AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA E DA APRENDIZAGEM 10 DIAS APÓS

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE FISIOTERAPIA
JOANA MACCARINI TORQUATO
AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA E DA APRENDIZAGEM 10 DIAS APÓS A
INDUÇÃO DA MENINGITE PNEUMOCÓCICA EM RATOS WISTAR
ADULTOS
CRICIUMA, NOVEMBRO DE 2009
JOANA MACCARINI TORQUATO
AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 10 DIAS APÓS A
INDUÇÃO DA MENINGITE PNEUMOCÓCICA EM RATOS WISTAR
ADULTOS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para
obtenção de grau de Fisioterapeuta do curso de
Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC.
CRICIUMA, NOVEMBRO DE 2009
2
3
Dedico este trabalho aos meus pais, Mara e
Nério, que deste o início sempre me incentivaram
e me motivaram para que eu pudesse alcançar
meus objetivos.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro a DEUS pela vida.
Agradeço também aos meus pais pela força, luta e por não medirem esforços
para sempre me ajudarem nos estudos e estarem ao meu lado me dando o apoio que
preciso.
A minha orientadora Tatiana Barichello pela ajuda, atenção e dedicação em
nossos encontros, sempre pronta a ajudar.
A minha coorientadora Lisiane Tuon pela ajuda e pelas idéias, sempre
ajudando para que meu trabalho ficasse cada vez melhor.
Agradeço aos colegas de laboratório, Geovana, Geruza, Cíntia, Tiago, Giseli,
Alexandre, Gustavo, Ana, e também as meninas que entraram agora: Jaque, Ane e Luthi,
muito obrigada pela ajuda e compreensão.
Um agradecimento especial também a todas as minhas amigas e colegas de
faculdade, por tudo que passamos juntas e pelas ajuda que sempre demos umas as
outras.
Agradeço também a todos os professores do curso que sempre me ajudaram a
aprender mais e a buscar sempre mais conhecimento.
A todos que me ajudaram e me apoiaram o meu muito obrigada.
5
“Para lembrar, é importante esquecer.”
(Ivan Izquierdo)
6
RESUMO
Introdução: A meningite bacteriana ocasionada pelo Streptococcus pneumoniae é uma
doença comum que acomete o mundo todo como uma severa infecção no sistema
nervoso central. A meningite pneumocócica está associada com uma alta mortalidade e
morbidade, apesar dos avanços na terapêutica antimicrobiana nas últimas décadas. A
estimativa da incidência anual da meningite bacteriana é de 4-6 por 100.000 adultos,
entretanto os danos ocasionados pela meningite podem acarretar o prejuízo da
aprendizagem e memória em até 50% dos sobreviventes. Objetivo: avaliar a memória e a
aprendizagem em ratos sobreviventes à meningite bacteriana causada pelo S.
pneumoniae 10 dias após a indução. Métodos: Todos os procedimentos cirúrgicos e
administração da suspensão bacteriana foram realizados sob anestesia. Animais ratos
Wistar machos foram submetidos à inoculação na cisterna magna de salina estéril ou
suspensão de S. pneumoniae (5 x109UFC/ml). Os animais receberam antibioticoterapia
com início 16h após a indução (ceftriaxona, 100 mg/kg duas vezes ao dia por via
intraperitoneal). Após 10 dias da indução foram submetidos a dois testes
comportamentais: esquiva inibitória e esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os dados
foram analisados pelo teste t-Student, e expressos em média ± desvio padrão.
Resultados: Na sessão treino do teste da esquiva inibitória não houve diferença entre os
grupos no tempo de latência, demonstrando não haver prejuízo na atividade motora. Na
sessão teste o animal foi novamente colocado na plataforma e medido o tempo de
latência. No grupo sham houve diferença entre a sessão teste e a sessão treino
demonstrando que houve retenção de memória. No grupo meningite não houve diferença
entre a sessão treino e teste demonstrando haver prejuízo na retenção de memória. Na
sessão treino do teste esquiva inibitória múltiplos treinos, o grupo meningite necessitou de
um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50 segundos na
plataforma, demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da esquiva
inibitória de treinos múltiplos não houve diferença no tempo de latência entre os grupos na
sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória. Conclusão: Nós verificamos
que os animais acometidos de meningite tiveram prejuízo de aprendizagem e memória.
Palavras chave: Meningite, Memória, Aprendizagem, Sistema Nervoso Central.
7
ABSTRACT
Introduction: Bacterial meningitis caused by Streptococcus pneumoniae is a common
disease worldwide being a severe infectious disease of the central nervous system,
remains associated with high mortality and morbidity rates, despite the advances made in
antimicrobial therapy over the past decades. The estimated annual incidence of bacterial
meningitis is 4-6 per 100.000 adults. Moreover, impairment of learning and memory occur
in up to 50% of the survivors. Objective: To evaluate memory and learning in rats that
survived to bacterial meningitis caused by S.pneumoniae 10 days after induction.
Methods: All surgical procedures and bacteria administrations were performed under
anesthesia. Animals Wistar rats were inoculated intracisternally of sterile saline or
suspension of S. pneumoniae (5x109UFC/ml). The animals received antibiotic therapy
beginning at 16 h after induction (ceftriaxone, 100 mg/kg twice a day intraperitoneally).
Ten days after induction were submitted to two behavioral tests: inhibitory avoidance and
inhibitory avoidance training multiple. The data were analyzed by Student t test and
expressed as mean ± standard deviation. Results: In the training session of the inhibitory
avoidance test there was no difference between groups in onset time, showing no
impairment of motor activity. In the test session the animals were again placed on the
platform and measured the latency time. In the sham group was no difference between the
test session and training session showing that there was memory retention. In the
meningitis group there was no difference between the training and test session
demonstrated that there was impairment in memory retention. In the training session the
test multiple inhibitory avoidance training, the meningitis group required a greater number
of training sessions to reach the criterion to remain 50 seconds on the platform,
demonstrating impaired learning. In the test session of inhibitory avoidance practice
multiple there was no difference in latency between the groups in the test session,
showing no loss of memory. Conclusion: We verified that the animals of pneumococcal
meningitis had damage of learning and memory.
