FLORESTA AMAZÔNICA: ESPAÇO NÃO

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FLORESTA AMAZÔNICA: ESPAÇO NÃO-FORMAL POTENCIAL
PARA APRENDER BOTÂNICA
ARAÚJO, Joeliza Nunes1-UEA
SILVA, Maria de Fátima Vilhena da2 - UFPA
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: FAPEAM
Resumo
No presente trabalho analisamos as potencialidades da diversidade vegetal Amazônica para
promover aprendizagem significativa de Botânica. Para esta pesquisa adotamos os
procedimentos metodológicos: seleção de uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio de
uma escola pública; Selecionamos a área de floresta nativa “Raimundo Reis” para
desenvolvimento de atividade de campo. Realizamos duas visitas ao espaço não-formal para
conhecer as características da floresta e realizar a atividade de campo. Após a atividade, os
alunos responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas. As analises dos
resultados foram realizadas à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel,
com base no significado de espaços não-formais abordados por Jacobucci, Pivelli, Marandino
e aulas de campo abordados por Tomita, Seniciato e Cavassan, Ikemoto. Durante visitas à
área de floresta percebemos suas potencialidades para o ensino de Botânica e elegemos temas
a serem abordados. Durante a atividade os alunos fizeram um passeio pela trilha no qual
abordamos temas em Botânica. Nas respostas ao questionário, expuseram que a atividade
proporcionou um momento de aprendizado sobre os vegetais e contribuiu para sensibilizá-los
sobre a preservação dos recursos naturais. Concluímos que, a pesquisa foi relevante por
evidenciar as potencialidades da floresta Amazônica como um espaço não-formal para
promover a aprendizagem significativa de Botânica. Percebemos que os recursos presentes na
Floresta Amazônica são relevantes para motivar os alunos a aprender Botânica pelo apelo
estético que influencia as emoções e os sentimentos. Ademais, a pesquisa contribuiu para o
desenvolvimento da alfabetização científica como possibilidade de formação de cidadãos
críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
Palavras-chave: Floresta Amazônica. Ensino de Botânica. Espaços Não-formais.
Introdução
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Rede Amazônica em
Ensino de Ciências e Matemática. E-mail: [email protected].
2
Doutora em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail:
[email protected].
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A diversidade biológica é uma característica específica da Amazônia. Sua floresta
possui uma grande variedade de espécies nativas pouco estudadas e distribuídas
principalmente em florestas de terra-firme, várzea e igapó. Essa diversidade florística e
faunística constitui-se numa ferramenta potencial para subsidiar o ensino e aprendizagem em
botânica.
Sua imensa floresta nativa pode funcionar como um laboratório vivo para o
desenvolvimento de atividades de ensino e de pesquisa. Os elementos bióticos como as
árvores, os animais, os fungos e os elementos abióticos como a água presente nos rios e
riachos, o solo podem constituir-se em recursos pedagógicos para o Ensino de Ciências e
Biologia.
O uso de alternativas metodológicas de ensino em espaços não-formais, em especial,
as reservas da megabiodiversidade amazônica pode permitir aos professores de Biologia dar
sentido ao conteúdo específico de Botânica e integrá-los às demais disciplinas do currículo
escolar (ARAÚJO, 2009). Segundo as DCNEM (BRASIL, 1998), a contextualização do
ensino de ciências naturais é a forma pela qual o professor pode dar sentido ao conteúdo
específico de sua área e integrá-lo às demais disciplinas do currículo escolar.
Nesse sentido, o presente trabalho teve o objetivo de analisar potencialidades para
promover aprendizagem significativa de Botânica.
