fotografia, cultura e geografia – um caminho para apreensão de

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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
FOTOGRAFIA, CULTURA E GEOGRAFIA – UM CAMINHO PARA
APREENSÃO
DE
REALIDADES
E
CONSTRUÇÃO
DE
CONHECIMENTOS
Fernanda Ribeiro Amaro 1
Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos 2
Iniciando a caminhada
A partir da realização da Exposição fotográfica “MaPá: Um Roteiro, Vários
Percursos”, com imagens do Maranhão e do Amapá, realizada na cidade de Uberlândia-MG,
em três momentos e locais diferentes, foi que surgiu a idéia de desdobrar o projeto, que
culminou primeiramente em relato de experiência através de um pôster, apresentado no eixo
temático “Educação, Arte e Cultura” - Fórum Mundial de Educação (Terceira Versão), na
cidade de Porto Alegre, no mês de julho de 2004.
A Exposição Fotográfica buscou retratar fragmentos da diversidade regional
brasileira e divulgar aspectos de realidades sócio-ambientais-culturais dos dois estados
citados, propiciando a afirmação de nossos entendimentos quanto ao papel da linguagem
fotográfica, a qual pode se constituir em um poderoso instrumento pedagógico-cultural na
perspectiva de uma educação formal ou não, no sentido da construção de cidadania.
Com o presente artigo objetivamos a reflexão, discussão e o aprofundamento tanto
em relação à dimensão teórica, quanto em termos da metodologia utilizada, nas
experiências empreendidas, primeiramente com a Exposição em seus três momentos, e,
posteriormente com a elaboração e apresentação de pôster no Fórum Mundial de Educação
(Terceira Versão).
Nosso intuito é avançar em na idéia de trabalhos com a fotografia entendida como
importante instrumento na apreensão de realidades, construção de conhecimentos e
enriquecimento cultural, integrando-se entre mapas, cartas, plantas, croquis, maquetes,
textos, etc. no arsenal de ferramentas para o ensino da Geografia.
Aqui, a fotografia é assumida como poderosa linguagem no âmbito do fazer cultural,
sendo destacada na direção do estabelecimento de reflexões quanto à relação entre o
“vedor / ledor” e os registros fotográficos, na perspectiva da aproximação e apreensão dos
conteúdos fotografados. Entendemos a linguagem fotográfica como valiosa ferramenta nos
Aluna do Curso de Geografia – Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia
[email protected]
2
Professor do Instituto Geografia da Universidade Federal deUberlândia
[email protected]
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processos de informação, formação e fruição, dados seus estímulos, sua plasticidade e
forma de comunicação, o que, pode sobremaneira contribuir na criatividade e dinamização
dos mesmos.
A Exposição MaPá e seus momentos
Tendo em vista viagem de caráter cultural e passeio, realizada no início de 2003 ao
Maranhão e Amapá, Luiz Gonzaga Falcão Vasconcellos, teve a oportunidades de colher
material impresso sobre o os lugares onde passou, e em especial efetivou muitos registros
fotográficos. A partir daí, surgiu a idéia de realizar uma exposição fotográfia, tendo convidado
o Geógrafo Frederico Ozanan Ramos Pinto, aluno do mestrado em Geografia da
Universidade Federal de Uberlândia - UFU e a Artista Plática e Paisagista Zilma de Castro
Santana, para participarem do emprendimiento, o que levou o envolvimento dos mesmos na
elaboração e desenvolvimento do Projeto do evento.
Após várias conversas, definiu-se pela realização da Exposição, voltada para um
público diversificado em termos de instrução, faixa etária e, nível sócio-cultural, bem como
optou-se também por buscar realizá-la em local de grade movimentação e fácil acesso.
Teve-se também a intenção de a difundir e promover a popularização de realidades
geográficas distintas das encontradas em Uberlândia, inserida no contexto do Cerrado e do
Triangulo Mineiro.
