Caso Clínico Considerações biomecânicas em casos de agenesias de segundos pré-molares inferiores Daniela Greenhalgh Thys*, Gerson Luiz Ulema Ribeiro**, Eliane Hermes Dutra*, Leandro Teixeira de Souza***, Orlando Tanaka**** ,-/') A origem da agenesia dentária pode ocorrer por uma falha na proliferação e/ou diferenciação da lâmina dentária. A agenesia mais freqüente é a dos terceiros molares, seguida dos segundos pré-molares e incisivos laterais superiores. A prevalência da agenesia de segundos pré-molares varia de 2 a 5%, sendo mais comum a sua ocorrência na mandíbula. O diagnóstico em idade precoce permite ao profissional e aos pais considerarem maior número de possibilidades disponíveis para o tratamento da condição, inclusive a de não tratar. A opção em manter o espaço ocupado pelo segundo molar decíduo é indicada naqueles pacientes onde não há deficiência de espaço, casos em que o fechamento de espaço é desfavorável, como na presença de overbite exagerado, espaços generalizados entre os dentes ou quando o ângulo do plano mandibular está diminuído. O objetivo deste trabalho foi relatar e discutir três casos clínicos com agenesia de segundos pré-molares inferiores e a manutenção do dente decíduo e o fechamento do espaço. PALAVRAS-CHAVE: Agenesia dentária. Segundos pré-molares inferiores. Tratamento ortodôntico. * ** *** **** Mestre em Odontologia – Ortodontia pela PUCPR. Professor da disciplina de Ortodontia da FO-UFSC. Professor do curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial UFSC. Mestrando em Odontologia – Ortodontia PUCPR. Professor da Graduação, Especialização e Mestrado em Odontologia – Ortodontia PUCPR. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 61 Considerações biomecânicas em casos de agenesias de segundos pré-molares inferiores #(.,)/×Ô) A base biológica da agenesia dentária pode ser parcialmente explicada por uma falha na proliferação e/ou diferenciação da lâmina dentária ou das células da lâmina dentária39, enquanto a genética ou a base molecular continua sem solução. A agenesia mais freqüente é a dos terceiros molares, seguida dos segundos pré-molares e incisivos laterais superiores6,9,10,13,15. A prevalência da agenesia de pré-molares varia de 2 a 5%2,16,27,32,40, sendo mais comum a sua ocorrência na mandíbula do que na maxila16,38. Além disso, não foi verificada diferença entre o gênero masculino e feminino quanto ao número de pré-molares ausentes, lados afetados ou simetria das agenesias2,16,18. Devido à natureza desta condição, agenesias são diagnosticadas radiograficamente, sendo que muitas vezes acidentalmente. A odontogênese do segundo pré-molar começa, na maioria dos casos, na idade de 2 a 2,5 anos, porém pode variar grandemente14. Por volta dos oito anos de idade, o folículo dentário e/ou a ponta de cúspide do pré-molar devem ser visíveis em radiografias interproximais de rotina, no entanto deve-se ter cuidado com diagnósticos radiográficos antes dos sete anos de idade, pois o desenvolvimento tardio do germe dentário pode ocorrer26. Clinicamente, o tratamento da agenesia dentária é um desafio. A Dentística, Prótese e a Ortodontia devem trabalhar conjuntamente para preconizar o melhor tratamento ao paciente, considerando sempre a estética e o desenvolvimento facial da criança1,7,17,29,30,36. ,0#-Ô)öö&#.,./,ö_ö#-Ô)öö.,.'(.) O diagnóstico da agenesia de pré-molares inferiores em idade precoce, durante a fase de dentadura mista, permite ao profissional e aos pais do paciente considerarem todas as possibilidades de tratamento disponíveis. Essencialmente, existem duas opções de tratamento nas más oclusões com a ausência de segundos pré-molares. O fechamento do espaço previamente ocupado pelo segundo molar decíduo, ou então pela manutenção deste espaço, que pode ser por meio do preparo de dente decíduo, ou proteticamente. A decisão de tratamento é baseada em vários fatores, incluindo a condição do molar decíduo, as relações dentárias e esqueléticas, idade dentária do paciente e a disposição do paciente em aceitar um tratamento em longo prazo. Se a decisão for pelo fechamento do espaço, a extração do molar decíduo é seguida pelo fechamento espontâneo ou ortodôntico do mesmo. Esta opção é normalmente realizada para pacientes com deficiências de comprimento de arco, em que a oclusão terminará aceitável pelo fechamento do espaço existente. Estão contraindicados os casos incluindo overbite exagerado, com excesso de espaço no arco e na má oclusão de Classe I apresentando mínimo ou nenhum apinhamento4,23,20,11. 