UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA TERESINHA TEIXEIRA DE SOUSA DETECÇÃO DE BOCAVÍRUS HUMANO (HBoV) EM AMOSTRAS DE FEZES DE CRIANÇAS COM GASTROENTERITE AGUDA NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL Orientadora Profa. Dra Divina das Dôres de Paula Cardoso Dissertação de Mestrado GOIÂNIA -GO 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA TERESINHA TEIXEIRA DE SOUSA DETECÇÃO DE BOCAVÍRUS HUMANO (HBoV) EM AMOSTRAS DE FEZES DE CRIANÇAS COM GASTROENTERITE AGUDA NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL. Dissertação de Mestrado submetida ao PPGMTSP/UFG como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Medicina Tropical, na área de concentração em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Orientadora: Profa. Dra Divina das Dôres de Paula Cardoso GOIÂNIA -GO 2011 iii “Ninguém pode marchar no caminho alheio, na estrada que não é sua. Comparar o seu caminho com a vereda do vizinho ou com a estrada do amigo é tempo perdido. Cada qual tem a sua jornada e deve chegar ao fim. Com a certeza da missão cumprida”. (Walcheron) iv DEDICATÓRIA À minha mãe que um dia indagada, aos 60 anos de idade, sobre o seu interesse em cursar letras na universidade e de seu empenho com os estudos dos filhos; ela escreveu: “O tempo inexorável foi passando, os filhos crescendo e os sonhos também, principalmente, o de ter um poeta na família. Mesmo com a perda de um filho, não esmoreci porque acho que vale a pena. Os pendores manifestaram-se neles, voltados para as artes, música, literatura e o meu entusiasmo e alegria aumentavam. Como não sou imediatista, pois as pequenas frustrações ensinaram-me que, a paciência e o saber esperar, são atributos de pais, já que o ser humano que põem no mundo, é o mais demorado para dar fruto, e se o quisermos sazonados, alicerçados em bases seguras e estáveis, temos que nos enclausurarmos numa espera muda e os anseios alojados no recôndito da alma. E confiar.“ Ernani J. Sousa (in memorian) v AGRADECIMENTO ESPECIAL À minha querida professora Divina das Dôres de Paula Cardoso pela confiança e carinho em todos esses anos. Tive a oportunidade e o privilégio singular de sorver conhecimentos em convívio maternal, atestando sua capacidade de ensino e dedicação. Toda minha gratidão e amizade a você, uma pessoa de brilho tão próprio e intenso, que sempre fascina. “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende” João Guimarães Rosa vi AGRADECIMENTOS À Profa Dra Fabíola Souza Fiaccadori pelo acolhimento carinhoso, exemplo de profissionalismo, amizade e apoio para a realização deste trabalho. À Profa Dra Menira Borges de Lima Dias e Souza, pela atenção dispensada sempre com sorrisos, competência e empenho na concretização deste trabalho. À Profa Dra Ana Maria Tavares Borges, pela ajuda inestimável no laboratório de virologia humana, de convivência sempre amigável e agradável. À Profa Dra Wilia Marta Elsner Diederichsen de Brito, pela cordialidade e amizade de tantos anos. À Profa Dra Regina Maria Bringel Martins e Profa Dra Megmar Aparecida dos Santos Carneiro pelas orientações e convivência. À Tâmera, colega de pós-graduação, pela amizade, companheirismo e ajuda nos momento de dificuldades, grata por cada dia de convívio. vii SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..........................................................................viii ÍNDICE DE FIGURAS ...........................................................................................................x ÍNDICE DE QUADROS .........................................................................................................xi RESUMO................................................................................................................................xiii SUMMARY............................................................................................................................xiv 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1 1.1 Considerações Gerais........................................................................................................1 1.2 Bocavírus Humano (HBoV) .............................................................................................2 1.2.1 Histórico ................................................................................................................2 1.2.2 Classificação..........................................................................................................3 1.2.3 Estrutura morfológica, genômica e protéica..........................................................5 1.2.4 Replicação Viral ....................................................................................................7 1.2.5 Patogênese viral e sintomatologia .........................................................................9 1.2.6 Diagnóstico laboratorial ......................................................................................11 1.2.7 Epidemiologia......................................................................................................12 1.2.8 Imunidade ............................................................................................................14 1.2.9 Tratamento, prevenção e controle .......................................................................14 2. JUSTIFICATIVA ...............................................................................................................16 3. OBJETIVOS .......................................................................................................................17 3.1 Objetivo Geral.................................................................................................................17 3.2 Objetivos Específicos .....................................................................................................17 4. MATERIAL E MÉTODOS ...............................................................................................18 4.1 Material de estudo...........................................................................................................18 4.2 Metodologia ....................................................................................................................19 4.2.1 Detecção de HBoV-1...........................................................................................19 4.3 Análise estatística ...........................................................................................................22 5. RESULTADOS ...................................................................................................................23 6. DISCUSSÃO .......................................................................................................................27 7. CONCLUSÕES...................................................................................................................30 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................31 9. ANEXOS .............................................................................................................................41 viii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AV – Aichi vírus CnMV – Canine minute virus BPV – Parvovírus bovino HBoV 1-4 – Bocavírus humano tipos 1 a 4 Da - Daltons DEPC – Dietilpirocarbonato DNA – Ácido desoxirribonucléico dNTP – Desoxirribonucletídeo trifosfato EDTA – Ácido etilenodiainotetracético g – Grama g – Unidade Média de Força Relativa HCL – Ácido clorídrico IF – Imunofluorescência IgG – Imunoglobulina G IgM – Imunoglobulina M Kb – Kilobases KCl – Cloreto de Potássio KDa – Kilodaltons M – Molar mg – miligrama µg – micrograma mL - Mililitro µL - Microlitro mM – milimolar nm – Nanômetro mRNAs – Ácido ribonucléico mensageiro NS1/NP1 – Proteína não-estrutural 1 NLS – Sítios de localização nuclear NES – Sequência de exportação nuclear OH - Hidroxila RLA – Região de leitura aberta ix PBS – Salina fosfatada tamponada pb – Pares de bases PCR – Reação em cadeia da polimerase pH – Potencial hidrogeniônico PLA2 – Fosfolipase A2 q.s.p. – Quantidade suficiente para RNA – Ácido ribonucléico RNAse – Ribonuclease RVA – Rotavírus do grupo A RT-PCR - Reverse Transcriptase-Polymerase Chain Reaction SRO – Soluçôes de re-hidratação oral ST1 e ST2 – Amostras de bocavírus / Stockholm (amostras 1 e 2 ) TRIS – Tris (hidroximetil) aminometano U – Unidade de atividade enzimática UFG – Universidade Federal de Goiás VP1/VP2 – Proteínas do capsideo 1 e 2 o C – Graus Centígrados % - Percentagem x ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - A família Parvoviridae com seus principais representantes ..............................04 Figura 2 - Foto microscopia eletrônica de HBoV. Vírus de 25mm e presença de capsídeo icosaédrico ..........................................................................................................05 Figura 3 - Reconstrução em 3D do capsídeo icosaédrico do bocavírus. .............................05 Figura 4 - Ilustração esquemática das estruturas 3’ e 5’ de fita simples de DNA e as estruturas de “hairpins”. .....................................................................................06 Figura 5 - Esquema mostrando o genoma do bocavírus com aproximadamente 5,3 kb, com as regiões codificadoras para a proteína não estrutural NS1, proteína NP1 e duas proteínas capsídeo VP1/VP2 ...................................................................06 Figura 6 - Eletroforese em gel de agarose (1,5%). Linha 1. Padrão de peso molecular (100pb DNA ladder). Linhas 2 e 3. Amostras positivas para HBoV-1. Linha 4. Controle positivo e Linha 5. Controle negativo para HBoV-1. ........................23 xi ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1- Sequência dos iniciadores utilizados para a PCR, para detecção do material genômico de HBoV-1 ........................................................................................ 