HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA I CÓDIGO: HF348 C. H. SEMANAL: 06 PROFESSORA: Leandro Neves Cardim SEMESTRE: 2º/2016 C. H. TOTAL: 90 EMENTA (parte permanente) Estudo de questões fundamentais ligadas ao tema da metafísica ocidental a partir da abordagem de um ou mais autores clássicos e segundo um tratamento mais específico e aprofundado. (Matéria, Forma, Universal, Particular, Princípio, Sujeito, Objeto, Categorias, Alma, Corpo, Supra-Sensível, Crítica à Metafísica e/ou outros). PROGRAMA (parte variável) A intenção deste curso é abordar o tema da percepção na Fenomenologia da percepção de Maurice Merleau-Ponty. Para realizar este trabalho, será preciso, inicialmente, colocar o problema da percepção – a relação entre imanência e transcendência – tal como ele surge das páginas da tradição científica e filosófica. Em contraste com a interpretação tradicional que se atem ao objeto percebido enquanto resultado do processo perceptivo, Merleau-Ponty pretende, na primeira fase de sua filosofia, ingressar a própria filosofia na escola da percepção, estabelecer o primado da percepção e compreender que o sentido que experimentamos na experiência perceptiva se apresenta em estado nascente e inacabado no presente. Veremos que não se trata de tomar o mundo objetivo por objeto de análise, mas de situá-lo no interior do mundo da percepção. A análise objetiva e subjetiva guarda distância em relação à percepção ao invés de aderir a ela. Trata-se, portanto, de operar um recuo aquém das alternativas clássicas e de tomar contato com o mundo e a vida perceptiva. Para realizar e compreender isto será preciso fazer a crítica aos prejuízos clássicos e fazer a experiência do sentido imanente ao mundo sensível. Veremos que a própria razão está enraizada na natureza. A adesão à percepção efetiva nos revela o fato de que o objeto percebido se dá como um todo e como unidade antes que tomemos consciência da lei inteligível que o constitui. Vem daí que não podemos perder a configuração própria da experiência sensível, a qual revela uma racionalidade alargada. Não se trata, com isto, de negar o conhecimento objetivo, mas de situá-lo, ou melhor, assentá-lo no mundo da percepção, o qual é “o fundo sempre pressuposto por toda racionalidade, todo valor e toda existência”. Este curso visa, então, uma introdução à fenomenologia da percepção enquanto retorno ao mundo percebido como lugar em que encontramos, inicialmente, o sistema formado pelo corpo como sujeito da percepção, pelo mundo e pelas outras pessoas. É no interior deste sistema que se constituem as verdades objetivas, os valores e as ações. O primado da percepção de que fala a primeira filosofia merleau-pontiana e o reconhecimento de uma ambigüidade profunda no interior da experiência mais individual, é o primeiro remédio proposto pelo filósofo à crise que predomina desde o início do século XX. Para concretizar este percurso, vamos explorar alguns temas introdutórios da fenomenologia da percepção: sensação, memória, projeção, atenção e juízo. O texto base para tal investigação será a Introdução da Fenomenologia da percepção de Maurice Merleau-Ponty. Este texto ― “Os prejuízos clássicos e o retorno aos fenômenos” ―, será apresentado como estratégico para a explicitação do método indireto. Através dele o filósofo empreende um movimento de redução que possui dupla face: a suspensão do prejuízo objetivo (o ser determinado) nos permite tomar contato com a região da pré-objetividade (o ser indeterminado). Não se trata de excluir a objetividade. É preciso, porém, situá-la em seu devido lugar e encontrar seu direito relativo. A objetividade não é a única nem a mais importante manifestação do ser. Mas veremos que ainda assim ela tem um lugar na consideração do todo da experiência. PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS Aula expositiva (análise e interpretação de texto): leitura e discussão da obra dos autores apresentados. FORMAS DE AVALIAÇÃO Prova dissertativa ao fim do curso. BIBLIOGRAFIA BARBARAS, R. Le désir et la distance. Introduction à une phenomenologie de la perception, Paris: Vrin, 1999. BERGSON, H. Matéria e memória. Ensaio sobre a relação do corpo com o espírito, Trad. Paulo Neves da Silva, São Paulo: Martins Fontes, 1990. DESCARTES, R. Meditações, Trad. J. Guinsbgurg e Bento Prado Junior, São Paulo: Abril Cultural, 1973. FERRAZ, M.S.A. Fenomenologia e ontologia em Merleau-Ponty, Campinas: Papirus, 2009. __________ O transcendental e o existente em Merleau-Ponty, São Paulo: Humanitas, 2006. HUME, D. Tratado da natureza humana. Trad. Débora Danowski, São Paulo: Unesp, 2001. HUSSERL, E. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica, Trad. Márcio Suzuki, Aparecida: Idéias & Letras, 2006. __________ Experiérience et jugement, Trad. D. Souche, Paris: Puf, 2000. __________ La crise des sciences européennes et la phénoménologie transcendantale, Trad. Gérard Granel, Paris: Gallimard, 1999. KANT, E. Crítica da razão pura, Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger, São Paulo: Abril Cultural, 1983. KÖHLER, W. Psicologia da gestalt, Trad. David Jardim, Belo Horizonte: Itatiaia, 1980. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção, Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura, São Paulo: Martins Fontes, 1996. __________ A estrutura do comportamento, Trad. Márcia Valéria Martins de Aguiar, São Paulo: Martins Fontes, 2006. __________ O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas, Trad. Constança Marcondes Cesar, Campinas: Papirus, 1990. MOURA, C.A.R. “A cera e o abelhudo: expressão e percepção em Merleau-Ponty”, in Racionalidade e crise. Estudos de história da filosofia moderna e contemporânea, São Paulo: Discurso Editoria e Ed. UFPR, 2001. MOUTINHO, L.D.S. “Percepção”, in Razão e experiência. Ensaio sobre MerleauPonty, Rio de Janeiro: Editora UNESP, 2006. SIMONDON, G. Cours sur la perception (1964-1965), Chatou: Les Édition de la Transparence, 2006. SOKOLOWSKI, R. Introdução à fenomenologia, Trad. Alfredo de Oliveira Moraes, São Paulo: Loyola, 2004.