Categoria temática I- Promovendo o conforto físico e

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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM HUMANIZADA EM UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA PEDIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
NURSING CARE HUMANIZED IN PEDIATRIC INTENSIVE CARE UNIT: A LITERATURE REVIEW
Nadja Nara Milhomem Costa1
Ana Maria Chiaradia2
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar a produção cientifica acerca da assistência de
enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica na última década, bem
como promover a análise sobre os diversos aspectos do cuidado humanizado descritos na
literatura. Trata-se de uma revisão bibliográfica na base de dados LILACS, no período de 2003
a 2013. Os resultados indicaram que dos 15 artigos analisados constatou-se que a maioria foram
publicados nos anos de 2003, 2007 e 2011, com predominância da abordagem qualitativa.
Emergiram três categorias temáticas: Promovendo o conforto físico e emocional, Cuidado
centrado na família e Cuidando do cuidador. Evidenciou-se a partir da análise dos artigos, a
necessidade de um maior investimento no preparo dos profissionais de saúde, para que estes
tenham uma abordagem mais humana, pois se entende que só é possível prestar uma assistência
humanizada na UTI pediátrica partindo de nossa própria humanização. Para se atender a criança
de forma humanizada e individualizada é preciso incentivar e valorizar a participação da família
no contexto da hospitalização. O profissional de enfermagem deve analisar sua prática, suas
habilidades e limitações, aliar às teorias, às questões éticas implicadas na garantia dos direitos
dos pacientes, para tornar a assistência de enfermagem.
Palavras-chave: Terapia intensiva. Humanização. Enfermagem pediátrica.
ABSTRACT
This study aimed to identify the scientific production on humanized nursing care in pediatric
intensive care unit in the last decade, and to promote analysis of the various aspects of
humanized care in the literature. This is a literature review in LILACS database, from 2003 to
2013. The results indicated that the 15 articles analyzed it was found that most were published
in the years 2003, 2007 and 2011, with predominantly qualitative approach. Revealed three
themes: Promoting physical and emotional comfort, family centered care and caring caregiver.
It was evident from the analysis of the articles, the need for increased investment in the
preparation of health professionals so that they have a more humane approach, because we
understand that you can only provide humanized care in the pediatric ICU starting from our
own humanization. To meet the child humanized and individualized way you need to encourage
and enhance family involvement in the hospitalization. Nursing professionals should review
their practice, their abilities and limitations, combine the theories, the ethical issues involved in
ensuring the rights of patients to make nursing care.
Keywords: Intensive care. Humanization. Pediatric nursing.
____________________________________________________________________________
1
Enfermeira. Especialista em Terapia Intensiva pela UNINTER. Mestranda em Terapia Intensiva pela SOBRATI.
Enfermeira. Especialista em Controle de Infecção Hospitalar. Docente Universitária. Mestre em Terapia Intensiva
pela SOBRATI.
2
1 INTRODUÇÃO
O termo “humanização” vem sendo utilizado com frequência no âmbito da saúde, porém
na sua forma concreta, ainda precisa avançar muito para que seja uma prática rotineira nos
serviços de saúde. Começou a ser discutida mais amplamente a partir de 2003, com a criação
da Política Nacional de Humanização (Humaniza SUS), visando à implementação de estratégias
que viabilizassem o contato humano entre profissionais da saúde e usuários, dos profissionais
entre si, e do hospital com a comunidade, proporcionando qualidade, resolutividade e eficácia
na atenção à saúde e difundindo uma nova filosofia de humanização na rede hospitalar
credenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). À luz dessa política, percebe-se que a relação
entre humanização, cuidado e enfermagem existe e cabe a cada sujeito dessa relação fazer com
que ela esteja presente na realidade assistencial de saúde, na qual a enfermagem desempenha
um dos mais importantes papéis: o de cuidar (CHERNICHARO et al, 2011).