Key words: Meningitis, Learning, Memory, Central nervous system.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Estruturas do cérebro .............................................................................. 17
Figura 2 – Hipocampo............................................................................................... 19
Figura 3 – Circulação do LCR................................................................................... 21
Figura 4 – Barreira Hematoencefálica ...................................................................... 25
Figura 5 – Esquiva inibitória...................................................................................... 33
Figura 6 – Gráfico da esquiva inibitória..................................................................... 36
Figura 7 A – Gráfico da esquiva inibitória de treinos múltiplos sessão treino ........... 37
Figura 7 B – Gráfico da esquiva inibitória de treinos múltiplos sessão teste ............ 37
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LCR - Líquor cefalorraquidiano
SN - Sistema Nervoso
SNC - Sistema Nervoso Central
SNP - Sistema Nervoso Periférico
S. pneumoniae – Streptococcus pneumoniae
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 14
2.1 Sistema Nervoso............................................................................................... 14
2.1.1 Sistema Nervoso Periférico .......................................................................... 15
2.1.2 Sistema Nervoso Central .............................................................................. 15
2.1.3 Córtex ............................................................................................................. 17
2.1.4 Hipocampo ..................................................................................................... 18
2.2 Fisiologia do SNC ............................................................................................. 19
2.3 Doenças Infecciosas do SNC .......................................................................... 22
2.3.1 Meningite ........................................................................................................ 22
2.3.2 Streptococcus Pneumoniae e Meningite ..................................................... 23
2.4 Tratamento ........................................................................................................ 26
2.5 Memória ............................................................................................................. 27
2.5.1 Memória de curta duração ............................................................................ 28
2.5.2 Memória de longa duração ........................................................................... 28
2.6 Fisioterapia........................................................................................................ 29
3 MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 30
3.1 Caracterização do Estudo................................................................................ 30
3.2 Caracterização da Amostra.............................................................................. 30
3.3 Instrumentos para Coleta de Dados................................................................ 30
3.4 Procedimentos para Coleta de Dados ............................................................ 31
3.5 Análise Estatística ............................................................................................ 33
4 RESULTADOS ...................................................................................................... 35
5 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 39
6 CONCLUSÃO........................................................................................................ 41
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 42
11
1 INTRODUÇÃO
As Infecções do Sistema Nervoso Central (SNC) são caracterizadas como
meningite ou encefalite. Meningite é a mais comum infecção definida como uma
inflamação das meninges no espaço subaracnoide (ALMEIDA et al., 2007).
Meningite
é
uma
doença
infecciosa
aguda
causada
por
vários
microorganismos, incluindo vírus, bactérias, parasitas e fungos (XAVIER & GEORGE,
2003).
Meningite asséptica é uma inflamação das meninges em que o líquido
cefalorraquidiano é de aspecto límpido, apresenta pleocitose predominantemente
linfocitária, aumento moderado em proteínas e ausência de microorganismos na
coloração de Gram e nas culturas bacterianas utilizadas comumente. A meningite
asséptica pode ser causada por diferentes agentes, embora em muitos casos não seja
identificada a etiologia (JULIÁ et al., 2009).
A meningite bacteriana é uma infecção das meninges e do líquido
cefalorraquidiano, o processo inflamatório se estende por todo o espaço subaracnóide
envolta do cérebro e da medula espinhal e costuma envolver os ventrículos (CECIL et al.,
2005). Essa infecção leva o LCR a ficar com aspecto turvo ocorrendo a
hiperproteinorraquia (aumento das proteínas) e a hipoglicorraquia (diminuição dos níveis
de glicose) (MANTESE et al., 2002).
O Streptococcus pneumoniae é o patógeno que ocasiona a mais severa forma
de meningite bacteriana em termos de mortalidade e morbidade (GRANDGIRARD et al.,
2007)
Atualmente ocorre, cerca de 1,2 milhões de casos de bactérias no mundo,
resultando em 135.000 mortes. Meningite bacteriana é agora a principal causa de morte
em todo o mundo e cerca de metade dos sobreviventes tem seqüelas neurológicas.
Apesar dos agentes antimicrobianos e intensos cuidados da medicina, a mortalidade tem
permanecido alta. Com a introdução da vacina conjugada para Haemophilus influenzae,
nos Estados Unidos e Europa Ocidental, o Streptococcus pneumoniae e Neisseria
12
meningitis tornam-se as principais causas de meningite bacteriana nestas regiões
(MALIPIERO et al., 2007).
Os sintomas de meningite variam com a idade. Em crianças com idade superior
a 2 anos pode estar presente rigidez do pescoço e comprometimento das vias
respiratórias (BRANCO et al., 2007).
Os sintomas clínicos geralmente apresentam febre, mal-estar, vômitos, e em
alguns casos, erupções cutâneas (ALMEIDA et al., 2007). Sintomas neurológicos focais
como, hemiparesia, quadriparesia, paralisia facial, e defeitos no campo visual e auditivo
podem surgir cedo ou tarde, em cerca de 10-15% dos pacientes com meningite, e pode
correlacionar com persistentes anormalidades neurológicas ao longo prazo das
avaliações (XAVIER & GEORGE, 2003).
Complicações da meningite bacteriana podem desenvolver-se no inicio do
curso da doença, antes do diagnóstico ou vários dias após o início do tratamento;
problemas sistêmicos circulatórios normalmente surgem durante o primeiro dia no
hospital. O Colapso periférico circulatório é uma das mais marcantes e graves
complicações da meningite (XAVIER & GEORGE, 2003).
Foi feita uma análise com 87 casos consecutivos que foram tratados no
departamento de Neurologia em Munique que mostrou complicações intracerebrais em
75% dos casos, convulsões (28%), complicações arteriais, vasculares e cerebrais (22%),
complicações venosas (10%), edema cerebral difuso (29%) e hidrocefalia (16%)
(MALIPIERO et al., 2007).
Baseado no contexto apresentado formulou-se a seguinte questão problema:
Quais são as alterações de memória e aprendizagem em ratos após indução da
meningite?
Para melhor direcionar o problema assim exposto, apontam-se as seguintes
questões a investigar:
Sugerem-se as seguintes questões:
1. A utilização de ratos Wistar adultos como modelo animal de meningite bacteriana
induzida por S. pneumoniae pode representar a realidade clínica?
2. A meningite pneumocócica pode induzir prejuízos na memória e aprendizagem em
ratos Wistar adultos?
13
E para estas questões, sugerem-se as seguintes hipóteses:
1. Sim. Este modelo animal em que ocorre a indução da meningite através da cisterna
magna dos animais produz apoptose hipocampal e necrose tecidual dos hemisférios
corticais causando danos no SNC, assim como ocorre em humanos (GRANDGIRARD et
al., 2007).
2. Sim, porque duas estruturas cerebrais são afetadas proeminentemente na meningite
bacteriana que são o córtex e o hipocampo. (LEIB et al., 2003).
O objetivo geral deste estudo é avaliar a memória e a aprendizagem em ratos
com meningite induzida experimentalmente. Os objetivos específicos caracterizam-se em
identificar quais são as alterações da memória e da aprendizagem em ratos com
meningite; apontar a relação da meningite com a perda cognitiva dos ratos após a
indução da meningite.
Uma vez que as alterações de memória e aprendizagem causadas pela
meningite bacteriana não foram completamente esclarecidas, faz-se necessário
investigar, através de estudos comportamentais, sensórios, motores e medidas de
atividades de enzimas envolvidas nestes processos em ratos Wistar. Dentro deste
contexto, será possível avaliar e quantificar de uma forma um pouco mais específica os
efeitos causados por esta patologia sobre o desenvolvimento e mecanismos bioquímicos
envolvidos nestas alterações. Estudos prévios utilizando ratos wistar submetidos a esta
técnica têm demonstrado boa correlação com a aplicação desta em humanos.
