PONTO DE MUTAÇÃO Informações Preliminares Baseado no livro The Turning Point, do físico austríaco Fritjof Capra, o filme deixa tantos caminhos para discussão, ao seu término, que escolher sobre que aspecto tratar acaba se tornando uma tarefa crucial e até mesmo injusta. Porém, o lado científico de Ponto de Mutação é uma das coisas mais belas já mostradas em trabalhos do gênero e de maneira alguma deve ser descartada por aqueles que, por ventura, decidirem se aventurar nos passos dos Capra. Personagens Sonia Hoffmann (Liv Ullmann) é uma física desiludida com os rumos tomados pela ciência. Após descobrir que suas pesquisas com “microlasers” estavam sendo utilizadas no projeto americano “Guerra nas Estrelas”, ela decidiu isolar-se em um vilarejo francês para repensar a vida. Embora tendo a chance de conviver um pouco mais com a única filha, enfrenta um processo difícil desta convivência e o atrito entre as duas acaba sendo acentuado porque suas percepções do mundo divergem completamente. No mesmo país, na capital, vive o poeta Thom Harrimann (John Heard). Ele abandonou a cidade de Nova York por não suportar um modo de vida mercantilizado e refugiou-se no velho mundo para recuperar-se da decepção profissional e de um casamento fracassado, e para tentar superar, com tranquilidade, a crise de meia idade que o acomete. Na América no Norte, seu amigo Jack Edwards (Sam Waterston) é um político bem sucedido. Porém, após perder as eleições para presidente dos Estados Unidos da América, sente-se esgotado, confuso em relação aos rumos de sua carreira e solicita socorro. Edwards recebe um convite de Thomas para passar uma temporada na França e o encontro dos dois com Sonia Hoffmann marca o início do conflito proposto em Ponto de Mutação. Cenário O cenário onde a trama tem acontece, no início da década de 1990, é um castelo no litoral noroeste da França, situado no alto do Mont Saint Michel. Uma construção medieval localizada na fronteira com a Normandia e a Bretanha. A região é famosa por possuir a maré mais alta do mundo. Em alguns pontos, ela atinge até quinze metros e deixaria o vilarejo de Le Mont Saint Michel completamente isolado do continente, se não fosse um acesso construído para ligar a ilha à França. O local é propício para a discussão que toma toda a estória, por conter objetos que remontam à história da sociedade moderna e evocam as linhas de pensamento inerentes a ela. Considerações gerais Por fim, o poema de Pablo Neruda, declamado ao final por Thom Harrimann (John Heard), representa uma metáfora sobre todo o dia em que os três personagens passaram juntos e sobre o que suas vidas representavam diante das ideias que se propuseram a pensar. O poema, algo também meio distante e às vezes incompreensível, também junta a teia de relações que é a humanidade. Diante das teorias frias e puras da cientista e das ideias práticas do político, a poesia recitada pelo poeta os faz calar e refletir sobre o que suas vidas têm feito nesse processo, sobre como eles têm contribuído com sua parte diante do todo. A razão do pensamento científico passa a fazer sentido no calor das palavras do poeta, ao aproximar-se da vida comum e rotineira das pessoas. Além de Pablo Neruda o filme possui, ao longo de sua construção, referências a diversos escritores, poetas, estadistas, cientistas e figuras religiosas. A integração destes pensadores é dada pelo tom da narrativa, cujo objetivo é defender um modo de vida integrado, porém, provido de essência. A vida não se resume a uma máquina e nem a uma rede de conexões bem feitas. Existe algo maior que é fruto da convivência, da vida em comum. Os argumentos de Jack, Tom e Sonia foram recheados de citações que transformaram o conteúdo científico, religioso e filosófico do filme em poesia, em diálogos permeados de sentimento e significado. Considerações críticas e reflexões O filme aborda um dialogo de três pessoas que embora tenham estilos de vida e pensamentos diferentes, são abertas a novas ideias. O dialogo dos personagens acontece em um castelo medieval na França. Essas pessoas são americanas e fazem partes de núcleos sociais diferentes. O primeiro ator é um senador e ex-candidato a presidência da republica (político). O segundo ator é um professor de literatura e escritor (poeta) que se sente na crise de meia idade. Ele veio para a França para fugir da competitividade das grandes cidades. E a terceira personagem é uma cientista especialista em Física que vive uma crise existencial ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa. O drama de cada personagem O político americano liga para o amigo (poeta) que mora na França, para se desabafar. O americano se sente desmotivado com a política, argumentado não ter discurso próprio, tendo que repetir os discursos que seus assessores escrevem ou dizer o que as pessoas querem ouvir1. Seu amigo acaba oferecendo uma estadia para ele, a fim de fazê-lo esquecer um pouco da sua rotina. Ao chegar à França os dois amigos vão visitar um castelo medieval. Lá eles encontram a cientista em uma sala onde se encontra um imenso relógio antigo, que se torna o ponto inicial de toda discussão. Questões em discussão A cientista é convidada a entrar na conversa que o poeta e o político estão tendo sobre o relógio. Logo que entra na conversa, ela faz uma dura critica sobre a maneira cartesiana em que os políticos de modo geral vêem a natureza. 