ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM HUMANIZADA EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA NURSING CARE HUMANIZED IN PEDIATRIC INTENSIVE CARE UNIT: A LITERATURE REVIEW Nadja Nara Milhomem Costa1 Ana Maria Chiaradia2 RESUMO Este estudo teve como objetivo identificar a produção cientifica acerca da assistência de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica na última década, bem como promover a análise sobre os diversos aspectos do cuidado humanizado descritos na literatura. Trata-se de uma revisão bibliográfica na base de dados LILACS, no período de 2003 a 2013. Os resultados indicaram que dos 15 artigos analisados constatou-se que a maioria foram publicados nos anos de 2003, 2007 e 2011, com predominância da abordagem qualitativa. Emergiram três categorias temáticas: Promovendo o conforto físico e emocional, Cuidado centrado na família e Cuidando do cuidador. Evidenciou-se a partir da análise dos artigos, a necessidade de um maior investimento no preparo dos profissionais de saúde, para que estes tenham uma abordagem mais humana, pois se entende que só é possível prestar uma assistência humanizada na UTI pediátrica partindo de nossa própria humanização. Para se atender a criança de forma humanizada e individualizada é preciso incentivar e valorizar a participação da família no contexto da hospitalização. O profissional de enfermagem deve analisar sua prática, suas habilidades e limitações, aliar às teorias, às questões éticas implicadas na garantia dos direitos dos pacientes, para tornar a assistência de enfermagem. Palavras-chave: Terapia intensiva. Humanização. Enfermagem pediátrica. ABSTRACT This study aimed to identify the scientific production on humanized nursing care in pediatric intensive care unit in the last decade, and to promote analysis of the various aspects of humanized care in the literature. This is a literature review in LILACS database, from 2003 to 2013. The results indicated that the 15 articles analyzed it was found that most were published in the years 2003, 2007 and 2011, with predominantly qualitative approach. Revealed three themes: Promoting physical and emotional comfort, family centered care and caring caregiver. It was evident from the analysis of the articles, the need for increased investment in the preparation of health professionals so that they have a more humane approach, because we understand that you can only provide humanized care in the pediatric ICU starting from our own humanization. To meet the child humanized and individualized way you need to encourage and enhance family involvement in the hospitalization. Nursing professionals should review their practice, their abilities and limitations, combine the theories, the ethical issues involved in ensuring the rights of patients to make nursing care. Keywords: Intensive care. Humanization. Pediatric nursing. ____________________________________________________________________________ 1 Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva pela UNINTER. Mestranda em Terapia Intensiva pela SOBRATI. Enfermeira. Especialista em Controle de Infecção Hospitalar. Docente Universitária. Mestre em Terapia Intensiva pela SOBRATI. 2 1 INTRODUÇÃO O termo “humanização” vem sendo utilizado com frequência no âmbito da saúde, porém na sua forma concreta, ainda precisa avançar muito para que seja uma prática rotineira nos serviços de saúde. Começou a ser discutida mais amplamente a partir de 2003, com a criação da Política Nacional de Humanização (Humaniza SUS), visando à implementação de estratégias que viabilizassem o contato humano entre profissionais da saúde e usuários, dos profissionais entre si, e do hospital com a comunidade, proporcionando qualidade, resolutividade e eficácia na atenção à saúde e difundindo uma nova filosofia de humanização na rede hospitalar credenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). À luz dessa política, percebe-se que a relação entre humanização, cuidado e enfermagem existe e cabe a cada sujeito dessa relação fazer com que ela esteja presente na realidade assistencial de saúde, na qual a enfermagem desempenha um dos mais importantes papéis: o de cuidar (CHERNICHARO et al, 2011). De acordo com Corbani et al (2009), cuidar é usar da própria humanidade para assistir a do outro - como ser único, composto de corpo, de mente, vontade e emoção, com um coração consciente, que com seu espírito intui e comunga. Falamos, portanto, de seres pensantes, dotados de dignidade, a ser cuidados em sua