62 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 Para se alcançar o fechamento espontâneo do espaço, o molar decíduo deve ser extraído antes que se complete a formação radicular dos dentes adjacentes e antes da irrupção do segundo molar permanente26,28. Na maioria dos casos a idade entre 8 e 9 anos seria ideal para facilitar o movimento de corpo e minimizar a inclinação dos dentes adjacentes26,4,28. A opção de manter o espaço ocupado pelo segundo molar decíduo é indicada nos casos onde não há deficiência de espaço, casos em que o fechamento de espaço é desfavorável, como na presença de overbite exagerado, espaços generalizados entre os dentes, ângulo do plano mandibular diminuído, ou quando o paciente e seus responsáveis optam por manter o molar decíduo35. Muitas opções de tratamento estão disponíveis, incluindo a manutenção do molar decíduo, ou ainda a reabilitação do espaço com próteses, implantes ou autotransplante. Contudo, deve-se levar em consideração, na opção pela manutenção do segundo molar decíduo, a possibilidade deste encontrar-se anquilosado. Isto resultaria em um defeito ósseo entre o primeiro molar e os dentes permanentes adjacentes, o que poderia inviabilizar a futura reabilitação com implante no local. Mesmo assim, o ortodontista deve lembrar que as coroas dos molares decíduos são naturalmente menores que a do primeiro molar permanente adjacente. Desta maneira, a formação de um degrau no plano oclusal não indica, necessariamente, que o molar decíduo está anquilosado. O melhor meio para determinar se há anquilose do molar decíduo é pela avaliação na radiografia interproximal do nível da crista óssea alveolar. Se a crista está achatada, o dente provavelmente apresenta normalidade. Apresenta-se anquilosado se a radiografia mostra o desenvolvimento de um defeito vertical entre o dente decíduo e o permanente24. No caso de um indivíduo em pleno crescimento, mesmo com a ausência do sucessor, o molar decíduo anquilosado necessita ser extraído, em virtude do contínuo crescimento que ocorrerá durante a adolescência. Isto permite que a região alveolar no local do dente anquilosado se mova oclusalmente à medida que os dentes adjacentes irrupcionam31. Quando o periósteo é posicionado sobre o processo alveolar, estimula a atividade osteoblástica para produzir tecido ósseo e promover o desenvolvimento da ponte óssea24. Não havendo impedimento para a manutenção do dente decíduo, deve-se desejar o aumento do tempo de permanência deste dente, levando-se em conta que há o risco de infraoclusão ou reabsorção radicular, pois ambos os casos podem determinar a eventual perda do dente35. O processo de reabsorção do molar decíduo não é totalmente compreendido e ocorre, também, na ausência do dente permanente4,33. É um processo lento e o grau de reabsorção varia entre os indivíduos, hemi-arcos e raízes do mesmo dente. Bjerklin e Bennet4 verificaram que, com a idade, 11,8% dos molares decíduos sem su- Daniela Greenhalgh Thys, Gerson Luiz Ulema Ribeiro, Eliane Hermes Dutra, Leandro Teixeira de Souza, Orlando Tanaka cessor apresentam suave reabsorção de suas raízes; na idade de 19 a 20 anos, 100% dos molares decíduos apresentaram algum grau de reabsorção. Concluiu-se que não é possível prever o tempo de permanência dos molares decíduos, mas que o prognóstico é bom para os molares depois dos 20 anos de idade. Muitas vezes, necessita-se restaurar o segundo molar decíduo para manutenção das relações verticais de oclusão, já que a sua coroa clínica é mais curta que dos dentes adjacentes. Para isso, podem ser utilizados materiais convencionais tais como amálgama, resina composta ou coroas de aço inoxidável. O paciente e seus responsáveis devem ser avisados de que na maioria dos casos o molar decíduo é um dente temporário que eventualmente necessitará ser substituído por um tratamento mais definitivo35. Também é importante lembrar que a coroa do segundo molar decíduo é maior no sentido mésio-distal do que de seu sucessor permanente. Desta maneira, deve-se realizar desgastes nas faces mesiais e distais destes dentes para que a sua permanência no arco não traga prejuízo às