MINISTÉRIO DA SAÚDE INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER COORDENAÇÃO DE PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ONCOLOGIA Elias Hallack Atta Identificação das variáveis relacionadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico RIO DE JANEIRO 2009 Elias Hallack Atta Identificação das variáveis relacionadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Oncologia do Instituto Nacional do Câncer como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de Concentração: Clínica Médica Orientador: Professor Angelo Maiolino RIO DE JANEIRO 2009 I A883i Atta, Elias Hallack. Identificação das variáveis relacionadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de célulastronco hematopoiéticas de sangue periférico. / Elias Hallack Atta. - Rio de Janeiro: INCA, 2009. 86 f. tab. Dissertação (Mestrado) - Instituto Nacional de Câncer. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Oncologia do Instituto Nacional de Câncer (INCA-RJ), 2009. Orientador: Ângelo Maiolino. 1. Transplante Autólogo. 2. Mobilização de células-tronco hematopoiéticas. 3. Linfócitos. I. Maiolino, Ângelo. II. Título. CDD 616.994410592 Título em inglês: Identification of the factors associated with early lymphocyte recovery after peripheral autologous hematopoietic stem cell transplantation. Keywords: • Autologous transplantation • Hematopoietic stem cell mobilization • Lymphocytes II Elias Hallack Atta Identificação das variáveis relacionadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de célulastronco hematopoiéticas de sangue periférico Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Oncologia do Instituto Nacional do Câncer como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de Concentração: Clínica Médica Aprovada em: BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________________________________ Prof. Dr. Cármino Antonio de Souza – Pós-Doutor Universidade de Campinas – UNICAMP _________________________________________________________________________ Profa Eliana Saul FurquimWerneck Abdelhay – Pós-Doutora Instituto Nacional de Câncer – INCA ________________________________________________________________________ Prof. Dr. Márcio Luiz Moore Nucci – Doutor Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ III Dedico este trabalho: Para meu saudoso pai Elias Atta, pelo seu exemplo de pai e de humanidade. Para minha mãe Resmonde, pelo seu amor incondicional. Para minhas irmãs Eliane e Regina, pelo carinho e estímulo. Para Cris, pelo seu amor. Para Gabriel, pelo seu sorriso e sua alegria contagiante. Para Dona Luzanira e Seu Luis, pelo carinho e apoio. Para Hildeth, pelo dharma. IV AGRADECIMENTOS Ao Prof. Pedro Muanis Persechini, pelo meu primeiro contato direto com a ciência e com o estudo da imunologia. Ao Prof. Wolmar Alcântara Pulcheri, pela minha formação em hematologia. Ao Prof. Angelo Maiolino, pelos ensinamentos na área de transplante de células-tronco hematopoiéticas e pela orientação nos projetos desenvolvidos. Ao Dr. Alexandre Mello de Azevedo, pelo estímulo à pesquisa clínica e pela orientação nos projetos desenvolvidos. A Karla Camacho, pela revisão da estrutura desta dissertação. À Dra. Cláudia Júlia Bruzzi Porto Coelho e Silvia Maria Patiño Sarcinelli, do Laboratório de Citometria de Fluxo do Hemorio, sem as quais este estudo não seria possível. À Dra. Claúdia de Alvarenga Máximo, Dra. Vera Lúcia Neves Marra e Dra. Clarisse Lobo pelo estímulo ao desenvolvimento do Programa de Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas do Hemorio. À Sra. Maria Alice Máximo, pela revisão ortográfica do paper. Ao Prof. Jorge Francisco da Cunha Pinto, pela revisão da metodologia estatística do paper. V Ao Prof. Rodrigo de Moraes Brindeiro e a Dra. Patrícia Alvarez Baptista Brindeiro, pela revisão final do paper e pela hospitalidade característica. Ao Prof. David L. Porter, do Abramson Cancer Center, Universidade da Pensilvânia, pelas opiniões e pela disponibilidade para discussões. À Profa. Eliana Abdelhay e o Dr. Luis Fernando Bouzas, pela oportunidade para o desenvolvimento de novos estudos. A todos os colegas do Hemorio e do CEMO/INCA. A todos da Pós-Graduação em Oncologia do INCA. A todos os pacientes do Hemorio e do CEMO/INCA, pelo contínuo aprendizado sobre a fé e a vida. VI Quando Quando eu não mais existir, Procure-me no silêncio dos vales distantes... Quando eu não mais existir, Procure-me à sombra dos pessegueiros floridos... Quando eu não mais existir, Procure-me à beira dos riachos murmurantes... Quando eu não mais existir, Procure-me adormecido no regaço da tarde pensativa... Quando eu não mais existir, Procure-me dentro das noites lavadas de luar. Elias Atta VII RESUMO A recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos (CAL) após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas (TACTH) é um preditor independente de melhores taxas de sobrevida em pacientes com câncer hematológico e não-hematológico. Realizou-se, neste estudo, uma análise retrospectiva de setenta e sete TACTH de sangue periférico em pacientes portadores de câncer hematológico objetivando identificar as variáveis associadas à recuperação precoce da CAL após o TACTH e avaliar o impacto de diferentes regimes de mobilização sobre a CAL pré-aférese. A dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo e a CAL pré-aférese associaram-se independentemente à recuperação linfocitária precoce (P<0,001 e P=0,005; respectivamente). Uma dose de linfócitos CD8+ maior do que 0,1 x 109/kg associou-se fortemente à recuperação precoce da CAL (odds ratio 30,66; P<0,001; intervalo de confiança (IC) 95% 6,18-152,10), sendo este o melhor ponto de corte para predizer a recuperação linfocitária precoce (área sob a curva 0,77; P<0,001; IC 95% 0,64-0,89). A mobilização com o fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF) isoladamente, a CAL pré-aférese e o número de sessões de aférese associaram-se independentemente com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo (P=0,02, P<0,001 e P<0,001; respectivamente). O número de sessões de aférese foi a variável mais correlacionada com a dose de linfócitos CD8+ (rs=0,62, P<0,001). A comparação entre os valores medianos da CAL pré-mobilização e pré-aférese evidenciou uma redução de 1130 para 709 linfócitos/µL no subgrupo de pacientes sem recuperação linfocitária precoce e mobilizado com quimioterapia + G-CSF (P<0,001). Esta redução não foi significativa no subgrupo de pacientes com recuperação linfocitária precoce e mobilizado com quimioterapia + G-CSF (1905 versus 1500/µL, respectivamente; P=0,13). Estes resultados sugerem que a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo desempenha um papel crítico na recuperação precoce da CAL após o TACTH e demonstram que a mobilização com quimioterapia + G-CSF reduz significativamente a CAL pré-aférese, especialmente em pacientes com um baixo número de linfócitos no momento da mobilização. Descritores (DeCS): transplante autólogo, mobilização de células-tronco hematopoiéticas e linfócitos. VIII ABSTRACT Early lymphocyte recovery (ELR) after autologous peripheral hematopoietic stem cell transplantation (ASCT) is an independent predictor for survival in patients with hematological and non-hematological cancers. Seventy-seven ASCT for hematological cancers were retrospectively analyzed to identify the factors associated with ELR and to assess the impact of different mobilization regimens on the pre-collection absolute lymphocyte count (ALC). The CD8+ lymphocyte dose in the autograft and the precollection ALC were independently associated with ELR (P<0.001 and P=0.005; respectively). CD8+ lymphocyte doses higher than 0.1 x 109/kg were strongly associated with ELR (P<0.001, odds ratio 30.66, 95% confidence interval (CI) 6.18-152.10) and this cutoff may be used to predict ELR (P<0.001, area under the curve 0.77, 95% CI 0.640.89). Mobilization with granulocyte colony-stimulating factor (G-CSF) alone, the precollection ALC and the number of apheresis sessions were independently associated with the CD8+ lymphocyte dose (P=0.02, P<0.001 and P<0.001; respectively). The number of aphereses was the variable with the strongest correlation to the CD8+ lymphocyte dose (rs=0.62, P<0.001). Median pre-mobilization ALC was higher than pre-collection ALC in the subgroup of patients without ELR mobilized with chemotherapy followed by G-CSF (1130 versus 709 lymphocytes/µL; P<0.001). This reduction was not significant in the subgroup with ELR mobilized with chemotherapy plus G-CSF (1905 versus 1500/µL, respectively; P=0.13). These results suggest that the CD8+ lymphocyte dose in the autograft is critical for ELR after ASCT and also demonstrates that mobilization with chemotherapy followed by G-CSF significantly decreases the pre-collection ALC, especially in patients with low pre-mobilization ALC. Descriptors (DeCS): autologous transplantation, hematopoietic stem cell mobilization and lymphocytes. IX LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Etapas do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico ............................................................................................................................................... 5 Figura 2 – Indicações para transplante de células-tronco hematopoiéticas na América do Norte no ano de 2003 ............................................................................................................................. 6 Figura 3 – Distribuição dos pacientes elegíveis conforme a indicação do transplante autólogo ............................................................................................................................................. 28 Figura 4 – Regimes de mobilização utilizados conforme a indicação do transplante autólogo ............................................................................................................................................. 29 Figura 5 – Box plot demonstrando as diferenças no conteúdo do enxerto autólogo entre os pacientes conforme a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo............................................................................................................. 33 Figura 6 – Gráfico de dispersão entre as doses dos diferentes tipos celulares presentes no enxerto autólogo ................................................................................................................................ 35 Figura 7 – Análise das curvas de sobrevida conforme o diagnóstico do paciente ...................... 43 X LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Recuperação imunológica após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas ...................................................................................................................... 9 Tabela 2 – Estudos avaliando o papel da recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas ................................................. 11 Tabela 3 – Estudos avaliando o papel da dose de linfócitos no transplante autólogo de célulastronco hematopoiéticas de sangue periférico ............................................................................ 16 Tabela 4 – Características relacionadas aos pacientes e ao transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico ....................................................................................... 30 Tabela 5 – Comparação entre os pacientes conforme a recuperação da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo ..................................................................................... 32 Tabela 6 – Análise univariável e multivariável dos fatores associados com a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos ......................................................................................... 36 Tabela 7 – Determinação do melhor ponto de corte da dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo para predizer a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos ....................... 