Relato de Caso Retalho ileocólico para reabilitação simultânea da fonação e deglutição após faringolaringectomia total. Relato de caso Ileocolic free flap for simultaneous rehabiliation of phonation and swallowing after pharyngolaryngectomy. Case report Resumo Introdução: Pacientes com tumores avançados da laringe e hipofaringe que requerem laringectomia total perdem a capacidade de fonação, a qual costuma ser restabelecida por um de três métodos: a voz esofágica, a laringe eletrônica ou a prótese traqueoesofágica. Outra possível forma de restabelecimento da fonação, porém pouco difundida, é através do retalho livre ileocólico, descrito por Kawahara em 1992. Até o momento essa técnica não foi descrita na literatura médica latinoamericana. Objetivo: Apresentar o caso de um paciente em que foi empregada uma modalidade cirúrgica de reconstrução do trânsito faringoesofágico que permite a fonação e deglutição simultâneas após faringolaringectomia total. Relato do Caso: Paciente do sexo masculino, 60 anos de idade, com tumor avançado de hipofaringe cT4N2cM0. Após faringolaringectomia total foi preparado retalho ileocólico compreendendo a porção final do íleo, o ceco e porção do cólon ascendente pediculado na artéria ileocólica. O ceco foi anastomosado ao esôfago cervical, a porção distal do cólon ascendente anastomosada à orofaringe, e o íleo distal anastomosado na parede posterior da traqueia. A partir do 45° dia de pós-operatório o paciente iniciou exercícios de fonação com sucesso. Comentários finais: o retalho ileocólico é mais uma alternativa para reconstrução nos pacientes submetidos à faringolaringectomia total, restabelecendo não somente a deglutição, mas também a fonação. Descritores: Laringectomia; Voz Alaríngea; Valva Ileocecal; Hipofaringe; Neoplasias Laríngeas. INTRODUÇÃO O tratamento cirúrgico para tumores avançados da laringe e hipofaringe que requerem faringolaringectomia total ocasiona a perda temporária da fonação, indepen- Marco Antonio Scirea Tesseroli 1 Clineu Gaspar Jr 2 Andreza de Lima do Divino de Almeida 3 Alexandre Medeiros 4 Mauricio Spagnol 5 Abstract Introduction: Patients with advanced tumors of the larynx and hypopharynx requiring laryngectomy lose the speech capacity, which is usually restored by one of three methods: esophageal speech, the electronic larynx or tracheoesophageal prosthesis. Another possible mean of restoring speech, but little known, is through the ileocolic free flap, described by Kawahara in 1992. So far this technique has not been reported in Latin American literature. Objective: To present the case of a patient in whom a surgical approach was used for reconstruction of pharyngooesophageal transit allowing simultaneous speech and swallowing after total pharyngolaryngectomy. Case Report: A male patient, 60 years of age, with advanced tumor of the hypopharynx cT4N2cM0. After total pharyngolaryngectomy an ileocolic flap was prepared comprising the end portion of the ileum, the cecum and ascending colon pedicled on the ileocolic artery. The cecum was anastomosed to the cervical esophagus, the distal ascending colon anastomosed to the oropharynx, and the distal ileum anastomosed to the posterior wall of the trachea. From the 45th day after surgery the patient has begun speech exercises successfully. Final comments: The ileocolic flap is another alternative for reconstruction in patients undergoing total pharyngolaryngectomy, restoring not only swallowing but also speech. Key words: Laryngectomy; Speech, Alaryngeal; Ileocecal Valve; Hypopharynx; Laryngeal Neoplasms. dente de qual método seja usado na reconstrução: retalhos fascio-cutâneos, retalho miocutâneo de peitoral, transposição gástrica, retalhos livres de jejuno, gastroomental, radial ou lateral da coxa1. Nesses casos a fonação pode ser restabelecida por 1) Professor Titular. Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Regional do Oeste - Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira. Professor Titular da Disciplina de Anatomia do Curso de Medicina da Universidade Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó), Chapecó/SC, Brasil. 