o consumidor?

Propaganda
febre
Como orientar
o consumidor?
O aumento da temperatura corporal precisa ser visto
com muita atenção. farmácias e drogarias devem estar
preparadas para auxiliar os pacientes na compra de
medicamentos emergenciais
M
Por Tassia Rocha
Muitos consumidores ainda têm dúvidas sobre o que de fato a febre representa – e em que
temperatura a situação se torna preocupante
a ponto de se procurar um especialista. Basta
o termômetro começar a passar os 37 ºC para
que a maioria das pessoas entre em desespero.
A febre é o aumento da temperatura corporal acima dos níveis normais, um sinal do corpo
para alertar que algo não vai bem. Mas é preciso
entender que a febre não é uma doença, e sim uma
reação do organismo contra alguma anomalia.
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guia da farmácia fevereiro 2014
“O organismo humano é homeotérmico, ou seja,
mantém a temperatura corporal com variações mínimas (35 a 36 ºC, em média). A manutenção da temperatura corporal constante envolve mecanismos fisiológicos complexos, representados, resumidamente, pela
produção de calor (fenômenos bioquímicos celulares),
eliminação do calor por meio de líquidos orgânicos e
respiração, pele, e da regulação exercida pelos centros
térmicos situados no hipotálamo, pelos nervos da microcirculação e pelo equilíbrio endócrino.
A quebra da homeostasia desse complexo sistema refotos: shutterstock
Especial saúde
febre
gulatório faz com que a temperatura corporal se eleve
além do normal, resultando na febre”, alerta o clínico-geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
Dr. Claudio Miguel Rufino. Segundo ele, a febre se desenvolve a partir da perda da capacidade de termorregulação pelo organismo,
por excitação aumentada ou por incapacidade termorreguladora desses centros.
Como medi-la?
O especialista em pediatria pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp/
EPM), Dr. Sylvio Renan Monteiro de Barros, afirma que
há vários tipos de termômetros: os de mercúrio eram
os mais comuns, mas têm atualmente seu uso proibido,
devido à sua toxicidade. Existem também os de álcool
(acrescidos de corantes, para facilitar a visualização). Os
mais utilizados hoje em dia são os eletrônicos, que medem a temperatura através de radiações infravermelhas.
De acordo com a médica clínica-geral do Hospital Brasil, Dra. Ariadne Stacciarini, a temperatura corpórea considerada ideal varia entre 36 ºC e 36,7 ºC. Ela explica que
a temperatura do corpo não fica estabilizada o dia inteiro.
No final da tarde, por exemplo, ela pode alcançar valores
de 37,2 ºC e tende a cair para 36 ºC durante a madrugada.
Sinais específicos
A elevação da temperatura pode causar mal-estar,
dor muscular, fraqueza, sonolência, irritabilidade, pele
quente, aumento dos ciclos respiratórios, aumento
dos batimentos cardíacos, boca seca, diminuição da
A febre é mais comum em
crianças devido à sua
imunidade que, durante o
nascimento, é muito baixa. Tal
imunidade vai sendo adquirida
com as respostas que o
organismo dá a infecções,
produzindo anticorpos que
se incorporam ao repertório
imunológico da criança
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São aceitas como indicadores
de febre as temperaturas:
• Axilar ou oral acima de 37,5 ºC e retal acima
de 38 ºC.
• Febre leve: 37,5 ºC.
• Febre moderada: de 37,6 ºC a 38,5 ºC.
• Febre alta: acima de 38,6 ºC.
quantidade de urina, sudorese. Crianças menores de
1 ano apresentam temperatura corporal discretamente maior que a do adulto.
A febre é mais comum em crianças devido à sua imunidade que, durante o nascimento, é muito baixa. Tal
imunidade vai sendo adquirida com as respostas que o
organismo dá a infecções, produzindo anticorpos que
se incorporam ao repertório imunológico da criança.
Muitas pessoas acreditam que baixar a temperatura já
seja suficiente. Mas nem sempre é assim, afinal, a febre
é um alerta de que algo não está bem, por isso é preciso muita atenção. Nos quadros febris, é muito importante que os pacientes meçam a temperatura várias vezes ao dia e fiquem atentos às variações, para facilitar o
diagnóstico no momento de passar com o especialista.