20 Quadro 2- Mistura de reação utilizada na reação de amplificação (PCR) para detecção de HBoV-1 ............................................................................................................... 21 xii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – A prevalência do HBoV-1 em amostras fecais de crianças com gastroenterite de acordo com a cidade de coleta (n=762). ................................23 Tabela 2 – Distribuição percentual de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças com gastroenterite da região Centro-Oeste do Brasil em relação ao gênero. ..........................................................................................................24 Tabela 3 - Percentual de positividade para HBoV-1 em amostras fecais coletadas de crianças com gastroenterite aguda em três cidades da região Centro-Oeste em relação à faixa etária ....................................................................................24 Tabela 4 - Distribuição de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças com gastroenterite aguda da região Centro-Oeste em relação aos anos de coleta – período de 1994 a 2004 ........................................................................25 Tabela 5 - Distribuição de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças de Goiânia, Campo Grande e Brasília com quadro clínico de gastroenterite aguda em relação aos meses do ano – período de 1994 a 2004 .........................25 Tabela 6 - Distribuição da co-infecção do HBoV-1 em ocorrência simultânea a outros agentes virais causadores de gastroenterite aguda em crianças de cidades da região Centro-Oeste nos anos de 1994, 1998, 1999 e 2003 ..............................26 xiii RESUMO A gastroenterite aguda é uma das doenças mais comuns em todo o mundo e afeta particularmente crianças menores de cinco anos de idade. Os vírus são os agentes etiológicos mais prevalentes, principalmente os rotavírus do grupo A, seguido por calicivírus, adenovírus entéricos e astrovírus. Não obstante, uma grande parte dos casos de gastrenterite considerada de origem viral permanece sem a definiçao do agente. Neste contexto, um novo vírus tem sido tentativamente incluido como agente de gastroenterite denominado bocavírus humano (HBoV). Com esse estudo objetivou-se avaliar a frequência de detecção do HBoV-1 em 762 crianças menores de cinco anos de idade provenientes de três cidades da região Centro-Oeste, as quais apresentavam quadro de gastroenterite aguda no periodo de 1994 a 2004. Para tal, foram analisadas amostras de fezes utilizando como metodologia de detecção viral a reação em cadeia pela polimerase com iniciadores específicos desenhados para a região codificante da proteína não estrutural 1 (NS1). Foi observado que 5,7% das amostras foram positivas para HBoV-1 não havendo diferença no índice nas três cidades do estudo. A análise da positividade global em relação ao gênero das crianças estudadas mostrou índice de 5,7% e 5,8% para o sexo masculino e feminino, respectivamente, o que não foi estatísticamente significativo. Considerando a faixa etária da população do estudo foi observado detecção do vírus em crianças de até 48 meses, sem haver diferença significativa entre as faixas etárias. Houve detecção viral em todos os meses do ano e considerando a sazonalidade foi observado percentual de positividade de 5,4% e 6,3% para as estações de chuva e seca respectivamente. A co-infecção foi observada em 14 (31,8%) das 44 amostras positivas para HBoV-1. Das 14 amostras, nove também eram positivas para o Rotavírus grupo A e cinco com o Aichi vírus. Este estudo é o primeiro realizado na região Centro-Oeste visando detecção do HBoV em amostras de fezes de crianças com gastrenterite e o segundo no Brasil, o qual mostrou ocorrência do agente com índice semelhante a de outros estudos. Não obstante torna-se necessário a realização de outros estudos inclusive de maior abrangência para a definição de seu papel como agente etiológico na gastroenterite. xiv SUMMARY Acute gastroenteritis is one of the most common diseases around the world, affecting mainly children under five years of age. Viruses are the most prevalent etiological agents, especially the Rotavirus A, followed by caliciviruses, enteric adenoviruses, and astroviruses. However, in a considerable number of the gastroenteritis cases considered of viral origin, the etiological agent remains undefined. A new virus has been tentatively included as the etiological agent of gastroenteritis and was designated Human Bocavirus (HBoV). Therefore, this study aimed at the evaluation of the detection rate of HBoV-1 in 762 children less than five years of age, from three cities in the Central-West Region, who presented acute gastroenteritis symptoms, during the period from 1994 to 2004. For this, the samples were tested by polymerase chain reaction (PCR) for the detection of viral DNA, using specific primers designed for the region coding for the Non-structural protein 1 (NS1). It was observed that 5.7% of the samples were positive for HBoV-1, with no difference in the positivity rate being observed when the three cities were compared. The analyses of the global positivity rate regarding the children’s gender showed detections rates of 5.7% and 5.8% for males and females, respectively, with no statistical significance observed. Considering the age of the population of the study it was observed that the virus was detected in children up to 48 months old, with no statistically significant differences among the age groups. Viral detection occurred all year round, and considering viral seasonality it was observed a positivity rate of 5.4% and 6.3% for the rainy and dry season, respectively. Co-infection was observed in 14 (31.8%) of the 44 HBoV-1 positive samples. From the 14 samples, nine were also positive for Rotavirus A and five for Aichi virus. This is the first study conducted in the Central-West region aiming at HBoV-1 detection in fecal samples of children with acute gastroenteritis and the second conducted in Brazil, which showed similar detection rates to other studies. It is important to conduct more comprehensive studies to define the role of HBoV as gastroenteritis etiological agent. 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Gerais A gastroenterite aguda permanece como uma das infecções que mais frequentemente acomete a população mundial (Glass et al. 2001). É considerada uma causa comum e importante de morbidade e mortalidade, em todo o mundo. A associação de mortes devido à gastroenterite aguda e suas complicações causam de quatro a seis milhões de óbitos na população mundial, sendo considerada como a quinta causa de morte no mundo (Clark & McKendrick 2004, Lorgelly et al. 2007, WGO 2008). A doença afeta todas as faixas etárias, acometendo principalmente crianças menores que cinco anos de idade. A incidência de morte por gastroenterite aguda é elevada em crianças menores de um ano e tende a diminuir em outros grupos de idade (Stein et al. 2004). Nos países em desenvolvimento, outras consequências diretas da gastroenterite aguda infantil incluem a desnutrição, retardo do crescimento e comprometimento do desenvolvimento cognitivo (WGO 2008). Em países desenvolvidos é uma doença caracterizada por surtos, acometendo a população em todas as faixas etárias, onde as crianças e os idosos apresentam a maior severidade pela síndrome, com pelo menos um episódio por ano levando a elevados índices de hospitalizações (Glass et al. 2001, Black et al 2003, King et al 2003, Clark & Mckendrick 2004). A etiologia da gastroenterite aguda é presumivelmente infecciosa, causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas. Sendo que, os vírus representam o agente causal mais frequente em todo o mundo. Na grande maioria, os episódios de diarréia viral apresentam-se na forma de surtos onde a transmissão é principalmente fecal- oral ou pessoa-pessoa (Clark & Mckendrick 2004). Dentre os vírus, os rotavírus do grupo A (RVA) são os principais agentes etiológicos, responsabilizados por 29 a 45% das internações, com 111 milhões de episódios a cada ano e tendo como conseqüência 600.000 óbitos entre crianças abaixo de cinco anos (Parashar et al. 2006). Adicionalmente estima-se que estes sejam responsáveis por 1,5 a 2,5 milhões de mortes por ano entre as crianças menores de cinco anos, a maioria ocorrendo em países em desenvolvimento (Parashar et al. 2003, Wilhelmi et al. 2003, Clark & Mckendrick 2004). Outros vírus também se destacam como responsáveis pela síndrome como os astrovírus, adenovírus entéricos, norovírus e sapovírus (Atmar et al. 2001, Parashar et al. 2003). Adicionalmente, graças às novas técnicas de caracterização molecular tem sido 2 possível o reconhecimento de novos vírus como possíveis agentes das gastroenterites como o Aichi vírus (AV), coronavírus, torovírus e picobirnavírus (Wilhelmi et al. 2003). Em 2005, um novo vírus foi descrito na Suécia por Allander e colaboradores utilizando a técnica de clonagem, sequenciamento e análise filogenética de amostras do trato respiratório de crianças com infecções do trato respiratório inferior. O vírus foi chamado inicialmente de bocavírus humano (HBoV) considerando sua semelhança filogenética com os outros dois vírus, representantes do gênero Bocavirus, família Parvoviridae: “canine minute virus” (CnMV) e parvovírus bovino (BPV) (Allander et al. 2005). Em estudos subsequentes, observando pacientes com febre e diarréia associados ou não com sintomas respiratórios, o HBoV foi detectado em fezes de crianças, numa frequência semelhante à que foi relatada em amostras respiratórias (Albuquerque et al. 2007, Arnold et al. 2006, Lau et al. 2007, Lee et al. 2007, Monteny et al. 2007, Neske et al. 2007 , Qu et al. 2007 , Vicente et al. 2007). Não obstante, embora os achados, a confirmação de seu envolvimento etiológico na gastroenterite ainda não está completamente estabelecida, indicando que mais estudos são necessários para este esclarecimento (Lee et al. 2007, Campe et al. 2008). 