UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE FISIOTERAPIA JOANA MACCARINI TORQUATO AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA E DA APRENDIZAGEM 10 DIAS APÓS A INDUÇÃO DA MENINGITE PNEUMOCÓCICA EM RATOS WISTAR ADULTOS CRICIUMA, NOVEMBRO DE 2009 JOANA MACCARINI TORQUATO AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 10 DIAS APÓS A INDUÇÃO DA MENINGITE PNEUMOCÓCICA EM RATOS WISTAR ADULTOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de grau de Fisioterapeuta do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. CRICIUMA, NOVEMBRO DE 2009 2 3 Dedico este trabalho aos meus pais, Mara e Nério, que deste o início sempre me incentivaram e me motivaram para que eu pudesse alcançar meus objetivos. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a DEUS pela vida. Agradeço também aos meus pais pela força, luta e por não medirem esforços para sempre me ajudarem nos estudos e estarem ao meu lado me dando o apoio que preciso. A minha orientadora Tatiana Barichello pela ajuda, atenção e dedicação em nossos encontros, sempre pronta a ajudar. A minha coorientadora Lisiane Tuon pela ajuda e pelas idéias, sempre ajudando para que meu trabalho ficasse cada vez melhor. Agradeço aos colegas de laboratório, Geovana, Geruza, Cíntia, Tiago, Giseli, Alexandre, Gustavo, Ana, e também as meninas que entraram agora: Jaque, Ane e Luthi, muito obrigada pela ajuda e compreensão. Um agradecimento especial também a todas as minhas amigas e colegas de faculdade, por tudo que passamos juntas e pelas ajuda que sempre demos umas as outras. Agradeço também a todos os professores do curso que sempre me ajudaram a aprender mais e a buscar sempre mais conhecimento. A todos que me ajudaram e me apoiaram o meu muito obrigada. 5 “Para lembrar, é importante esquecer.” (Ivan Izquierdo) 6 RESUMO Introdução: A meningite bacteriana ocasionada pelo Streptococcus pneumoniae é uma doença comum que acomete o mundo todo como uma severa infecção no sistema nervoso central. A meningite pneumocócica está associada com uma alta mortalidade e morbidade, apesar dos avanços na terapêutica antimicrobiana nas últimas décadas. A estimativa da incidência anual da meningite bacteriana é de 4-6 por 100.000 adultos, entretanto os danos ocasionados pela meningite podem acarretar o prejuízo da aprendizagem e memória em até 50% dos sobreviventes. Objetivo: avaliar a memória e a aprendizagem em ratos sobreviventes à meningite bacteriana causada pelo S. pneumoniae 10 dias após a indução. Métodos: Todos os procedimentos cirúrgicos e administração da suspensão bacteriana foram realizados sob anestesia. Animais ratos Wistar machos foram submetidos à inoculação na cisterna magna de salina estéril ou suspensão de S. pneumoniae (5 x109UFC/ml). Os animais receberam antibioticoterapia com início 16h após a indução (ceftriaxona, 100 mg/kg duas vezes ao dia por via intraperitoneal). Após 10 dias da indução foram submetidos a dois testes comportamentais: esquiva inibitória e esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os dados foram analisados pelo teste t-Student, e expressos em média ± desvio padrão. Resultados: Na sessão treino do teste da esquiva inibitória não houve diferença entre os grupos no tempo de latência, demonstrando não haver prejuízo na atividade motora. Na sessão teste o animal foi novamente colocado na plataforma e medido o tempo de latência. No grupo sham houve diferença entre a sessão teste e a sessão treino demonstrando que houve retenção de memória. No grupo meningite não houve diferença entre a sessão treino e teste demonstrando haver prejuízo na retenção de memória. Na sessão treino do teste esquiva inibitória múltiplos treinos, o grupo meningite necessitou de um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50 segundos na plataforma, demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos não houve diferença no tempo de latência entre os grupos na sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória. Conclusão: Nós verificamos que os animais acometidos de meningite tiveram prejuízo de aprendizagem e memória. Palavras chave: Meningite, Memória, Aprendizagem, Sistema Nervoso Central. 7 ABSTRACT Introduction: Bacterial meningitis caused by Streptococcus pneumoniae is a common disease worldwide being a severe infectious disease of the central nervous system, remains associated with high mortality and morbidity rates, despite the advances made in antimicrobial therapy over the past decades. The estimated annual incidence of bacterial meningitis is 4-6 per 100.000 adults. Moreover, impairment of learning and memory occur in up to 50% of the survivors. Objective: To evaluate memory and learning in rats that survived to bacterial meningitis caused by S.pneumoniae 10 days after induction. Methods: All surgical procedures and bacteria administrations were performed under anesthesia. Animals Wistar rats were inoculated intracisternally of sterile saline or suspension of S. pneumoniae (5x109UFC/ml). The animals received antibiotic therapy beginning at 16 h after induction (ceftriaxone, 100 mg/kg twice a day intraperitoneally). Ten days after induction were submitted to two behavioral tests: inhibitory avoidance and inhibitory avoidance training multiple. The data were analyzed by Student t test and expressed as mean ± standard deviation. Results: In the training session of the inhibitory avoidance test there was no difference between groups in onset time, showing no impairment of motor activity. In the test session the animals were again placed on the platform and measured the latency time. In the sham group was no difference between the test session and training session showing that there was memory retention. In the meningitis group there was no difference between the training and test session demonstrated that there was impairment in memory retention. In the training session the test multiple inhibitory avoidance training, the meningitis group required a greater number of training sessions to reach the criterion to remain 50 seconds on the platform, demonstrating impaired learning. In the test session of inhibitory avoidance practice multiple there was no difference in latency between the groups in the test session, showing no loss of memory. Conclusion: We verified that the animals of pneumococcal meningitis had damage of learning and memory. Key words: Meningitis, Learning, Memory, Central nervous system. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Estruturas do cérebro .............................................................................. 17 Figura 2 – Hipocampo............................................................................................... 19 Figura 3 – Circulação do LCR................................................................................... 21 Figura 4 – Barreira Hematoencefálica ...................................................................... 