totalidade. A recíproca é verdadeira, quando o outro em sua humanidade cuida da minha. Logo, o cuidado está apoiado numa relação interhumana. Aplicando à enfermagem, enxergar o outro como você é estar numa relação de reciprocidade com ele quando o profissional se coloca em sua totalidade, sem subterfúgios, de modo a ver o outro face a face pelo encontro, num instante único, presente. Desse modo, o outro deixa de ser uma soma de qualidades ou tendências ou nosso meio de sobrevivência e passamos a compreendê-lo e a confirmá-lo como o outro em sua totalidade. A hospitalização é uma situação crítica e delicada na vida de qualquer ser humano, e tem contornos especiais quando se trata de um acontecimento na vida de uma criança, pois implica na mudança de rotina de toda a família. A internação hospitalar traduz-se em experiência bastante difícil para o pequeno paciente, gerando ansiedade pela exposição da criança a um ambiente estressante, e onde o apoio para o enfrentamento destes sentimentos é bastante restrito, de tal forma que, uma das únicas fontes de segurança é representada pela presença dos pais (FAQUINELLO et al, 2007). É importante abordar a necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na UTI pediátrica, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos profissionais de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe, tornando-a capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI. Nesse contexto, o presente estudo objetiva identificar a produção cientifica acerca da assistência de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica na última década, bem como promover a análise sobre os diversos aspectos do cuidado humanizado descritos na literatura. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo bibliográfico sobre a produção científica relacionada à assistência de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica, na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), referente a última década. Para a pesquisa foram utilizados os seguintes descritores: terapia intensiva, humanização, enfermagem pediátrica. Na busca, foram encontrados 146 artigos nesta base de dados no período de dez anos, destes foram selecionados 29 após leitura dos resumos, e finalmente 15 artigos após leitura integral dos textos. A avaliação inicial do material bibliográfico foi realizada mediante a leitura dos resumos, com a finalidade de selecionar aqueles que atendiam aos objetivos do estudo. Para análise foi realizada leitura minuciosa, na íntegra, da cada artigo, visando ordenar e sistematizar as informações necessárias para encontrarmos os seguintes dados: fonte de levantamento, dados de identificação, abordagem da educação em saúde, abordagem metodológica, instrumentos de coleta de dados e considerações finais. 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Caracterização dos estudos Após a análise dos resumos, selecionou-se 15 artigos científicos dentre os levantados no banco de dados LILACS, concernentes a assistência de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica, no período de dez anos. Dentre os periódicos, destacou-se a Revista Brasileira de Enfermagem com maior número de publicações (quatro artigos). Quanto ao ano de publicação, destacaram-se os anos de 2003, 2007 e 2011 como os de maior produção, considerando-se que nove artigos foram publicados neste período, porém, os anos de 2004, 2008, 2012 e 2013 apresentaram o menor número de publicações com nenhum artigo publicado. Levando em consideração a abordagem metodológica utilizada nas 15 produções científicas, as pesquisas qualitativas se sobressaíram com 14 artigos onde se observou os aspectos da subjetividade, aprofundando acerca da assistência humanizada de enfermagem. Foi utilizado apenas um artigo de abordagem quantitativa. Categoria temática I- Promovendo o conforto físico e emocional O conceito de humanização pode ser traduzido como uma busca incessante do conforto físico, psíquico e espiritual do paciente, família e equipe, elucidando assim a importância da mesma durante o período da internação (MARQUES & SOUZA, 2010). Segundo Gomes et AL (2011), a equipe de saúde precisa perceber que a criança é mais que uma pessoa doente ou uma doença; ela é alguém integrante de um enredo familiar, possui necessidades e desejos. Além disso, os profissionais de saúde precisam considerar os aspectos subjetivos da enfermidade na infância, porque o hospital pode se tornar um lugar 'iatrogênico' e promover mais doença do que saúde, tanto nos pacientes quanto