1.2 Bocavírus Humano (HBoV) 1.2.1 Histórico O bocavírus humano (HBoV) foi identificado pela primeira vez em 2005, em Estocolmo, Suécia (Allander et al. 2005). Duas amostras com sequência similares (amostras ST1 e ST2) foram detectadas e a análise do genoma completo confirmou sua relação com os parvovírus de animais CnMV e BPV. A identificação se deu aleatoriamente a partir da análise de 540 amostras de aspirados respiratórios visando investigar a presença de possíveis agentes etiológicos. Estas amostras eram provenientes de crianças hospitalizadas devido infecções respiratórias no período de novembro de 2003 a outubro de 2004. A detecção viral ocorreu quando da análise por triagem molecular não rotineira de amostras por imunofluorescência (IF), que incluíam a pesquisa para vírus influenza e/ou respiratório sincicial. As amostras foram submetidas à técnica de extração de ácidos nucléicos, os quais foram amplificados por reação em cadeia pela polimerase. Os produtos da amplificação foram purificados e ligados ao vetor E. coli TOP-10 ( Blunt PCR Cloning Kit, invitrogen), cujos produtos foram clonados e seqüenciados (Allander et al. 2005). 3 Utilizando-se da bioinformática houve a classificação e formatação das sequências de leituras e, ao final, foram encontradas sete sequências virais, das quais quatro eram vírus RNA e três de vírus DNA. Dentre estas, foram encontradas sequências de parvovírus que não apresentavam similaridades com amostras depositadas no banco de dados (Allander et al. 2005). A análise filogenética mostrou presença de um vírus semelhante à dos parvovírus, e que era próxima do CnMV e ao do BPV, ambos pertencentes ao gênero Bocavírus, família Parvoviridae. O vírus foi chamado bocavírus humano (HBoV), e definido como de DNA de fita simples. É o segundo representante da família Parvoviridae envolvido com infecções em seres humanos, considerando que o único até então reconhecido era o parvovírus B19, agente etiológico do eritema infeccioso (Berns & Parrish 2007). Adicionalmente, desde que o HBoV foi identificado, vários estudos se seguiram em todo o mundo demonstrando a detecção do agente em amostras do trato respiratório, de pacientes que apresentavam sintomas de bronquiolite, pneumonia e asma (Chung et al. 2006, Ma et al. 2006, Manning et al. 2006, Sloots et al. 2006, Wieissbrich et al. 2006, Qu et al. 2007, Regamey et al 2007), o vírus também foi detectado em pacientes com gastroenterite aguda com uma frequência entre dois a 25% dos pacientes (Albuquerque et al. 2007, Vicente et al. 2007, Arthur et al. 2009). 1.2.2 Classificação O HBoV pertence à família Parvoviridae, subfamília Parvovirinae, gênero Bocavírus (ICTVdB 2008). A família Parvoviridae é composta por duas subfamílias (Figura 1), a Densovirinae a qual comporta vírus que infectam invertebrados e que apresenta quatro gêneros assim denominados: Densovirus, Iteravirus, Brevidensovirus e Pefudensovirus, e a subfamília Parvovirinae, que contém vírus que infectam vertebrados, composta por cinco gêneros: Bocavirus, Parvovirus, Eritrovirus, Dependovirus e Amdovirus (Berns & Parrish 2007). Achados recentes mostram que mais de uma espécie de HBoV infecta humanos os quais estão provisoriamente denominados de HBoV-1 (Allander et al. 2005), HBoV-2 (Kapoor et al. 2009), HBoV-3 (Arthur et al. 2009) e HBoV-4 (Kapoor et al. 2010). Não obstante não se tem ainda informações que permitam classificá-los em tipos ou genótipos (Chow et al. 2009). Com mais de 100 estudos baseados na análise filogenética e no alinhamento dos aminoácidos do HBoV existentes até agora, observa-se a presença de quatro espécies de bocavírus geneticamente caracterizadas HBoV-1, HBoV-2, HBoV-3 e HBoV-4. 4 Foi observado um elevado grau de diversidade genética entre os bocavírus identificados até o momento. Kapoor e colaboradores sugerem a possibilidade que o HBoV-1 possa ter evoluído de um bocavírus entérico após adquirir um tropismo favorecido pelo trato respiratório, questão que exigirá mais estudos epidemiológicos. Outros estudos compararam a diversidade intra-espécies do HBoV-1, 2 e 3 (Kapoor et al . 2010, Chieochansin et al 2010). A análise genômica do HBoV-2 têm entre 67% a 80% de homologia em relação ao HBoV-1, a do HBoV-3 mostra homologia próxima do HBoV-1 com 87% de similaridade na codificação de proteínas não-estruturais NS1 e NP1, mas é mais semelhante, em torno de 77%, ao HBoV-2 nas regiões que codificam VP1/VP2. (Chow et al. 2009, Cheng et al. 2011). Análises filogenéticas futuras são necessárias para determinar a taxonomia correta desses vírus (Arthur et al. 2009) aliadas a estudos também de natureza epidemiológica e clínica o que poderá vir a confirmar o envolvimento do bocavírus humano como patógeno humano (Schildgen et al. 2008, Chow et al. 2009). Densovirus Densovirinae (Membros que infectam artrópodes) Iteravirus Brevidensovirus Pefudensovirus Parvovírus canino (CPV) Minute vírus de camundongo (MVM) Parvovirus Vírus da panleucopenia felina (FPV) Parvovírus de galinha (ChPV) Parvoviridae Parvovírus de hamster (HaPV) Parvovirus B19 Eritrovirus Simian parvovirus (SPV) Dependovirus Parvovirinae Amdovirus Adeno-associado vírus Aleutian mink disease virus Parvovírus Bovino (BPV) Canine minute vírus(CnMV) Bocavirus Bocavírus Humano (HBoV-1, HBoV-2, HBoV-3 e HBoV-4) Bocavírus de Gorilas (GBoV) Bocavírus de Suíno (PBoV) Figura 1 - A família Parvoviridae com seus principais representantes Fonte: Foulongne 2009 (modificada) 5 1.2.3 Estrutura morfológica, genômica e protéica Os vírus pertencentes à família Parvoviridae são vírus pequenos e não possuem envoltório lipídico. Apresentam nucleocapsídeo de simetria icosaédrica com diâmetro de 18 a 26 nm (Figura 2). Figura 2 - Foto microscopia eletrônica de HBoV. Vírus de 25mm e presença de capsídeo icosaédrico Fonte: Santos, 2010. Os capsídeos destes vírus apresentam pequenas protuberâncias e grandes depressões circundando o eixo central, que são admitidos serem essenciais para a sua biologia. Provavelmente como determinantes de tropismo no hospedeiro, ligantes de receptores e importantes sítios de ligação de anticorpos, como também para o desenvolvimento de inibidores estruturais específicos (Figura 3) (Berns & Parrish 2007). Figura 3 - Reconstrução em 3D do capsídeo icosaédrico do bocavírus. Fonte: Gurda, 2010 6 O genoma do vírus da família Parvoviridae é uma molécula de DNA de fita simples. O genoma completo apresenta aproximadamente entre 4000 a 6000 nucleotídeos. Possuem em suas duas extremidades estruturas complexas que formam “harpins” resultantes de várias sequências palindrômicas presentes nestas regiões do genoma (Astell et al. 1985, Módena 2009). Estas são formações da fita simples de DNA essenciais na replicação do genoma viral dos membros da família Parvoviridae, mas que ainda não foram caracterizadas no bocavírus humano (Figura 4). (Schildgen et al. 2008). Figura 4 - Ilustração esquemática das estruturas 3’ e 5’ de fita simples de DNA e as estruturas de “hairpins”. Fonte: Astell 1985 (modificada) Figura 5 - Esquema mostrando o genoma do bocavírus com aproximadamente 5,3 kb, com as regiões codificadoras para a proteína não estrutural NS1, proteína NP1 e duas proteínas capsídeo VP1/VP2. Fonte: Foulongne 2009. 7 Embora não completamente caracterizado, o genoma do bocavírus humano é composto também por uma única fita de DNA, linear de polaridade positiva ou negativa (Allander et al. 2005, Schildgen et al. 2008). Estudos da polaridade do bocavírus confirmam sua replicação em fita simples de DNA e com 87,5% das amostras investigadas tiveram sentido negativo em suas montagens (Böhmer et al. 2009). Seu tamanho está estimado em 5.293 nucleotídeos (Schildgen et al. 2008). O genoma do HBoV apresenta três regiões de leitura aberta (RLA), sendo semelhante a dos BPV e CnMV (Figura 5). A primeira e a terceira RLA codificam para as proteínas não estruturais NS1 e NP1, respectivamente e a segunda para as duas proteínas do capsídeo (VP1 e VP2) (Allander et al. 2005). Outros parvovírus ainda codificam para uma terceira proteína estrutural, a VP3, o que não foi observado para os bocavírus humanos (Chow & Esper 2009). A função da NS1 no HBoV ainda é desconhecida, mas no CnMV a NS1 é uma proteína multifuncional, essencial para a replicação do DNA viral (Sun et al. 2009). Embora também não elucidado para o HBoV, para outros parvovírus a VP1 possui peso molecular de 80.000 daltons (Da). Possui uma região com atividade enzimática de fosfolipase A2 (PLA2) considerada essencial na replicação dos parvovírus como visto para o B19, fazendo a liberação do vírus do lisossomo após sua entrada na célula (Qu et al. 2008). Similarmente, para outros parvovírus, a VP2 tem sido estimada com peso molecular de 60.000 Da. A sequência que codifica a VP2 está alojada dentro do gene para a VP1, sendo que as duas apresentam a sequências idênticas na região 3’ (Allander et al. 2005). A VP1 também contém sequências em sua região N-terminal que são aminoácidos básicos, que comportam como um sinal para a localização do núcleo para o genoma viral (Berns & Parrish 2007). As proteínas NS1 e NP1 com 75.000 e 28.000 daltons, respectivamente, apresentam funções desconhecidas no bocavírus humano. Nos outros membros da família Parvoviridae, a NS1 é essencial para a replicação do DNA. A função da proteína NP1 foi definida no CnMV tendo papel importante na replicação do DNA viral (Manteufel et al. 2008, Módena 2009, Sun et al. 2009). 