25 Figura 5 – Esquiva inibitória...................................................................................... 33 Figura 6 – Gráfico da esquiva inibitória..................................................................... 36 Figura 7 A – Gráfico da esquiva inibitória de treinos múltiplos sessão treino ........... 37 Figura 7 B – Gráfico da esquiva inibitória de treinos múltiplos sessão teste ............ 37 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LCR - Líquor cefalorraquidiano SN - Sistema Nervoso SNC - Sistema Nervoso Central SNP - Sistema Nervoso Periférico S. pneumoniae – Streptococcus pneumoniae 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 14 2.1 Sistema Nervoso............................................................................................... 14 2.1.1 Sistema Nervoso Periférico .......................................................................... 15 2.1.2 Sistema Nervoso Central .............................................................................. 15 2.1.3 Córtex ............................................................................................................. 17 2.1.4 Hipocampo ..................................................................................................... 18 2.2 Fisiologia do SNC ............................................................................................. 19 2.3 Doenças Infecciosas do SNC .......................................................................... 22 2.3.1 Meningite ........................................................................................................ 22 2.3.2 Streptococcus Pneumoniae e Meningite ..................................................... 23 2.4 Tratamento ........................................................................................................ 26 2.5 Memória ............................................................................................................. 27 2.5.1 Memória de curta duração ............................................................................ 28 2.5.2 Memória de longa duração ........................................................................... 28 2.6 Fisioterapia........................................................................................................ 29 3 MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 30 3.1 Caracterização do Estudo................................................................................ 30 3.2 Caracterização da Amostra.............................................................................. 30 3.3 Instrumentos para Coleta de Dados................................................................ 30 3.4 Procedimentos para Coleta de Dados ............................................................ 31 3.5 Análise Estatística ............................................................................................ 33 4 RESULTADOS ...................................................................................................... 35 5 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 39 6 CONCLUSÃO........................................................................................................ 41 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 42 11 1 INTRODUÇÃO As Infecções do Sistema Nervoso Central (SNC) são caracterizadas como meningite ou encefalite. Meningite é a mais comum infecção definida como uma inflamação das meninges no espaço subaracnoide (ALMEIDA et al., 2007). Meningite é uma doença infecciosa aguda causada por vários microorganismos, incluindo vírus, bactérias, parasitas e fungos (XAVIER & GEORGE, 2003). Meningite asséptica é uma inflamação das meninges em que o líquido cefalorraquidiano é de aspecto límpido, apresenta pleocitose predominantemente linfocitária, aumento moderado em proteínas e ausência de microorganismos na coloração de Gram e nas culturas bacterianas utilizadas comumente. A meningite asséptica pode ser causada por diferentes agentes, embora em muitos casos não seja identificada a etiologia (JULIÁ et al., 2009). A meningite bacteriana é uma infecção das meninges e do líquido cefalorraquidiano, o processo inflamatório se estende por todo o espaço subaracnóide envolta do cérebro e da medula espinhal e costuma envolver os ventrículos (CECIL et al., 2005). Essa infecção leva o LCR a ficar com aspecto turvo ocorrendo a hiperproteinorraquia (aumento das proteínas) e a hipoglicorraquia (diminuição dos níveis de glicose) (MANTESE et al., 2002). O Streptococcus pneumoniae é o patógeno que ocasiona a mais severa forma de meningite bacteriana em termos de mortalidade e morbidade (GRANDGIRARD et al., 2007) Atualmente ocorre, cerca de 1,2 milhões de casos de bactérias no mundo, resultando em 135.000 mortes. Meningite bacteriana é agora a principal causa de morte em todo o mundo e cerca de metade dos sobreviventes tem seqüelas neurológicas. Apesar dos agentes antimicrobianos e intensos cuidados da medicina, a mortalidade tem permanecido alta. Com a introdução da vacina conjugada para Haemophilus influenzae, nos Estados Unidos e Europa Ocidental, o Streptococcus pneumoniae e Neisseria 12 meningitis tornam-se as principais causas de meningite bacteriana nestas regiões (MALIPIERO et al., 2007). Os sintomas de meningite variam com a idade. Em crianças com idade superior a 2 anos pode estar presente rigidez do pescoço e comprometimento das vias respiratórias (BRANCO et al., 2007). Os sintomas clínicos geralmente apresentam febre, mal-estar, vômitos, e em alguns casos, erupções cutâneas (ALMEIDA et al., 2007). Sintomas neurológicos focais como, hemiparesia, quadriparesia, paralisia facial, e defeitos no campo visual e auditivo podem surgir cedo ou tarde, em cerca de 10-15% dos pacientes com meningite, e pode correlacionar com persistentes anormalidades neurológicas ao longo prazo das avaliações (XAVIER & GEORGE, 2003). Complicações da meningite bacteriana podem desenvolver-se no inicio do curso da doença, antes do diagnóstico ou vários dias após o início do tratamento; problemas sistêmicos circulatórios normalmente surgem durante o primeiro dia no hospital. O Colapso periférico circulatório é uma das mais marcantes e graves complicações da meningite (XAVIER & GEORGE, 2003). Foi feita uma análise com 87 casos consecutivos que foram tratados no departamento de Neurologia em Munique que mostrou complicações intracerebrais em 75% dos casos, convulsões (28%), complicações arteriais, vasculares e cerebrais (22%), complicações venosas (10%), edema cerebral difuso (29%) e hidrocefalia (16%) (MALIPIERO et al., 2007). Baseado no contexto apresentado formulou-se a seguinte questão problema: Quais são as alterações de memória e aprendizagem em ratos após indução da meningite? Para melhor direcionar o problema assim exposto, apontam-se as seguintes questões a investigar: Sugerem-se as seguintes questões: 1. A utilização de ratos Wistar adultos como modelo animal de meningite bacteriana induzida por S. pneumoniae pode representar a realidade clínica? 