De acordo com Corbani et al (2009), cuidar é usar da própria humanidade para assistir
a do outro - como ser único, composto de corpo, de mente, vontade e emoção, com um coração
consciente, que com seu espírito intui e comunga. Falamos, portanto, de seres pensantes,
dotados de dignidade, a ser cuidados em sua totalidade. A recíproca é verdadeira, quando o
outro em sua humanidade cuida da minha. Logo, o cuidado está apoiado numa relação interhumana. Aplicando à enfermagem, enxergar o outro como você é estar numa relação de
reciprocidade com ele quando o profissional se coloca em sua totalidade, sem subterfúgios, de
modo a ver o outro face a face pelo encontro, num instante único, presente. Desse modo, o outro
deixa de ser uma soma de qualidades ou tendências ou nosso meio de sobrevivência e passamos
a compreendê-lo e a confirmá-lo como o outro em sua totalidade.
A hospitalização é uma situação crítica e delicada na vida de qualquer ser humano, e
tem contornos especiais quando se trata de um acontecimento na vida de uma criança, pois
implica na mudança de rotina de toda a família. A internação hospitalar traduz-se em
experiência bastante difícil para o pequeno paciente, gerando ansiedade pela exposição da
criança a um ambiente estressante, e onde o apoio para o enfrentamento destes sentimentos é
bastante restrito, de tal forma que, uma das únicas fontes de segurança é representada pela
presença dos pais (FAQUINELLO et al, 2007).
É importante abordar a necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na UTI
pediátrica, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos
profissionais de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são
importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir
o pensamento e as ações da equipe, tornando-a capaz de criticar e construir uma realidade mais
humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI.
Nesse contexto, o presente estudo objetiva identificar a produção cientifica acerca da
assistência de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica na última
década, bem como promover a análise sobre os diversos aspectos do cuidado humanizado
descritos na literatura.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo bibliográfico sobre a produção científica relacionada à assistência
de enfermagem humanizada em unidade de terapia intensiva pediátrica, na base de dados da
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), referente a última
década. Para a pesquisa foram utilizados os seguintes descritores: terapia intensiva,
humanização, enfermagem pediátrica. Na busca, foram encontrados 146 artigos nesta base de
dados no período de dez anos, destes foram selecionados 29 após leitura dos resumos, e
finalmente 15 artigos após leitura integral dos textos.
A avaliação inicial do material bibliográfico foi realizada mediante a leitura dos
resumos, com a finalidade de selecionar aqueles que atendiam aos objetivos do estudo. Para
análise foi realizada leitura minuciosa, na íntegra, da cada artigo, visando ordenar e sistematizar
as informações necessárias para encontrarmos os seguintes dados: fonte de levantamento, dados
de identificação, abordagem da educação em saúde, abordagem metodológica, instrumentos de
coleta de dados e considerações finais.
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Caracterização dos estudos
Após a análise dos resumos, selecionou-se 15 artigos científicos dentre os levantados
no banco de dados LILACS, concernentes a assistência de enfermagem humanizada em unidade
de terapia intensiva pediátrica, no período de dez anos. Dentre os periódicos, destacou-se a
Revista Brasileira de Enfermagem com maior número de publicações (quatro artigos). Quanto
ao ano de publicação, destacaram-se os anos de 2003, 2007 e 2011 como os de maior produção,
considerando-se que nove artigos foram publicados neste período, porém, os anos de 2004,
2008, 2012 e 2013 apresentaram o menor número de publicações com nenhum artigo publicado.
Levando em consideração a abordagem metodológica utilizada nas 15 produções
científicas, as pesquisas qualitativas se sobressaíram com 14 artigos onde se observou os
aspectos da subjetividade, aprofundando acerca da assistência humanizada de enfermagem. Foi
utilizado apenas um artigo de abordagem quantitativa.
Categoria temática I- Promovendo o conforto físico e emocional
O conceito de humanização pode ser traduzido como uma busca incessante do conforto
físico, psíquico e espiritual do paciente, família e equipe, elucidando assim a importância da
mesma durante o período da internação (MARQUES & SOUZA, 2010).
Segundo Gomes et AL (2011), a equipe de saúde precisa perceber que a criança é mais
que uma pessoa doente ou uma doença; ela é alguém integrante de um enredo familiar, possui
necessidades e desejos. Além disso, os profissionais de saúde precisam considerar os aspectos
subjetivos da enfermidade na infância, porque o hospital pode se tornar um lugar 'iatrogênico'
e promover mais doença do que saúde, tanto nos pacientes quanto nos profissionais.