14
2 REFERENCIAL TEORICO
2.1 Sistema Nervoso
O sistema nervoso (SN) é um órgão de alta complexidade anatômica: opaco no
seu interior e envolto, portanto, com saliências e reentrâncias que escondem umas às
outras, extensamente conectado com estruturas da periferia corporal (LENT, 2008).
A estrutura do SN, apesar de complexa segue um conjunto relativamente
simples de princípios funcionais, organizacionais e desenvolvimentais. Considerados
juntos, esses princípios trazem ordem à miríade de detalhes da anatomia do cérebro
(KANDEL et al., 2000).
O SN tem o papel final de controlar as diversas atividades do corpo. Esta
função é realizada através do controle: (1) da contração da musculatura lisa dos órgãos
internos, (2) da contração dos músculos esqueléticos apropriados, por todo o corpo, (3)
da secreção de substancias químicas pelas glândulas exócrinas e endócrinas, que agem
em diversas partes do corpo (GUYTON & HALL, 2006).
O SN recebe informações que chegam dos ambientes, externo e interno, e
regula as funções motoras somáticas e viscerais. A unidade funcional do SN é uma célula
excitável, altamente especializada, o neurônio. O neurônio possui três componentes que
são: o soma, os dendritos e o axônio. Os neurônios são capazes de receber informações
de outros neurônios e de receptores especializados. Eles apresentam numerosos
dendritos, prolongamentos e apenas um axônio especializado para a transmissão da
informação sob a forma de impulso elétrico, o potencial de ação (BURT, 1995).
O SN tem dois componentes: o sistema nervoso periférico (SNP), composto
pelos grupos de neurônios chamados de gânglios e nervos periféricos e o sistema
nervoso central (SNC), composto pelo encéfalo e a medula espinhal (KANDEL et al.,
2000; BURT, 1995; MACHADO, 2004).
15
2.1.1 Sistema Nervoso Periférico
O sistema nervoso periférico (SNP) consiste em todas as partes do SN que não
estão contidas na coluna vertebral ou no crânio (LUNDY-EKMAN, 2000; LENT, 2008).
As divisões autonômica e somática estão contidas no SNP. A divisão
autonômica é o sistema motor das vísceras, dos músculos lisos do corpo e das glândulas
exócrinas, e é comumente chamada de sistema motor autonômico. A divisão somática
abastece o sistema nervoso central com informações sensitivas acerca da posição dos
músculos e membros e acerca do ambiente fora do corpo. Esta divisão compreende
neurônios sensoriais da raiz dorsal e gânglios cranianos que inervam a pele, os músculos
e as articulações (KANDEL, 2000).
O SNP é coberto por duas camadas de meninges. A camada média cobre
apenas o cérebro e a medula espinhal. Fora do sistema nervoso central, as camadas
externas e internas fundem-se e formam uma bainha que envolve os nervos espinais e
cranianos e os gânglios periféricos (CARLSON, 2002).
2.1.2 Sistema Nervoso Central
O sistema nervoso central (SNC) é aquele que se encontra dentro do esqueleto
axial (cavidade craniana) e sendo formado pela medula que se localiza dentro do canal
vertebral e pelo encéfalo que é a parte situada dentro do crânio. No encéfalo temos o
cérebro, cerebelo e tronco encefálico, já no tronco encefálico temos o mesencéfalo a
ponte e o bulbo (MACHADO, 2004; NUNES & MARRONE, 2002).
A medula espinhal é a região do sistema nervoso que controla a musculatura
somática e recebe os estímulos chamados “gerais” (tato, dor, propriocepção) (LENT,
2008). Estende-se desde a base do crânio ate a primeira vértebra lombar, portanto, não
percorre todo o comprimento da coluna vertebral. Ela recebe informações sensoriais da
pele, das articulações e dos músculos do tronco e dos membros e, por sua vez, contém
16
os neurônios motores responsáveis pelos movimentos voluntários e reflexos (KANDEL et
al., 2000). A principal função da medula espinhal é distribuir as fibras motoras para os
órgãos efetores do corpo e coletar as informações somatossensoriais que deverão ser
enviadas ao cérebro (CARLSON, 2002).
A ponte é uma grande saliência no tronco cerebral, fica entre o mesencéfalo e
o bulbo, localiza-se imediatamente ventral em relação ao cerebelo e contem um grande
núcleo que envia informações do córtex cerebral ao cerebelo (CARLSON, 2002).
O SNC é envolvido por membranas conjuntivas denominadas meninges e que
são classificadas em três: dura-máter, aracnóide e pia-máter. O conhecimento da
estrutura e da disposição das meninges é importante não só para a compressão de seu
importante papel de proteção dos centros nervosos, mas também porque elas são
frequentemente acometidas por processos patológicos como infecções (meningites) e
tumores (meningiomas) (MACHADO, 2004; DANGELO & FATTINI, 1997).
A camada mais externa das meninges é delgada, resistente e flexível, mas não
elástica; é a dura-máter, que significa mãe dura. A camada intermediaria das meninges, a
membrana aracnóide, recebe este nome pela semelhança com um trajeto de uma aranha.
Em contato direto com o cérebro e a medula espinhal, e cobrindo toda a superfície está a
pia-máter. Os menores vasos superficiais do cérebro e da medula espinhal estão contidos
dentro dessa camada (CARLSON, 2002).
17
Figura 1: estruturas do cérebro
Fonte: (BARBOSA et al., 2006)
2.1.3 Córtex
O córtex é uma substância cinzenta que possui uma camada fina na superfície
do cérebro e do cerebelo, não é homogêneo em toda sua extensão, permitindo a
individualização de várias áreas, o que pode ser feito com critérios anatômicos,
filogenéticos, estruturais e funcionais (MACHADO, 2004), sendo a região mais complexa
do cérebro (BURT, 1995).
A parte funcional do córtex cerebral é uma camada fina de neurônios que cobre
a superfície de todas as circunvoluções do cérebro. Esta camada tem apenas de 2 a 5
milímetros de espessura, com uma área total de aproximadamente um quarto de um
metro quadrado (GUYTON & HALL, 2006).
18
No córtex cerebral humano adulto as estimativas do número de neurônios
variam de 14 a 16 bilhões, sendo cerca de dois terços desses neurônios células
piramidais (BURT, 1995). É no córtex que está situado muitos arquivos da memória, e
este ainda está possibilitado a focalizar a atenção em algum objeto ou dispersar e até
dormir; é por intermédio do córtex cerebral que compreendemos e emitimos a fala e a
mímica correspondente. A maior parte remanescente do córtex cerebral e destinada à
área associativa, onde ocorre o processamento das informações, em nível de altíssima
qualidade em que o organismo é capaz. (LENT, 2008). O córtex cerebral é dividido em
três regiões: o arquicórtex, paleocórtex e neocórtex. Tendo também cada hemisfério
dividido como: lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e temporal (BURT, 1995).