Primeiramente foram feitas algumas reuniões entre a equipe do projeto, para
reflexões e conhecimentos quantos aos registros das realidades geográficas constantes nas
fotografias. Posteriormente foi pensada a concepção e caminho para a montagem da
Exposição propriamente dita, um realização do Instituto de Geografia, a qual foi concebida e
desenvolvida de forma coletiva com a concorrência dos profissionais citado e monitores alunos do Curso de Geografia da UFU.
A Exposição aconteceu em três locais e momentos distintos, respectivamente: no
Terminal Central do SIT (Sistema Integrado de Transporte Coletivo de Uberlândia) / Pratic
Center (15 a 21 de dezembro de 2003); no saguão da Biblioteca do Campus Santa Mônica –
UFU (22 de dezembro de 2003 até o final de janeiro de 2004) e no saguão do Bloco 3Q Campus Santa Mônica – UFU, (15 e 16 de maio de 2004, durante o Fórum Social do
Triângulo Mineiro (Primeira Versão).
No primeiro caso a escolha recaiu sobre Terminal Central do SIT (Sitema Integrado
de Transporte Coletivo) / Pratic Center (Shopping), na área central da cidade de Uberlândia,
local de grande movimentação, por onde circulam mais de 100.000 pessoas diariamente.
Pessoas, com os mais diferentes níveis de instrução, transitando na direção dos mais
diversos cantos da cidade, em função de suas atividades, nos tempos individuais de cada
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um.O Terminal / Pratic Center constituie-se em um local de intenso vai-e-vem, onde as
pessoas não passam de anônimas, umas frente às outras.
Da exposição constaram 32 fotografias coloridas e em preto e branco, tamanho
25x30 centímetros, com personalidades próprias, entendidas como textos elaborados a
partir de enfoques oriundos das vivências do fotografo “amador”, Falcão Vasconcellos, um
viajante incansável e apaixonado pela terra, que registrou situações e momentos de lugares
do Maranhão – São Luís, São José do Ribamar, Raposa, Barreirinhas e do Amapá –
Macapá, Santana e Oiapoque, incluindo a cidade fronteiriça de São Jorge do Oiapoque na
Guiana Francesa às margens do Rio Oiapoque, no período de 6 a 19 de janeiro de 2003.
As fotografias foram definidas em comum acordo pelos três profissionais envolvidos,
a partir de quase três centenas de cópias. Da mesma forma, definiu-se pela ocupação do
espaço da mostra, com uma intervenção em forma orgânica sinuosa, valendo-se de uma
composição com plantas ornamentais que remetessem aos ambientes fotografados.
A Exposição foi delimitada fisicamente por uma concepção de ambientação proposta e
executada pela artista plástica e paisagista Zilma de Castro Santana, combinando várias
espécies vegetais, com cavaletes de madeira e painéis em madeira aglomerada (OSB), em
um desenho que optou pela estética da não simetria.
A ambientação sem dúvida ajudou em muito no que tange ao “convite, boas vindas e
acolhimento” aos visitantes. A instalação da Exposição (primeiro momento) foi realizada no
saguão do Pratic Center, em frente às roletas de acesso e saída dos pontos de embarque e
desembarque de ônibus, um espaço de muitas práticas cotidianas, que no decorrer da
Exposição teve sua dinâmica revigorada. Essa localização propiciou quase que uma
condição da “exposição ir ao encontro dos transeuntes, apresentando-se a sua apreciação e
tendo se postado praticamente no meio do caminho de potenciais visitantes”.Em especial no
primeiro momento, contou-se com a indispensável colaboração de apoiadores e parceiros,
entre eles: Arte Interior Paisagismo; Copy Center; Divisão de Relações Comunitárias DIVCO / Diretoria de Extensão - DIREC / Pró-Reitoria de Extensão, Culturas e Assuntos
Estudantis PROEX – UFU; Líder Foto Digital; ADUFU - Seção Sindical dos Docentes da
Universidade Federal de Uberlândia; Escritório Piloto do Núcleo de Pesquisas em Artes
Visuais - NUPAV / Departamento de Artes Plásticas – DEART / Faculdade de Artes,
Filosofia e Ciências Sociais – FAFCS / UFU.
