SOCIEDADE DE ANTROPOLOGIA ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA ORGÃO DE DIVULGAÇÃO DA S.A.M.G. SOB A RESPONSBILIDADE DE SUA DIRETORIA PRESIDENTE – Paulo Apgaua SECRETARIO – Marcos Magalhães Rubinger TESOREIRO – Alfredo Rondon Castro REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO – Rua Piumhy, 119 Belo Horizonte Minas Gerais Brasil Belo Horizonte – 1962 ESTRUTURA DA SOCIEDADE DE ANTROPOLOGIA DE MINAS GERAIS E MUSEU 1) Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil. 2) Museu e sede da Sociedade: Rua Piumhy, 119 – tel. 4-4016 Transporte: Ônibus elétrico ou lotação Cruzeiro 3) O pessoal é o da própria Sociedade de Antropologia de Minas Gerais. Presidente: Paulo Apgaua Paulo Guilherme Secretário: Marcos Magalhães Rubinger Tesoureiro: Alfredo Rondon Castro Cargos Técnicos: Antropologia Física, Cultural e Social: Marcos Magalhães Rubinger Lingüistica: Paulo Apgaua e Moacyr Vasconcellos Psicologia e História Natural: Carlos Antônio Junqueira Geografia Humana: Sigefredo Marques Soares Ciências Econômicas: Antônio Vieira Gutierrez, Alfredo Rondon Castro e José Coelho Bastos Desenho Acadêmico e Técnico: Joaquim Paulo Guilherme Colaboradores: Guilherme Antônio Vivacqua (Sociologia e Antropologia Cultural), Naftale Katz (Antropologia Física ou Biologia), E. Salle Cunha (Antropologia Física ou Biologia), Hélio Diniz Gomes (Antropologia Física ou Biologia), Mário Mattoso Silveira (psicologia), Elzio F. Dolabella (Geografia), Pe. Angelo Venturelli (Antropologia Cultural ou Social), Nilo Oliveira Veloso (Antropologia Cultural), General Renato Rodrigues Ribas (Antropologia Cultural) e outros. Observação: Todas as funções são atualmente gratuitas. 4) VISITAÇÃO: Aos domingos, de 8 às 17 horas Entrada gratuita. 5) ESTATUTO: O Museu pertence à Sociedade de Antropologia de Minas Gerais, que é uma sociedade civil, de direito privado, constituída sem o objetivo de lucro, por prazo determinado, administrada por diretoria de 3 (três) membros, eleita em Assembléia Geral, conforme o contrato social, registrado sob o nº 1.415, no livro A-2, em 26/05/1958, no Cartório Cível de Pessoas Jurídicas, da Comarca de Belo Horizonte, tendo por finalidade: a) Estudar as questões de Antropologia em geral, b) Promover e realiza pesquisas, congressos, conferências, excursões, cursos, tudo o mais que disser respeito às investigações de caráter antropológicos, ou à divulgação de conhecimento sobre a matéria atinente à Antropologia c) Compor e editar obras nacionais ou estrangeiras que forem reputadas de excepcional valor e relevante interesse para o aprimoramento cultural do povo brasileiro d) Estudar e pesquisar tudo que disser respeito à cultural, especialmente, comunidades em geral, costumes indígenas, inscrições rupestres, folclore e outros assuntos correlatos. No 1º Festival Nacional do Índio por conveniência do local foi feita uma exposição de artefatos indígenas, em vitrine no centro da cidade, tendo sido feito um cálculo de uma visitação média provável de 5.000 (cinco mil) pessoas por dia, durante uma semana. Além disso, tem havido visitas na própria sede, de pessoas interessadas no assunto. No que diz respeito a orçamento, não há base para apreciação quanto à receita e despesa, portanto o pessoal que cuida do Museu não é remunerado, pois trabalha em caráter de colaboração. A instalação da Sociedade se fez mediante de doações de móveis e utensílios. Não há despesas com aluguel e nem há verbas para conservação da sede, das coleções, pesquisas ou viagens de estudo, que são realizadas mediante gastos particulares dos sócios e interessados. 6) HISTÓRICO: O Museu da Sociedade Antropologia de Minas Gerais foi criado no dia 1º de maio de 1958, com a doação de uma coleção particular do sócio Marcos Magalhães Rubinger, que vinha coletando material desde 1947 e estava localizada à Rua Alagoas, 851, compreendendo os setores de antropologia, etnologia, mineralogia, paleontologia, etc. Depois de sua criação, as coleções do Museu têm sido acrescidas de doações constantes. A Sociedade de Antropologia de Minas Gerais está situada em salão independente no andar térreo do prédio, cujo endereço foi indicado, de propriedade do sócio Paulo Apgaua, tendo sido a respectiva planta e construção feitas pelo Dr. José Christo Horta, Engenheiro Civil, residente e domiciliado nesta cidade. 7) O Museu tem a finalidade de fornecer aso sócios e pessoas interessadas material para estudo, cursos e ilustrações de palestras e conferências. Natureza das coleções: a) Antropologia, etnologia, e arqueologia: 70% das peças do Estado de Minas Gerais; 30% de outros Estados do Brasil; b) Paleontologia: 90% da região de Lagoa Santa e 10% de outras regiões c) Mineralogia: 70% do Estado de Minas Gerais e 30% de outros Estados. E outras peças enquadráveis noutras classificações. Peças raras no Museu: cerâmica (pote), adornada, dos índios Guaranis, do norte do Estado do Paraná; machado de pedra procedentes do Estado de Minas Gerais, Paraná e Maranhão, cachimbo de barro dos índios que habitaram a região da Serra do Cipó; minérios raros, tais como: de urânio, tório, zinco, cobre, níquel; fotografias e cópias de pinturas rupestres inéditas, de diversas regiões; cocares, bordunas e flechas, artefatos de arte plumária; reprodução em cerâmica do pitecantropo; vestimentas incas; esqueleto humano, etc. 8) PUBLICIDADE: A Sociedade tem publicado artigos em jornais de Belo Horizonte, bem como trabalhos particulares, por iniciativa dos sócios. Contudo existem trabalhos já preparados, para serem publicados, quando houver verbas suficientes para editá-los. 9) VISITAS GUIADAS: O Museu da Sociedade tem sido objeto de vistas por parte de intelectuais e de estudantes, sendo de assinalar-se o comparecimento das turmas do 4º ano primário do Grupo Escolar “Barrão do Rio Branco”, situado no mesmo bairro, sob a orientação das professoras D. Wanda Marilia Rocha e Lydia Monteiro. Nestas ocasiões, são prestadas informações e esclarecimentos, durante duas horas, por pessoa da Sociedade de Antropologia de Minas Gerais. Por ocasião do 1º Festival do Índio, a Sociedade Antropologia de Minas Gerais, em conseqüência do êxito de sua exposição, foi visitada por várias pessoas credenciadas no assunto, salientando as visitas do agente da Viação Aérea de São Paulo (VASP), Sr. Adalberto Veloso; e mais a do Sr. Padre Ângelo Jayme Venturelli, S.D.B., organizador do Museu “Dom Bosco”, de Campo Grande, Mato Grosso, o qual esteve na sede da Sociedade durante várias horas, tendo recebido livros especializados em assuntos de fonética e lingüistica, fornecendo de sua parte fotografias dos índios Bororos. A exposição foi divulgada por iniciativa espontânea dos Diários Associados, em jornal e televisão, com longo noticiário ilustrado. Após o aludido Festival, a Sociedade Antropologia de Minas Gerais recebeu as visitas do Sr. Paulo Naves, do Serviço de Relações Públicas do Banco da Lavoura e do Sr. Geraldo Pitaguary, do S.P.I., que solicitaram empréstimos de peças do Museu, para efeito de exposição patrocinada por aquele Banco, a saber: quatro pares de brincos, uma borduna e um bastão de cerimonial, dez flechas, uma lança e um arco, de índios Carajá; um enfeite de cabeça de índios Mujetire; um cocar de índios do Maranhão; dois cartazes com fotografias e letreiros, elaborados por esta Sociedade. 10) O Museu possui uma biblioteca, formada de acordo com a cláusula contratual nº 8 e doações atinentes a matéria de ciências sociais. A fonoteca é especializada em línguas modernas (inglês, russo, italiano, sueca, hebraico, japonês, espanhol). 11) Os jornais “Diário de Minas” e “Diário da Tarde”, “Informador Comercial”, “Binômio”, etc. têm publicado notícias diversas sobre a Sociedade de Antropologia de Minas Gerais e o Museu. 12) Recentemente a S.A.M.G. vem sendo visitada com mais freqüência, fato que relaciona com a aceleração do desenvolvimento do País, que implica numa necessidade de melhor conhecer os problemas da cultura brasileira. Dentre muitas pessoas do nosso meio social ressaltamos a presenças das seguintes: Professor E. Salles Cunha, da Universidade do Brasil; Padre Ângelo Venturelli, do Museu “Dom Bosco”, de Campo Grande, Mato Grosso; Dr. Alarico José Torres, indigenista; Padres Francisco A. Corrêa e Ralitian Moses Salama; Dr. Ataulfo da Costa Ribeiro, psiquiatra; Dr. Jair Leonardo Lopes, Diretor do Conselho Nacional de Economia; Jorge de Souza Lima, do Departamento de Medicina Legal; Sra. Maria Lydia Goulart Cordeiro de Farias; Professor Elzio Dolabella, da Faculdade de Filosofia da U.F.M.G; Professor Nilo Oliveira Velloso, Diretor do Museu do Índio; Deputado Waldomiro Lobo; alunos do grupo escolar “Barão do Rio Branco” (todos os alunos); Professora Lydia Monteiro, Wanda Marilia Rocha e outras; Professor Hélio Diniz Gomes; Guilherme Bruzzi, indigenista; Max P. Nascimento; Mário Matoso Silveira, psicólogo; General Renato R. Ribas; Dr. Roberto Otávio Gonçalves; Dr. Djalma Teixeira de Oliveira, psiquiatra; etc. 13) A S.A.M.G. tem recebido publicações das seguintes entidades: Faculdade de Ciências Econômicas; Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais; Associação Soviética de Amizade e Cooperação Cultural com os Países da América Latina; Confederação Nacional do Comércio e Administração Nacional do Serviço Social do Comércio; Associação Comercial de Minas Gerais etc. 14) Aos domingos a Sociedade promove Seminários de Antropologia e outras Ciências Sociais. Finalmente, este ano, juntamente com a Academia de Ciências de Minas Gerais, a S.A.M.G. realizou uma exposição de arqueologia nos salões da Cultura Inglesa. PINTURAS RUPESTRES DA LAPA DA SICUPIRA NA SERRA DO CIPÓ PAULO APGAUA 1. Os desenhos e símbolos gráficos existentes nesta pedra demonstram que os seus autores já estavam ultrapassando a fase puramente pictográfica da escrita para atingir a representação do pensamento por meio de elementos estilizados, com características próprias, embora sem caráter fonético. 