PROGRAMA EQ-ANP Processamento, Gestão e Meio Ambiente na Indústria de Petróleo e Gás Natural Fitorremediação de solo oriundo de área industrial multicontaminado com metais pesados e hidrocarbonetos do petróleo por girassol (Helianthus annuus) Cristiane Darco Cruz Martins Orientadores Eliana Flávia Camporese Sérvulo, D.Sc. Fernando Jorge Santos de Oliveira, D.Sc. 2015 i Martins, Cristiane Darco Cruz M.. Fitorremediação de solo oriundo de área industrial multicontaminado com metais pesados e hidrocarbonetos do petróleo por girassol (Helianthus annuus) / Cristiane Darco Cruz Martins. – 2015. 187 f.: il. Tese (Doutorado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, Rio de Janeiro, 2015. Orientador: Eliana Flávia Camporese Sérvulo e Fernando Jorge Santos Oliveira 1. Fitorremediação. 2. Girassol. 3. Solo Multicontaminado. 4. Hidrocarbonetos. 5. Metais Pesados – Teses. I. Sérvulo, Eliana Flávia Camporese; Oliveira, Fernado Jorge Santos (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Química. III. Título. AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus que esteve ao meu lado, iluminou os dias de escuridão e me estendeu a mão quando tudo parecia acabado. Aos meus orientadores, Eliana Flávia Camporese Sérvulo e Fernando Jorge Santos Oliveira, aos quais sou eternamente grata. À minha família, pois sem ela nada disso seria possível. À equipe do laboratório E-107 da Escola de Química (UFRJ) pela ajuda e companhia durante a execução dos ensaios. E, finalmente, agradeço ao Programa de Recursos Humanos (PRH-13) da Agência Nacional do Petróleo (ANP), à Agência Financiadora de Projetos (FINEP) e à PETROBRAS pelo apoio financeiro. iii RESUMO MARTINS, Cristiane Darco Cruz. Fitorremediação de solo oriundo de área industrial multicontaminado com metais pesados e hidrocarbonetos do petróleo por girassol (Helianthus annuus). Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos) – Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015 A importância da fitorremediação como técnica remediadora para áreas contaminadas justifica a realização de estudos com espécies vegetais adaptadas às condições climáticas brasileiras. O presente trabalho é inovador e objetivou avaliar a fitorremediação como alternativa para o tratamento de um solo, oriundo de um sistema Landfarming de área industrial, multicontaminado com hidrocarbonetos de petróleo (hidrocarbonetos totais do petróleo - HTPs e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos - HPAs) e metais pesados, em ensaios conduzidos em casa de vegetação e em campo. Girassol (Helianthus annuus) foi empregado como agente fitorremediador por suas características como melhorador do solo e tolerância a variações climáticas e do solo, além da possibilidade do seu uso, após tratamento, na produção de biodiesel. A literatura aponta o uso de girassol na fitorremediação de metais, mas o seu uso para remoção de poluentes orgânicos, separadamente ou em associação a metais pesados ainda não foi relatado. Foram conduzidos experimentos em três etapas distintas: (I) seleção de um entre quatro cultivares de girassol (M, P, H2 e H3) em vasos, por 40 dias; (II) efeito do número de indivíduos e da adição de fertilizante (NPK: 10-10-10), em vasos, por 80 dias; e (III) comportamento do cultivar selecionado em função da variação do número de indivíduos e da adição de fertilizante, em campo, por 90 dias. A semeadura dos quatro cultivares diretamente no solo resultou em rápida germinação e semelhante desenvolvimento, embora o cultivar H3 tenha sobrepujado pela robustez e capacidade de remoção dos contaminantes: Pb, 61%; HTPs,15%; e benzo(a)pireno (B(a)P), 52%. Para o cultivar selecionado (H3), o número de indivíduos e fertilização do solo teve efeito diferenciado na fitorremediação, conforme o contaminante. Genericamente, os maiores percentuais de remoção foram alcançados no tratamento com 5 indivíduos/fertilização: HTP (34%), criseno (93%), benzo(a)antraceno (75%), B(a)P (67%) e Hg (48%). Nos ensaios em campo, a remoção de metais foi, de maneira geral, maior nos iv ensaios sem fertilizante, enquanto a remoção de HTPs foi estatisticamente igual para todos os tratamentos realizados (aproximadamente 80%). Porém, não foi possível detectar os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) no solo, ao final dos ensaios, embora, a presença de alguns HPAs tenha sido detectada nos tecidos vegetais, sobretudo nos ensaios sem fertilizante. Os resultados obtidos indicam que a fitoremediação empregando girassol é uma alternativa promissora para o tratamento de solos multicontaminados por metais pesados e hidrocarbonetos do petróleo. Palavras-chave: Fitorremediação. Girassol. Hidrocarbonetos. Metais pesados. v Solo multicontaminado. ABSTRACT MARTINS, Cristiane Darco Cruz. Fitorremediação de solo oriundo de área industrial multicontaminado com metais pesados e hidrocarbonetos do petróleo por girassol (Helianthus annuus). Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos) – Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015 Phytoremediation importance as remediation technique for contaminated areas justifies the studies of plants species adapted to Brazilian climatic conditions. This work is innovative and aimed to evaluate the phytoremediation as an alternative for the soil treatment, arising from an industrial area Landfarming system, multi-contaminated with petroleum hydrocarbons (total petroleum hydrocarbon – TPH and polyciclic aromatic hydrocarbon – PAH) and heavy metals, in assays conducted in greenhouse and field conditions. Sunflower (Helianthus annuus) was employed as phytoremediation agent because its characteristics as a soil improver and tolerance to climatic and soil variations, and the possibility of its use after treatment for biodiesel production. The literature suggests the use of sunflower in phytoremediation of metals, but its use for removing organic pollutants, separately or in combination with heavy metals has not yet been reported. Experiments were conducted in three distinct stages: (I) selection of one among four sunflower cultivars (M, P, H2 and H3) in the in pots, for 40 days; (II) Effect of number of individuals and fertilizer addiction (NPK 10-10-10) for 80 days; and (iii) cultivating the selected behavior as a function of the variation in the number of individuals and the fertilizer in the field, for 90 days. The four cultivars sowing directly into the soil resulted in rapid germination and similar development, although the cultivar H3 was the most stout and contaminants removal capacity: Pb, 61%; TPH, 15%; and benzo(a)pyrene (B(a)P), 52%. For each contaminant studied, the selected cultivar (H3), shows different removed profile that changed according to the number of individuals and soil fertilization. Generally, higher removal percentages were obtained in treatment with 5 individuals / fertilization: HTP (34%), chrysene (93%), benzo(a)anthracene (75%), B(a)P (67%) and Hg (48%). In field assays, the metal removal was generally higher in the tests without fertilizer while TPH removal was statistically the same for all the treatments (about 80%). However, it was not possible to detect polycyclic vi aromatic hydrocarbons (PAHs) in soil at the treatment ends, though, the presence of some PAHs have been detected in plant tissues, especially in without fertilizer assays. The results indicate that phytoremediation employing sunflower is a promising alternative for the treatment of multi-contaminated soils by heavy metals and petroleum hydrocarbons. Keywords: Phytoremediation. Hydrocarbons. Heavy metals. Sunflower. vii Multi-contaminated soil. SUMÁRIO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 1.1 INTRODUÇÃO 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Específicos CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO 2.1.1 Resíduos Sólidos na Indústria do Petróleo 2.1.1.1 Borras Oleosas 2.1.1.1.1 Aspectos Gerais a Respeito das Borras Oleosas 2.1.1.1.2 Alternativas Convencionais para o Tratamento de Borras Oleosas 2.2 O SOLO 2.2.1 Conceito e Propriedades 2.2.2 Fontes de Poluição do Solo 2.2.3 Contaminação do Solo por Resíduos Oleosos 2.2.4 Contaminação do Solo por Metais 2.3 FITORREMEDIAÇÃO 2.3.1 Aspectos Gerais 2.3.2 Mecanismos Envolvidos na Fitorremediação 2.3.2.1 Fitovolatilização 2.3.2.2 Fitodegradação 2.3.2.3 Fitoextração 2.3.2.4 Rizofiltração 2.3.2.5 Rizodegradação 2.3.2.6 Fitoestimulação 2.3.2.7 Fitoestabilização 2.3.3 Parâmetros Relevantes para a Fitorremediação de Solos Contaminados 2.3.3.1 Tipo dos Contaminantes 2.3.3.1.1 Fitorremediação de ambientes poluídos com compostos inorgânicos 2.3.3.1.2 Fitorremediação de ambientes contaminados com compostos orgânicos 2.3.3.2 Condições Climáticas do Sítio Contaminado 2.3.3.3 Fertilidade do solo 2.3.4 Relação Custo X Benefício Da Utilização Da Fitorremediação 2.3.5 Vantagens e Desvantagens da Aplicação da Fitorremediação 2.3.6 Seleção da(s) Espécie(s) Vegetal(is) 2.4 O GIRASSOL 2.4.1 Aspectos Gerais do Cultivo de Girassol 2.4.2 Uso do Girassol na Fitorremediação CAPÍTULO 3: MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 SOLO 3.1.1 Amostragem e Caracterização do Solo 3.2 VEGETAIS 3.3 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ENSAIOS 3.3.1 Casa de vegetação 3.3.2 Em Campo viii 1 1 7 7 8 8 10 12 12 15 16 16 22 25 27 29 29 31 32 33 34 35 36 37 38 39 39 40 41 42 43 45 46 49 53 53 55 58 58 59 61 61 61 62 3.4 ETAPAS EXPERIMENTAIS 3.4.1 Seleção de Cultivar de Helianthus annuus 3.4.2 Efeito da Suplementação com Fertilizante e Densidade Populacional na Fitorremediação do Solo 3.4.3. Testes de fitorremediação em escala de campo 3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS 3.6 MÉTODOS ANALÍTICOS 3.6.1 Caracterização do Solo 3.6.1.1 Composição Granulométrica 3.6.1.2 Matéria Orgânica 3.6.1.3 Capacidade de Campo 3.6.1.4 Fósforo 3.6.1.5 Nitrogênio 3.6.1.6 Ph 3.6.1.7 Umidade 3.6.1.8 Hidrocarbonetos Totais do Petróleo (HTP’s) 3.6.1.9 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA’s) 3.6.1.10 Elementos Pesados (V, Ni, Cu, Cd e Pb) 3.6.1.11 Bactérias Aeróbias Totais 3.6.1.12 Bactérias Degradadoras de Hidrocarbonetos 3.6.1.13 Fungos Totais 3.6.2 Caracterização dos Tecidos Vegetais 3.6.2.1 Análises Químicas nos Tecidos Vegetais 3.6.2.2 Determinação Mássica das Plantas CAPÍTULO 4: RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caracterização do Solo 4.2 Seleção de Cultivar de Helianthus annuus 4.3 Efeito da Suplementação com Fertilizante e da Densidade Populacional na Fitorremediação do Solo 4.4 Testes de Fitorremediação em Escala de Campo CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES CAPÍTULO 6: SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUTROS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIVULGAÇÃO DA PESQUISA ix 62 63 65 67 70 71 71 71 71 72 73 74 75 75 75 76 78 78 79 80 81 81 82 83 83 98 114 128 147 150 151 186 MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 1.1 INTRODUÇÃO O incremento da oferta de bens de consumo, aliado ao intenso desenvolvimento tecnológico, figuram entre os fatores de maior influência no padrão de consumo da sociedade contemporânea. A variedade de bens atende a vontade dos mais diferentes compradores, desde aqueles menos exigentes e de menor poder aquisitivo até os mais exigentes e ricos. Este cenário possibilita que milhões de produtos sejam comprados por milhares de pessoas todos os dias, em qualquer cidade do Brasil e do mundo (BARBOSA, 2008). Basicamente, a melhoria do padrão de vida da coletividade se enquadra em um modelo de desenvolvimento não sustentável, uma vez que para atender ao elevado consumo de produtos, faz-se necessário, cada vez mais, retirar da natureza matérias-primas, a maioria, não renovável. Isto causa a destruição dos mais diferentes ambientes (florestas, rios, etc.), enquanto as atividades industriais e a disposição inadequada de produtos levam à poluição do ar, das águas e do solo (BARBOSA, 2008). Diante desse panorama, nos últimos anos, a sociedade e os governos passaram a dar mais atenção para as questões ambientais. Isso pode ser MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 2 percebido nas alterações que foram feitas nas legislações, que se tornaram mais restritivas, e também na maior conscientização da opinião pública em relação à conservação do meio ambiente. Outra prova da maior preocupação com a degradação do meio ambiente é a estimativa dos gastos mundiais, de 25 a 50 bilhões de dólares ao ano, com operações para a despoluição ambiental (TSAO, 2003; JACQUES et al., 2007). Este mercado, estável nos Estados Unidos (US$ 6 – 8 bilhões/ano), tende a crescer no Brasil, uma vez que os investimentos para tratamento dos rejeitos humanos, agrícolas e industriais crescem à medida que aumentam as exigências da sociedade e leis mais rígidas são aplicadas. Dentre as principais fontes de contaminação ambiental, a indústria do petróleo e gás se destaca, visto que todas as operações relacionadas extração, transporte, refino, e distribuição - concorrem para a poluição do ar, da água ou do solo (POTIN et al., 2004). De acordo com o site AMBIENTE BRASIL (site 1), aproximadamente 40 milhões de litros de óleo cru e derivados foram acidentalmente lançados no ambiente entre 1975 e 2004, impactando solos, rios, manguezais e praias, do Brasil. Na busca por estratégias eficazes de gestão ambiental, algumas empresas estão adequando suas atividades ao conceito de desenvolvimento sustentável, de modo a garantir competitividade em curto ou médio prazo (LAFFERTY; MEADOWCROFT, 2001; KRAEMER, 2005). O relatório elaborado pela Comissão Brundtland1, publicado em 1987, aponta a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes já naquela época, e ainda ressalta os riscos do uso excessivo dos recursos naturais, quando não se considera a capacidade de suporte dos ecossistemas (CMMAD, 1991). O relatório define desenvolvimento sustentável como: (...) desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades. (BARBOSA, 2008) 1 Como foi denominada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1983 e presidida pela, na época, primeira ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland (BARBOSA, 2008). MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 3 A adequação ao conceito de ambientalmente sustentável implica na inversão de recursos por parte das empresas, o que depende de sua realidade financeira, identificação de vantagens competitivas, oportunidades econômicas, demandas legais e da sociedade, planejamento das suas atividades, eliminação ou minimização dos impactos ao meio ambiente, por meio de ações preventivas, medidas mitigadoras ou de remediação das áreas contaminadas (LAFFERTY; MEADOWCROFT, 2001). Dentre os recursos que podem ser impactados pelos processos industriais, destaca-se o solo devido ao seu elevado grau de exposição. O solo é um recurso dinâmico essencial à vida, que contempla diferentes funções: sustentação da vida e do “habitat” para pessoas, animais, plantas e outros organismos; manutenção do ciclo da água e dos nutrientes; proteção da água subterrânea; manutenção do patrimônio histórico, natural e cultural; conservação das reservas minerais e de matérias-primas; produção de alimentos; e meio para manutenção da atividade socioeconômica (FERREIRA; DIAS, 2001). A introdução de contaminantes no solo pode resultar na perda de algumas, ou várias, de suas funções e, ainda, provocar a contaminação da água subterrânea. A ocorrência de contaminantes no solo acima de certos níveis provoca múltiplas consequências negativas para a cadeia alimentar, para a saúde pública e para os diversos ecossistemas e recursos naturais (RODRIGUES; DUARTE, 2003). Em 1994, de acordo com German Advisory Council on Global Change, havia a estimativa de que 22 milhões de hectares de solos estivessem contaminados em todo o mundo. Estudo realizado pela Agência Europeia do Ambiente - Commission of the European Communities – avaliou que os tratamentos para a limpeza dos sítios contaminados na Europa poderiam alcançar custos totais de 109 bilhões de euros (CONESA et al., 2012). As fontes de contaminação podem ser das mais diversas, entretanto, uma vez contaminado, o solo necessita ser recuperado, o que pode se dar por diferentes alternativas tecnológicas de tratamento. A decisão pela adoção de uma determinada medida deve levar em consideração a urgência de ações corretivas e o nível de remediação desejado, bem como as tecnologias aplicáveis (CETESB, 2001). Dentre os principais procedimentos relacionados MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 4 ao gerenciamento de solos contaminados devem ser considerados: análise de risco; legislação vigente; e técnica(s) possíveis de ser(em) aplicada(s) (remediação, contenção, ou remoção). Portanto, a escolha de uma determinada tecnologia deve ser baseada na natureza e concentração de contaminante, extensão da área afetada, e a disponibilidade de recursos. A busca por uma alternativa que apresente a melhor relação custo-benefício deve considerar: eficiência na descontaminação, simplicidade na execução, tempo demandado pelo processo e menor custo (BRASIL, 1983). Nesse contexto, cresce o interesse pela utilização da biorremediação, definida como uma técnica que objetiva reabilitar solo e/ou água por meio da utilização de organismos vivos (PIRES et al., 2003). Dentre as técnicas de biorremediação destaca-se a fitorremediação, que, segundo Accioly e Siqueira (2000), é uma tecnologia que envolve o emprego de plantas, que em associação com a microbiota do solo pode remover, imobilizar ou transformar os contaminantes em substâncias menos agressivas ao ecossistema. Em geral, a fitorremediação apresenta baixo custo, visto que depende essencialmente da luz solar como fonte de energia, com amplitude para a remediação in situ de grandes áreas contaminadas (CHANEY et al., 2000; ROBINSON et al., 2003; CONESA et al., 2012). A ideia de "reciclagem do solo" ao invés do seu uso para a disposição de resíduos foi incluída em regulamentos oficiais, tais como a Diretriz 2008/1/CE (comunidade europeia), relativa à prevenção e controle integrados da poluição (CONESA et al., 2012). A fitorrremediação, além de remediar águas, solos ou subsolos contaminados, permitindo atender os regulamentos ambientais quando aplicada individualmente ou combinada com outra tecnologia de remediação, ao mesmo tempo, embeleza o ambiente (ROBINSON et al., 2003; GELLER.; ROCK; TSAO, 2009). E, por ser considerada uma tecnologia “verde”, é de grande aceitação pública. No caso do solo, esta tecnologia pode auxiliar na manutenção da fertilidade (KHAN, 2000; ROBINSON et al., 2003; USEPA 2004). Outra vantagem para o uso de plantas na descontaminação de sítios é que pode somar créditos de carbono, contribuindo indiretamente, para minimizar os danos do efeito estufa e do aquecimento global e, diretamente, permitindo a viabilidade financeira do tratamento (LEWANDOWSKI et al., 2006). MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 5 Outro benefício da fitorremediação é a possibilidade de impedir a percolação dos compostos tóxicos até os