Tanto o espaço onde se realizou a mostra, quanto as fotos e seus conteúdos, se
apresentaram como referências, na perspectiva de apreciações, apreensões visuais e
reflexões sobre registros fotográficos com paisagens e personagens, o que possibilitou aos
visitantes se reconhecerem e identificarem nas condições expressas nas fotografias
expostas. A foto a seguir mostra visitantes na Exposição em seu primeiro momento (Autor:
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L. G. Falcão Vasconcellos – dezembro de 2003).
Na Exposição foi disponibilizado um “livro para impressões” no formato A4, papel
branco e lápis de cor, giz de cera, canetas esferográficas (com cores diversas e pinceis
atômicos. No “livro de impressões” os “vedores / leitores” puderam expressar suas
impressões, compreensões e sentimentos, através da livre criação e manifestação, o que
resultou em significativas e belas manifestações, traços, linhas e cores, incluindo registros
extemporâneos a proposta do projeto. Em seguida apresentamos alguns dessas
impressões:
Os monitores já citados, alunos do Curso de Geografia da UFU atuaram na forma de
rodízio, estando presentes durante todos os dias e horários em que a Exposição aconteceu
em seu primeiro momento (Pratic Center), Sua atuação teve especial importância, na
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medida em que eles puderam além de disponibilizar informações escritas sobre o Maranhão
e o Amapá, puderam dialogar com os visitantes quanto as suas impressões em relação a
Exposição. Por outro lado eles também tiveram a tarefa de cuidar das plantas integrantes da
ambientação, bem como zelar pela manutenção geral da Exposição. Os monitores e
monitoras foram os seguintes: Anaisa Moreira Firmino, Michelle Camilo Machado Silva,
Sergio Diniz Valente, Sara Nunes Giffoni, Lucas Rodrigues Vieira, Thiago de Araújo Costa,
Marcos Augusto Macedo Vilela e Fernanda Ribeiro Amaro.
A presença entusiasmada dos monitores no primeiro momento da Exposição, e o
papel que desempenharam durante sua realização, contribuiu destacadamente para que
houvesse uma excelente integração entre evento / público – público / evento.
A Exposição em seu segundo momento aconteceu no saguão da Biblioteca do
Campus Santa Mônica – UFU, entre os dias dezembro de 2003 a janeiro de 2004, em
período de férias escolares, quando aproximadamente quinhentas tiveram oportunidade de
visitar a mostra Quanto a este momento, percebeu-se mudanças nas manifestações
expressas nos registros constante do Livro de Depoimentos de visitantes. Destaque-se que
espaço da biblioteca é marcado pela vida universitária, e os olhares seguramente são
perspassados por tal condição. Neste caso, as pessoas em geral só assinaram o nome e
em certas situações assinalaram breves e tímidos depoimentos, conforme algumas
transcrições a seguir:
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O terceiro e último momento da Exposição ocorreu nos dia 15 e 16 de maio de 2004, no
Fórum Social do Triângulo Mineiro - FSTM (Primeira Versão), realizado no Campus Santa
Mônica - Universidade Federal de Uberlândia, quando umas quinhentas pessoas visitaram a
mostra. O Fórum Social do Triângulo Mineiro - FSTM se constituiu em um importante
acontecimento, baseado na força da rica diversidade de origens, de práticas e de culturas
constitutivas da região. Este acontecimento foi realizado na mesma linha dos propósitos da
Carta de Princípios do Fórum Social Mundial - FSM, o qual constitui-se em um espaço
aberto às entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo, ao
domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. Reuniu entidades e
movimentos da sociedade civil, na busca de articulações no âmbito do Triângulo Mineiro.
Foi nesse contexto que realizamos a Exposição Fotográfica em sua última etapa,
quando mais uma vez pudemos contar com novos e expressivos depoimentos registrados
no Livro de Impressões, quanto ao material exposto.