Espaços Não-formais de Educação
Os espaços formais de Educação constituem-se nos espaços escolares com todas as
suas dependências como salas de aula, laboratórios de ciências, laboratório de informática,
quadra poliesportiva, biblioteca, videoteca, cantina e refeitório. A educação realizada nos
espaços formais é formalizada, garantida por Lei e organizada de acordo com um padrão
estabelecido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Os espaços não-formais de Educação são espaços diferentes da escola onde é
suscetível de ocorrer uma ação educativa. São instituições e não instituições em que ocorre a
educação não-formal. Jacobucci (2008, p. 56) descreve que:
Na categoria Instituições, podem ser incluídos os espaços que são regulamentados e
que possuem equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso
dos Museus, Centros de Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos,
Jardins Botânicos, Planetários, Institutos de Pesquisa, Aquários, Zoológicos, dentre
outros. Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação
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institucional, mas onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria
Não-Instituições. Nessa categoria podem ser incluídos teatro, parque, casa, rua,
praça, terreno, cinema, praia, caverna, rio, lagoa, campo de futebol, dentre outros
inúmeros espaços.
Desse modo, a Educação Formal é aquela ligada ao espaço escolar e apresenta um
programa sistemático de ensino, leis e normas com um currículo rígido. Enquanto a Educação
não-formalocorre em ambientes fora da escola, como Museus e Zoológicos (GOHN, 2006)
por meio de metodologias e currículos flexíveis tendo o aluno como centro do processo de
ensino e aprendizagem.
Marandino (2008, p. 13) difere educação formal e educação não-formal da seguinte
forma:
Educação formal: sistema de educação hierarquicamente estruturado e
cronologicamente graduado da escola primária à universidade, incluindo os estudos
acadêmicos e as variedades de programasespecializados e de instituições de
treinamento técnico e profissional.
Educação não-formal: qualquer atividade organizada fora do sistema formal de
educação, operandoseparadamente ou como parte de uma atividade mais ampla, que
pretende servir a clientes previamenteidentificados como aprendizes e que possui
objetivos de aprendizagem.
Embora seja consenso entre os autores que a Educação não-formal é diferente da
Educação formal por utilizar ferramentas didáticas diversificadas e atrativas, isto nem sempre
é verdade. Há muitos exemplos de professores que adotam estratégias pedagógicas variadas
para abordar um determinado conteúdo, fugindo do tradicional método da aula expositiva não
dialogada. E também há exemplos de aulas tradicionais e autoritárias que são realizadas em
espaços não escolares.
Para Pivelli (2006, p. 75) “a estrutura que caracteriza a educação não-formal não
indica que não exista uma formalidade e que seu espaço não seja educacional; ambas as
condições estão presentes, porém de uma maneira diversa da escola”. A educação não formal
pode preencher as lacunas deixadas pela educação escolar e é importante ressaltar que esta
forma de educação sempre coexistiu com a educação formal.
Outro tipo de educação considerada é a educação informal que “abrange todas as
possibilidades educativas proporcionadas ao longo da vida de um individuo, constituindo um
processo permanente e não organizado” (PIVELLI, 2006, p. 74). A educação informal pode
ser transmitida pelos pais, por amigos, pela leitura de livros, revistas e jornais. É um tipo de
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educação decorrente de processos naturais mesmo que seja carregada de valores e
representações.
O termo espaço não-formal tem sido utilizado por pesquisadores e profissionais que
trabalham com divulgação científica para descrever lugares, diferentes do espaço escolar,
onde é possível desenvolver atividades educativas. Jacobucci (2008) afirma que a definição
do que é um espaço não-formal de Educação é muito mais complexa do que se pode imaginar.
Apesar do termo espaço não-formal ser constantemente usado para definir lugares em que
pode ocorrer uma Educação não-formal, a conceitualização do termo ainda está sendo
construída.
Alguns espaços não-formais têm se constituído como um campo para diversas
pesquisas em Educação que buscam compreender as relações entre os espaços não-formais e a
Educação formal. Concomitantemente, esses locais são utilizados por alunos e professores
para a obtenção de conhecimentos científicos pelas potencialidades que apresentam em
favorecer o trabalho interdisciplinar, a contextualização, a motivação, a divulgação da ciência
e da tecnologia e, promover a alfabetização cientifica (PRAXEDES, 2009, p. 29).
