Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Indicações de uso do Fator VII Recombinante Ativado “Novoseven®” 1 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed I – Elaboração Final: II – Autores: Dr Alvaro Koenig**, Dr Alexandre Pagnoncelli∗, Dr Carlos Augusto Cardim de Oliveira*, Dra Claudia Regina de O. Cantanheda*, Dr Jurimar Alonso*, Dr Luiz Henrique P. Furlan*, Dra Silvana M Bruschi Kelles*. Declaração de isenção de conflito de Interesses Os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências declaram que não mantêm nenhum vínculo empregatício, comercial ou empresarial, ou ainda qualquer outro interesse financeiro com a indústria farmacêutica ou de insumos para área médica. Todos os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências trabalham para o Sistema Unimed. III – Previsão de Revisão: ___ / ___ / _____ IV – Tema: Terapia anti-hemorrágica com fator VII recombinante ativado (rFVIIa) V – Especialidade Envolvida: hematologistas, auditores médicos VI – Questão Clínica: O rFVIIA apresenta eficácia e segurança no tratamento de hemorragias graves? VII – Enfoque: Tratamento VIII – Introdução: O Fator VII recombinante ativado presumivelmente age no local da lesão tecidual ao ligar-se ao fator tecidual exposto, gerando pequenas quantidades de trombina, suficientes para ativar a adesão plaquetária. * Membro da CTNMBE ** Membro da Câmara Estadual de MBE 2 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed A agência Food and Drug Administration licenciou o uso de rFVIIa para as seguintes indicações: O rFVIIa é indicado para o tratamento de episódios de sangramento em pacientes com hemofilia A ou B com inibidores(antagonistas) aos fatores VIII ou IX. O fármaco deve ser administrado somente sob supervisão direta de um médico experiente no tratamento de hemofilias. Na Europa o rFVIIa é também licenciado para uso em hemofilia adquirida e deficiência de fator VII e em pacientes com trombastenia de Glanzmann refratárias à transfusão de plaquetas. O objetivo desta revisão é avaliar a efetividade e segurança do rFVIIa em diferentes situações clínicas de hemorragias graves consideradas off-label. IX – Metodologia: • Fonte de dados: Pubmed, Sumsearch, Biblioteca Cochrane e centros de avaliação de tecnologias em saúde. • Palavras-chaves: Eptacog, factor VII, bleeding, rFVIIa. • Desenhos dos estudos buscados: Ensaios clínicos randomizados, metanálises, revisões sistemáticas e avaliações de tecnologias de saúde. • Período pesquisado: 2002 a 2007. • População incluída e excluída: Adultos e crianças com hemorragia aguda severa. • Resultados da busca bibliográfica: - ECR: 11 - Metanálises: 2 - Revisões sistemáticas: 5 3 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed O grau de recomendação tem como objetivos dar transparência às informações, estimular a busca de evidência científica de maior força e auxiliar a avaliação crítica do leitor, o responsável na tomada de decisão junto ao paciente. Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - “Oxford Centre for 20 Evidence-based Medicine” - última atualização maio de 2001 Grau de Nível de Tratamento/ Recomendação Evidência Prevenção – Etiologia Diagnóstico Revisão Sistemática (com 1A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de Ensaios Clínicos Controlados e de Estudos Diagnósticos nível 1 Critério Randomizados Diagnóstico de estudos nível 1B, em diferentes centros clínicos A 1B 1C 2A Ensaio Clínico Controlado e Randomizado com Intervalo de Confiança Estreito Coorte validada, com bom padrão de referência Critério Diagnóstico testado em um único centro clínico Resultados Terapêuticos do tipo “tudo ou Sensibilidade e Especificidade nada” próximas de 100% Revisão Sistemática (com homogeneidade) de Estudos de Coorte Revisão Sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 2 Coorte Exploratória com bom padrão de 2B Estudo de Coorte (incluindo Ensaio Clínico Randomizado de Menor Qualidade) Referência Critério