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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
RELATO DE EXPERIÊNCIA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS NO ENSINO DE
EVOLUÇÃO NO ENSINO MÉDIO.
Carolina Maria Boccuzzi Santana (Universidade Federal do ABC - UFABC
Bolsista PIBID/CAPES)
Fernanda Franzolin( Centro de Ciências Naturais e Humanas- UFABC
Coordenadora de área PIBID-Biologia/CAPES)
RESUMO
Evolução é considerada o tema integrador da Biologia, sendo importante para lhe dar sentido
e coerência. Porém, não é trabalhado desta forma, sendo deixado apenas para o último ano.
Neste artigo busca-se relatar e analisar a aplicação duas sequências didáticas com a temática
evolutiva, aplicadas em uma turma de segundo ano e uma de terceiro ano do Ensino Médio,
atreladas às temáticas: transgênicos e evolução dos primatas, respectivamente. No geral,
observou-se certas dificuldades por parte dos alunos para argumentar utilizando conceitos
evolutivos, especialmente na turma do terceiro ano. Acredita-se que uma abordagem que
inclua evolução em todos os anos da Educação Básica possa diminuir o estranhamento que o
tema causa nos alunos, propiciando uma aprendizagem mais coerente da Biologia.
PALAVRAS-CHAVE: Evolução; Ensino Médio; PIBID.
INTRODUÇÃO
Evolução e origem da vida são temas abordados nos documentos oficiais do sistema
educacional brasileiro como sendo de grande importância para o ensino de Biologia,
integrando os conhecimentos em um tema central e proporcionando ao aluno tempo para
discutir sobre a temática ao longo de todos os conteúdos abordados dentro da disciplina
(BRASIL, 2000; 2002). Ademais, sua importância é, inclusive, reconhecida pelas diretrizes
curriculares para formação (BRASIL, 2011). Apesar disso, no Estado de São Paulo, o tema
está previsto para ser abordado apenas ao fim do terceiro ano (SÃO PAULO, 2008). Junta-se
a essa problemática o fato de que existem diversas dificuldades em se abordar evolução em
sala de aula, especialmente porque é um dos temas em Ciências e Biologia no qual as
concepções religiosas podem entrar em conflito com conceitos científicos (SOUZA;
DORVILLÉ, 2014).
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As discussões entre teorias de design inteligente, criacionismo e evolução tendem a
ser pouco produtivas, especialmente pelo fato de que para um debate ser produtivo um lado
deve ter conhecimento básico do outro, o que não ocorre normalmente em debates entre
criacionistas e cientistas (MEYER; EL-HANI, 2013). No entanto, ao longo do ensino de
Biologia, o aluno deve ser formado para ser crítico, e poder discutir sobre questões
relacionadas a evolução de maneira autônoma (LOPES et al., 2015). Uma das maneiras de se
evitar um debate desgastante é, em vez de entrar em um combate contra ideias criacionistas,
questionar ideias fixistas. Desta forma, o professor adota uma postura epistemológica
pluralista institucional, segundo El-Hani e Mortimer1 (2007,apud Lopes et al., 2015 p. 35),
não entrando em debates religiosos, e auxiliando os alunos, através de evidências, a
compreender a modificação das espécies ao longo do tempo, invalidando o conceito de
fixismo (LOPES et al., 2015).
Ainda assim, diversos fatores levam a deficiência da aprendizagem de conceitos
evolutivos. Amorin2 (2002,apud LOPES et al., 2015 p.36) afirma que classificação dos seres
vivos ainda está presente nos livros didáticos de maneira essencialista, na qual as espécies
teriam uma essência desde sua criação, em um único local, que seria imutável e passada a
seus descendentes. Os conceitos prévios errôneos são levados para a sala de aula, com
interpretações distorcidas sobre evolução que são passadas para os alunos através de
discursos midiáticos e de público não especializado. Um exemplo de interpretação errônea
que se pode ver no cotidiano escolar é a ilustração que representa a evolução dos hominídeos,
com o Homo sapiens na frente, passando a ideia de que evolução é um processo linear e que
remete sempre a melhorias(SANTOS; KLASSA, 2012).
Outra dificuldade que assola o ensino de evolução, é a dos os conceitos alterativos,
que são, muitas vezes, incompatíveis com as teorias científicas. Muitos alunos chegam com
suas próprias explicações para fenômenos naturais, que são, muitas vezes, incorretas
(TIDON; LEWONTIN, 2004). Um exemplo de conceito alternativo, apresentada por muitos
estudantes, é o entendimento de que evolução é um processo causado pela necessidade.