1.2.4 Replicação Viral Os parvovírus geralmente precisam de células proliferativas para a sua replicação. Até o momento, no entanto, o HBoV não foi replicado in vitro e nem reproduzido em animais e assim, o que se infere para este é o modelo do ciclo de replicação dos outros parvovírus 8 (Schildgen et al. 2008). Este é um problema enfrentado no estudo desses novos vírus, pois como ainda não estão esclarecidas quais são as células permissíveis e nem como se dá totalmente a sua replicação, continuam sendo indetectáveis pelos métodos clássicos de virologia (Allander et al. 2008). Em relação aos demais vírus do gênero Bocavirus, estudos relatam que estes utilizam para a sua replicação células com origem respiratória, intestinal e linfática (Durhan et al. 1985). Para o HBoV há indícios de replicação em células do epitélio brônquico com a presença do efeito citopático (Lin et al. 2008). Nas células, admite-se que os parvovírus se liguem em receptores da membrana da célula hospedeira e que penetrem na célula por endocitose, porém ainda não se conhece receptores para o HBoV (Schildgen et al. 2008). Após a penetração, o vírus permanece dentro do endossoma por várias horas até alcançar o núcleo. O transporte envolve os micro-túbulos e proteínas motores de dineínas o que é fundamental para os parvovírus completarem a sua replicação (Santos 2008). Admite-se que esta fase também seja similar para o bocavírus humano. No núcleo, o DNA é liberado, embora com mecanismo desconhecido de tal liberação, mas, considera-se que de 20 a 30 nucleotídeos da região 5´, sirvam como molde para o início da replicação do DNA viral através de uma DNA polimerase celular (Berns & Parrish 2007). A replicação do genoma dos parvovírus é singular, pois o material genético, uma molécula de DNA fita simples, favorece uma replicação mais conservada. Estes vírus não codificam para uma DNA polimerase, assim utilizam a DNA polimerase da célula hospedeira utilizando-se da célula em seu período S da divisão celular. Desta forma replicam seu material genético dependendo dos mecanismos oferecidos pela célula hospedeira (Astell et al. 1985), sendo mais eficaz quando os parvovírus replicam em células de maior renovação (Berns 1990, Módena et al. 2009). A estrutura de “harpins” presente no DNA dos parvovírus é importante na replicação, funcionando como iniciadores da replicação através da extremidade 3’ onde a hidroxila -OH favorece a ligação da DNA polimerase celular (Astell et al. 1985). A replicação ocorre através da passagem dos “harpins” formando intermediários que vão ao encontro da extremidade em “harpin” 5’ da fita mãe. Ocorre uma fusão pela DNA-ligase formando uma estrutura quase circular de DNA fita dupla. Essa estrutura é clivada por uma endonuclease viral, provavelmente NS1, fornecendo um novo sítio livre de 3’–OH. Esses produtos de clivagem podem servir como molde para o reinício do processo replicativo ou serem encapsidados para a formação de novos vírus (Berns et al. 1990, Módena et al. 2009). 9 Os mecanismos de transcrição e tradução de proteínas do HBoV também ainda não estão claros, mas admite-se que possam ser semelhantes aos outros parvovírus. Assim os mRNAs virais produzidos no núcleo por uma RNA polimerase celular são exportados para o citoplasma, onde são traduzidos em proteínas pelos ribossomos celulares (Berns & Parrish 2007, Santos 2008). A transcrição de mRNA e a produção das proteínas virais acontece sem que a célula tenha entrado na fase S do ciclo celular, ou seja antes da replicação do genoma viral, onde provavelmente já tenha capsídeos formados ou pré-formados. Esses mecanismos ainda não foram totalmente elucidados para a família Parvoviridae (Berns & Parrish 2007). Ao término da formação das proteínas VP1 e VP2 no citoplasma elas se agrupam em capsômeros e são levadas ao núcleo. Os sítios de localização nuclear (NLS) presentes na região exclusiva VP1 são essenciais neste processo (Berns & Parrish 2007). No núcleo, os capsômeros ligam-se ao DNA fita simples viral, e o complexo é exportado para o citoplasma através de um mecanismo que envolve a presença da fosforilação de uma sequência de exportação nuclear (NES) presente na região N terminal de VP2. A saída da progênie viral ocorre por lise celular ou exocitose, ainda não conhecida para o HBoV (Berns & Parrish 2007, Módena 2009). 1.2.5 Patogênese viral e sintomatologia Os parvovírus podem ser transmitidos por diferentes vias (Berns 1990) incluindo a via fecal-oral, que é a principal via de transmissão nas doenças gastrointestinais, a respiratória que pode ser por contato direto ou indireto com secreções, urina, além de superfícies contaminadas (Chow & Esper 2009). Embora as diferentes vias possíveis de transmissão de outros vírus da família Parvoviridae, para o bocavírus o mecanismo de transmissão e a patogênese são ainda desconhecidos. Estudos relatam a presença do DNA do HBoV em secreções respiratórias associadas a elevada carga viral, consistentes com infecção do epitélio respiratório o que sugere que a replicação viral possa ocorrer em células epiteliais respiratórias (Allander et al. 2007). Além disso, o vírus já foi identificado em amostras fecais, soro humano, tecido linfático e urina (Allander et al. 2007, Schenk et al. 2007, Chow et al.2008, Pham et al. 2011). A correlação, entre a ocorrência elevada e a não detecção de outros patógenos nas vias respiratórias, tem sugerido o possível envolvimento do HBoV em infecções em humanos, principalmente em crianças (Arnold 2010). Não obstante, até o momento, não há comprovação do atendimento aos postulados de Koch uma vez que não se conhece um modelo animal ou mesmo células em cultura que suportem a propagação viral de forma 10 rotineira, e desta forma que possam ser utilizados na tentativa do atendimento aos mesmos (Allander 2008). Foi observado que em pacientes que apresentavam elevada carga viral em amostras de aspirados nasais também demonstravam sinais de viremia, além de apresentarem expressiva resposta imune ao bocavírus com 49% de IgM e de 73% de IgG para o HBoV e que a maioria dos adultos são soropositivos para o HBoV (Kantola et al. 2008, Kumar et al. 2011). Estudo realizado por Lin et al. (2008) indicou a presença de efeito citopático em linhagem de células brônquicas após a inoculação de amostras de secreções respiratórias positivas para bocavírus. Neste caso foi observado também por microscopia eletrônica a presença de partículas virais semelhantes a parvovírus no citoplasma destas células (Lin et al. 2008). Neste mesmo foco, outros estudos também relataram in vitro um sistema de cultura para do HBoV, muito embora tenha sido observado replicação viral após inoculação de lavado de nasofaringe de paciente infectado com HBoV, as alterações morfológicas nas céulas não foram tão óbvias como as vistas com o vírus respiratório sincicial (Dijkman et al 2009, Lin et al. 2009). Esses modelos ajudam no conceito que o bocavírus esteja envolvido como patógeno respiratório além de também elucidar seu papel na co-infecção com outros patógenos respiratórios (Arnold et al. 2010), iniciando portanto um caminho para a compreensão da patogênese do bocavírus humano. Em reforço a estes estudos, o vírus tem sido repetidamente detectado no trato respiratório de crianças com infecções respiratórias de vias aéreas superiores e inferiores, com ou sem a presença de outros vírus respiratórios (Allander et al. 2005) as quais, em sua grande maioria apresentam febre, rinorréia e tosse. Alguns indivíduos evoluiram para quadros de bronquiolite, pneumonia, sibilância e exacerbações de doenças pulmonares crônicas, por exemplo, a asma brônquica (Schildgen et al. 2008). Considerando o achado do HBoV nas secreções respiratórias com outros patógenos destaca-se a presença de outros vírus respiratórios como rinovírus, vírus respiratório sincicial, parainfluenza, influenza, adenovírus e metapneumovírus humano além bactérias. A coinfecção observada oscila em torno de 42,5% dos casos. Outro estudo mostra a detecção do HBoV de 50% em crianças com infecções respiratórias e a necessidade de testes sorológicos para confirmação do diagnóstico (Chow & Esper 2009, Don et al. 2011). Em adição às co-infecções com outros patógenos tem sido observadas co-morbidades como em casos de doenças cardíacas, como a insuficiência cardíaca e as lesões cardíacas congênitas, as quais têm sido responsabilizadas por mais da metade das co-morbidades associadas ao HBoV, seguidas das doenças pulmonares crônicas (Allander et al. 2005, Arnold 11 et al. 2006, Chow & Esper 2009), além da gastroenterite (Chieochansin et al. 2008, Han et al. 2009, Huang et al. 2009, Santos et al. 2010). Bocavirus e sintomas gastrointestinais Como referido, o bocavírus humano, assim como outros parvovírus, está associado a infecções do trato respiratório, mas também há relatos de seu envolvimento em infecções ou mesmo um tropismo ao trato digestivo com possível similaridade ao tropismo de outros parvovírus que provocam enterite e leucopenia, como visto em filhotes de cães (Durham et al. 1985, Carmichael et al. 1994). No contexto, também quando da identificação do vírus em casos de doença respiratória, sintomas gastrointestinais também foram relatados em até 25% dos casos sugerindo uma disseminação ao trato digestivo pelo vírus (Foulongne et al. 2006). A sintomatologia inclui náusea, vômito e diarréia (Chow & Esper 2009) a qual, também, tem sido relatada com presença de sangue (Chieochansin et al. 2008, Schildgen et al. 2008). Dados epidemiológicos vêm evidenciando e dando suporte para o papel do HBoV no processo da gastroenterite em diferentes partes do mundo (Lee et al. 2007, Vicente et al. 2007, Chow & Esper 2009, Han et al. 2009), incluindo o Brasil (Albuquerque et al. 2007, Santos et al. 2010). Por outro lado considerando que a diarréia é um sintoma, que também pode ser encontrado na resposta sistêmica a uma infecção, a observação de HBoV em fezes diarréicas e sua responsabilização como o agente etiológico requer maiores estudos (Allander et al. 2008). Mesmo na ausência de co-infecção por agentes do trato respiratório, ocorre co-infecção também com outros agentes do trato gastrointestinal com destaque para norovírus (Campe et al. 2008, Han et al. 2009), mas também para rotavírus, astrovírus, adenovírus e bactérias como Campylobacter, Salmonella e Clostridium dificili (Lee et al. 2007, Cheng et al. 2008, Chieochansin et al. 2008, Chow & Esper 2009, Nakanishi et al. 2009). Os índices de coinfecção com diferentes patógenos ocorreram em torno de 21% a 77,6 %. 