2 Acadêmico de Medicina- Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó - Chapecó, Santa Catarina. 3) Acadêmica de Enfermagem - Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó - Chapecó, Santa Catarina. Acadêmica de Enfermagem. Instrumentadora Cirúrgica do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. 4) Especialista em Cirurgia Vascular e Endovascular. Cirurgião Vascular do Hospital Regional do Oeste - Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira. 5)Especialista em Cirurgia Geral. Cirurgião Geral do Hospital Regional do Oeste - Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira. Professor Titular Curso de Medicina da Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó - Chapecó, Santa Catarina. Instituição: Hospital Regional do Oeste - Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira. Chapecó / SC – Brasil. Correspondência: Marco Antonio Scirea Tesseroli - Rua Marechal Deodoro 400-E, sala 504 – Centro - Chapecó / SC – Brasil - CEP: 89802-140 – E-mail: [email protected] Recebido em 16/12/2011; aceito para publicação em 21/02/2012; publicado online em 17/12/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 203-206, outubro / novembro / dezembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 203 Retalho ileocólico para reabilitação simultânea da fonação e deglutição após faringolaringectomia total. Relato de caso. três métodos: a voz esofágica, a laringe eletrônica e a prótese traqueoesofágica. Cada uma dessas modalidades de reabilitação apresenta vantagens e desvantagens. A voz esofágica é a forma mais barata, porém, apenas aproximadamente 30% dos pacientes conseguem bons resultado com essa técnica2. A laringe eletrônica, além de um alto custo inicial, apresenta o inconveniente de uma voz robótica e a necessidade de portar sempre consigo o aparelho. Atualmente a prótese traqueoesofágica é a opção “gold standard”, mas como desvantagem, tem um alto custo associado à necessidade de trocas periódicas e possíveis complicações3. Em 1992, Kawahara et al.4, descreveram uma técnica cirúrgica utilizando retalho ileocólico para o restabelecimento da deglutição e a criação de uma fonação não-laríngea. Esse retalho permite a reconstrução de defeitos ocasionados por faringolaringoesofagectomia com a criação de uma fístula traqueoileal. Com isso, a fonação pode ser restabelecida pela passagem do ar da traqueia, quando ocluída, para o íleo terminal, cólon ascendente e finalmente cavidade oral. Ao mesmo tempo em que é possível a passagem do ar do íleo para o cólon ascendente, a alimentação pode ser retomada sem que haja aspiração devido à ação da válvula ileocecal. Até o momento poucos estudos foram publicados desde Kawahara, no entanto, os poucos existentes mostram bons resultados com essa técnica - destaca-se a casuística de Chen, com 68 casos publicados5. No Brasil e na América Latina não há relato dessa cirurgia. Este estudo tem como objetivo apresentar o caso de um paciente em que foi empregada uma modalidade cirúrgica de reconstrução do trânsito faringoesofágico após faringolaringectomia total que restabelece simultaneamente a fonação e deglutição. RELATO DE CASO Paciente de 60 anos, sexo masculino, com carcinoma epidermoide de seio piriforme cT4N2cM0 foi submetido faringolaringectomia total, linfadenectomia cervical bilateral dos níveis II a V e tireoidectomia total no dia 16 de novembro de 2010. A cirurgia consistiu inicialmente da ressecção do tumor, seguida pela reconstrução do trânsito com retalho ileocólico conforme já descrito por outros autores. Utilizou-se a anastomose do pedículo vascular intestinal com a veia jugular interna e carótida externa (término-lateral com polipropileno 8-0). O cólon foi posicionado de modo anti-peristáltico sendo suturado o ceco ao esôfago cervical através de grampeador circular n° 21, e a porção distal do cólon ascendente foi suturada à base da língua de modo manual. O íleo foi anastomosado manualmente à parede posterior da traqueia após realizar pequena “janela” de aproximadamente 5mm nesta. Evoluiu com grande edema de