Consideram que caracteres são adquiridos e passados adiante e ignoram aspectos como
1
EL-HANI, C. N.; MORTIMER, E. F. Multicultural education, pragmatism, andthegoalsofscienceteaching.
Cultural Studiesof Science Education, 2, p.657-702. 2007.
2
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e evolução: Uma nova concepção para o ensino de zooogia e botania no 2º grau: In: A construção do
conhecimento do professor. Uma experiência de integração de professores do ensino fundamental e médio da
rede Pública à universidade. Ed.: M. Barbieri. Holos Editora, Ribeirão Preto. 2002. p. 41-50
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mutações ao acaso e seleção natural (DEMASTES3et al., 1995 apud TIDON; LEWONTIN,
2004 p.126). Estas concepções, muitas vezes, levam ao entendimento de que evolução é um
processo de aperfeiçoamento, de melhoria (BIZZO4, 1994, apud TIDON; LEWONTIN, 2004
p.126).
Ao planejar o currículo de forma a inserir evolução como um dos últimos assuntos a
ser abordado, senão o último, os responsáveis por este planejamento utilizam outros
conhecimentos biológicos, como genética, biologia molecular e diversidade, para possibilitar
a compreensão da temática de evolução, como se os mesmos fossem necessários para tal.
Parte-se do argumento de que, somente após todos esses conhecimentos considerados prérequisitos sejam ensinados, é que os alunos podem aprender evolução (BIZZO; EL-HANI,
2009). Porém, tal concepção não leva em conta que todos os temas dentro da Biologia podem
necessitar da compreensão da evolução, e vice-versa. Ao abordar evolução ao final do ciclo
básico, a temática perde seu papel como integradora dos conhecimentos biológicos, deixando
de dar sentido aos conteúdos pertencentes à disciplina de Biologia, como a diversidade
biológica, que é apresentada como um apanhado de grupos a serem decorados (Rocha et. al.,
2007). Ao mudar a localização da temática para outro momento no currículo, as abordagens
da disciplina podem ser mais amplas, tratando de questões como macroevolução e tornando
os conceitos mais coerentes para os alunos (BIZZO; EL-HANI, 2009).
Procurando superar tais problemáticas, este trabalho preocupou-se com o ensino de
evolução no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da
CAPES. Este programa busca auxiliar a melhoria do ensino público, enriquecendo a
formação inicial através de experiências didático-pedagógicas na escola. O subprojeto de
Biologia da Universidade Federal do ABC (2014-2017) busca o trabalho com educação
científica, visando trazer melhor compreensão de conceitos de cunho científico, e de suas
relações com a tecnologia, sociedade e meio ambiente. Visa trabalhar com alfabetização
científica e ensino por investigação. Almeja-se, desta forma, permitir ao aluno a compreensão
de conhecimentos científicos fundamentais, da natureza da ciência e das relações existentes
entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente (SASSERON; CARVALHO, 2008),
permitindoaproximação com sua realidade e seu cotidiano (ANDRADE; CAMPOS, 2009).
Desta forma, foram construídas sequências didáticas para o Ensino Médio, que visavam
abordar a temática da evolução de duas formas: 1) no segundo ano, atrelada a uma temática
3
Demastes S.S., Settlage J. andGood R.: Studentsconceptionsof natural-selectionand its role in evolution - cases
ofreplicationandcomparison. In: JournalofResearch in Science Teachingpp:535-550.1995
4
BizzoN.M.V. :FromdownhouselandlordtoBrazilianhighschool-students whathashappenedtoevolutionaryknowledgeontheway? JournalofResearch in Science Teachingpp:537-556. 1994
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do cotidiano e prevista no currículo, que é a dos transgênicos; e 2) no terceiro ano, como
planejada no currículo, abordando a evolução dos hominídeos. Foram utilizadas diferentes
metodologias de ensino nas sequências didáticas, visto que ao utilizar diversas estratégias
didáticas, busca-se atingir o maior número de alunos possível, aumentando as ressonâncias
individuais durante o processo de ensino (LABURÚ et al., 2003).
Este trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades e dificuldades em se
abordar Evolução inserida na temática transgênicos, no Ensino Médio, em comparação com o
seu tratamento no tópico Evolução Humana, no terceiro ano, proposto no currículo estadual.