2.1.4 Hipocampo
O hipocampo é uma elevação curva de superfície branca e lisa, muito
pronunciada que se dispõe acima do giro para-hipocampal (BURT, 1995), que se dobra
para dentro para formar a superfície ventral da parede interna do ventrículo lateral
(GUYTON & HALL, 2006). É constituído por um tipo de córtex muito antigo (arquicórtex) e
faz parte do sistema límbico, tendo importantes funções psíquicas relacionadas com a
memória e o comportamento. O hipocampo liga-se às pernas do fórnix por um feixe de
fibras situadas ao longo de sua borda medial (MACHADO, 2004).
O hipocampo tem numerosas conexões indiretas com a maioria das porções do
córtex cerebral, bem como com estruturas basais do sistema límbico (a amígdala, o
hipotálamo, a área septal e os corpos mamilares) (GUYTON & HALL, 2006).
Liga-se aos núcleos mamilares de onde os impulsos nervosos seguem para o
núcleo anterior do tálamo através do fascículo mamilo-talâmico, fazendo parte do
chamado circuito de Papez (MACHADO, 2004).
19
Figura 2: Hipocampo
Fonte: Revista Scientific American (Julho de 2007)
2.2 Fisiologia do SNC
O Liquido cefalorraquidiano (LCR) é límpido e incolor, com volume total de
aproximadamente 150 mL, dos quais apenas 23 mL ficam nos ventrículos (KONEMAN et
al., 2008; BURT, 1995). Os 127 mL restantes enchem o espaço subaracnóideo, em torno
do encéfalo e da medula espinhal (BURT, 1995). É produzido continuamente pelas
células da parede dos ventrículos, mas principalmente por uma estrutura ricamente
vascularizada que retira do sangue os ingredientes necessários. Essa estrutura é
chamada de plexo coróide. O LCR que preenche os ventrículos apresenta certa pressão
20
que mantêm o encéfalo de certo modo “inflado”, contribuindo para a manutenção da sua
forma (LENT, 2008).
O LCR é produzido dentro dos ventrículos cerebrais e sai para o espaço
subaracnoide, que fica entre a meninge pia-máter e a aracnóide, através dos foramens de
Luschka e Magendie, situados na membrana obturatória do quarto ventrículo; do espaço
subaracnóide, o líquor será reabsorvido pelas granulações da aracnóide para as lacunas
e seios venosos da dura-máter (NUNES & MARRONE, 2002; DOUGLAS, 2002). Este
líquido banha e protege o cérebro e a medula espinhal. O líquido atua absorvendo o
choque quando ocorre traumatismo da cabeça ou das costas ou mudança súbita da
posição (PAGANA, 2001). Uma obstrução dos espaços subaracnoideanos por processos
fibrinoconjuntivos pode perturbar a dinâmica do LCR (CAMBIER et al., 1999).
Acredita-se que o LCR seja “aspirado” pela pressão negativa exercida pelo
sangue, em relação à pressão liquórica, e passe por fenestrações (espaços intercelulares)
da membrana das granulações, ou mesmo por dentro das células que constituem essa
membrana (LENT, 2008).
Os achados do LCR são importantes no diagnóstico diferencial de infecções do
SNC (DANGELO & FATTINI, 1997) como: meningites, encefalites, hemorragias
subaracnóides, estados confusionais e doenças desmielinizantes do SNC (ROWLAND,
2002). Ele permite determinar a intensidade do processo inflamatório, o agente etiológico
e os anticorpos específicos, os quais informam indiretamente a etiologia da infecção
(FOCACCIA & VERONESI, 2007).
Através de punções pode-se medir a pressão do LCR ou colher certa
quantidade para estudo das características citológicas e físico-químicas. Tais estudos dão
importantes informações sobre a fisiopatologia do SNC e seus envoltórios, permitindo o
diagnóstico, de muitas afecções que acometem o SNC, como infecções, hemorragias, etc.
O estudo do líquor é especialmente valioso para o diagnóstico de diversos tipos de
meningites (MACHADO, 2004).
O LCR é um fluido que tem funções diversas, protege o SNC de impactos
externos e das pulsações arteriais e mantêm estreito equilíbrio químico e celular para um
funcionamento harmonioso do mesmo. Protege o SNC das infecções e seu exame pode
trazer informações preciosas para um preciso diagnóstico e tratamento (DOUGLAS,
2002).
21
Na meningite o diagnóstico do LCR é através de exame bacteriológico direto
após coloração de Gram e convencional, onde as culturas das bactérias são encubadas a
uma atmosfera de 37ºC com 5% de dióxido de carbono por um período mínimo de 72
horas (JULIÁ et al., 2009). Na meningite bacteriana os achados característicos no LCR
incluem a pleocitose à custa de neutrófilos (correspondendo a 80% do número de
células), a hiperproteinorraquia, a hipoglicorraquia, o teste positivo de Gram (em 25% até
mais de 90% dos casos) e a cultura positiva (em 70% a 90% dos casos não submetidos a
tratamento prévio). Preferencialmente as amostras devem ser obtidas antes do início do
tratamento antimicrobiano, mas o emprego de antibióticos não deve desestimular a busca
da etiologia (MANTESE et al., 2002).
Figura 3: Circulação do LCR
Fonte: (GUYTON & HALL, 2006)
22
2.3 Doenças Infecciosas do SNC
2.3.1 Meningite
A meningite bacteriana é uma infecção do SNC caracterizada por uma forte
inflamação nas meninges e no espaço subaraquinóideo (GRANDGIRARD, et al., 2007;
PRASAD & KARLUPIA, 2007; SOMAND & MEURER, 2009), com alterações
características no Líquor (LCR) (COURA, 2005).
Esta infecção bacteriana pode resultar em um significativo prejuízo no cérebro
dos pacientes afetados, apesar da utilização de antibióticos (LEIB et al., 1996).
Nos seres humanos a meningite está associada longo prazo com seqüelas
motoras, sensoriais déficits inclusive, apreensões, e incapacidades de aprendizagem e
memória. Seqüelas neurológicas ocorrem em até metade dos sobreviventes. Na autópsia
estudos sobre pacientes que faleceram a partir de meningite bacteriana, mostraram danos
no SNC e é caracterizada por necrose tecidual nos hemisférios corticais e por apoptose
celular no giro dentado (GRANDGIRARD, et al., 2007).
A meningite é um processo da doença com uma elevada taxa de mortalidade e
seqüelas neurológicas significativas em 20-27% dos sobreviventes. (IRAZUZTA et al.,
2001)
Além de seqüelas neurológicas, ocorrem déficit sensitivo-motora, paralisia
cerebral, convulsões, depressões, retardo mental, e incapacidade de aprendizagem. As
estruturas cerebrais afetadas proeminentemente na meningite bacteriana são o córtex e o
hipocampo (LEIB et al., 2003).
