A denúncia do racismo na nossa sociedade e o anúncio de práticas

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A denúncia do racismo na nossa sociedade e o anúncio de práticas de
resistência que almejam a superação da denúncia
CRUZ, Josiane Beloni da 1
Universidade Federal de Pelotas
PROENÇA, Kátia Aparecida Poluca2
Universidade Federal de Pelotas
OLIVEIRA, Neiva Afonso3
Profª. da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Pelotas
Hoje temos várias discussões teóricas acerca do futuro, da educação, do meio
ambiente, dos movimentos sociais e ficamos no meio de um debate, que se o vermos
somente de um ângulo está incompleto, com teorias que anunciam um futuro melhor,
um devir que surge do nosso trabalho para que haja uma transformação social e uma
tomada de consciência, que nos leve a atores sociais, tornando-nos sujeitos de nossas
vidas e de outro lado temos as que denunciam os problemas e desigualdades sociais,
mas que vêem uma catástrofe a frente, um mundo dado e sem possibilidades de
transformação.
Partindo do pressuposto de que a escola desenvolve o papel de mantenedora de
um sistema excludente, buscamos nos conceitos freirianos a denúncia/anúncio para falar
da temática racial.
A denúncia do racismo pela sociedade. E o anúncio da superação de formas de
preconceito e discriminação através de práticas emancipatórias e de resistência
utilizadas por professoras e professores como estratégias para a transformação da
realidade. Sendo assim, Freire apresenta:
Denúncia de uma realidade desumanizante e anúncio de uma realidade
em que os homens possam ser mais. Anúncio e denúncia não são,
porém, palavras vazias, mas compromisso histórico, tenham. A
percepção ingênua ou mágica da realidade da qual resultava a postura
fatalista cede seu lugar a uma percepção que é capaz de perceber-se. E
porque é capaz de perceber-se enquanto percebe a realidade que lhe
parecia em si inexorável, é capaz de objetivá-la. (FREIRE, 1987, p.
42-43)
Nos deparamos com o conceito discriminação, que Freire contrapõe quando
anuncia que “Faz parte do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de
discriminação.” (FREIRE, p.39, 2000), dessa forma, é possível dialogar no sentido da
superação dos preconceitos que dão sustentação as diversas faces discriminatórias que
assumem-se como postura no imaginário social brasileiro.
Assim nessa perspectiva, na terceira carta do livro Pedagogia da Indignação
começamos a desenhar idéias sobre o tema que pretendemos desenvolver e encontramos
em Freire o impulso, pois já no início da carta ele nos coloca do seu pensar em relação,
“A posição do pobre, do mendigo, do negro, da mulher, do camponês, do operário, do
índio neste pensar...” de violência, de descaso com a vida, de posse do material,... que
1
Mestrandaem Educaçã , integrante do Grupo de Pesquisa em Filosofia, Educação e Práxis Social (FEPráxiS) e do Núcleo de
Estudos Paulo Freire. E-mail: [email protected] .Orientador: Prof. Dr. Gomercindo Ghiggi, e-mail: [email protected]
2
Acadêmica do 7º Semestre do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, Bolsista
PIBIC/UFPel/CNPq, integrante do Grupo de Pesquisa em Filosofia, Educação e Práxis Social (FEPráxiS) e do Núcleo de Estudos
Paulo Freire. E-mail: [email protected]. Orientadora: Profa. Dra. Neiva Afonso Oliveira, e-mail:
[email protected]
3
Professora Adjunto da Faculdade de Educação da UFPel, e-mail: [email protected].
habita e é demonstrado por acontecimentos desastrosos, em nossa sociedade atual,
tornando banal ou corriqueiro o ato de colocar fogo no índio. A inversão de valores,
onde a vida não é um bem humano, para modificarmos este panorama somente
trabalhando em prol do bem comum, da transformação de atitudes, para que isso ocorra
necessitamos que haja conscientização, que o sujeito saiba seu papel social, participe
seja ator e não somente telespectador dos acontecimentos.
Assim sendo, salientamos práticas emancipatórias realizadas na escola referentes
a questões de resgate e valorização da presença negra no Brasil, para visualizar os
esforços de educadores na transformação social.
Um pensamento de Freire que compartilhamos é que não há neutralidade e
sempre temos uma posição, ou estamos do lado do opressor ou do oprimido, toda ação é
política, então a questão da discriminação e de sua erradicação é uma posição que temos
que tomar, é uma atitude que precisamos exercitar, se lutamos por uma sociedade justa,
se nossa opção é libertadora, devemos trabalhar pela equidade, pela convivência com o
diferente e não por sua negação.
Para que haja uma real transformação, uma descolonização das mentes é preciso
à práxis e começarmos por nós cada um deixando para suas gerações experiências de
amorosidade, de respeito a todos os seres da natureza, é sem dúvida uma construção
coletiva, é através da desnaturalização dos preconceitos, dos desrespeitos e partir para
uma construção de sujeitos que buscam a sua conscientização, descobrem seu
inacabamento e procuram “ser mais”, ou seja, saem do senso comum, exercitam uma
capacidade estritamente humana e que nos diferencia do restante da natureza a reflexão.
Dessa forma, podemos visualizar através de práticas inovadoras, também em
salas de aulas, uma contribuição para construção de uma sociedade realmente para todos
e não ingenuamente como temos hoje, pois legalmente todos os sujeitos têm os mesmos
direitos e na hora de exercitá-los encontramos obstáculos intransponíveis, essas
iniciativas nascidas na escola, nos movimentos sociais levam a sociedade a perceber a
possibilidade de mudança de atitudes e de uma nova visão de mundo, justo, igualitário e
possível, construídos por todos e para todos.
Seguindo e perseguindo este tema, analisando conceitos, os quais Freire utiliza
podemos perceber claramente o negro como sujeito oprimido e como preocupação
freiriana a discriminação, deixa sempre claro e explícito sua indignação com atitudes
racistas oriundas das relações sociais. Salienta que qualquer discriminação é imoral e
lutar contra ela é um dever, por mais que se reconheça a forma dos condicionamentos a
enfrentar. (FREIRE, 2000, p. 40)
Nesse contexto trabalhamos com a denúncia do racismo na escola,
consequentemente da sociedade, essa é uma situação limite, enquanto o anúncio vem
das novas práticas escolares e cotidianas que possibilitem a transformação do problema
que é o inédito viável.
Primeiramente situando a discussão, temos que entender de qual denúncia
estamos falando, para tanto pretendemos discutir aqui conceitos hoje usuais, porém
Preconceito caminha com o conceito de estereótipo, pois está ligado diretamente
a um modelo, a comparação, são julgamentos pré-estabelecidos, por isso um fenômeno
psicológico, pois reside no interno consciência e afetividade é subjetivo, não viola
direitos.
Por outro lado temos o conceito de discriminação o qual refere-se à conduta, a
intervenção, por ação ou por omissão, através de atos injustificados é a exteriorização, a
manifestação, a materialização do preconceito é uma ação que viola os direitos
humanos.
Assim, nosso trabalho vem a contribuir no intuito de trabalhar apontando um
problema frequente em nossas escolas como o preconceito racial e demonstrando ações
cotidianas que difundem uma perspectiva de avanço positivo no âmbito educacional.
Dessa forma os conceitos abordados em Freire (1987, p. 78), “... não há denúncia
verdadeira sem compromisso de transformação, nem este sem ação”, é contemplado
amplamente em nossa discussão como mecanismo fundamental para mudanças reais em
sala de aula.
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