Diagnóstico derivado ou validado em amostras fragmentadas ou banco de dados B Observação de Resultados Terapêuticos 2C (outcomes research) Estudo Ecológico 3A Revisão Sistemática (com homogeneidade) de Estudos Caso-Controle Revisão Sistemática (com homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 3B Seleção não consecutiva de casos, ou 3B Estudo Caso-Controle padrão de referência aplicado de forma pouco consistente C 4 D 5 Relato de Casos (incluindo Coorte ou Estudo caso-controle; ou padrão de Caso-Controle de menor qualidade) referência pobre ou não independente Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas (estudo fisiológico ou estudo com animais) X – Principais estudos encontrados: 4 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed a) Pacientes com hepatopatia (1) Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, realizado em centros da China, Taiwan e Tailândia Objetivo: avaliar o efeito hemostático e a segurança do rFVIIa em pacientes cirróticos submetidos à hepatectomia parcial. Desfechos primários: 1- Proporção de pacientes que necessitaram de transfusão durante e até 48 h após a cirurgia. 2 – volume de concentrado de hemácias a ser transfundido. Intervenções: primeira dose 10 minutos antes da incisão, com doses subseqüentes a cada 2 horas até o término da cirurgia. Placebo = 76 pacientes rFVII a 50µg/kg = 71 pacientes rFVIIa 100 µg/kg = 74 pacientes Resultados: sem diferença no total de concentrado de hemácias transfundido e na proporção de pacientes que necessitaram de transfusão. (2) ECR, duplo-cego, controlado por placebo Objetivos: avaliar o efeito hemostático e a segurança do rFVIIa em hepatectomia parcial de pacientes não cirróticos. Desfechos: perda sanguínea (volume); necessidade transfusão concentrada de hemácias no pré-operatório e até 7dias de pós-operatório; eventos tromboembólicos. Intervenções: Placebo: 63pacientes rFVIIa 20 µg/kg:63 pacientes rFVIIa 80 µg/kg: 59 Resultados: sem diferença em qualquer desfecho entre os grupos. (3) – ECR, duplo cego, controlado por placebo. 5 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Objetivos: determinar a eficácia e a segurança do rFVIIa em pacientes com cirrose e sangramento digestivo alto, proveniente ou não de varizes esofágicas. Intervenções: 245 pacientes randomizados para receber 8 doses de placebo ou de rFVIIa 100 µg/kg, além do tratamento padrão. Desfechos: não controle sangramento após 24 h da primeira dose; não prevenção de ressangramento entre 1 e 5 dias; morte durante os 5 dias do estudo. Cálculo amostral para detectar diminuição do desfecho composto de 30% para 15%. Resultados: não houve diferença no desfecho primário. Análise de subgrupo, não prevista inicialmente, foi realizada, mostrando resultados favoráveis ao rFVIIa, o que compromete a validade interna destes resultados. (4) ECR, duplo cego, placebo controlado. Objetivo: avaliar a eficácia e segurança do rFVIIa em transplante hepático. Intervenção: 182 pacientes que receberam rFVIIa – 60 µg/kg ou 120 µg/kg ou placebo. Desfechos: unidades de concentrado de hemácias transfundidas; eventos tromboembólicos Resultados: não houve diferença nos desfechos entre os grupos b) Controle de sangramento ativo ou prevenção de sangramento em pacientes sem hemofilia. Revisão sistemática Cochrane de ECR avaliando os efeitos hemostáticos e a segurança de rFVIIa em hemorragias graves de pacientes não-hemofílicos, subdivididos em prevenção e controle do sangramento agudo. Os desfechos avaliados foram: mortalidade, necessidade de transfusão, volume transfundido e efeitos tromboembólicos Resultados: A-Prevenção sangramento: Seis estudos com 724 pacientes, 379 receberam rFVIIa e o restante placebo. 