destinados ao uso interno: bactérias aeróbias, no máximo 105 UFC por grama, bolores e leveduras, no máximo 103 UFC por grama Escherichia coli, no máximo 10 UFC por grama, outras enterobactérias, no máximo 103 UFC por grama, Salmonella, ausência, Pseudomonas aeruginosa, ausência, Staphylococcus aureus, ausência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). 28 4 4.1 MATERIAIS E MÉTODOS MATERIAL 4.1.1 Material Vegetal para o Estudo O material objeto de estudo deste trabalho corresponde a amostras de matérias-primas de vegetais obtidas de farmácias de manipulação localizadas na cidade de Curitiba, na forma da droga vegetal pulverizada e de extrato seco. As amostras escolhidas foram: alcachofra extrato seco (Cynara scolymus), carqueja pó (Baccharis triptera) var. cilindric, cáscara sagrada extrato seco (Rhamnus purshiana de Candolle), castanha da índia extrato seco (Aesculus hippocastanum), centelha asiática pó (Centella asiática), ginkgo-biloba extrato seco e pó (Gingko biloba), guaraná pó (Paullinia cupana), hipérico extrato seco, cava-cava extrato seco (Piper methysticum), sene extrato seco (Cássia acutifólia Delile) , cimicifuga extrato seco e pó (Cimicífuga racemosa). A seleção das farmácias foi feita por escolha aleatória, através do cadastro de farmácias de manipulação de Curitiba, obtido do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná. O número de farmácias amostrado foi determinado pela fórmula √n + 1, onde n = número de farmácias de manipulação de Curitiba que, segundo o referido cadastro utilizado, apresenta o total de 121 farmácias. Utilizando-se a fórmula acima, obteve-se o número de 12 farmácias amostradas. A coleta das amostras foi feita com a parceria da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG) – Seção Paraná, que fez o contacto com as farmácias. A amostragem foi feita pelo farmacêutico responsável de cada farmácia envolvida. Amostras de 30g foram embaladas em sacos plásticos de primeiro uso, selados, devidamente identificados conforme orientação constante do Ofício n.º 127 ANF/DIR/PR (Anexo 1), e posteriormente encaminhadas para o Laboratório de Controle de Qualidade da Universidade Federal do Paraná, onde foram analisadas quanto aos aspectos microbiológicos. 29 Todas as amostras estavam acompanhadas de cópias dos respectivos certificados de análise dos fornecedores (Anexo 2). Após a realização da análise microbiológica, uma pequena porção do que restou de cada amostra foi utilizada para identificação e confirmação da forma farmacêutica, se extrato seco ou pó, conforme informado no laudo do fornecedor e nos rótulos de embalagens onde estavam acondicionadas as amostras. 4.1.2 Material de Laboratório: - Espátula; - Erlenmeyer de 500 e de 250 ml; - Bastão de vidro; - Proveta de 100 ml; - Placas de petri; - Béquer de 250 ml; - Tubos de rosca; - Suporte para tubos; - Pipeta graduada de 5 ml e 10 ml; - Micropipeta de 1000µL; - Ponteiras para micropipeta; - Agulha de níquel-cromo; - Alça de níquel-cromo; - Lâmina de vidro para microscopia - Lamínula 4.1.3 Reagentes Utilizados na Análise - Álcool 77ºGL - Componentes da solução tampão (fosfato de potássio monobásico, fosfato de potássio dibásico, cloreto de sódio e peptona); - Água destilada; - Agar caseína; 30 - Agar Sabouraud; - Caldo Mossel; - Agar VRB; - Caldo Mac Conkey; - Ágar Mac Conkey; - Caldo Tetrationato; - Agar Rambach; - Caldo Caseína; - Agar Cetrimide; - Ágar Baird-Paker; - Cloral Hidratado 4.1.4 Equipamentos - Balança analítica; - Aquecedor elétrico; - Câmara de fluxo laminar; - Estufa bacteriológica à 37ºC; - Termômetro; - Contador de colônias; - Autoclave; - Bico de bunsen; - Câmara de ultra-violeta; - Banho-maria. MICROSCÓPIO ÓTICO 4.2 MÉTODOS 4.2.1 Análise microbiológica Os métodos de análise microbiológica do material vegetal abrangeram a determinação numérica ou contagem das formas viáveis – aeróbios, bolores e leveduras, isolamento e identificação dos microorganismos indesejáveis a serem 31 pesquisados – Enterobactérias, Escherichia coli, Salmonella sp, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus (PINTO; KANEKO; OHARA 2000). 4.2.1.1 Pré-tratamento do material a ser examinado A amostra a ser examinada foi submetida a um prévio tratamento. Este constituiu na suspensão de 10 g do material homogeneizado em quantidade suficiente de um meio que não possuísse atividade antimicrobiana, sob as condições do teste, para completar 100 ml. No experimento utilizou-se solução tampão de cloreto de sódio-peptona pH 7,0. A amostra tratada correspondeu a diluição 10-1 (alguns materiais podem requerer o uso de um volume maior). Quando necessário, o pH da suspensão foi ajustado em aproximadamente 7,0 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Ao final da execução do procedimento acima descrito para o prévio tratamento da amostra, a mesma foi imediatamente utilizada nos passos subseqüentes da análise microbiológica de material vegetal. 