Tendo em vistas os objetivos e propostas do Projeto da Exposição, foi de grande
oportunidade a realização dessa etapa da mostra, no contexto dessa rica experiência do
Fórum Social do Triângulo - FSTM, onde aconteceram atividades culturais, políticas,
conferências, reuniões diversas, constituindo-se em oportunidade de troca de informações,
discussões e debates, buscando-se alternativas para a Região, no que tange a
solidariedade, construção da cidadania e fortalecimento dos movimentos sociais, na
perspectiva da construção de novas e múltiplas alternativas ao caminho único do neoliberalismo.
Pensando os caminhos percorridos pela Exposição Fotográfica MaPá
Os monitores da exposições, em seus contatos com os visitantes ouviram vários
comentários com elogios e protestos de vedores, com relação aos conteúdos de algumas
fotografias. Através de reações de visitantes ficou evidente que muitos deles são emigrantes
que tem sua origem em estados do Nordeste e Norte do país. Alguns se exultaram de
alegria e verem retratados seus estados natais. Por outro lado, um senhor que se identificou
como maranhense indignou-se com a fotografia de uma construção em ruínas, alegando
que aquilo não representava sua região e que mostrava apenas pobreza, em detrimento de
um lugar com riqueza, construções modernas, bonitas mansões e prédios altos. A foto a
seguir, retratando ruínas de uma igreja em Alcântara – MA (Autor: Luiz Gonzaga Falcão
Vasconcellos - Janeiro de 2003),
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suscitou certas manifestações de um senhor. O referido senhor “leu” o conteúdo da foto a
partir de uma dada concepção, atribuindo um dado “valor” ao seu conteúdo em função do
estado da edificação, não avançando em perspectiva histórico-geográfica.
Reações como essa do senhor maranhense, nos levam a refletir quanto às
concepções em termos da estética e do gostar, e que há múltiplas formas e maneiras de se
“ler” uma mesma paisagem e personagens retratadas em fotografias. Dissecar uma
fotografia enquanto composição,é falar sobre o significado do inscrito, de acordo com as
associações operadas por meio da reflexão de cada vedor, com suas bagagens e histórias.
Novos caminhos: O Fórum Mundial de Educação – Terceira Versão
Após a Exposição e seus três momentos, teve-se a idéia de elaborar para Fórum
Mundial de Educação - FME (Terceiro Edição) um pôster em forma de relato com vistas a
divulgar a experiência desenvolvida no Projeto da Exposição, uma prática pedagógicoeducativa, que teve como ponto de partida “olhares geográficos inovadores” à cerca da
riquíssima diversidade sócio-ambiental-cultural do Brasil, com foco em lugares / territórios do
Nordeste e do Norte e da cidade fronteiriça de São Jorge do Oiapoque (Guiana Francesa).
O pôster foi apresentado conjuntamente com outros 1.650 trabalhos, que foram
vistos por cerca de 22 mil pessoas, no III Fórum Mundial de Educação - FME, realizado em
Porto Alegre, de 28 a 31 de julho de 2004, o qual teve como temática central a “Educação
para um Mundo Melhor”. A apresentação aconteceu no eixo temático Educação Arte e
Cultura.
A proposta do Fórum Mundial de Educação se apresentou como um momento de
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organização coletiva de reflexões a cerca das potencialidades e dos limites, bem como de
avanços, dificuldades, recuos e sobre as vitórias de uma educação libertadora e inclusiva,
capaz de promover a cidadania ativa, multicultural e planetária.
A programação e atividades do FME propiciaram a oportunidade da troca idéias
entre educadores, proporcionando reciclagens de conhecimentos e criação de novas
possibilidades de aprendizado em formas não-convencionais de ensino extra sala de aula,
para a preparação de cidadãos com formação multidisciplinar e capacidade de
discernimento, opinião e posicionamentos.
Com a apresentação do pôster no FME, pretendeu-se mostrar alternativas de
articulação entre universidade e sociedade através de diferentes linguagens, propiciando
aos interessados, oportunidades de obter informações, interagindo os mesmos em um
processo cultural de elaboração de novos conhecimentos. Logo, a fotografia utilizada como
no caso, pode se constituir em uma privilegiada ferramenta catalisadora na propagação de
informações e na elaboração de conhecimentos, na perspectiva de uma formação integral
que contribua para o desenvolvimento da cidadania. A seguir apresenta-se uma reprodução
do Pôster exposto que foi apresentado no Fórum Mundial de Educação – Terceira Versão.