Vários estudos mostram que as seqüelas neurológicas tardias ocorrem em
cerca de 5% a 30% dos casos de meningite bacteriana. As primeiras seqüelas começam
a surgir após cerca de três meses da cura da meningite, mas pode detectá-la
precocemente medindo-se o perímetro cefálico da criança durante a fase aguda da
doença. Ataxia transitória, em decorrência de distúrbios vestibulares, pode ocorrer mais
raramente (FOGACCIA & VERONESI, 2007).
23
A meningite bacteriana é uma emergência medica que necessita diagnóstico e
tratamento imediato (HARVEY, 2008). Em estudos internacionais, a morbidade atinge 20
a 30%, e a mortalidade, 10%. Esses dados não se alteraram muito nos últimos 30 anos
(BEREZIN et al., 2002). A meningite bacteriana é uma das dez principais causas de
infecção relacionadas com mortes no mundo. Morbidade e mortalidade podem variar, no
entanto, dependendo da idade do paciente e da localização do agente causador (KIM,
2008).
2.3.2 Streptococcus pneumoniae e Meningite
O
Streptococcus
pneumoniae
são
cocos
gram-positivos,
imóveis,
encapsulados. Apresentam forma de lanceta, e sua tendência a formar pares (HARVEY,
2008; KONEMAN et al., 2001). Os sorotipos prevalentes são: I, II, III, VI, VII, VIII e, entre
crianças, os capsulados tipos I, V, VI, XIV e XIX. Existem mais de 80 tipos de
penumococos (FOCACCIA & VERONESI, 2007).
A grande perspectiva para o controle meningite bacteriana é o atual surgimento
de vacinas conjugadas contra os sorotipos mais causadores mais freqüentes da doença.
A grande dificuldade é a escolha dos sorotipos para a composição da vacina (BEREZIN et
al., 2002).
A introdução de uma vacina conjugada (PCV7) para crianças reduziu de forma
significativa taxas de bacteremia e doenças pneumocócicas nos Estados Unidos e outros
países industrializados, mas o aparecimento de sorotipos não incluídos na vacina
pneumocócica pode ameaçar a eficácia das vacinas conjugadas. Estudos experimentais
em modelos animais têm demonstrado que os sorotipos de pneumococos capsulares
diferem em sua capacidade para desencadear respostas inflamatórias. Contudo, poucos
estudos avaliaram a associação de determinados sorotipos capsulares com a mortalidade
por DIP (doença pneumocócica invasiva) em data recente e produziram resultados
contraditórios (HARBOE et al., 2009).
O mecanismo e a via de invasão pela qual a bactéria produz meningite ainda
não estão completamente esclarecidos, por se tratar de um bom sistema de proteção
24
contra agentes patogênicos invasivos, composto pela caixa craniana, meninges e por um
complexo mecanismo que interpõe entre o sangue e o LCR denominada barreira
hematoencefálica. A infecção pode atingir o SNC através de três mecanismos básicos:
propagação sanguínea; infecção adjacente às meningites; solução de continuidade
(FOCACCIA & VERONESI, 2007).
S. pneumoniae é um dos principais agentes etiológicos de pneumonias
adquiridas na comunidade, meningites, sinusites, otites médias agudas e bacteremia
(MATTEI et al., 2008; VIEIRA et al., 2007).
Sendo um parasita obrigatório de seres humanos, o S. pneumoniae, pode ser
encontrado na nasofaringe de muitos indivíduos. A suscetibilidade à infecção pode ser
devida, por exemplo, à debilitação geral como aquela causada por desnutrição ou
alcoolismo, por lesão no trato respiratório após uma infecção viral ou frente a um sistema
imune deprimido (HARVEY, 2008).
Streptococcus pneumoniae é um dos principais causadores da meningite, que
provoca a forma mais grave da doença, em termos de mortalidade e morbidade
(GRANDGIRARD, et al., 2007; BEREZIN et al., 2002; HARVEY, 2008), com taxa de
mortalidade de até 30% e seqüelas permanentes em até 50% dos sobreviventes
(BELLAC et al., 2006).
As infecções por S. pneumoniae podem resultar em bacteremia, levando a
infecção de diversos locais no corpo humano, incluindo o SNC. Pode ser endógena (em
um portador que desenvolve resistência diminuída à bactéria) ou exógena (por gotículas
das vias aéreas de um portador). Este tipo de meningite tem alta taxa de mortalidade,
mesmo quando tratada apropriadamente. É a causa mais freqüente de meningite
bacteriana em adultos (HARVEY, 2008).
A bacteremia costuma se desenvolver, tanto no recém-nascido como nos
demais segmentos etários, a partir de infecções da pele, pulmão, coração, trato intestinal
e geniturinário. Uma forte fonte de infecção por bactérias é a orofaringe, que podem se
colonizar assintomaticamente nessa região (FOCACCIA & VERONESI, 2007).
Algumas das experiências mostram que as bactérias se distribuem no SNC ao
longo das paredes dos seios venosos encefálicos, onde a pressão do sistema venoso é
baixa. Elas penetram pela dura-máter, conseguindo alcançar o espaço subaracnóideo.
Este é o momento critico que irá definir o destino destas bactérias; se os mecanismos
25
locais de defesa não conseguirem promover rapidamente a depuração bacteriana, os
microorganismos se colonizam e disseminam a infecção (FOCACCIA & VERONESI,
2007).
A barreira hematoencefálica é uma barreira estrutural e funcional que é
formada através de células endoteliais microvasculares do cérebro tais como, astrócitos e
pericitos. Os patógenos podem atravessar a barreira hematoencefálica através de três
mecanismos de invasão: transcelular, no qual o patógeno atravessa a barreira sem
evidencia de dano celular; paracelular no qual o microorganismo penetra entre as células
com ou sem evidência de dano e cavalo de tróia no qual o microorganismo atravessa a
barreira dentro de células fagocíticas (KIM, 2008).
Figura 4: Barreira Hematoencefálica
Fonte: (KIM, 2008)
Esta Barreira é relativamente impermeável a íons, vários aminoácidos,
pequenos peptídeos e principalmente proteínas, tendo como principal função regular o
transporte de substâncias entre o sangue e o tecido nervoso, de forma a manter, assim, o
ambiente neural protegido de substâncias neurotóxicas e de variações bruscas na
26
composição sanguínea. A barreira atua ainda excluindo células inflamatórias do SNC
normal (BONDAN et al., 2002).
2.4 Tratamento
A meningite bacteriana com o seu tratamento tem dois grandes objetivos:
primeiro é a rápida administração de um antibiótico bactericida com boa penetração no
SNC para tratar a infecção neurológica, bem como com boa penetração tecidual para o
tratamento de possíveis fontes fora do SNC. O segundo objetivo é o uso de um
antiinflamatório para suprimir as seqüelas da lise bacteriana. (DAVID, 2009).