4.2.1.2 Contagem de formas viáveis O método utilizado para contagem de microorganismos (aeróbios, bolores e leveduras) consistiu na semeadura em profundidade em placas ou “pour plate”. A semeadura do material a ser examinado, em placa, respeitou as condições ótimas do microorganismo que se procura, isto é, meio de cultura adequado, temperatura, oxigênio e tempo necessário para favorecer seu crescimento e permitir ao final, a contagem de colônias formadas (MERCK, 1989). O material em estudo foi previamente tratado, como mencionado anteriormente. A partir desta suspensão, preparou-se diluições da amostra, no mesmo meio utilizado, para serem plaqueadas, de forma que o número de colônias esperado se situasse entre 3 e 300 para microorganismos aeróbios e não fosse superior a 100 para bolores e leveduras. Para tanto, as diluições preparadas e utilizadas corresponderam a 10-2, 10-3, 10-4 e 10-5 da amostra. Foram inoculadas 1 placa por diluição. Colocou-se 1 ml do material, objeto de exame nas placas, agregou-se cerca de 10 ml do meio de cultura estéril fundido e resfriado a temperatura compatível com a fisiologia celular ± 45 ºC, homogeneizou-se com movimentos rotatórios em forma de 8 por 32 pelo menos 6 vezes. O meio de cultivo utilizado para contagem de microorganismos aeróbios foi o ágar Caseína Soja e para a contagem de bolores e leveduras o ágar Sabouraud, acrescido de solução de ácido tartárico 10% em quantidade suficiente para deixar o meio com pH 3,5. Esta solução foi previamente esterilizada e adicionada ao meio, no momento do plaqueamento, a fim de reduzir o pH do mesmo, e desta forma, inibir o crescimento de bactérias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Foram preparadas placas de amostras em duplicata. As placas depois de preparadas foram incubadas a temperatura e condições recomendadas pelo método e classe de contagem realizada. As placas para contagem de aeróbios foram incubadas invertidas a 30 – 35 ºC por 48h e as placas para contagem de bolores e leveduras a temperatura ambiente (20 a 25 ºC) por 5 dias, não invertidas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Decorrido o tempo de incubação, as colônias foram contadas com auxílio de um contador de colônias tipo Quebec. O número médio obtido da amostra e da sua duplicata correspondente a uma determinada diluição, multiplicado pelo fator dessa diluição, confere o número de unidades formadoras de colônias por unidade de peso (UFC/g) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). 4.2.1.3 Pesquisa de Patógenos específicos A pesquisa de patógenos específicos consistiu na transferência de uma certa quantidade (1 ml) do material previamente tratado para um caldo de enriquecimento seletivo ou não seletivo, posterior subcultura em placa para isolamento e diferenciação, visando identificação, utilizando provas bioquímicas e sorológicas, do microorganismo em questão. 4.2.1.4 Detecção de enterobactérias Para a pesquisa de enterobactérias, 10 ml do material pré-tratado, apropriadamente homogeneizado e incubado a 30 – 37 ºC por um tempo suficiente para reavivar as bactérias, mas insuficiente para a multiplicação dos microorganismos (geralmente de 2 – 5 horas), foi transferido para um erlenmeyer contendo 100 ml do caldo de enriquecimento para enterobactérias, caldo Mossel, 33 e incubado a 35 – 37 ºC por 48 horas. Em seguida, foi preparada uma subcultura em uma placa contendo ágar VRB (violet red bile agar) e incubada a 35 – 37 ºC por 48 horas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Esta técnica permite apenas verificar a presença ou ausência de enterobactérias. Uma vez ocorrido o crescimento de microrganismo característico, é necessário realizar coloração de Gram, para confirmar ser um bacilo gram negativo e logo em seguida efetuar provas bioquímicas específicas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Não houve a necessidade da execução de tais técnicas. 4.2.1.5 Pesquisa de Escherichia coli Na pesquisa de Escherichia coli, 10 ml do material pré-tratado, apropriadamente homogeneizado e incubado a 30 – 37 ºC por um tempo suficiente para reavivar as bactérias, mas insuficiente para a multiplicação dos microrganismos (geralmente de 2 – 5 horas), foi transferido para um erlenmeyer contendo 100 ml do caldo Mac Conkey e incubado a 43 – 45 ºC por 24 horas. Foi preparada uma subcultura em uma placa contendo ágar Mac Conkey e incubada a 43 – 45 ºC por 24 horas. O crescimento de colônias Gram negativas (característica esta determinada realizando um esfregaço da colônia em lâmina e corando-o com coloração de Gram), vermelhas, geralmente não mucóides, algumas vezes rodeada por uma zona de precipitação avermelhada, indica a possível presença de Escherichia coli. Isto pode ser confirmado por meio de provas bioquímicas. Não houve a necessidade da execução da coloração de Gram e nem das provas bioquímicas específicas. 