nos profissionais. Geralmente, a falta de preparo do profissional de saúde em cuidar da criança, muitas vezes direcionado somente para a parte técnica do cuidado, inserido no modelo biomédico, não consegue observar a criança como ser humano integral nem perceber o que acontece com o emocional do paciente. A valorização do saber dos pacientes pediátricos sobre seu processo de adoecimento e sobre as relações experiência das no contexto de internação são tão importantes quanto a experiência dos familiares e acompanhantes. O direito de expressão destas crianças pode fornecer valiosos subsídios para que as práticas em saúde possam ser repensadas em prol de uma assistência mais integral e acolhedora (ALVES et al, 2009). Em seu estudo, Faquinello et al (2007) afirma que os profissionais de enfermagem são vistos como memoráveis quando em seu cuidado levam em conta "as pequenas coisas", traduzidas em gestos e atitudes, e que proporcionam um suporte psíquico emocional e uma relação de ajuda, tornando a hospitalização uma experiência mais facilmente tolerável. As "pequenas coisas" foram definidas em termos da preocupação dos profissionais em tratar os pacientes e familiares de modo individualizado, chamando as crianças pelo nome, abordando os familiares de um modo amigável/carinhoso, demonstrando amor e respeito por elas, usando o toque, o afago, uma entonação de voz suave e utilizando o olhar para transmitir uma variedade infinita de mensagens. No âmbito da assistência pediátrica de alta complexidade, a cronicidade e gravidade dos casos colocam os profissionais frente à necessidade de desenvolver um fazer que considere: o uso de tecnologias de ponta, a incorporação constante de novos conhecimentos sobre doenças raras, limitações do desenvolvimento e maturação dos pacientes, além da relação com usuários e acompanhantes (ALVES et al, 2009). É necessário cuidar do paciente com carinho, dedicação, respeitá-lo como ser humano, considerando suas crenças, valores, desejos e expectativas quanto à internação e evolução do estado de saúde. Desenvolver o cuidado com a responsabilidade de minimizar o quadro de depressão e angústia instaladas no paciente em virtude da sua permanência na UTI mediante estabelecimento de um diálogo, quando possível, levando palavras de incentivo e fé no intuito de conquistar a confiança do paciente e do familiar (CAETANO et al, 2007). O mesmo autor afirma que a promoção do conforto físico é muito importante na situação assistencial, e todos os membros da equipe devem trabalhar de forma eficiente e integrada. O estranho maquinário, as constantes privações, interrupções e privação de sono, a superestimulação sensorial, sede, dores, abstinência de alimentos comuns, a alimentação endovenosa ou nasoenteral, a respiração por ventiladores, a monitorização cardíaca e sua sinalização, os cateteres, procedimentos invasivos, a imobilização do paciente e ainda a superlotação de equipamentos no local, tudo isso equivale a desencadeantes para situações que propiciam alterações psicopatológicas e intenso desconforto para a criança. Um ambiente ruidoso dificulta um descanso confortável causando nos pacientes perturbações do sono, alterações psicológicas com desorientação e até mesmo ansiedade nas enfermeiras mais susceptíveis. Os níveis de ruído hospitalar encontram-se excessivamente elevados, especialmente no ambiente de UTI, em decorrência dos inúmeros alarmes e equipamentos, além da conversação da própria equipe hospitalar. Diante disso, esse ambiente, que deveria ser silencioso e tranqüilo, tornam-se ruidoso, transformando-se em grande fator de estresse e podendo gerar distúrbios fisiológicos e psicológicos tanto nos pacientes como nos funcionários desta unidade. A exposição a um ambiente com grande sobrecarga de estímulos sensitivos, dolorosos, ruído, aspiração traqueal e privação do sono pode exigir o uso de fármacos para controlar a ansiedade e inquietude dos pacientes e facilitar o sono. O adequado manuseio da sedação e analgesia na UTI também deve ser objetivado, visto que dor e ansiedade são estressores importantes neste meio (BITENCOURT et al, 2007). Pauli & Bousso (2003) afirmam que o ambiente da unidade é, muitas vezes, encarado como agressivo e frio; este faz com que o paciente perceba-se mais grave do que realmente está. Esses fatores e outros associados ao tratamento parecem favorecer uma percepção de condições ambientais instáveis e estressantes. O profissional de enfermagem então, muda a decoração, procura tornar o ambiente menos agressivo