lençóis d’água. Desta forma, evita-se a contaminação de aquíferos e, consequentemente, da água potável, cada vez mais escassa no mundo atual (EPA, 2000). No que concerne à biomassa vegetal produzida, existe a possibilidade de reciclagem, com geração de energia (queima direta ou produção de biogás), madeira, fabricação de papel, extração de proteínas para uso em rações, extração de substâncias quimicamente ativas de suas raízes para uso como estimulante do crescimento de plantas (DINARDI et al., 2003). Outra possibilidade para aumentar a receita de solos não produtivos devidos à carga de contaminação poderia ser a produção de biomassa para aproveitamento como biocombustível. Em contraste com a produção de biocombustíveis, a produção de biocarvão poderia dar uma nova perspectiva sobre a produção de biomassa em terras contaminadas. O biocarvão é carvão criado a partir da pirólise de biomassa. A adição de biocarvão ao solo tem sido sugerida para o sequestro de carbono, reduzindo assim os efeitos da mudança climática induzida pelo homem, causados pelas emissões de CO2 (LEHMANN, 2007). A fitorremediação já vem sendo estudada e aplicada em escala comercial (CONESA et al., 2012). Neste campo, existem empresas americanas e européias em atuação, embora difiram quanto a gestão comercial das fitotecnologias. Os Estados Unidos tem maior investimento privado em fitotecnologias, e isso resultou em um número maior de empresas privadas lucrativas. Em contraste, a Europa está mais focada em resolver as questões fundamentais e em descrever os mecanismos biológicos. Os focos atuais do emprego de fitorremediação em escala comercial são: evitar a lixiviação de contaminantes nas águas subterrâneas (americana Ecolotree) e tratamento de efluentes (alemã Bioplanta). No caso da Bioplanta Inc., de modo a aumentar os lucros, estão realizando investimentos em outras fontes de renda paralelas, a saber, a produção de metano em biorreatores e a extração de compostos ativos de plantas. Outras empresas, como as multinacionais Union Carbide, Monsanto e Rhône-Poulenc, já empregaram fitorremediação para descontaminação das suas áreas contaminadas (GLASS, 1998). No Brasil, ainda são raras as empresas que exploram a capacidade remediadora de plantas, entretanto nota- MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 6 se um aumento do número de pesquisas nessa área. É importante ressaltar que existe a necessidade de se desenvolver tecnologias para o cultivo de plantas capazes de crescer e absorver simultaneamente contaminantes de diferentes naturezas, como, por exemplo, hidrocarbonetos de petróleo e metais pesados, em solos típicos do nosso território e nas condições climáticas dos trópicos, ou seja, tecnologias genuinamente nacionais (COUTINHO; BARBOSA, 2007). As condições climáticas brasileiras, se comparadas às de outros países localizados fora dos trópicos, apresentam qualidades mais favoráveis ao desenvolvimento da prática de fitorremediação. Dentre as vantagens do clima do Brasil podem-se citar os períodos prolongados das estações quentes do ano, as elevadas temperatura e umidade, a luminosidade constante durante todo o ano. A partir dessas prerrogativas, soma-se a alta taxa de transpiração que influencia favoravelmente os mecanismos de extração e volatilização de componentes tóxicos; a possibilidade de cultivo durante quase todo o ano; a elevada produção de biomassa vegetal beneficia a entrada de substrato (material orgânico proveniente da queda das folhas, raízes mortas, insetos, etc) no solo que, aliado à temperatura e umidade elevadas, favorece o desenvolvimento de microrganismos e aumenta a eficiência do processo de degradação da matéria orgânica, no caso, dos contaminantes de natureza orgânica (MERKEL; SCHULTZE-KRAFT;INFANTE, 2004a e b; ROMEIRO et al., 2007). Este trabalho visa contribuir para a avaliação técnica do emprego da fitorremediação para o reaproveitamento de área multicontaminada com hidrocarbonetos de petróleo e metais pesados de elevada toxicidade, por conta da disposição frequente no solo, por vários anos, de borra oleosa. Note-se que, geralmente, as publicações tratam de solos artificialmente contaminados e contempla apenas um tipo de contaminação. Foi dada ênfase ao girassol (Helianthus annuus), reconhecidamente uma planta fitorremediadora com potencial para remoção de elementos inorgânicos, tais como, urânio, selênio, plutônio, cádmio, cromo, cobre, césio, níquel, manganês, chumbo e zinco de áreas poluídas (LIPHADZI et al., 2003; SHARMA;STARNES; SAHI, 2006; SISTANI; NOVAK, 2006; RODRIGUEZ et al., 2006). Contudo, foi encontrado apenas um trabalho demonstrando a MARTINS, C.D.C. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 7 capacidade do girassol em fitorremediar solo contaminado com poluentes orgânicos (TEJEDA-AGREDANO et al., 2012). E, até o presente momento, não foram encontrados dados quanto ao seu emprego em solo multicontaminado com substâncias orgânicas e inorgânicas, embora muitos processos gerem, simultaneamente, ambos os compostos. Esta espécie foi escolhida pela sua elevada capacidade de adaptação, ciclo de vida curto e grande desenvolvimento de biomassa (PRASAD, 2007). E, principalmente, por ser uma oleaginosa, o que permitiria dar um destino de relevância a um vegetal que não terá aplicação comestível. Neste caso, a produção de biodiesel, somaria créditos para custeio do próprio tratamento. 1.2 OBJETIVOS Avaliar o girassol (Helianthus annuus) como agente fitorremediador para a recuperação área multicontaminada com metais pesados e com hidrocarbonetos do petróleo, inclusive poliaromáticos, oriundos de operações de refino de petróleo. 1.2.1 Objetivos Específicos Selecionar por ensaios conduzidos em casa de vegetação dentre quatro diferentes cultivares de girassol, comercialmente disponíveis no mercado nacional, aquele mais indicado para a remoção simultânea de HPA e metais pesados; Avaliar a influência das variáveis: número de indivíduos e adição de fertilizante N:P:K (10:10:10) no solo; Determinar a concentração de elementos químicos e hidrocarbonetos de petróleo presentes nas amostras de tecido vegetal e residuais no solo; Comparar os resultados em casa de vegetação e em campo obtidos nos experimentos com diferentes números de indivíduos com e sem adição de fertilizante. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO Por definição, são considerados resíduos sólidos: Todos os materiais decorrentes de atividades humanas, gerados como sobra de processos ou atividades, que não possam ser utilizados com a finalidade para as quais foram originalmente produzidos. (CHEREMISINOFF, 1995) Entretanto, a definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas é mais ampla, incluindo aos materiais inservíveis em estado sólido, aqueles que se apresentam em estado semissólido ou líquido, como segue: Resíduos sólidos são os resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT – NBR 10004, 2004) MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 9 Mais recentemente, no Brasil, foi adotada uma definição híbrida, envolvendo aspectos técnicos, assim como outros aspectos abrangentes: Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei Federal 12305, BRASIL, 2010) Os resíduos, dependendo da fonte geradora, e do modo que forem processados, podem conter substâncias químicas de potencial risco à saúde pública e ao meio ambiente (MBULIGWE; KASEVA, 2006; COSKERAN; SMITH; PHILLIPS, 2007). De acordo com a norma técnica NBR 10004 (ABNT 2004), são considerados resíduos perigosos, aqueles constituídos de substâncias com propriedades físicas, químicas ou microbiológicas que lhes conferem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou patogenicidade. A periculosidade também está relacionada a fatores tais como concentração, mobilidade, persistência e bioacumulação das substâncias presentes nos resíduos (KELLER, 2000; HOLOUBEK et al., 2000). Isto impõe que haja um gerenciamento ambientalmente adequado desses resíduos por parte das fontes geradoras, mormente as indústrias, com políticas de minimização, reciclagem, reutilização, tratamento e disposição final adequada (MACHADO et al., 2012). Nos países preocupados com a problemática ambiental, existem órgãos para normatizar e fiscalizar de modo a garantir que a produção de resíduos esteja em consonância com a preservação da natureza. Estes países adotam ações aplicadas à gestão de resíduos, como medidas prioritárias. Assim, quando a disposição dos resíduos sólidos é a opção, ela deve ser cuidadosamente planejada, considerando as normas aplicáveis, estudos técnicos, e, sobretudo, as alternativas para o tratamento desses resíduos de modo a atender as legislações vigentes. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 Dentre as fontes geradoras de resíduos sólidos, destacam-se aquelas atreladas aos processos de exploração, produção, refino e transporte de petróleo, ainda a principal fonte de energia no cenário mundial (MELO; CORIOLANO; ARAUJO, 2013; JAEGER; MACHRY, 2014). Por isso, os resíduos gerados nas indústrias do petróleo e petroquímicas são apontados como os principais problemas ambientais do mundo contemporâneo, sendo seu destino final um grande desafio mesmo para países tecnologicamente avançados (PEDROZO et al., 2002). 2.1.1 Resíduos Sólidos na Indústria do Petróleo O petróleo é constituído de uma variada e complexa mistura de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, compostos sulfurados, nitrogenados e oxigenados, metais pesados (ex.: chumbo e mercúrio) e metaloides (ex.: arsênio) (VARSHA; NAGA DEEPTHI; CHENNA, 2011). Logo, apesar da importância do petróleo para a sociedade moderna, a quantidade e a diversidade de resíduos que são gerados em todas as fases do processo produtivo, tornam as atividades petrolíferas - desde a sua exploração à comercialização dos derivados - importantes do ponto de vista ambiental. Nas atividades petrolíferas, a maior quantidade de resíduos é gerada durante as etapas de refino, que envolvem o fracionamento do petróleo bruto em produtos derivados: (i) combustíveis, tais como a gasolina, o diesel e o querosene; (ii) insumos petroquímicos (principalmente a nafta) e; (iii) outros (óleos lubrificantes e asfalto) (CARDOSO, 2006). Em geral, as refinarias apresentam diferenciadas configurações e números de unidades de processo, além da eficiência de cada instalação do refino ser distinta. Em consequência, as características dos resíduos oleosos gerados nas refinarias diferem, caso a caso (ARAÚJO; NICOLAIEWSKY; FREIRE, 2006). De acordo com a NBR 10004 (ABNT 2004), os processos de refino geram efluentes líquidos, sólidos emulsionados, lodos, sedimentos, resíduos, borras e catalisadores gastos, que se classificam em resíduos perigosos e não perigosos. Ambos devem ser geridos adequadamente, embora, por causa da MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 11 toxicidade e recalcitrância, os resíduos perigosos são os que requerem atenção quanto à estratégia de tratamento a ser adotada. Diariamente, a indústria do petróleo e gás produz grandes quantidades de resíduos perigosos e não perigosos (SOUZA; HOLANDA, 2003; GUIMARÃES, 2007). Entende-se que um resíduo sólido é perigoso quando apresentam riscos à saúde pública quando manuseados de forma inadequada, em função de suas características intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade. Os resíduos sólidos perigosos gerados nas refinarias podem ser agrupados em duas categorias como oleosos e não oleosos. Dentre os resíduos sólidos perigosos não oleosos destacam-se os catalisadores exauridos, enquanto as borras oleosas e os lodos biológicos gerados nas Estações de Tratamento de Efluentes são os resíduos perigosos oleosos de maior significância, devido à elevada quantidade gerada e à composição química variada (URURAHY et al., 1998; SANTOS; SOUZA; HOLANDA, 2002). Os materiais sólidos oleosos depositados em fundos de tanques ou em separadores água-óleo da indústria de petróleo são chamados tradicionalmente de borra oleosa (MELO; CORIOLANO; ARAUJO, 2013). Segundo a Norma N2622 (PETROBRAS, 1998), borra oleosa é constituída pela mistura de óleo, sólidos e água, que devido aos seus constituintes pertence à Classe I (resíduos tóxicos e inflamáveis). Porém, de acordo com os órgãos ambientais, se esse resíduo for submetido a processos de inertização ou encapsulamento, pode ser reclassificado como resíduo Classe IIA (resíduo não perigoso, não inerte), o que permitiria sua disposição em aterros industriais (SILVA et al., 2006). No entanto, a legislação atual em vigor no Brasil não permite essa operação, pois os aterros devem ser destinados exclusivamente a rejeitos (BRASIL, 2010). A Lei Federal 12305, de 02/08/2010 define rejeitos como sendo resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12 2.1.1.1 Borras Oleosas 2.1.1.1.1 Aspectos Gerais a Respeito das Borras Oleosas Borra oleosa é o resíduo mais abundante gerado pela indústria do petróleo, podendo ocorrer nas quatro principais atividades da indústria petrolífera, a saber: extração de óleo cru, transporte do óleo para a refinaria, processo de refino, e armazenagem de petróleo e produtos (SANTOS; SOUZA; HOLANDA, 2002; MELO; CORIOLANO; ARAUJO, 2013). Por conta disso, as borras oleosas podem ser encontradas em diversas operações: sistemas de dessalinização de petróleo, separadores água-óleo, unidades de craqueamento catalítico, flotadores, trocadores de calor, torres de refrigeração, fundo dos tanques de armazenamento de petróleo e produtos derivados (combustíveis e insumos), (ARAÚJO; NICOLAIEWSKY; FREIRE, 2006; ALFUTAISI et al., 2007; COSTA, 2010). Inclui-se, também, o efluente da estação de tratamento da própria refinaria (WANG et al., 2010). Em virtude de vários diferentes sistemas poderem contemplar a formação de borras oleosas, a quantidade gerada, composição e grau de toxicidade são bastante variáveis. A geração de borras oleosas pode variar de 0,1% (para óleos leves) até 1,5% (para óleos pesados) da carga processada (AIRES, 2002). Em geral, as borras oleosas são constituídas de 5-60% de óleo, 30-90% de água e 5-40% de partículas minerais, como nitrogênio, fósforo, e espécies metálicas (FRANCIS; STEHMEIER, 1991). Mais de 90% do óleo corresponde a uma mistura de hidrocarbonetos parafínicos, aromáticos, resinas e asfaltenos, sendo elevada a concentração de hidrocarbonetos aromáticos, que variam de 1 a mais de 40 anéis (USEPA, 1997; DIALLO et al., 2000; UBANI; ATAGANA; THANTSHA, 2013). Também podem ser encontrados microrganismos (bactérias e fungos) (SHIE et al., 2004). Na borra oleosa, ocorre a repulsão entre os hidrocarbonetos devido a sua característica polar, o que impede a formação de fase homogênea. Adicionalmente, a capacidade do óleo de adsorver partículas, pode resultar em uma massa de resíduo final de 10 a 20 vezes maior que a massa inicial (SANTOS; SOUZA; HOLANDA, 2002). Contudo, a adsorção do óleo às MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13 partículas sólidas confere ao resíduo grande estabilidade, tornando-o extremamente persistente (URURAHY et al., 1998; GAYLARDE, 1998). Portanto, pode-se inferir que a borra oleosa é um sistema multifásico, altamente poluente, e de difícil tratamento (MELO; CORIOLANO; ARAUJO, 2013; UBANI; ATAGANA; THANTSHA, 2013). Estudos têm sido realizados buscando alternativas de tratamento capazes de minimizar o volume e a toxicidade de resíduos perigosos, seja pelo aprimoramento de tecnologias existentes ou desenvolvimento de novas tecnologias. Dentre as alternativas existentes para tratamento de resíduos sólidos, algumas possuem limitações que inviabilizam sua aplicação para o tratamento de borra oleosa, seja pelo alto custo, seja pela persistência de alguns compostos ou risco de contaminação do solo e aquíferos subterrâneos (VASUDEVAN; RAJARAN, 2001). Por isso, o tratamento ou a disposição da borra oleosa tem sido um desafio para as indústrias de petróleo que buscam uma gestão sustentável de exploração e aproveitamento dos recursos minerais (COSTA, 2010). Dentre as tecnologias convencionais para tratamento de solos contaminados com borras oleosas, os tratamentos biológicos e a incineração têm sido os mais aplicados (MELO; CORIOLANO; ARAUJO, 2013). No caso dos tratamentos biológicos, destaca-se o processo Landfarming. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency – USEPA), este método consiste em dispor o resíduo na superfície de um solo, em local previamente preparado, de modo a permitir a degradação dos contaminantes orgânicos por ação da microbiota autóctone, mediante operações adequadas de manejo de solo (PAULA; SOARES; SIQUEIRA, 2006; PAUDYN et al., 2007). No entanto, na maioria das vezes, esta tecnologia não permite auferir que as concentrações dos compostos tóxicos de elevada periculosidade sejam reduzidas aos limites estabelecidos como seguros ou aceitáveis pela legislação. Em vista do caráter extremamente poluente da borra oleosa, se o processo de Landfarming não for capaz de reduzir os poluentes até níveis satisfatórios, haverá um sério comprometimento do ecossistema. Este cenário MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 é cada vez mais preocupante, considerando-se a escassez de terra e os efeitos em longo prazo da poluição nos ecossistemas terrestres. Existe, ainda, outro tipo de borra oleosa abundante em refinarias de petróleo que são os lodos de ETDI (estação de tratamento de despejos industriais) e lodos de ETE (estações de tratamento de efluentes). Toda refinaria de petróleo gera efluentes, que devem ser tratados para descarte. Quando o tratamento adota tecnologia biológica, há geração de um resíduo denominado lodo oleoso, que varia muito na sua composição e toxicidade, em função do processo produtivo. Os lodos oleosos de ETDI são compostos por material orgânico oriundo da atividade microbiana durante as operações de tratamento biológico dos efluentes, metais aderidos, compostos orgânicos, etc (ARAÚJO; NICOLAIEWSKY; FREIRE, 2006). De tempos em tempos, esse lodo pode ser despejado no sistema Lanfarming, para o tratamento, ou encaminhado, após a secagem, para aterros industriais. É importante salientar a presença de diversos metais nas borras oleosas. Esses metais são incorporados às borras através de diversos procesos, como por exemplo: aqueles contidos na água de produção, aqueles provenientes da erosão das partes metálicas das tubulações e equipamentos, da corrosão dos tanques de armazenamento, ou ainda aqueles associados aos produtos químicos utilizados no processo de refino, principalmente os catalizadores empregados nas unidades de craquelamento. Todos esses metais vão se acumulando nas borras tornando seu tratamento ainda mais difícil, uma vez que o uso de microrganismos não é capaz de remediar esse tipo de poluente (MAIT; MARCIA; ALEKSANDER, 2008; KRIIPSALU; MARQUES; MAASTIK, 2008). Portanto, a incorporação de borras em Landfarming gera solos multicontaminados com metais e hidrocarbonetos. Assim, o tratamento de solos multicontaminados compõe um desafio para as empresas do ramo, incrementando a problemática para remedição das áreas impactadas e também os custos associados. Neste contexto, alternativas de fitorremediação podem figurar como eficazes, promissoras e custo-efetivas para o tratamento MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15 de solos contaminados por compostos orgânicos e metais oriundos de operações de refino de petróleo, justificando esta pesquisa. 