4.2.1.6 Pesquisa de Salmonella sp A pesquisa de Salmonella sp consistiu na transferência de 10 ml do material pré-tratado, apropriadamente homogeneizado e incubado a 35 – 37 ºC por 24 horas, para um erlenmeyer contendo 100 ml do caldo de enriquecimento, Tetrationato Verde Brilhante Bile, e posterior incubação a 42 – 43 ºC por 24 horas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que sejam preparadas subculturas em pelo menos dois dos seguintes três meios: ágar Citrato 34 Desoxicolato, ágar Xilose/Lisina Desoxicolato e ágar Verde Brilhante, e sejam incubadas a 35 – 37 ºc por 24 a 48 horas. Prosseguir ao teste secundário se alguma colônia encontrar em conformidade com o descrito na Tabela 1. TABELA 1 – DESCRIÇÃO DA APARÊNCIA DAS COLÔNIAS DE SALMONELLA NOS DIFERENTES MEIOS DE CULTURA Meio Descrição Da Colônia Ágar Citrato Desoxicolato Incolor, bem desenvolvida Ágar Xilose/Lisina Desoxicolato Vermelha, bem desenvolvida, com ou sem centros negros Ágar Verde Brilhante Transparente e incolor, ou opaca, rosa ou branca (freqüentemente rodeada por uma zona, cuja coloração varia de rosa a vermelha), pequena FONTE: WORLD HEALTH ORGANIZATION: Quality control methods for medicinal plant materials. Geneva: WHO, 1998. No teste secundário, deve-se preparar uma subcultura da colônia com as características descritas acima (Tabela 1) em ágar inclinado de Triplo Açúcar Ferro, semeando tanto na superfície deste meio, como na profundidade, com o auxílio de uma agulha bacteriológica e incubar a 35 – 37 ºC por 18 – 24 horas. O teste é positivo para a presença de Salmonella sp, se ocorrer uma mudança de coloração de vermelho para amarelo na profundidade do meio, mas não na superfície, usualmente com a formação de gás, com ou sem produção de sulfeto de hidrogênio. A presença deste microorganismo deve ser confirmada utilizando provas bioquímicas e sorológicas apropriadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). O material examinado, passa no teste, se colônias como as descritas na tabela 1 não aparecerem no teste primário, ou se a confirmação bioquímica e sorológica for negativa (WORLD HEALHT ORGANIZATION, 1998). O método descrito acima para a pesquisa de Salmonella sp foi modificado na rotina diária, a subcultura foi realizada em dois meios, mas foi utilizado apenas o ágar Xilose/Lisina desoxicolato (XLD) dos três meios sugeridos pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O outro meio de cultura utilizado foi o ágar 35 Verde Brilhante de Fenol Lactose Sacarose (BPLS). Este meio é utilizado para o isolamento de Salmonella, exceto S. tiphy. A flora acompanhante, S. tiphy e Shigella são reprimidas pela presença do Verde Brilhante. O crescimento de Salmonella é evidenciado pela presença de colônias rosas e o meio de cultura roxo (MERCK, 1999). Não houve a necessidade da realização do teste secundário, nem das provas bioquímicas. 4.2.1.7 Pesquisa de Pseudomonas aeruginosa Na pesquisa de Pseudomonas aeruginosa, 10 ml do material pré-tratado foi transferido para um erlenmeyer contendo 100 ml do caldo Caseína Soja e incubado a 35 – 37 ºC por 48 horas. Foi preparada uma subcultura em uma placa contendo ágar Cetrimide e incubada a 35 – 37 ºC por 48 horas. Se não for encontrado crescimento na placa, o material passa no teste. Se ocorrer o crescimento de colônias Gram negativas (característica esta determinada realizando um esfregaço da colônia em lâmina e corando-o com coloração de Gram), usualmente com uma fluorescência esverdeada, aplicar o teste da oxidase e o teste de crescimento em caldo caseína soja a 42 ºC. Não houve a necessidade da realização da coloração de Gram, nem dos testes complementares. Sendo assim, os mesmos não serão aqui detalhados. 4.2.1.8 Pesquisa de Staphylococcus aureus Para a pesquisa de Staphylococcus aureus 10 ml do material pré-tratado foi transferido para um erlenmeyer contendo 100 ml do caldo Caseína Soja. Foi utilizada a mesma cultura de enriquecimento preparada para a pesquisa de Pseudomonas aeruginosa, e foi incubado a 35 – 37 ºC por 48 horas. Preparou-se uma subcultura em uma placa contendo ágar Baird Parker e incubou-se a 35 – 37 ºC por 48 horas. O material passa no teste se não ocorrer o crescimento de microrganismos característicos, colônias pretas de cocos gram positivos (característica esta determinada realizando um esfregaço da colônia em lâmina e corando-o com coloração de Gram), geralmente circundadas por zonas claras que podem indicar a presença de Staphylococcus aureus. Para cocos catalase positivos a confirmação pode ser obtida pelo teste da coagulase. Não houve a 36 necessidade da realização da coloração de Gram, nem das provas da catalase e da coagulase. Sendo assim, tais provas não serão aqui detalhadas. 