2. A meningite pneumocócica pode induzir prejuízos na memória e aprendizagem em ratos Wistar adultos? 13 E para estas questões, sugerem-se as seguintes hipóteses: 1. Sim. Este modelo animal em que ocorre a indução da meningite através da cisterna magna dos animais produz apoptose hipocampal e necrose tecidual dos hemisférios corticais causando danos no SNC, assim como ocorre em humanos (GRANDGIRARD et al., 2007). 2. Sim, porque duas estruturas cerebrais são afetadas proeminentemente na meningite bacteriana que são o córtex e o hipocampo. (LEIB et al., 2003). O objetivo geral deste estudo é avaliar a memória e a aprendizagem em ratos com meningite induzida experimentalmente. Os objetivos específicos caracterizam-se em identificar quais são as alterações da memória e da aprendizagem em ratos com meningite; apontar a relação da meningite com a perda cognitiva dos ratos após a indução da meningite. Uma vez que as alterações de memória e aprendizagem causadas pela meningite bacteriana não foram completamente esclarecidas, faz-se necessário investigar, através de estudos comportamentais, sensórios, motores e medidas de atividades de enzimas envolvidas nestes processos em ratos Wistar. Dentro deste contexto, será possível avaliar e quantificar de uma forma um pouco mais específica os efeitos causados por esta patologia sobre o desenvolvimento e mecanismos bioquímicos envolvidos nestas alterações. Estudos prévios utilizando ratos wistar submetidos a esta técnica têm demonstrado boa correlação com a aplicação desta em humanos. 14 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 Sistema Nervoso O sistema nervoso (SN) é um órgão de alta complexidade anatômica: opaco no seu interior e envolto, portanto, com saliências e reentrâncias que escondem umas às outras, extensamente conectado com estruturas da periferia corporal (LENT, 2008). A estrutura do SN, apesar de complexa segue um conjunto relativamente simples de princípios funcionais, organizacionais e desenvolvimentais. Considerados juntos, esses princípios trazem ordem à miríade de detalhes da anatomia do cérebro (KANDEL et al., 2000). O SN tem o papel final de controlar as diversas atividades do corpo. Esta função é realizada através do controle: (1) da contração da musculatura lisa dos órgãos internos, (2) da contração dos músculos esqueléticos apropriados, por todo o corpo, (3) da secreção de substancias químicas pelas glândulas exócrinas e endócrinas, que agem em diversas partes do corpo (GUYTON & HALL, 2006). O SN recebe informações que chegam dos ambientes, externo e interno, e regula as funções motoras somáticas e viscerais. A unidade funcional do SN é uma célula excitável, altamente especializada, o neurônio. O neurônio possui três componentes que são: o soma, os dendritos e o axônio. Os neurônios são capazes de receber informações de outros neurônios e de receptores especializados. Eles apresentam numerosos dendritos, prolongamentos e apenas um axônio especializado para a transmissão da informação sob a forma de impulso elétrico, o potencial de ação (BURT, 1995). O SN tem dois componentes: o sistema nervoso periférico (SNP), composto pelos grupos de neurônios chamados de gânglios e nervos periféricos e o sistema nervoso central (SNC), composto pelo encéfalo e a medula espinhal (KANDEL et al., 2000; BURT, 1995; MACHADO, 2004). 15 2.1.1 Sistema Nervoso Periférico O sistema nervoso periférico (SNP) consiste em todas as partes do SN que não estão contidas na coluna vertebral ou no crânio (LUNDY-EKMAN, 2000; LENT, 2008). As divisões autonômica e somática estão contidas no SNP. A divisão autonômica é o sistema motor das vísceras, dos músculos lisos do corpo e das glândulas exócrinas, e é comumente chamada de sistema motor autonômico. A divisão somática abastece o sistema nervoso central com informações sensitivas acerca da posição dos músculos e membros e acerca do ambiente fora do corpo. Esta divisão compreende neurônios sensoriais da raiz dorsal e gânglios cranianos que inervam a pele, os músculos e as articulações (KANDEL, 2000). O SNP é coberto por duas camadas de meninges. A camada média cobre apenas o cérebro e a medula espinhal. Fora do sistema nervoso central, as camadas externas e internas fundem-se e formam uma bainha que envolve os nervos espinais e cranianos e os gânglios periféricos (CARLSON, 2002). 2.1.2 Sistema Nervoso Central O sistema nervoso central (SNC) é aquele que se encontra dentro do esqueleto axial (cavidade craniana) e sendo formado pela medula que se localiza dentro do canal vertebral e pelo encéfalo que é a parte situada dentro do crânio. No encéfalo temos o cérebro, cerebelo e tronco encefálico, já no tronco encefálico temos o mesencéfalo a ponte e o bulbo (MACHADO, 2004; NUNES & MARRONE, 2002). A medula espinhal é a região do sistema nervoso que controla a musculatura somática e recebe os estímulos chamados “gerais” (tato, dor, propriocepção) (LENT, 2008). Estende-se desde a base do crânio ate a primeira vértebra lombar, portanto, não percorre todo o comprimento da coluna vertebral. Ela recebe informações sensoriais da pele, das articulações e dos músculos do tronco e dos membros e, por sua vez, contém 16 os neurônios motores responsáveis pelos movimentos voluntários e reflexos (KANDEL et al., 2000). A principal função da medula espinhal é distribuir as fibras motoras para os órgãos efetores do corpo e coletar as informações somatossensoriais que deverão ser enviadas ao cérebro (CARLSON, 2002). A ponte é uma grande saliência no tronco cerebral, fica entre o mesencéfalo e o bulbo, localiza-se imediatamente ventral em relação ao cerebelo e contem um grande núcleo que envia informações do córtex cerebral ao cerebelo (CARLSON, 2002). O SNC é envolvido por membranas conjuntivas denominadas meninges e que são classificadas em três: dura-máter, aracnóide e pia-máter. O conhecimento da estrutura e da disposição das meninges é importante não só para a compressão de seu importante papel de proteção dos centros nervosos, mas também porque elas são frequentemente acometidas por processos patológicos como infecções (meningites) e tumores (meningiomas) (MACHADO, 2004; DANGELO & FATTINI, 1997). A camada mais externa das meninges é delgada, resistente e flexível, mas não elástica; é a dura-máter, que significa mãe dura. A camada intermediaria das meninges, a membrana aracnóide, recebe este nome pela semelhança com um trajeto de uma aranha. Em contato direto com o cérebro e a medula espinhal, e cobrindo toda a superfície está a pia-máter. Os menores vasos superficiais do cérebro e da medula espinhal estão contidos dentro dessa camada (CARLSON, 2002). 