As aulas em espaços não-formais favorecem a observação e a problematização dos
fenômenos naturais. Segundo Almeida e Terán (2011, p. 5) a visita a espaços não-formais é
uma estratégia para o ensino-aprendizagem, podendo corroborar com o conteúdo estudado em
sala de aula. Nesses ambientes, o aluno tem a possibilidade de realizar observações in loco de
seres vivos (plantas, animais e fungos) que não é possível em sala de aula.
Aulas de campo para estudar ciências
Uma visita a um espaço não formal pode estimular o aprendizado além de promover o
exercício da cidadania por meio das atividades educativas. Marandino (2008, p. 21) descreve
que a aprendizagem em espaços não-formais “pode ocorrer num diálogo constante entre o
indivíduo e o ambiente e, para compreendê-la, é necessário considerar o contexto no qual
transcorre uma visita”. Para a autora deve-se considerar o contexto físico, o contexto pessoal e
o contexto sociocultural que envolve todas as formas de mediação que o individuo estabelece
durante a visita.
As aulas de campo são instrumentos eficientes para o estabelecimento da relação
homem e natureza (SENICIATO; CAVASSAN, 2004). Em se tratando de aulas de Ciências
Naturais e Biologia realizadas em ambientes naturais, os autores concordam que estas “têm
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sido apontadas como uma metodologia eficaz tanto por envolverem e motivarem crianças e
jovens nas atividades educativas, quanto por constituírem um instrumento de superação da
fragmentação do conhecimento” (2004, p.134).
Cordeiro, Wuo e Morini (2010) defendem que as atividades de campo permitem
observações, coleta de dados, análise e inferências em situações reais. Para os autores são
experiências que “auxiliam os alunos a confrontar suas concepções sobre a natureza da vidae
oferecem oportunidades para obter e analisardados, construir modelos, fazer analogias e
diversificar suas vivências perceptuais” (2010, p. 247). Por meio dessas atividades os alunos
são capazes de construir significados e compreender os fenômenos biológicos.
Para Tomita (2009) a saída dos alunos a campo incentiva atitudes investigativas,
levando-os a analisar a própria realidade em que vivem. Além disso, o trabalho de campo bem
planejado e bem conduzido traz retorno para a aprendizagem significativa, sendo
indispensável para o ensino de Botânica.
Os ambientes naturais favorecem abordagens investigativas (aprendizagem ativa) e
permitem maior integração entre os fatores afetivos e cognitivos. Em uma pesquisa feita por
Seniciato e Cavassan (2008), os autores evidenciaram que a motivação e o interesse pelas
aulas de ciências são mais frequentes quando são desenvolvidas em ambientes naturais em
comparação com aulas expositivas tradicionais em sala de aula. Isso é possível,
principalmente, se o ambiente de estudo for familiar aos alunos.
Em se tratando especificamente de aulas de campo para a aprendizagem de conteúdos
de Botânica em espaços não-formais, sabemos que o trabalho de campo aliado à observação
pode ser relevante para o ensino de Botânica, já que as plantas podem ser estudadas como um
todo e em interação com o ambiente natural. Esse tipo de atividade aguça a percepção, o
senso estético e a curiosidade do aluno em relação às plantas, motivando-o para o aprendizado
na escola e a busca de mais informações por conta própria e a ter atitudes mais responsáveis e
cidadãs em relação às plantas (IKEMOTO, 2007).
Metodologia
Para esta pesquisa adotamos os seguintes procedimentos metodológicos: seleção de
uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio que estudam em uma escola pública para a
pesquisa de campo. Os critérios para seleção da escola e da turma foram: a familiaridade com
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a equipe de professores e alunos da escola e porque o conteúdo de Botânica está no programa
do 3º ano do Ensino Médio.
Selecionamos uma área de floresta nativa localizada na Comunidade do Macurany,
município de Parintins/AM para desenvolvimento da atividade de campo em Botânica com
alunos do Ensino Médio. Realizamos duas visitas ao espaço não-formal “Raimundo Reis” nas
quais foi possível conhecer as características da floresta e realizar a atividade de campo. As
característica que foram levadas em conta na escolha do local foram: presença de espécies
nativas da floresta amazônica, diversidade de seres vivos e acesso favorável a visitação.