Assim, a automedicação deve ser cautelosa. Todos
os consumidores precisam de dispensação correta no
ponto de venda, sobretudo no que diz respeito a doses, horários, posologia e interações.
Segundo Dr. Claudio, o tratamento para febre passa pelo diagnóstico da causa da elevação da temperatura. Exemplo: febre de origem infecciosa, febre de
origem secundária a hipertireoidismo.
Tratamento de controle
Como a febre é uma resposta do organismo com liberação de substâncias inflamatórias na corrente sanguínea, uma série de fármacos denominados antitérmicos podem bloquear ou diminuir essa resposta, como
o ácido acetilsalicílico, o acetoaminofen, o ibuprofeno
e outros anti-inflamatórios ditos não hormonais. “Em
nosso meio, o fármaco com efeito rápido mais utilizado é a dipirona, que pode ser ministrada por via oral
ou parenteral (administração endovenosa por meio da
via periférica ou central). Como todo medicamento, essas drogas podem acarretar efeitos colaterais (náuse-
febre é um alerta de que algo
não está bem, por isso é preciso
muita atenção. Nos quadros
febris, é muito importante que os
pacientes meçam a temperatura
várias vezes ao dia e fiquem
atentos às variações
as, vômitos, sangramento digestivo etc.), reações alérgicas e toxicidade (renal, hepática), devendo ser utilizados de preferência com indicação médica”, alerta o
médico infectologista do Hospital 9 de Julho, Dr. Antonio Carlos Pignatari. Segundo informa o infectologista, o mais importante é a avaliação clínica do paciente
com febre, para tentar caracterizar um processo infeccioso que necessite ou não de tratamento com antibióticos, ou internação hospitalar em casos de desidratação, consulsões ou alterações do nível de consciência.
Uma atenção especial deve ser dada às crianças menores de um ano e aos idosos, além de pacientes portadores de doenças crônicas debilitantes como diabetes, cardiopatias, doenças pulmonares crônicas, transplantados
e em tratamento de doenças tumorais ou neoplásicas.
“O farmacêutico pode ter uma função importante na orientação inicial aos indivíduos com febre que
comparecem ao ponto de venda sem receita médica.
Na avaliação, pode observar se o episódio é agudo ou
crônico, caracterizando indivíduos com maior risco de
complicações e encaminhar para consulta médica”, diz
o médico que alerta ainda que, mesmo com a utilização de medicamentos sintomáticos, em casos de dúvida, o profissional deve sempre procurar fazer o melhor para a segurança do paciente.
“Um efeito prejudicial de febre elevada acima de
38,5 ºC é a desidratação pela sudorese excessiva, necessária para a dissipação do calor produzido pelo organismo. Em crianças e idosos, a desidratação pode
ocorrer rapidamente e, portanto, a temperatura deve
ser diminuída o mais rápido possível”, fala.
A maior preocupação e desespero é com as crianças que são propensas a desencadear um quadro convulsivo, a chamada convulsão febril. Nesses casos, a
temperatura corporal deve baixar rapidamente. “Na
infância, qualquer febre pode ser convulsiva, depende da suscetibilidade”, afirma o médico infectologista
da Unifesp, Dr. Gustavo Johanson. Ele conta que a febre sozinha, sem nenhum outro sintoma, não preocupa tanto as pessoas, fazendo com que elas não procurem o médico, a não ser que se repita por vários dias.
A infectologista do Hospital Beneficência Portuguesa,
Dra. Camila Delfino, afirma que a febre não precisa gerar pânico, pois pode aparecer por diversas causas e tem
suas especificidades de acordo com cada tipo de paciente. “Em crianças, por exemplo, pode ser uma reação à
vacinação. Se o paciente está internado, pode ser uma
suspeita de infecção hospitalar”. Para a médica, a melhor forma de ter um diagnóstico preciso e tratamento adequado é por meio da consulta ao especialista.
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