O tratamento com antibiótico deve ser iniciado imediatamente em um paciente
com febre, considerando-se a gravidade e a freqüência da doença. Os antibióticos para o
tratamento da meningite são: Ceftriaxona, Cefotaxima, Penicilina G Cristalina,
Cloranfenicol (para pacientes alérgicos a penicilina). A penicilina G cristalina ou a
ampicilina, que são consideradas seguras e eficazes, permanecem como as drogas de
escolha para o tratamento da doença. A ceftriaxona ou a cefotaxima estão indicados para
aqueles casos com infecção por bactérias com resistência parcial ou total à penicilina e na
falta de teste de sensibilidade às drogas. Qualquer que seja a opção, o medicamento é
prescrito por via venosa por um período de sete dias (COURA, 2005).
A
antibioticoterapia
deve
ser
instituída
tão
logo
seja
possível,
preferencialmente logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura,
administrada por via venosa por um período de 7 a 14 dias ou até mais. O uso de
antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição
líquida e cuidadosa assistência (BRASIL, 2005).
É importante considerar a presença de barreiras anatômicas e fisiológicas,
sangue/líquor
e
sangue/cérebro.
Muitos
antibióticos,
lipossolúveis,
ultrapassam
rapidamente esses obstáculos (cloranfenicol, clotrimexazol, rifampicina), enquanto outros
são ionizados em pH plasmático, adquirindo baixa solubilidade lipídica e, por via de
conseqüência, penetram lentamente e em quantidades muito pequenas (FOGACCIA,
2007).
27
2.5 Memória
Memória é conceituada como a capacidade de guardar a informação aprendida
para posteriormente ser utilizada, possuindo diversas fases de processamento e
consolidação (CAHIL & MCGAUGH, 1996).
A memória é base inicial de todo o comportamento que vem a ser executado, é
a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informações, também chamada
de aprendizagem, por que só se grava aquilo que foi aprendido (IZQUIERDO, 2002;
ZARDO, 2006).
Evidências recentes sugerem que o hipocampo é especializado, de fato, no
reconhecimento de ambientes, mais do que no reconhecimento de qualquer estímulo. A
lesão do hipocampo afeta profundamente, e talvez especificamente, a capacidade de
localização espacial (IZQUIERDO, 1989).
A memória ocorre de forma distributiva, não existindo uma localização própria
da memória. O hipocampo, o córtex para límbico, o giro do cíngulo, amídala, o corpo
mamilar e o tálamo anterior tem participações importantes na formação da memória.
(KLINKE, 2006). A ativação do hipocampo por experiências novas e ou por ambientes
novos e ou por experiências dentro de ambientes novos tem duas consequências. Por um
lado, o hipocampo informa a seus sítios de projeção: amígdala, hipotálamo,
secundariamente através do hipotálamo a diversos núcleos talâmicos associativos que se
trata realmente de uma experiência ou ambiente novo. Por outro lado, através do fórnix, o
hipocampo ativa neurônios β-endorfinérgicos localizados no hipotálamo medial basal.
Estes neurônios, por sua vez, projetam ao septum medial (podendo, assim, fechar um
círculo), à amígdala e a outros núcleos vinculados com a modulação dos processos de
memória (IZQUIERDO,1989).
Não é possível medir memórias de forma direta. É possível avaliá-las medindo
o desempenho em testes de evocação. No homem, a evocação pode ser medida através
do reconhecimento de pessoas, palavras, lugares ou fatos. Nos animais, a evocação
também se expressa através de mudanças comportamentais. É evidente que a evocação
de uma alteração comportamental implica num reconhecimento prévio, e que todo
28
reconhecimento implica numa alteração comportamental potencial ou real (IZQUIERDO,
1989).
É importante distinguir os diferentes tipos e classificações da memória. Uma
diferenciação básica é entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo.
(CECIL, 2005).
2.5.1 Memória de curta duração
A memória de curto prazo envolve retenções da informação num período de
um minuto ou menos, sendo essencialmente sinônimo de memória primária, evocação
imediata e manutenção da atenção. Esta memória é encarregada de manter a informação
comportamental disponível durante essas horas (CECIL, 2005).
A memória imediata e a memória do trabalho podem ser consideradas
sinônimas. A memória imediata é processada fundamentalmente no córtex pré-frontal,
que atua agrupado com o córtex entorrinal, parietal superior e cingulado anterior, e com o
hipocampo (VIANNA et al., 2000).
2.5.2 Memória de longa duração
A memória de longa duração requer um processo de formação e uma
sequência de eventos moleculares que dura varias horas e é suscetível a numerosas
influências (LENT, 2008). Esta é muito resistente a todos os distúrbios, mesmo após
longa e profunda perda de consciência, graves doenças neurológicas ou frequentes
ataques epiléticos, ficando pouco comprometida. (KLINKE, 2006).
29
2.6 Fisioterapia
A atuação em Fisioterapia, durante muitos anos, baseou-se em livros de
reabilitação importados, que tinham tudo pronto que dispensavam a necessidade de
pensar para tomar decisões em relação à conduta que pode ser muito mais ampla e sobre
a reabilitação dos pacientes que antigamente era muito mais demorada. Hoje já existe a
prática baseada em evidências, é uma realidade na área da Fisioterapia que auxilia os
fisioterapeutas para melhor realizar seu diagnóstico, prognóstico e ver o quanto à doença
afeta na qualidade de vida dos pacientes tanto em relação a sua saúde como na vida em
sociedade, que recorre a três tipos de informações como a pesquisa clínica, a experiência
do fisioterapeuta e as preferências do paciente. Na Fisioterapia, os níveis de evidência
são hoje utilizados como um norteador para classificar a qualidade dos estudos realizados
na área da saúde (MARQUES & PECCIN, 2005).
Cada vez mais existe a necessidade dos fisioterapeutas a aprenderam a
realizar pesquisa básica, trabalhar em laboratórios com fisioterapia aplicada em pesquisa
básica e estudos experimentais envolvendo varias áreas da fisioterapia e descobrindo
novos tratamentos, começando com pesquisa em animais e após, se obterem sucesso,
passar a testar em humanos.
O estudo experimental caracteriza pelo fato do pesquisador ser o responsável
pela exposição dos indivíduos (animais ou humanos), escolhendo qual a melhor
intervenção (MARQUES & PECCIN, 2005).
Assim evoluímos em pesquisas mais
fidedignas que chegam mais perto da realidade e possam descobrir novos tratamentos
para melhorar a vida dos pacientes.
30
3 MATERIAIS E METODOS
3.1 Caracterização do Estudo
Com referência aos conceitos de Luciano (2001), a pesquisa classifica-se como
básica no que diz respeito à natureza. Em relação ao problema é quali-quantitativa. No
que se refere aos objetivos é descritiva e exploratória, e por fim em relação aos
procedimentos é experimental.