37 Tabela 8 – Análise univariável e multivariável dos fatores associados com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo ...................................................................................................... 39 Tabela 9 – Impacto do regime de mobilização na contagem absoluta de linfócitos pré-aférese... 42 Tabela 10 – Implicações da imunomodulação no transplante autólogo para o tratamento de neoplasias malignas ............................................................................................................... 49 XI LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS AraCAD Citarabina em alta dose ASC Área sob a curva BuCy Bussulfano e ciclofosfamida CAL Contagem absoluta de linfócitos Células NK Células natural killer CBV Ciclofosfamida, carmustina e etoposide CTX Ciclofosfamida CTH Células-tronco hematopoéticas CIBMTR Center for International Blood and Marrow Transplant Research D+15 15o dia pós-transplante DECH Doença do enxerto-contra-o-hospedeiro DECP Dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina DL Dose de linfócitos EBMT European Group for Blood and Marrow Transplantation ESHAP Etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina G-CSF Fator estimulador de colônias de granulócitos GM-CSF Fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos IL-2 Interleucina-2 LH Linfoma de Hodgkin LMA Leucemia mielóide aguda LNH Linfoma não Hodgkin Mel Melfalano MM Mieloma múltiplo XII MO Medula óssea PHP Proliferação homeostática periférica rS Coeficiente de correlação de Spearman SG Sobrevida global SLP Sobrevida livre de progressão SP Sangue periférico TACTH Transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas > Maior < Menor ≥ Maior ou igual ≤ Menor ou igual + Em associação XIII SUMÁRIO Páginas 1 Introdução ................................................................................................................. 1 1.1 Princípios do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas ..................... 1 1.2 Etapas do transplante autólogo de células-tronco de sangue periférico ................... 2 1.3 Cenário atual do transplante autólogo de células-tronco de sangue periférico ........ 5 1.4 Reconstituição imunológica após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico ....................................................................... 6 1.5 Papel da recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos no transplante autólogo ................................................................................................................... 10 1.5.1 Resultados em mieloma múltiplo e amiloidose sistêmica primária ........................ 10 1.5.2 Resultados em linfoma não-Hodgkin ..................................................................... 12 1.5.3 Resultados em linfoma de Hodgkin ......................................................................... 14 1.5.4 Resultados em leucemia mielóide aguda ................................................................. 14 1.5.5 Resultados em câncer de mama .............................................................................. 15 1.5.6 Resultados em câncer de ovário ............................................................................. 15 1.6 Papel da dose de linfócitos do enxerto ................................................................... 16 2 Objetivos ................................................................................................................. 19 3 Casuística e métodos ............................................................................................... 20 3.1 Critérios de inclusão e exclusão .............................................................................. 20 3.2 Mobilização e coleta de células-tronco hematopoiéticas ........................................ 21 3.3 Análise do conteúdo do enxerto autólogo .............................................................. 21 3.4 Regimes de condicionamento e utilização do G-CSF no pós-transplante .............. 22 3.5 Definições relacionadas à doença de base .............................................................. 23 3.6 Definições relacionadas à contagem absoluta de linfócitos ................................... 23 3.7 Definições relacionadas à reconstituição imunológica ............................................ 23 3.8 Variáveis analisadas ................................................................................................ 24 3.9 Tratamento estatístico ............................................................................................. 24 4 Resultados ............................................................................................................... 28 4.1 Características relacionadas aos pacientes e ao transplante autólogo .................... 28 XIV 4.2 Comparação entre os grupos conforme a recuperação linfocitária ......................... 31 4.3 Identificação das variáveis associadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo ................................................................. 34 4.4 Determinação da dose de linfócitos CD8+ capaz de predizer a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo ............................ 37 4.5 Identificação das variáveis relacionadas à dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo .................................................................................................................. 38 4.6 Avaliação do impacto do regime de mobilização na contagem absoluta de linfócitos pré-aférese ................................................................................................................ 40 4.7 Análise da sobrevida livre de progressão e da sobrevida global ............................ 41 5 Discussão ................................................................................................................ 44 6 Conclusões .............................................................................................................. 51 7 Referências .............................................................................................................. 52 8 Anexos ..................................................................................................................... 63 8.1 Paper ........................................................................................................................ 63 XV INTRODUÇÃO 1 1.1 INTRODUÇÃO Princípios do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas O desenvolvimento da quimioterapia combinada nos últimos 40 anos permitiu uma evolução no tratamento do câncer.1 Os regimes de quimioterapia combinada desenvolvidos basearam-se na utilização de agentes com diferentes mecanismos de ação e sem sobreposição de toxicidade.2 Apesar da maioria das neoplasias apresentarem sensibilidade à quimioterapia em dose convencional, a resposta observada costuma ser incompleta e/ou de curta duração. Uma estratégia desenvolvida para contornar este problema consistiu na intensificação da dose quimioterápica, fundamentada na hipótese de uma relação direta entre a dose administrada e a resposta antitumoral.3 O aumento na dose da quimioterapia pode, eventualmente, contornar a resistência do tumor aos agentes citotóxicos. A intensificação da dose apresenta limitações secundárias à toxicidade orgânica da quimioterapia. A coleta prévia à quimioterapia em alta dose e a infusão de células-tronco hematopoiéticas (CTH) obtidas da medula óssea (MO) permitiu o escalonamento da dose de quimioterápicos cuja toxicidade limitante é de natureza hematológica, constituindo a base para o desenvolvimento do transplante autólogo de CTH (TACTH).4 A utilização da leucaférese permitiu a coleta de CTH a partir do sangue periférico (SP) após a mobilização com quimioterapia e/ou citocinas, resultando na disseminação do transplante autólogo.5,6 O SP tornou-se a fonte preferencial de CTH devido a sua rápida recuperação hematológica e imunológica em comparação à MO.7,8 Atualmente, o TACTH é amplamente utilizado no tratamento de diferentes tipos de câncer. Estudos randomizados demonstraram que o TACTH pode prolongar a sobrevida em pacientes com câncer hematológico.9 Contudo, a recaída após o TACTH é a principal causa de mortalidade neste grupo, respondendo por 70% dos óbitos.10 Dois possíveis 1 INTRODUÇÃO mecanismos estão relacionados a este fato: a permanência in vivo de células malignas, mesmo após a quimioterapia de condicionamento do TACTH; e a reinfusão de células malignas juntamente com as CTH coletadas. O primeiro mecanismo é, provavelmente, o mais importante, e sinaliza a incapacidade da quimioterapia de condicionamento em erradicar a doença residual.11 Argumentos favoráveis ao transplante alogênico de CTH são a utilização de um enxerto não contaminado e a possibilidade de uma reação imunológica das células infundidas contra o tumor, capaz de eliminar a doença residual persistente após a quimioterapia de condicionamento.12,13 Entretanto, o transplante alogênico, além de demandar a disponibilidade de um doador, apresenta maiores morbidade e mortalidade relacionadas principalmente às complicações infecciosas e à ocorrência da doença do enxerto-contra-o-hospedeiro (DECH). 1.2 Etapas do transplante autólogo de células-tronco de sangue periférico O transplante autólogo de CTH obtidas a partir do SP é constituído pelas seguintes etapas (Figura 1): • Mobilização das CTH. O número de CTH no SP em condições basais é muito baixo, demandando a utilização de métodos que mobilizem as CTH da MO para o SP. Os mecanismos subjacentes à mobilização relacionam-se a alterações nas moléculas responsáveis pela adesão das CTH ao estroma medular, principalmente através de alterações na interação entre o fator 1 derivado do estroma da medula óssea (ou quimiocina CXCL-12) e o seu receptor CXCR4.14 A mobilização de CTH é realizada através da administração de quimioterapia e/ou citocinas, como o fator estimulador de colônias de granulócitos (G- 2 INTRODUÇÃO CSF) e o fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos (GM-CSF). A associação de quimioterapia com citocinas apresenta maior potência na mobilização de CTH, porém resulta em maior toxicidade decorrente da quimioterapia.15 A mobilização de CTH pode ser incorporada a um ciclo de quimioterapia do paciente, quer seja durante o tratamento inicial ou no resgate em caso de recaída.16,17 Inúmeros fatores associam-se a mobilização inadequada de CTH, como: utilização prévia de múltiplos regimes quimioterápicos, exposição a agentes tóxicos à CTH, radioterapia prévia, hipocelularidade da medula óssea e doença refratária.18 O antagonista do receptor CXCR4, AMD3100, demonstrou eficácia na mobilização de CTH em pacientes com falência a outros regimes de mobilização.19 • Coleta das CTH. A monitorização do número de células CD34+ no SP prediz o momento ideal para o início da aférese. Uma contagem ≥10 células CD34+/µL associa-se a um maior rendimento da sessão de aférese.20 O conteúdo mínimo de células CD34+ no enxerto autólogo necessário para uma recuperação hematopoiética adequada é de 2 x 106 células/kg, devendo a coleta prosseguir até que este alvo seja alcançado.21 O produto coletado normalmente é submetido à criopreservação através da utilização de substâncias crioprotetoras, como o dimetilsulfóxido (DMSO), permitindo o armazenamento por um período de tempo maior com reduzida perda da viabilidade celular. • Regime de condicionamento. O regime de condicionamento consiste na utilização de quimioterapia em alta dose associada ou não à radioterapia corporal total. O seu objetivo principal no TACTH é a adequada citoredução tumoral e, idealmente, a eliminação do tumor. O regime de condicionamento deve apresentar uma toxicidade não-hematológica tolerável, não 3 INTRODUÇÃO contribuindo diretamente para a mortalidade relacionada ao transplante. O tipo de condicionamento varia conforme a indicação do transplante. • Infusão das CTH. As CTH de SP previamente coletadas e submetidas à criopreservação são descongeladas e infundidas através de um acesso venoso. O processo de migração das CTH para o microambiente medular relaciona-se à expressão do receptor CXCR4 nas células CD34+ infundidas e à quimiotaxia exercida pelo fator 1 derivado do estroma da medula óssea.22 O dia da infusão é considerado o dia 0 (D0) do transplante, os dias antecedentes são representados por números negativos (D-1, D-2, D-3...) e os subseqüentes por números positivos (D+1, D+2, D+3...). • Reconstituição hematopoiética. O período de aplasia que antecede a reconstituição hematopoiética geralmente demanda suporte transfusional e o tratamento das complicações infecciosas. A reconstituição hematopoiética relaciona-se à proliferação e diferenciação das CTH infundidas no enxerto autólogo. A pega de neutrófilos é usualmente definida como o primeiro de três dias consecutivos com uma contagem absoluta de neutrófilos maior ou igual a 500 células/μL. A utilização do G-CSF após a infusão das CTH de SP acelera a reconstituição numérica dos neutrófilos, permitindo que a pega de neutrófilos geralmente ocorra por volta do D+10 do TACTH.23 A pega de plaquetas é usualmente definida como o primeiro de sete dias consecutivos com uma contagem de plaquetas maior ou igual a 20 x 103/μL independente de suporte transfusional. A pega de plaquetas geralmente ocorre em torno do D+11 do TACTH em pacientes recebendo CTH de SP, não sendo influenciada pela administração de fator de crescimento hematopoiético.24 4 INTRODUÇÃO 4‐ INFUSÃO 2- Coleta 1- Mobilização 3- Condicionamento G-CSF QT QT RCT 4- Infusão 5- Aplasia 6- Recuperação Figura 1 – Etapas do transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas de sangue periférico. Adaptado de: Mancardi et al. Lancet Neurol 2008;7:626-36. Abreviações: G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; QT, quimioterapia; RCT, radioterapia corporal total. 