2. São notórios os exemplos que comprovam esta afirmação nossa; em especial, podemos apontar a série de pequenos traços, com perfeito lineamento que, à altura de uma pessoa, foi feita ao longo do paredão, num trecho de quase cem metros. Noutros desenhos, verificamos a subdivisão, intencional e variada, de círculos e retângulos, a qual, tantas vezes repetida em padrões semelhantes, outro sentido não pode ter senão o de autêntico simbolismo gráfico, subordinado a um sistema peculiar de estilização. Isto se verifica em vários pontos da superfície da pedreira. 3. O grau evolutivo desta escrita não aprece ter atingido o fonetismo, que abrange os princípios do rebus, do silabismo, do consonantismo e da literalidade, porque se verifica uma certa inconstância e confusão nas tentativas de seguimento linear, o que nos leva a acreditar que não chegaram os autores desta escrita a registrar palavras isoladas, mediante bloco de sinais semelhantes. 4. A escrita, como tem sido verificada em todos os exemplos clássicos, oferece, no período do fonetismo, um aspecto de regularidade gráfica, uma ordenação em pauta ideal, uma evidente freqüência de determinados desenhos. Tais elementos não se observam no presente caso. 5. Não há, presentemente, um meio de saber-se a origem do grupo humano autor desses desenhos. Evidentemente, tratava-se de um povo que vivia na região já há bastante tempo quando fez os desenhos, pois há inúmeros casos de superposição recente sobre os sinais antigos. As figuras dos animais comuns nos arredores, estão bem feitas e se prestam facilmente à identificação. Nada indica, porém, uma corrente cultural típica, estendendo-se a outras partes do País, dado o seu grau de especificidade. 6. Ainda não foram copiados todos os desenhos, que são em grande quantidade. O trabalho, difícil por sua natureza, mais difícil se torna em conseqüência das constantes investidas das abelhas, das quais há muitas colméias nas pedreiras. 7. Nossas observações dizem respeito à técnica da escrita propriamente dita. LINGUAGEM, CONFORME “MERINGER” PAULO APGAUA Palestra em 11/05/1958 I. PARTE PSÍCO – FÍSICA 1. Pontos-de-vista: a) De quem escuta: Impressões auditivas; b) De quem fala: Acontecimentos psíquicos – seguido de movimentos de órgãos de fonação. 2. Nesses movimentos, o ar sofre choques e vibrações que produzem ruídos e sons. O ar passa por uma série de órgãos, especialmente a laringe (pomo de Adão), que pode ser total ou parcialmente cerrada, pela aproximação ou afastamento de duas cordas elásticas (cordas vocais). Verificação: M, com a boca cerrada e R, no pomo de Adão. 3. Depois da laringe, o ar passa à faringe: São 2 caminhos: Um para o nariz e outro a boca-fechada; o primeiro pelo véu palatal e pela úvula, resta o segundo. A úvula trepida e produz o R de “rue” e “Royal” (fala parisiense). O fechamento parcial das duas vias de passagem, produz o som nasal. 4. A língua é um músculo largo, que se acha capacitado para adotar diversas formas e pressionar as paredes internas da boca em vários sentidos: Fecha o véu palatal, mantém- se próxima dele, forma uma calha de passagem do ar, estende-se em curvaturas para cima e para baixo, comprime a ponta contra os dentes ... Verificações: “K”, “G”, “CH”, “P”, “B”, “F”. 5. Os lábios, conjugam-se com os dentes entre si, para produzir os sons de correntes de ar que passam pela cavidade bucal sem achar obstáculo. 6. Natureza dos sons: Explosivos (oclusão) Fricativos (estreitamento) Soante (cordas vocais) Surdos (os restantes) (“áfonos” ou mudos) (W = F) 7. As vogais são soantes; 8. Essa aprendizagem mais tarde se consolida com a aquisição das imagens da escrita (ótica sensorial), e do escrever (motora). 9. Não há fidelidade integral na retenção de todas as imagens pelos sentidos respectivos. 10. As imagens particulares da linguagem interior e das capacidades que lhe estão unidas são determinantemente localizadas no cérebro. Determinadas lesões produzem determinados efeitos. 11. O material idiomático é ordenado em vocabulário e regras de sua utilização e se emprega em função de associações de idéias: por semelhança e por contraste. 12. Categorias da razão e categorias gramaticais: Coisa Qualidade de coisa Ação Qualidade de ação Substituição de coisa Ligação entre coisas Ligação entre ações Expressões de emoções e sentimentos; Desinências; Terminações variáveis; Formas irregulares. 13. As línguas variam: Pela alteração e substituição dos fonemas; Por segmentos de palavras novas; Por alteração nas regras da utilização do vocabulário, por modificações desinenciais e nas terminações variáveis. 14. Linguagem das crianças e dos velhos. Linguagem dos escritores. 15. Não foram encontradas as regras ou leis gerais do desenvolvimento de todos os idiomas. Apenas se descobriram leis fonéticas de casos isolados de fonemas, que têm evidente caráter descritivo. Acontecem, de fato, grandes regularidades. Não tomam, porém, o caráter de leis naturais ou leis jurídicas. Elas são mais perceptíveis nas palavras mais usadas. As menos usadas, no entanto, são mais facilmente regulamentadas pelos gramáticos, através de processos de integração por analogia (o latim). 16. Há passagem de uma categoria para outra, ou lenta intromissão de recursos destinados a evitar dubiedade de sentido, nas frases. De outras vezes, influi a significação mágica ou religiosa, porventura surgida, que converte a palavra em tabu. a) A imitação, dentro de grupos exclusivistas, provoca a transformação de vocabulários e intonações especiais: O aristocrata; o homem rude; o político; o professor; o sacerdote etc. 17. Aí já se acham os rudimentos da dialetização no corpo de uma língua: Dialetos Línguas locais Língua escrita Predominância de uma sobre as demais, decorre de particulares fundamentos literários ou políticos. 18. Não há língua ou dialeto puro; sempre existem palavras estrangeiras, principalmente as de povos fronteiriços. 19. A Bíblia: Adão Babel Noé: Caim (egípcios, etíopes, bérberes). Sem Jafet (Indo-européia). Não é cientificamente possível derivar todas as línguas de um idioma único. 20. Famílias principais: a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) Indo-européia – do Ganges à Islândia Indo-altaico – do Amur até a Turquia Malaio-polinésia – de Waigh até Madagascar Semítica – de Babilônia a Marrocos Camita – egípcios Galas Bérberes Etíopes Bântu Indochinesa Australiana 21. Pela formação: Flexivas (nossa) Aglutinantes ( palavras sufixas) Isolantes (chinês). 22. Origem: natural, espontânea, biológica. Específica do homem por ser articulada, não sendo exatas nem a teoria da onomatopéia, nem a do sentido próprio para determinar sons. 23. Jacob: origem místico religiosa, conupção absolutiva. Scheicher: decadência F. Bopp: enfermidade, mutação e amor à eufonia Curt: idem Scherer: caráter do povo Indo-europeu: Germânico Romance (sardo – provençal) Slava Lituano Céltico Albanês Grego Indu Irânio Armênio PALESTRA SÔBRE LINGÜÍSTICA I. A escrita é a forma usual de representar o pensamento, de maneira permanente. Ela se realiza: a) por processos mineumônicos b) por processos ideográficos c) por processos fonéticos d) por processos mistos. II. Tanto os processos ideográficos como os processos fonéticos são bastante rudimentares e não alcançam os seus fins com absoluta fidelidade. Isso acontece porque aqueles são em número limitado enquanto estes são infinitos. Para que atendam, mais ou menos esses fins, tais processos se valem de recursos comparativos, associações de idéias, representações por semelhança ou por oposição, sinais auxiliares, etc. III. Os mais conhecidos dos processos mineumônicos é o quipus. - O mais generalizado dos processos ideográficos é o chinês. - O mais recente dos processos alfabéticos é o latino. - O mais científico é o internacional. IV. a) b) c) d) e) f) g) h) i) A evolução da escrita tem sido, até agora, a seguinte: Pictografia Ideográfica Rebus Acrofonia Silabismo Consonantismo Alfabetismo Braquigrafia Taquigrafia V. Em qualquer desse casos é de considerar-se que o costume do povo e a imposição dos entendimentos fixaram determinadas formas e critérios, estabelecendo o certo e o errado: Surgiu assim a ortografia. VI. A maneira mais simples e mais direta de entender-se os fenômenos da fala (fonação) está em analisar os processos da ortografia fonética, que se instaurou de forma definitiva a partir do rebus, atingindo atualmente o grau mais apurado que é o sistema alfabético. VII. Já nos referimos aos diversos fonemas e às suas origens, nos órgãos da fala: Consoantes Vogais Soantes Luminares. VIII. Os fonemas influenciam uns sobre os outros e desta maneira se estabelece uma escala de freqüência deles e dos grupos respectivos. A ortografia tem intentado acompanhar essa influência, mas não o tem conseguido por ser de caráter essencialmente conservador. IX. É por isso que, fonema por fonema, podemos apresentar casos curiosíssimos: a) Em inglês, a pronúncia de a, e, i, o, u; b) Em francês, 15 a 20 maneiras de escrever ê: ait, ais, haie, hais etc; 40 a 50 maneiras de escrever o: au, eau, haut, oh etc. c) Em português: o como o o como u e como e e como i mb, mp, mn c, ss, ç, x d f, ph g, gu, ga, ge, gi, go, gh j, g, k, q, c, ch l, ll, lh m n, nh p, q, k, ch r, rr, rh s, z, x, ç, c t, th v, b x, ch z, s, x X. Na história da escrita o problema das vogais foi focalizado pela primeira vez entre os povos semíticos e camíticos, que instituíram o sistema de aproveitar as consoantes para representar os sons vacálicos. As consoantes assim aproveitadas deu-se o nome de matres lectionis. XI. A influência de uns fonemas sobre os outros dá origem aos seguintes fenômenos: a) Assimilação de: Vibrações: Sonora Surda Exame De timbre (harmonia) b) Dissimilação (correção do eco) c) Metátese d) Prótese. XII. a) b) c) d) Com estes elementos é que passamos ao estudo de: Sílabas Palavras Expressões freqüentes Frases XIII. Fonética: trata do modo de produção e características dos fonemas. Fonologia: trata das relações funcionais entre os fonemas. XIV. Estes estudos só assumiram uma feição metódica peculiar no século IV antes de Cristo, com Panini, na Índia. Também os sofistas produziram considerações a respeito, embora sem metodização que lhes desse algum renome. Seguiram-se, depois na mesma orientação os romanos e ainda os alexandrinos, patrística, lexicógrafos, dicionaristas e retóricos. (III a.C.). Na Idade Média os escolásticos. Na Renascença, os humanistas. XV. Nomes que se integram na história da lingüistica até o século XVIII: Panini Prodicus – Denys de Halicarnasso Varron Donat Priscien Estierme Condillac Sassetti William Jones XVI. Método histórico e comparativo (Século XIX): Schlegel Bopp Grimm Zeuss Schleicher Burnouf Pott Max Müller Curtius A. Meillet Saussure Gilliéron Corssen Diez Gaston Paris Osthoff Brugmann Humboldt Paul Wundt EM RESUMO: 1. A escrita que é expressão permanente ou duradoura do pensamento. 