prolapso parcial de útero com retroflexão de bexiga em cadela

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PROLAPSO PARCIAL DE ÚTERO COM RETROFLEXÃO DE BEXIGA EM
CADELA
Tairon Pannunzio Dias e silva1, Ravy Guerra de Oliveira1, Francisco Lima
Silva2
1. Graduandos em Medicina Veterinária () - Universidade Federal do
Piauí/CPCE – Brasil [email protected].
2. Professor adjunto IV da Universidade Federal do Piauí - Departamento de
Medicina Veterinária
Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011
RESUMO
O prolapso uterino consiste em ser uma eversão e protrusão de uma porção do útero
através da cérvice, passando pelo interior da vagina se expondo pela genitália
externa, que acontece geralmente durante ou após o parto. As causas dessa
alteração são desconhecidas, existindo vários fatores que predispõem ao seu
acontecimento, podendo ser total, onde se observa um ou ambos os cornos uterinos
e corpo do útero evertidos através da vulva, ou parcial, um corno ou o corpo uterino
está evertido no lúmen vaginal. O presente trabalho objetiva relatar um caso de
prolapso parcial de útero em cadela com retroflexão de bexiga. Um cão foi atendido
na Clínica bladder retroflexion Veterinária Animal’s com queixa de um aumento na
região da vulva durante o parto, no exame clínico foi observado apatia, caquexia e
aumento de volume na vulva suspeitando-se de prolapso uterino. Para diagnóstico
foi realizado a ultrassonografia que revelou presença de fetos no útero com porção
prolapsada e retroflexão de bexiga. A abordagem cirúrgica fez-se necessária tanto
para extração dos fetos como tratamento definitivo do prolapso.
PALAVRAS-CHAVE: Cão, prolapso uterino, retroflexão de bexiga.
PARTIAL PROLAPSE IN THE UTERUS WITH BLADDER RETROFLECTION OF A
FEMALE DOG
ABSTRACT
The uterine prolapse consists of an eversion and protrusion of a portion of the uterus
through the cervix, passing through the inside of the vagina exposing itself by the
external genitalia, which usually happens during or after giving birth. The causes of
this change are unknown, there are several factors that predispose their occurrence,
it can be total, when we can observe one or both uterine horns and the body of the
uterus everted through the vulva, or part of a horn or uterine body is everted in
vaginal lumen. The present paper reports a case of partial prolapse of the uterus in a
female dog with bladder retroflexion. A dog was treated in the Veterinary Clinic under
the complaining of an increase in the region of the vulva as for the moment of giving
birth, during the clinical examination it was observed apathy, cachexia and
enlargement of the vulva, leading us to consider the possibility of a uterine prolapse.
To diagnose it, an ultrasound was performed, showing the presence of fetuses in the
uterus with a prolapsed portion and bladder retroflexion. The surgical approach was
required for both extraction of the fetus as a definitive treatment of the prolapse.
KEYWORDS: Dog, uterine prolapse, bladder retroflexion
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INTRODUÇÃO
O prolapso uterino consiste em ser uma eversão e protrusão de uma porção
do útero através da cérvice, passando pelo interior da vagina se expondo pela
genitália externa (FOSSUM et al., 2002). MIALOT (1988) cita que o prolapso de
útero é raramente visto em cadelas e gatas (ÖZYURTLU & KAYA, 2005).
O prolapso de útero em cadelas quando ocorre, acontece geralmente durante
o parto prolongado ou após este (48 horas), quando a cérvix se encontra dilatada
(VAUGHAN & MCGUCKIN, 1993; BIDDLE & MACINTIRE, 2000). Em gatas o
prolapso uterino ocorre entre dois a seis anos de idade, principalmente em animais
que pariram duas ou mais vezes sem dificuldade, tendo sua ocorrência sido relatada
em condições semelhantes ao ocorrido em cadelas (WALLACE et al., 1970).
O tecido evertido, geralmente, encontra-se com alteração de coloração em
consequência da congestão venosa, traumatismo e sujidades aderidas. Essa
alteração pode levar, em decorrência de seu acontecimento, à laceração do
ligamento largo do útero e hemorragia da artéria uterina. A hemorragia pode
ocasionar choque hipovolêmico, a menos que ela seja controlada rapidamente
(FOSSUM et al., 2002). Também pode comprometer a micção normal devido a
compressão da uretra que passa a apresentar-se distendida (TILLEY & SMITH,
2003).
As causas dessa alteração são desconhecidas. No entanto, vários são os
fatores que predispõem ao seu acontecimento como o relaxamento da musculatura
pélvica, atonia uterina, separação incompleta das membranas placentárias, flacidez
mesovariana, tenesmo e contrações uterinas excessivas (LEAL et al., 2003;
ÖZYURTLU & KAYA, 2005).
O útero pode apresentar-se completo ou parcialmente prolapsado. No
primeiro caso observa-se a presença de um ou ambos os cornos uterinos e corpo do
útero evertidos através da vulva, enquanto no prolapso parcial, um corno ou o corpo
uterino está evertido no lúmen vaginal (WOOD, 1986).
O diagnóstico do prolapso completo é direto e baseia-se na história, em sinais
clínicos e no exame físico, buscando-se observar a presença de tecido uterino
protruído através da vulva. Nos casos de prolapso parcial, a palpação da vagina ou
vaginoscopia são requeridos no diagnóstico (WOOD, 1986; JOHNSTON et al.,
2001).