face, principalmente na região parotídea bilateralmente. No 4° dia pós-operatório foi observada secreção salivar na ferida cervical, sendo proposto tratamento conservador para a fistula, Tesseroli et al. porém devido ao fato de débito progressivamente maior, optou-se por reabordagem cirúrgica no 10° pós-operatório. Foi então constatada necrose parcial do retalho ileocólico, envolvendo a porção distal do segmento colônico – a área de anastomose entre o retalho e a base da língua. O seguimento necrótico foi debridado, e confeccionado retalho miocutâneo de peitoral, que serviu de ponte entre o restante do segmento intestinal e a base da língua. O paciente evoluiu favoravelmente e 10 dias após a reintervenção cirúrgica, tendo realizado radiografia com contraste que não evidenciou trajeto fistuloso ou entrada do contraste para o segmento ileal, recebeu alta. No 45° dia pós-operatório foi feita a primeira tentativa de fonação, pela simples oclusão do traqueostoma. No entanto, não houve passagem de ar através da fistula traqueoileal. Introduziu-se então pequeno segmento de sonda nasogástrica n° 18 na fistula, mantendo-a em posição através de um ponto de sutura. Logo após o paciente foi capaz de verbalizar e ser compreendido, realizando a manobra de oclusão. O exame anatomopatológico mostrou se tratar de um pT4N2b (invasão de cartilagens laríngeas, osso hioide e glândula tireoide). Foi então indicado tratamento adjuvante com radioterapia (RT) e quimioterapia (QT). O paciente, que vinha se alimentando por boca, evoluiu com disfagia a líquidos durante o tratamento adjuvante, necessitando ser submetido à gastrostomia. Após o término da adjuvância foram realizadas 4 sessões de dilatação endoscópica e o paciente voltou a alimentar-se por via oral, inclusive com sólidos. DISCUSSÃO Uma grande quantidade de aparatos cirúrgicos e artificiais tem sido utilizada para a restauração da voz em pacientes laringectomizados totais. Como métodos não-cirúrgicos destacam-se a prótese traqueoesofágica, a eletrolaringe e a fonação através do esôfago. O dispositivo pneumático externo é outro método empregado, mas pouco difundido no ocidente. Infelizmente nenhuma dessas técnicas é completamente satisfatória e todas apresentam algum ponto desfavorável. A prótese traqueoesofágica permite sucesso em mais de 90% dos casos, no entanto, exige a troca do dispositivo periodicamente, o que a torna de elevado custo e, ainda hoje, impraticável de forma rotineira no Sistema Único de Saúde (SUS). Não há nem mesmo um código especifico na tabela de procedimentos médicos do sistema público de saúde, para a colocação da prótese, tampouco um para a sua troca. Existem várias formas de reconstrução do trânsito faringoesofágico. Na literatura as opções de reconstrução que se destacam são o retalho fasciocutâneo de antebraço, lateral de coxa e o retalho gastro-omental. Porém ainda existem várias alternativas, como o retalho pediculado de peitoral maior, o retalho livre de jejuno, entre outros1. Contudo, nenhuma dessas formas de reconstrução oferece a possibilidade 204 e���������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 203-206, outubro / novembro / dezembro 2012 Retalho ileocólico para reabilitação simultânea da fonação e deglutição após faringolaringectomia total. Relato de caso. de reabilitação da fonação, sendo necessário, utilizar algum dos métodos artificiais citados anteriormente. O retalho ileocólico foi descrito pela primeira vez em 1992, no Japão4. Desde então poucos artigos foram publicados a respeito, sendo que a maior parte deles é de autoria de um mesmo grupo cirúrgico taiwanês, entretanto os resultados apresentados são positivos. Essa técnica é baseada na presença da válvula ileocecal, que agiria como um esfíncter, representando uma “neoglote”, impedindo que saliva e alimentos entrem no íleo e atinjam a traqueia. Ao mesmo tempo, ao se ocluir o traqueostoma, o ar entra no íleo, passa pela válvula ileocecal, ceco, cólon ascendente e ganha a cavidade oral, permitindo a fonação. A competência da válvula ileocecal é fundamental para o sucesso da cirurgia. Como ela não