Geralmente, a falta de preparo do profissional de saúde em cuidar da criança, muitas vezes
direcionado somente para a parte técnica do cuidado, inserido no modelo biomédico, não
consegue observar a criança como ser humano integral nem perceber o que acontece com o
emocional do paciente.
A valorização do saber dos pacientes pediátricos sobre seu processo de adoecimento e
sobre as relações experiência das no contexto de internação são tão importantes quanto a
experiência dos familiares e acompanhantes. O direito de expressão destas crianças pode
fornecer valiosos subsídios para que as práticas em saúde possam ser repensadas em prol de
uma assistência mais integral e acolhedora (ALVES et al, 2009).
Em seu estudo, Faquinello et al (2007) afirma que os profissionais de enfermagem são
vistos como memoráveis quando em seu cuidado levam em conta "as pequenas coisas",
traduzidas em gestos e atitudes, e que proporcionam um suporte psíquico emocional e uma
relação de ajuda, tornando a hospitalização uma experiência mais facilmente tolerável. As
"pequenas coisas" foram definidas em termos da preocupação dos profissionais em tratar os
pacientes e familiares de modo individualizado, chamando as crianças pelo nome, abordando
os familiares de um modo amigável/carinhoso, demonstrando amor e respeito por elas, usando
o toque, o afago, uma entonação de voz suave e utilizando o olhar para transmitir uma variedade
infinita de mensagens.
No âmbito da assistência pediátrica de alta complexidade, a cronicidade e gravidade dos
casos colocam os profissionais frente à necessidade de desenvolver um fazer que considere: o
uso de tecnologias de ponta, a incorporação constante de novos conhecimentos sobre doenças
raras, limitações do desenvolvimento e maturação dos pacientes, além da relação com usuários
e acompanhantes (ALVES et al, 2009).
É necessário cuidar do paciente com carinho, dedicação, respeitá-lo como ser humano,
considerando suas crenças, valores, desejos e expectativas quanto à internação e evolução do
estado de saúde. Desenvolver o cuidado com a responsabilidade de minimizar o quadro de
depressão e angústia instaladas no paciente em virtude da sua permanência na UTI mediante
estabelecimento de um diálogo, quando possível, levando palavras de incentivo e fé no intuito
de conquistar a confiança do paciente e do familiar (CAETANO et al, 2007).
O mesmo autor afirma que a promoção do conforto físico é muito importante na situação
assistencial, e todos os membros da equipe devem trabalhar de forma eficiente e integrada. O
estranho maquinário, as constantes privações, interrupções e privação de sono, a
superestimulação sensorial, sede, dores, abstinência de alimentos comuns, a alimentação
endovenosa ou nasoenteral, a respiração por ventiladores, a monitorização cardíaca e sua
sinalização, os cateteres, procedimentos invasivos, a imobilização do paciente e ainda a
superlotação de equipamentos no local, tudo isso equivale a desencadeantes para situações que
propiciam alterações psicopatológicas e intenso desconforto para a criança.
Um ambiente ruidoso dificulta um descanso confortável causando nos pacientes
perturbações do sono, alterações psicológicas com desorientação e até mesmo ansiedade nas
enfermeiras mais susceptíveis. Os níveis de ruído hospitalar encontram-se excessivamente
elevados, especialmente no ambiente de UTI, em decorrência dos inúmeros alarmes e
equipamentos, além da conversação da própria equipe hospitalar. Diante disso, esse ambiente,
que deveria ser silencioso e tranqüilo, tornam-se ruidoso, transformando-se em grande fator de
estresse e podendo gerar distúrbios fisiológicos e psicológicos tanto nos pacientes como nos
funcionários desta unidade. A exposição a um ambiente com grande sobrecarga de estímulos
sensitivos, dolorosos, ruído, aspiração traqueal e privação do sono pode exigir o uso de
fármacos para controlar a ansiedade e inquietude dos pacientes e facilitar o sono. O adequado
manuseio da sedação e analgesia na UTI também deve ser objetivado, visto que dor e ansiedade
são estressores importantes neste meio (BITENCOURT et al, 2007).
Pauli & Bousso (2003) afirmam que o ambiente da unidade é, muitas vezes, encarado
como agressivo e frio; este faz com que o paciente perceba-se mais grave do que realmente está.