2.1.1.1.2 Alternativas Convencionais para o Tratamento de Borras Oleosas No Brasil, o modelo mais utilizado para disposição de borras oleosas pelas empresas do setor de petróleo e gás natural é o Coprocessamento em fornos de clinquerização. Essa rota de abatimento de resíduos está fundamentada no aproveitamento do potencial calorífico dos resíduos oleosos na economia de combustíveis usados para calcinação dos sólidos que irão compor o clinquer, um dos principais constituintes do cimento Portland (SANTOS, 2003). Assim, as borras oleosas são usadas como combustíveis alternativos em fornos de cimenteiras, sendo, portanto, uma rota para aproveitamento de resíduos. Entretanto, existem algumas limitações para o uso desse tipo de resíduo como combustível, particularmente no que diz respeito ao impacto atmosférico. Isso se deve a existência de uma diversidade de compostos tóxicos presentes nesse tipo de resíduo, como por exemplo, metais (sobretudo os mais voláteis) e hidrocarbonetos clorados. Além disso, esses resíduos apresentam baixo poder calorífico em comparação com os combustíveis convencionais. Outra tecnologia usada para o abatimento de borras oleosas é o sistema Landfarming (Figura 2.1), embora essa rota seja muito menos usada que o coprocessamento em fornos de clinquerização. Nessa tecnologia, o resíduo oleoso é incorporado ao solo, sob condições controladas, para promover a degradação e imobilização dos contaminantes perigosos nele presentes. Tipicamente o resíduo é aplicado à superfície de uma área e misturado com o solo por meio de equipamentos convencionais, como tratores equipados com arados e/ou grades (JORGENSEN; PUUSTINEN; SUORTTI, 2000). Entretanto, essa técnica tem sucesso relativo, já que não possibilita a remoção total dos compostos, especialmente os mais recalcitrantes e tóxicos (HUANG et al., 2004), o que decorre principalmente se os procedimentos não forem corretamente desenvolvidos e os parâmetros bem controlados. Além disso, o uso de microrganismos não é eficiente na remoção dos metais pesados presentes nas borras oleosas que são dispostas nesses sistemas. Diante MARTINS, C.D.C. dessas dificuldades, REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16 novas técnicas de tratamento e a destinação ambientalmente correta vêm sendo empregadas em substituição à técnica de Landfarming (FURTADO, 2003). Figura 2.1: Esquema do sistema Landfarming. Adaptado de FTRT (site 1) Existe ainda a rota da incineração (oxidação térmica em temperaturas acima de 800oC, de acordo com a NBR 11175 (ABNT, 1990) assim como a rota do plasma térmico também são aplicáveis, e não foram abordadas nessa Tese devido ao fato de apresentarem elevado custo, quando comparado ao coprocessamento em fornos de clinquerização e aos Landfarmings (SILVA et al., 2012). 2.2 O SOLO 2.2.1 Conceito e Propriedades O solo é um corpo natural, complexo e heterogêneo, constituído de materiais orgânicos e minerais, resultante de alterações na organização do material original (rocha, sedimento ou outro solo), por ação de diferentes fatores externos (material de origem, organismos, clima, relevo e tempo) e internos (adições, perdas, translocações e transformações) MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 (ANDRADE, 2001; OLIVEIRA, 2008). A Associação Brasileira de Normas Técnicas define solo como: Material proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não ter matéria orgânica. (ABNT - NBR 6502, 1995) Já o Manual Técnico de Pedologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística cita como melhor definição os levantamentos pedológicos de USDA (1984), a saber: Solo é a coletividade de indivíduos naturais, na superfície da terra, eventualmente modificado, ou mesmo, construído pelo homem, contendo matéria orgânica viva e servindo ou sendo capaz de servir à sustentação de plantas ao ar livre. Em sua parte superior, limita-se com o ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente, limita-se gradualmente com rocha consolidada ou parcialmente desintegrada, água profunda ou gelo. O limite inferior é talvez o mais difícil de definir. Mas, o que é reconhecido como solo deve excluir o material que mostre pouco efeito das interações de clima, organismos, material originário e relevo, através do tempo. (IBGE, 2007) O solo compõe um sistema trifásico (líquido, sólido e gasoso) e contem quantidades variáveis de minerais, matéria orgânica, água da zona não saturada e saturada, ar e organismos vivos, incluindo plantas, bactérias, fungos, protozoários, invertebrados e outros animais (Figura 2.2) (OLIVEIRA, 2008). Os microrganismos tem papel fundamental na gênese do solo. No início da formação do solo, devido ao déficit de carbono e nitrogênio, espécies fotossintéticas e fixadoras de nitrogênio como, por exemplo, as cianobactérias, são importantes colonizadores primários de rochas matrizes1. A seguir têm-se o desenvolvimento de microrganismos heterotróficos (fungos e bactérias), 1 A rocha matriz, ou rocha-mãe, representa a matéria-prima para a formação dos solos. A transformação da rocha matriz em solo irá ocorrer através dos processos de decomposição e desintegração dos elementos minerais presentes na rocha matriz. Os minerais formadores da rocha matriz irão determinar as características químicas e físicas, além da qualidade do solo formado (VIEIRA, 1975). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 capazes de solubilizar os elementos minerais do solo, como fósforo, cálcio e ferro, essenciais para o desenvolvimento da flora. Por conseguinte, desde que haja a disponibilidade de água, as plantas começam a crescer. Por sua vez, as plantas poderão a posteriori servir de alimento para outros seres vivos (RESENDE et al., 2014). Figura 2.2: Composição volumétrica média de um solo (Adaptado de RESENDE et al., 2014). Os fenômenos de adições, perdas, transformações e translocações ocorrem com intensidades distintas através do regolito2, dando origem aos horizontes. Os horizontes são camadas diferenciadas que se sucedem em profundidade, e cujo arranjo em vertical constitui-se no perfil do solo (ANDRADE, 2001). Em geral, um solo com o seu processo de formação concluído apresenta, ao menos, cinco diferentes horizontes (O, A, B, C e R). As camadas (horizontes) se apresentam paralelas à superfície, com a separação entre elas ocorrendo de forma gradativa. Por isso, as camadas se apresentam relativamente homogêneas, embora tenham regiões intermediárias, com características tanto da camada superior quanto da inferior. (DE LA ROSA; SOBRAL, 2008). As diferenças na distribuição dos horizontes permite 2 Camada de material intemperizado que recobre a superfície do planeta, também conhecido como Manto de alteração. É o termo usado pelos geólogos como sinônimo de solo em seu sentido amplo (BUTT; ZEEGERS, 1992). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19 determinar as culturas que melhor se adaptam àquele tipo de solo (RESENDE et al., 2014). Os horizontes distinguem-se pelas diferentes características de cor, textura, estrutura, pH, porosidade e permeabilidade, definidos como: Textura - representa a distribuição quantitativa das partículas minerais do solo quanto ao tamanho; Estrutura - consiste na forma como as partículas estão agregadas no solo; Porosidade - espaço que existe entre as partículas e que pode ser preenchido por ar ou água; Permeabilidade - consiste na capacidade que o solo tem de percolar água; pH - relaciona-se com a composição química do solo e reações químicas e bioquímicas que neles ocorrem. Dentre as propriedades físicas do solo, a característica textural é a que apresenta maior estabilidade, o que leva a ser considerada de grande importância na descrição, identificação e classificação do solo. As três frações texturais encontradas no solo - areia, silte e argila – se diferenciam quanto ao tamanho das partículas (Figura 2.3) e às proporções, o que permite a classificação do solo com base no Triângulo de Grupamento Textural (Figura 2.4). Na Tabela 2.1 está representado, o diagrama de textura adotado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, baseado no sistema de classificação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20 Figura 2.3: Diâmetro das partículas do solo. (Adaptado de RESENDE et al., 2014). Figura 2.4: Triângulo de Grupamento Textural (Fonte: RESENDE et al., 2014). Tabela 2.1: Diagrama de Textura adotado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (%) ARGILA SILTE < 0,002 0,002 – 0,05 Muito Grossa 0,05 – 0,1 Grossa 0,1 – 0,25 AREIA Média 0,25 – 0,5 Fina 0,5 – 1,0 Muito Fina 1,0 – 2,0 CASCALHO > 2,0 MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21 No solo, as frações silte (0,002 – 0,05 mm) e areia (0,05 – 2,0 mm), sob a ação do intemperismo3 transformam-se em argila, enquanto os minerais resistentes permanecem sob a forma de areia. De uma maneira geral, os solos mais novos são os que apresentam maior teor de silte (> 50%) e os mais velhos, comuns às paisagens brasileiras, tais como os Latossolos, apresentam um teor menor (< 20%) (ANDRADE, 2001). A fração silte pode ser um indicador do grau de intemperização de um solo ou do potencial dele de conter minerais primários facilmente intemperizáveis, ou seja, daqueles que tem condições de fornecer nutrientes (RESENDE et al., 2014). As propriedades das argilas são muitas e muito variadas; entre as principais se encontram as associadas com reações de adsorção, troca iônica, propriedades eletrocinéticas e eletroquímicas. As argilas apresentam importância nos solos por apresentarem cargas negativas e, em menor proporção positivas, que podem reter tanto cátions como ânions, dentre os quais se apresentam elementos nutrientes (Ca2+, Mg2+, K+, NH4+, PO43-, SO42-, etc). Ademais, devido as suas características de expansão e contração, as argilas influem nas características físicas do solo, como a porosidade (macro e micro), infiltração, permeabilidade, difusibilidade térmica, densidade, etc. Sendo assim, quanto maior o teor de argila no solo, maior a sua área específica e maior a intensidade de fenômenos como retenção de água, capacidade de troca, resistência à erosão e fixação de fósforo (ANDRADE, 2001). A fração argila é formada praticamente de argilominerais que são silicatos hidratados de alumínio (Al4[Si4O10](OH)8). Os argilominerais são formados basicamente por sílica (SiO2) e hidróxido de alumínio (Al2(OH)3) e apresentam estrutura lamelar. Os argilominerais mais comumente encontrados são: caulinita, esmectitas e ilita. 3 Dá-se o nome de intemperismo (também chamado de meteorização) ao conjunto de alterações físicas (desagregação) e químicas (decomposição) que as rochas sofrem quando ficam expostas na superfície da Terra. É um processo importante porque é o início de um processo maior que continua com a erosão e a deposição do material por ele formado, com a posterior diagênese, que leva à formação das rochas sedimentares. É a partir do intemperismo também que se forma o regolito, conjunto do material alterado, e, num estágio mais avançado, o solo, material superficial em avançado estado de alteração e lixiviação, associado à matéria orgânica, fundamental à prática agrícola e, portanto, à sobrevivência do ser humano (GUERINO, 2010). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22 A textura do solo é o principal fator de influência na percolação de água, sendo que a água percola melhor em solos arenosos do que em solos argilosos (RAO; MANNA, 2005). A textura afeta a permeabilidade e, portanto, a aeração e o armazenamento e circulação de água no solo (RAO; MANNA, 2005). Por exemplo, a retenção de água é maior em solos argilosos em comparação com os solos arenosos, especialmente se a argila está compactada. Adicionalmente, quando os solos se apresentam encharcados, são reduzidas as disponibilidades de oxigênio e nutrientes nos espaços vazios (poros) entre as partículas do solo, resultando em redução da atividade da microbiota autóctone e mortandade das plantas, pelo déficit de nutrientes e, sobretudo, pelo apodrecimento das raízes. 2.2.2 Fontes de Poluição do Solo O tema poluição do solo tem despertado interesse de especialistas e autoridades. São importantes, não apenas, os aspectos ambientais e de saúde pública, como também e, principalmente, a ocorrência de episódios críticos de poluição de âmbito mundial, tais como a questão das áreas contaminadas (GÜNTHER, 2005). Segundo BRASIL (1981), o termo poluição é definido como toda alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas que possa constituir prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações e, ainda, possa comprometer a biota e a utilização dos recursos para fins comerciais, industriais e recreativos. Desta forma, a poluição do solo significa a presença significativa de algum elemento ou substância que podem afetar componentes bióticos do ecossistema, comprometendo sua funcionalidade e sustentabilidade. Assim, a poluição do solo está ligada à concentração, ou quantidade de resíduos, incorporados acidentalmente ou intencionalmente (OLIVEIRA et al., 2006). De acordo com a legislação ambiental, para o controle dessa poluição, certos padrões e indicadores de qualidade do solo (taxa de erosão etc.) devem ser respeitados num determinado ambiente (BRAGA et al., 2002). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 23 Conseqüentemente, a introdução de contaminantes no solo pode resultar na perda de algumas, ou várias, de suas funções e ainda provocar contaminação de água subterrânea. A ocorrência de contaminantes no solo, originados por várias fontes, acima de certos níveis, provoca múltiplas conseqüências negativas para a cadeia alimentar, para a saúde pública e para os diversos ecossistemas e recursos naturais (RODRIGUES; DUARTE, 2003). Embora a poluição do solo, geralmente, não seja tão visível ou imediatamente perceptível, seus efeitos podem ser muito nocivos, uma vez que o solo é um compartimento ambiental que não se renova rapidamente, ao contrário do ar e da água (DIAS, 2000). As complexas reações químicas que acontecem no solo são realizadas pela presença de milhares de espécies de microrganismos, como bactérias, fungos e algas, entre outros. A grande maioria destes organismos vive no primeiro horizonte do solo, até uma profundidade de cerca de 40 cm. É dessa estreita camada que os vegetais retiram nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, garantindo alimento para os animais que habitam sobre ela. Entretanto, esta é a primeira a ser atingida pelos compostos tóxicos. Desta forma, quando estas substâncias são descartadas, os organismos morrem, comprometendo diretamente todo o sistema de respiração do solo (DIAS, 2000). As fontes de poluição do solo podem ter origem natural ou artificial (antrópica). Como fontes de origem natural podem se destacar as atividades vulcânicas, as erosões e os desastres naturais, como terremotos e maremotos. Já as fontes de poluição artificial ou antrópica estão relacionadas ao lançamento de efluentes líquidos e resíduos sólidos, às atividades agropecuárias, de mineração e também ao processo de urbanização acelerada, ocasionando a ocupação inadequada do solo e provocando sua contaminação (ABIKO; MORAES, 2009). Na Figura 2.5 estão representadas as contaminação do solo que podem ocorrer no ambiente. principais formas de MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24 Figura 2.5: Esquema das principais formas de contaminação do solo (Fonte: CETESB, 2006). Um relatório emitido pelo Órgão Ambiental de São Paulo, CETESB, apontou as principais atividades responsáveis pela contaminação do solo nesse Estado (Figura 2.6). Depois dos postos de combustível, a atividade industrial, que inclui o parque de refino, é a maior fonte de poluição dos solos em São Paulo, sendo responsável por 279 dos 1821 sítios contaminados catalogados pela CETESB (2006). Dessa forma, fica clara a relevância dos eventos de contaminação por resíduos oleosos. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 25 Figura 2.6: Principais fontes de contaminação da zona urbana do Estado de São Paulo. Fonte: CETESB (2006). 2.2.3 Contaminação do Solo por Resíduos Oleosos O solo, por ser um sistema complexo, multi-fásico propicia comportamentos distintos dos resíduos oleosos ao longo do seu perfil. Um solo contaminado com resíduos oleosos apresenta um perfil que pode ser dividido em três zonas distintas, em função da saturação de água (Figura 2.7), conforme descrito por Baptista (2007): Zona Vadosa ou Insaturada - camada mais próxima da superfície do solo; Zona Saturada – camada que se encontra a uma profundidade onde todos os vazios no solo e nas rochas estão preenchidos com água; Zona Capilar ou Franja Capilar - camada de transição entre a zona insaturada e a zona saturada. À medida que os constituintes dos resíduos oleosos percorrem o perfil do solo, parte deste é volatilizado, formando uma fase vapor, ficando os hidrocarbonetos voláteis confinados nos poros e/ou nos interstícios do solo. A perda de frações leves de hidrocarbonetos por volatilização altera a viscosidade e a densidade do óleo residual, o que pode levar a interações dos hidrocarbonetos com a matriz do solo, impedindo a mobilidade do transporte do MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26 óleo pelo meio poroso (FINE; GRABER; YARON, 1997). A outra parte do óleo pode ficar dissolvida na solução do solo. Figura 2.7: Representação esquemática de três zonas de saturação e do comportamento do óleo no solo em caso de acidente durante o transporte de petróleo ou derivados [LNAPL- fase de hidrocarbonetos menos densa que a água; DNPL- fase de hidrocarbonetos mais densa que a água]. (Fonte: Adaptado de Baptista (2007)). O grau e a taxa de sorção dos compostos orgânicos no solo está relacionado ao teor de matéria orgânica (ORTEGA-CALVO; LAHLOU; SAIZJIMENEZ, 1997) e a hidrofobicidade dos componentes dos resíduos oleosos (FINE; GRABER; YARON, 1997). Na zona insaturada, o óleo presente na solução do solo é transportado, seguindo geralmente duas direções: para cima (pela evaporação na interface solo-atmosfera e pela transpiração devido à liberação de vapor d’água pela vegetação) e para baixo (pela infiltração e percolação a partir da zona de raízes das plantas) (BAPTISTA, 2007). A fração oleosa livre no solo pode continuar a sua trajetória, mas devido a sua baixa solubilidade forma uma fase líquida não aquosa (NAPL) que atua como fonte contínua de contaminação. O aumento do teor de umidade no MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 27 solo pode diminuir tanto o transporte da fase vapor como a retenção da fração de óleo residual (confinado nos poros ou sorvido nas partículas do solo), resultando no aumento do transporte da NAPL (FINE; GRABER; YARON, 1997). Segundo Dragun (1998), a NAPL pode formar temporariamente “piscinas” na superfície do solo quando este apresenta elevado teor de argila e baixa permeabilidade. Em contrapartida, em solos arenosos a infiltração da NAPL pode ser mais rápida. A NAPL pode ser dividida em: uma fase mais densa que a água (Dense Non-Aqueous Phase Liquid, DNAPL), tendendo a se depositar no fundo da mesa d’água, e uma fase menos densa (Light Non-Aqueous Phase Liquid ( LNAPL) que se mantém sobre o nível d’água (Figura 2.7). Portanto, a remediação de ambientes contaminados com DNAPL é geralmente mais difícil do que a de locais contaminados com LNAPL. Na zona saturada, a entrada de DNAPL nos poros preenchidos com água requer a superação de uma pressão de entrada resultante da tensão interfacial entre a DNAPL e a água. A pressão de entrada requerida aumenta com a diminuição do tamanho da partícula do solo. A descida do fluxo de DNAPL pode ser interrompida toda vez que uma camada com partículas mais finas é encontrada, tendendo a fluir lateralmente, e acumulando-se até que haja uma camada espessa de DNAPL que possa vencer a pressão de entrada. Sendo assim, variações na granulometria do solo podem produzir significante alteração no comportamento de uma pluma de DNAPL (BAPTISTA, 2007). 