I.2. Princípios básicos da Lógica. Conceitualização e Problematização dialógica. Questão Socrática: Pergunte aos alunos se eles sabem o significado da palavra, em que contexto a usam, discuta se precisamos de uma “ferramenta” para raciocinar melhor. Todos usamos no dia a dia expressões como “isso não tem lógica!”, “é lógico!” mas o que é lógica? O que queremos dizer quando afirmamos que alguém ou alguma coisa não é lógica? Segundo o pequeno dicionário de Filosofia contemporânea, a Lógica é “Parte da Filosofia que estuda as regras e condições formais do correto raciocínio, permitindo discriminar a validade das proposições como verdadeiras ou falsas.” (GIACÓIA JUNIOR, p.115, 2006). Assim, na Lógica estudamos como podemos raciocinar melhor, trata-se de um instrumento para tornar nosso pensamento mais eficaz evitando erros, mais do que isso, a Lógica também tenta estabelecer leis gerais do raciocínio, que para Aristóteles, o filósofo grego considerado o criador da Lógica, seriam as leis do pensamento, as bases fundamentais da verdade na qual toda verdade se estrutura e se torna possível. Essas leis ou princípios funcionam como a base do conhecimento e seriam auto evidentes e auto justificáveis o que significa que provam a si mesmos, são eles o princípio da identidade, o principio da não contradição, do terceiro excluído e o princípio da razão suficiente. Vejamos agora em detalhe como esses princípios funcionam: 1) O princípio da identidade postula que “uma coisa é igual a ela mesma”, ou seja, as coisas são distintas entre si, uma cadeira não é uma mesa, nem você é alguém diferente de você mesmo. 2) O principio da não contradição postula que “ é impossível algo ser e não ser ao mesmo tempo”, talvez um dos princípios mais importantes, porque afirma que eu não posso afirmar e negar uma mesma coisa ao mesmo tempo, 1 não posso dizer que gosto e não gosto de sorvete de baunilha, que estava e não estava na festa, dizemos que uma afirmação é autocontraditória quando ela contraria a si mesma, por exemplo: “Nada pode ser considerado verdade.” Se nada pode ser considerado verdadeiro, a frase também não é verdadeira, logo, ela também afirma aquilo que pretende negar, uma autocontradição, quando isso acontece podemos dizer que não há coerência. 3) O princípio do terceiro excluído postula que “dada duas opções , a terceira é excluída” , ou seja não existe meio-termo ou um estado intermediário entre duas posições, se eu digo que “eu vou a festa ou fico em casa”, não existe uma terceira opção. 4) O princípio da razão suficiente pode ser chamado também de princípio da causalidade e estabelece que tudo tem uma causa e uma explicação, de acordo com McInemy (2006) uma coisa é considerada uma causa de outra porque (a) explica a própria existência daquela coisa ou (b) explica porque a coisa existe dessa ou daquela maneira, ou seja como aquilo veio a existir. O fato de ignorarmos a explicação de determinada coisa não significa que ela não tem uma causa, que ela não pode ser explicada, ou que ela tem uma explicação sobrenatural, mas que no momento a ignoramos, o que também não nos permite explicá-la de qualquer maneira, uma proposição ou argumento que contrária os princípios básicos do raciocínio pode ser considerada logicamente impossível. Mas como posso avaliar a lógica das afirmações? No livro “How to think about weird things”, VAUGHN e SCHICK (1999) apresentam duas condições básicas para a avaliação da possibilidade de uma proposição, são elas a possibilidade lógica e a possibilidade física. Algo é logicamente possível se não contraria as leis fundamentais da lógica, sabemos que não existem solteiros casados ou círculos quadrados, se eu afirmo que “algo está e não está na minha frente” essa afirmação é logicamente impossível. 