Ver-Sus Nova Olinda do Norte 15 de Agosto – Segunda

Propaganda
Ver-Sus Nova Olinda do Norte
15 de Agosto – Segunda-feira





A semana começou agitada, muito o que visitar, observar, conhecer e aprender;
Antes das 8:00hrs, depois de tomarmos o café da manhã, fomos até a Secretária
Municipal de Saúde, a SEMSA, para colhermos algumas informações oficiais
com a secretária Gigeles o coordenador dela, seu Jean;
De acordo com o coordenador existe 5 bairros em Nova Olinda do Norte e as
UBS’s são divididas pela cidade. Ao todo há 12 unidades de saúde, sendo que 5
são na cidade e 7 nos interiores próximos;
O principal problema de saúde atualmente é com relação à diabetes e
hipertensão, os casos vêm crescendo de uma forma alarmante;
Com relação ao saneamento básico, de fato não existe. Mas de acordo com o
coordenador Jean, existe sim uma empresa que abastece a cidade, a SISANOM.
Obs: quando passamos de carro em frente a essa tal empresa que abastece a cidade,
a SISANOM, percebemos que se tratava de uma casa de madeira azul,
razoavelmente grande e com um aspecto de abandonada. A estrutura não era
exatamente de uma empresa de tratamento e abastecimento de água, havia muito
mato em frente e pelos arredores; de longe dava a impressão de que se tratava de
uma casa de madeira simples e abandonada. Mas eu pretendo tirar essa “dúvida” o
quanto antes com a população que se “beneficia” do serviço prestado.

Ainda de acordo com o coordenador Jean, ao todo são 108 agentes de saúde atuando
tanto em Nova Olinda do Norte quanto no interior. Ao ser questionado sobre a
formação profissional desses agentes, Jean garante que todos recebem o treinamento
adequado e essa prática de aperfeiçoamento é recoente, até mesmo mensal,
dependendo da necessidade. Ele segue dizendo que há uma equipe de médicos,
enfermeiros, técnicos e ACS compromissados e que conseguem atender toda a
demanda da população;
Obs: eu, como futura jornalista, procuro escutar os dois lados da história para poder
opinar sobre o que tá certo ou não. Porque por enquanto, com base no que é dito, com
base no teórico, está tudo a mil maravilhas, e eu não me permito a ser hipócrita e
acreditar em tudo que o coordenador, sendo ele uma fonte oficial e do município, diz.
>> Ordem de lugares visitados ao longo do dia:
SEMSA – Secretaria Municipal de Saúde
Hospital Dr. Galo Ibanez
CAF – Centro de Atendimento Farmacêutico
UBS Irmã Mônica Borssa Lima
CAPS - Centro de Atendimento Psicossocial
UBS Etelvina Pinheiro de Oliveira
UBS Raad Mohamed Raad
UBS Maria do Carmo Castro Couto
UBS Raimundo do Rosário Melo
Academia da Saúde
Obs: todas as UBS mencionadas deveriam ser UBSF, porém não existe nenhum
programa voltado para a prevenção e proteção da família fora do papel, pelo menos
nunca bateram na porta das pessoas que entrevistamos com tal proposta da saúde da
família. A realidade é que muitos nem sabem que existe, não sabem para que serve e o
muito menos o benefício que traria para suas vidas. O certo seria que os órgãos
competentes, juntamente com os profissionais da saúde, se dispusessem a introduzir
esses programas nas vidas das pessoas, explicassem de uma forma que todos
entendessem o quão importante e significante essas ações trariam para suas vidas. Da
mesma forma como o comprometimento da população com a sua saúde é essencial para
o sucesso dos programas.