2.2.4 Contaminação do Solo por Metais O termo “metal pesado” nunca foi definido pela IUPAC. Quimicamente, o termo “pesado” implica elevada densidade e o termo “metal” se refere a um elemento puro ou uma liga de elementos metálicos. De acordo com a literatura, a definição mais antiga classifica como sendo “pesado” todo metal com densidade superior a 7 g cm-3. Ao longo dos anos, as classificações de um elemento como sendo metal pesado com base na massa específica têm variado entre os diversos autores, e valores entre 3,5 e 6 g cm -3 têm sido MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 propostos como valor acima do qual um metal pode ser considerado como metal pesado (VAREJÃO, 2008). De acordo com Hassan, Hijri e St-Arnaud (2013) as atividades de mineração e a prática de agricultura extensiva são as principais fontes de poluição ambiental por metais. A poluição do solo por metais é um dos problemas ambientais mais importantes no mundo. De fato, os metais possuem uma alta toxicidade para humanos, animais, microrganismos e plantas (DOUMETT, et al., 2008). Adicionalmente, os metais possuem baixa solubilidade e muitos deles são classificados como carcinogênicos e mutagênicos (TURGUT; PEPE; CUTRIGHT, 2004). Além disso, diferentemente dos contaminantes orgânicos, os metais não são biodegradáveis e tendem a se acumular nos ecossistemas, chegando ao topo da cadeia alimentar e consequentemente aos humanos (BHARTI; BANERJEE, 2012). Por exemplo, o cromo e o cádmio, se presentes nos alimentos podem causar disfunção renal, alterações crônicas no sistema nervoso e ainda alterações gástricas (LOFTY; MOSTAFA, 2014). Entretanto, a poluição por metais depende da quantidade e do tipo de metal. O cobre, ferro, manganês, zinco e níquel são microelementos e por isso essenciais, entretanto em uma dose alta podem ser considerados tóxicos. Outros elementos como, cádmio, cromo, chumbo, urânio e tório são transportados para o interior dos tecidos vegetais, mas não possuem função conhecida (KÖTSCHAU et al., 2014). Outros metais considerados nãoessenciais são o mercúrio, antimônio e arsênio (GOSH; SINGH, 2005). É importante lembrar que além da quantidade, outros fatores influenciam a toxicidade dos metais nos ambientes, entre eles, a solubilidade é de grande importância, pois altera a disponibilidade dos metais. Ademais, a solubilidade dos metais no solo e na água subterrânea é predominantemente controlada pelo pH, quantidade de metais, capacidade de troca catiônica, concentração de matéria orgânica, estado de oxidação dos minérios e pelo potencial redox do ambiente (HENRY, 2000; BAKER; WALKER, 1990; McNEIL; WARING, 1992; ELLIOT; LIBERALI; HUANG, 1986; CONNELL; MILLER, 1984; MARTINEZ; MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29 MOTTO, 2000). Os metais pesados estão presentes no solo sob diversas formas (ou espécimes) geoquímicas. Dessa forma, os metais podem estar: solúveis, trocáveis, precipitados, adsorvidos especificamente, retidos em material orgânico insolúvel ou oclusos em óxidos (VELASCO-MOLINA, 2004). Sendo assim, a distribuição dos metais pesados no solo nas suas diferentes formas tem uma grande importância, já que a disponibilidade e a toxicidade desses elementos dependem das formas em que são encontrados no solo (VELASCO-MOLINA, 2004). Dentre as tecnologias disponíveis para o tratamento de solos contaminados por metais destacam-se: a separação electrocinética, a lavagem do solo, a solidificação/estabilização, a extração química (ácida), a separação (física e magnética), a incineração e a fitorremediação (TAVARES, 2013). 2.3 A FITORREMEDIAÇÃO 2.3.1 Aspectos Gerais A teoria mais aceita atualmente, em relação à história dos vegetais superiores na Terra, relata que a evolução desses seres iniciou-se na era Paleozóica, há mais de 400 milhões de anos, quando os organismos unicelulares se organizaram em colônias e evoluíram para organismos pluricelulares com tecidos diferenciados e funções especializadas (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). Os vegetais vêm desde então colonizando os mais diversos ambientes e se adaptando às mais diversas condições de vida na Terra. Essa capacidade de adaptação é tão eficiente que poucos lugares do planeta são completamente desprovidos de sua presença. Durante sua adaptação ao novo ambiente, cada população, espécie e indivíduo incorporaram uma compleição fenogenotípica própria, denominada forma adaptativa, que é o conjunto formado pelas estruturas adaptativas e pela sua estabilidade genética (O’BRIEN; O’BRIEN, 1995). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 30 O potencial genotípico, aliado às interações simbióticas com diversos tipos de organismos, permite que determinadas plantas colonizem solos cujas características químicas restringem a presença de outras espécies. Isso ocorre em solos salinos, ácidos, calcáreos, pobres em nutrientes, ou excessivamente ricos em elementos como metais tóxicos e diversas outras substâncias químicas presentes na matéria orgânica em decomposição (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). A colonização vegetal de solos poluídos pode auxiliar na melhoria de suas características físicas e químicas. Essa melhoria na qualidade ambiental não acontece única e exclusivamente pela presença do vegetal, mas também é devida a várias interações bióticas e abióticas presentes no local, que ocorrem através de diversos mecanismos. No entanto, o processo de descontaminação só é denominado fitorremediação nos casos em que as plantas representam o principal mecanismo da biorremediação ou quando são essenciais para desencadear o processo (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). A real origem e aplicação da fitorremediação ainda são controversas, uma vez que a prática se desenvolveu em períodos diferenciados em diferentes partes do mundo. Existem relatos do uso de plantas no tratamento de esgoto na Alemanha, há mais de 300 anos (HARTMAN, 1975). Entretanto, o primeiro relato completo sobre a capacidade das plantas terrestres de acumular metais data de meados de século XIX, quando foi publicada a obra de Bary et al. (1866) intitulada Handbuch der Physiologischen Botanik. Essa obra inclui dados analíticos sobre o conteúdo de Zn em Thalis alpestre var. calaminare, Viola calaminaria, Armenia vulgaris e Silene inflata, retiradas de um sítio rico em calamina (silicato básico de zinco), próximo a Aachen, na Alemanha. Contudo, o uso do termo phytoremediation é muito mais recente, tendo sido cunhado no ano de 1991, para definir o uso de vegetais, e dos microrganismos a eles associados, como instrumento para contenção, isolamento, remoção ou redução das concentrações de poluentes em meio sólido líquido ou gasoso (EPA, 2000). E, embora não seja nova a ideia de que vegetais podem atuar remediando ambientes, somente a partir da década de 80 essa área de estudo MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 31 passou a tomar força em inúmeras instituições públicas e privadas (BARROS, 2007). A fitorremediação tem sido estudada e seu uso difundido principalmente nos Estados Unidos e em vários países da Europa. De acordo com Accioly e Siqueira (2000), as projeções anuais são de que nos Estados Unidos os gastos com fitorremediação, até 2005, seriam de 100-200 milhões de dólares. Nos últimos 10 anos, surgiram nos EUA e Europa inúmeras companhias que exploram a fitorremediação para fins lucrativos, como a norte-americana Phytotech e a alemã BioPlanta, e indústrias multinacionais, como Union Carbide, Monsanto e Rhone-Poulanc, que empregam fitorremediação em seus próprios sítios contaminados (GLASS, 1998). Diferente de algumas outras tecnologias consideradas convencionais, a fitorremediação apresenta grande versatilidade, podendo ser aplicada para tratar meio aquoso, ar ou solo (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). A fitorremediação pode ser classificada de acordo com a técnica a ser empregada, o que está intimamente relacionado ao mecanismo envolvido que varia de acordo com a matriz a ser descontaminada, com o tipo de contaminante e também com as características fisiológicas do vegetal escolhido (CUNNINGHAM et al., 1996). 2.3.2 Mecanismos Envolvidos na Fitorremediação Os vegetais podem biorremediar os sítios contaminados através de mecanismos diretos ou indiretos. Vários autores descrevem esses processos de forma semelhante, porém com detalhamentos um pouco diferentes. Para tanto, a classificação é feita usando critérios como: tipo de contaminante; matriz a ser tratada e; peculiaridades de cada sistema vegetal (CUNNINGHAN et al., 1996; SUSARLA; MEDINA; MCCUTCHEON, 2002; DINARDI et al., 2003; MERCKEL; SCHULTZE-KRAFT; INFANTE, 2006). De acordo com Reddi e Inyang (2000), entre os mecanismos diretos destacam-se a fitoextração, fitodegradação, rizodegradação e fitovolatilização. Já os mecanismos indiretos incluem a fitoestabilização, fitoestimulação e rizofiltração (Tabela 2.2). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32 Tabela 2.2: Mecanismos envolvidos na fitorremediação Atmosfera Natureza do Contaminante Orgânica Inorgânica 1. Fitovolatilização 1. Fitovolatilização Parte aérea dos vegetais 2. Fitodegradação 3. Fitoextração Destino final dos contaminantes 3. Fitoextração 4. Rizofiltração Rizosfera 4. Rizofiltração 5. Rizodegradação 6. Fitoestimulação 7. Fitoestabilização Fonte: adaptado de Reddi e Inyang (2000). 2.3.2.1 Fitovolatilização Na fitovolatilização, alguns íons de elementos dos subgrupos II, V e VI da Tabela periódica, mais especificamente, mercúrio, selênio e arsênio, são absorvidos pelas raízes, convertidos em formas não tóxicas e depois liberados na atmosfera. Este mecanismo é empregado também para compostos orgânicos (BROOKS, 1998). A Figura 2.8 representa esquematicamente a fitovolatilização. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 33 Figura 2.8: Esquema da fitovolatilização de poluentes (adaptado de Brooks, 1998). TCE: tricloroetileno; PCE: policloroetileno. 2.3.2.2 Fitodegradação Na fitodegradação, também conhecida como fitotransformação, os contaminantes orgânicos são degradados ou mineralizados dentro das células vegetais por enzimas específicas. Entre essas enzimas destacam-se as nitroredutases (degradação de nitroaromáticos), desalogenases (degradação de solventes clorados e pesticidas) e lacases (degradação de anilinas). Populus sp. e Myriophyllium spicatum são exemplos de plantas que possuem tais sistemas enzimáticos (CUNNINGHAM et al., 1996). A Figura 2.9 representa a fitodegradação de um composto nitroaromático. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 34 Figura 2.9: Fitodegradação de composto nitroaromático. 2.3.2.3 Fitoextração A fitoextração é o processo de fitorremediação que envolve a absorção dos contaminantes pelas raízes, os quais são nelas armazenados ou são transportados e acumulados nas partes aéreas (REDDI; INYANG, 2000). A Figura 2.10 representa a fitoextração de metais que são acumulados na parte aérea do vegetal que por sua vez é utilizada para recuperação desses metais. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 35 Figura 2.10: Mecanismo de fitoextração de metais (adaptado de Reddi e Inyang, 2000). 2.3.2.4 Rizofiltração É a técnica que emprega plantas terrestres para absorver, concentrar e/ou precipitar os contaminantes de um meio aquoso, particularmente metais pesados ou elementos radiativos, através do seu sistema radicular. As plantas são mantidas em um reator com sistema de hidroponia, através do qual os efluentes passam e são absorvidos pelas raízes, que concentram os contaminantes. Plantas com grande biomassa radicular (hiperacumuladores aquáticos) são as mais satisfatórias, como Helianthus annuus e Brassica juncea, as quais provaram ter potencial para esta tecnologia (GLASS, 1998). A Figura 2.11 apresenta um sistema de rizofiltração que utiliza macrófitas submersas. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 36 Figura 2.11: Sistema de rizofiltração baseado em macrófitas submersas (fonte: GLASS, 2000). 2.3.2.5 Rizodegradação A rizodegradação é um processo semelhante a fitodegradação ocorrendo porém, na rizosfera. Na parte externa das raízes, compostos orgânicos são decompostos por microrganismos que são estimulados pela liberação de exsudatos (matéria orgânica solúvel e nutrientes) e enzimas das células das raízes (REDDI; INYANG, 2000; SUSARLA, 2002). A Figura 2.12 esquematiza o mecanismo de rizodegradação. Figura 2.12: Esquema do mecanismo de rizodegradação. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 37 2.3.2.6 Fitoestimulação Na fitoestimulação, as raízes em crescimento (extremidades e ramificações laterais) promovem a proliferação de microrganismos degradativos na rizosfera, que usam os metabólitos exudados da planta como fonte de carbono e energia. A aplicação da fitoestimulação limita-se aos contaminantes orgânicos. A comunidade microbiana na rizosfera é heterogênea devido à distribuição espacial variável dos nutrientes nesta zona, porém as bactérias do gênero Pseudomonas são os organismos predominantes associados às raízes (BROOKS, 1998). A Figura 2.13 apresenta o mecanismo de fitoestimulção. Diferentemente da rizodegradação, na fitoestimulção não há participação de enzimas vegetais. Figura 2.13: Mecanismo de fitoestimulção de compostos orgânicos que acontece na rizosfera. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 38 2.3.2.7 Fitoestabilização Na fitoestabilização os contaminantes orgânicos ou inorgânicos são incorporados à lignina da parede vegetal ou ao húmus do solo, precipitando os metais sob formas insolúveis, sendo posteriormente aprisionados na matriz do solo. Tem o propósito de evitar a mobilização do contaminante e limitar sua difusão no solo, através de uma cobertura vegetal (CUNNINGHAM et al., 1996). Exemplos de plantas cultivadas com este fim são as espécies de Haumaniastrum, Eragrostis, Ascolepis, Gladiolus e Alyssum (DINARDI et al., 2003). A Figura 2.14 apresenta o mecanismo de fitoestabilização de arsênio. Figura 2.14: Mecanismo de fitoesbilização de arsênio (adaptado de DINARDI et al., 2003). MARTINS, C.D.C. 2.3.3 Parâmetros REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 39 Relevantes para a Fitorremediação de Solos Contaminados Antes da implantação de qualquer técnica de remediação é importante que se estabeleça o objetivo da técnica, que varia de acordo com o tipo de atividade realizada na área contaminada, os riscos atribuídos à exposição para seres humanos e os riscos ao meio ambiente (EPA, 2000). Segundo Providenti, Lee e Trevors (1993), uma vez estabelecidos os objetivos da técnica, é fundamental que se conheçam as características climáticas do local contaminado, as características do solo, assim como a natureza e distribuição dos contaminantes. 2.3.3.1 Tipo dos Contaminantes Nas últimas décadas, a fitorremediação foi investigada como um meio para remoção de poluentes orgânicos e inorgânicos perigosos, onde estão inclusos: metais pesados (MORIKAWA; ERKIN, 2003; KAUTSKY; GREGER, 2005; ROMEIRO, 2005; PEREIRA, 2005; LOFTY; MOSTAFA, 2014) solventes clorados (WALTON; ANDERSON, 1990; HABY; CROWLEY, 1996; BRAECKEVELT et al., 2011), pesticidas (HOAGLAND; ZABLOTOWICZ; LOCKE, 1997), hidrocarbonetos policíclicos aromáticos representados pela sigla HPAs (APRIL; SIMS, 1990; REILLEY; BANKS; SCHWAB, 1996, RIBEIRO, 2009; SUN et al., 2011; LIU et al., 2014; WANG et al., 2014), bifenilas policloradas (BRAZIL et al., 1995; FLETCHER, DONNELY; HEDGE, 1995), munição e explosivos (SCHNOOR et al., 1995; AKEN, 2008) e radionuclídeos (ENTRY et al., 1997). Entretanto, muitos sítios apresentam contaminação por mais de um tipo de substância, o que exige das plantas maior versatilidade, devido à interação entre os espécimes. Alguns poucos ensaios vêm sendo desenvolvidos em matrizes contaminadas simultaneamente por poluentes orgânicos e inorgânicos (SUN et al., 2011; HUANG et al., 2011). Por exemplo, o trabalho de Zhang e Liu (2011) no qual Mendicago sativa engenheirada geneticamente foi utilizada para testes de fitorremediação de solo co-contaminado artificialmente por tricloroetileno e cádmio. Trabalho publicado por Sun et al. (2011) destaca o uso de Tagetes patula, uma planta ornamental, na fitorremediação de solo co-contaminado por benzo(a)pireno e MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 40 os seguintes metais: cádmio, cobre e chumbo. Um detalhamento de processos de fitorremediação para alguns contaminantes será apresentado adiante. 2.3.3.1.1 Fitorremediação de ambientes poluídos com compostos inorgânicos Os poluentes inorgânicos que podem ser eliminados ou reduzidos através de fitorremediação incluem: ânions, como nitratos e fosfatos (macronutrientes vegetais); e cátions como Cr, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn (micronutrientes vegetais), As, Cd, Co, F, Hg, Se, Pb, V e W (elementos não essenciais à vida); isótopos radioativos como 238 U, 137 Cs e 90 Sr (PILON-SMITS et al., 1999). De acordo com esses autores, a fitorremediação pode também ocasionar a redução da salinidade do solo. Segundo Marschner (1995), a absorção de elementos químicos pelas raízes das plantas é governada, principalmente, por meio do transporte de íons pela membrana plasmática e, também, pela retenção na parede celular das células do córtex. Por sua vez, o transporte de íons e de outros solutos, através da membrana, é maior quanto menor forem o raio hidratado e a valência do íon. Esses fenômenos auxiliam o entendimento das características das absorções seletivas, acumulativa e genotípica. Ainda segundo o autor, o processo de absorção é influenciado por vários fatores, como o valor do pH, a concentração dos íons e a competição entre íons com propriedades físicoquímicas semelhantes. Da mesma forma, a translocação de cátions nos vasos do xilema4 é afetada pela concentração e valência do cátion, assim como pela presença de outros íons e de agentes complexantes. A distribuição diferenciada dos metais pesados no tecido vegetal contempla alguns dos principais mecanismos de tolerância, mas, ainda assim, é dependente de características do meio e da forma do metal. Entretanto, a absorção normalmente decresce na ordem: Cd > Zn > Cu > Pb; sendo Cd o 4 Tecido das plantas vasculares por onde circula a água com sais minerais dissolvidos - a seiva bruta - desde a raiz até às folhas (OLVEIRA, 2003). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 41 metal que, geralmente, se apresenta mais biodisponível e se transloca mais facilmente na planta (RIBEIRO-FILHO et al., 1999). Compostos orgânicos liberados pelas raízes, principalmente aqueles provenientes da descamação das células (CARDOSO; FREITAS, 1992), são fonte de energia para muitos microrganismos que podem influenciar na solubilização dos metais. A liberação de exudatos também pode aumentar a solubilidade de várias formas de metais, pois esses podem conter ácidos como acético, cítrico, fumárico e succínico (BERTON, 2000). Por outro lado, as raízes podem liberar os chamados fitossideróforos, que complexam fortemente com metais como Fe, Cd, Cu e Zn (MENCH; MARTIN, 1991). Somado a tudo isso, existem ainda os microrganismos presentes no solo (nativos ou introduzidos) que não estão na rizosfera, mas podem influenciar as demais interações ambientais (ERNEST, 1996). 2.3.3.1.2 Fitorremediação de ambientes contaminados com compostos orgânicos De uma forma geral, é mais difícil trabalhar com contaminantes orgânicos, em razão da diversidade molecular, da complexidade de análise e das constantes transformações a que estão sujeitos. Os metais pesados são mais facilmente quantificados e raramente formam metabólitos intermediários no solo, como ocorre na biodegradação dos contaminantes orgânicos (CUNNINGHAM et al., 1996). Assim, pesquisas com compostos orgânicos contaminantes de solo exigem técnicas especializadas e de custo elevado, envolvendo o uso de elementos marcados e sofisticada instrumentação analítica. Todavia, vários trabalhos têm comprovado a fitorremediação de diversos compostos orgânicos, sendo os mais comuns: hidrocarbonetos derivados de petróleo (atrazina, bentazona, compostos organoclorados e nitroaromáticos), explosivos (TNT, DNT), solventes clorados (TCE, PCE) e resíduos orgânicos industriais (PCPs, HPAs), entre outros (CUNNINGHAM et al., 1996; RIBEIRO, 2009). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 42 A utilização da fitorremediação é baseada na seletividade, natural ou desenvolvida, que algumas espécies exibem a determinados tipos de compostos ou mecanismos de ação. Esse fato é de ocorrência comum em espécies agrícolas e daninhas, tolerantes a certos herbicidas. A seletividade deve-se ao fato de que os compostos orgânicos podem ser translocados para outros tecidos da planta e subseqüentemente volatilizados; podem ainda sofrer parcial ou completa degradação ou serem transformados em compostos menos tóxicos, especialmente menos fitotóxicos, combinados e/ou ligados a tecidos das plantas (ACCIOLY; SIQUEIRA, 2000; SCRAMIN; SKORUPA; MELO, 2001). E ainda, a maioria dos compostos orgânicos parece sofrer algum grau de transformação nas células das plantas antes de serem isolados em vacúolos ou ligarem-se a moléculas insolúveis, como a lignina (SALT et al., 1995). 2.3.3.2 Condições Climáticas do Sítio Contaminado Os efeitos do clima na eficiência dos sistemas de fitorremediação não podem ser mensurados com segurança, uma vez que são altamente interrelacionados e de difícil controle. Devido ao fato da luminosidade, intensidade de chuvas, temperatura, entre outros, serem fatores inerentes ao clima e influenciarem sobremaneira o desenvolvimento vegetal, os fatores climáticos afetam diretamente a fitorremediação. Portanto, antes da implantação da técnica de fitorremediação é importante levar em consideração esses fatores, principalmente, durante as etapas de elaboração do projeto (MONTEIRO, 2008). No Brasil, pode-se considerar que os fatores climáticos atuam a favor dos mecanismos envolvidos na fitorremediação. A extração, a volatilização e a degradação estão intrinsicamente relacionadas, entre outros fatores, ao teor de umidade do solo, à temperatura e à luminosidade. A disponibilidade de água no solo associada à temperatura elevada ocasionam o aumento da evapotranspiração5 e, com isso, uma maior quantidade de contaminante pode ser extraída do solo pela absorção de água seguindo o fluxo transpiracional. Da 5 Perda de água do solo por evaporação e a perda de água da planta por transpiração (OLVEIRA, 2003). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 43 mesma maneira, a maior absorção de água permite a entrada de elementos essenciais à nutrição vegetal, responsável pelo bom desenvolvimento da planta. Isso, além de facilitar o crescimento da planta, propicia uma maior produção de biomassa através do processo da fotossíntese que, por sua vez, sofre a influência direta da luminosidade, que é maior nos trópicos (MONTEITH, 1972). O mecanismo de degradação é, então, favorecido pelo aporte de substrato orgânico proveniente da biomassa produzida, como também pela temperatura mais elevada na zona tropical. Abaixo são descritos os fatores climáticos relevantes à adoção da técnica de fitorremediação com seus respectivos efeitos no crescimento vegetal (EPA, 2000): Precipitação - a quantidade de chuva determina o tempo de preparação do solo, tempo de plantio e necessidade de irrigação, visando atender a demanda hídrica da espécie; Temperatura – a média extrema e flutuações da temperatura afetam o crescimento das plantas; Luminosidade – a quantidade de luz solar afeta diretamente o crescimento das plantas, a temperatura do ar e a evapotranspiração; Sombreamento – a extensão sombreada da área pode afetar o crescimento das plantas; Comprimento da estação de crescimento – os processos de fitorremediação são mais ativos durante as estações de crescimento e estas devem ser consideradas na predição do período de remediação; Ventos – afetam a evapotranspiração, causam danos às plantas e dispersão de voláteis e fragmentos; Localização – padrões de tempo local e regional afetam os fatores descritos acima. 2.3.3.3 Fertilidade do Solo Outro importante fator que deve ser observado é a presença de nutrientes, ou fertilidade do solo. A fertilidade do solo pode ser definida como o estudo da capacidade dos solos em suprir nutrientes às plantas. Os nutrientes MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 44 presentes no solo podem ser classificados segundo sua necessidade essencial para os microrganismos e as plantas em (MANAHAN, 1994): Macronutrientes: são os nutrientes requeridos em grande quantidade (carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio, fósforo e enxofre); Micronutrientes: são aqueles requeridos em menor quantidade e que quando empregados em alto teor são freqüentemente tóxicos (ferro, manganês, zinco, cobre, molibdênio, cloro e boro). Muitos autores investigaram a importância da fertilização em ensaios de fitorremediação, tanto em solos contaminados por poluentes orgânicos (MURATOVA et al., 2012; KOBAYASHI et al., 2009) quanto por metais (LIN et al., 2009; CHANG et al., 2013; GUPTA et al., 2014). Entretanto, os estudos referentes ao papel da fertilização na fitorremediação de metais são mais abundantes. Segundo Tu et al. (1997) a interação entre metais pesados e nutrientes nas plantas é complexa e pode levar a efeitos sinérgicos ou antagônicos. A adição de fertilizante orgânico pode reduzir, significativamente, a mobilidade de metais (MADEJON, et al., 2003), mas aumentar a quantidade dos mesmos acumulada nos tecidos vegetais devido a sua maior produção de biomassa (YANG et al., 2006). O efeito da adição de fosfato em ensaios de fitorremediação de metais foi amplamente descrita, conforme revisão de Gupta et al. (2014). Em ensaios de fitorremediação pela planta Pteris vittata L., Caoa, Ma e Shiralipourb (2003) observaram que a remoção de As, com a adição de fosfato, aumentou 265% em relação aos ensaios sem fertilização. Huang et al. (2012; 2013) avaliaram a fitorremediação de Zn e Cd por Sedum alfredii e observaram importantes incrementos no acúmulo de Zn nas folhas e também na produção de biomassa, nos ensaios em que foi feita a fertilização por fosfato. A adição de fertilizante nitrogenado aumentou a remoção de Cd entre 6 e 14% em estudo realizado com plantas de tabaco (WANGSTRAND, 2005). O efeito da fertilização nitrogenada na fitorremediação de Cd também foi estudado por Chang et al. (2013). Os autores testaram diferentes quantidades MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 45 de N (0, 8, 16, 24 e 32 mM) e observaram que após 30 dias de ensaio, as plantas da espécie Panteas lanceolata cultivadas nos vasos contendo a maior concentração de N, também apresentaram a maior concentração de Cd em suas biomassas (622,9 mg/kg planta). Em relação ao uso de fertilizante para a remoção de contaminantes orgânicos, pode-se destacar o trabalho de Muratova et al. (2012). Nele, os autores observaram o efeito da fertilização nitrogenada na fitorremediação de solo contaminado por óleo diesel com o emprego de diferentes plantas. Após 70 dias, os autores observaram que nos ensaios sem fertilizante, a remoção de hidrocarbonetos variou entre 32 e 55%, enquanto os ensaios com adição de fertilizante, os percentuais variaram entre 75 e 94%. Já o trabalho de Kobayashi et al. (2009) avaliou a fitorremediação de pireno em solo enriquecido com diferentes combinações de fertilizante inorgânico (NPK) e orgânico (compostagem) por dois cultivares da planta da espécie Cucurbita pepo (ssp. pepo cv. Raven e ssp. texana cv. Sunray). Após 90 dias de ensaio, a concentração de pireno diminuiu entre 46 e 65%, nos diferentes experimentos, entretanto não houve diferença estatística entre os ensaios realizados com as diferentes combinações dos fertilizantes empregadas. 2.3.4 Relação Custo X Benefício da Utilização da Fitorremediação A viabilidade econômica da fitorremediação já foi confirmada em vários estudos (SCHNOOR, 1995; GELLER, 1999; FIORENZA; OUBRE; WARD, 2000; LEWANDOWSKI et al., 2006). A comparação entre as técnicas existentes comprova que mesmo havendo custos com monitoramento e práticas agrícolas necessárias à implantação, a fitorremediação é uma metodologia barata. Embora o custo esteja relacionado à natureza e concentração do contaminante e tipo de matriz contaminada, a fitorremediação possivelmente permite maiores estratégias de manejo, podendo minimizar os custos e promovendo maiores benefícios. As tecnologias in situ em geral são mais baratas por não haver a necessidade de remoção da matriz contaminada, diminuindo os custos com a própria remoção e transporte (MONTEIRO, 2008). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 46 Cunninghan et al. (1995) compararam custos entre a biorremediação microbiana in situ e a fitorremediação de hidrocarbonetos de petróleo, considerando 15 cm de profundidade por hectare. Os gastos estimados variaram de US$ 7.500,00 a US$ 20.000,00 e de US$ 2.500,00 a US$ 15.000,00 para a biorremediação e fitorremediação, respectivamente. Um estudo sobre os custos do tratamento de uma área de 12 acres contaminada com Pb, indicou que gastos de US$ 12 milhões usando escavação e disposição, US$ 6,3 milhões usando lavagem do solo, US$ 600 mil usando capeamento do solo e US$ 200 mil usando fitorremediação (CUNNINGHAN et al., 1996). De acordo com a empresa Phytotech (New Jersey/USA), os custos para fitorremediar 1 m3 de solo contaminado com radioisótopos variam em torno de US$ 80,00 contra cerca de US$ 250,00 quando se utiliza lavagem do solo (BLACK, 1995). De acordo com Plummer (1997), o custo do tratamento convencional de 10 acres contaminados com Pb supera os US$ 12 milhões, enquanto o da fitorremediação é um pouco menor que US$ 500 mil. Pode-se observar que dentre os estudos citados, independentemente da natureza do contaminante, a fitorremediação destaca-se como a tecnologia mais viável, do ponto de vista econômico. Entretanto, é importante ressaltar que a eficácia da fitorremediação é influenciada por muitos fatores, o que a torna uma tecnologia extremamente complexa, na qual todos os parâmetros devem ser considerados. Dentro desse contexto, a análise econômica não deve ser a única variável levada em consideração na escolha do método para descontaminação da área de interesse. Portanto, qualquer tecnologia que se selecione vai apresentar tanto benefícios quanto inconveniências que são inerentes a qualquer processo de remediação (MONTEIRO, 2008). 2.3.5 Vantagens e Desvantagens da Aplicação da Fitorremediação A aplicação de qualquer técnica de remediação apresenta vantagens e desvantagens que devem ser ponderadas (MONTEIRO, 2008). Em relação à fitorremediação, essa relação não é diferente, uma vez que a técnica apresenta elevado potencial de utilização, todavia, algumas dificuldades devem ser consideradas (RIBEIRO, 2009). A Tabela 2.3 resume as principais vantagens e desvantagens dessa tecnologia. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 48 Tabela 2.3: Vantagens e desvantagens da fitorremediação Vantagens Menor custo em relação às técnicas tradicionalmente utilizadas que envolvem a remoção do solo para tratamento ex situ; Na maioria dos casos, os equipamentos e suprimentos são os mesmos usados na agricultura, portanto, quando aplicada em aéreas rurais, o custo é ainda menor; Possibilidade da recuperação de metais de alto valor agregado. Os compostos orgânicos podem ser degradados a CO2 e H2O, removendo toda a fonte de contaminação, não havendo, nesses casos, a necessidade de retirada das plantas fitorremediadoras da área contaminada, não se aplicando para metais pesados; Plantas são mais fáceis de monitorar do que microrganismos; As propriedades biológicas e físicas dos solos são mantidas, e muitas vezes, melhoradas; Há incorporação de matéria orgânica ao solo, principalmente quando as plantas não são retiradas da área contaminada; Há fixação de nitrogênio atmosférico, no caso de legumionosas; Plantas ajudam no controle da erosão; Dispensa escavações e transporte de material contaminado, evitando o risco de contaminações secundárias (acidentais) e assegurando a saúde do manipulador; Soma créditos de carbono; O sistema radicular reduz o carreamento dos contaminantes para o lençol freático e, por conseguinte para lagos e rios; Plantas são, esteticamente, mais favoráveis do que qualquer outra técnica e sua implementação minimiza distúrbios ambientais; Utiliza energia solar; Apresenta ampla aceitação pública pela melhoria da paisagem; Fontes: Vose, et al. (2000), Macek (2000); Ribiero (2009). Desvantagens Os contaminantes devem estar dentro da zona de alcance do sistema radicular; No caso dos contaminantes orgânicos, alguns vegetais podem transformá-los em metabólitos ainda mais tóxicos que os compostos originais; Necessidade de melhoria nas condições do solo, incluindo a quelação do contaminante, para facilitar sua absorção pelas plantas; Dificuldades de introdução em áreas com elevadas concentrações de contaminante; O clima e as condições edafíticas podem restringir o crescimento dos vegetais; Possibilidade da introdução do contaminante na cadeia trófica; Nos casos em que ocorre a acumulação de compostos tóxicos não metabolizáveis, há necessidade de disposição da biomassa vegetal produzida; Os estudos se encontram em uma fase muito prematura e ainda existe uma grande dificuldade na seleção de espécies; Longo tempo de tratamento; MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 49 2.3.6 Seleção da(s) Espécie(s) Vegetal(is) Depois de avaliadas todas as características climáticas e edafíticas do local e as peculiaridades do(s) próprio(s) contaminante(s) como, por exemplo, tipos, concentração, distribuição espacial, é importante identificar possíveis fatores que possam intervir negativamente no processo de remediação, a fim de que sejam controlados e minimizados (OLIVEIRA et al., 2006). A partir de então, devem ser estabelecidos os objetivos da recuperação, que dependerão do uso pretendido para a área, da disponibilidade da tecnologia de descontaminação e dos custos envolvidos. Uma vez estabelecidas todas essas condições, é determinada a espécie vegetal mais adequada àquelas circunstâncias (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). A seleção das plantas indicadas para o uso da fitorremediação deve considerar espécies que se mostram efetivas na remediação do(s) contaminante(s) diagnosticado(s). Caso não se tenha um elenco vegetal predeterminado para o projeto, devem-se observar as particularidades do sítio contaminado o que inclui não somente o solo, o clima e a distribuição do poluente, mas também a identificação botânica das espécies e/ou famílias/gênero vegetal que estão colonizando e se desenvolvendo na área contaminada. O objetivo é a indicação natural das plantas passíveis de serem utilizadas na sucessão vegetal da área. Se o sítio contaminado não apresenta recolonização vegetal natural ou possui uma contaminação muito recente, deve-se então dar preferência às espécies locais, aclimatadas a região. A observação das espécies vegetais mais sensíveis à contaminação e/ou que sofreram maiores danos morfológicos deve também ser feita pelo projetista, já que esse comportamento (contaminação versus vegetação local) também infere importantes informações para a escolha de plantas capazes de suportar a adequada colonização do local (ANDRADE; TAVARES; MAHLER, 2007). Os aspectos fisiológicos inerente ao(s) vegetal(is) escolhidos devem ser pré-analisados. Entre tais aspectos fisiológicos, é possível mencionar a profundidade alcançada pelas raízes, a taxa de crescimento do vegetal, a relação raiz/parte área, a arquitetura radicular e o hábito de crescimento vegetal. MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 50 De acordo com Andrade, Tavares e Mahler (2007), a taxa de crescimento da planta deve estar adequada aos objetivos da remediação. Dessa forma, para a rizodegradação, rizofiltração e fitoestabilização, por exemplo, é desejável que haja crescimento rápido em termos de profundidade das raízes, densidade, volume, área de superfície e extensão lateral. No caso da fitoextração, um crescimento maior da massa verde é desejável. As plantas hiperacumuladoras são aptas a concentrar altas taxas de metais, no entanto, geralmente apresentam crescimento mais lento, o que implica em maior lentidão na remoção desses poluentes. Choupos (Populus), por outro lado, têm sido bastante utilizado em fitorremediação de águas subterrâneas em razão da sua alta taxa de crescimento, podendo crescer de 2,7 a 4,6 m por ano. A necessidade do contato do contaminante com a zona de raízes é a primeira limitação da aplicabilidade da fitorremediação. Esse contato pode ocorrer com plantas aptas a estender suas raízes até os contaminantes, ou com estes movendo-se até a faixa de influência do sistema