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Idéias, reflexões e discussões
A imagem é a primeira forma de comunicação humana, a qual encontramos desde
os primeiros povos da pré-história, pertencentes às era geológicas do paleolítico e neolítico,
com suas pinturas rupestres em rocha, seguindo pela Idade Antiga, com as representações
artísticas das primeiras civilizações, como a Grega, a Romana, a Egípcia, a Bizantina e a
Islâmica.
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Na Idade Média com as imagens sacras e góticas percutindo o Renascentismo e
caracterizando o inicio da Idade Moderna, que une o rigor da ciência com a estética
humana. Nesta corrente, o mundo é pensado como algo a ser entendido e não somente
admirado, passando pelo Maneirismo, pelo Barroco, e pelo Rococó até Idade
Contemporânea, que sem dúvida foi um período rico em diversidade artesanal. Nele, a
tecnologia passa a ser instrumento de realização das obras e o artista tem mais liberdade
em sua expressão, o que levou a movimentos como Expressionismo, Impressionismo,
Dadaísmo, Cubismo e até Pop Arte 3 . Enfim, todas elas refletem a cultura vigente em uma
época, ocupando diferentes formas de produção, com diferentes funções. É necessário
atribuir equivalência de valorização quanto à importância das artes no contexto das culturas.
No caso da fotografia, como nos diz BARTHES em seu livro A Câmara Clara esta é
inclassificável em qualquer segmento artístico pré-estabelecido. Ela tem se feito presente
nas mais diversas manifestações culturais desde 1888, quando George Eastman criou sua
primeira câmara caixote, surgindo a fotografia que tornou-se uma das mais revolucionárias
invenções, galgando o lugar entre as mais populares formas de arte.
No decorrer de sua trajetória, a fotografia tomou lugar daquilo que fora anteriormente
uma das principais funções das artes - registrar com precisão a informação visual.
Por outro lado à fotografia que pode constituir-se em valioso acervo, tanto para
utilização como subsídio ou informação no desenvolvimento, por exemplo, de um assunto
em sala de aula, quanto para memória de trabalhos de campo. De outra maneira, pode
também se constituir em valioso auxiliar quando não se faz possível tal prática, constituindose em documento informativo e formativo com amplo espectro poético, estético, histórico,
cientifico, artístico, etc., e, portanto de inestimável valor cultural.
É preciso se trabalhar na direção da superação da condição por vezes inferiorizada
da fotografia, aprestada como mera ilustração, no contexto da cultura marcadamente
literária. Por outro lado necessário se faz ampliar o movimento em prol do reconhecimento
da fotografia enquanto atividade cultural.
Para não concluir: ponderações (?)
Refletindo sobre o significado das experiências desenvolvidas, bem como as
manifestações das pessoas que tiveram a possibilidade de visitar a Exposição Fotográfica e
dialogar com as fotografias, em um ou mais dos seus três momentos, reforçamos a idéia de
uma apreensão involuntária de realidades que se conjugam em processo de construção de
conhecimentos, que podem ser descritas tanto na linguagem coloquial, quanto na formal
3
Tendência estritamente britânica e norte americana que se utiliza dos símbolos mercadológicos em
suas obras, no qual muitas se inserem fotos publicitárias.
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cientificista.
As fotografias se conjeturariam como obras individuais obtidas por manifestação
empírica de uma realidade virtual, constituídas pelas normas que regem as práticas
singulares do fotógrafo. Á partir delas o expectador rege arbitrariamente o signo a ser
decodificado, segundo o qual as relações entre os vocabulários e o mundo se estabelecem,
não por leis imanentes da natureza, mas por operações do espírito humano, ou seja, pela
cultura.