4.2.2 Análise microscópica Para análise de microscopia das drogas vegetais, uma porção da amostra a ser analisada foi colocada no centro de uma lâmina de vidro. Colocou-se algumas gotas do diafanizador cloral hidratado sobre amostra, cobrindo-se em seguida com uma lamínula. A lâmina foi levada ao fogo para aquecer levemente o cloral hidratado, para a diafanização da amostra, que consistia em torná-la transparente à luz. Após, observou-se ao microscópio ótico a lâmina contendo a amostra. Procurou-se identificar nas amostras elementos celulares, tais como sistema vascular, estômatos, feixes, tricomas. A presença de tais elementos confirmava que a amostra tratava-se da droga vegetal pulverizada (isto é, em pó) e a ausência confirmava que a amostra se tratava da droga na forma de extrato seco. 37 5 RESULTADOS A Tabela 2 apresenta o resultado da análise microbiológica dos vegetais analisados. TABELA 2 – RESULTADOS DA ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE DROGAS VEGETAIS OBTIDAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA, EM 2005. Droga Vegetal Cimicífuga Gingko biloba Carqueja amarga Centella asiática Cava-cava Guaraná Contagem Nome Científico F.f. Cimicifuga extrato racemosa seco Gingko biloba L. UFC/g patógenos específicos 2 < 1,0 x 10 2 Ausente pó 2 < 1,0 x 10 2 < 1,0 x 10 2 Ausente pó 3 < 1,0 x 10 2 < 1,0 x 10 2 Ausente pó 4 < 1,0 x 10 2 < 1,0 x 10 2 Ausente 5 2,0 x 10 2 < 1,0 x 10 2 Ausente 3 1,0 x 103 2,0 x 103 Ausente 2 1,0 x 10 1,0 x 10 2 Ausente 6 < 1,0 x 10 2 2,0 x 10 3 Ausente 5 < 1,0 x 10 2 1,0 x 10 2 Ausente 2 3,0 x 10 Baccharis. Triptera var. cilindric Centella asiática Piper methysticum Paullinia cupana Kunth extrato seco pó índia hippocastanunm seco Cimicífuga leveduras Presença de < 1,0 x 10 extrato Alcachofra de bolores e 1 Aesculus sagrada de aeróbios totais UFC/g Castanha da Cáscara F. Contagem Rhamnus purshiana de Candolle Cynara scolymus extrato seco extrato seco Cimicifuga extrato racemosa seco 3 3 < 1,0 x 10 2 Ausente 38 Gingko biloba Sene Gingko biloba L. extrato seco Cassia acutifolia extrato Delile seco *F.f = Forma farmacêutica; **F= Fornecedor 5 < 1,0 x 10 7 1,0 x 10 2 2 < 1,0 x 10 2 Ausente < 1,0 x 10 2 Ausente 39 A Tabela 3 apresenta os resultados das análises microbiológicas descritos nos laudos de análise dos fornecedores das drogas vegetais (Anexo 2). TABELA 3 – RESULTADOS DAS ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS DESCRITOS NOS LAUDOS DROGAS DE VEGETAIS ANÁLISE DOS UTILIZADAS FORNECEDORES EM DAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA, EM 2005. Droga Vegetal Cimicífuga Gingko biloba Carqueja amarga Centella asiática Cava-cava Guaraná Contagem Nome Científico F.f.* Cimicifuga extrato racemosa seco Gingko biloba L. UFC/g patógenos específicos Ausente 41 Pó 2 1,0 x 10 De acordo De acordo Pó 3 - - - Pó 4 Ausente Ausente Menor que Menor que Ausente 4000 100 **** 3 - - - 2 < 10 Ausente em Ausente em 1g 1g *** 6 < 10 < 10 5 170 10 2 100 10 **** Baccharis. Triptera var. cilindric Centella asiática Piper methysticum Paullinia cupana Kunth extrato seco Pó índia hippocastanunm seco Cimicífuga leveduras Presença de 143 extrato Alcachofra de bolores e 1 Aesculus sagrada de aeróbios totais UFC/g Castanha da Cáscara F.** Contagem Rhamnus purshiana de Candolle Cynara scolymus extrato seco extrato seco Cimicifuga extrato racemosa seco 5 Ausente *** Ausente *** Ausente **** Negativo *** 40 Gingko biloba Sene Gingko biloba L. extrato seco Cassia acutifolia extrato Delile seco 5 7 Inferior a 1000 < 10 Inferior a 50 10 Ausente **** Ausente *** *F.f = Forma farmacêutica; **F = Fornecedor; *** = Não informou resultado de pesquisa de Enterobactérias; **** = Não informou resultado de pesquisa de Enterobactérias, Pseudomonas aeruginosa e Staphyloccus aureus.. 41 A Tabela 4 apresenta os resultados da análise microscópica das drogas vegetais analisadas, para confirmar a forma farmacêutica informada nos laudos dos fornecedores e nos rótulos das embalagens onde estavam acondicionadas as amostras. TABELA 4 – RESULTADO DA ANÁLISE MICROSCÓPICA DAS DROGAS VEGETAIS UTILIZADAS EM FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBA, EM 2005. Resultado da Microscopia Droga Vegetal Nome Científico F.f F. Ausência ou presença de elementos Conclusão celulares Cimicífuga Gingko biloba Carqueja amarga Centella asiática Cava-cava Guaraná Cimicifuga extrato racemosa seco Gingko biloba L. 1 Ausência Extrato seco pó 2 Presença Pó pó 3 Presença Pó pó 4 Presença Pó 5 Ausência Extrato seco 3 Presença Pó 2 Ausência Extrato seco 6 Ausência Extrato seco 5 Ausência Extrato seco 2 Ausência Extrato seco Baccharis. Triptera var. cilindric Centella asiática Piper methysticum Paullinia cupana Kunth extrato seco pó Castanha da Aesculus extrato índia hippocastanunm seco Cáscara sagrada Alcachofra Cimicífuga Rhamnus purshiana de Candolle Cynara scolymus extrato seco extrato seco Cimicifuga extrato racemosa seco 42 Gingko biloba Sene Gingko biloba L. extrato seco Cassia acutifolia extrato Delile seco *F.f = Forma farmacêutica; **F= Fornecedor 5 Ausência Extrato seco 7 Ausência Extrato seco 43 6 DISCUSSÃO As drogas vegetais analisadas foram selecionadas pela sua importância devido a grande procura de consumo pela população, exceto a carqueja, que foi selecionada pelo risco de contaminação deste produto no local de colheita, seja pelo fato da planta crescer próximo ao solo ou pelo fato da planta ser obtida exclusivamente do extrativismo, em locais como beira de estradas (KNEIFEL et al., 2002; DAL PIVA e PORTO, 1998). Foram analisadas