17 Figura 1: estruturas do cérebro Fonte: (BARBOSA et al., 2006) 2.1.3 Córtex O córtex é uma substância cinzenta que possui uma camada fina na superfície do cérebro e do cerebelo, não é homogêneo em toda sua extensão, permitindo a individualização de várias áreas, o que pode ser feito com critérios anatômicos, filogenéticos, estruturais e funcionais (MACHADO, 2004), sendo a região mais complexa do cérebro (BURT, 1995). A parte funcional do córtex cerebral é uma camada fina de neurônios que cobre a superfície de todas as circunvoluções do cérebro. Esta camada tem apenas de 2 a 5 milímetros de espessura, com uma área total de aproximadamente um quarto de um metro quadrado (GUYTON & HALL, 2006). 18 No córtex cerebral humano adulto as estimativas do número de neurônios variam de 14 a 16 bilhões, sendo cerca de dois terços desses neurônios células piramidais (BURT, 1995). É no córtex que está situado muitos arquivos da memória, e este ainda está possibilitado a focalizar a atenção em algum objeto ou dispersar e até dormir; é por intermédio do córtex cerebral que compreendemos e emitimos a fala e a mímica correspondente. A maior parte remanescente do córtex cerebral e destinada à área associativa, onde ocorre o processamento das informações, em nível de altíssima qualidade em que o organismo é capaz. (LENT, 2008). O córtex cerebral é dividido em três regiões: o arquicórtex, paleocórtex e neocórtex. Tendo também cada hemisfério dividido como: lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e temporal (BURT, 1995). 2.1.4 Hipocampo O hipocampo é uma elevação curva de superfície branca e lisa, muito pronunciada que se dispõe acima do giro para-hipocampal (BURT, 1995), que se dobra para dentro para formar a superfície ventral da parede interna do ventrículo lateral (GUYTON & HALL, 2006). É constituído por um tipo de córtex muito antigo (arquicórtex) e faz parte do sistema límbico, tendo importantes funções psíquicas relacionadas com a memória e o comportamento. O hipocampo liga-se às pernas do fórnix por um feixe de fibras situadas ao longo de sua borda medial (MACHADO, 2004). O hipocampo tem numerosas conexões indiretas com a maioria das porções do córtex cerebral, bem como com estruturas basais do sistema límbico (a amígdala, o hipotálamo, a área septal e os corpos mamilares) (GUYTON & HALL, 2006). Liga-se aos núcleos mamilares de onde os impulsos nervosos seguem para o núcleo anterior do tálamo através do fascículo mamilo-talâmico, fazendo parte do chamado circuito de Papez (MACHADO, 2004). 19 Figura 2: Hipocampo Fonte: Revista Scientific American (Julho de 2007) 2.2 Fisiologia do SNC O Liquido cefalorraquidiano (LCR) é límpido e incolor, com volume total de aproximadamente 150 mL, dos quais apenas 23 mL ficam nos ventrículos (KONEMAN et al., 2008; BURT, 1995). Os 127 mL restantes enchem o espaço subaracnóideo, em torno do encéfalo e da medula espinhal (BURT, 1995). É produzido continuamente pelas células da parede dos ventrículos, mas principalmente por uma estrutura ricamente vascularizada que retira do sangue os ingredientes necessários. Essa estrutura é chamada de plexo coróide. O LCR que preenche os ventrículos apresenta certa pressão 20 que mantêm o encéfalo de certo modo “inflado”, contribuindo para a manutenção da sua forma (LENT, 2008). O LCR é produzido dentro dos ventrículos cerebrais e sai para o espaço subaracnoide, que fica entre a meninge pia-máter e a aracnóide, através dos foramens de Luschka e Magendie, situados na membrana obturatória do quarto ventrículo; do espaço subaracnóide, o líquor será reabsorvido pelas granulações da aracnóide para as lacunas e seios venosos da dura-máter (NUNES & MARRONE, 2002; DOUGLAS, 2002). Este líquido banha e protege o cérebro e a medula espinhal. O líquido atua absorvendo o choque quando ocorre traumatismo da cabeça ou das costas ou mudança súbita da posição (PAGANA, 2001). Uma obstrução dos espaços subaracnoideanos por processos fibrinoconjuntivos pode perturbar a dinâmica do LCR (CAMBIER et al., 1999). Acredita-se que o LCR seja “aspirado” pela pressão negativa exercida pelo sangue, em relação à pressão liquórica, e passe por fenestrações (espaços intercelulares) da membrana das granulações, ou mesmo por dentro das células que constituem essa membrana (LENT, 2008). Os achados do LCR são importantes no diagnóstico diferencial de infecções do SNC (DANGELO & FATTINI, 1997) como: meningites, encefalites, hemorragias subaracnóides, estados confusionais e doenças desmielinizantes do SNC (ROWLAND, 2002). Ele permite determinar a intensidade do processo inflamatório, o agente etiológico e os anticorpos específicos, os quais informam indiretamente a etiologia da infecção (FOCACCIA & VERONESI, 2007). Através de punções pode-se medir a pressão do LCR ou colher certa quantidade para estudo das características citológicas e físico-químicas. Tais estudos dão importantes informações sobre a fisiopatologia do SNC e seus envoltórios, permitindo o diagnóstico, de muitas afecções que acometem o SNC, como infecções, hemorragias, etc. O estudo do líquor é especialmente valioso para o diagnóstico de diversos tipos de meningites (MACHADO, 2004). O LCR é um fluido que tem funções diversas, protege o SNC de impactos externos e das pulsações arteriais e mantêm estreito equilíbrio químico e celular para um funcionamento harmonioso do mesmo. Protege o SNC das infecções e seu exame pode trazer informações preciosas para um preciso diagnóstico e tratamento (DOUGLAS, 2002). 21 Na meningite o diagnóstico do LCR é através de exame bacteriológico direto após coloração de Gram e convencional, onde as culturas das bactérias são encubadas a uma atmosfera de 37ºC com 5% de dióxido de carbono por um período mínimo de 72 horas (JULIÁ et al., 2009). Na meningite bacteriana os achados característicos no LCR incluem a pleocitose à custa de neutrófilos (correspondendo a 80% do número de células), a hiperproteinorraquia, a hipoglicorraquia, o teste positivo de Gram (em 25% até mais de 90% dos casos) e a cultura positiva (em 70% a 90% dos casos não submetidos a tratamento prévio). Preferencialmente as amostras devem ser obtidas antes do início do tratamento antimicrobiano, mas o emprego de antibióticos não deve desestimular a busca da etiologia (MANTESE et al., 2002). Figura 3: Circulação do LCR Fonte: (GUYTON & HALL, 2006) 22 2.3 Doenças Infecciosas do SNC 2.3.1 Meningite A meningite bacteriana é uma infecção do SNC caracterizada por uma forte inflamação nas meninges e no espaço subaraquinóideo (GRANDGIRARD, et al., 2007; PRASAD & KARLUPIA, 2007; SOMAND & MEURER, 2009), com alterações características no Líquor (LCR) (COURA, 2005). Esta infecção bacteriana pode resultar em um significativo prejuízo no cérebro dos pacientes afetados, apesar da utilização de antibióticos (LEIB et al., 1996). Nos seres humanos a meningite está associada longo prazo com seqüelas motoras, sensoriais déficits inclusive, apreensões, e incapacidades de aprendizagem e memória. Seqüelas neurológicas ocorrem em até metade dos sobreviventes. Na autópsia estudos sobre pacientes que faleceram a partir de meningite