Esses fatores e outros associados ao tratamento parecem favorecer uma percepção de condições
ambientais instáveis e estressantes. O profissional de enfermagem então, muda a decoração,
procura tornar o ambiente menos agressivo e estressante aos olhos da criança, acreditando que
esta é uma forma de estar humanizando, quando percebe que a criança se distrai, apontando e
olhando as figuras das paredes.
No sentido de melhorar a qualidade do atendimento prestado aos pacientes internados
em uma UTI pediátrica, é fundamental que os estressores sejam minimizados e que sejam
implantadas medidas que possam facilitar a humanização do ambiente da UTI.
Categoria temática II- Cuidado centrado na família
A situação de internação de uma criança ou adolescente, em geral, é um momento
delicado para a família e que requer reconfiguração da rotina de vida e assimilação do processo
de adoecimento. O momento da hospitalização é uma experiência marcada pela ruptura com o
cotidiano da escola, dos amigos, da família e das brincadeiras (ALVES et al, 2009).
Para Spir et AL (2011), a presença do acompanhante durante a internação do paciente é
uma das ações primordiais para amenizar o processo de hospitalização. O benefício da entrada
e permanência do acompanhante nas instituições de saúde também está amparada nas
recomendações da Organização Mundial de Saúde (Assistência ao Parto Normal: um guia
prático - 1996), na Lei nº 10.241, promulgada pelo governo do estado de São Paulo em
17/03/1999 e, em âmbito nacional, no Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu artigo
12 obriga os estabelecimentos de saúde a proporcionarem condições para a permanência, em
tempo integral, de um acompanhante durante o período de internação da criança.
A hospitalização realiza-se, normalmente, numa atmosfera de tensão e insegurança para
a criança e seus acompanhantes, acarretando outras situações desagradáveis: novos horários,
exames dolorosos, afastamento do ambiente familiar, abandono da atividade escolar, falta de
estímulos sociais, dentre outras alterações no cotidiano das crianças e familiares. Essas
modificações podem ocasionar agitação, gritos, choros, retrocesso, regressão, depressão,
ausência no controle dos esfíncteres, entre outros (LIMA et al, 2006).
Ao adentrar ao hospital, a família traz consigo a necessidade de vivenciar o nascimento
do seu filho, provando sensações novas, enfrentando risco de sequelas e da morte, tendo medo
e insegurança de realizar o cuidado domiciliar. Portanto, a equipe precisa ser instrumentalizada
para acolher a família no ambiente da terapia intensiva, incluindo-a na perspectiva do cuidado.
O encontro envolvendo cuidador e ser cuidado deve ter como fio condutor a escuta sensível
para a construção de uma prática do cuidar que seja capaz de conciliar a melhor tecnologia
disponível com promoção de acolhimento, vínculo e responsabilização (OLIVEIRA et al, 2006)
O mesmo autor afirma que o cuidado de enfermagem deve estar voltado às necessidades
da criança e sua família, desenvolvendo uma proposta do cuidado centrado na família,
encorajando-os ao envolvimento afetivo e no cuidado de seu filho. Com isso, pretende-se
preservar a indissolubilidade do binômio mãe-filho, reduzindo assim o tempo de internação,
aumentando o calor afetivo e a colaboração da equipe de saúde, criando um vínculo de
confiança entre família e equipe.
É preciso valorizar a presença da família no cuidado prestado, principalmente quando
ela vivencia a internação de um familiar na UTI. Mesmo a família encontrando-se em um estado
de fragilidade emocional ou de crise, continua ocupando um papel de destaque para a criança,
contribuindo para que se sinta protegido, mais seguro, amado e significativo para o seu grupo
familiar. Torna-se relevante a presença da família na UTI, seja para conversar com o paciente,
tocá-lo ou simplesmente observá-lo, mesmo quando este se encontra inconsciente. Entretanto,
a possibilidade de construir outros paradigmas, requer sensibilidade, disponibilidade para
aprender o novo, capacidade para reconhecer a si mesmo e depois tentar conhecer o outro e,
principalmente, a crença de que os significados e afetos presentes na relação familiar são
insubstituíveis para a melhora e recuperação do paciente (SILVEIRA et al, 2005).
Em seu estudo, Pauli & Bousso (2003), observaram que a presença dos pais deixa a
criança mais calma, que, permitindo a presença dos pais, isso pode colaborar para que a criança
receba o amor e carinho da família, oferecendo, assim, uma assistência humanizada.
