Os filósofos podam a árvore do conhecimento

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História
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Ficha 5
 2os anos  Lucas mar/13
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Os filósofos podam a árvore do conhecimento: A estratégia
epistemológica da Encyclopédie.
A necessidade de dividir e classificar os fenômenos estendeu-se para
muito além dos arquivos da polícia, que tentava acompanhar os passos de
homens como Diderot, achava-se no cerne do maior empreendimento de
Diderot, a Encyclopédie. Mas, quando se expressou sob a forma impressa,
assumiu a modalidade que talvez não chame a atenção do leitor moderno. De
fato, o texto supremo do Iluminismo pode parecer surpreendentemente
desapontador para qualquer pessoa que o consulte com a expectativa de
encontrar as raízes ideológicas da modernidade. Para cada observação que
contradiz as ortodoxias tradicionais, contém milhares de palavras sobre
moagem de cereal, fabricação de alfinetes e declinação de verbos. Seus
dezessete volumes de texto, infólio, incluem tamanha mistura de informações
sobre tudo, de A a Z, que não se pode deixar de imaginar por que provocou tal
tempestade no século XVIII (...). Mas a relação entre a informação e ideologia,
na Encyclopédie, levanta questões gerais sobre conexão entre conhecimento e
poder.
A classificação é, portanto, um exercício de poder. (...) Um livro colocado
no lugar errado das prateleiras pode desaparecer para sempre. Um inimigo
definido como menos que humano pode ser aniquilado. Toda classificação
social flui através de fronteiras determinadas por esquemas de classificação,
tenham ou não uma elaboração tão explicita quanto à de catálogos de
bibliotecas, organogramas e departamentos universitários. (...) Estabelecer
categorias e policiá-las é, portanto, assunto sério. Um filósofo que tentasse
remarcar as fronteiras do mundo do conhecimento mexeria com o tabu. Mesmo
que mantivesse distância dos assuntos sagrados, não poderia evitar o perigo; o
conhecimento é, por natureza, ambíguo (...). Portanto, Diderot e d’Alambert se
arriscaram muito, ao desmancharem a antiga ordem do conhecimento e
traçarem novas linhas entre conhecido e desconhecido. (...)
Diderot e d’Alambert (...) descreveram seu trabalho como uma
enciclopédia, ou relato sistemático da “ordem e concatenação do conhecimento
humano”, não se tratando apenas de mais um dicionário, ou compendio de
informações arrumado de acordo com a inocente ordem alfabética. A palavra
enciclopédia, explicou Diderot (...), provinha do termo grego correspondente a
círculo, significando “concatenação das ciências” (...). Ainda mais importante
era a metáfora da árvore do conhecimento, que comunicava a idéia de que o
conhecimento crescia num todo orgânico, apesar da diversidade de seus
ramos.
Diderot e d’Alambert desejavam enraizar o seu conhecimento a partir da
razão, do conhecimento científico (epistemologia), (...) começaram (sua árvore
do conhecimento) com a história, o ramo do conhecimento derivado da
memória; e, dividiram-na em quatro sub-ramos: eclesiástico, civil, literária e
natural. A filosofia não era tanto um (outro) ramo, mas o tronco principal (...).
Dividiram a filosofia em três partes, divina, natural e humana (...). Mas ao
submeterem à religião a filosofia, eles efetivamente a descristianizaram.
Assim, a árvore do conhecimento da Encyclopédie modelava o conhecimento
de tal maneira que tirava o clero e colocava-o nas mãos de intelectuais
comprometidos com o Iluminismo. O triunfo final desta estratégia veio da
secularização da educação e o surgimento das modernas disciplinas escolares,
durante o século XIX. Mas o combate mais importante ocorreu na década de
1750, quando os enciclopedistas reconheceram que o conhecimento era poder
e, mapeando o universo do saber, partiram para a sua conquista.
(adaptado de: DARTON, Robert. O grande massacre dos gatos e outros episódios da história
cultural francesa. São Paulo: Graal, 1986, pp 247 – 270.)
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