bacteriana, mostraram danos no SNC e é caracterizada por necrose tecidual nos hemisférios corticais e por apoptose celular no giro dentado (GRANDGIRARD, et al., 2007). A meningite é um processo da doença com uma elevada taxa de mortalidade e seqüelas neurológicas significativas em 20-27% dos sobreviventes. (IRAZUZTA et al., 2001) Além de seqüelas neurológicas, ocorrem déficit sensitivo-motora, paralisia cerebral, convulsões, depressões, retardo mental, e incapacidade de aprendizagem. As estruturas cerebrais afetadas proeminentemente na meningite bacteriana são o córtex e o hipocampo (LEIB et al., 2003). Vários estudos mostram que as seqüelas neurológicas tardias ocorrem em cerca de 5% a 30% dos casos de meningite bacteriana. As primeiras seqüelas começam a surgir após cerca de três meses da cura da meningite, mas pode detectá-la precocemente medindo-se o perímetro cefálico da criança durante a fase aguda da doença. Ataxia transitória, em decorrência de distúrbios vestibulares, pode ocorrer mais raramente (FOGACCIA & VERONESI, 2007). 23 A meningite bacteriana é uma emergência medica que necessita diagnóstico e tratamento imediato (HARVEY, 2008). Em estudos internacionais, a morbidade atinge 20 a 30%, e a mortalidade, 10%. Esses dados não se alteraram muito nos últimos 30 anos (BEREZIN et al., 2002). A meningite bacteriana é uma das dez principais causas de infecção relacionadas com mortes no mundo. Morbidade e mortalidade podem variar, no entanto, dependendo da idade do paciente e da localização do agente causador (KIM, 2008). 2.3.2 Streptococcus pneumoniae e Meningite O Streptococcus pneumoniae são cocos gram-positivos, imóveis, encapsulados. Apresentam forma de lanceta, e sua tendência a formar pares (HARVEY, 2008; KONEMAN et al., 2001). Os sorotipos prevalentes são: I, II, III, VI, VII, VIII e, entre crianças, os capsulados tipos I, V, VI, XIV e XIX. Existem mais de 80 tipos de penumococos (FOCACCIA & VERONESI, 2007). A grande perspectiva para o controle meningite bacteriana é o atual surgimento de vacinas conjugadas contra os sorotipos mais causadores mais freqüentes da doença. A grande dificuldade é a escolha dos sorotipos para a composição da vacina (BEREZIN et al., 2002). A introdução de uma vacina conjugada (PCV7) para crianças reduziu de forma significativa taxas de bacteremia e doenças pneumocócicas nos Estados Unidos e outros países industrializados, mas o aparecimento de sorotipos não incluídos na vacina pneumocócica pode ameaçar a eficácia das vacinas conjugadas. Estudos experimentais em modelos animais têm demonstrado que os sorotipos de pneumococos capsulares diferem em sua capacidade para desencadear respostas inflamatórias. Contudo, poucos estudos avaliaram a associação de determinados sorotipos capsulares com a mortalidade por DIP (doença pneumocócica invasiva) em data recente e produziram resultados contraditórios (HARBOE et al., 2009). O mecanismo e a via de invasão pela qual a bactéria produz meningite ainda não estão completamente esclarecidos, por se tratar de um bom sistema de proteção 24 contra agentes patogênicos invasivos, composto pela caixa craniana, meninges e por um complexo mecanismo que interpõe entre o sangue e o LCR denominada barreira hematoencefálica. A infecção pode atingir o SNC através de três mecanismos básicos: propagação sanguínea; infecção adjacente às meningites; solução de continuidade (FOCACCIA & VERONESI, 2007). S. pneumoniae é um dos principais agentes etiológicos de pneumonias adquiridas na comunidade, meningites, sinusites, otites médias agudas e bacteremia (MATTEI et al., 2008; VIEIRA et al., 2007). Sendo um parasita obrigatório de seres humanos, o S. pneumoniae, pode ser encontrado na nasofaringe de muitos indivíduos. A suscetibilidade à infecção pode ser devida, por exemplo, à debilitação geral como aquela causada por desnutrição ou alcoolismo, por lesão no trato respiratório após uma infecção viral ou frente a um sistema imune deprimido (HARVEY, 2008). Streptococcus pneumoniae é um dos principais causadores da meningite, que provoca a forma mais grave da doença, em termos de mortalidade e morbidade (GRANDGIRARD, et al., 2007; BEREZIN et al., 2002; HARVEY, 2008), com taxa de mortalidade de até 30% e seqüelas permanentes em até 50% dos sobreviventes (BELLAC et al., 2006). As infecções por S. pneumoniae podem resultar em bacteremia, levando a infecção de diversos locais no corpo humano, incluindo o SNC. Pode ser endógena (em um portador que desenvolve resistência diminuída à bactéria) ou exógena (por gotículas das vias aéreas de um portador). Este tipo de meningite tem alta taxa de mortalidade, mesmo quando tratada apropriadamente. É a causa mais freqüente de meningite bacteriana em adultos (HARVEY, 2008). A bacteremia costuma se desenvolver, tanto no recém-nascido como nos demais segmentos etários, a partir de infecções da pele, pulmão, coração, trato intestinal e geniturinário. Uma forte fonte de infecção por bactérias é a orofaringe, que podem se colonizar assintomaticamente nessa região (FOCACCIA & VERONESI, 2007). Algumas das experiências mostram que as bactérias se distribuem no SNC ao longo das paredes dos seios venosos encefálicos, onde a pressão do sistema venoso é baixa. Elas penetram pela dura-máter, conseguindo alcançar o espaço subaracnóideo. Este é o momento critico que irá definir o destino destas bactérias; se os mecanismos 25 locais de defesa não conseguirem promover rapidamente a depuração bacteriana, os microorganismos se colonizam e disseminam a infecção (FOCACCIA & VERONESI, 2007). A barreira hematoencefálica é uma barreira estrutural e funcional que é formada através de células endoteliais microvasculares do cérebro tais como, astrócitos e pericitos. Os patógenos podem atravessar a barreira hematoencefálica através de três mecanismos de invasão: transcelular, no qual o patógeno atravessa a barreira sem evidencia de dano celular; paracelular no qual o microorganismo penetra entre as células com ou sem evidência de dano e cavalo de tróia no qual o microorganismo atravessa a barreira dentro de células fagocíticas (KIM, 2008). Figura 4: Barreira Hematoencefálica Fonte: (KIM, 2008) Esta Barreira é relativamente impermeável a íons, vários aminoácidos, pequenos peptídeos e principalmente proteínas, tendo como principal função regular o transporte de substâncias entre o sangue e o tecido nervoso, de forma a manter, assim, o ambiente neural protegido de substâncias neurotóxicas e de variações bruscas na 26 composição sanguínea. A barreira atua ainda excluindo células inflamatórias do SNC normal (BONDAN et al., 2002). 