2. Utiliza processo ideográficos e fonéticos, ainda deficientes; 3. Sujeito a regras ortográficas, das quais: 4. A mais útil, para a lingüistica tem sido a fonética; 5. Em que se representam os fonemas; 6. Para estudo da fonação ou faculdade de falar com intuito de representações mentais, sendo de assimilarem-se. 7. As bizarrias ortográficas, as origens e representações das vogais, os fenômenos decorrentes da influência recíproca entre fonemas, 8. Os elementos fundamentais deste estudo são: As sílabas – as expressões As palavras – as frases. ANTROPOLOGIA MARCOS MAGALHÃES RUBINGER Que é Antropologia? Dentro de uma conceituação etimológica Antropologia é ciência do homem (anthropos + homem; logos + ciência) Todavia, sendo o homem um ser extremamente complexo, esta definição simplista pouco explica, isto porque diversas ciências, também, têm o homem como objeto do conhecimento. A sociologia, a psicologia, a economia, a geografia humana, a biologia humana, a psiquiatria, a história, etc., estudam também o homem, seu comportamento ou suas atividades. Nestas condições, a Antropologia seria uma das muitas ciências que tratam do homem. Entretanto, a Antropologia é uma ciência cujo campo de estudos apresenta uma grande complexidade. Daí a necessidade de conceituá-la de forma mais profunda e objetiva. Uma Antropologia legítima tem que saber que existe uma espécie humana com seus antecedentes filogenéticos senão, também, raças e culturas; não somente uma consciência individual senão, também, uma consciência coletiva; não somente uma vida humana, senão, também, idades de vida; só abarcando estas e outras diferenças, só conhecendo a dinâmica de cada particularidade, e só mostrando, sempre, a presença de “um” no diverso, poderá compreender e explicar a totalidade do homem. A Antropologia tem que instalar seriamente o homem no mundo da natureza, tem que comparar o homem com as coisas, com os seres vivos, com os demais seres conscientes, para, desta forma, poder assinalar, com segurança, seu lugar correspondente. A verdadeira Antropologia tem que abarcar o comportamento bio-cultural e social do homem, através de sua herança biológica, que são seus traços físicos hereditários, e de sua herança social, que é o seu comportamento aprendido e traduzido em hábitos, linguagem, costumes, usos, tradições, ou, ainda, maneiras de pensar, sentir, fazer, crer. Nestas condições delineiam-se os dois grandes campos da Antropologia: o biológico e o cultural. O primeiro campo é o da Antropologia Física ou Biológica, o segundo pertence à Antropologia Cultural ou Social. Para Franz Boas, a Antropologia estuda comparativamente, sincrônicamente, três fenômenos de natureza diversa, ou seja, a raça, a linguagem e a cultura. A raça é estudada pela Raciologia ou Antropologia Racial, um dos ramos da Antropologia Física; é um fato essencialmente biológico, cujo conceito abrange o conjunto de traços físicos hereditários, que caracterizam e distinguem, entre si, os grupos humanos. A cultura é fato essencialmente social: designa, na conduta humana, a parte que o homem aprendeu com a convivência no grupo a que pertence; é um sistema integrado de traços de comportamento aprendido característico de uma dada sociedade, e constitui o objeto da Antropologia Cultural. Conforme o aspecto em que se estuda a linguagem, seu aparelho biológico ou a linguagem propriamente dita, sua colaboração pode ser feita, ora na Antropologia Física, ora na Antropologia Cultural. Evidentemente, o ramo da Lingüistica trata da linguagem nos seus aspectos biológicos (anatomia e fisiologia dos órgãos de fonação e da zona de Broca no cérebro) e social. Estudam-se os órgãos para saber o processo de produção de sons, sua classificação, suas tonalidades etc. Todavia, alguns antropólogos consideraram que a linguagem e a cultura pertencem a um categoria especial de fenômenos; são por excelência, fatos sociais. Tais fatos não se adquirem por vias de herança genética, pois a língua que o homem fala, seus hábitos, suas idéias, seus sons e seus costumes, ele os aprendeu na sociedade de que faz parte. Para Evans Pritchard, a Antropologia Física tende a separa-se da Antropologia Cultural. Enquanto a primeira se aproxima da genética, a segunda caminha em direção da história e das ciências sociais. Mas, para Ilse Schwindetzky, tal é a estreita vinculação entre esses dois ramos da Antropologia que, antes, é necessário a criação de um campo que os unifique. Esse campo é o da Etnobiologia, ciência que tem por objeto o estudo de todos os processos que condicionam e modificam a parte biológica das comunidades humanas. A Etnobiologia estuda a influência que o habitat e a cultura exercem na formação e transformação do tipo racial humano. A propósito, diversos inquéritos e pesquisas tem sido executados, nos Estados Unidos e na Europa, no sentido de investigar os efeitos que os fatos sociais, como, por exemplo, o exercício de certas profissões, produzem em indivíduos que apresentam o mesmo equipamento biológico. Em suma, podemos dizer que, em face de todas essas considerações, a Antropologia deve ser conceituada como a “ciência que estuda as semelhanças e diferenças fundamentais anatômicas e culturais dos homens, para formular conclusões e leis gerais básicas para o conhecimento do comportamento humano, tendo como foco primacial a noção de cultura”. ANTROPOLOGIA E POLÍTICA FÁBIO DO NASCIMENTO MOURA 1) Pede-me um artigo para a Revista de Estudos Antropológicos, que ora se lança, meu prezado amigo Marcos Rubinger, um dos fundadores da mesma. Devido às características de que se reveste e à distribuição do assunto, duas condições me foram impostas: I. Concisão – condição básica em virtude da natureza da revista que pretende colecionar o máximo de matéria; concisão que quer dizer, porém, simplicidade, clareza, pequenez e leveza. Difícil de se obter; II. Que verse sobre assunto político correlacionado com a Antropologia. Justamente essa Segunda condição é que veio servir de tema para este artigo. De inicio, pode-se fazer uma pergunta: Há possibilidade de haver correlação entre Antropologia e Política? A resposta é afirmativa e categórica. Não é difícil constatar o fato. Vejamos. 2) Como centro, vamos examinar um página (com a devida adaptação) de Raymond Barre, Professor da Faculdade de Direito de Caen, na França (“Économie Politique”, da coleção “Thémis”, da Presses Universitaires de France, Paris, 1957) que faz uma colocação excelente para o problema em pauta (págs. 3 a 5). Existe hoje uma distinção bem nítida entre as Ciências da Natureza e as Ciências Físicas e as Ciências do Homem, ou Ciências Sociais. As primeiras tratam das relações entre as coisas, das ligações entre os fenômenos naturais: assim é a geologia, a física ou a química. As segundas concernem à ações do homem, à relações entre os homens e as coisas e às relações entre os homens; seus dados têm um caráter subjetivo, porque não podem se definir em termos materiais e objetivos, mas por referências aos intentos, opiniões e crenças do homem. As ciências do homem são múltiplas: ciência da população; ciências sociológicas (psicologia social (!), sociologia dos grupos, das tensões; sociologia política, econômica, religiosa); ciências geográficas; ciências históricas; ciência política; economia política. Da realidade social, diversificada e complexa, cada ciência social não exprime senão um aspecto; cada uma corresponde a um ângulo de vista sobre atividade global do homem. Seria errôneo, entretanto, pensar que as ciências sociais dividem a realidade em segmentos que são justapostos; sua meta consiste em aclarara e analisar um aspecto do complexo global das relações sociais. A caracterização de cada ciência social baseia-se na tarefa de precisar o campo de seu estudo, de constatar seu caráter de estudo parcial de uma realidade global. Toda ciência social escolhe o real: corresponde à feliz fórmula de J. Ullmo “Contra a escola idealista que dizia: inventamos o real, contra a escola realista que dizia: Submetemo-nos ao real, (sob) a análise do pensamento cientifico responderão: escolhemos o real” (revue Philosophique, nov-déc – 1936 – pág. 339). Uma ciência social decompõe o real: privilegia fatos, quantidades, atos, organismos, ela lhe dá uma certa qualificação. É uma abstração que se apodera da realidade a partir de certos termos de referência, segundo um certo esquema de interpretação. Propõe uma teoria que serve para organizar fatos isolados ou constatações esparsas e constitui um fio de Ariadne na complexidade desorientadora