1.3 Cenário atual do transplante autólogo de células-tronco de sangue periférico Aproximadamente 40.000 TACTH são realizados anualmente no mundo, a maioria para o tratamento de neoplasias malignas.10 O SP é utilizado como fonte da CTH em mais de 95% dos transplantes autólogos. As indicações mais comuns do TACTH são: o mieloma múltiplo (MM), o linfoma não-Hodgkin (LNH), o linfoma de Hodgkin (LH), as neoplasias não-hematológicas e a leucemia mielóide aguda (LMA) (Figura 2). Os dados dos registros do Center for International Blood and Marrow Transplant Research (CIBMTR) e do European Group for Blood and Marrow Transplantation (EBMT) demonstram um aumento progressivo no número anual de TACTH.10,25 Em 2004, foram realizados 14.329 TACTH na Europa, número quase sete vezes superior ao registrado em 1990.25 5 INTROD DUÇÃO Figurra 2 – Indiicações paraa transplan nte de célula as-tronco hematopoiétiicas na Am mérica do Norte no ano de 2003. Fontee: CIBMTR Newsletter 2006;1:6. Abrevviações: LLA A, leucemia linfoblásticaa aguda; LM MA, leucemiaa mielóide agguda; LMC, leucemia mielóóide crônica;; LLC, leuceemia linfocítiica crônica; LNH, linfom ma não-Hodggkin; SMD, síndrome mieloodisplásica. A utilização do TACTH T noo tratamentto de algunns tumoress sólidos, como o neurooblastoma e o sarcomaa de Ewing, tem aumentando graddativamentee.26,27 As ind dicações do TACTH T tam mbém estão aumentando, especialm mente em decorrência d de estudos clínicos fase I/II demonnstrando a eficácia e a aceitável toxicidadde do transpplante autó ólogo no mento de algumas a doenças auto--imunes.28,29 Segundo dados do E EBMT, a esclerose e tratam múltiipla é a doeença auto-im mune mais freqüenteme f ente submettida ao TAC CTH.25 1.4 Reconstituição im munológica após o trransplante autólogo de célulass-tronco hematopoiéticaas de sangu ue periféricoo Apesar da d recuperaçção da conttagem de neeutrófilos e de plaquetaas ser consid derada o pontoo final da recuperaçãão hematolóógica pós-T TACTH, a reconstituiição da im munidade humooral e celulaar pode dem morar até maais de um an no.30 6 INTRODUÇÃO O número absoluto de linfócitos B maduros circulantes expressando CD19 e CD20 encontra-se severamente reduzido nos primeiros três meses pós-TACTH.8 Posteriormente, o número destas células aumenta gradativamente. A recuperação dos linfócitos B após o TACTH assemelha-se àquela observada na ontogenia normal deste tipo celular.31 Ocorre, também, defeito funcional dos linfócitos B atribuído à disfunção dos linfócitos T-helper e a defeitos intrínsecos dos linfócitos B.32 Observa-se uma redução nos níveis de imunoglobulinas, com normalização dos níveis três meses após o transplante.8 A resposta a antígenos de memória, como a toxina tetânica por exemplo, encontra-se reduzida nos primeiros doze meses após o transplante.31 A reconstituição numérica e funcional dos linfócitos T também ocorre tardiamente pós-TACTH.33 O número de linfócitos CD4+ permanece baixo por anos, e o número de linfócitos CD8+ normaliza-se três meses após o transplante, resultando numa inversão da relação CD4/CD8.34 O mecanismo subjacente ao comprometimento na recuperação numérica dos linfócitos CD4+ relaciona-se à involução do timo observada em adultos e à disfunção deste órgão secundária ao regime de condicionamento.33 A recuperação numérica precoce dos linfócitos CD8+ decorre da expansão dos subtipos CD8+CD28- e CD8+CD57+, ocorrendo mesmo na presença da disfunção tímica pós-TACTH.33 A produção de citocinas pelos linfócitos T encontra-se reduzida nos seis meses iniciais após o transplante, principalmente a produção da interleucina-2 (IL-2).35 Os linfócitos CD4+ e CD8+ isolados precocemente após o transplante apresentam uma resposta defeituosa aos anticorpos monoclonais indutores da proliferação celular, como o anti-CD2 e o anti-CD3, mesmo na presença da IL-2.36 A taxa de proliferação dos linfócitos em resposta ao mitógeno fitohemaglutinina também encontra-se diminuída nos primeiros meses após o TACTH.8 A reconstituição numérica dos linfócitos CD4+ ocorre inicialmente em decorrência da expansão periférica de um número limitado de linfócitos de memória 7 INTRODUÇÃO maduros (CD4+CD45RO+) remanescentes após o condicionamento e/ou infundidos juntamente com o enxerto autólogo.37 Esta reconstituição decorre da proliferação homeostática periférica (PHP) secundária à linfopenia, resultando numa restrição do repertório dos linfócitos T.38 A geração de linfócitos naïve (CD4+CD45RA+) pelo timo pouco contribui para a expansão inicial dos linfócitos CD4+.34 Além disto, os linfócitos CD4+CD45RO+ de pacientes submetidos ao TACTH apresentam uma maior taxa de apoptose frente a estimulação in vitro por mitógenos em comparação ao observado em amostras de indivíduos saudáveis.37 A reconstituição imunológica pós-TACTH das células natural killer (células NK) segue um padrão diferente dos linfócitos B e T. O número de células NK e sua atividade citotóxica normalizam-se no primeiro mês pós-TACTH.8 Uma possível explicação para a rápida recuperação das células NK é a ausência da participação do timo na diferenciação das mesmas.39 Desta forma, a reconstituição imunológica celular e humoral ocorre tardiamente após o TACTH (Tabela 1), favorecendo a ocorrência de complicações infecciosas e comprometendo a resposta imune antitumoral. O comprometimento na reconstituição imunológica ainda é mais pronunciado nos transplantes autólogos de células CD34+ purificadas, observando-se um acentuado retardo na normalização dos linfócitos CD4+ em comparação ao enxerto não manipulado ex vivo.40 As complicações infecciosas são mais freqüentes neste tipo de transplante, principalmente as infecções bacterianas e virais (citomegalovírus e vírus varicella zoster).41 A utilização de um enxerto com células CD34+ purificadas não reduz o risco de recaída após o transplante, sugerindo que o principal fator de risco relacionado à recaída seja a carga tumoral remanescente após o condicionamento.42 8 INTRODUÇÃO Tabela 1 – Recuperação imunológica após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas Parâmetro Imunológico 1 mês 3 meses 6 meses 9 meses 1 ano Linfócitos T CD4+CD45RA+ ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓ Linfócitos T CD4+CD45RO+ ↓↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ Linfócitos T CD8+ ↓↓↓ S S S S Relação CD4/CD8 <1 ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓ Proliferação de linfócitos T ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓↓ ↓↓↓ Linfócitos B (CD19+) ↓↓↓ ↓ S S S Células NK (CD3-CD57+) ↓ S S S S ↓ = redução leve (geralmente <25% abaixo do valor pré-transplante) ↓↓ = redução moderada (geralmente de 25% a 75% abaixo do valor pré-transplante) ↓↓↓ = redução grave (geralmente <75% abaixo do valor pré-transplante) S = valor semelhante ao pré-transplante O retardo na recuperação imunológica durante o primeiro ano após o TACTH corrobora a hipótese de que o elevado número de recaídas durante este período seja, em parte, decorrente de uma imunovigilância incapaz de conter ou erradicar a doença residual persistente após o regime de condicionamento. Modelos animais sugerem que o período imediato após o TACTH apresenta as melhores condições para o desenvolvimento da resposta imune antitumoral.43,44 Estudo experimental realizado em camundongos singênicos portadores de tumor demonstrou que o enxerto do doador exerce potente efeito antitumoral no receptor condicionado com irradiação, estando este fenômeno relacionado à expansão dos linfócitos T efetores antitumorais do doador secundário à PHP no período precoce do transplante.45 Este modelo aproxima-se das condições encontradas após o TACTH em humanos. 9 INTRODUÇÃO 1.5 Papel da recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos no transplante autólogo Os fundamentos do transplante alogênico de CTH são: a utilização de um enxerto livre de doença, a citoredução tumoral pelo regime de condicionamento e a ocorrência de um efeito enxerto-contra-o-tumor. Alguns estudos retrospectivos avaliaram a capacidade da contagem absoluta de linfócitos (CAL) após o transplante alogênico de MO em predizer o efeito enxerto-contra-o-tumor e, conseqüentemente, caracterizar o valor prognóstico desta variável. Uma CAL >200 células/µL no D+29 em pacientes com LMA submetidos ao transplante alogênico de MO associou-se a uma probabilidade de recaída em três anos de 16% versus 42% no grupo com retardo na recuperação da CAL (P<0,004).46 Outro estudo retrospectivo demonstrou que os pacientes com uma CAL ≥500 células/µL no D+17 do transplante alogênico de MO apresentaram uma SG em um ano de 79% versus 19% nos outros pacientes (P<0,0024).47 A partir destes estudos, diferentes grupos procuraram avaliar o papel da recuperação precoce da CAL no transplante autólogo de CTH (Tabela 2). 1.5.1 Resultados em mieloma múltiplo e amiloidose sistêmica primária Em um estudo retrospectivo com 126 pacientes portadores de MM submetidos ao TACTH, o grupo de pacientes com uma CAL ≥500 células/μL no D+15 apresentou maiores taxas de SLP mediana e de SG mediana em comparação ao grupo com menos de 500 linfócitos/µL no D+15 (SLP mediana de 16 versus 8 meses, P<0,0003; SG mediana de 33 versus 12 meses, P<0,0001).48 Na análise multivariada, a recuperação linfocitária precoce permaneceu como uma variável preditiva independente para a SLP e a SG. A recuperação linfocitária precoce não foi significativa no subgrupo de pacientes que recebeu medula óssea (MO) como enxerto. 