1.2.6 Diagnóstico laboratorial A primeira identificação do bocavírus humano (HBoV) foi feita pela detecção do DNA viral pela reação em cadeia pela polimerase (PCR) convencional, feita por Allander e colaboradores em 2005. Desde então esta tem sido a principal metodologia utilizada por 12 diferentes pesquisadores (Arden et al. 2006, Bastien et al. 2006, Kesebir et al. 2006, Kupfer et al. 2006, Manning et al 2006, Sloots et al. 2006, Brieu et al. 2007). Posterior e adicionalmente tem sido utilizada a PCR em tempo real. Esta técnica oferece vantagem sobre a PCR convencional, por apresentar maior sensibilidade, especificidade e ganho de tempo, além de permitir a quantificação viral no material analisado muito embora ainda seja pouco acessível a um grande número de pesquisadores (Choi et al. 2006, Smuts et al. 2006, Allander et al. 2007, Manning et al. 2007, Qu et al. 2007, Esposito et al. 2008). Quando da utilização da PCR convencional, a pesquisa do vírus é feita frequentemente via detecção dos genes para as proteínas NS1 e NP1 (Allander et al. 2008) enquanto que pela PCR em tempo real a opção tem sido para pesquisa dos genes para NP1 e VP1 e também sua utilização para detecção dos quatros tipos recentemente identificados (Tozer et al. 2009, Kantola et al. 2010). Os espécimes clínicos principalmente utilizados são amostras do trato respiratório (aspirados ou swabs), bem como amostras de fezes (Allander et al. 2008) que pela PCR convencional ou PCR em tempo real permitem portanto a detecção do DNA viral utilizando iniciadores específicos de genes alvo. Como procedimento para melhor caracterização do vírus tem sido utilizado o sequenciamento genômico (Sloots et al. 2006). Além dos procedimentos moleculares tentativas de propagação do vírus em cultura de linhagem de células padronizadas do epitélio brônquico tem sido realizados (Lin et al. 2009), mas ainda não tem gerado a produção de antígenos e anticorpos com vistas à comercialização (Allander et al. 2008). 1.2.7 Epidemiologia Como referido, HBoV foi reconhecido mundialmente pela sua identificação em amostras de pacientes com infecções do trato respiratório inferior, com diagnóstico clínico de pneumonias e bronquiolites, na grande maioria crianças abaixo de dois anos de idade (Allander et al. 2005), em percentuais que variaram de 1,5% a 19,3%. Além disso, ele ocorre em co-infecção com outros vírus respiratórios em índices de 17% a 55% (Bastien et al. 2006, Bonzel et al. 2008, Lindner et al. 2008b, Lüsebrink et al. 2009). Especificando, HBoV tem sido identificado em todos os continentes sugerindo uma endemicidade mundial (Foulongne et al. 2006, Weissbrich et al. 2006, Regamey et al. 2007, Vicente et al. 2007), na Ásia (Choi et al. 2006, Lin et al. 2007, Lu et al. 2006, Ma et al. 2006), na África (Smuts et al. 2006), Oceania (Arden et al. 2006, Sloots et al. 2006, Arthur et al. 13 2009), nas Américas (Arnold et al. 2006, Bastien et al. 2006, Kesebir et al 2006, Albuquerque et al. 2007, Gagliardi et al. 2009). Em termos da circulação viral, estudos mostram a ocorrência do HBoV durante todo o ano muito embora estudos indiquem ligeira predominância no inverno/primavera (Bastien et al. 2007, Chow et al. 2008) ou mesmo no verão (Choi et al. 2006). Nos casos de doença respiratória a infecção primária ocorre com maior frequência entre crianças com seis a 24 meses (Ma et al. 2006, Manning et al. 2006, Endo et al. 2007, Garcia-Garcia et al. 2007, Völz et al. 2007). Embora outros estudos relatem a ocorrência do HBoV em crianças de maior idade, acima de 36 meses de idade, com uma positividade de 15% nesta faixa etária (Chung et al. 2006). Admite-se que a pequena ocorrência em recémnascidos se dê pela presença de anticorpos maternos (Ma et al. 2006). No Brasil estudos avaliando infecções respiratórias, demonstraram que o HBoV foi detectado em crianças hospitalizadas e em unidades de pronto-socorro, com idades entre um mês a 12 anos com taxas de ocorrência de 6,1% a 13,2% (Albuquerque et al. 2009, Gagliardi et al. 2009, Souza et al. 2009, Durigon et al. 2010, Pilger et al. 2011). Com adultos poucos estudos têm sido realizados e, não obstante, também tem sido observada a positividade (Chow et al. 2008, Longtin et al. 2008). Outro dado que merece ser mencionado é o de que o vírus tem sido detectado tanto em adultos quanto em crianças que apresentam imunossupressão o que pode sugerir a possibilidade da persistência viral (Manning et al. 2006, Smuts et al. 2006, Maggi et al. 2007). Considerando a infecção do trato gastrointestinal, diferentes estudos vêm mostrando a presença do vírus em casos de gastrenterite. Na Espanha, Vicente et al. (2007) analisaram 527 amostras de fezes de crianças menores de tres anos de idade com ou sem sintomas de infecção respiratória, mas com sintomas de gastroenterite, e observaram uma positividade ao HBoV de 9,1% não obstante a associação de 58% a outros enteropatógenos virais. Na Coréia, embora com percentual inferior (0,8%), estudo mostrou a presença do vírus em crianças hospitalizadas por gastroenterite (Lee et al. 2007). Estudos avaliando a associação de sintomas do trato respiratório e a presença do vírus em amostras de fezes de casos não diarréicos mostraram que, de 31 amostras de fezes de crianças com HBoV positivas no trato respiratório, 14 (45%) também foram positivas nas amostras de fezes ( Neske et al. 2007). No Brasil, pesquisadores relataram a detecção do HBoV em crianças com diarréia aguda na ausência de sintomas respiratórios em 2% dos casos. A co-infecção com o rotavírus, adenovírus e norovírus foi encontrada em 21,4% das amostras positivas para o HBoV (Albuquerque et al. 2007). 14 Considerando a diversidade genética do HBoV, estudo realizado na Austrália tendo como foco amostras de fezes de crianças com diarréia visando detecção de prováveis agentes de gastroenterites, mostrou a presença dos diferentes tipos de HBoV- 1,- 2 e -3 somando 27,4% dos achados configurando-se no segundo agente detectado após os rotavírus com 37,1% de positividade (Arthur et al. 2009). Tendo como dado importante a ocorrência do HBoV em indivíduos apresentando imunossupressão, Arnold e colaboradores relataram dois casos de HBoV positivos em pacientes transplantados (Arnold et al. 2006). Neste enfoque, no Brasil, estudo realizado visando a detecção de HBoV-2 e HBoV-3 em pacientes com gastroenterite aguda, cinco amostras de 807 (0,6%) foram positivas para HBoV-3, sendo três destas em pacientes com diagnóstico de HIV/AIDS. Outro grupo de 144 amostras testadas para HBoV-2 e em 30 amostras (20,8%) foram positivas, dos quais 11 pacientes com HIV/AIDS. Outro estudo avaliando a infecção gastrointestinal em pacientes HIV-positivos detectou HBoV somente em co-infecção (Santos et al. 2010, Silva et al. 2010). Deve-se adicionalmente mencionar que os estudos realizados têm mostrado que os HBoV-3 e 4, até o momento, só foram encontrados em amostras de fezes, o HBoV-2 foi detectado em amostras de fezes e soro humanos(Arthur et al. 2009, Chieochansin et al. 2009, Kapoor et al. 2009) e em secreções respiratórias (Song et al. 2010). 1.2.8 Imunidade Os estudos realizados com o HBoV têm gerado dados concernentes à prevalência sendo que os relativos à resposta imunológica são desconhecidos. Não obstante importa relacionar que a infecção apresentada pelo agente tanto nos casos de doença respiratória quanto de gastroenterite ocorre principalmente em crianças, mas também em adultos e idosos (Lindner et al. 2008a). Adicionalmente dados proveniente de estudo de Chung et al.(2008) mostraram que o interferon gama, interleucina-2 e interleucina-4 estavam elevados em espécimes respiratórias positivas de HBoV comparado com controles. 1.2.9 Tratamento, prevenção e controle A grande maioria das gastroenterites agudas de origem viral não necessita de tratamento específico. Em casos de desidratação, na forma severa e por vezes urgente, a terapêutica inicial visa corrigir o distúrbio hidroeletrolítico, principalmente, nas faixas etárias 15 de maior comprometimento como as crianças e idosos bem como em populações de risco como imunossuprimidos e desnutridos, que podem apresentar alterações circulatórias importantes, com risco de morte devido ao choque hipovolêmico e das toxinas. A correção da desidratação é feita, em geral, por via oral (nas formas leves ou moderadas) ou venosa nos casos onde ocorrem vômitos repetidos ou com desidratação grave (King et al. 2003). As medidas, que visam controlar e prevenir epidemias de gastroenterite viral, foram assim preconizadas: detecção e diminuição das fontes de contaminação de água, alimentos, profissionais em contato com a fonte do agente e isolamento, diminuindo o contato pessoapessoa. Durante as últimas três décadas houve uma redução consistente da taxa de mortalidade nos países em desenvolvimento, graças a fatores como: a distribuição e uso generalizado de soluções de re-hidratação oral (SRO), maior frequência e/ou duração da amamentação, melhor nutrição, melhor estado sanitário e higiene e um aumento na cobertura de vacinação contra sarampo (WGO 2008). Para o bocavírus humano muito embora não se conheça ainda em sua totalidade os mecanismos e as rotas de transmissão, bem como sobre sua biologia, admite-se que assim como para as outras viroses cuja excreção se dê também pelas fezes, o diagnóstico correto e as medidas de tratamento sintomático se impõe. 