Os tratamentos de prolapso uterino buscam o retorno rápido do órgão à
posição anatômica prevenindo o aparecimento de infecção ou a desvitalização do
tecido (WOOD, 1986). Vários métodos de tratamento são descritos na literatura,
incluindo redução manual através de palpação abdominal ou laparotomia, seguida
ou não de ovário-histerectomia, e excisão do tecido evertido com ligadura dos vasos
uterinos e ovarianos (VAUGHAN & McGUCKIN, 1993; JOHNSTON et al., 2001).
O presente trabalho objetiva relatar um caso de prolapso parcial de útero com
retroflexão de bexiga em uma cadela.
RELATO DO CASO
Um cão foi atendido na Clínica Veterinária Animal’s que se localiza na cidade
de Teresina, estado do Piauí. Canino, fêmea, com quatro anos de idade, sem padrão
racial definido, pesando aproximadamente 21 quilogramas. Durante anamnese o
proprietário informou que o animal havia parido 10 filhotes, quando foi observado um
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aumento de volume anormal na região da vulva, que se manteve por longo período,
motivo pelo qual foi requerida a consulta.
No exame clínico foi observado apatia, caquexia e aumento de volume na
vulva suspeitando-se de prolapso uterino com envolvimento da bexiga (FIGURA 1),
sendo solicitado hemograma para avaliação dos parâmetros hematológicos e exame
ultrassonográfico da região abdominal bem como para identificação de estruturas e
formação do diagnóstico definitivo.
FIGURA 1: Animal apresentando aumento de volume na
região perineal em consequência do prolapso
de útero associado com retroflexão da bexiga.
Foto: Clínica Animal’s (2011).
A avaliação do hemograma revelou não haver alteração de ordem
hematológica. No exame ultrassonográfico verificou-se a presença estimada de três
fetos, apresentando batimentos cardíacos e movimentação, presença adequada de
liquido amniótico. Na avaliação da região vulvar aumentada foi identificada a
vesícula urinária em consequência de sua retroflexão por ocasião do prolapso
parcial do útero (FIGURA 2).
FIGURA 2: Ultrassonografia mostrando a presença de feto em útero além da bexiga
retroflexionada bastante distendida.
Foto: Clínica Animal’s (2011).
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Confirmada a suspeita clínica, optou-se pela punção da bexiga para
eliminação de parte da urina retida e tentativa de recolocação manual do órgão à
região anatômica. Não sendo possível a recolocação, foi realizada a cesariana
seguida de ovariossalpingohisterectomia (OSH), além do reposicionamento da
bexiga.
O protocolo anestésico dissociativo foi utilizado para indução, em que foi
realizada uma associação de 1mL de xilazina, 1mL de ketamina e 1mL de diazepam
diluídos em 7mL de solução fisiológica (NaCl 0,9%), na dose de 1mL da diluição
para cada 4kg de peso vivo. A manutenção foi realizada com anestesia geral
inalatória utilizando-se o halotano como anestésico.
No tratamento pós-cirúrgico foi aplicado pentabiótico (0,5mL/kg, o que
corresponde a 24000 UI das Penicilinas por kg e 10 mg de Estreptomicina e
Diidroestreptomicina por kg/IM), tramadol (4mg/kg QID/IM durante 3 dias), maxicam
(0.2mg/kg BID, durante 10 dias) e, na ferida cirúrgica foi aplicado rifamicina spray.
DISCUSSÃO
O prolapso uterino ocorre raramente em cadelas como cita a literatura
nacional, e quando este se manifesta, acontece geralmente ao longo de um parto
prolongado ou após este, quando a cérvix ainda se encontra dilatada (BIDDLE &
MACINTIRE, 2000).
A apresentação clínica aliada ao exame ultrassonográfico confirmaram um
caso de prolapso de útero acompanhado de retroflexão de bexiga ocorrido
provavelmente devido às inúmeras contrações decorrentes do grande número de
fetos além do relaxamento dos ligamentos e musculatura pélvica decorrente do fato
de os estrógenos secretados pelos folículos ovarianos da cadela em estro
(NÖTHLING et al., 2002; LEAL et al., 2003; ÖZYURTLU & KAYA, 2005).
O exame ultrassonográfico se mostrou muito importante na visualização de
fetos vivos subsidiando uma rápida intervenção cirúrgica para a retirada dos
mesmos evitando sofrimento e/ou a morte destes em decorrência da incapacidade
de expulsão devido ao prolapso parcial do útero como também da retroflexão
vesícula urinária.
O puncionamento da bexiga foi realizado para diminuição de seu volume e
sua possível reposição anatômica como da porção prolapsada do útero como
indicado por WOOD (1986).
O procedimento cirúrgico (laparotomia seguida de cesariana) foi utilizado para
extração dos fetos e reposicionamento anatômico tanto do útero (VAUGHAN &
McGUCKIN, 1993; JOHNSTON et al., 2001) como da bexiga (FIGURA 3). A
ovariossalpingohisterectomia foi realizada como terapia profilática a fim de evitar
recidivas como indicado por BOJRAB (1996), FOSSUM (1997) e WYKES & OLSON
(1998).
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FIGURA 3: Animal após cesariana seguida de OSH
e reposicionamento anatômico da
bexiga.
Foto: Clínica Animal’s (2011).
CONCLUSÕES
A rápida intervenção obstétrica condiciona o sucesso terapêutico em casos de
prolapso de útero com retroflexão de bexiga.
A ovariossalpingohisterectomia é um método eficaz no tratamento e
prevenção do prolapso uterino.
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ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág.
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