2 Os Filósofos se referem a conhecimento a priori quando nos referimos a algo que independe da experiência para existir, algo que posso afirmar apenas através da Lógica , coisas como dizer que “eu sou eu e não você” ou “1+1=2” e a posteriori quando esse conhecimento depende da experiência, por exemplo, o conhecimento de que a água ferve a 100 C ao nível do mar não pode ser averiguado apenas com a Lógica, eu preciso constatar empiricamente, ou seja , através da experiência. Para a ciência o conhecimento empírico da realidade é fundamental, através da Física, por exemplo, conhecemos as leis da natureza, por isso algo é fisicamente possível se respeita o conhecimento estabelecido até agora pela ciência, ou seja, se é coerente com o modo como mundo funciona. Imagine que alguém diga que sobreviveu a queda livre no asfalto de um edifício de 30 andares, considerando o básico do que sabemos sobre a natureza e sobre as leis da física, podemos considerar a afirmação fisicamente impossível. É claro que, existem coisas logicamente possíveis, mas fisicamente impossíveis , quando assistimos a um filme de terror ou de super- heróis, vemos histórias que são logicamente possíveis, mas fisicamente impossíveis, é logicamente possível um homem se transformar em um vampiro e se alimentar apenas de sangue, ou levantar centenas de vezes o próprio peso com as próprias mãos, mas esses eventos são todos contrários ás leis da Física e do conhecimento que temos da Biologia. Já o contrário não ocorre, não podemos ter algo fisicamente possível e logicamente impossível, pois a ciência deve respeitar os princípios básicos da Lógica. E só porque algo é logicamente ou fisicamente possível não quer dizer que é de fato, real. Algumas coisas ainda podem ser tecnicamente impossíveis, como viajar para outras galáxias, a imortalidade da vida humana ou ganhar várias vezes seguidas na loteria. Coisas que ou ainda não dispomos de tecnologia para fazer como as viagens intergalácticas ou conhecimento de como fazer 3 como no caso da imortalidade ou ainda por ser estatisticamente pouco provável como no caso da loteria. Em todo caso, devemos sempre prestar atenção e adequar nossas ideias ao modo como o mundo funciona. Ao longo da história da Filosofia, esses princípios foram discutidos por vários Filósofos e a Lógica continuou a se desenvolver, atualmente existem diversos sistemas Lógicos1 dos quais podemos distinguir entre os sistemas de Lógica Formal, nos quais a linguagem é substituída por símbolos e a Lógica informal no qual são utilizados a linguagem natural e o contexto social dos argumentos. No entanto, os princípios básicos e fundamentais dos Lógicos aqui apresentados continuam válidos e úteis seja na Filosofia, seja na Ciência. No livro “Logic for dummies”, Zegarelli (2007, p.46) faz uma lista com áreas em que a Lógica é especialmente usada: Matemática: Na matemática constitui um de seus três alicerces ao lado das teorias dos números e conjuntos, é especialmente útil ao lidar com abstrações complexas. Ciências: A ciência segundo o autor intenciona entender a realidade: 1-Reduzindo a realidade a uma série de abstrações chamadas de modelos. 2-Trabalhando no interior desse modelo para chagar a uma conclusão. 3-Aplicando essa conclusão de volta a realidade. A Lógica é útil na avaliação dessas conclusões e correlação entre os modelos e a realidade. As áreas em que mais se usa a Lógica são as chamadas ciências quantificáveis tais como Física, Engenharia e Química seguidas pelas 1 Para uma lista mais completa dos diferentes sistemas lógicos cf. MURCHO, D.; GOMES, N., 2006. 4 ciências qualitativas como Fisiologia, Medicina e Biologia que a usam mas com um grau menor de certeza e por fim as ciências sociais como Psicologia, Economia e Sociologia que tendem a se basear menos na Lógica pura. Computação: A Lógica está na base da moderna computação, Alan Turing considerado o pai da computação era um especialista em Lógica. Direito: Em um julgamento, advogados e juízes analisam e criam argumentos, que são confrontados com os fatos e a lei e ao criar leis, parlamentares devem justiça-las racionalmente na assembleia. Filosofia: A Lógica é especialmente usada na Filosofia, que tenta explicar a realidade através de argumentos. Além disso, a Lógica é útil no cotidiano para nos ajudar a raciocinar com mais eficiência e fazer melhores escolhas e nos comunicarmos de modo mais racional. Investigação textual e leitura crítica: Texto 1: Preste atenção às origens das ideias. (MCINERNY, D. Use a lógica: um guia para o pensamento eficaz, 2006. p.24). Todos tendemos a favorecer as próprias ideias, o que é completamente natural.afinal de contas, elas são nossos bebês, autênticas criações de nossas mentes. mas a criação só se torna possível no sujeito que pensa em razão desse sujeito com o