e estressante aos olhos da criança, acreditando que esta é uma forma de estar humanizando, quando percebe que a criança se distrai, apontando e olhando as figuras das paredes. No sentido de melhorar a qualidade do atendimento prestado aos pacientes internados em uma UTI pediátrica, é fundamental que os estressores sejam minimizados e que sejam implantadas medidas que possam facilitar a humanização do ambiente da UTI. Categoria temática II- Cuidado centrado na família A situação de internação de uma criança ou adolescente, em geral, é um momento delicado para a família e que requer reconfiguração da rotina de vida e assimilação do processo de adoecimento. O momento da hospitalização é uma experiência marcada pela ruptura com o cotidiano da escola, dos amigos, da família e das brincadeiras (ALVES et al, 2009). Para Spir et AL (2011), a presença do acompanhante durante a internação do paciente é uma das ações primordiais para amenizar o processo de hospitalização. O benefício da entrada e permanência do acompanhante nas instituições de saúde também está amparada nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (Assistência ao Parto Normal: um guia prático - 1996), na Lei nº 10.241, promulgada pelo governo do estado de São Paulo em 17/03/1999 e, em âmbito nacional, no Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu artigo 12 obriga os estabelecimentos de saúde a proporcionarem condições para a permanência, em tempo integral, de um acompanhante durante o período de internação da criança. A hospitalização realiza-se, normalmente, numa atmosfera de tensão e insegurança para a criança e seus acompanhantes, acarretando outras situações desagradáveis: novos horários, exames dolorosos, afastamento do ambiente familiar, abandono da atividade escolar, falta de estímulos sociais, dentre outras alterações no cotidiano das crianças e familiares. Essas modificações podem ocasionar agitação, gritos, choros, retrocesso, regressão, depressão, ausência no controle dos esfíncteres, entre outros (LIMA et al, 2006). Ao adentrar ao hospital, a família traz consigo a necessidade de vivenciar o nascimento do seu filho, provando sensações novas, enfrentando risco de sequelas e da morte, tendo medo e insegurança de realizar o cuidado domiciliar. Portanto, a equipe precisa ser instrumentalizada para acolher a família no ambiente da terapia intensiva, incluindo-a na perspectiva do cuidado. O encontro envolvendo cuidador e ser cuidado deve ter como fio condutor a escuta sensível para a construção de uma prática do cuidar que seja capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento, vínculo e responsabilização (OLIVEIRA et al, 2006) O mesmo autor afirma que o cuidado de enfermagem deve estar voltado às necessidades da criança e sua família, desenvolvendo uma proposta do cuidado centrado na família, encorajando-os ao envolvimento afetivo e no cuidado de seu filho. Com isso, pretende-se preservar a indissolubilidade do binômio mãe-filho, reduzindo assim o tempo de internação, aumentando o calor afetivo e a colaboração da equipe de saúde, criando um vínculo de confiança entre família e equipe. É preciso valorizar a presença da família no cuidado prestado, principalmente quando ela vivencia a internação de um familiar na UTI. Mesmo a família encontrando-se em um estado de fragilidade emocional ou de crise, continua ocupando um papel de destaque para a criança, contribuindo para que se sinta protegido, mais seguro, amado e significativo para o seu grupo familiar. Torna-se relevante a presença da família na UTI, seja para conversar com o paciente, tocá-lo ou simplesmente observá-lo, mesmo quando este se encontra inconsciente. Entretanto, a possibilidade de construir outros paradigmas, requer sensibilidade, disponibilidade para aprender o novo, capacidade para reconhecer a si mesmo e depois tentar conhecer o outro e, principalmente, a crença de que os significados e afetos presentes na relação familiar são insubstituíveis para a melhora e recuperação do paciente (SILVEIRA et al, 2005). Em seu estudo, Pauli & Bousso (2003), observaram que a presença dos pais deixa a criança mais calma, que, permitindo a presença dos pais, isso pode colaborar para que a criança receba o amor e carinho da família, oferecendo, assim, uma assistência humanizada. O profissional de enfermagem deve fornecer informação completa, apurada, correta e clara sobre as condições e as reações à doença, o tratamento da criança, e verificar como os pais compreendem a situação. Para além da informação