da realidade. Um exemplo, emprestado de K. Boulding (Economic Analysis – pág.5), dará compreensão a este ponto: é um fato que Oliver Cromwell tinha uma verruga no nariz. Mas o que é que tem este fato? Do ponto de vista do químico, é um conglomerado de átomos e de moléculas; do biologista, uma certa impropriedade do funcionamento das células; do psicólogo, pode esclarecer o caráter do homem; do historiador, pode ser um fato importante ou sem valor; do economista, a verruga é negligenciável, a menos que Cromwell dispendesse uma certa quantia para removê-la. Este exemplo mostra que um fato pode ter significações diversas, segundo o ponto de vista em que é colocado: o sentido que lhe atribui depende do esquema geral de interpretação no qual se situa. Não há fato bruto, todo fato é constituído. Cada ciência social é uma reconstrução racional e parcial da realidade. Um texto de Marc Bloch, tirado de seu livro “Apologie pour l’historie ou métier d’historien”, constitui o melhor discurso sobre o método das ciências sociais: “A ciência não decompõe o real, senão para melhor observar, graças a um jogo de luzes cruzadas cujos raios constantemente se combinam e se interpenetram. “Homo religiosus, Homo economicus, Homo politicus, toda essa fieira de homens em UR ... e será grave de os tomar por outra coisa que, na verdade, são: cômodos fantasmas, com a condição (ainda) de não se tornarem importunos. O único ser de carne e osso é o homem, sem mais nem menos, que reúne tudo isto de uma só vez...” (pág. 76). “Nada mais legítimo, nada de mais salutar que centralizar o estudo de uma sociedade sobre um de seus aspectos particulares, ou melhor ainda sobre um dos problemas precisos que levanta tal ou tal de seus aspectos particulares” (...) (pág.78) Constatamos assim que as ciências, de um modo geral, visam a realidade global, com caráter parcial, focalizam-na de prisma e planos diferentes. Têm em mira setores dessa realidade, que apenas é dividida, decomposta esquemática e metodologicamente para estudos, através da abstração. As ciências naturais estão assentadas num outro plano das ciências sociais, e estas, por sua vez, têm óticas especificas; assim, a Antropologia – com suas roupagens “culturais” – que é a parte que nos interessa imediatamente, têm em mira, dentro da realidade do homem, sua “obra” , sua “herança social”; e a Política por seu turno, apesar de controvérsia a respeito de seu objeto, visa, essencialmente ao “poder político” e às relações decorrentes do mesmo ou correlacionadas com ele. No plano das ciências naturais, mesmo havendo grandes e precisas delimitações dos campos específicos e mais ou menos solidificados, as mesmas não se apresentam como compartimentos estanques, impenetráveis; comumente, vemos uma seara sendo invadida por outra – ex.: “bioquímica”, “físico-química”, “biofísica”. Com maior agudeza vemos esse fenômeno se dar no plano das ciências do homem, que focam o ser humano como uma realidade concreta e histórica. O objeto é único – o homem – mas é poliédrico: apresenta as faces mais diversas, dependendo dos esquemas gerais; os raios focais, quando incidem sobre objeto, intercruzam-se , interpenetram-se, como frisou Bloch, e nesse objeto constata-se não uma área completamente nítida e distinta, aclarada por um desses focos, mas, pelo contrário, apresentam-se como circunferências secantes, promovendo, entre ambos, claro-escuros que tanto podem pertencer tanto a um quanto a outro. A característica das ciências sociais é de não serem departamentos fechados, isolados, mas o inverso: baseiam-se na teoria dos vasos comunicantes. Ponto focal de uma, quase sempre se relaciona com o de outra, isto devido a natureza especial de que se revestem, de olharem o homem e suas obras através de suas aspirações, de seus desejos, de suas opiniões, de suas crenças. Em geral, uma estudando, pesquisando em seu próprio campo, mirando parcialmente a realidade global, com seus próprios métodos de abordagem, fornece elementos, subsídios inestimáveis para outra. O estudo em ciência social pode ser comparado à visão através de dois funis ligados pelos bicos: quanto mais se estuda, mais precisão vai sendo obtida: mais o campo vai se tornando restrito, até chegar a um ponto em que não pode, sozinha, se bastar a si mesma, isto porque um problema suscita dez outros, o que eqüivale dizer, horizontes vão se abrindo, descortinam-se novas paragens, perde-se no finito de nosso olhar e no finito da progressão. Não vamos examinar detidamente, como é obvio, as mútuas relações existentes entre os dois campos de estudo, uma vez que a própria natureza de artigo não permite. Acentuemos, com tudo, uma ou outra ligação. Vejamos, como exemplo, algumas contribuições da Antropologia à Política. O “método de observação participante” é uma conquista antropológica que possibilita a pesquisa direta do fenômeno a ser estudado, no próprio campo, advertindo, inclusive, o observador dos possíveis erros por estar integrados no próprio fenômeno de que participa, com seus preconceitos, com seus prejuízos, suas viseiras. O “método comparativo etnográfico”, correlacionando os fenômenos sociais, tendo em vista as diferenças culturais dos povos, é um outro instrumento importante às ordens da Política. Um ponto, que tanto é do campo de uma como da outra, é o estudo das “instituições políticas” – padrões de comportamento destinados a regular as relações dos homens entre si – relações de poder. Mas o ponto-chave das relações existentes – contribuição direta à Política, - é o estudo das “sociedades primitivas”, cogitações não só dos antropólogos e cientistas políticos, como também historiadores, psicólogos e sociólogos modernos. Desses estudos enormes esclarecimentos a respeito das instituições políticas foram e estão sendo prestados pelos pesquisadores antropólogos. Podemos verificar, finalmente, que as ciências sociais, sendo um produto da realidade social – brotados do social devido ao condicionamento das necessidades estruturais, têm sua vigência em função da eficácia social. Determinados estudos têm uma maior tônica em determinado momento histórico, devido ao próprio momento histórico. E justamente esse momento histórico pode acentuar mais ou menos as ligações existentes entre dois campos de estudo – não só especulativa, mas praticamente. Podemos tirar alguns tópicos do livro de Clyde Kluckhohn “Antropologia” (Fondo de Cultura Económica – “Breviários” – México – 1957 – págs. 182 e seguintes). “É evidente que os antropólogos possuem conhecimentos especiais e determinadas destrezas para ajudar aos governos a dirigir as tribos primitivas e os habitantes de suas dependências. Nesse sentido têm sido empregados pelos governos da Inglaterra, Portugal, Espanha, Holanda, México, França e outros países (...) Durante a última guerra floresce a antropologia aplicada. Antropólogos ingleses ocuparam cargos importantes na Secretaria de Negócios Estrangeiros, no Almirantado, no Serviço Inglês de Informação, no Estudo Social da Guerra (...) (...) Nos Estados Unidos, os antropólogos trabalharam em sua especialidade nos serviços de Inteligência Militar, no Departamento de Estado (...)”. Esses exemplos bem demonstram as correlações existentes e permitem que voltemos ao inicio, isto é, a ligação existente entre a Antropologia e a Política – não só no campo especulativo, como no prático, é um fato. A resposta à pergunta é, como frisamos, afirmativa e categórica. PERSONALIDADE BÁSICA ANTÔNIO OCTÁVIO CINTRA Entre os mais sérios e promissores estudos da moderna Antropologia Cultural, particularmente desenvolvida nos Estados Unidos, situam-se os referentes à personalidade de base. Já na velha idéia de “caráter” ou de índole “nacional” pode-se notar presente a intuição da importância de uma matriz de personalidade num determinado povo, explicativa de sua história, de sua cultura. Mas somente os trabalhos de Abram Kardiner e do Ralph Linton, frutos de um seminário da Universidade da Colúmbia, vieram situar em termos científicos – embora ainda não definitivos – a importante problemática dos tipos de personalidade básica. Os trabalhos conjuntos de Kardiner e de Linton vêm expostos em duas obras, uma datando de 1939 (O indivíduo e sua sociedade), e outra de 1940 (Fronteiras Psicológicas da Sociedade). No prólogo de Fronteiras Psicológicas, Linton oferece-nos uma visão sintética da problemática da personalidade básica, indicando os postulados – e as principais conseqüências destes – em que se funda a elaboração do conceito. São os seguintes postulados: 1) O efeito duradouro das primeiras experiências do indivíduo sobre a personalidade, especialmente dos seus sistemas projetivos. 2) Tendências de as experiências similares produzirem configurações similares na personalidade dos indivíduos que a elas se sujeitam. 3) O emprego de técnicas padronizadas culturalmente (semelhantes mas não tão idênticas) da parte dos membros de uma sociedade no trato e criação dos filhos. 4) Diferença, de uma para outra sociedade, dessas técnicas padronizadas culturalmente. Da aceitação desses postulados seguem-se que: 1) Os membros de uma determinada sociedade terão muitos elementos comuns nas suas primeiras experiências. 2) Terão muitos elementos de personalidade em comum. 