radicular do vegetal. Tal movimento pode ser facilitado por práticas que utilizam equipamentos agrícolas tradicionais, como aração, visando trazer o solo mais profundo para a superfície, ou por meio de irrigação com água contaminada. Como essas ações podem gerar emissões de compostos orgânicos voláteis, ou aumentar a contaminação no perfil do solo pela maior mobilização do contaminante, os riscos potenciais devem ser avaliados. Outro fator importante é a taxa de transpiração dos vegetais em técnicas de fitorremediação que envolvam sorção de contaminantes e controle hidráulico. A taxa de transpiração depende da espécie, idade, massa, tamanho, área superficial das folhas, estágio de crescimento e fatores climáticos, além de variação sazonal. Embora dependente de todos esses fatores, pode ser feita uma estimativa de transpiração para cada espécie; nesse caso, deve-se fornecer uma ordem de magnitude. Para espécies de Populus, a transpiração é estimada em 98 L por dia para uma árvore de cinco anos. Árvores salgueiro (Salix nigra e Salix alaxensis) podem transpirar até 19 mil L, o que é comparável à alfafa (Mendicago sativa). Árvores de algodão (Populus deltóides) transpiram de 190 a 1325 L ao dia (GATLIFF, 1994; GORDON, 1997). MARTINS, C.D.C. Testes REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 51 de fitotoxicidade das espécies aos contaminantes são importantes antes da implantação do processo de fitoremediação. Para tanto, geralmente são considerados testes de germinação e o desenvolvimento vegetativo (RIBEIRO, 2009). A seleção da(s) espécie(s) vegetais deve se fundamentar em (CUNNINGHAN, 1996; ROGERS et al., 1996; BAÑUELOS et al., 1997 e 2000; FRICK; FARREL; GERMIDA, 1999; VOSE et al., 2000): Capacidade de absorção, concentração e/ou metabolização e tolerância ao contaminante; Retenção do contaminante nas raízes, no caso da fitoestabilização; Sistema radicular denso e profundo; Alta taxa de crescimento e produção de biomassa; Capacidade transpiratória elevada, especialmente para vegetais perenes; Fácil colheita (para os casos de remoção da planta do sítio contaminado); Elevada taxa de exsudação radicular; Resistência a pragas e doenças; Fácil aquisição ou multiplicação dos propágulos; Fácil controle ou erradicação (no caso delas se tornarem “daninhas”); Capacidade de desenvolver-se bem em ambientes diversos. Naturalmente, torna-se difícil reunir todas essas características numa só planta, porém aquela que for selecionada deve reunir o maior número delas. Outro aspecto a ser observado é que, embora a maioria dos testes avalie plantas isoladas, várias espécies podem ser usadas em um mesmo local, ou ao mesmo tempo ou subseqüentemente, para remover mais de um contaminante (MILLER, 1996). Diversas espécies de plantas são promissoras como agentes para fitorremediação. Essas plantas incluem: gramíneas, leguminosas, hortaliças, árvores e diversas outras monocotiledôneas e dicotiledôneas (PARRISH et al., 2006; WHITE, et al., 2006; MERKL;SCHULTZE-KRAFT; ARIAS , 2006). MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 52 Na Tabela 2.4 estão enumeradas diferentes espécies vegetais usadas para fitorremediação de diferentes ecossistemas, contaminados com os mais diversos tipos de poluentes. Tabela 2.4: Variedade de vegetais utilizados na fitorremediação de diferentes tipos de contaminantes Vegetal Tipo de Contaminante Plantas aquáticas, caniços e TCE juncos resistentes ao inverno Spartina alterniflora Petróleo Salix exigua, Populus sp., HPAs Tripsacum dactyloides, Sagitaria latifolia, Panicum virgatum e Carex stricta. Aegiceras corniculatum HPAs Tipo de Matriz /Escala Águas subterrâneas/campo laboratório Solo/laboratório Sedimento/campo laboratório Sedimento/laboratório Referência Amon et al., e 2007 Viana et al., 2008 e Euliss et al., 2008 Tam e Wong, 2008 Lolium perene HPAs Solo/laboratório Rezek et al., 2008 Zostera marina Bifenilas Sedimento/campo Huesemann; policloradas e Hausmann e HPAs Fortman, 2009 Solanum nigrum L. Cádmio Solo/campo Ji et al., 2011 Avicennia schsueriana HTP Sedimento/laboratório Moreira et al., 2012 Tricale, Helianthus annuus e Al, Ni, Zn, Co, Solo/ campo e Willscher et Brassica juncea U e La laboratório al., 2013 Tomate, girassol, soja, alfafa DDT Solo/ laboratório Mitton et al., 2014 G. pseudochina, C. Cd Solo/ campo Khakaew e crepidioides, C. odorata, C. Landrot, sumatrensis e N. tabacum 2014 MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 53 2.4 O GIRASSOL 2.4.1 Aspectos Gerais do Girassol O girassol (Helianthus annuus L.) teve inicialmente o Peru definido como seu centro de origem, porém, pesquisas arqueológicas revelaram o uso do girassol por índios norte-americanos, com pelo menos uma referência indicando o cultivo nos Estados de Arizona e Novo México, por volta de 3000 anos a. C. (SELMECZI-KOVACS, 1975). Estudos indicam que a domesticação do girassol ocorreu principalmente, na região do México e sudoeste dos EUA, mas podia ser encontrado por todo continente americano devido à disseminação feito por ameríndios, os quais selecionavam plantas com apenas uma haste. Eles usavam as plantas com propósitos de alimentação, além de medicinais e decorativos. Chegou à Europa em meados do século XVI, sendo inicialmente cultivado como planta ornamental. O óleo da semente de girassol começou a ser consumido na Europa, no século XVIII (MANDARINO, 1997). É uma planta de porte alto e com raízes profundas. Por esse motivo, o solo para seu plantio deve ser profundo e permeável, para que as raízes nele penetrem e possam suprir a demanda de nutrientes. É uma planta tolerante às variações climáticas, e às variações do solo. Como toda cultura, exige correção de solo e adubação, devendo ser dada especial atenção ao boro, principalmente em solos arenosos. Os tratos culturais são simples e consistem em capinas e limpeza do terreno, nas primeiras semanas após o plantio. Depois disso, o próprio girassol faz o serviço, pois compete com as invasoras, mantendo-as sobre controle. Em geral, são feitas duas capinas superficiais, durante as duas primeiras semanas, após o plantio. O girassol é uma cultura melhoradora da qualidade do solo, porque promove a ciclagem de nutrientes ao longo do perfil do solo e disponibiliza uma grande quantidade de nutrientes pela mineralização dos restos culturais, beneficiando o desenvolvimento e a melhoria do estado nutricional das culturas MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 54 subsequentes (LEITE et al., 2007). Pode ser usado com sucesso na rotação de culturas, pois diminui a incidência de pragas, doenças e ervas daninhas. Também pode ser incorporado ao solo como adubação verde, pois decompõese rapidamente em adubo orgânico, além de sufocar as ervas invasoras ou daninhas, dessa forma favorecendo o plantio direto. Como a semente é pouco afetada por fungos e carunchos, pode ser armazenada para que o produtor a utilize ao longo do ano. Apesar de ser uma planta resistente à maioria das pragas, o girassol é sensível ao ataque das lagartas que comem as folhas desse vegetal. O controle é feito através do uso de defensivos (lagarticidas). Dentre as doenças que atacam esta lavoura, destacam-se a ferrugem e a mancha-de-alternaria, além da podridão-demacrophomina (JAYME, 2003). O girassol apresenta características muito especiais no que diz respeito ao seu potencial para aproveitamento econômico. Seus principais produtos são o óleo, produzido de suas sementes, e ração animal. O rendimento é de 1.500 a 3.000 kg de sementes e 30 a 70 t de massa verde por hectare. Cada kg de sementes rende de 350 a 450 g de óleo. A composição da semente e do óleo de girassol está representada na Tabela 2.5. Tabela 2.5: Composição da semente e do óleo de girassol Semente de Girassol Constituinte Teor (%) Casca 21 – 27 Óleo 48 – 53 Proteínas 14 – 19 Açúcares solúveis 7–9 Fibras 16 – 27 Cinzas 2–3 Conteúdo de ácidos graxos no óleo Ácido graxo Teor (%) Mirístico 5–7 Palmítico 3–5 Esteárico 0,3 - 0,8 Araquidônico 0,6 - 0,8 Oléico 22 – 50 Linoléico 40 – 70 Fonte: Prasad (2007). O óleo dessa oleaginosa também pode ser usado como combustível. Experiência feita em São Paulo mostra que biodiesel é viável sem MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 55 necessidade de adaptação de motores. Tratores e caminhões da Ataliba Leonel, uma fazenda de produção de sementes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, estão usando 100% do chamado biodiesel de girassol em seus motores. Os resultados são, até agora, muito bons. As máquinas apresentam um rendimento 10% maior por litro consumido em relação ao diesel convencional e não há sinais de desgaste, além do normal nos equipamentos. Considerando-se o aproveitamento da torta resultante da prensagem, o custo do biodiesel de girassol chega a ser até 20% menor que o do derivado de petróleo. Tem-se, também, de considerar o ganho ambiental, pois o óleo de girassol não tem componentes de chumbo e enxofre que poluem a natureza, como o diesel proveniente do petróleo (JAYME, 2007). A obtenção do óleo virgem (óleo puro, sem nenhum aditivo) se dá através da prensagem das sementes, que é feita a frio, sem uso de solventes. Para melhorar ainda mais o rendimento no motor é feita a retirada da glicerina, um dos componentes do óleo de girassol, através da adição de etanol e de um catalisador. Segundo experimentos de pesquisadores da UNICAMP e do ITAL (Instituto de tecnologia em Alimentos), o óleo de girassol quando submetido à transesterificação por via etílica obtém um rendimento em biodiesel de cerca de 70% (SILVA, 2012). A torta que sobra da moagem é um componente de alto teor nutritivo para rações animais. São 24% de pura proteína. E os restos da cultura podem ser utilizados para silagem (JAYME, 2007). 2.4.2 Uso do Girassol na Fitorremediação A fitorremediação vem sendo estudada como alternativa para recuperação de áreas contaminadas por petróleo e seus derivados e dentro dessa linha de pesquisa, muitas gramíneas, arbustos e árvores já foram estudadas quanto à capacidade de remediar ambientes contaminados com petróleo e seus derivados. Uma possibilidade interessante é o uso de plantas com conhecida capacidade para produção de biodiesel na descontaminação de solos impactados, uma vez que, poderão, ao final do processo de descontaminação do solo, ser inseridas no ciclo do combustível, para co- MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 56 geração de energia. O girassol é uma dessas oleaginosas que vem sendo utilizada na fitorremediação de sítios contaminados por metais pesados. Em vários países, trabalhos vêm sendo realizados para o tratamento de áreas impactadas utilizando o potencial fitorremediador do girassol (Tabela 2.6) (LIPHADZI et al., 2003; RODRIGUEZ et al., 2006; SHARMA et al., 2006; SISTANI; NOVAK, 2006). De acordo com trabalho publicado por Dushenkov et al. (1997), o custo referente ao tratamento em sistema hidropônico com girassol varia em torno de US$ 4,00 a US$6,00 para cada 3,8 m3 de água contaminada com urânio. Ainda de acordo com os autores, plantas de girassol com 4 semanas de idade foram capazes de remover mais de 95% do urânio em 24 horas. Tabela 2.6: Trabalhos em que o girassol foi usado para descontaminação de diferentes matrizes Estudos em Laboratório ou em Campo Referência Absorção e translocação de plutônio em sistema Lee et al., 2002b hidropônico Absorção de Cs137 Soudek; Tyvka e Vanek, 2004 Efeito da adição de EDTA e ácido cítrico na Turgut et al., 2004 fitorremediação de Cd, Cr e Ni Fitoextração de urânio e rádio em sistema hidropônico Rodriguez et al., 2006 Fitorremediação de Cd, Cr, Ni, As e Fe em sistema January et al., hidropônico 2008 Fitoextração de As, Cd, Cr e Ni em sistema hidropônico Keule; Wei e Cutright, 2008 Efeito adição de nutrientes e EDTA na fitoextração de Lin et al., 2009 chumbo Efeito da adição de EDTA no acúmulo de Cd Meighan et al., 2011 Efeito rizosfera na biodegradação de HPAs Tejeda-Agredano et al., 2012 Efeito da micorrização arbuscular na fitorremediação de Hassan; Hijri; Stcádmio Arnaud, 2013 Efeito da inoculação de bactérias PGPR na Marques et al, fitorremediação de zinco e cádmio 2013 Entretanto, a maioria desses trabalhos destaca o uso de girassol na descontaminação de solos impactados com os mais diversos compostos MARTINS, C.D.C. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 57 inorgânicos, como urânio, selênio, plutônio, cádmio, cromo, cobre, césio, entre outros. E poucos trabalhos relatam o uso dessa planta na fitorremediação de poluentes orgânicos. Tejeda-Agredano et al. (2012) observaram o perfil molecular da comunidade rizosférica de plantas de girassol e sua participação na fitorremediação de seis HPAs contidos no solo, na concentração inicial de 21,75±0,9 mg/kg (Σ6HPAs). A concentração de HPAs reduziu 93%, em 90 dias, na presença de girassol, enquanto na ausência da planta essa redução foi de 77%. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 58 CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 SOLO Neste estudo foi utilizado solo de um sistema Landfarming de uma refinaria de petróleo, constituído por três células de 100 m por 50 m cada, e 1 m de profundidade, conforme ilustrado na Figura 3.1. Essas células recebem, uma de cada vez, o descarte de resíduos oleosos e lodo biológico contaminado com óleo gerado pela estação de tratamento de efluentes industriais (ETDI) da refinaria. Neste estudo, tanto as coletas de solo para os ensaios de laboratório quanto os ensaios em campo foram realizados na mesma célula, conforme indicado na figura. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 59 Figura 3.1: Foto de satélite das três células do sistema Landfarming com a demarcação da célula onde foram realizadas as coletas e os ensaios em campo (Site 2). 3.1.1 Amostragem e Caracterização do Solo Foram feitas três coletas do solo, em três momentos distintos, na célula demarcada na Figura 3.1. Em cada uma dessas coletas foram determinados os seguintes parâmetros: Julho/ 2008 – granulometria, físico-químicos, químicos e microbiológicos; Maio/ 2009 - físico-químicos, químicos e microbiológicos; Junho/ 2011 - físico-químicos, químicos e microbiológicos. Os dados obtidos na caracterização de cada uma das três diferentes amostras de solo foram utilizados como parâmetros iniciais para cada uma das três etapas experimentais realizadas. Em cada momento de amostragem, foi coletado solo em quantidade suficiente para realização dos experimentos em laboratório, acondicionadas em tambores para transporte e foi utilizado para as três diferentes etapas experimentais. Foram feitas amostragens, em pelo menos três pontos distintos, coletando amostras de solo da camada reativa do Landfarming, ou seja nos primeiros 30 cm de profundidade, totalizando cerca de 5 kg de solo. As amostras foram devidamente acondicionadas, identificadas e transportadas MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 60 para o laboratório, onde foram homogeneizadas de modo a obter amostras representativas. Posteriormente, as amostras foram enviadas para caracterização físico-química e granulométrica, em laboratórios especializados, segundo metodologias referendadas na Tabela 3.1. Também foram feitas cinco coletas em frascos estéreis, com auxílio de espátulas esterilizadas, a fim de realizar as análises microbiológicas. Neste caso, as amostras, imediatamente após a coleta, foram rotuladas e acondicionadas em isopor contendo gelo químico a fim de mantê-las refrigeradas durante o transporte. O tempo entre as coletas e o processamento microbiológico das amostras foi de aproximadamente 24 horas. As análises microbiológicas contemplaram as populações cultiváveis conforme apresentado na Tabela 3.1. No laboratório de Microbiologia Industrial da Escola de Química (UFRJ), foram realizadas as análises microbiológicas, segundo metodologias específicas. Ainda no laboratório, as amostras de solo foram devidamente tanizadas e quarteadas e, posteriormente, enviadas para caracterização físicoquímica e granulométrica, em laboratórios especializados. Na Tabela 3.1 são enumeradas as metodologias analíticas realizadas e as respectivas referências. Tabela 3.1: Análises realizadas nas amostras de solo Parâmetro Metodologia analítica Composição Granulométrica*1 ABNT-NBR 7181 (1984) Matéria orgânica WALKEY e BLACK (1934) Capacidade de Campo*2 WATWOOD, WHITE e DAHN (1991) Fósforo USEPA 365.2 (1971) Nitrogênio USEPA 351.2 (1983) pH USEPA 9040C (SW-846, 1986) Umidade Secagem em balança por infravermelho TPH*3 USEPA 8015B (1996) HPA*3 USEPA 8270 C (1996) Elementos pesados*3 USEPA 6010C (1996) Bactérias Aeróbias Totais APHA (2005) Bactérias Degradadoras de VOLPON; VITAL e CASELLA (1998) Hidrocarbonetos Fungos Totais APHA (2005) *1 Laboratório de mecânica dos solos – COPPE/UFRJ *2 EMBRAPA SOLOS – Rio de Janeiro *3 Analytical Technology Serviços Analíticos e Ambientais Ltda. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 61 Simultaneamente às coletas realizadas para caracterização do solo (item 3.1.1), foram feitas retiradas de solo em quantidade suficiente para realização dos experimentos em laboratório, acondicionadas em tambores para transporte. No momento do uso, o solo foi devidamente tanizado e quarteado de acordo com NBR 10.007 (ABNT, 2004). 3.2 VEGETAIS Foram usados diferentes cultivares de Helianthus annuus, popularmente conhecido como girassol, disponíveis no mercado para produção de óleo. As sementes dos cultivares, fornecidos por empresas distribuidoras, foram: H2 (Helianthus do Brasil/ Advanta), H3 (Dekalb Ltda.), M (Dinamilho Produtos Agrícolas Ltda., Dow Agrosciences) e P (Nidera Semente Ltda.). 3.3 DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE ENSAIOS 3.3.1 Casa de vegetação Os experimentos foram conduzidos em casa de vegetação, localizada no espaço interno, entre os blocos E e F do Centro de Tecnologia da UFRJ. A casa de vegetação localiza-se na Ilha do Fundão (Rio de Janeiro), nas coordenadas geográficas 22° 51’S e 43° 13’W e sua área é de 24 m2. Na Figura 3.2, pode-se visualizar a casa de vegetação de diferentes ângulos. Figura 3.2: Casa de vegetação onde os experimentos foram conduzidos. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 62 De acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger (PEEL, FINLAYSON e MCMAHON, 2007), o clima dessa região é do tipo Aw (clima tropical - chuvas no verão), caracterizado por apresentar temperatura elevada no verão, inverno seco e precipitação anual em torno de 1200 mm, concentrada de outubro a março (AGUIAR, 2006). 3.3.2 Em Campo Os testes em campo foram executados em Landfarming de refinaria situada no estado de São Paulo, cuja vista superior está apresentada na Figura 3.1. A área dos testes de fitorremediação se situa no sistema Landfarming da refinaria. O sistema de Landfarming visa tratamento de resíduos contaminados com hidrocarbonetos de petróleo, por incorporação controlada no solo sobre ação da microbiota nativa do local. Os testes de fitorremediação foram realizados na célula demarcada na Figura 3.1, que para tanto foi previamente capinada e arada para homogeneização e para facilitar o acesso ao local. 