Empreendedorismo no Ensino de Ciências Autora: Aparecida Alexandrina Carvalho da Silva, Especialista em Educação Ambiental, Bacharel em Ciências Biológicas, Pedagoga, professora de Ciências do Colégio Luterano São Paulo. Relato de Experiência Como ensinar ciências para adolescentes que querem qualidade de vida, cuidar do corpo e do ambiente, mas tem preocupação de sucesso financeiro futuro? Através de práticas de laboratório, pesquisa e incentivo para a criatividade preparando cosméticos naturais e montando um micro empresa. A atividade foi proposta aos alunos de 8º ano que estudam corpo humano. Comentando sobre obesidade, problemas de pele e atividade física os estudantes comentaram sobre as profissões em alta no mercado, personal trainner, estética e plástica, devido à mídia explorar além da saúde o culto a beleza. Através da observação e da aprendizagem, o homem foi capaz de criar, desenvolver e disseminar seus conhecimentos ao aprender a caçar, proteger-se do frio e dos outros animais, construir abrigos, ferramentas e instrumentos de metais como cobre, bronze e ferro. Desde cedo o homem foi um empreendedor. O empreendedorismo no Brasil a partir da década de 1990 vem crescendo mediante as dificuldades sócio-econômicas que diminuíram a oferta de emprego e impulsionou a necessidade de investir no próprio negócio. Diante desta realidade a sociedade brasileira precisou elaborar ações para serem desenvolvidas pelas instituições responsáveis pelo desenvolvimento da nação elaborando e implantando políticas educacionais para atender as necessidades atuais. No nível da educação fundamental, o ensino de empreendedorismo objetiva desenvolver nos alunos qualidades pessoais como criatividade, iniciativa e independência, que contribuam para o desenvolvimento da atitude empreendedora, que será útil em suas vidas e em qualquer tipo de trabalho. A pessoa empreendedora deve possuir a capacidade de trabalhar com as informações, comunicação e em equipe, administra as finanças, logística, produção, marketing, tomada de decisão e negociação, perseverança, disciplina, habilidades de correr riscos e saber inovar mediante a diversidade do meio e as atitudes próprias de cada um. "Bons profissionais e líderes empresariais ou comunitários devem saber calcular riscos e enfrentar frustrações, além de ter autonomia para traçar metas", afirma Augusto de Franco, coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED), programa público desenvolvido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e entidades internacionais. Fernando Dolabela, autor de livros sobre empreendedorismo, vê no tema a oportunidade para os jovens começarem a perceber a responsabilidade que têm na construção do próprio destino. Para ele, empreender significa acreditar que pessoas e comunidade são capazes de se desenvolver pela cooperação: "Se a turma aprender isso, criar uma empresa ou conseguir emprego vira desafio fácil de enfrentar". Para passar o conceito à garotada, Augusto de Franco diz que só é preciso ter disposição para encorajar o aluno a exercitar a imaginação e a planejar o futuro. Cabe ao professor identificar os estudantes que tenham habilidades espontâneas para a tarefa e ajudar todos a encontrar caminhos que possibilitem realizar seus projetos. "Alunos criativos ou persistentes costumam ser rotulados de indisciplinados, mas essas são as características de empreendedores em potencial", explica Mara Sampaio, gerente de educação do SEBRAE de São Paulo. A proposta aqui evidenciada já vem sendo experimentadas em diversas escolas brasileiras por meio de projetos elaborados pela Junior Achievement, no ensino fundamental e médio. A Junior Achievement Paraná é uma OSCIP (Organização Social e Civil de Interesse Público) que objetiva despertar o espírito empreendedor nos jovens ainda em idade escolar, estimulando seu desenvolvimento pessoal e dando-lhes uma visão clara do mundo dos negócios e do sistema de livre iniciativa. Seus programas educativos buscam despertar o interesse dos estudantes, ensinando-os a “aprender fazendo”. O programa conta com voluntários que vão às salas de aula e tratam de conceitos de administração e da importância da função do empreendedor na sociedade. O empreendedorismo e a educação são dois campos de estudo que requerem desenvolvimento contínuo. Ambos auxiliam o desenvolvimento do raciocínio e da criatividade buscando fazer com que o indivíduo alcance sua autonomia no contexto em que vive. Defende-se nesse trabalho que os temas são relacionados e a educação empreendedora pode ser forte aliada em uma educação que auxilia o indivíduo a adquirir autonomia e planejar seu futuro. Educação e empreendedorismo articulam-se na busca de um futuro melhor. Atualmente, expande-se em todo o mundo o mercado de produtos orgânicos como parte da demanda crescente por produtos e serviços que tragam consigo os valores de “Saúde e Sustentabilidade”. E quando falamos em produtos orgânicos, queremos dizer que os consumidores não estão apenas interessados nos alimentos, mas também em que produtos utilizarão na pele e que tipo de tecido usarão para se vestir. As matérias-primas obtidas em propriedades orgânicas ganham impulso, expandindo o leque de produtos ofertados no mercado mundial, sobretudo, na chamada indústria da beleza, com o