3) As normas de personalidade diferirão de sociedade a sociedade, pois que as primeiras dos indivíduos diferem de uma sociedade a outra. Assim define Ralph Linton a personalidade básica: “O tipo de personalidade básica para qualquer sociedade é a configuração de personalidade, compartilhada pela maioria de seus membros, como resultado das primeiras experiências que tiveram em comum. Não corresponde à personalidade total do indivíduo, antes aos sistemas projetivos; em outras palavras, ao sistema de valores e atitudes que são básicos para a configuração da personalidade do indivíduo”. Pela utilização do conceito de personalidade básica, os padrões sociais, valores, idéias, ideais e atitudes coletivas tomam sentido do ponto de vista das personalidades dos indivíduos que a eles se submetem, que os criam, influem, vivem e realizam, ou que os infringem, anulam, jogam por terra, põem-nos em xeque ... ... Daí a razão de Kardiner tomando como ponto de referência as constelações da personalidade básica, dividir as instituições sociais em primárias e secundárias. Primárias são as que criam para o indivíduo problemas fundamentais de adaptação: tabus e disciplinas de toda sorte, que o indivíduo “não pode controlar diretamente; pode somente adotar uma atitude frente a eles”. Surgem, então, na personalidade do indivíduo, certas constelações fundamentais, tocando diretamente as maneias de pensar, aos sistemas de valor ao superego, aos princípios religiosos; constituem a sua personalidade básica. Estão na raiz de certas instituições – secundárias na terminologia de Kardiner: - sistemas de tabus, religião, ritos, técnica de pensamento etc. Não se funde a divisão de instituições, que faz Kardiner, com um corte mecânico na cultura: primário e secundário são dois ângulos que oferece a cultura, apresentada à personalidade e conformando-a, ou por ela sendo vivida. Donde não se estranhar a grande dificuldade na especificação dos conteúdos do primário e secundário religião e o folclore, caracterizados como instituições secundárias, são também primárias, pois estão, quando não explícitos, pelo menos subjacentes às técnicas educativas e de adestramento cultural dos indivíduos em sociedade. Muitos são os problemas que o conceitos de personalidade básica vem suscitar, e ainda não suficientemente esclarecidos ou não rigorosamente tratados: a historicidade da personalidade básica, a sua caracterização numa sociedade complexa e plurisegmentada como o é a sociedade ocidental capitalista, etc. Sem embargo disso, pode-se afirmar, sem demasiada ousadia, que o conceito, principalmente pela sua grande operacionalidade, deverá estar no centro do todo esforço e preocupação atuais das ciências do homem, contribuindo com eficácia para a explicação e compreensão de seus problemas fundamentais. O problema básico, na Antropologia Cultural, da “integração” parece ter, no conceito de personalidade básica, solução bem mais satisfatória e rigorosa que a apresentada pelos conceitos de “configuração”, “temas”, etc., todos eles pecando por um certo nominalismo, caindo, enfim, no erro de supor a existência de um misterioso “paideuma”, integrando os padrões de cultura. Em Sociologia, o conceito vem contribuir, para melhor colocação de problemas tais como o do “conflito” indivíduosociedade, na relações entre fenômenos psíquicos totais, das interconexões dos sistemas de conhecimento, das regulamentações sociais com as estruturas sociais cujos equilíbrio sustentam: a personalidade dos indivíduos passa a ser o ponto de enfoque do social, o fim e a origem de toda a armadura institucional, que é vivida e dinamizada nas volições, sentimentos e intelecções desses indivíduos. Foi o que o livro de Mikel Dufrenne – “La personnalité de base – un concept sociologique” - pôs bastante em evidência. Também, na História, há muito de se esperar da utilização desse conceito, como está a indicar o estudo de Kardiner em “Fronteiras Psicológicas”: “personalidade básica e história”. Não resta dúvida de que novas vias estão abertas para importantes elaborações teóricas e confirmações empíricas. ASPECTOS DA QUESTÃO RACIAL GUILHERME VIVACQUA SUMÁRIO 1ª Parte Origem do racismo 2ª Parte Influência do meio social sobre os estados afetivos e a adoção de juízos de valores; Conseqüências dos estados afetivos e dos juízos de valores na questão racial brasileira em relação ao “negro”. ORIGEM DO RACISMO O racismo surgiu para defender “status” econômico, religioso, político, social em crise. Comprovemos esta assertiva através de breves exemplos. De início, cumpre-nos destacar os ensinamentos históricos, segundo os quais todas as regiões, onde florescem civilizações proeminentes, constituíram cenários de conquistas de um povo por outro e, em conseqüência, foram palco de profundas miscigenações. Alexandre da Macedônia, por interesses políticos, em todas as áreas por ele subjugadas, ordenavam aos seus guerreiros que se casassem com as mulheres que aí habitavam. “As conquistas”, diz Juan Gomes, “Foram seguidas pela desagregação de castas e a criação de um novo amálgama, considerando como uma nação racialmente homogênea, ainda que, na realidade, se tratasse de um novo povo constituído por raças diferentes.” Na história da humanidade destacaram-se três doutrinas racistas. A doutrina antropométrica de Lapouge e Ammon, segundo a qual a inteligência e o vigor do caráter dependem do tamanho do crânio. A doutrina da herança de Galton e Pearson, tratando de formular regras para uma política “eugenésica”. Diziam que o gênio e o talento são herdados e só seria possível uma melhoria racial no gênero humano quando os brancos banissem as gentes inferiores. Finalmente, as doutrinas com pretensões de uma Filosofia da História de Gobineau e Chamberlain, a que nos referiremos mais detalhadamente. A mais antiga referência a uma discriminação racial contra os negros foi encontrada numa inscrição gravada, num monumento, por ordem de Faraó Sesostris III, em 1887 1849 a. C. Nela havia, as seguintes palavras: “Fronteira Sul. Monumento monolítico erigido no ano VIII, sob o reinado de Sesostris III, Rei do Alto e Baixo Egito, que vive desde sempre para toda a eternidade. Está proibido cruzar esta fronteira por terra e por água, em barca ou rebanhos, a todos os negros, com a única exceção daqueles que descem a margem para vender ou comprar em algum estabelecimento comercial. Estes últimos serão tratados de uma maneira hospitaleira, mas estão, em todo o caso, proibidos de navegar além do rio”. Na China e na Índia sempre houve uma rígida estratificação social em que uma classe dominante, ascendendo religiosa, social e economicamente, considera as classes de extratos inferiores como párias. Podemos ver, neste exemplo, que o interesse, para preservarem “status”, chega a ponto de criar uma separação, até mesmo dentro de um povo racialmente igual. Conforme acentua Marx – “As classes e as castas são, pois, ao menos na sua origem, outros tantos grupos de atividade e produtos da organização econômica que, distinguindo-se pela sua identificação de função, se separam, sobrepondo-se e, às vezes, opondo-se, pela diferença, hierarquia ou antagonismo de situação. Nas épocas que precederam a nossa, vemos, quase por toda a parte, a sociedade oferecer toda uma organização complexa de classes distintas e encontramos uma hierarquia de categorias sociais múltiplas. São, na Roma antiga, os patrícios, os cavaleiros, a plebe, os escravos; na Idade Média, os servos, e quase cada uma dessas classes comporta, por sua vez, uma hierarquia particular”. Constatamos que o esforço de conservação de um “status” vem dos primórdios da civilização. Esta situação é o ponto central, o eixo, onde gira o carrossel dos interesses dos mais poderosos. Surge, porém, bem mais tarde, a Consciência Racial bastante acentuada, mormente com o nascimento das ciências sociais e biológicas que vieram quebrar tabus tradicionais ante a instabilidade do grupo dominante na Europa. Tanto a Consciência de Classes como a Consciência Racial têm pontos que a distinguem: todavia, elas confluem para colimarem o mesmo alvo, isto é, preservação de “status” adquiridos. Harry Shapiro diz: “Parece-me impossível estudar a mescla de raças sem fazer referência à Consciência Racial. A consciência das distinções raciais é universal”. Mais adiante, continua: “Ao mesmo tempo, as pressões dos mestiços, para se elevar na escala econômica e para melhorar sua educação, parecem ameaçar o grupo dominante que reage contra o que julga uma opressão, a que deve opor-se”. Esta Consciência Racial só surgiu com todo o seu vigor, há dois séculos atrás, ao passo que a luta de classes e a consciência de oposição, em que cada um está estratificado socialmente, existem há séculos. É com o advento da revolução industrial, coincidente com a revolução francesa, que se acentua este morbo social. Lança o Conde de Gobineau, em 1852, em quatro volumes, o Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas. Uma obra interessante, mas cuja dimensão de idéias não conseguiu se contrapor ao conceito científico e moderno de Raça. Defende ele, nesse trabalho, a superioridade da raça ariana. Considera o referido autor que seis das grandes civilizações da humanidade, a hindu, a egípcia, a assíria, a grega e a germânica são produtos do ramo ariano. Continuando sua preleção, diz haver raças superiores e inferiores, sendo que: “as primeiras são capazes de progresso, as segundas são votadas a vegetar ingloriamente”. Desolado, julgava que o declínio da civilização era inevitável, pois, sua miscegenação, a raça ariana se tornaria diminuta. “Rebanhos humanos”, acrescentava em tons de tragédia, “e não mais nações, acabrunhados em uma fatal sonolência, atolar-se-ão na inutilidade, como os búfalos que ruminavam nos pantanais”. Mais tarde,Gobineau, ao publicar suas memórias, demonstrou ter profunda versão contra os republicanos franceses, que lutavam contra a aristocracia reinante. Sendo monarquista ferrenho, era natural que se deixasse conduzir por admiração pelos ingleses, cujas tradições monárquicas vêm até os dias atuais. Sua argumentação, empavonada de profunda falsidade, vingou. Apesar de ser refutada, longe de atenuar este conflito social, ela o incentiva cada vez mais. Chamberlain, anos depois, seguindo teorias de Gobineau, enveredou-se pela mesma trilha. Em seu livro Fundamentos do Século XIX, afirmava