6 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed - Necessidade transfusão - RR 0,85 (IC95% 0,72 -1,01 ) - Eventos tromboembólicos - RR 1,25 (IC 95% 0,76 -2,07) B-Controle Sangramento agudo: Sete estudos com 1214 pacientes, 687 receberam rFVIIa e o restante placebo. - redução mortalidade - RR 0,82 ( IC 95% 0,64 -1,04) Eventos tromboembólicos – RR 1,50(IC95% 0,86-2,92) Conclusão: a efetividade do rFVIIa como droga hemostática, profilática ou terapêutica, permanece incerta. Há tendências de redução de mortalidade, mas também de aumento de eventos tromboembólicos. c) Sangramento crítico em pacientes onco-hematológicos (6) Revisão sistemática da literatura Conclusão dos autores: No conjunto, os dados de literatura sugerem potenciais benefícios do rFVIIa no manejo de hemorragias severas em pacientes onco-hematológicos. No entanto, a maioria dos dados disponíveis provém de estudos não controlados, basicamente relatos e séries de casos. São necessários, portanto, ECR com grande número de pacientes para avaliar a eficácia e segurança do rFVIIa neste contexto. d) Controle de sangramento em cirurgia cardíaca (7) Revisão sistematizada das evidências disponíveis na literatura sobre eficácia, dose, segurança e custos do rFVIIa em cirurgia cardíaca. Foram incluídos 2 ECR(146 pacientes), 4 estudos de coorte prospectivos, 16 estudos retrospectivos não-comparativos e 24 séries de casos(total de pacientes= 501) Conclusão: Não há evidências definitivas derivadas de ensaios clínicos randomizados. 7 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed OBS.: Revisão metodologicamente de baixa qualidade por incluir todos os tipos de estudos, o que impossibilita qualquer conclusão definitiva. (8) ECR, duplo cego, controlado com placebo Objetivo: investigar a efetividade do RFVIIa profilático em lactentes submetidos à correção de cardiopatia congênita. Intervenção: - Placebo – 36 pacientes - rFVIIa – 40 pacientes Desfecho primário: - tempo para fechamento do tórax a partir da neutralização da heparina pela protamina. Desfecho secundários: volume transfundido de concentrado hemácias, plaquetas e fatores coagulação; efeitos adversos. Resultado: tempo para fechamento tórax rFVIIa= 98,8 X 55,3 placebo – p= 0,026; sem diferença nos desfechos secundários e) Hemorragia intracerebral aguda primária (9) Revisão sistemática Cochrane Objetivo: avaliar a efetividade clínica e a segurança de drogas hemostáticas em pacientes com hemorragia intracerebral aguda. Incluídos 4 estudos fase II: 116 pacientes com placebo 371 pacientes com rFVIIa 2 pacientes com ácido epsilon aminocapróico Resultados: redução no risco de morte ou dependência após 90 dias: Usando a escala Rankin (RR 0,79 ( IC 95% 0,67 – 0,93); usando a “Glasgow outcome scale”: RR 0,90 (IC 95% 0,81-1,01); efeitos adversos graves foram semelhantes nos 2 grupos RR 1,47(IC95% 0,73-2,95); eventos tromboembólicos foram semelhantes nos 2 grupos RR 3,33(IC95% 0,79-13,93); quando usado na 8 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed dose de 160 µg/kg houve significativamente mais eventos de tromboembolismo arterial com rFVIIa que com placebo – OR 7,17 p=0,004. Conclusão: as evidências atuais não permitem conclusões claras sobre o uso de fator VII em hemorragias intracerebrais agudas primárias. f) Uso de fator VII recombinante ativado em pacientes pediátricos. (10) Revisão sistemática: Não foram encontrados ensaios clínicos randomizados com o uso de rFVIIa em pacientes pediátricos, como tratamento adjuvante. As publicações resumem–se a relatos de casos. Ensaios clínicos randomizados são necessários para avaliar a eficácia e segurança do rFVIIa em pediatria. (11) ECR, duplo cego, placebo – controlado Objetivo: avaliar eficácia e segurança do rFVIIa em crianças com dengue hemorrágica grau II ou III, que necessitam transfusões de componentes sanguíneos para controlar episódios hemorrágicos. Intervenção: Placebo: 9 pacientes rFVIIa 100 µg/kg (1 ou 2 doses) – 16 pacientes. Desfecho: controle do sangramento e necessidade de transfusões. Resultados: controle de sangramento semelhante após 6 h. Necessidade de transfusão de concentrado de hemácias e plasma foi semelhante entre os grupos. g) Uso do rFVIIa em Trauma/Ortopedia (12) ECR, duplo cego, placebo – controlado Objetivos: avaliar eficácia e segurança de rFVIIa no controle do sangramento em pacientes com trauma fechado ou penetrante. Intervenção: pacientes > 16 e < 65, e necessidade de, pelo menos, 6 unidades de concentrado de hemácias nas primeiras 4 horas pós-trauma. 