relações oclusais. Principalmente para que possa se estabelecer uma correta relação de molares em Classe I, e evitar assimetrias se a agenesia for unilateral. Com o crescimento da popularidade dos implantes osseointegrados, muitos cirurgiões-dentistas e pacientes estão optando pela manutenção do espaço, para posterior estabelecimento de um implante, quando há agenesia dos segundos pré-molares19,25. Ostler e Kokich31, investigando as mudanças no processo alveolar após a extração com agenesia do permanente, verificaram um decréscimo de 25% na espessura, ao longo de um período de três anos. Também observaram que, nos quatro anos seguintes, houve uma perda adicional de 4% no diâmetro vestíbulo-lingual do processo alveolar. Estes resultados sugerem que a reabsorção ocorre na mesma extensão do diâmetro do dente extraído e depois se mantém estável. Concluíram que é permitida a extração do molar decíduo com mínima preocupação com relação à idade do paciente. Considerando que a instalação de implantes deve ser postergada até o paciente completar o crescimento facial, não seria prejudicial retardar a instalação do mesmo, já que a espessura vestíbulo-lingual do processo alveolar mantém-se estável após a reabsorção inicial. No entanto, deve-se levar em consideração que a extração do dente decíduo anquilosado deve ser realizada o mais cedo possível, assim que diagnosticada, para evitar a formação de defeitos ósseos verticais decorrentes da anquilose e que poderiam então prejudicar a instalação de um implante no local34. A extração em idade precoce do segundo molar decíduo anquilosado normalmente é preferível à extração tardia. Mesmo quando acontece o fechamento após a extração em idade precoce, o tratamento ortodôntico subseqüente, tanto com fechamento ou recuperação do espaço, não será mais complexo.28 Segundo Sabri34, a reabertura do espaço após a extração em idade precoce do molar decíduo propiciará a formação de tecido ósseo adequado à instalação de um implante no local. Infelizmente, o crescimento dentário e esquelético é o fator que mais interfere no sucesso dos implantes quando estes são usados em crianças8. A principal complicação é a falha do implante em responder ao crescimento vertical do alvéolo e dentes adjacentes em virtude da anquilose. Sendo assim, ainda é recomendado esperar que o crescimento dentoalveolar e facial completem-se5,8,22. Outro tipo de tratamento disponível nos casos de escolha da manutenção do espaço são os autotransplantes e, de acordo com Josefsson et al.21, uma das vantagens é que o ligamento periodontal do dente transplantado mantém o crescimento e desenvolvimento do processo alveolar. Observaram, em 44 molares e 66 pré-molares autotransplantados para substituir segundos pré-molares inferiores ausentes, uma taxa de sucesso de 92% para os dentes sem a formação radicular completa e de 82% para os dentes que já haviam completado a sua formação. Salientaram ainda, que o autotransplante fornece uma solução permanente para as agenesias. No entanto, quando o procedimento falha, outra medida deve ser tomada para reabilitação do espaço do dente decíduo. Fines et al.12 reportam que as principais razões para falha do autotransplante incluem a anquilose, reabsorção radicular externa persistente e a posição do dente doador antes de sua extração, que pode causar microtrauma à membrana periodontal durante sua remoção. Portanto, a falta de profissionais especializados em autotransplantes também minimiza a sua indicação no tratamento das agenesias dentárias. -)-ö&Þ(#)Na figura 1 observa-se o caso clínico de um paciente do gênero masculino, 12 anos e 6 meses de idade, com padrão esquelético de Classe II, mesofacial e má oclusão de Classe II, divisão 1 de Angle, overjet de 10mm e overbite de 100%. Arco dentário superior ampla, com tendência à mordida cruzada vestibular. Presença de diastemas mesial e distalmente aos caninos inferiores e de primeiro pré-molar de um lado a primeiro pré-molar do outro lado no arco superior e agenesia do segundo pré-molar inferior direito (45). Foram relatados outros casos de agenesia na família, observou-se a presença de deglutição atípica e respiração predominantemente bucal. Foi descartada a opção de fechamento do espaço, na agenesia do dente 45, em virtude dos diastemas generalizados e overbite exagerado. Além