Metodologia
Duas sequências didáticas foram elaboradas e aplicadas em duas turmas do Ensino
Médio, sendo uma no segundo e outra no terceiro ano do período da manhã, na Escola
Estadual Visconde de Taunay, localizada em Santo André, em São Paulo. Os alunos do
segundo ano não tinham nenhum contato com a temática de evolução, e os do terceiro ano
tiveram, antes da sequência, o conteúdo teorias evolutivas.
Na sequência didática do segundo ano houveram três aulas, de 50 minutos cada, uma
vez por semana, alternando com as aulas da docente responsável pela turma. Na primeira
aula, a bolsista abordou a temática transgênicos e coevolução, incluindo os conceitos de
seleção natural, engenharia genética e transgênicos. A aula foi iniciada com a pergunta: “O
que são transgênicos?” e, a partir da mesma, a bolsista apresentou alimentos contendo
transgênicos, com o símbolo de aviso na embalagem. Explicou como alimentos transgênicos
são produzidos e relacionou sua produção com os efeitos no ambiente e possíveis danos a
saúde humana, questionando os alunos se existem efeitos ou não. Foram também abordados
os mecanismos para que o processo evolutivo ocorra, como seleção natural, mutações, e o
quão diferentemente as espécies podem afetar o processo evolutivo umas das outras através
da co-evolução. Para facilitar a compreensão deste processo, utilizou-se exemplos diversos,
como na relação entre o tamanho do estame de uma flor e a diversidade no tamanho do
aparelho bucal de uma espécie de borboleta, pensando em quais vantagens e desvantagens
traria para cada indivíduo em tal ambiente. Por fim, os alunos foram divididos em grupos de
quatro alunos e cada grupo recebeu um texto, que foi lido para a semana seguinte para debate.
Foram formados 11 grupos, sendo que cada tema foi designado para a leitura de dois grupos,
com exceção de um tema, que foi distribuído para três grupos.
Os textos foram adaptados de artigos e reportagens e tratavam aspectos positivos e
negativos da utilização de transgênicos, como os efeitos no meio ambiente, relacionando a
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inserção de espécies resistentes a pragas e o impacto que isso pode trazer. Os assuntos e
textos utilizados foram: Transgênicos e o meio ambiente (adaptado de: Ministério do Meio
Ambiente: Riscos). Transgênicos e coevolução (adaptado de: Borém, A.: Transgênicos e
evolução e Embrapa: Manejo Integrado de pragas em lavouras plantadas com milho
geneticamente modificado com gene bt (Milho Bt)); Transgênicos e saúde (Associação
nacional de biossegurança: Os transgênicos e a saúde e Nodari, O.R., Guerra, P.M.: Plantas
transgênicas e seus produtos: impactos, riscos e segurança alimentar (Biossegurança de
plantas transgênicas)); Transgênicos e sociedade (adaptado de: Souza, C.G.: Alimentos
transgênicos: Uma abordagem social e Carta Capital: Câmara aprova retirada de aviso de
produtos transgênicos); e Transgênicos e agricultura (adaptado de: ABRASEM (Associação
brasileira de sementes e mudas): Estudo analisa benefícios dos transgênicos na agricultura).
Na segunda aula, os alunos trouxeram os textos lidos e anotações sobre os mesmos
para a execução do debate. Para melhor andamento da atividade, os estudantes foram
dispostos em uma sala diferente, mais espaçosa e com as carteiras dispostas em círculo.
Sentados em seus lugares, eles apresentaram a visão do texto sobre os temas e, através de
perguntas feitas pela bolsista, foram apresentando argumentos para falar sobre os benefícios e
malefícios para a área específica tratada no texto (saúde, ambiente, agricultura, coevoluçãoe
sociedade). O debate ocorreu de forma os dois grupos que leram o mesmo texto pudessem
falar sobre o mesmo tema, de maneira a partilhar a pluralidade de visões e opiniões que
tiveram sobre o mesmo. Na terceira e última aula, os alunos terminaram de compartilhar suas
impressões dos textos e a bolsista encerrou o debate com uma discussão sobre a importância
de conhecer diferentes pontos de vista sobre um determinado assunto, especialmente sobre
assuntos relacionados a ciência e tecnologia, para terem informações acerca do tema.
Já para o terceiro ano, foram necessárias duas aulas de duração de 50 minutos. Na
primeira aula, a bolsista abordou a evolução de Metazoa, dando prosseguimento ao conteúdo
do bimestre anterior (diversidade animal). Tratou os conceitos de seleção natural, como ela
atua no ambiente, o uso de cladogramas, e a diferença da ideia de evolução como um
processo linear, comum no dia-a-dia dos alunos, e da concepção mais aceita de ramificação.