1 – Ela afirma que os políticos descrevem a natureza assim como Descartes descrevia, como um relógio onde é possível reduzir ao monte de peças, onde analisando cada parte é possível entender o todo. Ela crítica dizendo que essa ideia é antiga e ultrapassada e que devemos mudar essa visão de mundo. 2 – O mundo tem que ser visto como um todo através das relações existentes entre cada objeto que compõem a natureza e que fazemos parte dessas relações. 3 – A cientista afirma que se devem abrir os horizontes para modelos sistêmicos, escapando do conforto dos processos, onde temos o controle, mas muitas vezes não a compreensão. Não se pode olhar separando os problemas globais tentando entendê-los e resolve-los separadamente. Devem-se entender as conexões para depois resolver os problemas. Com isso se consegue pensar em um mundo com crescimento sustentável com melhores condições para todos.2 O político discute e até aceita algumas ideias da cientista, mas a grande questão que ele aponta é: Como concretizar essas ideias na política, como fazer com que as pessoas (os eleitores) consigam entende?3 A resposta da cientista é simples: Mudando nossa maneira de ver o mundo.4 Nessa resposta se consegue perceber a transversalidade da educação ambiental e a importância de ser discutido em redes de ensino interdisciplinarmente, sendo O Serviço Social não estaria também sofrendo desse problema? Não estaria sendo necessário reformular o seu discurso? 2 O Serviço Social não deveria também refletir sobre o seu modelo – cartesiano – de pensar sobre o mundo, observando essas quatro questões apontadas pela cientista? 3 Essa indagação também não nos preocupa? 4 A nossa maneira de ver o mundo não estaria ultrapassada? 1 trabalhada como uma grande teia ligada a diferentes disciplinas, a fim de analisar um fenômeno. Concluindo Umas das maiores preocupações do filme é a questão ambiental e o desenvolvimento econômico. É possível atender as necessidades da sociedade atual sem comprometer as gerações futuras no atendimento de suas próprias necessidades e sem comprometer o desenvolvimento econômico e tecnológico?5 Não é um filme fácil de ver, mas o aprendizado compensa. É o que comprova o poema de Pablo Neruda (veja o texto a seguir), declamado pelo personagem Thom Harrimann (John Heard), ao final do filme, como a expressão da incompreensível amplitude da existência. As uvas e o vento (Pablo Neruda) ...Tu perguntas o que a lagosta tece Lá embaixo... Com seus pés dourados. Respondo que o oceano sabe. E por quem a medusa espera, em sua veste transparente? Está esperando pelo tempo, como tu. Quem as algas apertam Em seu abraço... perguntas... Mais firme que uma hora e Um mar certos? Eu sei. Perguntas sobre a mesa Branca do narval ... E eu respondo cantando como Unicórnio do mar, arpoado, morre. Perguntas sobre as plumas do rei Pescador... Que vibrou nas puras Primaveras dos mares do sul. Quero te contar que o oceano Sabe isto: que a vida... Em seus estojos de joias, É infinita como areia, Incontável, pura; e o tempo, Entre as uvas cor-de-sangue... Tornou a pedra dura e lisa, Encheu a água-viva de luz... Desfez o seu nó, soltou O Serviço Social tem como se atuar no engajamento das futuras gerações na responsabilidade de atender suas necessidades sem comprometer o desenvolvimento econômico e tecnológico? 5 Seus fios musicais... De uma cornucópia feia De infinita madrepérola. Sou só a rede vazia diante dos Olhos humanos na escuridão... E de dedos habituados à longitude Do tímido globo de uma laranja. Caminho, como tu, investigando A estrela sem fim... E em minha rede, durante A noite, acordo nu. A única coisa capturada É um peixe... Preso dentro do vento Investigando a estrela sem fim... Poeta Pablo Neruda Se alguém tiver interesse por ampliar as reflexões sobre o tema, visite o site: <http://soniaa.arq.prof.ufsc.br/arq1001metodologiacinetificaaplicada/20063/Trabalhos/Simone_Peluso/O%20Ponto%20 de%20Mutacao%20CARINE%20E%20SIMONE.pdf> Trata de um trabalho acadêmico sobre o livro de Fritjof Capra – “Ponto de Mutação” –, intitulado “Todos os problemas atuais - violência, desemprego, crise energética, poluição – são facetas da mesma CRISE”, de autoria das Mestrandas: Carine Nath de Oliveira e Simone Peluso.