Acurácia Diagnóstica dos Sinais de Irritação Meníngea na Meningite Luiz Pedro Willimann Rogério; Renata Patrícia Moreira Camargo; Talita Thizon Menegali; Profa. Dra. Rosemeri Maurici da Silva (orientadora) Introdução: A meningite é uma doença cuja base fisiopatológica consiste na inflamação das meninges. A reação inflamatória pode ser decorrente de um processo infeccioso, que pode ter etiologia bacteriana como também viral ou fúngica. A incidência anual das meningites bacterianas é variável, estimando-se que no Brasil seja de 45,8/100.000 habitantes. A morte é o desfecho em 17% a 21% dos casos, sendo que 13% dos sobreviventes tornam-se moderadamente ou severamente incapazes. O atraso no início do tratamento com antimicrobianos também relaciona-se a uma evolução desfavorável, portanto, o diagnóstico precoce é de extrema importância para o sucesso terapêutico. Na maioria dos casos, a avaliação clínica não permite fazer o diagnóstico nem excluí-lo de forma segura A punção lombar continua sendo padrão áureo para o diagnóstico, entretanto é um procedimento invasivo e não está isento de riscos. Nesse contexto, a avaliação clínica pode auxiliar, indicando a necessidade de investigação mais agressiva ao identificar casos de alta probabilidade, ou o contra-indicando, nas situações de baixa probabilidade. Alguns sinais do exame físico são úteis no processo diagnóstico. A inflamação sensibiliza as meninges ao estiramento, originando os sinais de Kernig e Brudzinski. A constatação de rigidez de nuca, e da acentuação da cefaléia com o balançar da cabeça também sinalizam para a possibilidade de meningite. Entretanto, os sinais de irritação meníngea ainda não estão bem caracterizados. Portanto, um estudo prospectivo padronizado abrangendo demais sinais preditivos de meningite, avaliando-os isoladamente e em combinação com o quadro clínico dos pacientes poderia evidenciar o potencial diagnóstico do exame físico nesta condição clínica. Objetivos: Descrever as características, o quadro clínico, o desfecho dos pacientes com meningite e avaliar presença dos sinais de irritação meníngea. Palavras-chave: meningite, exame físico, diagnóstico Métodos Coorte prospectiva envolvendo pacientes adultos com 18 anos ou mais internados no Hospital Nossa Senhora da Conceição de Tubarão em Santa Catarina submetidos à punção lombar. Os pacientes não responsivos do ponto de vista neurológico foram excluídos. Os indivíduos foram avaliados por três estudantes de medicina devidamente treinados, em momentos distintos, e desconhecendo o diagnóstico do paciente. Cada examinador, desconhecendo os resultado do outro observador, realizou as manobras de Kernig, Brudzinski, balançar de cabeça e compressão ocular, além da avaliação da rigidez nucal. Os resultados foram anotados em formulários que também contavam com campos abordando gênero, idade, etnia, sintomas (cefaléia, febre, rigidez de nuca, vômitos, náusea, fotofobia), sinais (déficit motor e/ou sensitivo focal, convulsão, temperatura, escala de Glasgow), comorbidades (HIV/Aids e neurológicas), e dados da punção lombar (leucócitos, níveis de proteína, níveis de glicose, cultura). A partir de então, os pacientes foram acompanhados até a alta hospitalar ou óbito. Os testes tiveram seus resultados traduzidos de forma dicotômica em presente ou ausente. A manobra de Kernig consistiu em posicionar o paciente em decúbito dorsal com quadril e joelho bilaterais flexionados em 90° para que se pudesse extender uma das pernas. O exame foi positivo quando o indivíduo referiu dor, e, ausente, quando não houve alteração. Ainda em decúbito dorsal, o paciente teve o pescoço fletido de modo a possibilitar a análise da presença de rigidez. De maneira semelhante, porém com o observador apoiando uma das mãos no tórax do observador, foi realizada uma flexão forçada do pescoço e caso houvesse flexão antálgica subsequente dos membros inferiores, o sinal de Brudzinski seria considerado presente. O observador pediu para o paciente fechar os olhos e fez uma digitopressão leve por 2 segundos em ambos os olhos e 2 quando este referiu dor, o campo referente à manobra de compressão ocular foi preenchido com presente. Por fim, foi solicitado para que o paciente realizasse movimentos horizontais cíclicos numa frequência de três por segundo. Se fosse referido o aparecimento ou intensificação de cefaléia que fora aferida previamente pela aplicação da escala analógica da dor, o sinal da acentuação da cefaléia com o movimento da cabeça seria considerado presente. Os dados coletados foram descritos em números absolutos, percentuais e médias. A variabilidade interobservador foi determinada através do índice de concordância Kappa, onde foram aceitos como significativos os valores maiores ou iguais a 0,7. O software SPSS 16.0 foi utilizado para os cálculos estatísticos. O estudo foi submetido com aprovação ao Conselho de Ética da Universidade do Sul de Santa Catarina e ao Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Todos os pacientes foram esclarecidos sobre o estudo, e puderam se recusar a participar. Aqueles que aceitaram se submeter ao protocolo de pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O mesmo aconteceu com os observadores convidados. Resultados e discussão A média de idade dos pacientes submetidos à punção lombar foi de 34 anos sendo que 60% foram do sexo feminino e metade, da etnia caucasiana. A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) esteve presente em metade dos pacientes. A cefaléia foi o sintoma mais freqüente (60%) seguido da fotofobia (40%) e náusea (30%). Metade dos casos apresentaram algum déficit motor e a febre esteve presente em 40% deles. Não houveram óbitos. Dos 10 pacientes que foram incluídos no trabalho, 8 tiveram outros diagnósticos, enquanto que 2 foram diagnosticados com meningite fúngica (criptocócica). Não houve diferença clínica estatisticamente significativa entre pacientes com meningite fúngica e sem a doença. A manobra semiológica da compressão ocular mostrou-se reprodutível (Kappa 1, p 0,002) enquanto que o sinal de Kernig foi interpretado de maneira variável entre os 3 observadores (Kappa 0,615). Conclusões: A punção lombar continua sendo um exame complementar importante principalmente para elucidar quadros neurológicos na vigência de infecção pelo HIV enquanto que são necessários estudos maiores para determinar a acurácia do exame físico na suspeita de meningite. Referências Thomas KE, Hasbun R, Jekel J, Quagliarello VJ. The diagnostic accuracy of Kernig's sign, Brudzinski's sign, and nuchal rigidity in adults with suspected meningitis. Clin Infect Dis. 2002;35:46-52. Uchihara T, Tsukagoshi H. Jolt accentuation of headache: the most sensitive sign of CSF pleocytosis. Headache. 1991;31:167-71. Campbell WW. Dejong`s The Neurologic Examination. 6th ed: Lippincott Williams & Wilkins; 2005. van de Beek D, de Gans J, Spanjaard L, Weisfelt M, Reitsma JB, Vermeulen M. Clinical features and prognostic factors in adults with bacterial meningitis. N Engl J Med. 2004;351:1849-59. Attia J, Hatala R, Cook DJ, Wong JG. The rational clinical examination. 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