Para abordá-los utilizou-se de aula expositivo-dialogada, com o uso de slides. Procurou-se
possibilitar o entendimento do processo de evolução não como um aperfeiçoamento das
espécies, mas como um processo de descendência com modificação que ocorre ao longo do
tempo, através de processos como seleção natural e mutações. Diversos exemplos foram
utilizados para a compreensão dos processos envolvidos na evolução, como a relação entre
predação e camuflagem em alguns insetos. Por fim, apresentou-se um cladograma contendo
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os principais grupos estudados dentro de Metazoa, visto que estudaram no bimestre anterior o
conteúdo diversidade animal. Foram abordadas as principais sinapomorfias de cada grupo,
mostrando para os alunos o que fez com que aquele grupo se diferenciasse daquela forma.
Por fim, apresentou-se um cladograma de primatas, introduzindo o tema da aula seguinte.
Na segunda aula, foram abordadas duas atividades. Na primeira, os alunos receberam
imagens de fósseis ou esqueletos de primatas (incluindo os hominídeos) e tinham que
associá-los com os nomes populares e científicos de cada espécie. As espécies utilizadas
foram: Homo neanderthalensis, Gorillagorilla, Homo erectus, Homo sapiens, Pongo abelii,
Australopithecus sp. Essas imagens foram encontradas na internet, recortadas, e separadas de
seus nomes para a atividade, de maneira a possibilitar o exercício da associação.
A segunda atividade consistiu em posicionar diferentes espécies de primatas em uma
árvore filogenética. Cada grupo de alunos recebeu de três a quatro cartões, sendo um de cada
espécie, contendo as seguintes informações: espécie, imagem do encéfalo, e imagem do
apêndice locomotor anterior. A partir disso, os alunos deveriam analisar a quantidade de
dobras encefálicas, tamanho do encéfalo e a posição dos dedos do apêndice locomotor
anterior, especialmente do polegar, comparando com o grupo dos seres humanos modernos
(Homo sapiens). Após a comparação, os alunos elaboraram hipóteses de parentesco entre os
grupos trabalhados e os posicionaram em cladogramas, sendo de três a quatro ramos por
grupo. Os táxons abordados estão representados na figura 1. As imagens relacionadas aos
apêndices locomotores anteriores foram retiradas da enciclopédia Evolução: A história da
vida, e as imagens relacionadas ao encéfalo foram obtidas no site Neurosciencelibrary
(http://neurosciencelibrary.org/).
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Figura 01: Árvore filogenética representando alguns grupos de primatas, como utilizados na atividade.
Ao final da atividade, a bolsista fez uma correção em conjunto com os alunos,
apresentando o cladograma mais aceito pela comunidade científica, discutindo as principais
sinapomorfias relativas a cada grupo. Para a avaliação foram considerados os aspectos de
participação nas atividades e a argumentação utilizada nas mesmas, buscando avaliar se os
alunos compreenderam os conceitos trabalhados pela bolsista, bem como sua aplicação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No segundo ano, a turma foi dividida em 11 grupos, sendo que dois grupos ficaram
com o mesmo tema com exceção do tema 3 (transgênicos e agrotóxicos) que pertenceu a três
grupos. O primeiro a ser abordado foi o de transgênicos e saúde. O primeiro grupo abordou o
uso de herbicidas em detrimento ao uso de transgênicos e malefícios que isso poderia causar
mas também abordou o fato de algumas vezes o gene inserido pode causar alergias a pessoa
que estiver consumindo produtos transgênicos, como no caso de genes de amendoim
inseridos em outras plantas, que podem acarretar em pessoas tendo reações alérgicas ao
amendoim ao consumir tal planta. Por este motivo o grupo ressaltou a importância da
rotulação, para que a população possa conhecer o que está consumindo. O grupo seguinte
seguiu a mesma linha de raciocínio, citando outros exemplos apresentados no texto.
O segundo e terceiro grupos abordaram o texto 2, sobre transgênicos e meio ambiente.