10 INTRODUÇÃO Tabela 2 – Estudos avaliando o papel da recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas Doença de base Estudo N CTH CAL SLP mediana SG mediana Ref MM R 126 SP/MO D+15 ≥500 16 vs 8 meses (P<0,0003) 33 vs 12 meses (P<0,0001) 48 MM R 59 SP D+23 ≥1000 18 vs 9 meses (P=0,02) 37 vs 23 meses (P=0,01) 49 MM R 119 SP D+30 ≥1000 43 vs 29 meses (P=0,03) 96 vs 48 meses (P=0,006) 50 Amiloidose R 145 SP D+15 ≥500 NA vs 27 meses (P<0,0001) NA vs 53 meses (P<0,0003) 51 LNH R 104 SP/MO D+15 ≥500 NA vs 3,6 meses (P<0,0001) NA vs 6 meses (P<0,0001) 48 LNH T de alto risco R 33 SP D+25 >1000 NA vs 4,5 meses (P=0,01) NA vs 7 meses (P=0,01) 54 LNH (manto) R 42 SP/MO D+15 ≥500 NA vs 16 meses (P<0,0006) NA vs 30 meses (P<0,01) 55 LNH P 50 SP D+15 ≥500 NA vs 3,3 meses (P<0,0001) NA vs 5,4 meses (P<0,0001) 56 Linfoma de Hodgkin R 82 SP/MO D+15 ≥500 57 vs 15 meses (P<0,002) NA vs 42 meses (P<0,0001) 57 LMA R 45 SP/MO D+15 ≥500 105 vs 9 meses (P<0,0008) NA vs 10 meses (P<0,0009) 58 Câncer de mama R 29 SP/MO D+15 ≥500 24 vs 7 meses (P<0,0015) NA vs 14 meses (P<0,0001) 59 Câncer de mama R 476 SP/MO D+15 ≥500 2,3 vs 1 ano (P=0,007) 4 vs 2,5 anos (P=0,03) 60 Câncer de ovário R 38 SP CD3+ ≥850* 57 vs 20 meses (P=0,0026) 107 vs 49 meses ( P=0,0015) 61 Abreviações: CAL, contagem absoluta de linfócitos; CTH, célula-tronco hematopoiética; LMA, leucemia mielóide aguda; LNH, linfoma não-Hodgkin; MM, mieloma múltiplo; MO, medula óssea; N, número de pacientes; P, prospectivo; R, retrospectivo; Ref, referência; SG, sobrevida global; SLP, sobrevida livre de progressão; SP, sangue periférico; vs, versus. * D+360 11 INTRODUÇÃO Outro estudo retrospectivo com 59 pacientes portadores de MM demonstrou que uma CAL ≥1000 células/μL no D+23 do TACTH de SP é uma variável independente associada a maiores taxas de SLP e de SG.49 O ponto de corte e o dia ideal para a avaliação da recuperação precoce da CAL variou entre os diferentes estudos. Análise retrospectiva com 119 pacientes portadores de MM submetidos ao TACTH de SP identificou uma CAL ≥1000 células/µL no D+30 como melhor ponto de corte para predizer a SLP e a SG.50 A validação da recuperação linfocitária pós-TACTH de SP também foi realizada em pacientes com amiloidose sistêmica primária.51 Uma análise retrospectiva de 145 pacientes com amiloidose demonstrou que a SLP mediana e a SG mediana não foram atingidas no grupo com CAL ≥500 células/μL no D+15 em comparação a uma SLP mediana de 27 meses (P<0,0001) e uma SG mediana de 53 meses (P<0,0003) nos pacientes com menos de 500 linfócitos/μL no D+15. 1.5.2 Resultados em linfoma não-Hodgkin Em 104 pacientes com LNH estudados retrospectivamente, a SLP mediana e a SG mediana não foram atingidas no grupo de pacientes com uma CAL ≥500 células/μL no D+15 do TATCH. Os pacientes com menos de 500 linfócitos/µL no D+15 apresentaram SLP mediana e SG mediana de 3,6 meses e seis meses respectivamente (P<0,0001 para ambos).48 Houve significância estatística tanto no grupo que recebeu MO como enxerto quanto no grupo que recebeu CTH de SP. A recuperação precoce da CAL no D+15 permaneceu como um preditor independente para a SLP e a SG na análise multivariada. 12 INTRODUÇÃO Um estudo com 274 pacientes com LNH submetidos ao TACTH demonstrou que a cinética da recuperação linfocitária após o transplante relaciona-se diretamente com a SLP e a SG, e não somente a CAL no D+15 pós-TACTH.52 Gordan et al realizaram estudo semelhante em pacientes com LNH e LH submetidos ao TACTH.53 Foram analisados 32 pacientes com linfoma de Hodgkin e 58 pacientes com linfoma não-Hodgkin. A recuperação linfocitária precoce associou-se a uma maior SLP, porém, não foi significativa para SG. Os dois principais problemas deste estudo foram a pequena amostra de pacientes e o curto tempo de seguimento. A recuperação precoce da CAL após o TACTH também se associou a maiores SLP e SG em pacientes portadores de LNH T de alto risco.54 Em estudo de Kim et al, foram analisados 33 pacientes portadores de LNH T submetidos ao TACTH de SP. Definiu-se como pega linfocitária o primeiro de três dias consecutivos com contagem linfocitária ≥1000 células/μL. A pega linfocitária até o D+25 pós-TACTH foi uma variável independente relacionada a maiores taxas de SLP e de SG. O papel da recuperação linfocitária pós-TACTH também foi avaliado em 42 pacientes com linfoma da célula do manto submetidos ao transplante autólogo em primeira remissão.55 Somente um paciente recebeu MO como fonte de CTH. A SLP mediana e a SG mediana não foram atingidas no grupo com CAL ≥500 células/μL no D+15 do TATCH em comparação a uma SLP mediana de 16 meses (P<0,0006) e uma SG mediana de 30 meses (P<0,01) no grupo com menos de 500 linfócitos/μL no D+15. A recuperação precoce da contagem linfocitária permaneceu significativa para a SLP e a SG na análise multivariada. Um único estudo avaliou prospectivamente o papel da recuperação precoce da CAL após o TACTH de SP em pacientes com LNH (LNH difuso de grande células, LNH folicular, LNH de células do manto e LNH T).56 O grupo de pacientes com uma CAL no D+15 ≥500 células/μL apresentou maiores taxas de SLP e de SG em comparação ao grupo 13 INTRODUÇÃO com menos de 500 linfócitos/μL (SLP mediana não atingida versus 3,3 meses, P<0,0001; SG mediana não atingida versus 5,4 meses, P<0,0001). 1.5.3 Resultados em linfoma de Hodgkin A análise de 82 pacientes com LH submetidos ao TACTH de SP ou de MO demonstrou que o grupo de pacientes com uma CAL ≥500 células/μL no D+15 do transplante apresentou uma SLP mediana de 57 meses e uma SG mediana não atingida em comparação a uma SLP mediana de 15 meses (P<0,002) e uma SG mediana de 42 meses (P<0,0001) no grupo com menos de 500 linfócitos/μL no D+15.57 Os pacientes com um número maior de protocolos de quimioterapia pré-TACTH apresentaram uma menor contagem de linfócitos no D+15. Na análise multivariável, a CAL no D+15 do TACTH permaneceu como uma variável independente somente para a SG. A recuperação linfocitária precoce foi estatisticamente significativa independente da fonte do enxerto (MO ou SP). 1.5.4 Resultados em leucemia mielóide aguda Em pacientes com LMA submetidos ao TACTH de SP ou de MO, a recuperação linfocitária precoce também se associou a maiores taxas de SLP e de SG.58 O grupo de pacientes com CAL ≥500 células/μL no D+15 pós-TACTH apresentou uma SLP mediana de 105 meses e uma SG mediana não atingida em comparação a uma SLP mediana de nove meses (P<0,0008) e uma SG mediana de dez meses (P<0,0009) no grupo com menos de 500 linfócitos/μL no D+15. A contagem de linfócitos no D+15 permaneceu como uma variável preditiva significativa para a SLP e a SG na análise multivariada. 14 INTRODUÇÃO 1.5.5 Resultados em câncer de mama Porrata et al analisaram retrospectivamente 29 pacientes com câncer de mama metastático submetidas ao TACTH de SP ou de MO.59 A SLP mediana foi de 24 meses e a SG mediana não foi atingida no grupo com CAL ≥500 células/μL no D+15 em comparação a uma SLP mediana de 7 meses (P<0,0015) e uma SG mediana de 14 meses (P<0,0001) no grupo com recuperação linfocitária tardia. Em estudo de Nieto et al, foram avaliadas 476 mulheres com câncer de mama avançado submetidas ao TACTH de SP ou de MO.60 Os resultados obtidos evidenciaram que a recuperação linfocitária precoce se associou a maiores taxas de SLP e de SG no grupo de pacientes com câncer de mama metastático, mas não no grupo com câncer de mama primário de alto risco. O efeito prognóstico da recuperação precoce da CAL somente foi observado nas pacientes que receberam CTH obtidas de SP e não manipuladas ex vivo. Em contraste, a recuperação precoce da CAL não foi significativa nas pacientes que receberam como enxerto MO ou CTH de SP com seleção positiva de células CD34+. A análise multivariada evidenciou que a CAL no D+15 pós-TACTH é uma variável independente para a SLP e SG. 1.5.6 Resultados em câncer de ovário O papel da recuperação da CAL também foi avaliado em pacientes portadoras de câncer epitelial de ovário avançado submetidas ao TACTH de SP, através da quantificação de diferentes tipos celulares 12 meses após o transplante autólogo.61 A SLP mediana e a SG mediana foram superiores no grupo de pacientes com uma contagem de células CD3+ ≥850 células/µL em comparação ao grupo com menos de 850 células CD3+/µL (SLP mediana de 57 meses versus 20 meses, P=0,0026; SG mediana de 107 meses versus 49 15 INTRODUÇÃO meses, P=0,0015). O número de células CD3+ permaneceu como uma variável independente para a SLP e a SG na análise multivariável. Os números de células NK (CD16+CD56+) e de linfócitos B (CD19+) não apresentaram valor prognóstico. 1.6 Papel da dose de linfócitos do enxerto A dose de linfócitos (DL) do enxerto no TACTH de SP demonstrou correlação direta com a recuperação precoce da CAL, apresentando valor prognóstico para a SLP e para a SG (Tabela 3).50,56,62,63 Um estudo com 267 pacientes consecutivos com MM submetidos ao TACTH de SP evidenciou uma forte correlação entre a DL no enxerto e a CAL no D+15 pós-TACTH; um coeficiente de correlação de Spearman (rS) de 0,83 com P<0,0001.62 Uma DL ≥0,5 x 109 linfócitos/kg foi capaz de predizer uma CAL no D+15 ≥500 linfócitos/µL (área sob a curva (ASC) de 0,93, P<0,0001). Além disto, uma DL ≥0,5 x 109 células/kg associou-se a maiores taxas de sobrevida em comparação ao grupo que recebeu menos do que 0,5 x 109 linfócitos/kg (SLP mediana de 22 versus 15 meses, P<0,0001; SG mediana de 58 versus 30 meses, P=0,0002). Tabela 3 – Estudos avaliando o papel da dose de linfócitos no transplante autólogo de célulastronco hematopoiéticas de sangue periférico Doença de base Estudo N DL CAL SG mediana Ref MM R 119 0,2 x 109/kg D+30 ≥1000 96 vs 48 meses (P=0,04) 50 LNH P 50 0,6 x 109/kg D+15 ≥500 NA vs 5,4 meses (P<0,0001) 56 MM R 267 0,5 x 109/kg D+15 ≥500 58 vs 30 meses (P=0,0002) 62 0,5 x 109/kg D+15 ≥500 76 vs 17 meses 63 (P<0,0001) Abreviações: CAL, contagem absoluta de linfócitos; DL, dose de linfócitos; LNH, linfoma nãoHodgkin; MM, mieloma múltiplo; N, número de pacientes; P, prospectivo; R, retrospectivo; Ref, referência; SG, sobrevida global; vs, versus. LNH R 190 16 INTRODUÇÃO A DL permaneceu como uma variável independente para a SLP e para a SG na análise multivariada. O tipo de regime de mobilização e a CAL pré-aférese associaram-se à DL presente no enxerto autólogo. A mobilização com G-CSF isoladamente resultou numa maior DL em comparação à mobilização com ciclofosfamida na dose de 3 g/m2 seguida do G-CSF. Porém, a CAL pré-aférese foi a única variável associada à DL na análise multivariável. Uma CAL pré-aférese ≥500 linfócitos/µL correlacionou-se a uma DL ≥0,5 x 109 linfócitos/kg (rS=0,70, P=0,0001). Outro estudo realizado em 119 pacientes portadores de MM submetidos ao TACTH de SP identificou uma DL ≥0,2 x 109 linfócitos/kg como ponto de corte ideal para predizer uma CAL ≥1000 linfócitos/µL no D+30.50 A recuperação da CAL no D+30 associou-se a melhores taxas de SLP e de SG. Porém, não houve uma associação direta entre a DL do enxerto e as taxas de sobrevida. O uso do G-CSF no pós-transplante não alterou o padrão de recuperação da CAL. Este estudo utilizou diferentes regimes de mobilização e não avaliou as variáveis relacionadas à DL do enxerto autólogo. Achados semelhantes também foram encontrados em 190 pacientes consecutivos com LNH mobilizados com o G-CSF isoladamente e submetidos ao TACTH de SP.63 Verificou-se uma forte correlação entre a DL e a CAL no D+15 pós-TACTH (rS=0,71, P<0,0001). Os pacientes com uma CAL ≥500 células/μl no D+15 pós-TACTH receberam uma DL superior ao grupo com menos de 500 linfócitos/µL (DL mediana de 0,68 x 109/kg versus 0,34 x 109/kg, P<0,0001). A SLP mediana e a SG mediana foram maiores nos pacientes que receberam uma DL ≥0,5 x 109/kg em comparação ao grupo que recebeu menos do que 0,5 x 109/kg (SLP mediana de 49 versus 10 meses, SG mediana de 76 versus 17 meses; P<0,0001 para ambos). A análise multivariada demonstrou que a DL é uma variável independente para a SLP e para a SG na população estudada. 17 INTRODUÇÃO Um único estudo avaliou prospectivamente o papel da dose de linfócitos na recuperação da CAL após o TACTH de SP em pacientes com LNH mobilizados somente com o G-CSF.56 A DL mediana foi superior no grupo de pacientes com uma CAL maior ou igual a 500 células/µL no D+15 em comparação ao grupo com menos de 500 linfócitos/µL (0,60 x 109 versus 0,18 x 109 linfócitos/kg, P<0,002) e associou-se a maiores taxas de sobrevida . A contagem de linfócitos no produto da aférese é dependente da CAL que o paciente apresenta no momento da aférese.64 Uma análise retrospectiva de 160 pacientes com LNH mobilizados com G-CSF isoladamente e submetidos ao TACTH demonstrou uma forte correlação entre o tempo decorrido do último ciclo de quimioterapia e a CAL pré-aférese (rS=0,67, P<0,0001). Observou-se uma maior CAL pré-aférese e, conseqüentemente, uma maior DL nos pacientes com um intervalo mínimo de 55 dias entre o último ciclo de quimioterapia e o início da aférese (CAL pré-aférese de 700 versus 380 linfócitos/μL e DL de 0,56 x 109 versus 0,35 x 109 linfócitos/kg; P<0,0001 para ambas variáveis). Este intervalo de tempo permaneceu como uma variável independente para a SLP e para a SG na análise multivariada. 