143 pacientes com trauma fechado 9 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 134 pacientes com trauma penetrante rFVIIa – 200 µg/kg após a transfusão da 8ª unidade de concentrado de hemácias e 100 µg/kg 1 h e 2 h após ou Placebo – 3 doses nos mesmos tempos Desfechos: primário: nº unidades de concentrado de hemácias transfundidos nas primeiras 48 horas. Secundários: mortalidade; dias em ventilação mecânica e na UTI; efeitos adversos; desfecho composto: Morte + FMO + SARA. Resultados: no grupo de pacientes com trauma fechado a necessidade de transfusão foi reduzida em 2,6 U por paciente em comparação com placebo. A necessidade de transfusão maciça (>20U) foi reduzida em 50 % no grupo rFVIIa ( NNT= 5,4). No grupo de trauma penetrante não houve diferença no número de unidades transfundidas. Sem diferença em mortalidade e eventos tromboembólicos. (13) ECR, duplo cego, placebo controlado Objetivo: Avaliar a eficácia de rFVIIa em pacientes sem coagulopatia submetidas à correção de fratura traumática de pelve ± acetábulo. Intervenção: 48 pacientes receberam placebo ou rFVIIa – 90 µg/kg antes da incisão cirúrgica. Desfechos: perda sanguínea total durante a cirurgia; tempo hospitalização; eventos tromboembólicos. Resultados: não houve diferença entre os 2 grupos. (14) Análise post- hoc dos dados do estudo da referência 12. Objetivo: análise de subgrupo dos pacientes vítimas de trauma e com distúrbio de coagulação. Nesta análise de subgrupo foram avaliados 60 pacientes do grupo rFVIIa e 76 do grupo placebo. O distúrbio de coagulação foi definido retrospectivamente com base na necessidade de transfusão de plasma, crioprecipitado e sangue total. Embora os resultados mostrem efeitos benéficos na redução do volume transfundido e também na redução de SARA, estes resultados não podem ser 10 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed considerados como definitivos em função da baixa qualidade metodológica e do pequeno poder de evidência inerente às análises de subgrupo retrospectivas. h) rFVIIa em sangramento pós transplante medula óssea(TMO) (15) ECR controlado por placebo Objetivo: verificar a eficácia de rFVIIa em complicações hemorrágicas pós TMO. Intervenções: 100 pacientes receberam rFVIIa – 40, 80 ou 100 µg/kg ou placebo a cada 6 h, em um total de 6 doses. Desfecho primário: controle da hemorragia até 38 h após do início da terapêutica. Resultados: sem diferença no controle da hemorragia e na incidência de efeitos colaterais entre os grupos. i) Segurança do rFVIIa (16) Revisão do banco de dados do FDA de notificação de eventos tromboembólicos relacionados ao rFVIIa usado em pacientes não hemofílicos (usos off-label). Resultados: O uso de rFVIIa aumentou de 349 casos em 2000 para 4520 casos em 2004. No mesmo período foram identificados 185 relatos de eventos tromboembólicos em pacientes não hemofílicos. Quando separados quanto à origem da notificação, temos 59 eventos relatados em ECR e 109 de relatos espontâneos. Em 2004 houve 6 eventos tromboembólicos relatados em ECR e 34 relatados espontaneamente. O aumento de relatos de eventos tromboembólicos é progressivo a cada ano, mostrando relação direta com a intensidade de uso do rFVIIa. Os eventos tromboembólicos tiveram a seguinte distribuição: - AVC – 21,3% - IAM – 18,6% - Outros arteriais – 14,2% - TEP – 17,5%¨ 11 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed - Outros venosos – 22,9% - Oclusão dispositivos – 5,5% A mortalidade associada aos eventos tromboembólicos apresenta aumento progressivo embora com numero pequeno de casos. Conclusão dos autores: A gravidade dos efeitos adversos, sua plausibilidade biológica e a inerente