Após a atividade de campo, os alunos responderam um questionário com perguntas
abertas e fechadas. Para análise dos resultados os alunos foram identificados como A1, A2,
A3, ... etc. a fim de manter em anonimato a identidade dos participantes da pesquisa. As
analises dos resultados obtidos na pesquisa foram realizadas à luz da Teoria da Aprendizagem
Significativa de David Ausubel, com base no significado de espaços não-formais abordados
por Jacobucci, Pivelli, Marandino e aulas de campo abordados por Tomita, Seniciato e
Cavassan, Ikemoto dentre outros autores.
Resultados e discussão
A floresta de Terra Firme selecionada para a atividade de campo possui uma área de 2
hectares. Durante as visitas foi possível perceber suas potencialidades para o ensino de
Botânica elegendo-se temas suscetíveis de serem abordados em atividades de campo. Os
temas são: Florestas Tropicais; diversidade vegetal; características das florestas de Terra
Firme; plantas epífitas; plantas parasitas; plantas hemiepífitas; raízes tabulares; morfologia
dos órgãos vegetativos (folhas, caule e raízes) e dos órgãos reprodutivos (flores e frutos);
crescimento primário e secundário das angiospermas; plantas invasoras como Selaginellasp.;
lianas (cipós); taxonomia e sistemática das angiospermas e pteridófitas. Outros temas
relacionados à ecologia como interações ecológicas e sucessão ecológica também podem ser
abordados em atividades de campo em Botânica no espaço não-formal em estudo.
Após a visita ao espaço “Raimundo Reis” e a identificação de suas potencialidades
para o ensino de Botânica realizou-se a atividade de campo. Durante a atividade os alunos
observaram a floresta fazendo registros em seus cadernos sobre suas impressões da floresta
(Fotos 01 e 02). Após o registro, cada aluno pode falar sobre suas observações e impressões
iniciais do local.
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Foto 01. Atividade individual.
Fonte: Atividade de campo ( 2012).
Foto 02. Atividade individual.
Fonte: Atividade de campo ( 2012).
Após os alunos apresentarem oralmente suas observações, o professor os conduziu
pela trilha abordando os assuntos: diversidade vegetal presente na área (Foto 03);
Angiospermas: diferença morfológica entre as plantas monocotiledôneas e dicotiledôneas;
órgãos vegetativos (raiz, caule e folhas) e órgãos reprodutivos (flores e frutos) e, também,
outras características das angiospermas, como o crescimento primário e o crescimento
secundário (Foto 04). Abordamos sobre as plantas invasoras como Selaginella sp. e os
prejuízos que elas podem causar para a vegetação nativa; a serapilheira com suas
características e seus principais benefícios para a floresta Amazônica; a presença das lianas
(cipós) que é uma característica da Floresta Amazônica; mostramos a associação simbiótica
entre alguns seres vivos como os liquens e outras associações harmônicas e desarmônicas que
foram encontradas ao longo da trilha. Dentre os temas abordados, apenas Angiospermas já
havia sido tratado e discutido em sala de aula.
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Foto 03. Diversidade vegetal da floresta.
Fonte: Atividade de campo (2012).
Foto 04. Crescimento secundário.
Fonte: Atividade de campo (2012).
Durante o passeio pela trilha fizemos uma parada dentro da floresta para a realização
da atividade denominada “Prática do Pé Ecológico”. A prática do pé ecológico consistiu em
que todos os alunos, inclusive o professor, tirassem o tênis e pisassem no chão para contato
direto com o solo da floresta. Na atividade, o contato direto com o ambiente natural favoreceu
a aprendizagem em botânica. Esse contato com o ambiente é eficiente para a aprendizagem,
pois o contexto proporcionou uma visão mais integrada dos fenômenos e maior envolvimento
emocional do aluno com o assunto, acarretando em aumento do conhecimento (SENICIATO;
CAVASSAN, 2009).
Outra atividade realizada na floresta foi o “Abraço da árvore”, na qual cada aluno
adotou uma árvore e a abraçou. Em seguida, cada aluno falou sobre a importância da
preservação da floresta amazônica para as gerações presentes e futuras.