18 OBJETIVOS 2 OBJETIVOS Este estudo objetivou compreender os mecanismos responsáveis pela recuperação precoce da CAL após o TACTH, visando a utilização de métodos para acelerar a recuperação imunológica após o transplante autólogo, melhorando os resultados deste tratamento. Os objetivos específicos deste estudo foram: • identificar as variáveis associadas a recuperação precoce da CAL após o TACTH de SP; • avaliar o impacto de diferentes regimes de mobilização sobre a CAL pré-aférese. 19 CASUÍSTICA E MÉTODOS 3 CASUÍSTICA E MÉTODOS 3.1 Critérios de inclusão e exclusão Este estudo retrospectivo foi conduzido no Hemorio, na cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram obtidos em prontuários físicos e eletrônicos. Os pacientes portadores das seguintes neoplasias hematológicas submetidos ao TACTH de SP foram elegíveis para este estudo: • LMA em primeira ou segunda remissão completa; • MM em qualquer estágio; • LNH em primeira remissão completa com um Índice Prognóstico Internacional alto ou em recaída quimiossensível; • LH recaído. Os critérios de exclusão deste estudo foram: • utilização da medula óssea como fonte de CTH; • coleta de CTH de SP após diferentes regimes de mobilização; • indisponibilidade do hemograma no momento da mobilização das CTH, durante a aférese ou após o TACTH; • ausência da quantificação dos leucócitos totais, dos linfócitos totais, dos linfócitos CD4+ ou dos linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. Este estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hemorio, sendo realizado conforme a Legislação Brasileira de Ética em Pesquisa e a Declaração de Helsinki. Todos os pacientes assinaram termo de consentimento informado para a realização do TACTH de SP e permitiram a utilização dos seus registros hospitalares para a pesquisa clínica. 20 CASUÍSTICA E MÉTODOS 3.2 Mobilização e coleta de células-tronco hematopoiéticas A mobilização de CTH foi realizada através da utilização dos seguintes regimes: • G-CSF isoladamente; • ciclofosfamida na dose de 1,5 g/m2 (CTX);65 • etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina (ESHAP);17 • dexametasona, ciclofosfamida, etoposide e cisplatina (DCEP);66 • citarabina em alta dose (AraCAD);67 • citarabina em alta dose associada ao etoposide.68 Os regimes de mobilização foram categorizados em cinco grupos principais: 1. CTX + G-CSF; 2. ESHAP + G-CSF; 3. DCEP + G-CSF; 4. AraCAD + G-CSF (associada ou não ao etoposide); 5. G-CSF isoladamente. O início da aférese ocorreu quando a contagem de células CD34+ no sangue periférico era ≥10 células/µL. As sessões de aférese utilizaram o separador celular Haemonetics MCS(+) (Haemonetics, Braintree, Mass., EUA). O acesso venoso utilizado foi a veia antecubital ou a veia femural em pacientes com acesso venoso periférico inadequado. Cada sessão de aférese durou 24 ciclos com quatro recirculações. O procedimento de coleta de CTH prosseguiu até alcançar um alvo mínimo de 2 x 106 células CD34+/kg. 3.3 Análise do conteúdo do enxerto autólogo Amostras de cada sessão de aférese foram submetidas a contagem celular utilizando o contador hematológico Cell-Dyn 3700. Obteve-se o número absoluto de linfócitos 21 CASUÍSTICA E MÉTODOS coletados multiplicando-se a contagem absoluta de leucócitos de cada coleta pelo seu respectivo percentual de linfócitos. A dose de leucócitos no enxerto correspondeu à soma do número de leucócitos de cada coleta dividida pelo peso do paciente (em quilogramas). A dose de linfócitos infundida foi calculada da mesma maneira. Realizou-se a imunofenotipagem em amostras de cada coleta utilizando os seguintes anticorpos monoclonais: anti-CD4+ conjugado ao isotiocianato de fluoresceína e anti-CD8+ conjugado à ficoeritrina, todos obtidos da Becton Dickinson (San Jose, CA, EUA). As amostras foram analisadas utilizando um citômetro de fluxo FACSCalibur. O percentual de células marcadas com um determinado anticorpo monoclonal foi multiplicado pela contagem absoluta de linfócitos da respectiva coleta, fornecendo o número absoluto de linfócitos CD4+ e de linfócitos CD8+. A dose de linfócitos CD4+ do enxerto autólogo correspondeu à soma do valor absoluto deste tipo celular em cada coleta divida pelo peso do paciente (em quilogramas). A dose de linfócitos CD8+ do enxerto autólogo foi calculada do mesmo modo. O enxerto autólogo não foi submetido a nenhum tipo de manipulação ex vivo. 3.4 Regimes de condicionamento e utilização do G-CSF no pós-transplante Os regimes de condicionamento utilizados foram: • linfoma: ciclofosfamida 6000 mg/m2, carmustina 300 mg/m2 e etoposide 1200 mg/m2 (CBV);69 • LMA: bussulfano oral 16 mg/kg e ciclofosfamida 120 mg/kg (BuCy);70 • MM: melfalano em alta dose, 140 ou 200 mg/m2 (Mel).71 O G-CSF foi utilizado em todos os pacientes a partir do D+1 do TACTH, na dose de 5 µg/kg, até a o primeiro dia da pega de neutrófilos. 22 CASUÍSTICA E MÉTODOS 3.5 Definições relacionadas à doença de base O status da doença no momento do transplante foi classificado como precoce nas seguintes situações: 1) pacientes com LMA em primeira remissão completa; 2) pacientes com MM apresentando uma remissão parcial muito boa ou uma resposta superior após o tratamento inicial; 3) pacientes com linfoma em primeira remissão completa ou em primeira remissão parcial. Todos os outros pacientes foram categorizados como apresentando doença avançada. Os pacientes submetidos a mais de um regime de quimioterapia antes do transplante foram categorizados em um grupo diferente em comparação aos que receberam somente um regime de quimioterapia antes do TACTH. 3.6 Definições relacionadas à contagem absoluta de linfócitos O hemograma realizado no contador automático Cell-Dyn 3700 foi utilizado para obter o número absoluto de linfócitos. A CAL pré-mobilização correspondeu ao número absoluto de linfócitos no hemograma realizado imediatamente antes da mobilização de CTH. A CAL pré-aférese correspondeu à média do número absoluto de linfócitos no(s) hemograma(s) realizado(s) antes de cada sessão de aférese. A recuperação precoce da CAL foi definida como uma contagem absoluta de linfócitos maior ou igual 500/µL até o D+12 do TACTH. 3.7 Definições relacionadas à reconstituição hematológica A pega de neutrófilos foi definida como o primeiro de três dias consecutivos com uma contagem de neutrófilos maior ou igual a 500 neutrófilos/µL. A pega de plaquetas foi 23 CASUÍSTICA E MÉTODOS definida como o primeiro de sete dias consecutivos com uma contagem de plaquetas maior ou igual a 20 x 103/µL independente de suporte transfusional. 3.8 Variáveis analisadas As variáveis analisadas relacionadas aos pacientes foram: • gênero; • idade no momento do TACTH; • diagnóstico; • status da doença no momento do TACTH; • número prévio de regimes quimioterapêuticos. As seguintes características do transplante foram analisadas: 3.9 • tipo de regime de mobilização; • CAL pré-mobilização, • CAL pré-aférese; • número de sessões de aférese; • tipo de condicionamento; • CAL até o D+12 do TACTH; • primeiro dia de pega de neutrófilos; • primeiro dia de pega de plaquetas. Tratamento estatístico Para comparar as diferenças entre os grupos em relação à recuperação precoce da CAL, utilizou-se o teste do χ2 ou o teste de Fisher para variáveis categóricas e o teste nãoparamétrico de Mann-Whitney U para variáveis contínuas. 24 CASUÍSTICA E MÉTODOS Regressão logística univariável foi utilizada para identificar a associação entre as seguintes variáveis e a recuperação precoce da CAL: • diagnóstico; • status da doença no momento do transplante (precoce versus avançado); • número de regimes de quimioterapia pré-transplante (um versus dois ou mais); • tipo de regime de mobilização; • CAL pré-mobilização; • CAL pré-aférese; • número de sessões de aférese; • número de células CD34+ coletada; • número de leucócitos, linfócitos totais, linfócitos CD4+ e linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. As variáveis associadas com a recuperação precoce da CAL na análise univariada foram incluídas na regressão logística multivariável. A dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo foi avaliada como uma variável preditora da recuperação precoce da CAL através de regressão logística univariável, análise da área sobre a curva e definição da sensibilidade e da especificidade em predizer a recuperação linfocitária precoce. Para tanto, foram realizadas análises utilizando diferentes pontos de corte da dose de linfócitos CD8+ (>0,04 x 109/kg, >0,05 x 109/kg, >0,1 x 109/kg e >0,15 x 109/kg). Regressão linear univariável foi utilizada para identificar a associação das seguintes variáveis e a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo: • diagnóstico; • status da doença no TACTH (precoce versus avançado); 25 CASUÍSTICA E MÉTODOS • número de regimes de quimioterapia antes do transplante (um versus dois ou mais); • tipo de regime de mobilização; • CAL pré-mobilização; • CAL pré-aférese; • número de sessões de aférese; • número de células CD34+ coletadas. As variáveis associadas com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto foram incluídas na regressão linear multivariável. Análise da colinearidade foi realizada entre as variáveis preditoras identificadas no modelo multivariável. Os preditores significativos da dose de linfócitos CD8+ no enxerto também foram analisados através do teste de correlação de Spearman. A variação entre a CAL pré-mobilização e a CAL pré-aférese foi avaliada através do teste de Wilcoxon. Análise de “tempo para evento” foi realizada através do método de Kaplan-Meir para a avaliação da SLP e da SG. A SLP correspondeu ao intervalo de tempo entre o TACTH e a detecção da progressão da doença, o óbito ou a última consulta. Definiu-se como progressão de doença as seguintes situações: • LMA: o surgimento blastos no SP e/ou um percentual de blastos na MO >5%; • Linfoma: o aumento ≥50% de lesões antigas e/ou o surgimento de novas lesões; • MM: o aumento do componente monoclonal ≥25% e/ou o aumento de lesões ósseas líticas (ou o surgimento de novas lesões) e/ou o aumento de plasmocitomas (ou o surgimento de novos plasmocitomas). A SG correspondeu ao intervalo de tempo entre o transplante autólogo e a data da última consulta ou o óbito (independente da causa). O método de log-rank foi utilizado para a comparação entre os diferentes grupos. 26 CASUÍSTICA E MÉTODOS Todos os P-valores representados são bi-caudados, sendo que um P<0,05 indica significância estatística. O registro e a análise dos dados foram realizados utilizando o software de estatística SPSS versão 15 (SPSS, Chicago, Il, EUA). 27 RESULTADOS 4 4.1 RESULTADOS Características relacionadas aos pacientes e ao transplante autólogo De um total de 83 TACTH de SP consecutivos realizados entre outubro de 2000 e setembro de 2008, 77 pacientes foram elegíveis para este estudo (91.5%). Seis pacientes foram excluídos desta análise, devido à falta do hemograma no momento da mobilização de CTH, da coleta de CTH ou após o transplante autólogo. A seguinte distribuição da doença de base foi encontrada nos pacientes elegíveis: 11 casos de LH (14,3%), cinco casos LNH (6,5%), 35 casos de MM (45,5%) e 26 casos de LMA (33,7%). Os pacientes com linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin foram analisados como um único grupo, designado como pacientes com linfoma (Figura 3). A idade mediana dos pacientes no momento do transplante foi de 39 anos, variando de 11 a 67 anos. A relação entre os pacientes do sexo masculino e feminino foi de 1,4, sendo 45 do sexo masculino sexo masculino e 32 do sexo feminino. A distribuição dos pacientes conforme o status da doença foi homogênea, 38 pacientes apresentavam doença precoce no momento do transplante (49,4%) e 39 doença avançada (50,6%). A maioria dos pacientes recebeu somente uma linha de quimioterapia antes do transplante (62,3%) (Tabela 4). Leucemia mielóide aguda Mieloma Múltiplo Linfoma Figura 3 – Distribuição dos pacientes elegíveis conforme a indicação do transplante autólogo 28 RESULTADOS Somente seis pacientes (7,8%) receberam mobilização de CTH com G-CSF isoladamente. Os casos de linfoma foram mobilizados com CTX + G-CSF em nove pacientes (56,3%) e ESHAP + G-CSF em sete pacientes (43,7%). Os pacientes com MM receberam os seguintes regimes de mobilização: CTX + G-CSF em 26 casos (74,3%), GCSF isoladamente em seis casos (17,1%), DCEP + G-CSF em dois casos (5,7%) e ESHAP + G-CSF em um caso (2,9%). Os pacientes portadores de LMA foram mobilizados com AraCAD + G-CSF em 21 casos (80,8%) e AraCAD associada ao etoposide + G-CSF em cinco casos (19,2%) (Figura 4). A mediana da CAL antes da mobilização de CTH foi de 1390/µL e reduziu para 1000/µL no momento da aférese. A maioria dos pacientes foi submetida a duas sessões de aférese (variação: 1-6). As doses medianas de células CD34+, de leucócitos, de linfócitos, de linfócitos CD4+ e de linfócitos CD8+ foram, respectivamente, de 2,7 x 106/kg, 0,78 x 109/kg, 0,13 x 109/kg, 0,056 x 109/kg e 0,042 x 109/kg. O tempo mediano para a pega de neutrófilos e de plaquetas foi de 11 dias e 12 dias, respectivamente. A recuperação precoce da CAL ocorreu em 29 pacientes (37,7%). Nenhum caso de DECH autóloga foi registrado. