Mata seca é mata atlântica? - Assinatura Digital Ciência Hoje

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opinião
Mata seca
é mata atlântica?
MÁRIO MARCOS
DO ESPÍRITO SANTO
Departamento de Biologia Geral, Universidade Estadual de Montes Claros (MG)
GERALDO WILSON
FERNANDES
Departamento de Biologia Geral, Universidade Estadual de Minas Gerais
RÔMULO SOARES BARBOSA
Departamento de Ciências Sociais,
Universidade Estadual de Montes Claros
FELISA CANÇADO ANAYA
Departamento de Saúde Mental,
Universidade Estadual de Montes Claros
Área de floresta estacional
decidual, no norte de Minas
Gerais, na época chuvosa e,
a mesma área, na época seca,
quase sem folhas
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P
essoas sem conhecimento botâni­co, ou até profissionais menos
experientes, poderiam afirmar que o
ambiente mostrado na figura ao lado
(em cima) é parte de uma típica floresta úmida. Entretanto, o mesmo ambiente, na época seca do ano, perde
de 90% a 95% das folhas, exibindo o
aspecto visto na figura em baixo. Esse
fenômeno é observado nas florestas
brasileiras chamadas, em termos técnicos, de ‘estacionais deciduais’, ou
seja, que perdem a folhagem em certas estações do ano. Em várias regiões, essas florestas são conhecidas
popularmente como ‘matas secas’ ou
‘caatingas arbóreas’.
Como acontece com a maioria das
formações vegetais, há discordância
sobre a classificação mais adequada
para as florestas estacionais deciduais.
Segundo o Manual técnico da vegetação
brasileira (1992), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
essas formações ocorrem de forma
isolada, em quase todos os biomas do
país, em regiões com estações climáticas bem demarcadas, uma chuvosa
e uma seca. Tais matas têm porte florestal e mais da metade das árvores
perde as folhas (ou seja, são caducifólias) no período desfavorável.
Embora presentes em vários biomas, as florestas estacionais deciduais
foram incluídas na mata atlântica pelo
Decreto Federal nº 750, de 1993, que
determinava a proteção total dos remanescentes dessa mata, fortemente
ameaçados. O decreto incluía no ‘domínio mata atlântica’, além das matas
úmidas das regiões Sul e Sudeste, as
formações florestais e ecossistemas
associados: manguezais, brejos interioranos, restingas, áreas florestais do
Nordeste e florestas semideciduais
e deciduais, segundo as delimitações
desses ambientes constantes do Mapa
de Vegetação do Brasil, publicado pelo
IBGE em 1988. Todos esses ecossistemas, entre eles as matas secas, só
poderiam ser suprimidos para a execução de obras, planos, atividades ou
projetos de utilidade pública ou interesse social.
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