o estadista inglês que têm sido quatro os fatores da civilização universal: a) O grego a quem devemos a poesia, a arte e a filosofia; b) O romano que nos legou o direito, a política, a ordem social, etc.; c) Os teutônicos compreendidos neste grupo, os germanos, os celtas e eslavos, criadores do descobrimento da civilização ocidental; d) O judeu que legou a religião de caráter universal; primeiro a judaica, após, a cristã. Darwin, lançando os postulados de sua teoria da evolução, exerce a mesma influência marcante sobre a ideologia racista. Ao proclamar a sobrevivência dos mais fortes, ele foi mal interpretado pelos racistas, que se valeram de sua tese num vasto programa de agressão. Spencer, na sua apreciação sociológica do assunto, fala da sobrevivência do mais apto e Nietzsche cria seu Super-Homem. Sabe-se hoje que a seleção natural depende de vários fatores, como alimentação, tratamento médico, ambiente climatérico, etc. Várias teorias racista ainda perduram, procurando insistir sobre o fator étnico na formação das nações. O nacional-socialismo de Hitler, a cujas conseqüências assistimos, é o resultado da embriaguez destas idéias. Em nossas civilização temos dois grandes exemplos dos males da discriminação racial, o dos Estados Unidos e da África do Sul. Neste último país, onde os ingleses mantém o controle econômico, vem ocorrendo fatos constantes que ferem a dignidade humana. Esta minoria branca, controlando economicamente o país, vendo-se ameaçada pelo movimento nacionalista africano, pratica o “apartheid”. Ainda agora, Tom Mboya, líder nacionalista do Kênia, disse estas palavras de grande conteúdo ético: “Refuto o racismo porque repudio tudo quanto não seja uma democracia baseada na igualdade dos indivíduos. Pedem os Europeus que se salvaguardem os direitos das minorias. Que direitos? Referem ao direito de impedir que os africanos vivam nas altas terras brancas, praticando, também, segregação em vivendas e escolas. Há a bandeira da cor e nós replicamos que não existem tais direitos. Não exigimos uma transformação da noite para o dia, mas aspiramos a uma mudança com objetivos de uma democracia total”;. Concluindo, podemos dizer, com J. Rumney e J. Maier, que o preconceito racial ou a segregação racial surgem tendo em vista as seguintes necessidades: Psicologicamente – Canalizando a agressividade para um grupo em particular, cuja situação histórica o tenha conduzido a uma sanção social; Economicamente – Coibindo outros a ascenderem financeiramente, para diminuir o nível do salário médio e obstar melhores posições; Politicamente – É manipulado por uma elite com o escopo de fortalecer o seu próprio poder, desviando a atenção para grupos menos indefesos; Socialmente – Dá ao grupo majoritário vantagens sexuais tangíveis a uma série de racionalizações para conservar imaculados os imponderáveis de sua cultura e valores tradicionais. Em suma, o preconceito e a discriminação racial, ainda que sem fundamentos científicos, ocorrem por serem vantajosos em diversos prismas. O PROBLEMA RACIAL MARCOS MAGALHÃES RUBINGER O que se entende por raça? É um fato essencialmente biológico. Define certos grupos humanos que apresentam em si maior freqüência de fatores hereditários comuns, através dos quais se distinguem fisicamente de outros da mesma espécie A raça é o resultado de um processo genotípico e fenotípico extremamente complexo, em que atuam, principalmente, quatro forças de natureza diferente, a saber: A Mutação ( modificação brusca no material genético); A Seleção Natural (ação do meio que elimina no interior de cada espécie os indivíduos menos dotados e favorece o desenvolvimento e proliferação dos melhores adaptados); O Isolamento (fixação das flutuações genéticas por meio da endogamia, a que foram e são obrigados os grupos isolados); As Migrações (movimento e contato de grupos diferentes favorecendo o cruzamento de indivíduos de tipos biológicos distintos); Nestas condições, a mutação atua como fator biológico, a seleção natural como fator físico, o isolamento e as migrações (estas acarretando a fusão de populações) atuam como fatores históricos ou culturais, ou ainda, ecológicos. Tendo em vista estas considerações. A UNESCO difundiu a seguinte classificação racial: CAUCASÓIDE, também chamada europóide pela circunstância de ser sua área de maior freqüência a Europa; MONGOLÓIDE E NEGRÓIDE. Apresentado classificação duvidosa e por isso não se encontrando nem se compreendendo em qualquer desses troncos primários, temos as raças: AINO (povo primitivo que vive numa ilha ao norte do Japão e que se apresenta, ao que parece, como o tipo intermediário, entre os mongolóides e os caucasóides); POLINÉSIA ( apresenta características tanto mongolóides como negróides); AUSTRALÓIDE (características negróides e caucasóides); VEDÓIDE OU INDOAUSTRALIANA (mescla de caucasóides e australóides); BOSQUIMANA (traços mongolóides e negróides). No estoque CAUCASÓIDES, estão compreendidos os nórdicos, os alpinos, os mediterrâneos e alguns grupos indus, no estoque MONGOLÓIDE , os mongóis, os malaios e os ameríndios, finalmente no estoque NEGRÓIDE, temos os negros africanos, os negros oceânicos e os melanésios, os negritos (pigmeus) e, há quem enquadre os bosquimanos nesta classificação. Conforme Dobzhansky, para fins de classificação, achou-se conveniente e útil tomar os indivíduos como variantes de tipos raciais (médios) aos quais hipoteticamente acreditava-se pertencerem. Desta forma, fala-se que certos indivíduos se correlacionam ou se afastam dos “tipos nórdicos, melanésios, mongolóides ou de “outras raças”. O tipo contudo, é uma abastração, isto é, uma elaboração conceitual arbitrária, à qual se pode chegar através da verificação de médias estatísticas de caracteres, tomando-se amostras de indivíduos que são em muitos aspectos, abstraídos. Tal procedimento é conveniente na elaboração do catálogo da diversidade humana, mas é enganoso quando as populações humanas são confundidas com as abstrações. A feliz descoberta de Mendel de que o fenômeno da hereditariedade não se dá através do sangue, mas através de “gens”, coloca em evidência que não são os tipos, mas as populações formadas de indivíduos e cruzando-se entre si, que constituem as verdadeiras realidades biológicas. Nesta base, cada ser humano é membro de uma população e possui características próprias e peculiares em sua constituição genética. Essa não é idêntica a de qualquer outro indivíduo atualmente vivo, ou já existente no passado, constituindo exceções os gêmeos univitelinos. Aceita-se que as raças humanas são populações que diferem entre si na freqüência de certos gens. Aceita-se porque “raças puras”, com a significação de grupos de indivíduos geneticamente idênticos, só são possíveis em espécies assexuadas. As raças humanas constituem um “mito”, e qualquer tentativa de descrever as populações humanas atuais, como mistura de diferentes proporções de antigas raças puras ou “tipos Primários”, é enganoso e utópico. Sabe-se que as diferenças genéticas entre populações humanas não são absolutas, mas preponderantemente relativas. Tais diferenças raciais são condicionadas por determinados gens que não raramente diferem entre os próprios indivíduos de uma mesma raça. Essas diferenças manifestam-se de diferentes maneiras. As massas humanas que se encontram geograficamente afastadas exibem diferenças genéticas relativamente mais acentuadas na média, do que as populações que se situam contiguamente. Em suma, chega-se à conclusão de que é uma questão arbitrária dividir-se a humanidade para fins de classificação, em algumas ou inúmeras raças. É evidente , que o número de raças conhecíveis é uma mera questão de conveniência. Todavia, apesar do número de raças conhecíveis ser arbitrário, a existência de diferenças raciais como já salientamos, é um fato objetivamente verificável. Ralph Linton, em vista disso, acha que o problema racial deve ser estudado tendo em vista a sua caracterização como “breeds”, “raças” e “ stoks”. Para o antropólogo norte-americano, “breeds” são pequenos grupos com muitas características idênticas; “raças” são grupos maiores com algumas características idênticas; e “stoks” são grupos enormes com poucas características idênticas. Essas características podem ser: a cor da pele, a cor da Íris, a cor do cabelo, o tipo do cabelo, a morfologia da cabeça, a forma do nariz, a forma dos lábios, a fenda palpebral, o pavilhão da orelha, a estatura, os dentes, os grupos sangüíneos, o índice radiopélvico, etc. Finalmente, a humanidade não constitui uma única população. É um sistema complexo de comunidades cujos indivíduos são inter-férteis. Tais comunidades, são mantidas por barreiras geográficas, econômicas, culturais, são realmente distintas quando diferem na freqüência de características hereditárias. Porém, as diferenças genéticas entre as raças humanas são menos profundas do que entre as raças de várias outras espécies. Há quem considere as raças como produtos do processo histórico da evolução. A evolução da espécie humana, é verdade, foi bastante influenciada por uma história cultural. Desta forma, para se chegar a uma compreensão profunda da natureza humana, incluindo as diferenças raciais, deve-se levar em conta essa situação, além de outras. Justamente, porque todo indivíduo carrega consigo uma herança biológica, todos os grupos raciais existentes no mundo são, por exemplo, portadores de características simiescas de um antepassado comum. Barnett coloca a pergunta: “Qual dos três grupos raciais (caucasiforme, mongoliforme e negriformes) será o mais primitivo? Há quem responda que é o dos negriformes, isto porque, de modo quase geral, não chegaram a constituir sociedades tão evoluídas quanto as dos outros. Todavia, a anatomia comparada demonstra que as coisas não são assim tão