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% AraCAD + VP + G‐CSF AraCAD + G‐CSF DCEP + G‐CSF ESHAP + G‐CSF CTX + G‐CSF G‐CSF MM Linfoma LMA Figura 4 – Regimes de mobilização utilizados conforme a indicação do transplante autólogo Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; LMA, leucemia mielóide aguda; MM, mieloma múltiplo; VP, etoposide. 29 RESULTADOS Tabela 4 – Características relacionadas aos pacientes e ao transplante autólogo de célulastronco hematopoiéticas de sangue periférico Número (%) Idade (anos) (mediana, variação) 34 (11-67) Sexo Feminino 32 (41,6%) Masculino 45 (58,4%) Diagnóstico Leucemia mielóide aguda 26 (33,7%) Mieloma múltiplo 35 (45,5%) Linfoma 16 (20,8%) Doença precoce no momento do transplante 38 (49,4%) Número de regimes quimioterápicos pré-transplante ≥2 29 (37,7%) CAL pré-mobilização (/μL) (mediana, variação) 1390 (623-3630) Regime de mobilização CTX + G-CSF 35 (45,5%) AraCAD + G-CSF 26 (33,7%) ESHAP + G-CSF 8 (10,4%) DCEP + G-CSF 2 (2,6%) G-CSF 6 (7,8%) CAL pré-aférese (/μL) (mediana, variação) Número de aféreses (mediana, variação) 1000 (195-4950) 2 (1-6) Células CD34+ x 106/kg (mediana, variação) 9 2,7 (0,93-9,90) Leucócitos no enxerto autólogo x 10 /kg (mediana, variação) 0,78 (0,20-2,53) Linfócitos no enxerto autólogo x 109/kg (mediana, variação) 0,13 (0,03-1,01) 9 0,056 (0,01-0,34) 9 0,042 (0,01-0,32) Linfócitos CD4+ no enxerto autólogo x 10 /kg (mediana,variação) Linfócitos CD8+ no enxerto autólogo x 10 /kg (mediana,variação) Regime de condicionamento BuCy 26 (33,7%) Mel 35 (45,5%) CBV 16 (20,8%) Primeiro dia da pega de neutrófilos (mediana, variação) 11 (7-14) Primeiro dia da pega de plaquetas (mediana, variação) 12 (8-89) Recuperação precoce da CAL 29 (37,7%) Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; BuCy, bussulfano e ciclofosfamida; CAL, contagem absoluta de linfócitos; CBV, ciclofosfamida, carmustina e etoposide; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; Mel, melfalano. 30 RESULTADOS 4.2 Comparação entre os grupos conforme a recuperação linfocitária Os pacientes foram estratificados em dois grupos conforme a recuperação da CAL após o TACTH (Tabela 5). As seguintes variáveis foram mais elevadas nos pacientes com recuperação linfocitária precoce: CAL pré-mobilização (mediana de 1905 versus 1130 linfócitos/µL; P=0,001), CAL pré-aférese (mediana de 1785 versus 769 linfócitos/µL; P<0,001), número de sessões de aférese (mediana de três versus duas; P=0,04), dose de leucócitos no enxerto autólogo (mediana de 1,07 x 109 versus 0,62 x 109 leucócitos/kg; P<0,001) (Figura 5a), dose de linfócitos no enxerto autólogo (mediana de 0,25 x 109 versus 0,10 x 109 linfócitos/kg; P<0,001) (Figura 5b), dose de linfócitos CD4+ no enxerto autólogo (mediana de 0,08 x 109 versus 0,03 x 109 CD4+ linfócitos/kg; P<0,001) (Figura 5c) e a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo (mediana de 0,11 x 109 versus 0,03 x 109 CD8+ linfócitos/kg; P<0,001) (Figura 5d). Todos os pacientes mobilizados com G-CSF isoladamente apresentaram recuperação precoce da CAL. Os outros parâmetros analisados distribuíram-se de forma semelhante entre os dois grupos de pacientes categorizados conforme a recuperação linfocitária: diagnóstico, status da doença no momento do transplante, número de regimes de quimioterapia antes do TACTH, mobilização de CTH com quimioterapia seguida do G-CSF (CTX, ESHAP, AraCAD, DCEP), número de células CD34+ no enxerto, tipo de regime de condicionamento e o tempo para a pega de neutrófilos e de plaquetas. A mobilização de CTH utilizando os regimes ESHAP + G-CSF e CTX + G-CSF tendeu a distribuir-se desigualmente entre os dois grupos, porém não alcançou significância estatística provavelmente em decorrência do reduzido número de pacientes em cada categoria. 31 RESULTADOS Tabela 5 – Comparação entre os pacientes conforme a recuperação da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo Recuperação Recuperação tardia precoce (N=39) (N=26) P valor Diagnóstico Leucemia mielóide aguda 16 (33,3%) 10 (34,4%) 1 Mieloma múltiplo 22 (45,8%) 13 (44,8%) 1 Linfoma 10 (20,9%) 6 (20,8%) 1 Doença precoce no momento do transplante 26 (54,2%) 12 (41,4%) 0,34 Número de regimes quimioterápicos pré-transplante ≥2 18 (37,5%) 11 (37,9%) 1 24 (50%) 11 (37,9%) 0,35 AraCAD + G-CSF 16 (33,3%) 10 (34,5%) 1 ESHAP + G-CSF 7 (14,6%) 1 (3,4%) 0,24 DCEP + G-CSF 1 (2,1%) 1 (3,4%) 1 0 6 (20,8%) 0,002 CAL pré-mobilização (/μL) (mediana) 1130/µL 1905/µL 0,001 CAL pré-aférese (/μL) (mediana) 769/µL 1785/µL <0,001 2 3 0,04 Células CD34+ x 106/kg (mediana) 2,86 2,55 0,91 Dose de leucócitos no enxerto x 109/kg (mediana) 0,62 1,07 <0,001 Dose de linfócitos no enxerto x 109/kg (mediana) 0,10 0,25 <0,001 Dose de linfócitos CD4+ no enxerto x 109/kg (mediana) 0,03 0,08 <0,001 0,03 0,11 <0,001 BuCy 16 (33,3%) 10 (34,4%) 1 Mel 22 (45,8%) 13 (44,8%) 1 CBV 10 (20,9%) 6 (20,8%) 1 Primeiro dia da pega de neutrófilos (mediana) 11 11 0,76 Primeiro dia da pega de plaquetas (mediana) 12 11 0,40 Regime de mobilização CTX + G-CSF G-CSF Número de aféreses (mediana) 9 Dose de linfócitos CD8+ no enxerto x 10 /kg (mediana) Regime de condicionamento Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; BuCy, bussulfano e ciclofosfamida; CAL, contagem absoluta de linfócitos; CBV, ciclofosfamida, carmustina e etoposide; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; Mel, melfalano. 32 RESULTADOS a. 0,80 P<0,001 Dose de linfócitos Dose de leucócitos 3,00 b. 2,00 1,00 0,00 0,60 0,40 0,20 0,00 Sim Não c. Sim Não Sim Não d. P<0,001 0,30 Dose de linfócitos CD8+ Dose de linfócitos CD4+ 0,30 P<0,001 0,20 0,10 0,00 P<0,001 0,20 0,10 0,00 Sim Não Figura 5 – Box plot demonstrando as diferenças no conteúdo do enxerto autólogo entre os pacientes conforme a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo. (a) Dose de leucócitos (mediana de 1,07 x 109 vs 0,62 x 109 leucócitos/kg; P<0,001), (b) dose de linfócitos (mediana de 0,25 x 109 vs 0,10 x 109 linfócitos/kg; P<0,001), (c) dose de linfócitos CD4+ (mediana de 0,08 x 109 vs 0,03 x 109 CD4+ linfócitos/kg; P<0,001) e (d) Dose de linfócitos CD8+ (mediana de 0,11 x 109 vs 0,03 x 109 CD8+ linfócitos/kg; P<0,001). Símbolos: ° outliers, * extreme. 33 RESULTADOS 4.3 Identificação das variáveis associadas à recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo As seguintes variáveis associaram-se à recuperação precoce da CAL na análise univariável: a CAL pré-mobilização, a CAL pré-aférese, a dose de leucócitos no enxerto autólogo, a dose de linfócitos no enxerto autólogo, a dose de linfócitos CD4+ no enxerto autólogo e a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. Não se encontrou nenhuma associação entre a recuperação precoce da CAL e as seguintes variáveis: o diagnóstico do paciente, o status da doença no momento do transplante, o número de regimes de quimioterapia antes do TACTH, o tipo de regime de mobilização de CTH, o número de sessões de aférese e a dose de células CD34+ no enxerto autólogo. A CAL pré-aférese e a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo permaneceram como variáveis independentes associadas à recuperação precoce da CAL na análise multivariável (P=0,005 e P<0,001; respectivamente) (Tabela 6). Estas duas variáveis não apresentaram colinearidade significativa. A análise da correlação entre a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo e os outros parâmetros incluídos na regressão logística multivariável evidenciou forte correlação com as seguintes variáveis: a dose de linfócitos (rs=0,94 P<0,001), a dose de linfócitos CD4+ (rs=0,76; P<0,001) e a dose de leucócitos (rs=0,68; P<0.001) (Figura 6). Devido à forte correlação encontrada, outra regressão logística multivariável foi realizada após a exclusão da dose de linfócitos CD8+. A CAL pré-aférese e a dose de linfócitos no enxerto autólogo permaneceram independentemente associadas à recuperação precoce da CAL após o TACTH no novo modelo (P=0,006 e P<0,001; respectivamente). 34 RESULTADOS a. 3 b. 1,20 rS=0,68, P<0,001 rS=0,94, P<0,001 Dose de linfócitos Dose de leucócitos 1,00 2 1 0,80 0,60 0,40 0,20 0 0,00 0,10 0,20 0,30 0,00 0,00 0,40 0,10 Dose de linfócitos CD8+ c. 0,30 0,40 d. 1,20 rS=0,76, P<0,001 rS=0,92, P<0,001 1,00 Dose de linfócitos Dose de linfócitos CD4+ 0,40 0,20 Dose de linfócitos CD8+ 0,30 0,20 0,80 0,60 0,40 0,10 0,20 0,00 0,00 0,10 0,20 0,30 Dose de linfócitos CD8+ 0,40 0,00 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 Dose de linfócitos CD4+ Figura 6 – Gráfico de dispersão entre as doses dos diferentes tipos celulares presentes no enxerto autólogo. (a) Dose de leucócitos versus dose de linfócitos CD8+ (rS=0,68, P<0,001), (b) dose de linfócitos versus dose de linfócitos CD8+ (rS=0,94, P<0,001), (c) dose de linfócitos CD4+ versus dose de linfócitos CD8+ (rS=0,76, P<0,001) e (d) dose de linfócitos versus dose de linfócitos CD4+ (rS=0,92, P<0,001). 35 RESULTADOS 36 Tabela 6 – Análise univariável e multivariável dos fatores associados com a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos Análise univariável Análise multivariável P valor Odds ratio (IC 95%) P valor Odds ratio (IC 95%) Leucemia mielóide aguda 0,91 1,05 (0,39–2,78) - - Mieloma múltiplo 0,93 0,96 (0,38-2,42) - - Linfoma 0,98 0,99 (0,31-3,09) - - Doença precoce no momento do transplante 0,27 0,59 (0,23-1,51) - - Número de regimes quimioterápicos pré-transplante ≥2 0,97 1,01 (0,39-2,63) - - CTX + G-CSF 0,30 0,61 (0,23-1,56) - - AraCAD + G-CSF 0,91 1,05 (0,39-2,78) - - ESHAP + G-CSF 0,15 0,20 (0,02-1,79) - - DCEP + G-CSF 0,71 1,67 (0,10-27,9) - - 0,99 NA - - Dose de células CD34+ x 10 /kg 0,92 NA - - CAL pré-mobilização 0,002 NA 0,11 NA CAL pré-aférese <0,001 NA 0,005 NA Número de aféreses 0,077 NA - - Dose de leucócitos 0,001 NA 0,08 NA Dose de linfócitos <0,001 NA 0,32 NA Dose de linfócitos CD4+ <0,001 NA 0,09 NA Diagnóstico Regime de mobilização G-CSF 6 Dose de linfócitos CD8+ <0,001 NA <0,001 NA Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; CAL, contagem absoluta de linfócitos; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; IC95%, intervalo de confiança de 95%; NA, não aplicável. RESULTADOS 37 4.4 Determinação da dose de linfócitos CD8+ capaz de predizer a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos após o transplante autólogo Diferentes pontos de corte do número de linfócitos CD8+ no enxerto (>0,04 x 109/kg, >0,05 x 109/kg, >0,1 x 109/kg e >0,15 x 109/kg) foram testados quanto à capacidade em predizer a recuperação precoce da CAL, uma vez que a dose de linfócitos CD8+ é uma variável independente associada à recuperação precoce da CAL após o transplante autólogo. Uma dose de linfócitos CD8+ maior do que 0,1 x 109/kg foi identificada como o melhor ponto de corte para predizer a recuperação precoce da CAL após o TACTH (odds ratio 30,66; P<0,001; intervalo de confiança 95% 6,18-152,10) (Tabela 7). O maior valor da ASC também foi identificado para este ponto de corte (ASC 0,77; P<0,001; intervalo de