limitação do método de vigilância retrospectiva, adotada neste estudo, tornam imprescindível a realização de ensaios clínicos randomizados com desfechos robustos e controles adequados para avaliar a segurança e eficácia do rFVIIa. (17) Revisão de 13 estudos financiados pela NovoNordisc, fabricante do medicamento – sendo que um dos autores é funcionários da referida empresa. Análise dos dados de segurança do rFVIIa em pacientes com coagulopatia secundária. Resultados: a incidência de eventos tromboembólicos foi semelhante nos pacientes tratados com placebo e com rFVIIa na análise conjunta destes 13 ECR. j) Análise de série de casos de trombastenia de Glanzmann pelo registro internacional: administração profilática e terapêutica do f rVIIa em pacientes com trombastenia de Glanzmann. Objetivo: Obter informações sobre a experiência com o uso off-label do FrVIIa em pacientes com TG, através de apresentações em congressos, publicações e fóruns de hemostasia na website (HTTP://www.haemophiliaforum.org/). O FrVIIa foi utilizado profilaticamente em 34 procedimentos cirúrgicos: 9 grandes procedimentos e 25 procedimentos menores, sendo adultos, a maioria dos pacientes. A profilaxia teve sucesso em oito grandes procedimentos cirúrgicos pela aplicação do FrVIIa em bolus ou infusão contínua. Dos 25 procedimentos cirúrgicos menores foi obtido o sucesso em 24 pacientes. Somente um paciente submetido à retirada de stent urológico com o uso profilático do FrVIIa, que manteve hematúria (113 µg/kg de FrVIIa por 8 dias). Para o tratamento de sangramentos, o FrVIIa foi utilizado em 108 episódios de sangramentos (76 12 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed graves e 32 moderados) do trato gastrointestinal, 45 epistaxes, 29 da orofaringe e 17 em outros sítios. Resultados: para os sangramentos gastrointestinais houve sucesso terapêutico em 7 episódios, recorrência do sangramento em 1 e falha terapêutica em 4 episódios. Para sangramentos não gastrointestinais houve sucesso em 61 episódios, recorrência do sangramento em 7 e falha terapêutica em 16 episódios. Foi relatado uso de anti-fibrinolítico associado com o FrVIIa em 27 dos 34 procedimentos invasivos, em 12 de 17 sangramentos do trato gastrointestinal e em 70 dos sangramentos não gastrointestinais. Embora o uso do FrVIIa tenha sido seguro, houve dois casos de trombose depois do seu uso por tempo prolongado, em combinação com anti-fibrinolíticos. Conclusão dos autores: o uso do FrVIIa em bolus parece ser efetivo como alternativa para prevenção e tratamento de sangramentos em pacientes com TG, que tenham desenvolvido anticorpos antiplaquetários e/ou refratariedade plaquetária. Comentário do GATS: Os resultados com o uso do FrVIIa foram favoráveis. Embora a TG seja uma doença rara, considerável número de casos foi analisado. Entretanto, há grande heterogeneidade de sangramentos estudados e grau de gravidade com esquemas posológicos do FrVIIa variados. Além disso, a associação de anti-fibrinolíticos foi heterogênea. Essas limitações dificultam as conclusões. Conflitos de interesses declarados: dois autores recebem honorários da NovoNordisk, laboratório produtor do FrVIIa. Nível de evidência: 4 Grau de Recomedação: C. XI – Discussão: A maioria dos ECR foi financiada pelo fabricante do medicamento em questão e apresenta desfechos clínicos intermediários como volume de sangue ou derivados a ser transfundido e percentual de pacientes com necessidade de transfusão. Poucos estudos avaliam mortalidade ou outros desfechos clínicos primordiais. 