desenvolvimento dos chamados cosméticos de base natural ou integralmente naturais, que formam uma categoria distinta, como veremos mais adiante. Tomando como exemplo o Brasil, já existem grandes, médias e pequenas empresas que comercializam cosméticos com base natural: a Natura, Boticário, a Juruá etc. Estas empresas estão incorporando a tendência internacional de uso dos óleos essenciais. O óleo é extraído da casca do tronco da árvore, sementes e frutos. Um indicador de potencialidade do mercado de óleos essenciais é a expansão do segmento sabonetes com marketing da aromaterapia. Se até pouco tempo atrás o mercado se mostrava tímido, a demanda e oferta para sabonetes e produtos de banho com óleos essenciais vem crescendo e se diversificando. Todo esse contexto indica que os consumidores estão, cada vez mais, buscando cosméticos com matérias–primas naturais ou de fontes sustentáveis, evitando processos que utilizem química pesadamente, resgatando parte do conhecimento milenar sobre o uso de recursos naturais para manutenção da saúde e da beleza do corpo. Uma especificidade dos cosméticos naturais é a sua menor escala de produção, o que confere um caráter quase artesanal aos produtos, no sentido do cuidado com a seleção e manipulação das matérias primas, mas sem perder a praticidade de uso que o consumidor espera. A esse respeito, vejamos o que diz a Diretora da Associação Brasileira de Produtos Naturais, Francis Canterucci: Na realidade, um produto natural não pode estar longe do que consideramos como artesanal. O cuidado com a manipulação é artesanal, mas hoje há o respaldo da tecnologia. Para o produto ser natural, ele deve ser um produto seguro, que não prejudique a saúde. Além disso, ele deve ser eficiente, corresponder às expectativas. Não adianta ser natural e não ser eficiente (Planeta Orgânico, 2005). Preparar um cosmético natural com os alunos requer algumas etapas. Neste projeto, desenvolvemos algumas atividades de concretização, explorando os principios de auto cuidado e orientação, evidenciados durante o ano todo no estudo do corpo humano. Para tanto, propomos as seguintes etapas: 1ª Pesquisa sobre linhas de tratamento estético. 2ª Análise dos tipos mais comuns de cosméticos naturais. 3ª Análise dos itens obrigatórios na instrução de uso. 4ª Experimento e preparo em laboratório. 5ª Confecção da embalagem do produto 6ª Criação da empresa fictícia. 7ª Criação do marketing e material publicitário para divulgação da marca e produto. 8ª Lançamento do produto com coquetel e apresentação para as demais salas do Colégio. Os alunos foram divididos em equipes para criar departamentos onde desempenhariam funções específicas durante todo o projeto. O preparo em laboratório de um cosmético natural a partir de uma planta que contém determinada substância química benéfica varia de acordo com a substância que se quer extrair da própria planta. Foram realizados vários testes antes da escolha definitiva do creme hidratante com morangos. Ensaio, tentativa e erros fazem parte do processo científico, mas o cuidado com os gastos levaram a equipe a criar uma receita com pequenas proporções recalculando quantidades proporcionais para não ter desperdício. Votaram o nome a empresa e no produto que deveria ser produzido, bem como na criação do logotipo, da embalagem e do comercial. Pesquisaram sobre qual produto natural poderia ser usado em agredir a pele e nem alterar o meio ambiente para produzir cremes hidratantes no laboratório. Pesquisaram preço de mercado para comprar ingredientes e custo para venda do mesmo, envolvendo conhecimentos matemáticos. Criaram folders, panfletos, cartazes e um comercial para divulgação do produto onde utilizaram as disciplinas de Artes, Português e Inglês, além dos recursos adquiridos na aula de informática. Elaboraram um coquetel de lançamento do produto para todas as séries do colégio. Fechando desta forma o trabalho com um resultado positivo de envolvimento, aprendizado e transmissão de conhecimento adquirido a séries anteriores. A proposta deste trabalho surpreendeu a expectativa pois os alunos esperavam ansiosos a aula semanal separada para realizar o projeto. Além de pesquisa em internet saíram para entrevistar professores e funcionários como pesquisa de mercado e integraram todas as disciplinas envolvem todo o corpo docente no projeto. Elaboravam reuniões para acertar detalhes fazendo relatórios e propondo metas, muitas vezes com discussões para chegar ao objetivo final da equipe necessitando do professor como mediador. Trabalhavam como empreendedores para o sucesso do projeto. Cresceram, aprenderam, empreenderam enfim foram além dos limites do Ensino de Ciências. Bibliografia Coleção Escola em Ação. O empreendedorismo na escola, Rede Pitágoras, Ed. Artmed. CHITWOOD, Sally. Um guia prático- Cosmética natural. Ed Aquariana 2002. CRUZ, Daniel. O meio ambiente. São Paulo. FTD, 1995 DOLABELA, Fernando. Pedagogia Empreendedora. Ed de Cultura MOREIRA, Marco A. Aprendizagem significativa. Brasília. Universidade de Brasília, 1999. Revista Nova Escola. Ed,. 186. Outubro de 2005 TORTORA, Gerard J. Corpo Humano: fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 4. Ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000 Palavras Chaves: ciências, empreendedorismo, meio ambiente.