mundo. Nossas ideias devem sua existência, basicamente, às coisas do mundo exterior que independem da mente: os fatos objetivos. Nossas ideias são claras, e nosso entendimento sobre elas também é claro á medida que as mantemos ás coisas às quais elas se referem. O foco precisa estar na origem de nossas ideias no mundo objetivo. Não entenderemos, de fato, nossas próprias ideias supondo que elas tenham nascido de si próprias, ou seja, que não devem sua existência à realidade externa. Quanto mais focamos nossas ideias de modo que elas sistematicamente ignorem as origens objetivas, mais duvidosas elas se tornam. Os laços saudáveis que ligam à ordem subjetiva a objetiva são colocados sob grande tensão, e , se colocarmos muita força no processo, os laços podem romper-se. 5 Dessa maneira, nós, efetivamente, nos separamos do mundo objetivo. Em vez de percebermos o mundo como ele é, captamos um mundo projetado, um mundo que não é apresentado em nossa mente, mas que é produto dela. Quando falamos em “comprovar um fato”, não nos referimos a comprovar a existência de uma ideia em nossa mente. A ideia na mente, como vimos, é um fato subjetivo, mas um fato com o qual estamos preocupados aqui é um fato objetivo. Para isso, precisamos ir além das ideias , ou seja, às fontes do mundo objetivo. Eu comprovo um fato se, com sucesso, verifico que existe, para certa ideia em minha mente, uma realidade correspondente que seja externa a ela. Por exemplo, tenho uma ideia em minha mente que chamo de “gato” Em correspondência a essa ideia, existem, no mundo externo, coisas que se chamam “gatos”. Mas eu poderia ter outra ideia em minha mente nomeada “centauro”, para qual não existe um fato correspondente no mundo externo. Por isso, a ideia de “centauro” é um fato subjetivo, já que só existe como ideia em minha mente. Texto 2:Aristóteles demonstrando as leis do pensamento. (Aristotle, Metaphysics, Book IV, 1006a, trans. Richard McKeon New York: Random House, 1941, p. 737.apud Vaughn, Lewis, and Theodore Schick. How to Think About Weird Things: Critical Thinking for a New Age by. Mountain View, Calif: Mayfield Pub, 1999. p.19, Tradução nossa.) Há alguns que, como dissemos, a si mesmos afirmam que é possível para a mesma coisa ser e não ser, e dizer que as pessoas podem julgar que este seja o caso. Mas agora temos que postular que é impossível para qualquer coisa ao mesmo tempo ser e não ser, e por este meio tenho mostrado que este é o mais indisputável de todos os princípios. Alguns realmente querem exigir que mesmo este deve ser demonstrada, mas isso eles fazem por falta de instrução, por não saber do que coisas que se deve exigir demonstração, e do que não se deve, argumentar requer educação. Porque é impossível que deva haver demonstração de absolutamente tudo (haveria um infinito regredir, de modo que ainda não haveria nenhuma demonstração), - mas se há coisas de que não se deve exigir a demonstração, estas pessoas não podiam negar que esse princípio é auto-evidente. Podemos, no entanto, demonstrar negativamente mesmo que esta visão é impossível. O ponto de partida para todas as provas é que a nossa oponente deve dizer algo que é significativo tanto para si e para o outro, - para este é necessário, se ele realmente não quer dizer nada. Pois, se ele não significa nada, um homem não vai ser capaz de raciocinar, ou com o próprio ou com outra. Mas, se alguém diz algo que é significativo, a demonstração é possível, - pois já deve ter alguma coisa definitiva. A pessoa responsável pela prova, no entanto, não é aquele que demonstra, mas aquele que escuta, por enquanto renegando a razão, ele ouve a razão. E mais uma vez é possível este admitir que algo é verdadeiro para além de demonstração Texto 3: Auto contradição,Autorefutação e Paradoxo. (Murcho, Desidério. Disponível em: http://blog.criticanarede.com/2008/08/autocontradio-auto-refutao-e-paradoxo.html. Acesso em 13/11/2014) Faz-se por vezes alguma confusão com os conceitos de autocontradição, auto 6 refutação e paradoxo. Vejamos se ajudo a esclarecer as coisas. Uma autocontradição não é uma afirmação paradoxal, mas antes uma mera falsidade lógica (tomando este conceito no seu sentido mais amplo, incluindo portanto falsidades conceptuais ou analíticas). Uma proposição é uma autocontradição quando... é