Microeconomia II Cursos de Economia e de Matemática Aplicada à Economia e Gestão AULA 2.1 Oligopólio em Quantidades (Cournot) Isabel Mendes 2007-2008 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 1 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) CONCORRÊNCIA OLIGOPOLÍSTICA: Um mercado com concorrência oligopolística ou concorrência imperfeita tem as seguintes características: • Há um número limitado de agentes (empresas) do lado da oferta; • As decisões racionais (que maximizam os lucros) tomadas por cada uma das empresas têm de entrar em linha de conta com as decisões racionais das outras ⇒ comportamentos estratégicos. 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 2 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) TIPOS DE CONCORRÊNCIA OLIGOPOLÍSTICA (que serão dadas em Micro II): Cournot Pelas quantida des TIPOS DE Stackelberg Cartel CONCORRÊNCIA Custos de produção iguais Pelos preços 18-03-2008 Bertrand Custos de produção diferentes Isabel Mendes/MICRO II 3 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) OLIGOPÓLIO DE COURNOT: CARACTERÍSTICAS • Duas empresas i = 1,2 (pode-se generalizar para mais do que duas empresas); • Cada empresa produz as quantidade q1 e q2 de um bem homogéneo ⇒ ⇒ Q = q1 + q2 é a quantidade de bem oferecida no mercado; • As empresas enfrentam um mercado com uma curva de procura linear p=p(Q), tal que p = p (q1 + q2) porque as empresas produzem um bem homogéneo; • existe comportamento estratégico entre as empresas ⇒ cada empresa escolhe o output que lhe maximiza o lucro assumindo que a adversária não altera o seu output; 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 4 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Como decide cada empresa? Cada uma pretende maximizar o lucro supondo dadas e fixas as quantidades produzidas pelas adversárias. Analiticamente o objectivo das empresas é: max πi ( qi ) = RT( qi ) − CT( qi ) = p(Q)× qi − CT( qi ) i i i (1) * i q A condição de 1ª ordem para a obtenção do máximo da função é: ∂p ( Q ) ∂π i ( qi ) =0⇔ qi + p( Q ) = CMg( qi ) ⇔ ∂qi ∂Q (2) RMgi ( qi ) 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 5 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Como decide cada empresa? (continuação) O resultado (2) pode ser reescrito se: i) colocarmos o elemento p(Q) em evidência e ii) se multiplicarmos o primeiro termo por Q/Q, obtendo-se(3) ∂p Q qi p ( Q) +1 = CMgi ( qi ) ∂Q p ( Q) Q : (3) A expressão (3) pode ainda ser reescrita se usarmos a definição de elasticidade procura-preço agregada e se fizermos qi / Q = si obtendo-se a expressão (4) : 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 6 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Como decide cada empresa? (continuação) q p Q ∂ i p (Q ) + 1 = C M g i ( q i ) ⇔ ∂ Q p (Q ) Q s 1 ε si ⇔ p ( Q ) 1 − = C M g i ( qi ) ⇔ ε Q , p p (Q ) − C M g ( q i ) si ⇔ = p (Q ) ε Q ,p i Q ,p (4) m a rk -u p Onde si = qi / 18-03-2008 Q é a quota de mercado da empresa i. Isabel Mendes/MICRO II 7 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Como decide cada empresa? (continuação) Resolvendo agora a expressão (2) expressão que relaciona qi com qi . em ordem a qi, obtém-se uma Esta função é a FUNÇÃO DE REACÇÃO DA EMPRESA i: ( ) qi = Ri qi com i = 1,2 (5) As FUNÇÕES DE REACÇÃO DAS EMPRESAS representam as melhores escolhas em termos de output que cada empresa deve fazer em função dos outputs produzidos pelas adversárias. 