Através do contato com arte e cultura o individuo amplia seus horizontes tornando-se
cidadão do mundo. O reforço da cultura popular trás identidade, orgulho e formação ao
sujeitos históricos compositores deste imenso mosaico de realidades que chamamos de
Brasil, eliminado discriminações ao passo da valorização e divulgação das diferenças sócioculturais-ambientais.
Assim, a comunicação se estabelece tanto através de textos, quanto através da
imagens, no caso, a as fotografias, que podem ser operadas pedagogicamente, dentro ou
fora da instituição de aprendizagem - seja na escola ou na academia - proporcionando uma
atitude interpretativa e retórica, tanto na acepção de denotação proposta por Barthes:
faculdade de provocar uma significação segunda, á partir de uma significação primeira, de
um signo pleno, quanto pela acepção de estilo, poética e estética, possibilitando o
reconhecimento da plasticidade das fotografias – cores, formas, composição, textura – na
sua admiração.
A fotografia por ser fixa, nos permite uma abordagem mais sensível e refletida da
paisagem, assegurando uma captação de informação e novos conhecimentos que se
configurariam como novas bagagens na vida e formação do observador.
Consideramos a experiência do Projeto da Exposição Fotográfica e seus desdobramentos,
inclusive com a elaboração do presente trabalho, como singular oportunidade para
discussões e experimentações envolvendo fotografia, cultura e Geografia, na busca de
caminhos para a apreensão de realidades e construção de conhecimentos.
Nossa expectativa é de que os relatos e reflexões aqui expostas, venham a contribuir
no sentido de uma maior utilização da fotografia como linguagem e ferramenta na
perspectiva do conhecimento geográfico e na difusão cultural. Para nós, ficou evidente a
força da fotografia e seu papel em termos do alto reconhecimento e também do
estranhamento das pessoas ao se depararem com os conteúdos nela apresentados, a partir
do olhar de quem gerou a imagem fotográfica.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
A propósito, Tomas Struth 4 nos diz que:
Ao se deslocar por lugares estranhos, os estrangeiro se põe
diante do novo e se faz ver por ele. Nesta mesma situação esta
revelação acontece quando a diversidade de novidades aponta para
que o estrangeiro veja a si mesmo
No caso das fotografias apresentadas na Exposição MaPá, é importante destacar
que, a variedade de locais e situações ou eventos, proporciona uma dada visão do que
neles importa, o olhar do fotógrafo. Colado a ele, estão pressupostos de ordem sóciocultural, que com certeza refletem e mesmo interferem na maneira ou modo ver, estando
assim, calcados num dado contexto, em sentido político amplo. Aqui, o fotógrafo acaba por
apresentar o que lhe interessa, toca e sensibiliza; sem subterfúgios ou mascaramentos.
Por outro lado, apontar para a importância da articulação do olhar crítico, buscando elaborar
a “informação” apresentada, a partir do visual, o qual pode por sua vez produzir forte
impacto, gerado por imagens captadas, nos mais diferentes espaços e situações, seja em
que âmbito e em que forma for, é de fundamental importância na formação cultural e
educativa cidadã.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. 1996. Elementos de Semiologia. 11. ed. São Paulo: Editora Cultrix.
BARTHES, Roland. 1984. A Câmara Clara: Nota sobre Fotografia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira.
CIVITA, Victor. 1980. Fotografia: Manual Completo de Arte e Técnica. 2. ed. São Paulo: Editora Abril S.A.
Cultural e Industrial.
CLAVAL, Paul. 2001. A Geografia Cultural. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC.
GABEIRA, Fernando. 2004. Avedon um mestre do século 20. Folha de São Paulo, São Paulo.
JOLY, Martine. 1996. Introdução á Análise da Imagem. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Editora
Papirus.
MEINIG, Donald W. 2002. O Olho que Observa: dez versões para uma mesma cena. Espaço e Cultura, Rio de
Janeiro, v. 3, n. 132002, p. 35-46, dez. 1996.
4
Autor de fotografias expostas na 26ª Bienal de São Paulo (São Paulo, 25/09 a 19/12/2004)
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