confiança 95% 0,64-0,89). A especificidade deste ponto de corte foi de 95,8%, indicando que 95,8% dos pacientes que não apresentaram recuperação precoce da CAL receberam uma dose de linfócitos CD8+ menor ou igual a 0,1 x 109/kg. Tabela 7 – Determinação do melhor ponto de corte da dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo para predizer a recuperação precoce da contagem absoluta de linfócitos OR (IC 95%) P ASC (IC 95%) P S E Dose CD8+ >0.04 9,2 (2,94-28,71) <0,001 0,74 (0,62-0,85) <0,001 82,1% 66,7% Dose CD8+ >0.05 10,09 (3,39-29,96) <0,001 0,76 (0,64-0,87) <0,001 75,0% 77,1% Dose CD8+ >0.1 30,66 (6,18-152,10) <0,001 0,77 (0,64-0,89) <0,001 57,1% 95,8% Dose CD8+ >0.15 18,80 (2,20-160,38) 0,007 0,63 (0,49-0,77) 0,05 28,6% 97,9% Abreviações: ASC, área sob a curva; E, especificidade; IC, intervalo de confiança; OR, odds ratio; P, P valor; S, sensibilidade. RESULTADOS 38 4.5 Identificação das variáveis relacionadas à dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo Em decorrência da importância da dose de linfócitos CD8+ em predizer a recuperação precoce da CAL após o TACTH, procurou-se identificar as variáveis relacionadas ao número de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. O diagnostico do paciente, o status da doença no momento do transplante, o número regimes de quimioterapia antes do TACTH, a mobilização com CTX + G-CSF, a mobilização com AraCAD + G-CSF e a mobilização com DCEP + G-CSF não apresentaram associação com o número de linfócitos CD8+ coletados (Tabela 8). As variáveis associadas com a dose de linfócitos CD8+ na análise univariável foram: a mobilização com G-CSF isoladamente, a mobilização com ESHAP + G-CSF, a CAL pré-mobilização, a CAL pré-aférese e o número de sessões de aférese. Todas estas variáveis, com exceção da mobilização utilizando ESHAP + G-CSF, associaram-se positivamente ao número de linfócitos CD8+ coletados. A mobilização com CTX + G-CSF foi marginalmente significativa, associandose de maneira negativa com o número de linfócitos CD8+. A CAL pré-aférese, o número de sessões de aférese e a mobilização com G-CSF isoladamente permaneceram como variáveis independentes associadas à dose de linfócitos CD8+ na regressão linear multivariável. A colinearidade entre estes fatores foi significativa somente entre a CAL pré-aférese e a mobilização com G-CSF isoladamente. As variáveis contínuas preditivas identificadas na análise multivariável também foram testadas quanto a sua correlação com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. A correlação mais forte encontrada foi com o número de sessões de aférese (rs=0,62; P<0,001) seguido pela CAL pré-aférese (rs=0,34; P=0,002). RESULTADOS 39 Tabela 8 – Análise univariável e multivariável dos fatores associados com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo Análise univariável Análise multivariável Beta padronizado P valor Beta padronizado P valor Leucemia mielóide aguda 0,13 0,24 - - Mieloma múltiplo -0,03 0,76 - - Linfoma -0,11 0,30 - - Doença precoce no momento do transplante 0,18 0,11 - - Número de regimes quimioterápicos pré-transplante ≥2 0,05 0,64 - - CTX + G-CSF -0,22 0,06 - - AraCAD + G-CSF 0,13 0,24 - - ESHAP + G-CSF -0,25 0,02 -0,06 0,41 DCEP + G-CSF 0,01 0,98 G-CSF 0,44 <0,001 0,23 0,02 CAL pré-mobilização 0,15 0,17 - - CAL pré-aférese 0,37 0,001 0,38 <0,001 Número de aféreses 0,50 <0.001 0,59 <0,001 Diagnóstico Regime de mobilização Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; CAL, contagem absoluta de linfócitos; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos. RESULTADOS 4.6 Avaliação do impacto do regime de mobilização na contagem absoluta de linfócitos pré-aférese O impacto do regime de mobilização sobre a CAL pré-aférese foi avaliado em decorrência da associação independente desta variável com a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo (Tabela 9). A comparação entre os valores medianos da CAL prémobilização e pré-aférese evidenciou uma redução de 1390 para 1000 linfócitos/µL em todo o grupo (P=0,001). De maneira interessante, esta redução não foi significativa nos pacientes com recuperação precoce da CAL após o transplante (CAL mediana prémobilização de 1905 linfócitos/µL e pré-aférese de 1785/µL, P=0,90). A diferença do número absoluto de linfócitos antes da mobilização e durante a aférese foi mais acentuada no subgrupo de pacientes mobilizado com quimioterapia seguida do G-CSF e sem recuperação linfocitária precoce (CAL mediana pré-mobilização de 1130 linfócitos/µL e pré-aférese de 769 linfócitos/µL; P<0,001). Por outro lado, esta redução não foi significativa no subgrupo com recuperação linfocitária precoce e mobilizado com quimioterapia seguida do G-CSF (CAL mediana pré-mobilização de 1905 linfócitos/µL e pré-aférese de 1500 linfócitos/µL; P=0,13). O tipo de regime de quimioterapia utilizado para a mobilização influenciou na diferença entre a CAL prémobilização e pré-aférese, principalmente os regimes de maior intensidade (ESHAP e AraCAD). Uma redução significativa entre a CAL pré-mobilização e pré-aférese foi encontrada no subgrupo de pacientes sem recuperação linfocitária precoce e mobilizado com CTX + G-CSF (mediana de 1580 versus 842 linfócitos/µL; P=0,001) e AraCAD + GCSF (mediana de 939 versus 493 linfócitos/µL; P=0,013). Esta redução não ocorreu ou foi menos pronunciada no subgrupo de pacientes com recuperação linfocitária precoce e mobilizado com CTX + G-CSF (CAL mediana pré-mobilização de 1990 versus pré-aférese de 2315 linfócitos/µL; P=0,65) e AraCAD + G-CSF (CAL mediana pré-mobilização de 40 RESULTADOS 1680 versus pré-aférese de 1066 linfócitos/µL; P=0,03). Somente um paciente mobilizado com ESHAP + G-CSF (12,5%) apresentou recuperação precoce da CAL. Entretanto, a diferença entre a CAL antes da mobilização e no momento da coleta não foi estatisticamente significativa nos pacientes mobilizados com ESHAP + G-CSF e DCEP + GCSF, provavelmente em decorrência do baixo número de pacientes nestas categorias. Todos os pacientes que receberam mobilização com G-CSF isoladamente apresentaram maiores valores da CAL no momento da aférese em comparação a CAL pré-mobilização (mediana de 2943 versus 1865 linfócitos/µL, respectivamente; P=0,04). Deve-se destacar, ainda, que a eficácia do regime de mobilização quimioterápico associou-se negativamente com a recuperação precoce da CAL após o transplante autólogo. Este fenômeno ocorreu, principalmente, em decorrência de um menor número de sessões de aférese nas mobilizações com alta eficácia. Por exemplo, 87,5% dos pacientes submetidos à mobilização com ESHAP + G-CSF realizaram uma única coleta de CTH. Por outro lado, os pacientes mobilizados com CTX + G-CSF foram submetidos a um maior número de sessões de aférese. 4.7 Análise da sobrevida livre de progressão e da sobrevida global A SLP mediana de todos os pacientes foi de aproximadamente dois anos, após um acompanhamento mediano de 1,6 anos. Não ocorreu uma diferença significativa da SLP conforme o diagnóstico (Figura 7a). A SG mediana de todos os pacientes não foi atingida e variou conforme o diagnóstico, sendo de 2,2 anos nos pacientes com LMA e não atingida nos pacientes com MM e linfoma (Figura 7b). A comparação da SG entre os pacientes com LMA e os demais pacientes apresentou significância estatística (P=0,005). 41 RESULTADOS Tabela 9 – Impacto do regime de mobilização na contagem absoluta de linfócitos pré-aférese Sem recuperação precoce Com recuperação precoce N CAL PM (mediana) CAL PA (mediana) P Aféreses (mediana) N CAL PM (mediana) CAL PA (mediana) P Aféreses (mediana) Todos os pacientes 48 1130/µL 769/µL <0,001 2 29 1905/µL 1785/µL 0,90 3 CTX + G-CSF 24 1580/µL 842/µL 0,001 2 11 1990/µL 2315/µL 0,65 2 AraCAD + G-CSF 16 939/µL 493/µL 0,013 2 10 1680/µL 1066/µL 0,03 3 ESHAP + G-CSF 7 833/µL 604/µL 0,17 1 1 2130/µL 1800/µL _ 3 DCEP + G-CSF 1 959/µL 923/µL _ 1 1 1330/µL 1650/µL _ 3 G-CSF _ _ _ _ _ 6 1865/µL 2943/µL 0,04 2 Abreviações: AraCAD, citarabina em alta dose; CAL, contagem absoluta de linfócitos; CTX, ciclofosfamida; DCEP, dexametasona, etoposide, ciclofosfamida e cisplatina; ESHAP, etoposide, metilprednisolona, citarabina e cisplatina; G-CSF, fator estimulador de colônias de granulócitos; N, número de pacientes; P, P valor; PA, pré-aférese; PM, pré-mobilização. 42 RESULTADOS 43 A comparação da SLP e da SG entre os grupos conforme a recuperação precoce da CAL não apresentou significância estatística (P=0,40 e P=0,38, respectivamente), mesmo após análise estratificada conforme o diagnóstico do paciente. a. Sobrevida livre de progressão (%) 100 LMA MM LINFOMA LMA-censurado MM-censurado LINFOMA-censurado 80 60 40 20 0 0 2 4 6 Tempo (anos) b. 100 Sobrevida global (%) 80 LMA MM LINFOMA LMA-censurado MM-censurado Linfoma-censurado 60 40 20 0 0 2 4 6 Tempo (anos) Figura 7 – Análise das curvas de sobrevida conforme o diagnóstico do paciente. (a) Sobrevida livre de progressão e (b) sobrevida global. DISCUSSÃO 5 DISCUSSÃO A quimioterapia em alta dose associa-se à imunosupressão severa, predispondo à ocorrência de complicações infecciosas e comprometendo a imunovigilância.33 A recuperação precoce da CAL após o TACTH tem sido reportada como um fator associado a melhores taxas de sobrevida em pacientes portadores de neoplasias hematológicas e não hematológicas.48-61 A reconstituição precoce da imunidade celular direcionada contra as células tumorais é provavelmente o mecanismo responsável pelo impacto positivo da recuperação linfocitária. Neste estudo, procurou-se caracterizar os fatores associados com a recuperação precoce da CAL após o transplante autólogo, objetivando compreender os mecanismos capazes de acelerar a reconstituição imunológica e, conseqüentemente, melhorar os resultados deste tipo de tratamento. Os resultados encontrados evidenciaram que a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo e a CAL pré-aférese são variáveis independentes associadas à recuperação precoce da CAL após o transplante. Uma forte colinearidade foi encontrada entre o número de linfócitos CD8+ e o número de linfócitos totais no enxerto autólogo. Outro modelo de regressão, excluindo a dose de linfócitos CD8+, identificou o número de linfócitos totais no enxerto e a CAL pré-aférese como variáveis preditivas para a recuperação linfocitária precoce. Estes resultados corroboram estudos prévios descrevendo o papel da dose de linfócitos no enxerto na recuperação da CAL após o TACTH.50,56,62,63 Contudo, nenhum destes estudos realizou a quantificação dos subtipos linfocitários no enxerto autólogo. Neste estudo, a dose de linfócitos CD8+ foi a única variável relacionada ao enxerto que permaneceu associada de maneira independente com a recuperação precoce da CAL na análise multivariável. A importância do número de linfócitos CD8+ no enxerto é reforçada por estudos prévios que demonstram a recuperação precoce deste subtipo linfocitário após o TACTH, uma vez que este processo 44 DISCUSSÃO não é comprometido pelo dano ao timo secundário à quimioterapia em alta dose.33,34 As células NK foram o único subtipo linfocitário do enxerto correlacionado à recuperação precoce da CAL em estudo de Porrata et al com sete pacientes submetidos ao TACTH de SP (três com MM e quatro com LNH).72 Nenhuma correlação foi identificada entre os linfócitos CD3+, CD4+, CD8+ ou CD19+ e a CAL no D+15 do transplante autólogo. Diferentemente, os resultados encontrados no presente estudo demonstraram que tanto os linfócitos CD4+ quanto os linfócitos CD8+ associaram-se à recuperação precoce da CAL. A exata relação entre os diferentes subtipos linfocitários presentes no enxerto e a recuperação linfocitária após o transplante autólogo demanda mais estudos. Demonstrou-se, neste estudo, que uma dose de linfócitos CD8+ superior a 0,1 x 109/kg é o melhor ponto de corte para predizer a recuperação precoce da CAL. É razoável presumir que a interação entre os diferentes subtipos linfocitários seja responsável pelo efeito positivo da recuperação linfocitária precoce no TACTH, sinalizando uma melhor reconstituição imunológica, podendo este fenômeno ser previsto pelo número de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo. Muitos