3.2 Caracterização da Amostra
Foi realizado o estudo com Ratos Wistar adultos (peso entre 250 a 300g) do
biotério, da Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, utilizados para indução do
protocolo de meningite.
Foram realizados dois testes comportamentais. Cada
experimento contava com um grupo controle e um grupo acometido de meningite. Para
cada teste foi utilizados 12 ratos para um erro alfa de 0,05 e um poder de 80%, utilizando
num total de 48 ratos.
No estudo foram excluídos ratos com abscessos ou com qualquer outro fator que
prejudique os resultados.
3.3 Modelo animal de meningite
O modelo animal de meningite é realizado via inoculação do microorganismo na
cisterna magna de ratos Wistar, adultos, machos.
O microorganismo foi cultivado em caldo Todd-Hewitt, lavado e ressuspendido em
NaCl a 0,9% estéril e obtida a concentração de 5x109 UFC/mL (BARICHELLO et al.,
2008). A inoculação é realizada através da cisterna magna de 10µL da suspensão
31
bacteriana no grupo meningite ou 10uL de salina estéril no grupo controle. Todos os
procedimentos foram realizados sob o uso do anestésico Cloridrato de Cetamina (6,6
mg/kg), Xilazina (0,3 mg/kg), e Acepromazina (0,16 mg/kg) sendo administrada
intraperitoneal. Após 16 horas do procedimento foi realizada a confirmação da infecção
retirando 10µL de líquor e semeando em placas de Agar sangue e colocando na estufa
durante 24 horas (GRANDGIRARD et al., 2007). Depois de confirmada a infecção foi
iniciado o tratamento com antibiótico Ceftriaxona 100mg/Kg durante 7 dias 2 vezes ao dia
(12 em 12 horas) (LEIB et al., 2003). Os animais foram armazenados no biotério com
água e comida ad libitum. Após foi feita a randomização, seguindo o protocolo, grupo
controle e grupo meningite com antibiótico.
Dez dias após a indução da meningite foram realizados os seguintes testes:
Esquiva Inibitória (memória) e Esquiva Inibitória de Treinos Contínuos (memória).
3.4 Procedimentos para Coleta de Dados
Os procedimentos para coleta de dados foram divididos em etapas para
melhor esclarecimento dos mesmos. Primeira etapa foi realizado o encaminhamento para
o comitê de ética em forma de adendo com o número do protocolo 210/2008. Após a
aprovação foram iniciadas as demais etapas do estudo. Inicialmente foram realizados
alguns contatos para outros profissionais para preparar os animais e agendar os testes.
Em seguida este procedimento foi iniciado a fase de preparação da coleta.
Logo após preparação foi dado inicio a coleta propriamente dita, iniciando com a
indução da meningite. O processo foi realizado com um número de 30 ratos para cada
teste sendo eles brancos com peso entre 205 a 300 g da raça Wistar, após a indução foi
aplicado antibiótico ceftriaxona 100 mg/kg a cada 12 horas durante sete dias. Desde a
data da indução foi esperado 10 dias para após começar os testes, durante este tempo os
animais ficam sob os cuidados dos responsáveis pelo biotério tendo água e comida a
vontade. Após os testes comportamentais os animais foram mortos por decapitação e
colocados em um saco branco leitoso. Estes foram acondicionados em freezer -20ºC para
32
posterior recolhimento por empresa terceirizada pela UNESC, que realizou o descarte
como material biológico infectante.
No tempo de 10 dias foram realizados os seguintes testes como: Esquiva Inibitória
(memória) e Esquiva Inibitória de Treinos Contínuos (memória):
Esquiva Inibitória:
Conciste em uma caixa de acrílico (Figura 4) na qual o piso é formado por
barras paralelas de metal (1mm de diâmetro). Os espaços entre as barras medem 1cm.
Uma plataforma com 7cm de largura e 2,5cm de comprimento é colocada junto à parede
esquerda do aparelho (QUEVEDO et al., 1999; ROESLER et al, 2004). Na sessão de
treino, os animais são colocados sobre a plataforma e mede-se o tempo que o animal leva
para descer com as quatro patas da plataforma. Esse tempo é denominado latência.
Imediatamente após descer da plataforma (com as 4 patas), o animal recebe um choque
de 0,4 mA durante 2 segundos. Na sessão de teste, o animal é novamente colocado na
plataforma e medido o tempo que ele leva para descer (latência), porém não é
administrado choque. A latência é um parâmetro clássico de retenção de memória. Os
intervalos entre o treino e o teste foram de 24 horas (IZQUIERDO et al., 1998; QUEVEDO
et al., 1999; ROESLER et al., 2004).
33
Figura 5: Esquiva inibitória
Fonte: Laboratório de neurociências
Esquiva Inibitória de Treinos Múltiplos:
Nesse teste usa-se também a esquiva inibitória, no qual suas características
foram descritas anteriormente. Na sessão de treinamento o animal é colocado na
plataforma e imediatamente ápos pisar nas barras de metal, recebe um choque 0.3-mA,
durante 2 segundos. Este procedimento continua até que o animal permaneça na
plataforma por 50 segundos. O animal é devolvido então à sua caixa moradia. Depois de
24 horas, o animal é recolocado na plataforma e conta-se o tempo de permanência do
animal sobre a plataforma, caso o animal desça antes não será administrado choque.
(BARICHELLO et al., 2005).
3.5 Análise Estatística
Com base em estudos prévios em pacientes e estudos em modelos animais,
para uma diferença de até 20% nos parâmetros que foram analisados entre os grupos,
com uma variância de no máximo 10% entre as médias. Calculou-se um tamanho de
34
amostra de 12 animais por grupo para os testes de comportamento, para um erro alfa de
0,05 e um poder de 80%.
Treino de esquiva inibitória de treinos múltiplos, os dados foram analisados
pelo teste t Student e expressos em média ± desvio padrão.
Para os testes de esquiva Inibitória de treino simples e sessão teste de esquiva
inibitória de múltiplos treinos, os dados foram analisados pelo teste t Student, e expressos
em mediana e intervalo interquartil.
* P <0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino indicando significância
estatística. Todas as análises foram executadas utilizando o programa SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences).
35
4 RESULTADOS
Na sessão treino do teste da esquiva inibitória (Gráfico 1) não houve diferença
entre os grupos no tempo de latência, que é o tempo que o animal leva para descer com
as quatro patas da plataforma, demonstrando não haver prejuízo na atividade motora. Na
sessão teste o animal foi novamente colocado na plataforma e medido o tempo que ele
levou para descer (latência), porém não foi administrado choque. No grupo sham houve
diferença entre a sessão teste e a sessão treino demonstrando que houve retenção de
memória. No grupo meningite não houve diferença entre a sessão treino e teste
demonstrando haver prejuízo na retenção de memória neste grupo.