clara e objetiva, está a necessidade de se estabelecer um espaço de diálogo, que habilite os diferentes atores a expressarem suas dúvidas e sentimentos. Esse espaço não pode estar atrelado ao tempo de internação, mas instituído como forma de gestão do cotidiano do serviço. Ter um espaço de diálogo representa uma forma de acolher o outro e sua demanda (ALVES et al, 2009). Ao mesmo tempo em que a presença dos pais na UTI é enfatizada na literatura como um fator benéfico para o bem-estar da criança e da família, a enfermeira, ao precisar lidar com a presença desses familiares, vê a possibilidade de demonstrar seu interesse pela criança, acreditando poder ganhar a confiança deles. Existe uma preocupação e um movimento da enfermeira na busca da confiança da família. Com certeza, o processo de humanização envolve mais que permitir ou não a presença dos pais na UTIp, é importante que a enfermeira seja um elemento de confiança à família, já que é ela quem deve ajudá-la a passar por essa experiência. E reduzir a ansiedade dos pais é visto como parte importante do tratamento da criança e, para isso, torna-se fundamental conhecer e respeitar a experiência da família (PAULI & BOUSSO, 2003). A família pode contribuir muito para a recuperação do paciente, mas para que isso aconteça, ela precisa ser orientada sobre as rotinas da UTI e sobre o que está acontecendo com o seu familiar, necessitando sentir-se acolhida, respeitada e, também, cuidada. Por isso, é importante permitir sua presença, assegurar-lhe de que estamos ali para lhe ajudar a enfrentar esse momento difícil. Categoria temática III: Cuidando do cuidador Para a implementação do cuidado com ações humanizadoras é preciso valorizar a dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecer trabalho em equipe multiprofissional, fomentar a construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos, fortalecer o controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS, democratizar as relações de trabalho e valorizar os profissionais de saúde (OLIVEIRA et al, 2006). Para que o trabalho não se torne mecanizado e desumano, é necessário que os profissionais estejam instrumentalizados para lidar as situações do cotidiano, recebendo auxílio psicológico e aprendendo a administrar sentimentos vivenciados na prática assistencial. Vale salientar que, para o desenvolvimento de ações humanizadoras na assistência em saúde, faz-se necessário que a humanização seja a filosofia da instituição. Portanto, esta deve estar comprometida com um projeto terapêutico que contemple a humanização das relações de trabalho, da assistência e do ambiente de trabalho. Nesse contexto, é fundamental o incentivo à equipe, valorizando os profissionais enquanto seres bio-psico-sociais, pois, quando se sentem mais respeitados, valorizados e motivados como pessoas e profissionais, podem estabelecer relações interpessoais mais saudáveis com os pacientes, familiares e equipe multiprofissional (OLIVEIRA et al, 2006). O mesmo autor relata que outro aspecto importante que influencia no desenvolvimento do trabalho é o fato de a equipe de enfermagem, geralmente, estar vinculada a mais de um emprego, dobras de plantões, horas extras, sobrecarga de trabalho sem descanso, resultando em fadiga, tensão e irritação. Devido ao esforço físico diário, repetições de tarefas, e a necessidade do trabalho ser realizado em pé, os trabalhadores sofrem com o desgaste físico. Segundo Collet e Rozendo (2003), é necessário trabalhar com o sofrimento psíquico dos trabalhadores de enfermagem, pois o desgaste psicológico aparece como um dos obstáculos que interfere na qualidade de vida dessas pessoas bem como na qualidade da assistência prestada. A falta de acompanhamento das necessidades psicológicas da equipe é um aspecto que não tem sido levado em consideração pelas instituições de serviços de saúde, cujos reflexos são evidenciados nos modos de prestar assistência de enfermagem, nas dificuldades de convivência entre enfermagem e usuários, e entre os membros da equipe de saúde, no exercício da democracia e no respeito aos direitos dos usuários e dos trabalhadores, ambos sujeitos. Humanização também significa, ou precisa significar melhoria das condições de trabalho do cuidador. É uma necessidade de o hospital cuidar do cuidador, ou seja, cuidar para que o profissional de saúde possa desempenhar suas funções de maneira harmoniosa, sadia, sem que o estresse o afete de maneira que prejudique seu desempenho técnico, afetivo e sua saúde física e mental (GOMES et