tem um papel anatômico de esfíncter, existe o risco de incompetência dessa estrutura. Assim alguns autores orientam certas estratégias para assegurar o bom funcionamento da válvula. Uns realizam uma ressecção em cunha do tecido subseroso da válvula e sutura com fio absorvível para estreitar o esfíncter6; outros apenas suturam a válvula ileocecal para diminuir seu diametro4. Outra técnica descrita é manter redundante o segmento de íleo terminal, o que, segundo o autor, causaria um prolapso da válvula para a luz do ceco e diminuiria o risco de aspiração; também se descreve a sutura da serosa do ceco e do íleo terminal, com o mesmo objetivo4. Segundo Rampazzo, fatores como idade, radioterapia e quimioterapia não interferem na competência da válvula7. O caso por nós descrito não teve manipulação da válvula ileocecal, porém o paciente não teve sinal clínico ou radiológico de aspiração. Existem variações técnicas quanto à anastomose do íleo à traqueia. Tanto as descrições quanto as ilustrações mostram anastomose término-lateral entre o íleo e a parede posterior da traqueia8, término-lateral entre o íleo e a parede lateral da traqueia5,9, e mesmo término-terminal4,5,6, realizando-se então traqueostomia para permitir a respiração. Kawahara et al. descrevem inclusive um ileostoma lateralmente ao traqueostoma; assim, seria utilizada uma cânula entre o traqueostoma e o ileostoma para permitir a fonação. No caso aqui descrito realizouse anastomose término-lateral com a parede posterior da traqueia, a exemplo do que se faz para a inserção das próteses fonatórias. Contudo, essa talvez não seja a melhor opção, pois o íleo acaba “acotovelando-se” por detrás da traqueia e dificultando a passagem de ar. Foi necessária a introdução de um pequeno segmento de sonda nasogástrica n° 18 no orifício da anastomose para vencer esse obstáculo mecânico e permitir a fonação em nosso paciente. Uma das preocupações seria o refluxo da secreção da mucosa do íleo para a traqueia, mas isso não foi observado em nenhum momento; da mesma forma, nenhum dos autores cita tal fato. O segmento de intestino grosso tem sido posicionado tanto de modo isoperistaltico como anisoperistaltico. Utilizamos o ceco anastomosado ao esôfago e o cólon ascendente anastomosado à base da língua para que o Tesseroli et al. segmento de íleo fosse o menor possível, para evitar que o ar expirado pudesse se armazenar nessa alça e prejudicar a fonação, como relatado por Succo et al10. Observamos, no entanto, que o trânsito alimentar é lento no segmento cervical, porém talvez a posição da alça não seja o único fator implicado; as haustrações do cólon, que diferem em muito da mucosa do esôfago, poderiam ser outra causa dessa lentidão6. Apesar de o paciente ter evoluído com estenose severa da anastomose com o esôfago durante o tratamento com RT/QT, após 4 sessões de dilatação endoscópica voltou a ingerir alimentos sólidos. Leu et al observaram que de seus 15 pacientes, 7 assumiam dieta sólida 6 meses após o procedimento, 6 dieta semissólida e 2 dieta liquida11. Quanto à fonação, nosso paciente não foi avaliado através de um método qualitativo. Constatamos empiricamente que tem fala inteligível e satisfatória, podendo se expressar verbalmente no seu dia-a-dia, no entanto existe uma alternância de qualidade da voz. Frequentemente ela é molhada, provavelmente devido às secreções tanto do íleo como do cólon, e à estase salivar no cólon; porém por vezes ela torna-se soprosa. Outra questão não citada na literatura é quanto ao hálito. Por vezes sentimos odor bastante desagradável durante a fonação. Nosso paciente foi submetido a RT/QT adjuvante e esperávamos uma mudança na flora bacteriana, bem como atrofia ou metaplasia da mucosa dos segmentos de intestino, que talvez não tenham ocorrido até o momento. Ainda em relação à voz, Chen et al. avaliaram a eficácia desse método em comparação com a utilização da “laringe pneumática”, bem como a deglutição em ambos os grupos. Os pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico tiveram uma melhor inteligibilidade e fluência do que aqueles que utilizavam do