estudos buscaram acelerar a reconstituição imunológica após o transplante autólogo, objetivando melhorar os resultados deste tipo de tratamento.73,74 Um estudo terapêutico piloto avaliou o efeito da transferência adotiva de linfócitos T co-estimulados em pacientes com LNH submetidos ao transplante autólogo de células CD34+ purificadas.74 A dose mediana de linfócitos T CD3+ transferida de maneira adotiva foi de 0,34 x 108/kg e acelerou a reconstituição numérica e funcional dos linfócitos T. O estudo anterior demonstrou uma correlação positiva entre o número de linfócitos CD8+ infundido e a CAL no D+30 do TACTH. De maneira interessante, alguns pacientes desenvolveram uma síndrome de linfocitose associada à regressão tumoral. Os resultados encontrados neste estudo demonstram que o conteúdo de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo encontra-se independentemente associado à mobilização com 45 DISCUSSÃO G-CSF isoladamente, à CAL pré-aférese e ao número de sessões de aférese realizado para a coleta de CTH. De maneira interessante, a correlação entre o conteúdo de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo e o número de aféreses foi cerca de duas vezes maior em comparação à CAL pré-aférese. O impacto da CAL pré-aférese e do número sessões de aféreses sobre o conteúdo de linfócitos no enxerto autólogo foi descrito separadamente em trabalhos anteriores.62,63,75 Entretanto, este é o primeiro estudo analisando estas variáveis conjuntamente e descrevendo um maior impacto do número de sessões de aférese sobre o conteúdo de linfócitos no enxerto autólogo. Estudos anteriores demonstraram, em pacientes com MM, que a mobilização de CTH com o GM-CSF isoladamente associou-se a um maior valor da CAL pré-aférese em comparação à mobilização com ciclofosfamida seguida de G-CSF ou GM-CSF.62 Os resultados deste estudo também demonstram o impacto do regime de mobilização com quimioterapia procedida do G-CSF na redução da CAL pré-aférese. De maneira interessante, esta redução foi significativa somente no subgrupo de pacientes que não apresentou recuperação precoce da CAL após o TACTH. A possível interpretação deste achado é a de que a CAL pré-mobilização foi menor nos pacientes sem recuperação linfocitária precoce, e que a mobilização com quimioterapia associada ao G-CSF reduziu mais ainda a CAL no momento da aférese. Este fenômeno foi menos pronunciado no subgrupo de pacientes com recuperação linfocitária precoce, provavelmente devido à maior número de linfócitos no momento da mobilização com quimioterapia associada ao G-CSF. Por outro lado, a mobilização com G-CSF aumentou a CAL no momento da aférese, apesar do reduzido numero de pacientes submetidos a este regime de mobilização. Analisando conjuntamente estes resultados, pode-se sugerir que a mobilização com o GCSF isoladamente resulta em um maior valor da CAL no momento da aférese e que a mobilização com quimioterapia procedida do G-CSF reduz a CAL pré-aférese, 46 DISCUSSÃO especialmente em pacientes com um reduzido número de linfócitos no momento da mobilização. Um estudo retrospectivo realizado em pacientes com LNH mobilizados com G-CSF isoladamente demonstrou uma associação do intervalo entre o último ciclo de quimioterapia e a aférese com a CAL pré-aférese e a dose de linfócitos no enxerto autólogo.64 Pacientes com um intervalo ≥55 dias apresentaram uma maior DL, resultando em melhores taxas de SLP e de SG. Este resultado é compatível com os achados deste estudo, sugerindo que a mobilização utilizando quimioterapia seguida do G-CSF deva ser evitada em pacientes com uma baixa CAL. Uma alternativa consiste na utilização de outros regimes de mobilização, como o AMD3100, um antagonista do receptor CXCR4. O AMD3100 em associação com o G-CSF resultou na obtenção de uma maior DL no enxerto autólogo em pacientes com LNH, associando-se a melhores resultados de SLP e SG.76 Outra possibilidade no futuro poderá ser a utilização de citocinas e/ou a transferência adotiva de linfócitos T para pacientes com uma baixa CAL no momento da mobilização.77 A maioria dos estudos avaliando o impacto da recuperação precoce da CAL no TACTH definiu a recuperação linfocitária precoce como uma CAL ≥500 células/μL no D+15. Neste estudo, a recuperação precoce da CAL foi definida como uma CAL ≥500/μL no D+12 do TACTH. Uma das principais limitações deste estudo consistiu na heterogeneidade dos pacientes, comprometendo a análise do impacto da recuperação precoce da CAL na SLP e na SG. Porém, a análise da sobrevida não foi um objetivo deste estudo, uma vez que inúmeros trabalhos anteriores descreveram exaustivamente o impacto da recuperação precoce da CAL nas taxas de sobrevida. 48-61 O efeito imunológico antitumoral do TACTH ainda é uma questão em aberto. Acredita-se, ainda, que o único mecanismo de ação do TACTH decorre da utilização da quimioterapia em alta dose e que o transplante alogênico é o único cenário no qual um 47 DISCUSSÃO efeito enxerto-contra-o-tumor possa ocorrer. Os resultados de muitos estudos demonstrando que a recuperação linfocitária precoce após TACTH associa-se a melhores taxas de sobrevida em pacientes com câncer sugerem que o status imunológico do paciente no momento do transplante autólogo seja um fator crucial na determinação dos resultados do tratamento. Rosinski et al demonstraram uma associação independente entre o número de linfócitos CD4+ antes do transplante autólogo e as taxas de SLP e de SG.78 Esta associação ocorreu especificamente com o número de linfócitos T de memória (CD4+CD45RA-CD62L-). Não foi evidenciada nenhuma associação com o número de linfócitos T naïve, sugerindo a existência de uma população de linfócitos T antitumorais que pode apresentar papel no controle do tumor após o TACTH. Um maior número de células dendríticas antes e após o transplante autólogo também demonstrou associação com melhores taxas de sobrevida em pacientes portadores de LNH submetidos ao TACTH.79 O efeito enxerto-contra-o-tumor do TACTH provavelmente depende de dois elementos principais: a transferência adotiva de linfócitos T autólogos antitumorais e a linfodepleção eficaz do receptor.80 A imunomodulação deve ser introduzida como um dos mecanismos de ação do transplante autólogo, devendo ser considerada em todas as etapas do TACTH (Tabela 10). A importância da transferência adotiva de linfócitos T antitumorais foi demonstrada em uma coorte de crianças com LMA submetidas ao transplante autólogo de CTH obtidas de MO.81 A avaliação molecular seriada através da técnica de fingerprinting demonstrou que a persistência de clonotipos de linfócitos T anti-leucemia associou-se à remissão contínua após o transplante. Por outro lado, todos os pacientes que desenvolveram níveis indetectáveis de linfócitos T antitumorais após o TACTH evoluíram com recaída da LMA. A análise fenotípica das células T antitumorais evidenciou que mais de 85% das células efetoras eram linfócitos CD8+. Modelos experimentais em camundongo demonstraram que 48 DISCUSSÃO Tabela 10 – Implicações da imunomodulação no transplante autólogo para o tratamento de neoplasias malignas CONCEITO ATUAL • Mobilização direcionada unicamente Mobilização POSSÍVEIS INCLUSÕES para • as Mobilização deve aumentar o número de células antitumorais e células CD34+ reduzir o número de células imunosupressoras Coleta • Alvo único para a dose • de células CD34+ Armazenamento • Criopreservação Considerar a dose dos subtipos linfocitários coletados • Considerar manipulação ex-vivo dos linfócitos • Condicionamento • Criação de condições ideais para a Citoredução tumoral proliferação periférica e homeostática eliminação das células imunosupressoras • Pós-transplante Reconstituição • Considerar uso de citocinas para imunológica não acelerar a reconstituição manipulada imunológica (IL-7, IL-15) a linfodepleção severa secundária à mieloablação resultou na expansão dos linfócitos T CD8+ antitumorais transferidos de maneira adotiva, independentemente da estimulação prévia através de vacinação.82 Esta expansão dependeu das CTH administradas após a mieloablação. Achado semelhante ocorreu em pacientes portadores de MM submetidos ao transplante autólogo procedido da infusão precoce de linfócitos T autólogos expandidos ex vivo.83 As respostas contra os antígenos do citomegalovírus e da enterotoxina B estafilocócica ocorreram independentemente de vacinação específica prévia. Desta forma, é razoável presumir que a expansão dos linfócitos T antitumorais não seja um fenômeno incomum após o transplante autólogo, desde que estas células estejam presentes no enxerto. Assim, a mobilização de CTH não deve objetivar unicamente a coleta de um 49 DISCUSSÃO número adequado de células CD34+, mas deve buscar, também, a coleta de linfócitos T antitumorais. Entretanto, a única evidência objetiva disponível até o momento é a importância da dose de linfócitos no enxerto autólogo. Um cenário mais complexo provavelmente surgirá. Por exemplo, a coleta de linfócitos T regulatórios provavelmente deve ser evitada, devido à capacidade deste subtipo linfocitário em inibir a resposta antitumoral. Condomines et al demonstraram que a mobilização com alta dose de ciclofosfamida associada ao G-CSF resultou na coleta de linfócitos T regulatórios funcionais no enxerto autólogo.84 Assim, uma melhor compreensão do papel dos diferentes subtipos linfocitários na reconstituição imunológica é necessária para que se possa elaborar o modelo ideal do enxerto autólogo para o tratamento de neoplasias. A linfodepleção secundária ao regime de condicionamento promove uma série de alterações capazes de promover a resposta antitumoral do TACTH, como: a criação de “espaço” para a proliferação das células infundidas, a ativação da via inata da resposta imune (principalmente pela ativação de receptores toll-like), a liberação de citocinas estimuladoras da resposta antitumoral (GM-CSF, IL-1β, IL-7, IL-15, IL-21, etc), a PHP dos linfócitos transferidos, o aumento na freqüência de células CD8+ contra antígenos tumorais, a infiltração tumoral por células efetoras e a eliminação de linfócitos T reguladores.80,85 O efeito enxerto-contra-o-tumor no TACTH é, provavelmente, mais eficaz em determinados tumores e em pacientes apresentando um controle razoável da doença no momento do transplante, assemelhando-se ao que é descrito no transplante alogênico de CTH.86 50 CONCLUSÕES 6 CONCLUSÕES Em suma, os resultados deste estudo demonstram que: • a dose de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo e a CAL pré-aférese encontram-se independentemente associadas com a recuperação linfocitária precoce após o transplante autólogo; • uma dose mínima de linfócitos CD8+ no enxerto autólogo de 0,1 x 109/kg pode ser utilizada para predizer a recuperação precoce da CAL após o TACTH; • o número de linfócitos CD8+ no enxerto depende diretamente do número de sessões de aférese e da CAL no momento da aférese; • a mobilização com quimioterapia procedida de G-CSF reduz acentuadamente a CAL pré-aférese, especialmente em pacientes com um baixo número de linfócitos no momento da mobilização. Estudos prospectivos objetivando a coleta de um maior número de linfócitos T autólogos antitumorais no contexto do TACTH são desejáveis e necessários para confirmar o princípio da utilização da dose de linfócitos CD8+ como um marcador de bom prognóstico. A maximização do efeito enxerto-contra-o-tumor do transplante autólogo poderá resultar na obtenção de melhores resultados clínicos desta modalidade terapêutica. 51 REFERÊNCIAS 7 REFERÊNCIAS 1. DeVita VT Jr, Serpik AA, Carbone PP. Combination chemotherapy in the treatment of advanced Hodgkin’s disease. Ann Intern Med. 1970;73:881-95. 2. Skiper HE. Combination therapy: Some concepts and results. Cancer Chemother Rep. 1974;4:137-45. 3. Hryniuk WM, Bush H. The importance of dose intensity in chemotherapy of metastatic breast cancer. J Clin Oncol. 1984;2:1281:8. 4. Appelbaum FR, Herzig GP, Ziegler JL, Graw RG, Levine AS, Deisseroth AB. Successful engraftment of cryopreserved autologous bone marrow in patients with malignant lymphoma. 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