Na sessão treino do teste esquiva inibitória múltiplos treinos (Gráfico 2A), o animal
foi colocado na plataforma e imediatamente após descer da plataforma e pisar nas barras
de metal, recebeu um choque 0.3-mA, durante 2 segundos. Este procedimento continuou
até que o animal permaneceu na plataforma por 50 segundos. O grupo meningite
necessitou de um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50
segundos na plataforma. Demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da
esquiva inibitória de treinos múltiplos (Gráfico 2B) não houve diferença no tempo de
latência entre os grupos na sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória.
36
Sham
350
*
Meningitis
300
Latency (sec)
250
200
150
100
50
0
Treino
Teste
Figura 6: Teste da esquiva inibitória. Os animais com n=12 por grupo foram induzidos à
meningite pneumocócica e dez dias após foi realizado o teste. Os dados foram analisados
pelo teste Student t, e expressos em média ± desvio padrão. p<0.05 em relação ao
mesmo grupo da sessão treino. *
37
3
*
2,5
T rials
2
1,5
1
0,5
0
Sham
Meningitis
Figura 7A Sessão treino do teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os animais
com n=12 por grupo foram induzidos à meningite pneumocócica e dez dias após foi
realizado o teste. Os dados foram analisados pelo teste Student t, e expressos em média
± desvio padrão. *p<0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino.
400
350
300
LTM
250
200
150
100
50
0
Sham
Meningitis
38
Figura 7B: Sessão teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os animais com n=12
por grupo foram induzidos à meningite pneumocócica e dez dias após foi realizado o
teste. Os dados foram analisados pelo teste Student t, e expressos em mediana e
intervalo interquartil. * P<0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino.
39
5 DISCUSSÃO
A anual incidência, entre adultos, da meningite bacteriana é de 3 a 6 casos por
100.000 habitantes (CHOI, 2001), as bactérias mais comuns nos Estados Unidos e Norte
da Europa são S.pneumoniae (47%–51% dos casos), Neisseria meningitidis (25%–37%),
e Listeria monocytogenes (4%–8%) (HONDA, et al, 2009).
A meningite pneumocócica está consistentemente associada a uma alta
incidência de seqüelas neurológica em até metade dos sobreviventes, em autópsia de
pacientes que morreram de meningite foi observado dano no sistema nervoso central
caracterizado por necrose nos tecidos corticais e apoptose nas células do giro denteado
hipocampal (NAU et al, 1999). Os testes comportamentais foram realizados dez dias
após a indução da meningite, após este tempo os animais estão livres da infecção
pneumocócica, com peso e aparência normal. Na sessão treino do teste de esquiva
inibitória não houve diferença entre os grupos demonstrando não haver prejuízo motor.
Na sessão teste do grupo sham houve diferença entre as sessões demonstrando que
houve retenção de memória (permaneceu por mais tempo na plataforma na sessão teste).
No grupo meningite não houve diferença entre a sessão treino e teste (permaneceu nas
duas sessões pelo mesmo tempo) demonstrando haver prejuízo na retenção de memória
neste grupo. No teste esquiva inibitória de múltiplos treinos o grupo meningite necessitou
de um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50 segundos na
plataforma, demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da esquiva
inibitória de treinos múltiplos não houve diferença no tempo de latência entre os grupos na
sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória. O grupo meningite
necessitou de tempo maior para aprender, mas aprendeu.
O dano cerebral ocasionado pela meningite afeta múltiplas áreas do cérebro a
falta de uniformidade gera um desafio para avaliar o grau de severidade da lesão
neuronal. A dificuldade em quantificar os danos cerebrais, especialmente no período
imediatamente após a meningite, cria obstáculos na avaliação de novas terapias.
(IRAZUZTA et al., 2001).
Irazuzta e colaboradores, 2001 verificaram que animais submetidos à
meningite pneumocócica, no teste rotorod, que avalia equilíbrio e coordenação motora, o
40
desempenho dos animais foi comprometido quando comparado ao grupo controle. No
teste Morris water maze que avalia memória, revelou um prejuízo significativo no grupo
meningite em comparação ao grupo que recebeu o placebo. Os resultados
neurocomportamentais sugerem um déficit de memória, indicado no teste de Morris water
maze. Um maior número de ensaios foram observados nos animais com meningite no
pós-teste de sessões de tratamento. Uma vez que os animais foram previamente
treinados, esses resultados provavelmente indicam déficits de curto e longo prazo da
memória espacial. Nossos resultados verificam que os animais submetidos à meningite
pneumocócica tiveram prejuízo de memória e aprendizagem.
Souza e colaboradores 2006, verificaram que no teste do labirinto realizado por
fisioterapeutas em indivíduos jovens, saudáveis do sexo masculino que avalia função
executiva, aprendizagem espacial e memória implícita, pode ser utilizado como um
instrumento de análise da aquisição de uma habilidade motora já que o teste induz a
utilização de estratégias cognitivas e formação de um programa de ação.
41
6 CONCLUSÃO
A meningite pneumocóccica é fatal em 5-30% dos casos, os danos cerebrais
levam a sequelas neurológicas em até 30% dos sobreviventes (LEIB et al., 2001). O
nosso estudo demonstrou que os animais submetidos à meningite pneumocócica tiveram
prejuízo de aprendizagem e memória. A participação do fisioterapeuta é de extrema
importância na recuperação dos pacientes acometidos por meningite.
A fisioterapia para os pacientes com incapacidades físicas é uma parte
reconhecida do tratamento (EDWARDS, 1999). Muitos procedimentos podem ser feitos
como os utilizados na paralisia cerebral (crianças com meningite ate três anos de idade
são consideradas com paralisia infantil) tendo a fisioterapia como objetivo a inibição da
atividade reflexa anormal para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento
normal, com isso haverá uma melhora da força, da flexibilidade, da amplitude de
movimento (ADM), dos padrões de movimento e, em geral, das capacidades motoras
básicas para a mobilidade funcional (GONZALES & SEPULVEDA, 2002).
Os diferentes métodos utilizados em fisioterapia são empregados de acordo
com o quadro clínico. Utiliza-se, principalmente, método de Kabat, que se baseia na
utilização de estímulos proprioceptivos facilitadores das respostas motoras, partindo de
respostas reflexas e chegando à motricidade voluntária, o método de Bobath, que se
baseia na inibição dos reflexos primitivos e dos padrões patológicos de movimentos e o
método de Phelps, que se baseia na habilitação por etapas dos grupos musculares, até
chegar à independência motora (ROTTA, 2002).
Ao final deste estudo verificou-se que todos os objetivos foram alcançados e
ficou comprovado que os animais representam à realidade clinica e que ocorreu um
prejuízo da memória e da aprendizagem como demonstrado em nossos resultados a
cima. Os testes realizados pela pesquisadora demonstram o que mais a meningite pode
provocar ajudando na compreensão das sequelas dependo da área afetada.
42
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