16 2. JUSTIFICATIVA A gastroenterite aguda viral continua sendo reconhecida como a doença que mais contribui para a morbidade e mortalidade em crianças abaixo de cinco anos de idade em todos os continentes (Oh et al. 2003, Clark & Mckendrick 2004). Os vírus correspondem por mais de 70% dos casos de gastroenterites, notadamente nos países desenvolvidos, sendo que os mais freqüentemente encontrados e de maior importância são os rotavírus, astrovírus, adenovírus e calicivírus (Cardoso et al. 2003, Parashar et al. 2003, Wilhelmi et al. 2003). Apesar da elevada sensibilidade das atuais técnicas da biologia molecular na detecção do ácido nucléico de vários patógenos, principalmente em casos de gastroenterites, um percentual importante destas ainda permanecem sem diagnóstico etiológico, com estimativas de 28 a 40% dos casos. Neste sentido, estudos que visam complementar informações a respeito de novos agentes responsáveis pela síndrome são importantes para a saúde pública tanto em termos de morbidade quanto de mortalidade. Até o momento, os resultados de estudos mostraram que o HBoV está presente no trato gastrointestinal de crianças com gastroenterite que apresentam ou não sintomas de infecção respiratória, sendo detectado em dois a 25% de pacientes com gastroenterite aguda em várias regiões do mundo (Albuquerque et al. 2007, Vicente et al. 2007, Arthur et al. 2009, Han et al. 2009). Adicionalmente, considerando que diferentes parvovírus causam diarréia severa em animais como em cães, a sugestão importante de que o HBoV também possa ser responsável por gastroenterite aguda em humanos. No Brasil, um único estudo realizado por Albuquerque et al. (2007) relaciona a detecção do bocavírus humano e gastroenterite aguda. O mesmo grupo também mostra que amostras de HBoV 2 e 3 circulam no Brasil ( Santos et al. 2010). Em Goiânia e na região Centro-Oeste, estudos vêm sendo realizados desde a década de 80 visando detecção e caracterização viral em casos de gastroenterite em diferentes populações o que tem permitido visualizar o papel de RVA, adenovirus entérico, astrovirus e calicivirus na síndrome (Cardoso et al. 1992, Souza et al. 2003, Borges et al. 2006, Andreasi et al. 2008, Silva et al. 2009). Ainda assim, percentual importante, em torno de 40% dos casos clínicos de gastroenterite permanece sem etiologia. Desta forma a justificativa do presente estudo que visa a obtenção de dados relativos à ocorrência do HBoV-1 em amostras de fezes provenientes de crianças da região Centro-Oeste com quadro de gastroenterite aguda vem na tentativa de preencher, portanto, mais uma lacuna do conhecimento no contexto da síndrome. 17 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho foi o de detectar a presença do genoma do HBoV-1 em amostras de fezes coletadas de crianças que apresentavam quadro de gastroenterite aguda atendidas em unidades de saúde de três cidades da região Centro-Oeste do Brasil: Goiânia, Brasília e Campo Grande. No período de 1994 a 2004. 3.2 Objetivos Específicos • Estimar a prevalência de HBoV-1 em amostras de fezes de crianças com quadro de gastroenterite aguda correlacionando à procedência, faixa etária e gênero das mesmas. • Determinar a ocorrência de HBoV-1 considerando o período de circulação viral, por cidade estudada. • Determinar a co-infecção de HBoV-1 com outros vírus causadores de gastroenterite por cidade estudada. 18 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Material de estudo Neste estudo retrospectivo, foram analisadas 762 amostras fecais de igual número de crianças, todas com até 5 anos de idade, provenientes de três cidades da região Centro-Oeste: Goiânia-GO, Brasília-DF e Campo Grande-MS. Todas as crianças apresentavam, à época, quadro clínico de gastroenterite aguda, tendo por base mínima a ocorrência de diarréia definida como três ou mais evacuações líquidas ou semi-líquidas por dia. Considerando a procedência das amostras, em Campo Grande-MS, estas foram colhidas de crianças em duas unidades de Saúde Pública do Setor da Pediatria: Santa Casa de Misericórdia e do Hospital Universitário/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Em Brasília-DF, as amostras foram provenientes de coletas do Instituto de Saúde Pública/Laboratório Central do Distrito Federal – ISDF/LACEN e do Hospital Universitário da Universidade de Brasília. Enquanto que em Goiânia-GO estas foram provenientes de crianças atendidas no Hospital Materno Infantil/Secretaria de Saúde do Estado de Goiás e do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Em termos do período de coleta, em Campo Grande esta ocorreu durante os anos de 2000 a 2004, em Brasília de 1994 a 1996, enquanto que em Goiânia a coleta ocorreu de 1998 a 2001. Todas as amostras foram previamente testadas visando detecção de RVA, adenovírus, calicivírus e astrovírus. As amostras provenientes de Campo Grande foram também testadas para Aichi vírus. A coleta das amostras de fezes foi realizada após consentimento e autorização prévia de pais (ou responsáveis) pelas crianças, com esclarecimento sobre a coleta e o preenchimento de um questionário contendo informações sobre dados pessoais e epidemiológicos (ANEXO1). As amostras coletadas, após transporte adequado, foram armazenadas no laboratório de Virologia Humana do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás, a 4ºC até a realização do preparo das suspensões das amostras de fezes quando então foram estocadas a -20ºC. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás-UFG, sob número (nº 004/2000). 19 4.2 Metodologia 4.2.1 Detecção de HBoV-1 a) Preparo das suspensões fecais: As amostras de fezes foram inicialmente processadas objetivando obter uma suspensão fecal a 20% em tampão salina fosfato (PBS) pH 7,4. As suspensões eram a seguir homogeneizadas e clarificadas por centrifugação a 3000X g (Spin I, Incibrás) por 10 minutos e os sobrenadantes estocados a -200 C até a sua análise. b) Extração de DNA do bocavírus humano (HBoV). A extração do DNA viral foi feita utilizando uma de duas metodologias: método do TRIzol e o Kit de extração Wizard Genomic DNA Purification Kit (Promega). b.1) Método utilizando o TRIzol ®. Por este método as suspensões fecais eram trabalhadas utilizando o TRIzolR Reagent (invitrogenTM / Life Technologies, USA). Para o procedimento em tubos tipo eppendorf eram adicionados 300 µL da suspensão fecal juntamente com 900 µL de TRIzol. Procedia-se a homogeinização por inversão e incubação a temperatura ambiente por 5 minutos. Após eram adicionados 240 µL de clorofómio seguido de agitação em vórtex (Vertex QL-901) e incubação a temperatura ambiente por 10 minutos. Após centrifugação a 12.000 X g (Micro High Speed refrigerated centrifuge, VISION) por 5 minutos a 4o C transferia-se a fase aquosa superior, sem a interface, para outro tubo e adicionava-se 600 µL de álcool isopropílico seguido de incubação a temperatura ambiente por 10 minutos e nova centrifugação de 12.000 X g por 10 minutos a 4o C. Após removia-se o sobrenadante e ao sedimento era adicionado 1.200 µL de etanol a 70% gelado. Após, procedia-se a nova centrifugação a 7.500 X g por 5 minutos a 4o C, com descarte novamente do sobrenadante com re-suspensão do sedimento em 30 µL de água milli-Q tratada com DEPC (USB® Corporation/Amersham Biosciences) a 0,1%. As amostras eram então incubadas a 56o C por 10 minutos em banho-maria (BE-3100, BIO ENG) e após, estocadas a -20o C até o momento do uso. b.2) Método do Wizard Genomic DNA Purification Kit (Promega, Madison, WI, USA). A extração do DNA viral por este Kit seguiu instruções do fabricante, com 20 modificações (Albuquerque et al. 2007). Para o procedimento em tubos tipo eppendorf de 1,5mL foram adicionados 300µL da solução de lise nuclear, 3µL da solução RNAse e 300µL da suspensão fecal a 20% em PBS. Procedia-se então a homogeneização do material por inversão do tubo e então se incubava em banho-maria a 37oc por 15-30 minutos, seguido de 5 minutos a temperatura ambiente. A seguir adicionado 200 µL da solução de precipitação de proteínas, quando então, fazia-se agitação em vórtex seguida de incubação em gelo por 5 minutos. Depois, a amostra era centrifugada a 13.000 X g por 4 minutos, o sobrenadante era transferido para outro tubo contendo 600 µL de isopropanol. Então, procedia-se a homogeneização por inversão e incubação a temperatura ambiente por 30 minutos seguido de centrifugação a 13.00 X g por 1 minuto com posterior descarte do sobrenadante. A seguir adicionado 600 µL de etanol a 70% seguida de centrifugação a 13.000 X g por 1 minuto. Após novo descarte do sobrenadante o sedimento era deixado secar a temperatura ambiente por 15-20 minutos quando então era re-suspendido em 100 µL da solução de re-hidratação de DNA e incubado em banho-maria a 65o C por 1 hora. Finalmente este era estocado a 4o C até o momento do uso. c) Reação em cadeia pela polimerase (PCR). Este protocolo amplifica o gene que codifica a proteína não-estrutural 1 (NS1) do HBoV-1, seguindo especificações da metodologia aplicada por Sloots e colaboradores (Sloots et al. 2006). Em todas as reações foram