doze amostras que representaram dez drogas vegetais diferentes, de acordo com metodologia descrita pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Segundo informações descritas nos laudos dos fornecedores (Anexo 2), cinco drogas vegetais (41,67%) são de origem nacional (carqueja pó, guaraná pó, cáscara sagrada extrato seco, alcachofra extrato seco, sene extrato seco). Das outras sete importadas (58,33%), cinco (41,67%) são de origem da China (duas cimicífuga extrato seco, gingko biloba pó, gingko biloba extrato seco, centella asiática pó), uma (8,33 %) de origem da Índia (kawa-kawa extrato seco) e uma (8,33%) de origem da Alemanha (castanha da índia extrato seco). De acordo com a Tabela 2, os níveis de contaminação por microrganismos aeróbios totais variaram de <1,0x102 a 3,0x103 UFC/g, sendo que sete amostras (58,33%) apresentaram valores abaixo de 1,0x102 UFC/g. Cinco amostras (41,67%) apresentaram valores acima deste. As amostras mais contaminadas foram: cimicifuga extrato seco, do fornecedor 2 (3,0x103 UFC/g), guaraná em pó, do fornecedor 3 (1,0x103 UFC/g) e Castanha da índia extrato seco, do fornecedor 2 (1,0x103 UFC/g). Porém, todas as amostras estavam dentro da especificação da OMS, que estabelece o limite máximo de 5,0x105 UFC/g para materiais vegetais destinados ao uso interno (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). A contaminação por bolores e leveduras das drogas vegetais variou de <1,0x102 a 2,0x103 UFC/g, com maior freqüência das amostras com carga menor que 1,0x102 UFC/g (66,67%). Quatro amostras (33,33%) apresentaram valores maiores, sendo que duas delas apresentaram o valor de 2,0x103 UFC/g, acima do 44 limite estabelecido pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998) para materiais vegetais destinados ao uso interno. Tais amostras reprovadas são: guaraná em pó, do fornecedor 3 e cáscara sagrada, do fornecedor 6. Segundo ARAÚJO e OHARA (2000), contagens elevadas de fungos constituem um risco, em virtude da possibilidade desses serem produtores de micotoxinas, como a aflatoxina, que é uma substância cancerígena. Kumar e Roy (1993) detectaram níveis consideráveis de aflatoxinas em várias amostras de plantas medicinais (KNEIFEL et al., 2002). Verificou-se que a amostra de guaraná em pó foi a única que figurou simultaneamente entre as que apresentaram as maiores contaminações de microrganismos aeróbios totais e de bolores e leveduras, revelando-se a amostra mais contaminada, levando-se em conta que esta foi submetida a processo de esterilização, segundo laudo do fornecedor (Anexo 2). Não foram identificadas nas amostras analisadas a presença de Enterobactérias, Escherichia coli, Salmonella sp, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus, que são patógenos específicos indesejáveis, os quais não devem estar presentes em medicamentos, de acordo com a Farmacopéia Brasileira (ARAÚJO; OHARA, 2000). A OMS estabelece para materiais vegetais destinados uso interno o limite de 10 UFC por grama para Escherichia coli, outras enterobactérias, no máximo 103 por grama, Salmonella, ausência, Pseudomonas aeruginosa, ausência, Staphylococcus aureus, ausência (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). De acordo com ARAÚJO e OHARA (2000), Staphylococcus aureus não é contaminante muito comum em material vegetal. O fato das características microbiológicas de 10 amostras analisadas (83,33%) estarem dentro dos limites microbianos estabelecidos pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998) deve-se principalmente ao processo de transformação e tratamento a que se submeteram. As drogas vegetais na forma de extrato seco passam por um processo de transformação, através de extração, utilizando-se solventes, o que resulta na diminuição da carga microbiana. Como as amostras de droga vegetal pulverizada (em pó) não foram submetidas a tratamentos com solventes, esperava-se um resultado que 45 demonstrasse uma qualidade microbiológica inferior às amostras de extrato seco. Porém, essas amostras sofreram processo de esterilização, segundo os laudos dos fornecedores (Anexo 2), resultando na diminuição ou na eliminação da carga microbiana, e, exceto a amostra de guaraná, as outras três amostras de droga vegetal em pó apresentaram resultados melhores que outras amostras de extrato seco. Estes resultados contrastam com os apresentados por outros autores, que relataram a qualidade microbiológica insatisfatória de drogas de origem vegetal. Em um estudo sobre a contaminação microbiana em 84 lotes de medicamentos fitoterápicos sob a forma sólida, FISCHER et al. (1993) relataram carga microbiana aeróbia total elevada, com a determinação do Número Mais Provável (NMP) igual ou superior a 105/g em 30 lotes, sendo que os lotes da forma farmacêutica de pó revelaram-se mais contaminados, a presença de Escherichia coli foi detectada em 13 lotes. ARAÚJO e OHARA (2000) constataram que as 45 amostras de drogas vegetais para o preparo de infusos e decoctos adquiridas em feiras de São Paulo apresentaram