disso, este procedimento poderia dificultar a correção da Classe II e o estabelecimento das corretas relações ântero-posteriores dos dentes anteriores superiores e inferiores. Foi apresentada, ao paciente e seus pais, a possibilidade de manutenção do dente decíduo e a posterior reabilitação do espaço com prótese ou implante. A escolha foi pela manutenção do 85, e o plano de tratamento se deu no sentido de evitar quaisquer traumatismos a este Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 63 Considerações biomecânicas em casos de agenesias de segundos pré-molares inferiores dente, evitando a possibilidade de acelerar a rizólise. O mesmo não recebeu diretamente nenhuma movimentação ortodôntica. O tratamento ortodôntico foi realizado sem extrações e uso de aparelho extrabucal para otimizar a resposta mandibular e correção da relação esquelética de Classe II. Já em fase final da retração ântero-superior, observou-se em assimetria na posição ântero-posterior dos primeiros e segundos molares permanentes. Os molares permanentes do lado direito encontravam-se em posição mais posterior em, virtude do maior diâmetro mésio-distal do 85, dificultando o correto estabelecimento de simetria entre os dois lados do arco. Não houve possibilidade de realização de desgastes nas faces coronárias mesiais e distais do 85 devido à divergência radicular (Fig. 1J). Foi realizada restauração em compósito para a manutenção das relações verticais de oclusão, reabilitando a coroa mais curta no sentido cérvico-oclusal do dente 85. O caso foi finalizado (Fig. 1E-H, M, O) sem desgastes interproximais e com o aumento vertical da coroa clínica, mas as relações ântero-posteriores de oclusão do lado da agenesia ficaram prejudicadas. Não foi possível o correto estabelecimento da relação de Classe I de molares do lado direito, muito embora tenha sido obtida para o canino, enquanto no lado esquerdo foi estabelecida relação de Classe I de molares e caninos com satisfatória intercuspidação na região de pré-molares superiores e inferiores. Em fase de contenção (Fig. 1K), as raízes do 85 se mantêm íntegras sem nenhuma rizólise. O segundo caso é de uma paciente do gênero feminino com 12 anos e 8 meses de idade, Classe I esquelética, mesofacial e Classe II-1 subdivisão direita, overjet de 4mm, overbite de 35% e severa infra-oclusão do dente 85, sugerindo uma anquilose dentoalveolar; no entanto apresentou-se com normalidade clínica e radiográfica (Fig. 2A-D). Para este caso foi preconizada a manutenção do espaço do dente 45 e posterior reabilitação com implante, devido à rizólize adiantada do 85. Para o estabelecimento de corretas relações de oclusão foi realizado desgaste nas faces mesiais e distais, com discos de lixa em baixa rotação (Fig. 2E-G, M). Mesmo com pelo menos 2/3 de reabsorção, foi aplicado o sistema de forças para movimentação em direção mesial dos dentes posteriores, fechando os espaços adjacentes ao 85 (Fig. 2H). O caso foi finalizado com o estabelecimento das relações de oclusão ântero-posteriores e verticais e correção da severa infraoclusão apresentada pelo dente 85 (Fig. 2I-O). A reabilitação do local com implante será realizada após a fase de crescimento puberal. A B C D E F G H I 64 J Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 K Daniela Greenhalgh Thys, Gerson Luiz Ulema Ribeiro, Eliane Hermes Dutra, Leandro Teixeira de Souza, Orlando Tanaka L M N O FIGURA 1 - A-D, I, L, N) Fotografias intrabucais, radiografia e modelo iniciais ilustrando a agenesia do dente 45 e raízes íntegras e divergentes do 85. E-H, K, M, O) Fotografias intrabucais, radiografia e modelos com finalização sem desgastes interproximais no 85. J) Radiografia periapical da evolução do tratamento. A B C D E F G H I J K L M N O FIGURA 2 - A-D) Fotografias intrabucais com severa infra-oclusão do dente 85. E-H, M) Fotografias intrabucais e radiografia com os desgastes interproximais no 85 (com rizólise adiantada) para possibilitar a intercuspidação. I-L, N, O) Finalização com a intercuspidação direita e esquerda satisfatórias devido à adequação do diâmetro mésio-distal do 85 compatível com o do pré-molar. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 65 Considerações biomecânicas em casos de agenesias de segundos pré-molares inferiores O terceiro caso é de um paciente do gênero masculino com 14 anos e 7 meses de idade, Classe II esquelética, dolicofacial, Classe I dentária, overjet e overbite normais e falta de espaço para o correto alinhamento dos dentes superiores e inferiores (Fig. 3A-D). Clinicamente, apresentava todos os dentes permanentes com exceção do 35 e dos terceiros molares superiores e inferiores. Observou-se, ainda, a presença do segundo molar inferior decíduo esquerdo (75), com restauração extensa na face oclusal; linha mediana inferior desviada para a direita 2mm e mordida cruzada dos 13/43 e 24-25/75. Radiograficamente (Fig. 3E, F) presença dos germes dos terceiros molares com 1/3 das coroas formadas, agenesia do 35, e as raízes do 75 praticamente íntegras. Cefalometricamente (Fig. 3G), incisivos superiores levemente verticalizados e os inferiores protruídos. Em virtude das características do caso foi preconizada a extração do segundo molar decíduo inferior esquerdo (75), dos segundos pré-molares superiores direito (15) e esquerdo (25), do segundo pré-molar inferior direito (45) e fechamento dos espaços. O caso foi finalizado com a relação de molares e caninos em Classe I (Fig. 3H-N). A B E H 66 #-/--Ô) A decisão de tratamento para a agenesia, dentre outros fatores, depende da idade do paciente, estágio de reabsorção radicular do dente decíduo e infraoclusão. Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico da agenesia, maiores serão as possibilidades de tratamento disponíveis. Para a decisão quanto à manutenção do molar decíduo, devese considerar que a intercuspidação com os dentes adjacentes estará comprometida, devido ao maior tamanho mésio-distal de sua coroa. É recomendada a redução de seu diâmetro mésio-distal para aproximadamente 7mm de extensão37. No entanto, a divergência das raízes dos segundos molares decíduos pode limitar a redução mésio-distal34, como observado no primeiro caso. A impossibilidade de desgastes nas faces interproximais prejudicou o estabelecimento das corretas relações oclusais no lado da agenesia, dificultando a relação de Classe I de molares. Apesar deste fato, a restauração na face oclusal possibilitou a manutenção das dimensões verticais de oclusão para o dente 85, evitando a inclinação mesial do primeiro molar permanente34. Possivelmente a extração do C F I Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 D G J K Daniela Greenhalgh Thys, Gerson Luiz Ulema Ribeiro, Eliane Hermes Dutra, Leandro Teixeira de Souza, Orlando Tanaka L M N FIGURA 3 - A-G) Fotografias intrabucais, modelo e radiografias iniciais, com agenesia do dente 35. H-N) - Finalização com a otimização dos espaços das extrações de pré-molares e do 75 para a retração dos dentes anteriores. Intercuspidação e diminuição da protrusão dentoalveolar e melhor equilíbrio e harmonia do perfil facial. dente decíduo e reabilitação com prótese/implante poderiam facilitar a obtenção de relações oclusais mais satisfatórias para o caso, desde que o diâmetro mésio-distal do pré-molar fosse mantido. O prognóstico de permanência do dente decíduo no arco após os 20 anos de idade é muito bom4, e como se pode observar neste primeiro caso, o dente 85 apresenta-se com mínimo grau de reabsorção. Apesar disto, o paciente foi avisado da possibilidade de ter que substituí-lo futuramente. E neste caso, o espaço remanescente a ser reabilitado proteticamente é maior do que aquele necessário para a coroa de um pré-molar12,35. Outra possibilidade da manutenção do dente decíduo, é que ocorra a anquilose do mesmo durante o período de contenção, com a formação de um defeito vertical com os dentes adjacentes na mesma medida que ocorrer o crescimento do processo alveolar3,34. Retardar a extração de um molar decíduo anquilosado após o tratamento ortodôntico, levará a um severo defeito ósseo vertical, fazendo com que a instalação de um implante seja extremamente difícil, geralmente necessitando de enxerto ósseo no local34. No segundo caso a relação molar de Classe I no lado da agenesia foi obtida corretamente, devido aos desgastes nas faces mesiais e distais do dente 85, possibilitando o posicionamento adequado do primeiro molar permanente. Em virtude do grau avançado de reabsorção radicular do dente 85, foi realizada a opção pela extração do mesmo e instalação de implante no local. Para evitar a perda de diâmetro ósseo no sentido vestíbulo-lingual na região do 