Foram utilizados os argumentos de que através da contaminação de produtos não
transgênicos por produtos transgênicos, a biodiversidade é afetada no entorno do local no
qual o alimento transgênico é plantado. Dessa forma ocorre a perda da biodiversidade,
afetando o meio ambiente. Também foi abordado que poucas empresas pensam nestes fatores
devido a busca pelo lucro, na qual é mais rentável não se pensar socialmente ou
ecologicamente em relação a esta tem prática, analisando-a, usualmente, a partir de uma
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perspectiva exclusivamente econômica. A terceira apresentação abordou o primeiro texto
sobre transgênicos e coevolução, que aborda a inserção de gene inseticida de larvas em uma
variedade de milho, mudando a relação entre insetos e plantas, acarretando em resistência a
variabilidade. O segundo grupo deste tema não havia lido os textos, e o tempo restante foi
utilizado para maior explanação pela bolsista.
O penúltimo tema a ser abordado foi o texto 3, sobre transgênicos e agricultura. O
primeiro grupo abordou o tema alegando que a utilização de organismos geneticamente
modificados aumenta a produtividade, além depromover a economia de água e a diminuição
de poluentes emitidos e de produtos químicos aplicados nas plantas. O outro grupo
complementou alegando que os custos na produção são diminuídos através do uso da
biotecnologia. O terceiro grupo ressaltou que asempresas que trabalham com transgênicos
aumentam em média três vezes a produção e contribuem para a diminuição da emissão de gás
carbônico. Porém, admitiram que pesquisas precisam ser feitas para que se possa entender
melhor os impactos que causam no meio ambiente e na saúde humana.
O último tema abordado foi sobre transgênicos e sociedade. Os grupos abordaramque
são necessárias mais pesquisas e maior divulgação das mesmas para população para que
haja um debate de opinião que envolva toda a sociedade. Em resposta ao temaanterior cujos
grupos abordaram aspectos positivos dos transgênicos através da redução da emissão de
poluentes e do uso de agrotóxicos em plantas, os alunos discutiram a produção de alimentos
orgânicos no lugar de alimentos transgênicos ou alimentos contendo agrotóxicos.
Argumentaram que o uso de transgênicos causa a perda da biodiversidade de cerca de 1% e
que plantas transgênicas tem maior resistência a pragas e produtos que não possuem essa
resistência são desvalorizados. Os grupos utilizaram também o argumento de que a produção
de transgênicos não beneficia pequenos e médios produtores apenas grandes produtores.
No geral, os grupos abordaram aspectos referentes ao impacto nos transgênicos ao
meio ambiente, incluindo a si mesmos no discurso. Apresentaram diversos aspectos coerentes
com os tratados na aula teórica, mostrando compreensão os efeitos nas relações entre as
espécies tanto no presente, quanto nas futuras gerações. A temática de evolução inserida
neste tema ocorreu de forma sutil e com sucesso, pois os alunos conseguiram compreender as
conexões entre os temas evolução e transgênicos, de modo a dar mais embasamento e
coerência a seus argumentos. Não houve casos de alunos que tiveram dificuldades de
compreensão, diferentemente do que costuma ocorrer ao abordar evolução como último
conteúdo do último ano do Ensino Médio (BIZZO; EL-HANI, 2009)
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Já no terceiro ano, alguns alunos tiveram problemas com a temática abordada. Ao
tratar a questão dos fósseis, em um ponto da explicação sobre árvores filogenéticas de
Metazoa, na qual a bolsista abordou o parentesco entre aves e um grupo de dinossauros,
alguns alunos da sala questionaram-na, alegando não acreditar em dinossauros. A bolsista
questionou-os sobre a existência de fósseis que comprovariam cientificamente a existência
passada desses organismos e uma das alunas alegou que os fósseis seriam evidências forjadas
por cientistas, apenas para provar a evolução. Visto que o objetivo, durante a aula, era fazêlos compreender o mecanismo de seleção natural e como hipóteses filogenéticas são
construídas, a bolsista contornou a situação, conversando com os alunos sobre o fato de que o
conhecimento científico é o que é aceito pela comunidade científica e abordado no ambiente
escolar, e que independente de crenças pessoais, é importante compreender os conhecimentos
científicos e como a ciência os constrói, para que os alunos possam, de forma crítica, tomar
suas decisões. Após este momento, a aula seguiu normalmente. Tal estranhamento na
abordagem da aula, que ressaltou o parentesco entre os seres vivos, é reflexo do fato de que
os alunos estão acostumados com a abordagem que limita os seres vivos a grupos e
características a serem decoradas, sem que haja relação entre as mesmas, como aponta Rocha
et.al (2006)
Os alunos, no geral, participaram ativamente de todas as atividades, apresentando
argumentos muitas vezes claros em relação ao que foi abordado na proposta e fazendo e
respondendo pergunta. A última aula para o feedback das atividades de construção de
hipóteses filogenéticas não ocorreu, devido a uma ocupação que aconteceu na escola.