13 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Na hemorragia intracerebral aguda primária a metanálise de 4 ECR mostra resultados conflitantes nos desfechos mortalidade e incapacidade, dependendo da escala de avaliação usada para incapacidade e da dose de rFVIIa usada. No entanto, parece haver uma tendência de diminuição da mortalidade com rFVIIa 80µg/kg bem como um aumento no número de eventos tromboembólicos com 160 µg/kg. Estudos maiores são necessários para comprovar definitivamente a eficácia e segurança do rFVIIa neste cenário clínico. Nos ECR sobre trauma fechado e penetrante, o RFVIIa mostrou benefícios na redução do volume transfundido somente nos pacientes com trauma fechado, sem, no entanto, diminuir a mortalidade entre os grupos. Nos pacientes com trauma penetrante não houve benefícios. Mesmo com a ausência de benefícios encontrada nos estudos e com a possibilidade de eventos tromboembólicos mais freqüentes com o uso crescente, a utilização de rFVIIa cresce quase que geometricamente a cada ano, comprometendo a racionalidade da prescrição médica e, talvez, expondo os paciente a maior risco que benefício. O ensaio clínico sobre uso de rFVIIa em prostatectomia(18) apresenta resultados favoráveis com o rFVIIa apenas em desfechos intermediários como volume de sangue transfundido, além de ter um número extremamente pequeno de pacientes(12 pacientes em cada braço), o que compromete sua validade e sua significância clínico-farmacológica. XII – Recomendação final: Os dados disponíveis na literatura mostram que não há benefícios com o uso do rFVIIa e que, portanto, seu uso está contra-indicado em hemorragias associadas a: - Hepatectomias parciais de pacientes cirróticos e não-cirróticos; - Sangramento digestivo alto em pacientes com cirrose; - Transplante hepático; - Tratamento onco-hematológico; 14 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed - Cirurgia cardíaca em adultos e crianças; - Dengue hemorrágica em crianças; - Correção de fratura traumática da pelve/acetábulo; - Trauma penetrante e fechado; - Transplante de medula óssea. - Trombastenia Nas hemorragias intracerebrais primárias os resultados dos estudos, embora ainda inconclusivos, parecem promissores mas vêm acompanhados de maior número de eventos tromboembólicos, o que, por enquanto, contraindica seu uso na prática clínica diária. Portanto, o rFVIIa deve ter seu uso restrito às indicações do FDA, quais sejam: • O rFVIIa é indicado para o tratamento de episódios de sangramento em pacientes com hemofilia A ou B com inibidores (antagonistas) aos fatores VIII ou IX. • O fármaco deve ser administrado somente sob supervisão direta de um médico experiente no tratamento de hemofilias. XIII – Bibliografia: 1. Shao YF, Yang JM, Chau GY, Sirivatanauksorn Y, Zhong SX, Erhardtsen E, Nivatvongs S, Lee PH. Safety and hemostatic effect of recombinant activated factor VII in cirrhotic patients undergoing partial hepatectomy: a multicenter, randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Am J Surg. 2006 Feb;191(2):245-9. 2. Lodge JP, Jonas S, Oussoultzoglou E, Malago M, Jayr C, Cherqui D, Anthuber M, Mirza DF, Kuhlman L, Bechstein WO, Diaz JC, Tartiere J, Eyraud D, Fridberg M, Erhardtsen E, Mimoz O. Recombinant coagulation factor VIIa in major liver resection: a randomized, placebo-controlled, double-blind clinical trial. Anesthesiology. 2005 Feb;102(2):269-75 3. Bosch J, Thabut D, Bendtsen F, D'Amico G, Albillos A, Gonzalez Abraldes J, Fabricius S, Erhardtsen E, de Franchis R; European Study Group on rFVIIa in UGI Haemorrhage. 15 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Recombinant factor VIIa for upper gastrointestinal bleeding in patients with cirrhosis: a randomized, double-blind trial. Gastroenterology. 2004 Oct;127(4):1123-30 4. Lodge JP, Jonas S, Jones RM, Olausson M, Mir-Pallardo J, Soefelt S, Garcia-Valdecasas JC, McAlister V, Mirza DF; rFVIIa OLT Study Group. Efficacy and safety of repeated perioperative doses of recombinant factor VIIa in liver transplantation. Liver Transpl. 2005 Aug;11(8):973-9. 5. Stanworth S, Birchall J, Doree C, Hyde C.Recombinant factor VIIa for the prevention and treatment of bleeding in patients without haemophilia.Cochrane Database Syst Rev. 2007 Apr 18;(2):CD005011. 