O que ficou perceptível nas UBS’s, no hospital e principalmente no CAF é a
deficiência, a falta de muitos medicamentos importantes e básicos para a
população. A carência de medicação é tão grande que os casos de diabetes e
hipertensão, por exemplo, que são as doenças com os maiores índices, ficam
sem receber uma assistência básica e essencial de medicação para a boa
qualidade de vida. Simplesmente não há remédio e eles têm que se adaptarem a
isso.
Outra coisa que observamos é que na cidade não há profissionais qualificados.
Em que sentido? Um exemplo corriqueiro é com relação a não ter NENHUM
pediatra em Nova Olinda do Norte, apenas clínicos gerais que “exercem” essa
função. Isso é um absurdo! As crianças, muitos recém nascidos, precisam de um
acompanhamento especifico e adequado de um pediatra, e isso não acontece em
nenhuma UBS e muito menos no hospital Galo Ibanez – que pelo fato de ser o
único hospital da cidade, deveria fazer com que esse fosse o de referência, com
pelo menos 1 médico voltado especificamente para os pequenos;
Obs: muitas mães reclamaram da urgência de ter um pediatra nos postos, muitas
mães reclamaram do fato de se colocar um clínico geral estrangeiro para fazer o
atendimento do seu filho – muitas não conseguem nem entender o que o profissional
estrangeiro fala, uma mistura de portunhol bizarra. Para nós, viventes do VER-SUS,
a comunicação dos médicos com a gente já é complicada, agora imaginem com
eles? É um absurdo, gente! É uma falta de respeito com a população, é uma falta de
respeito tão grande com o povo (e eu me encaixo nisso) que paga seus impostos, que
paga para ter o mínimo do mínimo. SERÁ QUE NÃO EXISTE UM MÉDICO
BRASILEIRO SE QUER – UM PEDIATRA – PARA VIR ATENDER ESSA
POPULAÇÃO MAIS CARENTE? OU SERÁ QUE É “MELHOR” PAGAR
MENOS, BEM MENOS, PARA TRAZER UM MÉDICO CUBANO PARA CÁ?
Obs: Lembrando que o programa do Governo Federal Mais Médico é justamente
para trazer mais médicos, somar com os que já existem aqui, e não para ser os
únicos!
Obs: um ponto positivo é que todas as UBS da cidade são bem “ajeitadinhas”, com
uma infraestrutura boa, bem localizadas e novas. Caso tivesse mais médicos
especialistas e os medicamentos essenciais para diabetes, hipertensão e pressão alta
(para começar) seria melhor ainda. Mas temos que entender que esse ano é ano de
campanha eleitoral, que eles gastam uma quantia estratosférica nas campanhas para
reeleição, que o país passa por um momento de crise e não há dinheiro para gastos
supérfluos como a saúde, educação e a segurança. Já que o Brasil é um país
emergente, um país onde os políticos eleitos e incorruptíveis até prezam pela
qualidade de vida dos seus eleitores, mas simplesmente não tem dinheiro para essas
coisas secundárias, é claro que entendemos!! – (ironia)

Outro ponto complicado é com relação ao transporte de atendimento médico. O
hospital Dr. Galo Ibanez, o único hospital da cidade, possui apenas duas
ambulâncias sucateadas para oferecer à população. Agora imagine uma cidade
com 35 mil habitantes, isso sem contar com as comunidades mais afastadas,
como a de Jauari, com um único transporte (porque a outra serve apenas pra
transportar um paciente indígena, por exemplo, do porto para o hospital e depois
volta para o porto) e em péssimas condições. Isso é totalmente inaceitável.

“Médico é elite” - essa afirmação foi dita por uma enfermeira ou agente de
saúde ao mencionar um caso onde o médico sabe das atuais condições do SUS,
da carência de medicamentos, precisamente, ao pedir determinado remédio para
o tratamento do paciente, um medicamento específico para um paciente
específico. Não é questão de ser elite ou não, é uma questão de saber que o
medicamento x é necessário para tal caso e não o medicamento y.
Na UBS Irmã Mônica Borssa Lima, por exemplo, não há remédio para diabetes
e hipertensão. E essa realidade não é algo isolado dessa UBS, esse problema,
essa carência no SUS é algo que vem se agravando com o passar dos anos. A
impressão que fica, para quem estar de fora e dentro, é que os governantes
simplesmente não tomam as medidas necessárias e eficientes.

Obs: em todas as UBS eu percebi que o enfermeiro chefe exerce, além da função de
ser enfermeiro, a função de administrar o hospital, gerenciar tudo. Isso não me
parece nem um pouco certo, é um trabalho que outra pessoa deveria exercer.

Em uma das UBS visitadas, percebemos que a estabilização de um senhor estava
muito mal feita. Aqui em Nova Olinda não tem uma equipe pré-hospitalar
decente;
 Um dos pontos máximos das visitas do dia foi em relação à visita ao CAPS –
Centro de Atendimento Psicossocial. O trabalho que aqueles profissionais se
dispõem a fazer é incrível. A mudança que eles acarretam nas vidas desses
pacientes com distúrbios mentais é admirável. O trabalho do psicólogo, do
artesão e de todo o restante da equipe é de extrema importância para esses
pacientes, seus familiares e dos outros moradores da cidade;
Obs: o problema com relação a falta de medicamentos é comum aqui também; outro
ponto questionável é com relação ao tratamento que essas pessoas recebem, existem
casos de pessoas perigosas – assassinos e maníacos - que convivem diariamente
com o resto da população, sendo que nem sempre eles estão tomando a medicação
necessária, uma vez que não EXISTE essa medicação. Não são todos os pacientes
esquizofrênicos, bipolares e sociopatas que podem arcar com esses remédios.

Uma última observação do dia, após visitar todos esses lugares, conversar com
os profissionais da área da saúde e a própria população usuária do sistema, é que
não há um compromisso permanente com as questões de prevenção. As famílias
procuram ajuda quando algum ente familiar já está doente, e não para se
prevenir. Mas isso não se dá 100% por culpa ou desleixo dos familiares, as
vezes é por pura falta de conhecimento mesmo. A propagação da informação
não é eficiente, não chega a todos. É tudo muito raso e restrito.
Download