uma contradição. Não há diferença entre os conceitos. Apenas popularmente se diz que alguém entrou em autocontradição quando se contradiz a si mesmo. Assim, uma autocontradição é algo como “Asdrúbal é lisboeta e Asdrúbal não é lisboeta”. Uma afirmação é auto refutante quando a sua verdade implica a sua falsidade. Afirmar que não há verdades é auto refutante porque implica que o que acabámos de dizer não é verdade. Contudo, afirmar que todas as nossas crenças podem ser falsas não é auto refutante porque não implica que esta afirmação é falsa, mas apenas que pode ser falsa, ainda que acreditemos que é verdadeira. O que seria auto refutante seria acreditar que todas as nossas crenças são falsas. O operador de modalidade (“pode”) faz uma diferença crucial, mas para se compreender a diferença seria necessário conhecer um pouco a lógica modal. Por outro lado, uma afirmação é paradoxal quando a sua verdade implica a sua falsidade e a sua falsidade implica a sua verdade. A afirmação “Esta frase é falsa” é paradoxal porque se for verdadeira, ocorre o que ela diz e portanto é falsa; e se for falsa, a sua negação ("Esta frase é verdadeira") é verdadeira pelo que a frase é verdadeira. Já a afirmação “Todas as frases são falsas” não é paradoxal — é auto refutante — porque a sua falsidade não implica a sua verdade: se a frase for falsa, isso significa que algumas frases são verdadeiras, o que não nos obriga a concluir que a frase original é verdadeira. Espero ter ajudado a esclarecer os amáveis leitores que ficaram algo perplexos com a minha afirmação de que a plena assunção da nossa falibilidade implica aceitar que todas as nossas crenças, por mais arreigadas que sejam, podem ser falsas. A minha afirmação não implica duas coisas: 1) que não podemos ter certezas (eu tenho muitas), nem 2) que todas as nossas crenças são falsas. Esclarecer em que sentido podem todas as nossas crenças ser falsas fica para outra altura, pois envolve uma ambiguidade no uso do operador de modalidade, "pode". Por exemplo, se houver verdades necessárias, e se P for uma dessas verdades, e se um agente falível acreditar que P é verdade, é óbvio que apesar de P ser objeto da crença de um agente falível P não pode ser falsa. Aplicação: 1-Caçadores do impossível: Divida a sala em grupos, e para cada grupo apresente uma cena de um filme de terror, ação ou ficção científica. Peça para que eles em seminários pesquisem e expliquem usando o que aprenderam se a cena é logicamente, fisicamente ou tecnicamente impossível. Avaliação: Exercícios: 7 1-Qual a relação entre logicamente possível e fisicamente possível? 2-Explique o que são a priori e aposteriori. 3-Para que serve a Lógica? 4-Identifique se há problemas relacionados à Lógica no texto abaixo: A lei da atração. o segredo é lei da atração. (Excertos de Byrne, Rhonda. The Secret: o segredo. Fundação Dorina Nowill para Cegos, 2009.) Tudo que vem até você é atraído por você mesmo. É atraído até você pelas imagens que você mantém em sua mente. É o que você está pensando. Tudo o que se passa na sua mente é atraído até você. Alguns povos sempre souberam disso. Os babilônios sempre souberam disso. São grupos privilegiados de pessoas. Porque você acha que 1% da população mundial ganha cerca de 96% do dinheiro que é gerado em todo o planeta? Você acha que isso é um acidente? Isso não é um acidente! É planejado dessa forma. Eles sabem de algo, entendem algo. Eles entendem O SEGREDO. E nesse exato momento, você está sendo apresentado ao SEGREDO. O modo mais simples, a meu ver, de se encarar a LEI DA ATRAÇÃO é imaginar a si mesmo como um imã. Um imã atrai outro imã. Basicamente a LEI DA ATRAÇÃO diz que semelhantes se atraem, tendo em vista que essa é uma lei que trabalha no nível do pensamento. Nosso trabalho, como seres humanos, é pensar no que nós queremos e deixar isso absolutamente claro nas nossas mentes. Desse ponto em diante nós passamos a invocar uma das leis mais poderosas do universo: A LEI DA ATRAÇÃO. Você se torna aquilo no qual você mais pensa, mas você também atrai aquilo no qual você mais pensa. Se você visualizar em sua mente, você irá segurar em sua mão. E esse princípio pode ser resumido em quatro palavras simples: PENSAMENTOS SE TORNAM COISAS. 5-Dê exemplos dos princípios fundamentais da Lógica. 8