contaminação por microrganismos aeróbios mesófilos totais, com a freqüência maior de amostras com cargas entre 106 e 107 UFC/g, a contaminação por bolores e leveduras com maior freqüência de amostras nos níveis entre 104 a 106 UFC/g, presença de Enterobactérias em 42 amostras, sendo 18 amostras de Escherichia coli, presença de Staphylococcus aureus em 2 amostras. SANTOS et al (1995) observaram que dos 51 fitoterápicos provenientes de 18 diferentes fabricantes, 18 apresentaram valores acima dos limites estabelecidos pela OMS para bactérias em aerobiose, enquanto que 11 medicamentos ensaiados encontravam-se fora dos limites estabelecidos pela OMS para bolores e leveduras. ZARONI et al. (2004) relataram que das 72 amostras analisadas de plantas medicinais produzidas no Estado do Paraná, 57 delas (79%) não se enquadram nos limites microbiológicos estabelecidos pela OMS. Segundo os autores, a má qualidade microbiológica apresentada nas drogas vegetais estudadas era devido às condições inadequadas de armazenamento, expondo o produto ao ambiente, à poeira, umidade e calor, o não envolvimento do processo de transformação capaz de alterar significamente a 46 flora contaminante viável inicialmente presente, a falta da adoção das Boas Práticas de Fabricação, presença de fragmentos de insetos, terra, madeira no material vegetal e falta de treinamento dos agricultores que cultivam plantas medicinais por profissionais capacitados. Analisando os dados da tabela 3, verificou-se a ausência de resultados de análise microbiológica ou resultados incompletos. O fornecedor 3 não apresentou resultados de análise microbiológica nos laudos de seus produtos guaraná pó e carqueja amarga pó, sendo que este fornecedor teve uma das amostras reprovadas, o guaraná em pó, pela contaminação de fungos acima do limite estabelecido pela OMS. Apenas o fornecedor 2 realizou a pesquisa para todos os patógenos específicos, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998), mas somente no produto gingko biloba pó. Estes fatos tornam incerta a qualidade microbiológica desses produtos para a sua utilização, uma vez que as farmácias de manipulação também não realizam este tipo de análise, e que podem ser creditados à ausência, por parte dos fornecedores, de referências Oficiais e/ou científicas para o estabelecimento de parâmetros da qualidade e metodologia de análise dos produtos, situação esta que foi verificada nos laudos de análise de dez fornecedores (83,33%) (Anexo 3). Comparando os dados da análise microbiológica realizada no presente estudo (Tabela 2) com os dos laudos dos fornecedores (Tabela 3), verificou-se aumento na carga microbiana de aeróbios totais em três amostras (cimicífuga, castanha da índia e sene), todas na forma de extrato seco, e aumento na contagem de bolores e leveduras em três amostras (castanha da índia, cáscara sagrada e alcachofra), também na forma de extrato, mas que não os tornou impróprios para o consumo, exceto a amostra de cáscara sagrada. A amostra de castanha da índia extrato seco, do fornecedor 2, teve aumento tanto na contagem de aeróbios totais quanto em bolores e leveduras. A análise de microscopia das amostras vegetais, cujos resultados estão descritos na Tabela 4, foi realizada com o intuito de confirmar a informação descrita nos laudos dos fornecedores e nos rótulos das embalagens das amostras, com relação à forma farmacêutica das mesmas, se extrato seco ou o pó da droga 47 vegetal, em função da falta de padronização entre a prescrição médica e a manipulação de fitoterápicos, devido a inexistência de normas para a prescrição fitoterápica magistral (D’IPPOLITO et al., 2005). Existe a possibilidade de confusão quando a droga vegetal se apresenta na forma de pó, podendo ser tanto o vegetal pulverizado, quanto o extrato seco, daí a necessidade de se confirmar a forma de apresentação, que levou a necessidade de confirmação quanto as formas farmacêuticas das amostras. Esta dúvida persiste também no momento da manipulação, se o que foi prescrito é a droga pulverizada ou o extrato seco, o que mostra que existe a necessidade de normas para a prescrição de fitoterápicos manipulados em farmácia. Os resultados da análise microscópica (Tabela 4) mostram que os fitoterápicos analisados estavam corretamente identificados quanto a forma de apresentação, se extrato seco ou droga pulverizada, permanecendo ainda a dúvida se nas receitas estão identificados corretamente qual e a forma de apresentação do fitoterápicos a ser utilizado na manipulação, para que se processe a exata preparação do medicamento fitoterápico, evitandose manipular produtos com características diferentes da desejada (D’IPPOLITO et al., 2005). O presente trabalho demonstrou que duas amostras resultaram reprovadas por apresentar contaminação de bolores e leveduras acima dos limites estabelecidos pela OMS e que cinco amostras apresentaram aumenta na carga microbiana em relação ao descrito no laudo de análise do fornecedor. A contaminação nesses produtos se deu em uma ou mais de uma das seguintes etapas: produção, envase, embalagem, armazenamento, transporte e manuseio para amostragem; possivelmente pelo manuseio das amostras de forma inadequada (ausência de EPI’s limpos, asseio corporal e condições de saúde dos manipuladores,) ou situações ambientais que expõem o produto a riscos de contaminação (temperatura, umidade, ventilação, estrutura física, presença de insetos e roedores), o que demonstra a necessidade de adoção de medidas de reforço que envolvem todas as etapas da droga vegetal, de forma a garantir um produto acabado seguro para o consumidor final. 