85, o mesmo foi mantido até o final da fase de crescimento puberal, e por isso foi incluído na mecânica somente nas fases finais de tratamento, para evitar a perda do dente antes do tempo previsto para a reabilitação. Contrariamente, Biggesrstaff3 apresentou um caso em que foi realizada a movimentação ortodôntica dos segundos molares decíduos superiores sem que houvesse sinal de reabsorção radicular significante durante o tratamento. A prótese fixa é outra alternativa para a reabilitação de espaços de casos de agenesias dentárias e deve ser retardada até o final do pe- ríodo da adolescência, em virtude do tamanho aumentado da câmara pulpar, o que impossibilitaria o preparo protético nos dentes vitalizados12. Por isso, também nestes casos, é importante a manutenção do espaço, se possível com o dente decíduo até a instalação da prótese. Entretanto, as próteses fixas convencionais e/ou com retenção intra-coronária não são mais as melhores indicações para pacientes jovens com dentes hígidos e sem restaurações. O autotransplante de um terceiro molar para o local da agenesia seria uma opção para reabilitação do espaço, porém, devido à sua forma e tamanho comprometeriam a oclusão34. Para o fechamento do espaço no local da agenesia, a mecânica ortodôntica é semelhante à dos casos de extração de segundos prémolares. Quando realizada a extração de primeiros pré-molares no arco superior e segundos pré-molares na inferior, a intercuspidação pode ser dificultada. E, em alguns casos, são necessários desgastes interproximais para a correção de pequenas discrepâncias. A extração unicamente do molar decíduo no local da agenesia e fechamento do espaço também é uma opção viável12. No entanto, o cuidado com a mecânica deve ser redobrado para se evitar desvios da linha mediana durante o fechamento do espaço. A não ser que o objetivo seja a correção de algum desvio pré-existente utilizando-se o espaço a ser fechado. Além disso, o terceiro molar inferior do lado da agenesia deve estar presente para que possa fazer a intercuspidação com o segundo molar superior, caso contrário o mesmo ficará sem antagonista12. )(&/-Ô) A decisão de manutenção ou não do espaço do segundo prémolar deve ser realizada considerando-se todas as características individuais de cada caso. A decisão pela manutenção do dente decíduo deve considerar que as corretas relações oclusais só serão atingidas por meio de ajustes na coroa do dente decíduo, devido às suas dimensões verticais e mésio-distais, diferentes daquelas apresentadas por seus sucessores. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 4 - ago./set. 2006 67 Considerações biomecânicas em casos de agenesias de segundos pré-molares inferiores Management of congenitally missing mandibular second premolars Abstract The origin of the congenital absence of permanent teeth can be consequence of the proliferation and/or differentiation failure of the tooth bud cells from the dental lamina. The most frequent agenesis is the one of the third molars, following by the second premolars and maxillary lateral incisors. The prevalence of the agenesis of second premolars vary from 2 to 5%, being more common its occurrence in the mandible than the maxilla. The early diagnosis, allows to the professional and parents to consider larger number of available treatment possibilities, including do not treat. The space maintaining option is indicated in those patients where exists space deficiency, or the ones in that space closing is unfavorable like in the presence of deep overbite, widespread spaces or in low mandibular plan angles patients. The objective of this work was to present and discuss the maintenance or closing space of three clinical cases with lower second premolars agenesis. KEY WORDS: Tooth agenesis. Lower second premolars. Orthodontic treatment. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 68 ASHER, C.; LEWIS, D. H. The integration of orthodontic and restorative procedures in cases with missing maxillary incisors. Br Dent J, London, v. 160, n. 7, p. 241-245, 1986. BERGSTROM, K. An orthopantomographic study of hypodontia, supranumeraries and other anomalies in school children between the ages of eight to nine years. Swed Dent J, Jönköping, v. 1, no. 4, p. 145-157, 1977. BIGGESRSTAFF, R. H. 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