simples. É importante, definir, primeiramente, o que entendemos por “primitivo”, termo a que é costume agregar um sentido pejorativo. Cientificamente, um tipo é mais primitivo do que o outro, racialmente falando, quando mais se aproxima do ancestral comum de ambos. Levando em conta que os ancestrais do homem sejam identificados como macacos antropomorfos, primitivos deverão ser os homens que mais se assemelharem a eles. Todavia, sabemos muito pouco dos antropomorfos, que teriam dado origem tanto aos homens como aos macacos atuais, desta forma, temos comparado o homem com os seus afins atuais: o chipanzé e o gorila. Mas estes também passaram por modificações evolutivas semelhantes às do homem e não podem portanto servir de índice de primitividade. Mas, se apesar disso, fizermos a comparação, não chegaremos a uma conclusão decisiva. Os caucasiformes seriam macacóides portanto têm, relativamente, muitos pelos no corpo, cabelos ondulados e lábios finos; de outra parte, no que se refere a disposição da face, seriam os menos macacóides de todos. Os negriformes seriam macacóides no que diz respeito à largura do nariz, mas menos macacóides do que os caucásicos, quanto à grossura dos lábios, estrutura e distribuição dos pelos, etc. É evidente que não podemos dizer, com precisão, qual dos três grupos principais, é o mais primitivo. Adamson Hoebel estabeleceu um quadro onde procura demonstrar que todos os três grandes grupos raciais apresentam a mesma proporção em características simiêscas. Finalmente, os homens e as mulheres, de quaisquer raças citadas, podem entrecruzar-se e dar origem a uma prole de caracteres mistos, sem quaisquer outras dificuldades senão as criadas pelas barreiras sociais, das quais falaremos em outra oportunidade quando abordarmos o problema do preconceito racial. TODOS OS TRÊS GRANDES GRUPOS RACIAIS CARACTERÍSTICAS SIMIÊSCAS (conforme Hoebel) APRESENTAM Características Mais simiesco Menos simiesco Pouco simiesco Índice cefálico Mongolóide Caucasóide Negróide Capacidade craniana Negróide .. .. .. .. .. .. .. Mongolóide,Caucasóide Cor dos olhos Negróide, Mongolóide .. .. .. .. .. .. .. Caucasóide Índice nasal Negróide Mongolóide Caucasóide Forma do cabelo Mongolóide Caucasóide Negróide Comp. do cabelo Caucasóide, Mongolóide .. .. .. .. .. .. .. Negróide Pelo do corpo Caucasóide .. .. .. .. .. .. .. Negróide, Mongolóide Forma dos lábios Mongolóide Caucasóide Negróide Cor dos lábios Mongolóide Caucasóide Negróide Prognatismo Negróide Caucasóide Mongolóide Forma dos olhos Caucasóide, Negróide .. .. .. .. .. .. .. Mongolóide Não há raças superiores ou inferiores, como também não se pode classificar as culturas dentro do mesmo esquema de graduação mental. Em todas as raças há indivíduos mais inteligentes e menos inteligentes, demonstrando os testes psicológicos até hoje realizados a intercorrência de fatores ambientais (culturais) em muito maior grau do que as pretensas virtualidade natas desse ou daquele grupo racial. IDENTIFICAÇÃO FILOGÊNICA DO HOMEM 1. Reino – Animal (Grau Metazoários) 2. Fila – Cordatas a – Subfila – Vertebrados 3. Classe – Mamíferos a - Subclasse - Euthéria 4. Ordem – Primatas a – Subordem – Catarríneos 5. Família – Hominóides a - Subfamília – Hominoídes 6. Gênero – Homo 7. Espécie – Sapiens 8. Variedade – Raças: Caucasóide Mongolóide Negróide, etc. ... a - Subvariedade: Alpina, Mediterrânea Nórdica, etc. ... Hoebel: Man in the Primitive World – MacMillan. G. Morant: Les Différence Raciales et leur Signification - UNESCO P. H. Saldanha: As Diferenças Raciais Humanas – Ver. Ciência e Cultura, n.º 1 Março de 1959 – S.P. A. Barnett: A Espécie Humana – IBRASA – 1959 C. Rebello Horta: A Herança Biológica do Homem, Conceito e Preconceito de Raça – Apostilhas da F. C. E. da UFMG. R. Linton: O Homem – Fondo de Cultura Econômica L. C. Dunn y Th. Dozhansky: Herencia, Raza y Sociedad – Fondo de C. Economica. GRUPOS SANGÜÍNEOS HUMANOS – SISTEMA “A B O” NAFTALE KATZ Se tomarmos hemácias de uma pessoa e misturarmos com o plasma ou soro de outra, poderá ou não haver aglutinação. Landsteiner (1900) baseado nesta experiência estabeleceu a noção de grupos sangüíneos. Trata-se do chamado sistema A B O. Causas – Sabemos que a isohe-moaglutinação (aglutinação entre sangue de seres da mesma espécie), é devido a dois fatores: 1 – aglutinógeno, que é encontrado nas hemácias; 2 – aglutinina, encontrado no plasma. Nomenclatura – Temos dois tipos mais importantes de aglutinógenos (A e B) e dois de aglutinia (alfa e beta) distribuídos da seguinte forma, nos quatro grupos sangüíneos: GRUPO AGLUTINÓGENO AGLUTININA O - ? e ? A A ? B B ? AB AB - Segundo a Liga das Nações (1928) que determinou a nomenclatura oficial indica-se os grupos assim: O ? ? , A ? , B? , AB Anteriormente indicava-se por algarismos romanos (nomenclatura de Jansyk – 1907 – e Moss – 1910). Podemos estabelecer o seguinte quadro comparativo: Nomenclatura Internacional (1928) O ? ? A ? B? AB Jansky (1907) I II III IV Moss (1910) IV II III I Importâncias nas transfusões – Nas transfusões de sangue é essencial que as hemácias (aglutinógeno) do doador não sejam aglutinadas pelo plasma (aglutinina) do receptor. Esta é a lei ou regra de Ottemberg. O caso da aglutinina do doador aglutinar as hemácias do receptor não é tão perigosos (embora não seja conveniente) devido o sangue do primeiro ficar em grande diluição. O ideal é fazer-se transfusões entre pessoas que pertençam ao mesmo grupo sangüíneo. Baseando-se na regra de Ottemberg temos o esquema da compatibilidade sangüínea: O O A B AB AB B B O grupo O é considerado doador universal pois não é aglutinado pelos outros grupos, pois não possui aglutinógeno. Pode doar sangue aos outros três e só recebe do próprio grupo. O grupo AB é receptor universal, pode receber de todos, pois não possui aglutinina e só doa a seu próprio grupo. O grupo A doa a A e a AB e recebe de O e A. O grupo B doa a B e a AB e recebe de O e B. Determinação dos grupos sangüíneos – Se faz por “soros-tipos” estabelecidos pela organização das Nações Unidas. Tomamos uma lâmina e colocamos em cada extremidade uma gota de soro do grupo A e outra do grupo B. Em seguida a cada uma destas acrescentamos uma gota de sangue do grupo que se quer determinar. Mistura-se e espera-se até vinte minutos. A leitura é feita a olho nu, ou ao microscópio. Se somente o soro A aglutina as hemácias, o sangue pertence ao grupo B. Se for o soro B, o sangue será do grupo A. Se ambos os soros (A e B) aglutinam-se as hemácias, o sangue será do grupo AB. Finalmente, se nenhum dos dois sofrer aglutinação o sangue será do grupo O. Além destes aglutinógenos (A e B) temos ainda A1, A2 e A3 (raro) que têm certa importância, pois determinam subgrupos, como A1B, A2B, etc. Herança – Os grupos sangüíneos são hereditários e como tal seguem as leis de Mendel. Segundo Bernstein, parecem existir três fatores genéticos alelomorfos: A, B e r, dos quais um homem pode possuir dois deles. A e B são genes dominantes independentes e indicam a presença dos aglutinógenos A ou B. Por sua vez, r é recessivo e indica a ausência destes aglutinógenos. Assim as possíveis formulas genéticas serão: FENÓTIPO GENÓTIPO (Caráter aparente) (Realidade genética) O rr A AA ou Ar B BB ou Br AB AB É baseado nestas fórmulas que é possível fazer-se a exclusão de um indivíduo, no caso da paternidade duvidosa. Note-se que dissemos exclusão, pois não podemos provar (através dos grupos sangüíneos) que tal pessoa seja ou não pai de determinada criança. Podemos sim, se for o caso, negar ou melhor excluir a sua paternidade. Suponhamos que uma criança seja do grupo A. Que sua mãe também seja do grupo A, e aquele a quem acusam de paternidade seja do grupo O . Há possibilidade deste homem ser pai desta criança? Sim. Pois, baseado nas leis de Mendel teremos: 1ª Hipótese ( ? AA x r r (? ) Ar Ar 2ª Hipótese (? ) Ar x r r (? ) Ar r r ? AA – mãe - dominante pura do grupo A ? Ar – mãe - dominante híbrida do grupo A ? rr – pai - recessivo do grupo O Nestas condições, vemos que o filho pode ser do grupo A ou O. Isto, contudo, não nos indica que esta pessoa seja realmente o pai, mas mostra-nos a possibilidade de ser. E se a criança fosse do grupo B? Imediatamente excluiríamos este homem (do grupo O) do rol dos suspeitos, pois, vimos acima, que o filho deste indivíduo só poderia ser A ou O (no caso da mãe ser A). Com os quatro grupos sangüíneos clássicos (A, B, AB e O) um homem sobre cada 7 (sete) tem possibilidades de provar que não é o pai de um suposto filho. Mas, podemos usar outros sistemas como o MN e reduziremos a possibilidade a 1: 3. Se usarmos também Rh e Hr, podemos chegar à conclusão de uns 50% dos casos. Variações raciais – A proporção relativa dos grupos sangüíneos varia com os grupos étnicos. Exemplos: O A B Italianos .............. 37,35 44,95 11,45 6,25 Russo .................. 32,80 39,60 19,60 8,00 Alemães do Oeste 39,20 46,60 Árabes ................ 35,10 44,10 Portugueses ........ 