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 8 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Quando é que o mercado de oligopólio com concorrência à Cournot está em equilíbrio? O mercado estará em equilíbrio quando as empresas escolherem os outputs que lhes maximizem os respectivos lucros, tendo em consideração que a adversária não irá alterar os seus comportamentos. Isto é equivalente a dizer que cada empresa escolherá o seu output do conjunto das suas melhores respostas, ou seja, a partir da sua função de reacção. Analiticamente, o equilíbrio é encontrado resolvendo o sistema constituído pelas funções de reacção das empresas em ordem aos outputs qi: q 1 = R 1 ( q 2 ) * qi : q 2 = R 2 ( q 1 ) 18-03-2008 Função de Reacção da emp. 1 Função de Reacção da emp. 2 Isabel Mendes/MICRO II 9 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) Quando é que o mercado de oligopólio com concorrência à Cournot está em equilíbrio? (continuação) Graficamente, o equilíbrio (q*1; q*2) é encontrado no ponto de intersecção das duas funções de reacção: q2 Equilíbrio do duopólio à Cournot q1= R1(q2) q*2 q2= R2(q1) q*1 18-03-2008 q1 Isabel Mendes/MICRO II 10 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO DO OLIGOPÓLIO À COURNOT: Considere-se a ´1ª condição de maximização do lucro das empresas na versão da expressão (4) : si 1 = C M g i( qi ) p ( Q ) 1 − = C M g i ( q i ) ⇔ p ( Q ) 1 − ε Q ,p ε Q ,p s i ` R M g (q ) i i R M g i (q i ) Onde: ε Q ,p si 18-03-2008 = elasticidade da procura agregada que a empresa enfrenta Isabel Mendes/MICRO II 11 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO DO OLIGOPÓLIO À COURNOT (continuação) 1ª) Cada empresa detém poder de mercado limitado (RMg(qi) < p(Q)); 2ª) O grau de poder de mercado de cada empresa depende da quota de mercado si da empresa i e da elasticidade procura-preço agregada εQ,p: - se si = 1 ⇒ monopólio e a empresa enfrenta sozinha a curva de procura do mercado; a condição de máximo de 1ª ordem fica: 1 p ( Q ) 1 − = C M g i ( qi ) ε Q , p ` R M g i ( qi ) 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 12 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO OLIGOPÓLIO À COURNOT(continuação) 2ª) (continuação) se si ≅ 0 ⇒ a sua quota de mercado é ínfima e próxima de zero ⇒ - situação de uma empresa de concorrência perfeita (no equilíbrio p(Q)=CMgi) ⇒ que a procura que a empresa enfrenta tem declive nulo e elasticidade infinita; - quanto menor a quota de mercado si mais elástica é a procura que a empresa enfrenta e menor será o poder de mercado ⇒ menor é a margem relativa entre o preço e o custo marginal (mark-up), ou seja, menor será: p ( Q ) − C M g ( q i ) p (Q 18-03-2008 ) ; Isabel Mendes/MICRO II 13 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO OLIGOPÓLIO À COURNOT(continuação) 2ª) (continuação) - Conclusão: se o oligopólio de Cournot for aberto a novas entradas de empresas, o nº de empresas instaladas aumenta, as respectivas quotas de mercado diminuem, o preço de mercado baixa até que iguala o custo marginal: o mercado tende para o equilíbrio competitivo: a condição de 1ª ordem para a maximização dos lucros ficará igual a: p (Q ) = C M g i ( qi ) N ` R M g i ( qi ) 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 14 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO OLIGOPÓLIO À COURNOT(continuação) 3ª) Quanto maior for a elasticidade da procura menor é o mark-up das empresas; 4ª) As quotas de mercado estão directamente relacionadas com a eficiência produtiva da empresa medida inversamente pelo custo marginal: quanto menor for CMg maior será a eficiência produtiva ⇒ ↓ CMgi ⇒ ↑ q*i (ver gráfico seguinte); 5ª) As empresas menos eficientes podem sobreviver no mercado com quotas de mercado positivas. 