método artificial para fonação; não houve diferenças quanto à deglutição, mostrando que a reconstrução com o retalho ileocólico não traz piores resultados nesse quesito8. Não há na literatura uma comparação entre o retalho ileocólico e a prótese traqueoesófagica, que é hoje o método “gold standard” de reabilitação fonatória. Leu et al. consideraram “voz inteligível” como o reconhecimento de 70% das palavras proferidas. Observaram que após 12 meses da cirurgia 41.7% dos pacientes tinham voz inteligível, aos 18 meses a inteligibilidade chegou a 62.5%, caindo para 50% aos 24 meses. Dos 6 pacientes da série de Kawahara et al. 4 sobreviveram, e destes 3 apresentavam voz com qualidade regular à boa11. Karri et al. descreveram que de 40 pacientes submetidos a essa cirurgia no período de janeiro de 2004 a julho de 2009, 17 foram avaliados quanto à qualidade fonatória e qualidade de vida (12 pacientes haviam morrido, 8 perderam o seguimento, 2 se recusaram a participar do estudo e 1 havia apresentado um acidente vascular encefálico, impossibilitando-o de participar)9. Nesse estudo utilizou-se o escore de Hirose para avaliação da fonação, obtendo-se resultado excelente em 4 pacientes Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 203-206, outubro / novembro / dezembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 205 Retalho ileocólico para reabilitação simultânea da fonação e deglutição após faringolaringectomia total. Relato de caso. e moderado em 8. Dez pacientes ainda foram avaliados quanto ao tempo fonatório máximo, com média de 9 segundos (3 – 28). Outra questão que merece análise nos retalhos microcirúrgicos é a morbidade da área doadora. O íleo é um segmento responsável pela absorção de alguns nutrientes e vitaminas, além de ser responsável pela inibição da mobilidade jejunal, prolongando o tempo de absorção. A válvula ileocecal otimiza o fluxo de quimo para o cólon e atua como uma barreira mecânica contra o refluxo do conteúdo colônico. A perda da válvula ileocecal permitiria o refluxo desse conteúdo e consequente crescimento bacteriano no íleo terminal, interferindo com a absorção de sais biliares e produzindo diarreia crônica. A falta de absorção poderia resultar na deficiência de vitaminas lipossolúveis, além de permitir a combinação do cálcio com as gorduras e causando hipocalcemia12. Rampazzo et al. em seu estudo que endereçou especificamente a morbidade da área doadora, constataram que 56% dos seus 34 pacientes apresentaram algum grau de diarreia após a cirurgia, no entanto ela se resolveu espontaneamente em até 4 meses de pós-operatório, exceto em 2 pacientes (6%)12. Nosso paciente passou a apresentar episódios de diarreia logo que reiniciou a alimentação enteral, porém houve melhora com o uso de loperamida, e resolução espontânea poucos dias após a alta hospitalar. COMENTARIOS FINAIS Apesar das modalidades já existentes para reabilitação fonatória, a dificuldade em conseguir tais métodos para os pacientes do SUS nos leva a acreditar que o retalho ileocólico é uma opção válida após faringolaringectomia total. Esse retalho também foi descrito para reconstrução em ressecções mais amplas, englobando faringe, laringe e esôfago torácico13. Em casos em que haja indicação de retalho microcirúrgico para a reconstrução do transito faringoesofágico, a possibilidade de utilização do retalho ileocólico deve ser aventada quando se deseja o restabelecimento da fonação, concomitante à deglutição. Tesseroli et al. REFERÊNCIAS 1. Patel RS, Goldstein DP, Brown D, Irish J, Gullane PJ, Gilbert RW. Circumferential pharyngeal reconstruiction: history, critical analysis of techniques, and current therapeutic recommendation. Head & Neck: 2010; 32(1):109-120. 2. Brown DH, Hilgers FJ, Irish JC, Balm AJ. Postlaryngectomy voice rehabilitation: state of the art at the millennium. World J Surg. 2003 Jul;27(7):824-31. 3. Pawar PV, Sayed Su, Kazi R, Jagade MV. Current status and future prospect in prosthetic voice rehabilitation following laryngctomy. J Can Res Ther. 2008; 4(4): 186 – 191. 4. 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