utilizadas duas amostras para controles repetidamente positivas para o bocavírus humano, gentilmente cedida pela Dra. Norma Suely de Oliveira Santos - Departamento de Virologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro/RJ. A PCR foi realizada utilizando os iniciadores específicos HBoV 01.2 e HBoV 02.2 (Quadro 1) que são direcionados para a região RLA1 do genoma viral conforme Sloots et al. (2006). Quadro 1 – Sequência dos iniciadores utilizados para a PCR, para detecção do material genômico de HBoV-1. Primer/iniciadores Função Seqüência HBoV 01.2 1a 5´TAT GGC CAA GGC AAT AGT CCA AG 3’ HBoV 02.2 amplificação 5´GCC GCG TGA ACA TGA GAA ACA GA 3’ Tamanho amplicon 291 pb 21 Foram utilizados para a PCR 5 µL do material de DNA extraído ao qual foi adicionado em tubos tipo eppendorf a 20 µL da mistura de PCR (Quadro 2) contendo 5x tampão de reação (PCR buffer – TRIS-HCL 20 mM pH 8,4/KCL 50mM), 10mM de cada dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP), 25mM de MgCl2, iniciadores específicos (0,1µl HBoV 01.2 e 0,1µl HBoV 02.2), 0,2 µL de Taq DNA polimerase. Quadro 2 – Mistura de reação utilizada na reação de amplificação (PCR) para detecção de HBoV-1. Master mix para a 1a PCR Volume para uma reação 10 mM dNTP (pool de dNTP)(Amersham Biosciences) 0,5µL Tampão da enzima 5x (InvitrogenTM/LifeTechnologies) 4,0µL 25 mM MgCl2 2,4µL Primer (1 e 2) 0,2µL Taq DNA polimerase 0,2µL dH2O (Água Milli-Q) 12,7µL Volume total por reação 20,0µL A seguir, as amostras foram levadas ao termociclador (Swift maxi, Esco/ Eppendorf Mastercycler personal). Iniciando o ciclo com aquecimento a 95o C por 15 minutos, depois para o procedimento da amplificação em 45 ciclos (94o C por 20 segundos, 56oc por 20 segundos e 72 oC por 30 segundos), seguidos por uma extensão final a 72oC por 5 minutos. Podendo ser estocados a 4o C. d) Eletroforese em gel de agarose: Após a amplificação, 10 µL da amostra do produto da PCR bem como o padrão molecular de 100 pb DNA, foram misturados a 3 µL do tampão corante da amostra (azul de bromefenol, xilenocianol, glicerol) e aplicados em gel de agarose (InvitrogenTM / Life Technologies) a 1,5%, contendo 0,5 mg/mL de brometo de etídeo e submetido a uma eletroforese a 80 volts (Hoefer mini VE / PW Sys) por aproximadamente 1 hora em tampão 1x TRIS/Borato/EDTA (TBE) a 0,5%. Para todas as reações foram utilizadas amostras controles positivas e negativas. Após o procedimento da eletroforese e procedeu-se a leitura do gel, feita em transiluminador; com luz ultravioleta para observação do amplicon com tamanho esperado de 291 pares de bases. 22 4.3 Análise estatística Para a análise estatística dos resultados foi utilizado o programa Epiinfo versão 3.5.1. com utilização do teste qui-quadrado ( 2) com intervalo de confiança de 95% e quando necessário, foi utilizado o teste exato de Fisher (Centeno 1990). Foram consideradas diferenças significativas quando p<0,05. 23 5. RESULTADOS Todas as 762 amostras fecais foram testadas para a presença de DNA de bocavírus humano 1 (HBoV-1) por PCR, sendo consideradas positivas para HBoV-1 aquelas que apresentaram, após amplificação, um fragmento de aproximadamente 291 pares de bases (Figura 6). No presente estudo não foi realizado seqüenciamento das amostras para confirmação se as positivas tratavam-se somente do HBoV-1. 1 2 3 4 5 300 pb 291 pb 200 pb 100 pb Figura 6 - Eletroforese em gel de agarose (1,5%). Linha 1. Padrão de tamanho molecular (100pb DNA ladder). Linhas 2 e 3. Amostras positivas para HBoV-1. Linha 4. Controle positivo e Linha 5. Controle negativo para HBoV-1. A positividade encontrada para o HBoV-1 em relação a 762 amostras fecais analisadas foi de 5,7% (44/762) (Tabela 1). Quando se considerou a procedência das crianças estudadas observou-se que das 44 amostras positivas, 20 eram procedentes de Goiânia, 15 de Campo Grande e 9 de Brasília. A análise estatística em termos da positividade por cidade estudada não mostrou diferença estatisticamente significativa. Tabela 1 – A prevalência do HBoV-1 em amostras fecais de crianças com gastroenterite de acordo com a cidade de coleta (n=762). Local HBoV-1 - Pos/Total % Goiânia Campo Grande Brasília 20/401 15/231 9/130 5,0 6,5 6,9 Total 44/762 5,7 p = 0,60922. IC: Intervalo de confiança de 95% 24 A positividade das amostras quanto ao gênero das crianças revelou que 5,7% eram de crianças do sexo masculino e 5,8% do feminino, não houve diferença significativa da positividade para HBoV-1 em relação ao genêro (Tabela 2). Tabela 2 – Distribuição percentual de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças com gastroenterite da região Centro-Oeste do Brasil em relação ao gênero. Gênero Masculino Feminino Total Goiânia Nº Pos/Total (%) 13/226 (5,7) 7/175 (4,0) C. Grande Nº Pos/Total (%) 9/141 (6,4) 6/90 (6,7) Brasília Nº Pos/Total(%) 3/67 (4,5) 6/63 (9,5) Total Nº Pos/Total (%) 25/434 (5,7) 19/328 (5,8) 20/401 (5,0) 15/231 (6,5) 9/130 (6,9) 44/762 (5,7) p = 0,89032. IC: Intervalo de Confiança de 95% Considerando a positividade para HBoV-1 em relação à faixa etária da população do estudo foi observada detecção do vírus em crianças de até 48 meses e que não foi observada diferença significativa entre as faixas etárias estudadas. Ressalta-se, não obstante, que na faixa de 36 a 48 meses a positividade viral só foi observada para as crianças de Goiânia. Para as crianças de Campo Grande e Brasília a faixa etária acometida foi até 24 meses (Tabela 3). Tabela 3 - Percentual de positividade para HBoV-1 em amostras fecais coletadas de crianças com gastroenterite aguda em três cidades da região Centro-Oeste em relação à faixa etária. Faixa etária (meses) 0-6 7-12 13-24 Goiânia N0 % 5/91 (5,5) 8/159 (5,0) 4/84 (4,7) C. Grande N0 % 2/70 (2,8) 6/40 (15,0)b 7/73 (9,6) Brasília N0 % 3/45 (6,6) 2/33 (6,0) 4/31 (13,0)c Total N0 % 10/206 (4,8) 16/278 (5,7) 15/188 (8,0)d 25-36 37-48 > 48 SD* 1/37 (2,7) 2/18 (11,1)a 0/8 (0,0) 0/4 (0,0) 0/2 (0,0) 0/0 (0,0) 0/0 (0,0) 0/8 (0,0) 0/12 (0,0) 0/1 (0,0) 1/47 (2,1) 2/30 (6,6) 0/9 (0,0) 15/231 (6,5) 9/130 (6,9) 44/762 (5,7) Total 20/401 (5,0) a b c d * Sem dados. p =0,86612, p =0,13674, p =0,64999, p =0,58977. IC = 95% A distribuição percentual de amostras positivas para HBoV-1 em crianças com gastroenterite aguda procedentes das três cidades do Centro-Oeste pelos anos do estudo (Tabela 4). Considerando que durante uma década, compreendendo os anos de 1994 a 2004 tivemos coletas de amostras fecais provenientes das cidades de Goiânia (1998 a 2001), de Campo grande (2001 a 2004) e de Brasília (1994 a 1996); não houve coleta no ano de 1997. 25 Foi observado que ocorreu coleta de espécimes fecais em todos os meses do ano para as cidades de Goiânia e Campo Grande, já para Brasília só ocorreu no período de outubro a janeiro. Tabela 4 - Distribuição de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças com gastroenterite aguda da região Centro-Oeste em relação aos anos de coleta – período de 1994 a 2004. Ano Goiânia N.º % 1994 1995 1996 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 7/83 (8,4) 8/204 (3,9) 2/63 (3,1) 3/56 (5,3) C. Grande N.º % Brasília N.º % 8/91 (8,7) 1/27 (3,7) 0/13 (0,0) 0/2 (0,0) 1/26 (3,8) 14/186 (7,5) 0/8 (0,0) Total N.º % 8/91 (8,7) 1/27 (3,7) 0/13 (0,0) 7/83 (8,4) 8/204 (3,9) 2/65 (3,0) 3/64 (4,6) 1/26 (3,8) 14/186 (7,5) 0/8 (0,0) Considerando a sazonalidade foi observado percentual de positividade de 5,4% e 6,3% para as estações de chuva e seca, respectivamente, o que não foi estatisticamente significativo. A análise considerando as cidades individualmente mostrou índices semelhantes de detecção nas duas estações para as cidades de Goiânia e Campo Grande enquanto que em Brasília não houve detecção do vírus na estação de seca, embora não estatisticamente significativo (Tabela 5). Tabela 5 - Distribuição de amostras fecais positivas para HBoV-1 coletadas de crianças de Goiânia, Campo Grande e Brasília com quadro clínico de gastroenterite aguda em relação aos meses do ano – período de 1994 a 2004. Estação climática Chuvosa (setembro/março) Seca (abril/agosto) Goiânia Pos/Total (%) Campo Grande Pos/Total (%) Brasília Pos/Total (%) Total (%) 12/232 (5,1) 5/119 (4,2) 9/129 (6,9) 26/480 (5,4) 8/169 (4,7) 10/112(8,9) 0/1 (0,0) 18/282 (6,3) p = 0,69556. IC: Intervalo de Confiança de 95% 26 A ocorrência da co-infecção de amostras fecais de crianças com gastroenterite foi observada em 14 (31,8%) das 44 amostras positivas para o HBoV-1. Das 14 amostras, nove também eram positivas para rotavírus do grupo A (RVA) e cinco com Aichi vírus. Considerando as cidades do estudo observou-se que a associação com RVA foi vista em amostras provenientes de todas elas enquanto que a associação para Aichi vírus só foi encontrada em amostras de Campo Grande (Tabela 6). Tabela 6 - Distribuição da co-infecção do HBoV-1 em ocorrência simultânea a outros agentes virais causadores de gastroenteite aguda em crianças de cidades da região Centro-Oeste nos anos de 1994, 1998, 1999 e 2003. Ano Vírus Nº Procedência 1994 Rotavírus 02 Brasília 1998 Rotavírus 01 Goiânia 1999 Rotavírus 04 Goiânia 2003 Rotavírus 02 Campo Grande 2003 Aichi vírus 05 Campo Grande 27 6. DISCUSSÃO A detecção de HBoV em amostras fecais de casos de gastrenterite aguda tem assumido importância desde que, a partir do seu reconhecimento em amostras fecais (Fry et al. 2007, Lau et al. 2007, Lee et al. 2007, Monteny et al. 2007, Neske et al. 2007, Qu et al. 2007, Schenk et al. 2007, Vicente et al. 2007) muitos estudos vêm confirmando o achado (Yu et al. 2008, Arthur et al. 2009, Chow et al. 2009, Han et al. 2009, Kapoor et al. 2009) com uma concepção bastante atual de que possa também ser responsabilizado como agente etiológico da síndrome (Arthur et al. 2009, Chow et al. 2009, Nakanishi