6ª) A quantidade de equilíbrio aumenta à medida que entram mais empresas no mercado. 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 15 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROPRIEDADES DO EQUILÍBRIO OLIGOPÓLIO À COURNOT(continuação) q2 R’1 R1 q*2 q*’2 R2 q*1 18-03-2008 q*’1 Isabel Mendes/MICRO II q1 16 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROBLEMAS DO EQUILÍBRIO DE COURNOT Se o equilíbrio de Cournot é um Equilíbrio de NASH, então enferma dos mesmos problemas deste último, a saber: 1º) Pode não existir equilíbrio (monopólio; Cournot sem barreiras à entrada); 2º) Podem existir múltiplos equilíbrios de Cournot (funções de reacção nãolineares, por ex:): q2 R1 R2 q1 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 17 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) PROBLEMAS DO EQUILÍBRIO DE COURNOT (continuação) 3º) Em geral o equilíbrio de Cournot pode não ser um óptimo de Pareto, (por isso se diz ser um Equilíbrio de Nash Fraco) porque: ∂π i Pela condiçao de 1 ª ordem de equilibrio, = 0; q ∂ i e ∂π i < 0 ∂q j Ou seja: partindo de um equilíbrio de Cournot, se a empresa i ↓ qi ⇒ πi ≅ mas πj ↑ ⇒ a empresa i fica com o mesmo pagamento mas o pagamento recebido pelas adversárias melhora ⇒ um vector de quantidades ligeiramente inferior ao equilíbrio de Cournot aumenta os lucros de todas as empresas ⇒ 18-03-2008 há possibilidades de coligação. Isabel Mendes/MICRO II 18 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) O OLIGOPÓLIO À COURNOT ANALISADO À LUZ DA TEORIA DOS JOGOS O OLIGOPÓLIO de Cournot pode ser analisado como se se tratasse de um Jogo do Dilema do Prisioneiro. Regras do Jogo do duopólio à Cournot: • dois jogadores: empresa 1 e empresa 2; • cada empresa dispõe de um conjunto de estratégias (os outputs que querem produzir) que pertence ao intervalo [0,+∞]; • Os pagamentos são contínuos e representados pelas funções de lucro de cada uma das empresas: π i ( qi ) = qi × p( Q ) − CT ( qi ) 18-03-2008 Isabel Mendes/MICRO II 19 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) O OLIGOPÓLIO À COURNOT ANALISADO À LUZ DA TEORIA DOS JOGOS (continuação) Regras do Jogo do duopólio à Cournot: (continuação) • O oligopólio de Cournot é um jogo não-cooperativo simultâneo: as empresas escolhem, ao mesmo tempo, as suas melhores estratégias; • O equilíbrio de Cournot é um equilíbrio de Nash (EQULÍBRIO COURNOTNASH): ambas as empresas escolhem a sua melhor estratégia de entre os respectivos conjuntos de melhores estratégias (as Funções de Reacção) e nenhuma deseja alterar o seu comportamento dado o output de equilíbrio da outra empresa ⇒ o vector de estratégias escolhidas (q*i) satisfaz a definição de equilíbrio de Nash (AULA 1.2): ( ) ( ) π i q ,q ≥ π i q'i ,q , ∀ qi e i = 1,2 18-03-2008 * i * i * i Isabel Mendes/MICRO II EQUILÍBRIO COURNOT-NASH 20 2.1 Oligopólio em Quantidades (COURNOT) O OLIGOPÓLIO À COURNOT ANALISADO À LUZ DA TEORIA DOS JOGOS (continuação) O Oligopólio de Cournot pode ser estudado como um JOGO DO DILEMA DO PRISIONEIRO: Batota = aumentam a produção e vendem + caro; Coopera = mantêm a produção baixa e vendem caro. Empresa B Batota Batota -3, -3 Coopera 0, - 6 Empresa A Coopera 18-03-2008 -6, 0 -1, -1 Isabel Mendes/MICRO II ÓPTIMO DE PARETO NASH 21