Os alunos, em sua maioria, conseguiram comparar coerentemente os grupos, de forma
a relacionar suas características com possíveis relações de parentesco. Porém alguns grupos
se limitaram na comparação com as características humanas, revelando uma noção de que
evolução seria melhoria, e que o ser humano estaria no topo destas melhorias. Desta forma,
os grupos compararam os táxons de maneira a, quanto mais parecidas com as características
dos humanos fossem as mudanças, mais próximo do ser humano o táxon seria. Alguns grupos
relacionaram outras características das espécies analisadas, além das sugeridas pela bolsista,
como características comportamentais (a agressividade de uma espécie em relação a outra),
aparência geral, entre outras. Ainda assim, é possível perceber o mal entendimento de alguns
conceitos relacionados a evolução, como a interpretação de árvores filogenéticas, na qual os
alunos, ao analisar três ou quatro espécies, colocam a relação de parentesco como uma
espécie originando outra, por exemplo afirmando: “[...] chegamos à conclusão de que o
orangotango origina as outras espécies, seguido do gorila, depois o chimpanzé e logo depoiso
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humano”. Os alunos que receberam grupos que não envolvem a presença da espécie homo
sapiens construíram a argumentação com base na comparação entre as características de
dobras cerebrais e mãos, não relacionando as espécies com a espécie humana. No geral, estes
alunos agruparam as espécies através de relações de semelhança. Espécies mais parecidas, em
diversos aspectos, ficariam juntas, e espécies mais diferentes destas ficariam separadas.
Notou-se que muitos alunos concebem evolução como melhoria, sem pensar em
regressões de características, advindas das concepções alternativas trazidas pelos
alunos(BIZZO5, 1994, apud TIDON; LEWONTIN, 2004 p.126) Costumavam agrupar as
espécies partindo da mais simples para a mais complexa, o que nem sempre corresponde ao
que é aceito atualmente na comunidade científica. Grupos com menor dobras cerebrais, e
menor quantidade de dedos nos apêndices locomotores anteriores ou com o polegar
posicionado mais distante dos outros dedos foram colocadas no início dos cladogramas,
enquanto espécies com maior número de dobras cerebrais, o polegar mais próximo dos outros
dedos e posicionado lateralmente a eles foram colocadas por último no cladograma. Houve
grupos que analisaram as características de maneira comparativa, pensando no
desenvolvimento das mesmas, porém, sem considerar o ambiente ao qual as espécies
pertencem.
Na segunda atividade alguns alunos utilizaram a internet de seus celulares para
pesquisarem sobre as espécies abordadas na atividade. Estes alunos compararam imagens de
reconstruções computadorizadas das espécies com as imagens dos fósseis entregues a eles
para a atividade, notando características na face que lembrassem características das imagens
dos fósseis, comoarcada dentária, maxilar, crânio largo, achatado, curto, longo, etc. Outros
grupos classificaram os crânios por tamanho, justificando que a espécie com maior crânio
teria maior encéfalo e, portanto, seria “mais desenvolvida” que as demais. Novamente, pode
se
observar
a
concepção
de
evolução
atrelada
a
melhoria.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No geral, a sequência didática do segundo ano trouxe um menor estranhamento por
parte dos alunos, por estar inserido em outra temática, diferentemente do terceiro ano, que
por se tratar de evolução de primatas e incluir a espécie humana na discussão, e por ser o
último tema abordado, possuiu algumas dificuldades, tanto relacionadas ao tema em si ou a
questões religiosas, como apontado em trabalhos anteriores (LOPES et al., 2015, SOUZA;
5
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DORVILLÉ, 2014). Possivelmente, ao abordar a temática evolutiva inserida em outros temas
ao longo de todo o ciclo básico, os alunos tenham menos estranhamento com o tema, pois ver
o mesmo exemplificado apenas no caso dos seres humanos faz com que a discussão sobre o
tema vá diretamente para a divergência com a religião, dificultando, desta forma, o papel do
professor. É importante que os alunos compreendem o papel integrador da evolução, ao longo
da Educação Básica, para que os temas tratados na disciplina Biologia sigam uma relação
lógica, coerente e não fragmentada como se tem no currículo atual (SÃO PAULO, 2008).
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