2.4 Tratamento A meningite bacteriana com o seu tratamento tem dois grandes objetivos: primeiro é a rápida administração de um antibiótico bactericida com boa penetração no SNC para tratar a infecção neurológica, bem como com boa penetração tecidual para o tratamento de possíveis fontes fora do SNC. O segundo objetivo é o uso de um antiinflamatório para suprimir as seqüelas da lise bacteriana. (DAVID, 2009). O tratamento com antibiótico deve ser iniciado imediatamente em um paciente com febre, considerando-se a gravidade e a freqüência da doença. Os antibióticos para o tratamento da meningite são: Ceftriaxona, Cefotaxima, Penicilina G Cristalina, Cloranfenicol (para pacientes alérgicos a penicilina). A penicilina G cristalina ou a ampicilina, que são consideradas seguras e eficazes, permanecem como as drogas de escolha para o tratamento da doença. A ceftriaxona ou a cefotaxima estão indicados para aqueles casos com infecção por bactérias com resistência parcial ou total à penicilina e na falta de teste de sensibilidade às drogas. Qualquer que seja a opção, o medicamento é prescrito por via venosa por um período de sete dias (COURA, 2005). A antibioticoterapia deve ser instituída tão logo seja possível, preferencialmente logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura, administrada por via venosa por um período de 7 a 14 dias ou até mais. O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição líquida e cuidadosa assistência (BRASIL, 2005). É importante considerar a presença de barreiras anatômicas e fisiológicas, sangue/líquor e sangue/cérebro. Muitos antibióticos, lipossolúveis, ultrapassam rapidamente esses obstáculos (cloranfenicol, clotrimexazol, rifampicina), enquanto outros são ionizados em pH plasmático, adquirindo baixa solubilidade lipídica e, por via de conseqüência, penetram lentamente e em quantidades muito pequenas (FOGACCIA, 2007). 27 2.5 Memória Memória é conceituada como a capacidade de guardar a informação aprendida para posteriormente ser utilizada, possuindo diversas fases de processamento e consolidação (CAHIL & MCGAUGH, 1996). A memória é base inicial de todo o comportamento que vem a ser executado, é a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informações, também chamada de aprendizagem, por que só se grava aquilo que foi aprendido (IZQUIERDO, 2002; ZARDO, 2006). Evidências recentes sugerem que o hipocampo é especializado, de fato, no reconhecimento de ambientes, mais do que no reconhecimento de qualquer estímulo. A lesão do hipocampo afeta profundamente, e talvez especificamente, a capacidade de localização espacial (IZQUIERDO, 1989). A memória ocorre de forma distributiva, não existindo uma localização própria da memória. O hipocampo, o córtex para límbico, o giro do cíngulo, amídala, o corpo mamilar e o tálamo anterior tem participações importantes na formação da memória. (KLINKE, 2006). A ativação do hipocampo por experiências novas e ou por ambientes novos e ou por experiências dentro de ambientes novos tem duas consequências. Por um lado, o hipocampo informa a seus sítios de projeção: amígdala, hipotálamo, secundariamente através do hipotálamo a diversos núcleos talâmicos associativos que se trata realmente de uma experiência ou ambiente novo. Por outro lado, através do fórnix, o hipocampo ativa neurônios β-endorfinérgicos localizados no hipotálamo medial basal. Estes neurônios, por sua vez, projetam ao septum medial (podendo, assim, fechar um círculo), à amígdala e a outros núcleos vinculados com a modulação dos processos de memória (IZQUIERDO,1989). Não é possível medir memórias de forma direta. É possível avaliá-las medindo o desempenho em testes de evocação. No homem, a evocação pode ser medida através do reconhecimento de pessoas, palavras, lugares ou fatos. Nos animais, a evocação também se expressa através de mudanças comportamentais. É evidente que a evocação de uma alteração comportamental implica num reconhecimento prévio, e que todo 28 reconhecimento implica numa alteração comportamental potencial ou real (IZQUIERDO, 1989). É importante distinguir os diferentes tipos e classificações da memória. Uma diferenciação básica é entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. (CECIL, 2005). 2.5.1 Memória de curta duração A memória de curto prazo envolve retenções da informação num período de um minuto ou menos, sendo essencialmente sinônimo de memória primária, evocação imediata e manutenção da atenção. Esta memória é encarregada de manter a informação comportamental disponível durante essas horas (CECIL, 2005). A memória imediata e a memória do trabalho podem ser consideradas sinônimas. A memória imediata é processada fundamentalmente no córtex pré-frontal, que atua agrupado com o córtex entorrinal, parietal superior e cingulado anterior, e com o hipocampo (VIANNA et al., 2000). 2.5.2 Memória de longa duração A memória de longa duração requer um processo de formação e uma sequência de eventos moleculares que dura varias horas e é suscetível a numerosas influências (LENT, 2008). Esta é muito resistente a todos os distúrbios, mesmo após longa e profunda perda de consciência, graves doenças neurológicas ou frequentes ataques epiléticos, ficando pouco comprometida. (KLINKE, 2006). 29 2.6 Fisioterapia A atuação em Fisioterapia, durante muitos anos, baseou-se em livros de reabilitação importados, que tinham tudo pronto que dispensavam a necessidade de pensar para tomar decisões em relação à conduta que pode ser muito mais ampla e sobre a reabilitação dos pacientes que antigamente era muito mais demorada. Hoje já existe a prática baseada em evidências, é uma realidade na área da Fisioterapia que auxilia os fisioterapeutas para melhor realizar seu diagnóstico, prognóstico e ver o quanto à doença afeta na qualidade de vida dos pacientes tanto em relação a sua saúde como na vida em sociedade, que recorre a três tipos de informações como a pesquisa clínica, a experiência do fisioterapeuta e as preferências do paciente. Na Fisioterapia, os níveis de evidência são hoje utilizados como um norteador para classificar a qualidade dos estudos realizados na área da saúde (MARQUES & PECCIN, 2005). Cada vez mais existe a necessidade dos fisioterapeutas a aprenderam a realizar pesquisa básica, trabalhar em laboratórios com fisioterapia aplicada em pesquisa básica e estudos experimentais envolvendo varias áreas da fisioterapia e descobrindo novos tratamentos, começando com pesquisa em animais e após, se obterem sucesso, passar a testar em humanos. O estudo experimental caracteriza pelo fato do pesquisador ser o responsável pela exposição dos indivíduos (animais ou humanos), escolhendo qual a melhor intervenção (MARQUES & PECCIN, 2005). Assim evoluímos em pesquisas mais fidedignas que chegam mais perto da realidade e possam descobrir novos tratamentos para melhorar a vida dos pacientes. 30 3 MATERIAIS E METODOS 3.1 Caracterização do Estudo Com referência aos conceitos de Luciano (2001), a pesquisa classifica-se como básica no que diz respeito à natureza. Em relação ao problema é quali-quantitativa. No que se refere aos objetivos é descritiva e exploratória, e por fim em relação aos procedimentos é experimental. 