48 7 CONCLUSÃO A qualidade microbiológica de 83,33% das amostras analisadas de drogas vegetais, nas formas de extrato seco e da droga pulverizada em pó, utilizadas no preparo de fitoterápicos manipulados e comercializados em farmácias de manipulação de Curitiba atende aos limites microbianos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde para materiais vegetais destinados ao uso interno. Isso deve-se, principalmente, ao fato de que esses produtos passaram por processos de transformação e tratamento que resultou na diminuição da carga microbiana. As informações contidas nos laudos de análises dos fornecedores não são claras quanto à qualidade desses produtos, face resultados microbiológicos incompletos ou ausência total dos mesmos e ausência de referências oficiais e ou científicas para o estabelecimento dos parâmetros de qualidade dos produtos. A reprovação de duas amostras, por apresentar resultados de contaminação de bolores e leveduras acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde para materiais vegetais destinados ao uso interno, e o aumento na carga microbiana de aeróbios totais e de bolores e leveduras observado em três amostras, em relação ao laudo do fornecedor, serve como um indicador de que a execução de procedimentos que evitam ou minimizam a contaminação das drogas vegetais nas etapas de fabricação, embalagem, transporte, armazenamento e amostragem devam ser constantes, a fim de não comprometer a qualidade microbiológica do produto antes mesmo do seu uso pelo consumidor final. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, F.M.M.; RIBEIRO, M.N. de S.; COUTINHO, D.F. Comercialização de plantas para o uso medicinal em mercados de São Luis – Maranhão. Infarma, v.14, n.º 7/8, 2002. ANSEL, H.; POPOVICH, N. G.; ALLEN, L. V. Jr. Formas farmacêuticas & sistemas de liberação de fármacos. 6. ed. São Paulo: Editorial Premier, 2000. 568p. ARAÚJO, A.L.A.; OHARA, M.T. Qualidade microbiológica de drogas vegetais comercializadas em feiras de São Paulo e de infusos derivados. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v.36, n.1, jan./jun., p.129-136, 2000. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 33, de 19 de abril de 2000. Dispõe sobre as Broas Práticas de Manipulação. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 08.jan.2001. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o Registro de Medicamentos Fitoterápicos. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18.mar.2004. CARVALHO, R. I. N de.; CARDON, L. M. JAREMTCHUK. C. C.; KANAWATE. E. N.; SILVA. J. E. C. da. Carqueja e espinheira santa na região metropolitana de Curitiba: da produção ao comércio. 1. ed. Curitiba: Life Serviços Gráficos Ltda, 2003. p13. CALIXTO, J. B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines for herbal medicines (phytotherapeutic agents). Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v.33, n.2, p.179-189, 2000. 50 CASTRO, H.G. de: FERREIRA, A. F. Contribuição ao estudo das plantas medicinais: carqueja (Baccharis genistelloides). Viçosa: Francisco Affonso Ferreira, 2000. 102p. CUNHA, P. da; SILVA, A. P. da; ROQUE, O. R. Plantas e produtos vegetais em fitoterapia. In: D’IPPOLITO, J. A. C., ROCHA, L. M., SILVA, R. F. da. Fitoterapia Magistral: um guia prático para a manipulação de fitoterápicos. São Paulo: Publicações Anfarmag, 2005. DAL PIVA, G. G. S.; PORTO, M. L. Avaliação de metais pesados (Cd, Cu, Pb, Zn) na composição química e atividade farmacológica em diferentes ecotópicos de Baccharis trimera (Less) A. P. de Candolle e Achyrocline satureioides (Lam) D. C. Compositae: parte II. In: SIMPÓSIO DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL, 15., 1998, Águas de Lindóia. Resumos. São Paulo: Eventus, 1998. p. 171. DÄRR, A (Org.). Tecnologia farmacêutica: texto para el ingeniero farmacêutico. Traduzido por Vicente Montejo de Garcini Guedas. 4 ed. Zaragoza(España): Editorial Acribia, 1981. 366p. Título original: Pharmazeutische technologie: lehrbuch für pharmazie-ingenieure. D’IPPOLITO, J. A. C., ROCHA, L. M., SILVA, R. F. da., Fitoterapia Magistral: um guia prático para a manipulação de fitoterápicos. São Paulo: Publicações Anfarmag, 2005. p.22. DI STASI, L. C. (Org.). Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996. p.10. FARIAS, M. R.. Avaliação da qualidade de matérias-primas vegetais. In: Simões, C. M. O. et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3 ed. Porto Alegre/Florianópolis: Ed. Universidade UFRGS/ed. da UFSC, 2001. p. 199-222 51 FARMACOPÉIA Brasileira. 