41,64 47,17 9,50 11,30 8,25 AB 4,30 9,50 2,93 (Dados segundo Varella – Fundamentos de la Hematologia) Observação: Todos esses grupos pertencem a um único “stock” racial: caucasóide. Fato interessante a notar é que, em populações que viveram muito tempo isoladas, como muitas tribos de nosso país, constata-se que são 100% do grupo O. Assim, também nos subgrupos, o A1 é 4 a 6 vezes mais comum que o A2 nos brancos. O A2 é mais freqüente nos negros e ausente nos mongolóides. (Houssay) Variedades conhecidas – Com os grupos e subgrupos conhecidos tínhamos até pouco tempo atrás 288 tipos (seg. Varella), agora se reconhecem 2.560 variedades possíveis de sangue (seg. Snyder) e classificado os Hr se chega a 8.640 (Houssay). Note-se que a tendência é crescer, devido a novos aglutinógenos que se descobre a cada dia. O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO NORDESTE DE MINAS MARCOS MAGALHÃES RUBINGER A necessidade do Estudo Interdisciplinar das áreas “Alto Jequitinhonha e Pardo” e “Vale Jequitinhonha”. Dentro de critérios econômicos, é possível definir o nordeste de Minas como “áreas de sistema binário”. Este sistema é formado por duas áreas gravitantes de característica polar. A primeira área corresponde ao “Alto Jequitinhonha e Pardo”, e a segunda ao “Vale Jequitinhonha”. No seu conjunto, o sistema encerra um potencial adormecido, a espera da pesquisa, do planejamento e dos investimentos de vulto para um real integração no desenvolvimento econômico de Minas e do Brasil. Dentro de uma focalização histórica, tão logo os bandeirantes devassaram os nossos sertões, na era dos andarilhos, dos aventureiros e dos tropeiros, a região teve sua fase áurea com a exploração incipiente das lavras e a criação de rebanhos mais ao sul. Todavia, o progresso vertiginoso de outras regiões do Estado e do País, mais diretamente beneficiados pelos transportes e pelos capitais, foi sufocando, pouco a pouco, uma região que, desde muito, em situações planejadas, poderia ter se arrancado da drástica situação de subdesenvolvimento em que se encontra. Porém, quando as possibilidades de desenvolvimento crescem dia a dia; quando uma BR-4 já atravessa toda a vasta região, servindo de ponte para estreitas vinculações da economia nordestina com a do centro-sul, não se justifica mais uma situação quietista frente ao assombroso potencial do Vale do Rio Jequitinhonha. Em termos econômicos, sugerimos que a pesquisa e o planejamento para a decolagem das áreas do nordeste de Minas, sejam executadas obedecendo à moderna técnica de levantamento interdisciplinar de áreas. Tendo em vista que as condições geográficas e os recursos naturais se diversificam ao ponto de constituir um sistema binário, e cujos dois componentes gravitantes constituem áreas de potencial econômico e sociológico de certa disparidade, a focalização interdisciplinar da região deveria contar com a participação de economistas, geógrafos, engenheiros, médicos, antropólogos e sociólogos. Como colocação preliminar do problema, elaboramos uma síntese da situação global das duas áreas que caracterizam o nordeste de Minas Gerais: Área do Alto Jequitinhonha e Pardo Caracteriza-se por um pequeno aproveitamento das terras seja para culturas ou pastos (menos de 30%), em face da má qualidade dos solos derivados de rochas arqueanas e alonquianas, bem como, por causa do relevo bastante acidentado que se estende pela serra do Espinhaço ou serra Geral até o limite com a Bahia. Os sistemas adaptativos da cultura traduzem a característica de propriedade ecologicamente dividida. A zona de Minas Novas, até Diamantina, parte da serra Geral, a zona de Salinas, a de Espinhosa, Monte Azul e Rio Pardo, constituem antiga região de mineração do ouro e diamantes desbravada por bandeiras (século XVIII). Essas localidades conservam, ainda hoje, embora de forma decadente, a indústria extrativa mineral como principal atividade econômica e que constitui a sua vocação futura. É uma área de pequenas propriedades. As fazendas e os sítios abrangem em Minas Novas apenas 14,5% da área municipal, e em Diamantina, atingem 15%. Nesses municípios, as subáreas de terras devolutas e improdutivas, bem como o número de fazendas não exploradas são muito grandes. É possível supor que a divisão da propriedade foi aí indiretamente provocada pela economia mineradora. Nessa área de comunicações difíceis, gerou-se em torno dos centros de mineração uma corrente de pequenos sítios dedicados a uma incipiente agricultura de subsistência: pequenas plantações de milho, mandioca, feijão, arroz, para o abastecimento dos faiscadores e garimpeiros. A densidade de população é aí, muito rarefeita; relacionando a população rural com a área total dos municípios de Minas Novas e Diamantina, a sua densidade seria em média, 6 habitantes por quilometro quadrado. Tendo em vista o problema da mão de obra, é impossível compreender uma área de pequenas propriedades com uma população tão rala. Nestas condições, deve-se relacionar a população rural somente com a área ocupada, ou seja 24 habitantes por quilometro quadrado de área preenchida em Minas Novas e Diamantina. Por outro lado, há uma grande subdivisão da propriedade nos municípios localizadas nas circunjacências da serra Geral, tais como: Rio Pardo, Monte Azul e Espinosa. Nos dois últimos, grande parte é tomada pela mata da Jaíba nos vales dos rios Verde Grande e Verde Pequeno. Ali grassa a malária endêmica e, por isso mesmo, é quase desocupada. Ao sul de Minas Novas, no vale de Suaçui Grande, localizam-se os seguintes municípios: Santa Maria do Suçui, Peçanha, São João Evangelista e Rio Vermelho; no vale do Mucuri: Malacacheta, Teófilo Otoni e Poté. Todos esses municípios localizamse em zonas de solos mais aproveitáveis, derivados da decomposição de rochas cristalinas. Sem perder a sua característica de pertencer a uma área de mineração, apresentam, contudo, maior parcela da terra aproveitada e aproveitável (70% para pastagens e outra parte agrícola). Além da agricultura de subsistência, existem plantações de algodão e mamona. A área total mantém relações com Montes Claros ou Diamantina, servidas por rodovias e pela Estrada de Ferro Central do Brasil; com Governador Valadares pela BR-4 e outras incipientes estradas; com a área do Vale Médio Jequitinhonha pela BR-4, pequenos trechos navegáveis e outras incipientes estradas. Finalmente, a vocação marcante da Área do Alto Jequitinhonha é a “indústria mineral”. Área do Vale Médio do Jequitinhonha Localiza-se no extremo nordeste do Estado, e caracteriza-se, ao contrário da sua componente binária, como uma área de grandes propriedades que se estende para o sul até o rio Mucuri. Por isso, mesmo, até hoje, alguns grupos indígenas, encontram ali, rincões perdidos onde conseguem sobreviver. A principal atividade econômica dessa área é a pecuária. Os municípios com ampla criação e dotados de maior espaço em pastos, mais de 70%, situam-se no Vale do Jequitinhonha, são eles: Almenara, Jequitinhonha, Pedra Azul e Medina. É preciso salientar o processo de inter-relações com outros sistemas de áreas. É o caso do gado criado nesses municípios que vai quase todo engordar nas invernadas de Montes Claros, de Curvelo e de Corinto. Por sua vez, grande parte do abastecimento dos mercados de Belo Horizonte e Rio de Janeiro é preenchida pelo gado criado na Área do Vale do Jequitinhonha, fato este, que reclama um maior atendimento das suas necessidades econômicas para que a oferta possa atender ao crescente aumento de procura sulina. Nessa área, a lavoura é bastante reduzida, ocupando menos de 6% do espaço produtivo. Mais ao sul, na zona de Mucuri, densidade de população é insignificante, e as matas preenchem mais de 40% do espaço produtivo. A principal atividade econômica é a extração de madeiras. Justifica-se aí, então, um certo incremento da indústria extrativa mineral que, já existe em pequena escala. Extrai-se mica, pedras coradas e cristal de rocha. Há grande deficiência dos meios de transporte. A insalubridade da região é marcante, constituindo sério impecilho ao desenvolvimento. A fixação do homem nas terras por fazendas e sítios está abaixo de 50%; em Itambacuri apenas 15,3% do espaço municipal são ocupados pelas propriedades rurais. Todavia, a área tem grandes possibilidades econômicas de desenvolvimento, devido ao seu solo fértil, ao volume pecuário e as suas enormes extensões de matas. Conclusão: O sistema binário formado pelas duas áreas econômicas que estão localizadas no nordeste de Minas Gerais, em face das preliminares acima estabelecidas, reclama uma urgência aceleração no seu desenvolvimento. São áreas que servem a outros sistemas econômicos do Estado e do País, e pelas possibilidades industriais que apresentam com reais vantagens para a economia nacional, devem ser colocadas numa ordem de prioridade mais vantajosa quanto ao desenvolvimento econômico. Este desenvolvimento deverá se fazer tendo em vista as vocações das duas áreas acima delineadas. É importante frisar aqui o constante descobrimento de jazidas de minérios atômicos em diversos pontos dessas áreas. Em suma justifica-se novo estudo de campo em toda a região, isto porque, os existentes não obedeceram às técnicas modernas de pesquisas que o planejamento racional exige. Vimos, sucintamente que os problemas das áreas são de naturezas: geográfica, econômica, sanitária, humana, etc., por conseguinte, a focalização da pesquisa deve ser de caráter disciplinar. Numa região onde ainda vivem indígenas (tribo de Maxakali, à qual o serviço de proteção aos índios juntou, recentemente, um grupo de índios Crenaks), não se pode promover o desenvolvimento econômico fora da focalização interdisciplinar. Evidentemente, é possível modificar uma economia, implantar uma infra-estrutura econômica e dar-lhe o desenvolvimento almejado, sem que se modifique o homem. É uma conclusão pacífica a de que nenhuma economia pode estabelecer-se enquanto não surge o correspondente tipo humano. Pela mesma forma, nenhuma mudança na estrutura social das duas áreas que focalizamos poderá ser realizada sem o elemento humano para esse fim. Fato relevante que deve ser salientado, é a crescente formação de cientistas e profissionais filhos de inumeráveis famílias da região Nordeste de Minas. Esta circunstância é bem o retrato da inquietação pela qual está passando o Vale do Jequitinhonha na ânsia de arrancar do marginalismo criado por um sistema econômico arcaico e obsoleto. Economistas, sociólogos, antropólogos e geógrafos é que vão dizer, conjuntamente, como o povo de Minas vai sair do subdesenvolvimento e ingressar numa fase de prosperidade. Compete ao governo a iniciativa.