3.2 Caracterização da Amostra Foi realizado o estudo com Ratos Wistar adultos (peso entre 250 a 300g) do biotério, da Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, utilizados para indução do protocolo de meningite. Foram realizados dois testes comportamentais. Cada experimento contava com um grupo controle e um grupo acometido de meningite. Para cada teste foi utilizados 12 ratos para um erro alfa de 0,05 e um poder de 80%, utilizando num total de 48 ratos. No estudo foram excluídos ratos com abscessos ou com qualquer outro fator que prejudique os resultados. 3.3 Modelo animal de meningite O modelo animal de meningite é realizado via inoculação do microorganismo na cisterna magna de ratos Wistar, adultos, machos. O microorganismo foi cultivado em caldo Todd-Hewitt, lavado e ressuspendido em NaCl a 0,9% estéril e obtida a concentração de 5x109 UFC/mL (BARICHELLO et al., 2008). A inoculação é realizada através da cisterna magna de 10µL da suspensão 31 bacteriana no grupo meningite ou 10uL de salina estéril no grupo controle. Todos os procedimentos foram realizados sob o uso do anestésico Cloridrato de Cetamina (6,6 mg/kg), Xilazina (0,3 mg/kg), e Acepromazina (0,16 mg/kg) sendo administrada intraperitoneal. Após 16 horas do procedimento foi realizada a confirmação da infecção retirando 10µL de líquor e semeando em placas de Agar sangue e colocando na estufa durante 24 horas (GRANDGIRARD et al., 2007). Depois de confirmada a infecção foi iniciado o tratamento com antibiótico Ceftriaxona 100mg/Kg durante 7 dias 2 vezes ao dia (12 em 12 horas) (LEIB et al., 2003). Os animais foram armazenados no biotério com água e comida ad libitum. Após foi feita a randomização, seguindo o protocolo, grupo controle e grupo meningite com antibiótico. Dez dias após a indução da meningite foram realizados os seguintes testes: Esquiva Inibitória (memória) e Esquiva Inibitória de Treinos Contínuos (memória). 3.4 Procedimentos para Coleta de Dados Os procedimentos para coleta de dados foram divididos em etapas para melhor esclarecimento dos mesmos. Primeira etapa foi realizado o encaminhamento para o comitê de ética em forma de adendo com o número do protocolo 210/2008. Após a aprovação foram iniciadas as demais etapas do estudo. Inicialmente foram realizados alguns contatos para outros profissionais para preparar os animais e agendar os testes. Em seguida este procedimento foi iniciado a fase de preparação da coleta. Logo após preparação foi dado inicio a coleta propriamente dita, iniciando com a indução da meningite. O processo foi realizado com um número de 30 ratos para cada teste sendo eles brancos com peso entre 205 a 300 g da raça Wistar, após a indução foi aplicado antibiótico ceftriaxona 100 mg/kg a cada 12 horas durante sete dias. Desde a data da indução foi esperado 10 dias para após começar os testes, durante este tempo os animais ficam sob os cuidados dos responsáveis pelo biotério tendo água e comida a vontade. Após os testes comportamentais os animais foram mortos por decapitação e colocados em um saco branco leitoso. Estes foram acondicionados em freezer -20ºC para 32 posterior recolhimento por empresa terceirizada pela UNESC, que realizou o descarte como material biológico infectante. No tempo de 10 dias foram realizados os seguintes testes como: Esquiva Inibitória (memória) e Esquiva Inibitória de Treinos Contínuos (memória): Esquiva Inibitória: Conciste em uma caixa de acrílico (Figura 4) na qual o piso é formado por barras paralelas de metal (1mm de diâmetro). Os espaços entre as barras medem 1cm. Uma plataforma com 7cm de largura e 2,5cm de comprimento é colocada junto à parede esquerda do aparelho (QUEVEDO et al., 1999; ROESLER et al, 2004). Na sessão de treino, os animais são colocados sobre a plataforma e mede-se o tempo que o animal leva para descer com as quatro patas da plataforma. Esse tempo é denominado latência. Imediatamente após descer da plataforma (com as 4 patas), o animal recebe um choque de 0,4 mA durante 2 segundos. Na sessão de teste, o animal é novamente colocado na plataforma e medido o tempo que ele leva para descer (latência), porém não é administrado choque. A latência é um parâmetro clássico de retenção de memória. Os intervalos entre o treino e o teste foram de 24 horas (IZQUIERDO et al., 1998; QUEVEDO et al., 1999; ROESLER et al., 2004). 33 Figura 5: Esquiva inibitória Fonte: Laboratório de neurociências Esquiva Inibitória de Treinos Múltiplos: Nesse teste usa-se também a esquiva inibitória, no qual suas características foram descritas anteriormente. Na sessão de treinamento o animal é colocado na plataforma e imediatamente ápos pisar nas barras de metal, recebe um choque 0.3-mA, durante 2 segundos. Este procedimento continua até que o animal permaneça na plataforma por 50 segundos. O animal é devolvido então à sua caixa moradia. Depois de 24 horas, o animal é recolocado na plataforma e conta-se o tempo de permanência do animal sobre a plataforma, caso o animal desça antes não será administrado choque. (BARICHELLO et al., 2005). 3.5 Análise Estatística Com base em estudos prévios em pacientes e estudos em modelos animais, para uma diferença de até 20% nos parâmetros que foram analisados entre os grupos, com uma variância de no máximo 10% entre as médias. Calculou-se um tamanho de 34 amostra de 12 animais por grupo para os testes de comportamento, para um erro alfa de 0,05 e um poder de 80%. Treino de esquiva inibitória de treinos múltiplos, os dados foram analisados pelo teste t Student e expressos em média ± desvio padrão. Para os testes de esquiva Inibitória de treino simples e sessão teste de esquiva inibitória de múltiplos treinos, os dados foram analisados pelo teste t Student, e expressos em mediana e intervalo interquartil. * P <0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino indicando significância estatística. Todas as análises foram executadas utilizando o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). 35 4 RESULTADOS Na sessão treino do teste da esquiva inibitória (Gráfico 1) não houve diferença entre os grupos no tempo de latência, que é o tempo que o animal leva para descer com as quatro patas da plataforma, demonstrando não haver prejuízo na atividade motora. Na sessão teste o animal foi novamente colocado na plataforma e medido o tempo que ele levou para descer (latência), porém não foi administrado choque. No grupo sham houve diferença entre a sessão teste e a sessão treino demonstrando que houve retenção de memória. No grupo meningite não houve diferença entre a sessão treino e teste demonstrando haver prejuízo na retenção de memória neste grupo. Na sessão treino do teste esquiva inibitória múltiplos treinos (Gráfico 2A), o animal foi colocado na plataforma e imediatamente após descer da plataforma e pisar nas barras de metal, recebeu um choque 0.3-mA, durante 2 segundos. Este procedimento continuou até que o animal permaneceu na plataforma por 50 segundos. O grupo meningite necessitou de um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50 