4 ed., parte 1. São Paulo: Ed. Atheneu, 1996. FARMACOPEIA Brasileira. 4 ed., Parte 2, n.3, São Paulo: Ed. Atheneu, 2002. FERREIRA, S. H. (Org.). Medicamentos a partir de plantas medicinais no Brasil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1998. p. 12. Disponível em: http://www.abc.org.br/arquivos/medicamentos.pdf. Acesso em: 19.jul.2004. FETROW, C. W.; AVILA, J. R. Manual de medicinal alternativa para o profissional. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2000. FISCHER, D. C. H.; OHARA, M. T.; SAITO, T. Padrão microbiano em medicamentos não estéreis de uso oral. Revista Brasileira de Farmacognosia. São Paulo, v. 1, p. 29-54, janeiro/junho 1993. GARCIA, E. S. Bases de Dados Tropical: Biodiversidade: perspectivas e oportunidades tecnológicas – fitoterápicos. Disponível em: www.bdt.fat.org.br/publicacoes/padct/bio/cap10/eloi.html. Acesso em: 14 de abril de 2005. GRIEVE, M. A modern herbal: the medicinal, culinary, cosmetic and economic properties, cultivacion and folklore of herbs, grasses, fungi, shrubs and trees with all their modern scientific uses. London: Tiger Books International, 1998. 912p GUERRA, M. P., NODARI, R. O. Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos, legais e éticos. In: Simões,C. M. O.; Schenkel, E. P., Gosmann, G., Mello, J. C. P., Mentz, L. A., Petrovick, P. R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3 ed. Porto Alegre/Florianópolis. Editora da universidade UFRGS/UFSC, 2001. Capítulo 1. pp. 13-26. 52 KNEIFEL, W., CZECH, E., KOPP, B. Microbial contamination of medicinal plants: A Review. Planta Med, 2002; 68: 5-15. MERCK. Microbiology Manual, 1989. MERCK. Microbiology Manual, 1999. NEWAL, C. A.; ANDERSON, L. A.; PHILLIPSON, J. D. Plantas medicinais: guia para profissional de saúde. In: D’IPPOLITO, J. A. C., ROCHA, L. M., SILVA, R. F. da. Fitoterapia Magistral: um guia prático para a manipulação de fitoterápicos. São Paulo: Publicações Anfarmag, 2005. PINTO, T. de J. A; K.; KANEKO, T. M.; OHARA, M. T. Controle microbiológico de qualidade de produtos farmacêuticos, correlatos e cosméticos. São Paulo: Atheneu Editora, 2000. PRISTA, N. L.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Tecnologia farmacêutica. 5 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. ROBBERS, J. E.; SPEEDIE, M. K.; TYLER, V. E. Farmacognosia e farmacobiotecnologia. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Editorial Premier, 1997. Título original: Pharmacognosy and pharmacobiotechnology. SANTOS, P. R. V. dos; OLIVEIRA, A.C.X de; TOMASSINI, T.C.B. Controle microbiológico de produtos fitoterápicos. Revista de Farmácia e Bioquímica da Universidade de São Paulo, v.31, n.1, p.35-38, 1995. SIMÕES, C. M. O. et al.: SCHENKEL, E. P., Gosmann, G., MELLO, J. C. P., MENTZ, L. A., PETROVICK, P. R. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 53 3 ed. Porto Alegre/Florianópolis: Ed. Universidade UFRGS/ed. da UFSC, 2001. p. 199-222 TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Herbarium compêndio de fitoterapia. 3.ed. Curitiba: Herbarium Laboratório Botânico, 1997. 317p. WHO HEALTH ORGANIZATION. Who monographs on selected medicinal plants. In: D’IPPOLITO, J. A. C., ROCHA, L. M., SILVA, R. F. da., Fitoterapia Magistral: um guia prático para a manipulação de fitoterápicos. São Paulo: Publicações Anfarmag, 2005. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Quality control methods for medicinal plant materials. Genebra: WHO, 1998. ZARONI, M.; PONTAROLO, R.; ABRAHÃO, W.S.M.; FÁVERO, M.L.D; CORREA JÚNIOR, C; STREMEL, D.P. Qualidade microbiológica das plantas medicinais produzidas no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Farmacognosia , v.14, n.1, p.29-39, 2004. 54 ANEXOS 55 ANEXO 1 - FIGURAS As figuras 1 a 4 ilustram as características macroscópicas de algumas amostras de drogas vegetais analisadas e as embalagens em que estavam acondicionadas. FIGURA 1 – CIMICÍFUGA EXTRATO SECO FIGURA 3 – CASTANHA DA ÍNDIA EXTRATO SECO FIGURA 2 – CENTELLA ASIÁTICA PÓ FIGURA 4 – GUARANÁ PÓ 56 As figuras 5 e 6 ilustram microscopias de duas amostras de drogas vegetais analisadas, mostrando as diferenças de características microscópicas entre as formas farmacêuticas em pó e extrato seco. As microfotografias foram obtidas com microscópio marca OLYMPUS modelo CH30, objetiva 10 x abertura 0,25, ocular de 10 x, com câmara digital SONY DSC P92 acoplada, usando-se resolução de 5 megapixels. FIGURA 5 – MICROSCOPIA DE CARQUEJA PÓ FIGURA 6 – SENE EXTRATO SECO 57 As figuras 7 e 8 ilustram as características de crescimento de colônia de bactérias aeróbias totais em meio Ágar Caseína Soja e de crescimento de colônia de bolor meio Agar Sabouraud, respectivamente. FIGURA 7 – CRESCIMENTO DE COLÔNIA DE BACTÉRIAS AERÓBIAS EM CASEÍNA DE SOJA. FIGURA 8 – CRESCIMENTO DE COLÔNIA DE BOLOR EM MEIO ÁGAR SABOURAUD MEIO ÁGAR 58 ANEXO 2 – OFÍCIO N.º 127 ANF/DIR/PR 59 ANEXO 3 – CÓPIAS DOS CERTIFICADOS DE ANÁLISE DOS FORNECEDORES