et al 2009, Santos et al. 2010). Na perspectiva de também agregar dados ao conhecimento relativo à etiologia das gastrenterites virais na região Centro-Oeste é que se procedeu ao presente estudo. Neste contexto foi observado que HBoV-1 também circula na região com índice que pode ser considerando similar a de outros estudos realizados em diferentes partes do mundo (Lau et al. 2007, Lee et al. 2007, Vicente et al. 2007, Cheng et al. 2008, Yu et al. 2008) incluindo o Brasil (Albuquerque et al. 2007). Adicionalmente, ele ocorreu em todos os anos respectivos a cada cidade estudada sugerindo que sua ocorrência pode ser inclusive anterior em relação ao tempo. Também neste foco vale lembrar que, na região Centro-Oeste, estudos têm indicado presença de diferentes agentes virais em casos de gastroenterite com maior índice de detecção para RVA, seguido de calicivírus, adenovírus e astrovírus (Cardoso et al. 2003, Souza et al. 2003, Santos et al. 2007, Silva et al. 2009). Ainda assim, percentual importante, em torno de 40% de casos da doença permanece sem achados etiológicos. Com o presente estudo considera-se que mais um dado possa ter sido adicionado ao conhecimento existente, inclusive pelo achado global de 5,7% de positividade para o HBoV-1, com índices similares para cada cidade do estudo, o que pode vir a classificar o agente como o terceiro na ordem de detecção viral na região. Em adição, no presente estudo utilizou-se procedimento somente para detecção do HBoV-1 e estudos publicados recentemente têm reportado maior índice de detecção em casos de gastrenterite pelo HBoV-2 (Arthur et al. 2009, Chow et al. 2009) o que pode também então sugerir que o índice de positividade para o HBoV observado possa estar subestimado. Desta forma, estudos futuros deverão ser realizados para confirmação desta sugestão. Ainda na região Centro-Oeste, quando do estudo para os outros agentes virais previamente mencionados, tem sido feito a análise da população infantil estudada em termos demográficos relativos à positividade viral. Assim, tem sido observado não haver diferença 28 estatística em relação à idade da criança, a faixa principal de infecção é de até cinco anos de idade. Para alguns vírus como o RVA a faixa principal é de até 24 meses (Cardoso et al. 1992, 2003) o mesmo ocorrendo também para astrovírus (Sakamoto et al. 2000, Silva et al. 2001, Giordano et al. 2004) e adenovírus (Bon et al. 1999, Phan et al. 2004) mas ligeiramente superior para calicivírus (Nakata et al. 2000, Gallimore et al. 2004, Hansman et al. 2004). No presente estudo observou-se que HBoV-1 ocorreu similarmente em todas as faixas etárias, embora não tenha sido detectado nas crianças com mais de 48 meses de idade. Este dado, por outro lado, parece não merecer maior consideração em função do pequeno número de crianças estudada nesta faixa etária. Um estudo conduzido na Coréia do Sul mostrou maior positividade na faixa etária de 25-30 meses (Yu et al. 2008). Similarmente, os resultados deste estudo no que se refere à faixa etária é concordante com outros estudos já realizados em diferentes partes do mundo (Campe et al. 2008, Huang et al. 2009, Karalar et al. 2009, Tozer et al. 2009) bem como do Brasil (Albuquerque et al. 2007). A análise da positividade para o bocavírus em amostras de fezes de crianças da região Centro-Oeste em relação ao gênero não apresentou diferença estatisticamente significativa. A não diferença de positividade em relação a gênero também tem sido observada em outros estudos o que desta forma confirma os resultados do presente estudo (Yu et al. 2008, Han et al. 2009). Outra característica que tem sido analisada aos agentes etiológicos detectados em casos de gastrenterite na região Centro-Oeste é relativa à sua ocorrência no decorrer do ano. Esta análise tem sido realizada considerando o fato de que a região é marcada por períodos de seca e chuva condicionadas aos meses de abril-agosto e setembro-março, respectivamente, não havendo demarcação das quatro estações de ano. Assim, para o RVA a ocorrência principal na região Centro-Oeste é na estação de seca (Cardoso et al. 1992, Cardoso e al. 2003, Costa et al. 2004). Mundialmente adenovirus, astrovirus e calicivírus embora ocorram ao longo de todos os meses do ano apresentam tendência para a estação chuvosa (Mustafa et al 2000, Phan et al. 2004, Xi et al. 1990, Mounts et al. 2000) e para a região Centro-Oeste os estudos revelaram um predomínio desses vírus para a estação de chuva (Cardoso et al. 2003, Borges et al. 2006, Santos et al. 2007). No presente estudo também se procedeu a esta análise e a observação foi a de que o vírus ocorre similarmente em ambas as estações o fato de que na cidade de Brasília o vírus não tenha sido detectado na estação de seca. Novamente, este dado deve ser relevado desde 29 que apenas uma amostra foi analisada na estação em pauta. Poucos dados existem na literatura que permitam comparação, ainda assim um estudo realizado no Japão observou maior prevalência do vírus no inverno embora tenha havido circulação durante todo o ano (Nakanishi et al. 2009). Outros estudos deverão ser realizados para melhor compreensão da sazonalidade do HBoV na região. Também como procedimento de análise das gastrenterites virais na região CentroOeste tem-se buscado identificar a ocorrência de mais de um agente viral no mesmo espécime clinico. Esta metodologia foi também adotada no presente estudo onde se observou que 14 (31%) amostras positivas para HBoV-1 eram também positivas para outros agentes, RVA e Aichi vírus. Deve ser lembrado que RVA (Iturriza-Gómara et al. 2000, Cardoso et al. 2003, Parashar et al. 2006) é sobejamente reconhecido como agente da gastrenterite, mas para Aichi vírus o seu papel como agente etiológico ainda permanece em estudo (Yamashita et al. 2000, Oh et al. 2003). Na região Centro-Oeste a análise de poucas amostras fecais provenientes de crianças com gastroenterite mostraram a presença de Aichi vírus (Oh et al. 2006), contudo, sem ter o reconhecimento da responsabilidade do agente na síndrome. Estudos em desenvolvimento busca levantar esta possibilidade (Cardoso, D.D.P- comunicação pessoal). Análise comparativa em termos de co-infecção do HBoV com outros enteropatógenos mostra que esta parece ser característica comum conforme observado em estudo realizado no Japão onde se observou presença também de RVA, adenovírus, astrovírus e calicivírus com maior frequência de RVA e calicivírus (norovírus) (Nakanishi et al. 2009, Räsänen et al. 2010). Pesquisas realizadas na Austrália (Arthur et al. 2009) e Coréia do Sul (Han et al. 2009) também identificaram os mesmos agentes. Os resultados obtidos no presente estudo confirmam os dados disponíveis na literatura da positividade de detecção do HBoV em amostras de fezes em crianças menores de cinco anos de idade com diagnóstico de gastroenterite aguda das cidades de Goiânia-GO, Campo Grande-MS e Brasília-DF o que sugere a possibilidade deste vírus ser responsável por uma parcela substancial das gastrenterites na região Centro-Oeste. Sob qualquer prisma atentado no presente estudo consideramos que outros estudos devam ser realizados, levando em consideração população de diferentes faixas etárias e estados de saúde com o aditivo de controles pareados além da caracterização dos “genótipos” do vírus para uma melhor compreensão do vírus e da morbidade a ele atribuída. 30 7. CONCLUSÕES Os resultados obtidos, nas condições deste estudo, permitem concluir: • A positividade global para o HBoV-1 de 5,7% para as três cidades de Campo GrandeMS, Brasília-DF e Goiânia-GO mostra que este vírus está presente na região CentroOeste, desde que nas três cidades estudadas houve detecção do agente nas amostras das crianças estudadas. • O gênero das crianças do estudo não foi um fator de diferença em relação à positividade para o HBoV-1 o mesmo ocorrendo em relação ao sexo e faixa etária das crianças de qualquer das cidades de origem. • Dados sobre a ocorrência de bocavírus nas três cidades mostrou circulação do vírus ao longo de todos os meses do ano o que sugere não haver sazonalidade para o vírus. • Demonstração de co-infecção esteve presente neste estudo, onde foi observada a ocorrência de positividade concomitante entre bocavírus e RVA e também entre bocavírus e Aichi vírus o que leva a não identificação do agente etiológico principal da infecção. 31 8. 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DADOS DO PACIENTE: HORÁRIO DE COLETA APÓS O ATENDIMENTO: 1h( ) 2hs( ) 3hs( ) 4hs( ) 5hs( ) mais horas( ) NOME DO PACIENTE --------------------------------------------------------------------------------------------ENDEREÇO: ---------------------------------------------------------------------------------------------------------TELEFONE: ------------------------------------- FALAR COM:--------------------------------------------------PROFISSÃO DA MÃE: -------------------------------------- PROFISSÃO DO PAI--------------------------SEXO: MASCULINO ( ) FEMININO( ) DATA DE NASCIMENTO----/----/---- 1m( ) 1-3m( ) 4-6m( ) 7-9m( ) 3a( ) 10-12m ( ) 1a( ) 2a( ) 4-5a( ). HABITAÇÃO: CASA PRÓPRIA ( ) ALUGADA ( ) INVASÃO ( ) OUTROS ( ) RENDA FAMILIAR (SALÁRIO MÍNIMO): ( ) <1 ( )1 ( )1-2 ( )2-3 ( )3-4 ( )4-5 ( )5-6 ( )>6 PREVIDÊNCIA: PRIVADA ( ) GOVERNAMENTAL ( ) NENHUM ( ) 2. HISTÓRIA CLÍNICA: NÚMERO DE DIAS DOENTE: ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )>5 VÔMITO:------------- NÃO( ) SIM( ) DIARRÉIA----------- NÃO ( ) SIM( ) ( ) LÍQUIDA FEBRE:---------------- NÃO( ) ( ) SEMI-LÍQUIDA SIM( ) QUEIXA RESPIRATÓRIA:---- NÃO( ) SIM( ) DOR ABDOMINAL:------------- NÃO( ) SIM( ) OUTROS:----------------------------------ASSINATURA DOS PAIS OU RESPONSÁVEL:------------------------ ( )PASTOSA