Após a realização das atividades de campo, os alunos responderam aos questionários,
nos quais expuseram suas impressões da atividade de campo. Apresento algumas dessas
respostas:
Achei muito boa a atividade no campo, pois tivemos contato direto com a natureza e
conhecemos coisas que não tínhamos conhecimento (A1).
Nós observamos coisas incríveis, coisas que desconhecíamos e isso estimulou nosso
aprendizado, enriqueceu nossa mente. Bom, foi ótimo (A2).
As respostas dos alunos A1 e A2 evidenciam que a atividade proporcionou um
momento de sensibilização no contato com o ambiente da floresta. Essa afetividade é um bom
começo para motivar o aluno a aprender o que nos propomos com a visita. O apelo estético da
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floresta influencia nas emoções e nos sentimentos e, por conseguinte, desperta o interesse e
motiva para a aprendizagem do conteúdo científico. Nesse sentido, sabemos que a
aprendizagem significativa pressupõe que o aluno manifeste uma disposição para relacionar o
novo material à sua estrutura cognitiva (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN,1980) e, nesse
aspecto, a motivação é condição necessária para a aquisição de novos conhecimentos.
Quanto ao momento da atividade de campo considerado mais importante para os
alunos:
No momento em que nós adotamos uma árvore, porque as árvores são importantes
para a sobrevivência humana e por que ela dispõe de muitos recursos (A1);
A parte mais importante foi quando encontramos algumas plantas que não tínhamos
contato com as mesmas: vários fungos que se alimentam de madeira e que
sobrevivem de outra matéria (A5).
É perceptível que a aula de campo contribuiu para sensibilizar os alunos sobre a
necessidade de preservação dos recursos naturais presentes na Floresta Amazônica e
aprendizagem de novos conhecimentos científicos. O conceito de meio ambiente apresentado
pelo aluno A1 é utilitarista, no sentido de que o ambiente é fornecedor de vida e de recursos
para a nossa sobrevivência. Sauvé (2005) identifica categorias para os diferentes tipos de
concepções sobre meio ambiente: o meio ambiente natureza; o meio ambiente recurso; o meio
ambiente problema; o meio ambiente sistema; o meio ambiente lugar; o meio ambiente
biosfera; o meio ambiente projeto comunitário. Para a autora, “a análise dessas proposições
permite identificar uma pluralidade de correntes de pensamento e de prática na educação
ambiental: naturalista, conservacionista, solucionadora de problemas, sistêmica, holística,
humanista, crítica, bio-regional, feminista, etc.” (SAUVÉ, 2005, p. 319).
Constatamos na fala de A5 que a atividade foi importante para a aquisição de novo
conhecimento, ou seja, o aluno superou o conhecimento prévio. Para Ausubel, Novak e
Hanesian (1980) o fator isolado mais importante influenciando a aprendizagem é aquilo que o
aprendiz já sabe. As novas ideias devem se relacionar a aspectos relevantes que já se
encontram na sua estrutura cognitiva: os subsunçores. Para que ocorra a aprendizagem
significativa é necessário que o conteúdo de ensino esteja relacionado com a realidade do
aluno, ou seja, o material de aprendizagem precisa fazer sentido para o aluno. Nesse caso, o
conhecimento que o aluno já traz consigo deve ser considerado pelo professor.
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Ao tratarmos da importância de preservação da floresta Amazônica os alunos
responderam:
É importante preservar a floresta amazônica por que ela é essencial para a vida, dela
tiramos o nosso sustento e também matéria-prima para construção de móveis e casa
(A1);
Devemos cada vez mais preservar a Amazônia ela é um fator muito importante para
a nossa sustentabilidade e do nosso planeta devemos parar de desmatar a floresta ela
é um fator muito rico para a nossa sobrevivência (A4).
Na resposta de A1 percebe-se a concepção utilitarista de meio ambiente, isto é, a
natureza a serviço dos homens e A4 apresenta uma preocupação com a preservação
ambiental.