al, 2011). As condições de trabalho influem na satisfação do profissional em relação ao seu trabalho. Segundo Martins (2003), a atividade assistencial se constitui, para os profissionais de saúde, em fonte de gratificação e de estresse. Segundo a autora, os fatores gratificantes seriam diagnosticar e tratar adequadamente, curar, prevenir, educar, aconselhar, sentir-se competente, receber reconhecimento. Os fatores estressantes seriam ter contato frequente com a dor e o sofrimento, lidar com as expectativas dos pacientes e familiares; atender pacientes 'difíceis' (não aderentes ao tratamento, hostis, agressivos, depressivos, autodestrutivos), lidar com as limitações do conhecimento científico. Acrescenta-se a ausência de material e equipamentos, de remédios, a superlotação de doentes e a carência de pessoal para atendê-los. Para Collet & Rozendo (2003), humanizar em saúde é uma via de mão dupla, pois é um processo que se produz e reproduz na relação usuário–profissional. Contudo, não é possível esperarmos da equipe de saúde uma assistência humanizada aos usuários quando as condições de trabalho são precárias, quando há falta de pessoal, sobrecarga de trabalho e pressões no interior do mundo do trabalho que deixam as pessoas nos seus limites físicos e psíquicos. Essas condições, também, foram historicamente determinadas pela evolução do trabalho em saúde e produzem bloqueios no avanço intelectual da enfermagem, assim como de outros profissionais. Agem como camisas de força que engessam a criatividade dos profissionais. A ausência de mecanismos que assegurem a reflexão cotidiana do processo de trabalho pode ser indício da falta de qualidade em alguns serviços, assim como um desestímulo às lutas por melhores condições de trabalho. Humanizar a assistência em saúde implica dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à palavra dos profissionais da saúde, de forma que possam fazer parte de uma rede de diálogo, que pense e promova as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade (OLIVEIRA et al, 2006). Segundo o mesmo autor, o contato direto com seres humanos coloca o profissional diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. Se ele não tomar contato com esses fenômenos correrá o risco de desenvolver mecanismos rígidos de defesa, que podem prejudicá-lo tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Os profissionais da saúde submetem-se, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes: contato frequente com a dor e o sofrimento, com pacientes terminais, receio de cometer erros, contato com pacientes difíceis. Assim, cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o desenvolvimento de projetos e ações em prol da humanização da assistência. 4 CONCLUSÃO Evidenciou-se a partir da análise dos artigos, a necessidade de um maior investimento no preparo dos profissionais de saúde, para que estes tenham uma abordagem mais humana, pois se entende que só é possível prestar uma assistência humanizada na UTI pediátrica partindo de nossa própria humanização. Para se atender a criança de forma humanizada e individualizada é preciso incentivar e valorizar a participação da família no contexto da hospitalização, pois os pais exercem papel fundamental, na medida em que representam a principal referência da criança, enquanto mediadores da relação terapêutica, fonte principal de segurança e carinho, além de apoio imprescindível ao enfrentamento desta situação desafiadora, que é a doença e a internação. O profissional de enfermagem deve analisar sua prática, suas habilidades e limitações, aliar às teorias, às questões éticas implicadas na garantia dos direitos dos pacientes, para tornar a assistência de enfermagem humanizada e de qualidade. É necessário que esta categoria profissional, repense sobre seu papel, lutando por uma reversão de valores nas práticas profissionais vigentes, e enfoque seu cuidado no sentido de realizar uma abordagem mais humana, promovendo um salto qualitativo tanto no cuidado, como no ambiente de trabalho da UTI pediátrica. REFERÊNCIAS ALVES, Camila Aloísio; DESLANDES, Suely Ferreira and MITRE, Rosa Maria de Araújo. Desafios da humanização no contexto do cuidado da enfermagem pediátrica de média e alta complexidade. Interface (Botucatu), 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S141432832009000500010. Acesso em: Dezembro de 2013. BITENCOURT, Almir Galvão Vieira et al. Análise de estressores para o paciente em Unidade de Terapia Intensiva. 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