O profissional de enfermagem deve fornecer informação completa, apurada, correta e
clara sobre as condições e as reações à doença, o tratamento da criança, e verificar como os pais
compreendem a situação. Para além da informação clara e objetiva, está a necessidade de se
estabelecer um espaço de diálogo, que habilite os diferentes atores a expressarem suas dúvidas
e sentimentos. Esse espaço não pode estar atrelado ao tempo de internação, mas instituído como
forma de gestão do cotidiano do serviço. Ter um espaço de diálogo representa uma forma de
acolher o outro e sua demanda (ALVES et al, 2009).
Ao mesmo tempo em que a presença dos pais na UTI é enfatizada na literatura como
um fator benéfico para o bem-estar da criança e da família, a enfermeira, ao precisar lidar com
a presença desses familiares, vê a possibilidade de demonstrar seu interesse pela criança,
acreditando poder ganhar a confiança deles. Existe uma preocupação e um movimento da
enfermeira na busca da confiança da família. Com certeza, o processo de humanização envolve
mais que permitir ou não a presença dos pais na UTIp, é importante que a enfermeira seja um
elemento de confiança à família, já que é ela quem deve ajudá-la a passar por essa experiência.
E reduzir a ansiedade dos pais é visto como parte importante do tratamento da criança e, para
isso, torna-se fundamental conhecer e respeitar a experiência da família (PAULI & BOUSSO,
2003).
A família pode contribuir muito para a recuperação do paciente, mas para que isso
aconteça, ela precisa ser orientada sobre as rotinas da UTI e sobre o que está acontecendo com
o seu familiar, necessitando sentir-se acolhida, respeitada e, também, cuidada. Por isso, é
importante permitir sua presença, assegurar-lhe de que estamos ali para lhe ajudar a enfrentar
esse momento difícil.
Categoria temática III: Cuidando do cuidador
Para a implementação do cuidado com ações humanizadoras é preciso valorizar a
dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecer trabalho
em equipe multiprofissional, fomentar a construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos,
fortalecer o controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS,
democratizar as relações de trabalho e valorizar os profissionais de saúde
(OLIVEIRA et al,
2006).
Para que o trabalho não se torne mecanizado e desumano, é necessário que os
profissionais estejam instrumentalizados para lidar as situações do cotidiano, recebendo auxílio
psicológico e aprendendo a administrar sentimentos vivenciados na prática assistencial. Vale
salientar que, para o desenvolvimento de ações humanizadoras na assistência em saúde, faz-se
necessário que a humanização seja a filosofia da instituição. Portanto, esta deve estar
comprometida com um projeto terapêutico que contemple a humanização das relações de
trabalho, da assistência e do ambiente de trabalho. Nesse contexto, é fundamental o incentivo à
equipe, valorizando os profissionais enquanto seres bio-psico-sociais, pois, quando se sentem
mais respeitados, valorizados e motivados como pessoas e profissionais, podem estabelecer
relações interpessoais mais saudáveis com os pacientes, familiares e equipe multiprofissional
(OLIVEIRA et al, 2006).
O mesmo autor relata que outro aspecto importante que influencia no desenvolvimento
do trabalho é o fato de a equipe de enfermagem, geralmente, estar vinculada a mais de um
emprego, dobras de plantões, horas extras, sobrecarga de trabalho sem descanso, resultando em
fadiga, tensão e irritação. Devido ao esforço físico diário, repetições de tarefas, e a necessidade
do trabalho ser realizado em pé, os trabalhadores sofrem com o desgaste físico.
Segundo Collet e Rozendo (2003), é necessário trabalhar com o sofrimento psíquico
dos trabalhadores de enfermagem, pois o desgaste psicológico aparece como um dos obstáculos
que interfere na qualidade de vida dessas pessoas bem como na qualidade da assistência
prestada. A falta de acompanhamento das necessidades psicológicas da equipe é um aspecto
que não tem sido levado em consideração pelas instituições de serviços de saúde, cujos reflexos
são evidenciados nos modos de prestar assistência de enfermagem, nas dificuldades de
convivência entre enfermagem e usuários, e entre os membros da equipe de saúde, no exercício
da democracia e no respeito aos direitos dos usuários e dos trabalhadores, ambos sujeitos.