Quando questionados sobre a importância de estudar as plantas em um ambiente
natural (floresta) os alunos defendem que:
É importante porque nós não ficamos somente na parte teórica, mas também a
conhecemos pessoalmente e aprendemos melhor (A1);
Estudando em um ambiente natural nós tiramos dúvidas que em sala de aula nós não
temos o privilégio de conhecer. E ela nos transmite vontade de aprender mais (A3);
A importância é muito grande, pois conhecemos onde elas [as plantas] se
reproduzem e como são suas características naturais. Isso faz com que aprendemos
mais a respeito de nossa floresta (A5).
Notamos que os alunos se sentem privilegiados e motivados com a oportunidade de
participar de uma atividade de campo em Botânica. Ausubel; Novak e Hanesian (1980, p. 34)
descrevem que uma das condições para a ocorrência da aprendizagem significativa é que “... o
aluno manifeste uma disposição para a aprendizagem significativa – ou seja, uma disposição
para relacionar, de forma não arbitrária e substantiva, o novo material à sua estrutura
cognitiva”. Isso significa que uma das condições para a aquisição de novos conhecimentos é a
motivação do aluno. Neste sentido, o contexto cultural e o contato com o ambiente natural
associados aos conhecimentos prévios foi uma motivação para a aprendizagem significativa.
Os alunos compreenderam que participar de atividades de campo pode ser útil para adquirir
novos conhecimentos, relacionar teoria e prática e tirar dúvidas existentes sobre o conteúdo de
botânica.
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Em se tratando da pergunta sobre as características das angiospermas, 90% dos alunos
relacionou-as com sua capacidade de produção de frutos e reprodução. As respostas
apresentadas são uma indicação de que houve aprendizagem significativa.
Dos alunos entrevistados 83% afirmaram que a atividade de campo foi excelente e
justificaram:
Excelente por que a atividade foi muito precisa aprendemos mais, trouxe
conhecimento das plantas que não sabíamos, como as angiospermas (A2);
Bom nós tiramos dúvidas, esclarecemos o que nós não estávamos entendendo. Eu
acho excelente pelo fato de conhecermos de perto os mistérios das plantas (A3);
Porque aprendemos cada parte de uma planta e também observamos alguns tipos de
fungos a natureza nos oferece, que muito das vezes não tivemos contato com os
mesmo. Isso foi uma pesquisa muito importante pra todos nós (A4);
Foi excelente por que é muito chato ficar só na sala de aula só na parte teórica, então
foi muito boa essa atividade de campo, onde nós conhecemos as plantas (A6).
Os alunos foram capazes de comparar as aulas teóricas em sala de aula e a atividade de
campo como sendo esta última relevante para o conhecimento dos vegetais. Apesar de os
esforços de educadores em defesa da aprendizagem significativa, o que ainda se presencia em
muitas escolas é “o ensino de botânica teórico, desestimulante, reprodutivo, com ênfase na
repetição e não no questionamento, seguindo sempre um único caminho de aprendizagem:
repetir afirmações do livro” (KINOSHITA et al.,2006).
Conclusão
Concluímos que a pesquisa foi relevante por evidenciar as potencialidades da floresta
Amazônica como um espaço não-formal para promover a aprendizagem significativa de
Botânica. Percebemos que os recursos presentes na Floresta Amazônica são relevantes para
motivar os alunos a aprender Botânica pelo apelo estético que influencia as emoções e os
sentimentos.
As falas dos sujeitos pesquisados evidenciaram que a atividade de campo
proporcionou momentos de construção de novos conhecimentos em Botânica e contribuiu,
ainda, para sensibilizá-los sobre a importância da preservação ambiental.
A participação e envolvimento dos alunos na atividade de campo mostraram que o
contato direto com os vegetais promove a motivação para a aprendizagem de conhecimentos
31018
científicos. Nesse estudo a floresta Amazônica constituiu-se em um laboratório vivo para o
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em Botânica.
Ademais, a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento da alfabetização científica dos
alunos do 3º ano do Ensino Médio como possibilidade de formação de cidadãos críticos e
conscientes de seu papel na sociedade.
REFERÊNCIAS
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