6. Franchini M, Veneri D, Lippi G. The potential role of recombinant activated FVII in the management of critical hemato-oncological bleeding: a systematic review..Bone Marrow Transplantation (2007) 39, 729–735 7. Warren O, Mandal K, Hadjianastassiou V, Knowlton L, Panesar S, John K, Darzi A, Athanasiou T. Recombinant activated factor VII in cardiac surgery: a systematic review. Ann Thorac Surg. 2007 Feb;83(2):707-14 8. Ekert H, Brizard C, Eyers R, Cochrane A, Henning R. Elective administration in infants of low-dose recombinant activated factor VII (rFVIIa) in cardiopulmonary bypass surgery for congenital heart disease does not shorten time to chest closure or reduce blood loss and need for transfusions: a randomized, double-blind, parallel group, placebo-controlled study of rFVIIa and standard haemostatic replacement therapy versus standard haemostatic replacement therapy. Blood Coagul Fibrinolysis. 2006 Jul;17(5):389-95. 9. You H, Al-Shahi R.Haemostatic drug therapies for acute primary intracerebral haemorrhage.Cochrane Database Syst Rev. 2006 Jul 19;3:CD005951. 10. Mathew P.The use of rFVIIa in non-haemophilia bleeding conditions in paediatrics. A systematic review.Thromb Haemost. 2004 Oct;92(4):738-46. 11. Chuansumrit A, Wangruangsatid S, Lektrakul Y, Chua MN, Zeta Capeding MR, Bech OM; Dengue Study Group.Control of bleeding in children with Dengue hemorrhagic fever using 16 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed recombinant activated factor VII: a randomized, double-blind, placebo-controlled study.Blood Coagul Fibrinolysis. 2005 Nov;16(8):549-55. 12. Boffard KD, Riou B, Warren B, Choong PI, Rizoli S, Rossaint R, Axelsen M, Kluger Y; NovoSeven Trauma Study Group.Recombinant factor VIIa as adjunctive therapy for bleeding control in severely injured trauma patients: two parallel randomized, placebo-controlled, double-blind clinical trials.J Trauma. 2005 Jul;59(1):8-15; 13. Raobaikady R, Redman J, Ball JA, Maloney G, Grounds RM.Use of activated recombinant coagulation factor VII in patients undergoing reconstruction surgery for traumatic fracture of pelvis or pelvis and acetabulum: a double-blind, randomized, placebo-controlled trial.Br J Anaesth. 2005 May;94(5):586-91. 14. Rizoli SB, Boffard KD, Riou B, Warren B, Iau P, Kluger Y, Rossaint R, Tillinger M; NovoSeven Trauma Study Group.Recombinant activated factor VII as an adjunctive therapy for bleeding control in severe trauma patients with coagulopathy: subgroup analysis from two randomized trials.Crit Care. 2006;10(6):R178. 15. Pihusch M, Bacigalupo A, Szer J, von Depka Prondzinski M, Gaspar-Blaudschun B, Hyveled L, Brenner B; F7BMT-1360 Trial Investigators. Recombinant activated factor VII in treatment of bleeding complications following hematopoietic stem cell transplantation.J Thromb Haemost. 2005 Sep;3(9):1935-44. 16. O’ Connell KA, Wood JJ, Wise RP, Lozier JN, Braun MM. Thromboembolic adverse events after use of recombinant human coagulation factor VIIa. JAMA 2006; 295:293-8 17. 1.Levy JR et al. Recombinant factor VIIa in patients with coagulopathy secondary to antitcoagulast therapy, cirrhosis, or severe traumatic injury: review of safety profile. Transfusion 2006; 46: 919-33. 18. Friedrich PW et al. Effect of recombinant activated factor VII on perioperative blood loss in patients undergoing retropubic prostatectomy; a double-blind, palcebo-controlled, randomized trial. Lancet 2003;361:201-5 19. Poon M-C, D’Oiron R, Von Depka M, Khair K, Négrier C, Karafoulidou A, Huth-Kuene A, Morfini M. Prophilactic and therapeutic recombinant factor VIIa administration to patients with 17 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Glanzmann thrombasthenia: results of na international survey. Journal of Thrombosis and Haemostasis 2004; 2:1096-1103. 20. ls of Evidence and Grades of Recommendations - Oxford Centre for Evidence-Based Medicine. Disponível em URL: http://cebm.jr2.ox.ac.uk/docs/old_levels.html Contatos com: Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências Viviam Siqueira Goor Fone: (11) 3265-9794 e-mail: [email protected] 18