Humanização também significa, ou precisa significar melhoria das condições de
trabalho do cuidador. É uma necessidade de o hospital cuidar do cuidador, ou seja, cuidar para
que o profissional de saúde possa desempenhar suas funções de maneira harmoniosa, sadia,
sem que o estresse o afete de maneira que prejudique seu desempenho técnico, afetivo e sua
saúde física e mental (GOMES et al, 2011).
As condições de trabalho influem na satisfação do profissional em relação ao seu
trabalho. Segundo Martins (2003), a atividade assistencial se constitui, para os profissionais de
saúde, em fonte de gratificação e de estresse. Segundo a autora, os fatores gratificantes seriam
diagnosticar e tratar adequadamente, curar, prevenir, educar, aconselhar, sentir-se competente,
receber reconhecimento. Os fatores estressantes seriam ter contato frequente com a dor e o
sofrimento, lidar com as expectativas dos pacientes e familiares; atender pacientes 'difíceis' (não
aderentes ao tratamento, hostis, agressivos, depressivos, autodestrutivos), lidar com as
limitações do conhecimento científico. Acrescenta-se a ausência de material e equipamentos,
de remédios, a superlotação de doentes e a carência de pessoal para atendê-los.
Para Collet & Rozendo (2003), humanizar em saúde é uma via de mão dupla, pois é um
processo que se produz e reproduz na relação usuário–profissional. Contudo, não é possível
esperarmos da equipe de saúde uma assistência humanizada aos usuários quando as condições
de trabalho são precárias, quando há falta de pessoal, sobrecarga de trabalho e pressões no
interior do mundo do trabalho que deixam as pessoas nos seus limites físicos e psíquicos. Essas
condições, também, foram historicamente determinadas pela evolução do trabalho em saúde e
produzem bloqueios no avanço intelectual da enfermagem, assim como de outros profissionais.
Agem como camisas de força que engessam a criatividade dos profissionais. A ausência de
mecanismos que assegurem a reflexão cotidiana do processo de trabalho pode ser indício da
falta de qualidade em alguns serviços, assim como um desestímulo às lutas por melhores
condições de trabalho.
Humanizar a assistência em saúde implica dar lugar tanto à palavra do usuário quanto à
palavra dos profissionais da saúde, de forma que possam fazer parte de uma rede de diálogo,
que pense e promova as ações, campanhas, programas e políticas assistenciais a partir da
dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento mútuo e da solidariedade
(OLIVEIRA et al, 2006).
Segundo o mesmo autor, o contato direto com seres humanos coloca o profissional
diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. Se ele não
tomar contato com esses fenômenos correrá o risco de desenvolver mecanismos rígidos de
defesa, que podem prejudicá-lo tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Os profissionais
da saúde submetem-se, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes: contato
frequente com a dor e o sofrimento, com pacientes terminais, receio de cometer erros, contato
com pacientes difíceis. Assim, cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o
desenvolvimento de projetos e ações em prol da humanização da assistência.
4 CONCLUSÃO
Evidenciou-se a partir da análise dos artigos, a necessidade de um maior investimento
no preparo dos profissionais de saúde, para que estes tenham uma abordagem mais humana,
pois se entende que só é possível prestar uma assistência humanizada na UTI pediátrica partindo
de nossa própria humanização.
Para se atender a criança de forma humanizada e individualizada é preciso incentivar e
valorizar a participação da família no contexto da hospitalização, pois os pais exercem papel
fundamental, na medida em que representam a principal referência da criança, enquanto
mediadores da relação terapêutica, fonte principal de segurança e carinho, além de apoio
imprescindível ao enfrentamento desta situação desafiadora, que é a doença e a internação.
O profissional de enfermagem deve analisar sua prática, suas habilidades e limitações,
aliar às teorias, às questões éticas implicadas na garantia dos direitos dos pacientes, para tornar
a assistência de enfermagem humanizada e de qualidade. É necessário que esta categoria
profissional, repense sobre seu papel, lutando por uma reversão de valores nas práticas
profissionais vigentes, e enfoque seu cuidado no sentido de realizar uma abordagem mais
humana, promovendo um salto qualitativo tanto no cuidado, como no ambiente de trabalho da
UTI pediátrica.
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