segundos na plataforma. Demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos (Gráfico 2B) não houve diferença no tempo de latência entre os grupos na sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória. 36 Sham 350 * Meningitis 300 Latency (sec) 250 200 150 100 50 0 Treino Teste Figura 6: Teste da esquiva inibitória. Os animais com n=12 por grupo foram induzidos à meningite pneumocócica e dez dias após foi realizado o teste. Os dados foram analisados pelo teste Student t, e expressos em média ± desvio padrão. p<0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino. * 37 3 * 2,5 T rials 2 1,5 1 0,5 0 Sham Meningitis Figura 7A Sessão treino do teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os animais com n=12 por grupo foram induzidos à meningite pneumocócica e dez dias após foi realizado o teste. Os dados foram analisados pelo teste Student t, e expressos em média ± desvio padrão. *p<0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino. 400 350 300 LTM 250 200 150 100 50 0 Sham Meningitis 38 Figura 7B: Sessão teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos. Os animais com n=12 por grupo foram induzidos à meningite pneumocócica e dez dias após foi realizado o teste. Os dados foram analisados pelo teste Student t, e expressos em mediana e intervalo interquartil. * P<0.05 em relação ao mesmo grupo da sessão treino. 39 5 DISCUSSÃO A anual incidência, entre adultos, da meningite bacteriana é de 3 a 6 casos por 100.000 habitantes (CHOI, 2001), as bactérias mais comuns nos Estados Unidos e Norte da Europa são S.pneumoniae (47%–51% dos casos), Neisseria meningitidis (25%–37%), e Listeria monocytogenes (4%–8%) (HONDA, et al, 2009). A meningite pneumocócica está consistentemente associada a uma alta incidência de seqüelas neurológica em até metade dos sobreviventes, em autópsia de pacientes que morreram de meningite foi observado dano no sistema nervoso central caracterizado por necrose nos tecidos corticais e apoptose nas células do giro denteado hipocampal (NAU et al, 1999). Os testes comportamentais foram realizados dez dias após a indução da meningite, após este tempo os animais estão livres da infecção pneumocócica, com peso e aparência normal. Na sessão treino do teste de esquiva inibitória não houve diferença entre os grupos demonstrando não haver prejuízo motor. Na sessão teste do grupo sham houve diferença entre as sessões demonstrando que houve retenção de memória (permaneceu por mais tempo na plataforma na sessão teste). No grupo meningite não houve diferença entre a sessão treino e teste (permaneceu nas duas sessões pelo mesmo tempo) demonstrando haver prejuízo na retenção de memória neste grupo. No teste esquiva inibitória de múltiplos treinos o grupo meningite necessitou de um número maior de treinos para atingir o critério de manter-se 50 segundos na plataforma, demonstrando prejuízo na aprendizagem. Na sessão teste da esquiva inibitória de treinos múltiplos não houve diferença no tempo de latência entre os grupos na sessão teste, demonstrando não haver prejuízo de memória. O grupo meningite necessitou de tempo maior para aprender, mas aprendeu. O dano cerebral ocasionado pela meningite afeta múltiplas áreas do cérebro a falta de uniformidade gera um desafio para avaliar o grau de severidade da lesão neuronal. A dificuldade em quantificar os danos cerebrais, especialmente no período imediatamente após a meningite, cria obstáculos na avaliação de novas terapias. (IRAZUZTA et al., 2001). Irazuzta e colaboradores, 2001 verificaram que animais submetidos à meningite pneumocócica, no teste rotorod, que avalia equilíbrio e coordenação motora, o 40 desempenho dos animais foi comprometido quando comparado ao grupo controle. No teste Morris water maze que avalia memória, revelou um prejuízo significativo no grupo meningite em comparação ao grupo que recebeu o placebo. Os resultados neurocomportamentais sugerem um déficit de memória, indicado no teste de Morris water maze. Um maior número de ensaios foram observados nos animais com meningite no pós-teste de sessões de tratamento. Uma vez que os animais foram previamente treinados, esses resultados provavelmente indicam déficits de curto e longo prazo da memória espacial. Nossos resultados verificam que os animais submetidos à meningite pneumocócica tiveram prejuízo de memória e aprendizagem. Souza e colaboradores 2006, verificaram que no teste do labirinto realizado por fisioterapeutas em indivíduos jovens, saudáveis do sexo masculino que avalia função executiva, aprendizagem espacial e memória implícita, pode ser utilizado como um instrumento de análise da aquisição de uma habilidade motora já que o teste induz a utilização de estratégias cognitivas e formação de um programa de ação. 41 6 CONCLUSÃO A meningite pneumocóccica é fatal em 5-30% dos casos, os danos cerebrais levam a sequelas neurológicas em até 30% dos sobreviventes (LEIB et al., 2001). O nosso estudo demonstrou que os animais submetidos à meningite pneumocócica tiveram prejuízo de aprendizagem e memória. A participação do fisioterapeuta é de extrema importância na recuperação dos pacientes acometidos por meningite. A fisioterapia para os pacientes com incapacidades físicas é uma parte reconhecida do tratamento (EDWARDS, 1999). Muitos procedimentos podem ser feitos como os utilizados na paralisia cerebral (crianças com meningite ate três anos de idade são consideradas com paralisia infantil) tendo a fisioterapia como objetivo a inibição da atividade reflexa anormal para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento normal, com isso haverá uma melhora da força, da flexibilidade, da amplitude de movimento (ADM), dos padrões de movimento e, em geral, das capacidades motoras básicas para a mobilidade funcional (GONZALES & SEPULVEDA, 2002). Os diferentes métodos utilizados em fisioterapia são empregados de acordo com o quadro clínico. Utiliza-se, principalmente, método de Kabat, que se baseia na utilização de estímulos proprioceptivos facilitadores das respostas motoras, partindo de respostas reflexas e chegando à motricidade voluntária, o método de Bobath, que se baseia na inibição dos reflexos primitivos e dos padrões patológicos de movimentos e o método de Phelps, que se baseia na habilitação por etapas dos grupos musculares, até chegar à independência motora (ROTTA, 2002). Ao final deste estudo verificou-se que todos os objetivos foram alcançados e ficou comprovado que os animais representam à realidade clinica e que ocorreu um prejuízo da memória e da aprendizagem como demonstrado em nossos resultados a cima. Os testes realizados pela pesquisadora demonstram o que mais a meningite pode provocar ajudando na compreensão das sequelas dependo da área afetada. 42 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Sérgio Monteiro et al. Laboratorial Diagnosis of Lymphocytic Meningitis. 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