3.4 ETAPAS EXPERIMENTAIS O presente trabalho foi dividido em duas etapas distintas: ensaios em laboratório (casa de vegetação) e em campo (sistema Landfarming). Os ensaios em laboratório contemplaram a seleção do cultivar de girassol e avaliação da adição de fertilizante e densidade do vegetal no processo de fitorremediação. Posteriormente, os mesmos parâmetros foram testados em escala de campo. Para cada etapa em laboratório foram utilizados solos retirados em diferentes períodos. Para a seleção do cultivar de girassol foi utilizado o solo coletado em julho de 2008. Já os ensaios referentes à avaliação dos parâmetros para fitorremediação (fertilização e densidade de plantas) do solo multicontaminado, foi utilizado o solo de maio de 2009. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 63 A caracterização do solo realizada em 2011 foi utilizada para avaliação dos resultados obtidos na etapa de campo na qual também foram avaliados os parâmetros fertilização e densidade de plantas. 3.4.1 Seleção de Cultivar de Helianthus annuus Nessa etapa, as sementes dos quatro cultivares de girassol foram plantadas em vasos contendo apenas o solo contaminado. Esta etapa foi realizada com as amostras de solo coletas em 2008. Simultaneamente, para fins comparativos, as sementes foram cultivadas em solo próprio para plantio (ensaios controle), obtido no comércio varejista, e, portanto, isento de qualquer tipo de contaminação. Preliminarmente, as sementes de girassol foram ensaiadas quanto à capacidade de germinação no solo contaminado. Para tanto, amostras de 400 sementes de cada cultivar foram distribuídas em 16 repetições de 25 sementes e submetidas ao teste padrão de germinação (BRASIL, 2009). Para os ensaios de fitorremediação, foram utilizados 24 vasos plásticos de formato cônico, de 27 cm de altura e de 22 e 27 cm de diâmetros de fundo e de boca, respectivamente, correspondendo a uma capacidade nominal de 19 litros. Em 12 vasos foi adicionado solo não contaminado (ensaios controle) e nos outros 12, o solo contaminado. Em cada vaso foram adicionados 5 kg de solo, feitos quatro covas eqüidistantes e adicionadas 4 sementes por cova. Quando, pelo menos, uma das plantas em cada cova atingiu 5 cm de altura, foi feito o desbaste, mantendo apenas uma planta por cova (Figura 3.3). Este procedimento foi realizado para cada um dos quatro cultivares. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 64 Figura 3.3: Vaso contendo um indivíduo de girassol, após o desbaste, com 7 (A) e 21 (B) dias, medindo 7 e 26 cm, respectivamente. O tempo total de cultivo foi de 40 dias. Nesse período, o solo foi apenas regado, quando necessário, para manter as condições ideais de umidade em torno de 80% da sua capacidade de campo, conforme recomendado pelo Dr. Daniel Vidal Pérez, Embrapa Solos. As temperaturas médias do solo e do ar no período experimental foram de 29 e 28°C, respectivamente. Em intervalos de aproximadamente 10 dias de processo foram determinadas as alturas dos vegetais e, ao final de 40 dias, a massa seca da biomassa vegetal foi determinada em balança analítica. O processo de secagem dos vegetais foi realizado em estufa a 50 ºC durante três dias. A biomassa vegetal produzida ao longo dos 40 dias de ensaio foi submetida à análise em relação ao seu conteúdo de metais pesados (item 3.6.2.1). Todos os resultados dos ensaios de fitorremediação foram expressos em valores médios de três réplicas. A seleção do cultivar foi feita com base no acompanhamento do tamanho das mudas e das análises químicas de HPAs, HTPs e elementos MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 65 pesados, que foram feitas em amostras dos solos coletadas ao final dos 40 dias de cultivo dos vegetais. Na Figura 3.4 está apresentado, resumidamente o esquema experimental utilizado para a etapa de seleção de cultivar de girassol. Figura 3.4: Esquema experimental da etapa de seleção de cultivar de girassol realizada em casa de vegetação. 3.4.2 Efeito da Suplementação com Fertilizante e Densidade Populacional na Fitorremediação do Solo Nessa etapa, o cultivar selecionado na etapa anterior foi avaliado quanto ao desempenho na remoção de hidrocarbonetos e metais pesados, utilizando como variáveis número de indivíduos por tratamento e teor de fertilizante N:P:K (10:10:10) da marca Vitaplan (Nutriplast Ind. e Com. Ltda.). Os valores de cada variável independente foram definidos através de consulta à literatura (BAPTISTA, 2007; FEREIRA, 2010). A Tabela 3.2 apresenta as condições experimentais testadas nessa etapa. Para fins comparativos, concomitantemente, foram feitos ensaios controle (sem planta): biótico e abiótico (com adição de 1g de nitrato de prata/ kg de solo). MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 66 Tabela 3.2: Condições experimentais testadas na segunda etapa em casa de vegetação Condição 1 2 3 4 Controle biótico Controle abiótico* Número de plantas por vaso 1 5 1 5 0 0 Fertilizante (g/kg) 0 0 14 14 0 0 * Nos vasos referentes ao controle abiótico foram acrescentados 1 g de nitrato de prata / kg para inibir a atividade microbiana (MORYIA; MÓDENA, 2008). Os experimentos foram realizados em vasos plásticos, já descritos anteriormente (item 3.4.1). Foram utilizados um total de 27 vasos, nos quais foram adicionados 5 kg de solo, onde foram feitos sulcos equidistantes, em número de 1 ou 5 (Tabela 3.2), sendo semeadas 4 sementes em cada cova. Quando, pelo menos, uma das plantas em cada cova atingiu 25 cm de altura, foi feito o desbaste, mantendo apenas uma planta por cova. Ao final de 80 dias, foram realizadas determinações químicas e microbiológicas nas amostras de solo. Assim sendo, para cada condição experimental, após retirada das plantas e a devida homogeneização do solo, foram retiradas amostras para os procedimentos analíticos: concentrações de HTPs, HPAs e metais pesados (V, Ni, Cu, Cd e Pb), bem como número de BHT, BDH e fungos. No final do tratamento, também foram realizadas análises nos tecidos vegetais. Para tanto, ao final dos ensaios, as plantas foram cortadas na altura do solo, com auxílio de uma tesoura de jardineiro, para separação da parte aérea. As raízes foram removidas do solo com cuidado para não haver perda. Posteriormente, os tecidos vegetais foram submetidos à secagem em estufa (60ºC) até peso constante, para determinação mássica. As biomassas devidamente secas, foram submetidas à análise de HPAs e metais pesados nos respectivos tecidos vegetais. Para tanto, os tecidos vegetais foram acondicionadas em freezer para posterior análise (item 3.6.2.1). MARTINS, C.D.C Na Figura MATERIAIS E MÉTODOS 3.5 está apresentado, resumidamente, o 67 esquema experimental realizado na etapa de avaliação do efeito da suplementação com fertilizante e densidade populacional na fitorremediação do solo, em casa de vegetação. Figura 3.5: Esquema experimental da etapa de avaliação do efeito da suplementação com fertilizante e densidade populacional na fitorremediação do solo, em casa de vegetação. 3.4.3. Testes de fitorremediação em escala de campo Os testes em campo foram realizados em uma das células do Landfarming da refinaria, em área de 200 m2, conforme apontado na Figura 3.1). Antes do início dos ensaios, o solo foi desmatado e arado com auxílio de um trator. Logo a seguir, foram montadas subcélulas de área de 1 m2 cada, definidas através de barras retangulares de madeira de 50 cm de comprimento, que após serem fincadas ao solo, foram ligadas entre si por fio de nylon, conforme pode ser visualizado na Figura 3.6. Em cada subcélula foi feito, diretamente, o plantio das sementes do vegetal, sem a adoção de qualquer tipo de prática para ativação das mesmas, MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 68 visando a redução dos custos para uma futura aplicação em escala industrial e também considerando que os resultados, em escala de laboratório, demonstraram que a etapa de ativação não foi necessária. O plantio foi realizado manualmente, sendo as sementes colocadas em pequenos sulcos de 3 a 5 cm profundidade. Figura 3.6: Imagens mostrando a área da célula do Landfarming após aragem, e as subcélulas de 1 m2 de área cada, para realização dos testes. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 69 Foi utilizada uma cultura de girassol (Helianthus annuus L.) H3, previamente selecionada nos testes de laboratório. Nos testes em campo foram estudadas as variáveis densidade de vegetal e fertilização, que se mostraram de relevância nos ensaios de laboratório (casa de vegetação). Para tanto, foram empregados cultivos com 5 e 9 indivíduos por metro quadrado, e adição ou não de fertilizante mineral misto, N:P:K (10-10-10) da marca Vitaplan (Nutriplast Ind. e Com. Ltda.), na concentração de 7 g/kg de solo, conforme apresentado na Tabela 3.3. Tabela 3.3: Condições experimentais empregadas nos testes de fitorremediação realizados em campo Exp. Sigla Fertilizante* 1 2 3 4 Controle Controle 5SF 9SF 5F 9F CSF CF Sem Sem Com Com Sem Com Densidade de semeadura (número/m2) 5 9 5 9 - *N:P:K (10:10:10) 7 g /kg de solo. O plantio das sementes foi feito diretamente em covas, sendo plantadas seis unidades por cova. Quando, pelo menos, uma das plantas em cada cova atingiu 25 cm de altura, foi feito o desbaste, mantendo apenas uma planta por cova. Foram feitas três semeaduras, no período de setembro a outubro de 2011. A duração dos ensaios realizados em campo teve como base o tempo para o vegetal atingir a inflorescência (botões), 90 dias. Ao final do processo, amostras representativas de solo foram encaminhadas ao laboratório para determinação das populações microbianas, metais pesados, HPAs e HTPs. Adicionalmente, amostras do tecido vegetal produzido foram secas em estufa (60ºC), até atingirem massa constante, sendo MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 70 a seguir analisadas quanto ao seu conteúdo de HPAs e HTPs nas diferentes partes vegetais (raízes, caules, folhas e flores). Na Figura 3.7 está apresentado, resumidamente, o esquema experimental realizado na etapa de fitorremediação em campo. Figura 3.7: Esquema experimental da etapa de avaliação do efeito da suplementação com fertilizante e densidade populacional na fitorremediação do solo, em casa de vegetação. 3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS Os dados obtidos foram analisados estatisticamente para, dentre outras vantagens, permitir a atenuação dos erros experimentais e assegurar a representatividade dos resultados levantados. Os dados obtidos foram submetidos ao Teste de Médias de Tukey (p>0,05) a fim de verificar a diferença entre as condições empregadas em cada MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 71 etapa. Para tanto, foi utilizado o software STATISTICA (versão 7.0, STATSOFT, USA). 3.6 MÉTODOS ANALÍTICOS 3.6.1 Caracterização do Solo 3.6.1.1 Composição Granulométrica As análises granulométricas foram gentilmente realizadas pela Dra. Maria Cristina Moreira Alves (Laboratório de Mecânica dos Solos/UFRJ) e seguiram a norma ABNT-NBR 7181 (1984). O solo proveniente do Sistema Landfarming foi submetido à secagem ao ar e os torrões formados foram destorroados em almofariz. Em seguida, foi realizado o peneiramento em peneira de malha de 2 mm (peneira n° 10). Os sólidos foram suspensos em solução de ortofosfato de sódio e a sedimentação foi acompanhada para determinação das frações granulométricas. 3.6.1.2 Matéria Orgânica O teor de matéria orgânica presente nas amostras de solo foi determinado de acordo com o método de Walkey e Black (1934), que consiste num procedimento indireto por meio do qual se determina o teor de carbono da matéria orgânica. Esta quantificação foi realizada por combustão úmida, empregando-se o ácido crômico como oxidante (resultante da reação do dicromato de potássio com o ácido sulfúrico). O dicromato de potássio residual, que permanece após a reação de oxidação, foi titulado com uma solução de sulfato ferroso 0,5 N. Segundo a metodologia, 77% do carbono total da matéria orgânica é oxidado nas condições do ensaio, obtendo-se uma aproximação aceitável do conteúdo de carbono orgânico no solo. Para a conversão de matéria orgânica a carbono, considera-se que 58% da matéria orgânica é formada por carbono orgânico MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 72 (JARAMILLO, 1996). Um ensaio em branco foi feito sem a adição de solo, para se descontar qualquer carbono orgânico presente nos reagentes. O cálculo do teor de matéria orgânica (% p/p) das amostras de solo foi realizado segundo a Equação 3.1. V % MO Vdicromato * 1 amostra Vbranco * K (Equação 3.1) Onde: %MO = teor de matéria orgânica Vdicromato = volume de dicromato de potássio utilizado [mL] Vamostra = volume de sulfato ferroso 0,5 N utilizado na titulação da amostra [mL] Vbranco = volume de sulfato ferroso 0,5 N utilizado na titulação do branco [mL] K = N*(0,003/0,77)*(100/m)*1,72 1,72 = fator de conversão do carbono na matéria orgânica Sendo que: N = normalidade da solução de dicromato de potássio 0,003 = miliequivalente grama do carbono m = massa da amostra de solo [g] 0,77 = fator de conversão (77% do carbono total da matéria orgânica é oxidado) 3.6.1.3 Capacidade de Campo O ensaio foi realizado segundo metodologia descrita por Watwood, White e Dahn (1991). Para tal foi pesada, em uma proveta, uma determinada quantidade de solo, de forma que se forme uma pequena coluna. Adiciona-se água ao solo, gotejando, até que toda a coluna de solo seja percolada chegando a água ao fundo da proveta – condição de saturação. Após pesagem (msaturada), o sistema foi acondicionado por 24 horas em estufa a 110ºC. Após a MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 73 secagem do material, o sistema foi novamente pesado (mseco) e sua capacidade de campo determinada através da Equação 3.2. m msec o C.C sistema múmido *100 (Equação 3.2) Onde: C.C = capacidade de campo [%] múmido = massa do solo antes de se adicionar água [g] msistema = massa do solo após adição da água [g] mseco = massa do solo após 24 horas a 110ºC [g] 3.6.1.4 Fósforo O teor de fósforo total foi medido segundo metodologia descrita por USEPA 365.2 (1991). Para tanto foram pesadas 13 gramas de solo adicionando-se 91 mL de solução extratora, contendo fluoreto de amônio 1 N em solução ácida diluída (HCl). Este procedimento tem por finalidade extrair do solo as formas de fósforo facilmente solúveis em meio ácido, assim como grande parte dos fosfatos de cálcio e uma fração dos fosfatos de alumínio e ferro devido à formação de complexos com os íons metálicos quando se encontram em solução ácida. Em geral, esse método permite a obtenção de bons resultados em solos ácidos, neutros e ligeiramente alcalinos (JARAMILLO, 1996). Após um período de 24 horas de contato entre o solo estudado e a solução extratora, o extrato obtido foi centrifugado e posteriormente filtrado em membrana Millipore (0,45 m de poro). Em seguida, adiciona-se a 35 mL do extrato, 10 mL de uma solução de molibdato vanadato (1 N) e o volume completado para 50 mL. Após 10 minutos, foi feita a leitura da absorbância no espectrofotômetro marca HACH modelo DR/2000 no comprimento de onda de 450 nm. A concentração de fósforo total foi obtida de acordo com curva-padrão previamente preparada, empregou-se KH2PO4 como padrão. O teor de fósforo foi calculado de acordo com a Equação 3.3. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS C *V P extrato extratora msolo *1.000 74 (Equação 3.3) Onde: P = teor de fósforo no solo [g/Kg] Cextrato = concentração de fósforo total [mg/L] Vextratora = volume utilizado da solução extratora [mL] msolo = massa de solo [g] 1000 = fator de conversão 3.6.1.5 Nitrogênio A determinação de nitrogênio nas amostras de solo foi feita pelo método descrito por USEPA 351.2 (1983). Esse método consiste em uma modificação do método de Kjeldahl para que a análise inclua os nitratos presentes na amostra. Através deste ensaio, o nitrogênio orgânico e os nitratos são convertidos a sulfato de amônio, destilados e coletados em ácido bórico. Em seguida, procedeu-se a titulação com solução de HCl 0,1 N, utilizando-se vermelho de metila como indicador. Um ensaio em branco, sem adição de solo, foi feito para eliminar a possível interferência causada pela presença de nitrogênio nos reagentes utilizados. O teor de nitrogênio foi calculado de acordo com a Equação 3.4. %N ( V HCl amostra V HCl m branco ) * 0,1 * 1,4 (Equação 3.4) Onde: %N = teor de nitrogênio na amostra [% p/p] VHClamostra = volume de HCl gasto para titular as amostras de solo [mL] VHClbranco = volume de HCl gasto para titular o branco [mL] m = massa de solo amostrada [g] 0,1 = normalidade de HCl 1,4 = fator de conversão MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 75 3.6.1.6 pH O pH do solo foi determinado através do método potenciométrico conforme descrito em USEPA (1986), utilizando-se um medidor de pH (QUIMIS), previamente calibrado com solução tampão (pH 7,0 e 4,0). Essa técnica permite a dosagem do pH real do solo. Para tanto, utilizou-se água destilada (método 9040C). 3.6.1.7 Umidade A determinação do teor de umidade total foi realizada através de método gravimétrico, empregando-se a balança IV2000 Gehaka, que utiliza um sistema de secagem por infravermelho e fornece automaticamente o teor de água presente na amostra. 3.6.1.8 Hidrocarbonetos Totais do Petróleo (HTP’s) Uma alíquota de 50 g do solo foi submetida à extração com cloreto de metileno seco, grau pesticida, utilizando ultrassom, conforme preconizado no método EPA 3550 C (USEPA, 1996). O solvente foi extraído do extrato usando fluxo de nitrogênio a 40ºC empregando concentrador TurboVap II. Previamente às determinações cromatográficas o extrato foi submetido ao processo de clean-up em coluna de silica gel ativada, conforme EPA 3630C (USEPA, 1996). O TPH do solo foi determinado por meio de cromatografia a gás, equipado com detector de ionização de chama de acordo com o método EPA 8015B (USEPA, 1996), empregando um equipamento Shimadzu Europe (modelo QP5050A) equipado com uma coluna Valcobond VB-5 (30 m x 0.25 mm x 0.25). A integração dos sinais foi executada de forma a considerar a fração na faixa da gasolina, querosene, diesel e óleo diesel, assim como a mistura complexa não resolvida (MCNR). Antes da quantificação, as amostras foram fortificadas com 2-fluorobisfenil e terfenil-d14 parra auxiliar nos cálculos de fator de recuperação. Os padrões internos usados foram C 20-d42 e C24-d50. Os limites de detecção e de quantificação foram 23148 e 69444 g/kg de solo, respectivamente. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 76 3.6.1.9 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA’s) A análise dos 16 hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA’s) foi realizada pelo laboratório Analytical Technology Serviços Analíticos e Ambientais Ltda. A concentração de naftaleno, acenaftileno, acenafteno, fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, pireno, benzo[a]antraceno, benzo[a]pireno, dibenzo[a,h]antraceno e benzo[ghi]perileno criseno, indeno[1,2,3-cd]pireno, no extrato orgânico obtido conforme exposto no item anterior, por meio de cromatografia a gás acoplada à espectrometria de massas, de acordo com o método EPA 8270C (1996). Foi empregado um cromatógrafo Thermo Finnigan (modelo Focus GC), equipado com uma coluna RTX-5MS (30 m x 0.25 mm x 0.25 μm), acoplado a um Espectrômetro de Massas Thermo Finnigan (modelo Focus DSQ). Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos deuterados (naftaleno-d8, acenaftenod10, fenantreno-d10, criseno-d12, e perileno-d12) foram usados como padrões internos. Na Tabela 3.4 estão apresentados os 16 HPAs prioritários segundo a USEPA, assim como a classificação quanto à sua carcinogenicidade. Tabela 3.4: Lista dos 16 HPAs prioritários listados pela EPA, estrutura e classificação quanto à sua carcinogenicidade. HPA Fórmula Naftaleno Estrutura IARC C10H8 Número de anéis 2 Acenaftileno C12H8 3 3 Fluoreno C13H10 3 3 3 MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 77 Acenafteno C12H10 3 3 Antraceno C14H10 3 3 Fenantreno C14H10 3 3 Criseno C18H12 4 2ª Pireno C16H10 4 3 Fluoranteno C16H10 4 2B Benzo(a)antraceno C18H12 4 2B Benzo(a)pireno C20H12 5 3 Benzo(b)fluoranteno C20H12 5 2ª Benzo(k)fluoranteno C20H12 5 2B Dibenzo(a,h)antraceno C22H14 5 2ª Benzo(g,h,i)perileno C22H12 6 3 MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS Indeno(1,2,3,c,d)pireno IARC: International C22H12 Agency 6 for Research on Cancer; 2A: 78 3 provável carcinogênicos para humanos – limitada evidência em humanos e suficientes em animais; 2B: possível carcinogênico para humanos – limitada evidência em humanos insuficiente para animais; 3: não é classificado como carcinogênico para humanos. 3.6.1.10 Elementos Pesados A concentração de metais pesados no solo foi determinada por espectrometria utilizando metodologia descrita em USEPA 6010C (1996). Previamente, foi realizada a digestão em meio ácido, em micro-ondas, de acordo com método USEPA 3051A (1996). A Tabela 3.5 apresenta os elementos pesados determinados, com os respectivos limites de detecção e de quantificação. Tabela 3.5: Compostos inorgânicos determinados segundo USEPA 6010C (1996), com os respectivos limites de detecção e de quantificação em mg/kg de solo. Composto LD LQ Cádmio Total 0,556 1,67 Chumbo Total 2,78 8,33 Cobre Total 0,278 0,833 Níquel Total 0,694 2,08 Vanádio Total 0,139 0,417 LD: Limite de detecção; DQ: Limite de quantificação. 3.6.1.11 Bactérias Aeróbias Totais A avaliação da concentração de bactérias heterotróficas totais nas amostras de solo foi feita pelo método do espalhamento em profundidade (pour plate method) (APHA, 2005). Para tanto, uma amostra inicial de solo (10 g) foi adicionada a uma Erlenmayer contendo 90 mL de uma solução salina (0,85% NaCl) e colocada sob agitação por 30 minutos para a extração das bactérias MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 79 presentes. Em seguida, com o sobrenadante, foram preparadas diluições em solução salina (0,85% NaCl) variando de 10-1 a 10-7 e, a partir de cada diluição, alíquotas de 1 mL foram transferidas para placas de Petri. Posteriormente, foi adicionado às placas, meio de cultura agar nutriente e efetuada uma homogeneização das placas. Após solidificação do meio, as placas foram incubadas a 30ºC durante 48 horas e após este período, as colônias foram contadas e os resultados expressos em UFC (unidade formadora de colônia) por grama de solo seco. Na Tabela 3.6 é apresentada a composição do meio de cultura. Tabela 3.6: Composição do Meio Agar Nutriente Componentes Peptona de carne Extrato de carne Glicose Agar-agar pHinicial = 7,0±0,2. Quantidade (g/L) 5 3 5 30 3.6.1.12 Bactérias Degradadoras de Hidrocarbonetos A contagem de bactérias degradadoras de hidrocarbonetos foi realizada através da técnica do Número Mais Provável (NMP) (VOLPON; VITAL; CASELA, 1998). Para esse procedimento também foram reparadas diluições de 10-1 até 10-7 em solução salina (NaCl 0,85%) e, de cada uma delas, foi transferida uma alíquota de 0,1 mL para 5 poços de uma microplaca com 24 poços, contendo 1,7 mL de meio mineral Bushnell Haas, cuja composição se encontra na Tabela 3.7, e 5 L de óleo. As placas foram, em seguida, incubadas a 30ºC durante 7 dias e o crescimento avaliado visualmente. Ao se observar alguma modificação em relação ao teste em branco, considera-se o teste como positivo. Os resultados foram expressos em NMP/g de solo seco. O teste em branco consiste da adição de meio estéril a 4 poços da placa, seguido da adição do óleo também estéril. Dessa forma, podese descontar qualquer efeito que não seja causado pela presença dos microrganismos a serem quantificados. MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 80 Tabela 3.7: Composição do Meio Mineral Bushnell Haas Componentes Sulfato de magnésio Cloreto de cálcio Fosfato de potássio monobásico Fosfato de potássio dibásico Nitrato de amônio Cloreto férrico Fonte: SIGMA, 1997. Quantidade (g/L) 0,20 0,02 1,00 1,00 1,00 0,05 A Figura 3.8 mostra a imagem dos poços utilizados para realização dos ensaios para determinação do número de bactérias degradadoras de hidrocarbonetos. A contagem se dá através da observação da alteração no óleo, é possível observar, na figura, que foi notória nas diluições de 10-2 e 10-3. Figura 3.8: Exemplo da alteração ocorrida na camada de óleo, após de 7 dias de incubação. O controle representa ausência de inóculo e os demais poços receberam 0,1 ml de inóculo previamente diluído de 10 -1 a 10-8. Todas as diluições são realizados em triplicata. 3.6.1.13 Fungos Totais Para determinação da concentração de fungos nas amostras de solo foi realizado o mesmo método descrito para as bactérias heterotróficas totais, MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 81 entretanto, o meio de cultura utilizado para crescimento desse grupo microbiano foi a gelose saboraud (Tabela 3.8), adicionado de cloranfenicol (50 ppm) (APHA, 2005). As placas foram incubadas a 30ºC durante 72 horas e após este período, as colônias foram contadas e os resultados expressos em UFC (unidade formadora de colônia) por grama de solo seco Tabela 3.8: Composição do Meio Gelose Saboraud Componentes Quantidade (g/L) Peptona de carne 10 Glicose 20 Agar-agar 17 pHinicial = 5,6±0,2. 3.6.2 Caracterização dos Vegetais 3.6.2.1 Análises Químicas nos Tecidos Vegetais Após o término dos ensaios, os vegetais retirados dos vasos correspondentes a cada tratamento, foram submetidos á análises químicas de HPA’s e metais pesados. O objetivo dessa etapa experimental é separar as diferentes partes do vegetal (raízes, folhas e caules) para se determinar a distribuição dos contaminantes nas partes do vegetal. O conteúdo de metais na biomassa vegetal foi determinado pela metodologia descrita por USEPA 6010C (1996). Previamente, o material vegetal foi seco em estufa à 60ºC, triturado em moinho de porcelana e submetido à digestão ácida, em micro-ondas (USEPA 3051B, 1996) e então submetido à espectrometria de absorção atômica. Para determinação do conteúdo de HPAs na biomassa vegetal, uma amostra representativa de tecido vegetal foi cominuída em almofariz e pistilo de porcelana juntamente com gelo seco, para evitar perdas à atmosfera, dado o caráter semi-volátil dos HPAs. Posteriormente, foi utilizada a metodologia MARTINS, C.D.C MATERIAIS E MÉTODOS 82 USEPA 3550B (1996), para obtenção dos extratos orgânicos através de ultrassom. Em seguida, foi feita a determinação dos HPAs por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa, empregando a metodologia descrita por USEPA 8270C (1996). 3.6.2.2 Determinação Mássica das Plantas Depois de se retirar o solo das raízes, as partes aérea e radicular das plantas foram lavadas, devidamente identificadas e secadas em estufa a 60°C até atingirem peso constante. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 83 CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caracterização do Solo Os testes para biotratamento de solos multicontaminados envolveram primeiramente a caracterização granulométrica, físico-química, química e microbiológica do ecossistema, de modo a permitir a definição do tipo de tratamento mais adequado (SABATÉ; VIÑAS; SOLANAS, 2004). A Figura 4.1 apresenta a curva granulométrica da amostra de solo, procedente de sistema Landfarming, coletada em julho de 2008. Os dados correspondentes à cada fração textural estão apresentados na Tabela 4.1. Devido ao seu elevado teor de partículas de areia, aproximadamente 50%, o solo pode ser classificado como franco-arenoso, segundo ABNT NBR 6502/95 (1995). Essa classificação corrobora aquela obtida de acordo com o Sistema Unificado de Classificação de Solos (USCS), GM – Areia siltosa. Ressalta-se ainda, o alto teor de finos do solo (argila e silte), totalizando 35%, o que pode favorecer fenômenos superficiais de retenção de contaminantes hidrofóbicos, como HPA e também a adsorção de elementos químicos, MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 84 principalmente os metais pesados por complexação com os grupamentos hidroxila dos filossilicatos1. Em geral, os solos arenosos, por causa da reduzida superfície específica das partículas de areiae suasfracas interações de coesão e adesão entre si, apresentam alta permeabilidade à água e porosidade, quando comparados aos solos argilosos ou siltosos (OLIVEIRA, 2008). No entanto, o solo desse estudo, devido à presença de elevado conteúdo de matéria orgânica, face ao despejo periódico de lodo da estação de tratamento da refinaria, pode sofrer alterações do perfil típico de permeabilidade à água. Ressalte-se que, em solos, a água é o meio que possibilita a mobilidade dos microrganismos, facilita ou restringe transferência de massa de nutrientes e excretas celulares, além de também atuar no processo de biodisponibilidade do oxigênio proveniente do ar atmosférico. Figura 4.1: Curva granulométrica do solo de Landfarming coletado em julho de 2008. 1 Os filossilicatosconstituem um grupo de minerais, com grande importância para a geologia, pedologia e para a indústria. São constituintes essenciais de muitas rochas metamórficas, magmáticas, sedimentares e dos solos. Resultam de processos metamórficos, magmáticos, hidrotermais, diageneticos e intempéricos, sendo usada na indústria como carga, matéria-prima para cerâmica, desodorizantes etc (MELO; ALLEONI, 2009). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 85 Tabela 4.1: Composição granulométrica (%) (ABNT NBR 6502/95) Argila Silte 2 33 Fina 23 Areia Média Grossa 18 11 Pedregulho 13 As Tabelas 4.2 a 4.4 apresentam os resultados referentes a caracterização química, físico-química e microbiológica, respectivamente, de amostras de solo coletadas, em três diferentes épocas. Tabela 4.2: Análises químicas das amostras de solo de Landfarming e valores de referência de qualidade de solo (valores expressos em miligrama do analito por quilo de solo) Ano Parâmetro 2008 2009 Legislação 2011 Resultado LH* BR* S T I Ind V total 180 142 4 - - - 1000 Ni total 109 76 295 35 123 210 130 Cd total 3 ALD 10 0,8 6,4 12,0 20 Cr total ND 76 66 100 240 380 400 Cu total 685 526 500 36 113 190 600 Pb total 528 150 586 85 308 530 900 Hg total ALD 9 7 0,3 5,2 10 70 Zn total ND 1272 1690 140 430 720 2000 P 200 200 200 - - - - N 5200 4900 3600 - - - - Matéria Orgânica 129000 99000 129000 - - - - Benzo(a)pireno 3 2 1 - - - 3,5 HPA’s Totais** 6 15 7 1,0 20,5 40,0 - HTP’s 8880 5500 2595 50 2525,0 5000 - *Valores de referência (S), de alerta (T), de intervenção (I) e (Ind) industrial para solos segundo Legislação holandesa (LH) e Resolução CONAMA 420/2009 (BR) ; ** Soma MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 86 dos 10 HPAs prioritários segundo a Legislação holandesa; ALD – abaixo do limite de detecção; ND – não determinado, (-) não estabelecido pela legislação. Tabela 4.3: Análises físico-químicas das amostras de solo de Landfarming Ano Parâmetro 2008 Legislação 2009 2011 Resultados LH* BR* S T I Ind pH 7 7 7 - - - - Umidade (%) 26 36 38 - - - - CC (%) 29 30 31 - - - - *Valores de referência (S), de alerta (T), de intervenção (I) e (Ind) industrial para solos segundo Legislação holandesa (LH) e Resolução CONAMA 420/2009 (BR) ; ** Soma dos 10 HPAs prioritários segundo a Legislação holandesa; (-) não estabelecido pela legislação. Tabela 4.4: Análises microbiológicas das amostras de solo de Landfarming Ano Parâmetro 2008 2009 Legislação 2011 LH* Resultados BR* S T I Ind BHT (UFC/g) 2 x 107 4 x 108 8 x 106 - - - - FT (UFC/g) 9 x 104 4 x106 8 x 105 - - - - BDH (NMP/g) 1 x 107 3 x 108 2 x 103 - - - - *Valores de referência (S), de alerta (T), de intervenção (I) e (Ind) industrial para solos segundo Legislação holandesa (LH) e Resolução CONAMA 420/2009 (BR) ; ** Soma dos 10 HPAs prioritários segundo a Legislação holandesa; (-) não estabelecido pela legislação; Bactérias Heterotróficas Totais (BHT); Fungos Totais (FT) e Bactérias Degradadoras de Hidrocrarbonetos (BDH). As quantidades de fósforo e nitrogênio no solo também foram determinadas nas três amostras (Tabela 4.2). A presença desses macronutrientes é fundamental para o desenvolvimento vegetal, em particular, para o girassol que é uma planta que absorve maior quantidade de MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 87 macronutrientes em comparação com outras culturas de grãos como a soja, o milho e o trigo (ROSSI, 1991; SFREDO; CAMPO; SARRUGE,1984). Analisando ainda a Tabela 4.2, observa-se que a quantidade de nitrogênio variou de 3,6 a 5,2 g/kg de solo. Avaliações experimentais indicam que a produção máxima de girassol é alcançada com 80 a 90 kg de nitrogênio/ ha; contudo, com aplicação de 40 a 50 kg de nitrogênio/ha se obtém 90% da produção relativa máxima, correspondendo à quantidade do nutriente economicamente mais eficiente (SMIDERLE; GIANLUPPI; GIANLUPPI, 2003). Sendo assim, é possível afirmar que o teor de nitrogênio encontrado nas amostras de solo está acima dos valores considerados ótimos para o desenvolvimento do girassol. Esses altos valores, possivelmente, estão associados à matéria orgânica contida no lodo da ETE da refinaria. O nitrogênio é o macronutriente aniônico exigido em maior quantidade pelas plantas (MALAVOLTA; VITTI, OLIVEIRA, 1997; MENGEL; KIRKBI, 1982; ROSSI, 1998). Em condições de nutrição adequadas, o girassol é capaz de acumular importantes quantidades de nitrogênio nas folhas e talos. A deficiência de nitrogênio leva à redução na biossíntese de bases nitrogenadas, fundamentais à síntese de material ribonucleico, levando, por fim, na paralização do crescimento e do desenvolvimento da planta (UNGARO, 1993). Por outro lado, o excesso de adubação nitrogenada, diminui o teor de óleo nas sementes, uma vez que o nitrogênio interage negativamente com a deposição de óleo (SFREDO; CAMPO; SARRUGE, 1984; VRANCEANU, 1977; ZAGONEL; MUNDSTOCK, 1991). Adicionalmente, a presença de nitrogênio em excesso aumenta a susceptibilidade ao aparecimento de doenças, principalmente a podridão branca da haste e do capítulo, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997). Lobo e Filho (2007) usaram lodo de esgoto como fonte de nitrogênio em cultivos de girassol e observaram que isto trouxe incrementos significativos na produtividade de grãos, de óleo e de matéria seca. Sendo assim, não se sugere a intervenção no processo de suplementação do solo com a biomassa do tratamento de efluentes, por poder ser importante fonte do macronutriente. Há, no entanto que se ponderar o fato de que, ao se disponibilizar outra fonte de energia que não hidrocarbonetos, poderá haver processos de biodegradação preferencial do material putrescível, oriundo da biomassa morta, MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 88 o que pode render na redução do desempenho da biodegradação dos recalcitrantes. Pode-se ainda verificar (Tabela 4.2) que o teor de fósforo não se alterou nas diferentes amostras de solo. No girassol, a absorção do fósforo ocorre até o enchimento de aquênios, isto quando não há limitação da disponibilidade do nutriente. A contribuição do fósforo remobilizado das folhas e caule para os aquênios em maturação varia de, aproximadamente, 30% a 60% (HOOCKING; STEER, 1983). O fósforo ajuda as raízes e as plântulas a se desenvolverem mais rapidamente, aumentando a resistência aos rigores do inverno, melhora a eficiência no uso da água, favorece a resistência às doenças em algumas plantas, acelera a maturidade e é importante para a colheita e a qualidade da cultura. O baixo teor de fósforo disponível no solo é uma das principais limitações ao desenvolvimento da cultura do girassol, tendo em vista que o mesmo atua na fotossíntese, na respiração, no armazenamento e na transferência de energia, na divisão celular, no crescimento das células, e em vários outros processos da planta (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997). Esses resultados corroboram as alegações de Novais et al. (2007) de solos das regiões tropicais, tipicamente, apresentam baixa disponibilidade de fósforo, limitando a produtividade das culturas. Dessa forma, a adição de fósforo é recomendada, entretanto, a quantidade a ser adicionada varia de acordo com o solo, tipo de cultura, entre outros. De acordo com Oliveira et al. (2010), o nível crítico 2 de fósforo para o cultivo de girassol em solo Vermelho Amarelo, da Paraíba, foi de 7,7 mg/dm 3. Junior et al. (2011) determinaram valor semelhante (8,2 mg/dm 3) para cultivos de girassol em solo Vermelho Amarelo Distrófico, no Paraná. Riser-Roberts (1998) indicou a relação C:N:P ideal para biodegradação de poluentes orgânicos, por via microbiana, de 100:10:1. Sendo assim, a relação C:N:P de 100:3:0,2, expressa em valores médios, referente às três amostragens de solo estão em desacordo com o proposto pela literatura. Desse modo, a adição de nitrogênio e fósforo deve ser estudada a fim de 2 É o teor de nutriente no solo a partir do qual não mais haveria resposta à adubação. Neste caso, a adubação seria apenas aquela para repor o que a cultura iria retirar, mantendo-se a fertilidade do solo (BORKERT; LATMANN, 1987). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 89 estabelecer o equilíbrio entre os macronutrientes, objetivando favorecer o metabolismo microbiano e ainda o desenvolvimento do vegetal no solo em questão. Independente da campanha de amostragem, em geral, as amostras de solo apresentaram quantidades de metais pesados e acima dos valores de referência (S) (Tabela 4.2). De acordo com a Legislação Holandesa (2000), os valores de referência (S) indicam um nível de qualidade do solo e da água subterrânea que permite considerá-los “limpos”, considerando-se a sua utilização para qualquer finalidade. Já o valor de intervenção (I) indica um nível de qualidade do solo acima do qual existem riscos para a saúde humana e para o ambiente. A ultrapassagem desse valor (média) em um volume de solo de 25 m3 ou em 100 m3 de água subterrânea, indica a necessidade de implementação na área avaliada de ações voltadas para a sua remediação. Finalmente, o valor de alerta (T) é um valor médio entre os dois primeiros S e I. Ele indica que já ocorreu certa alteração que diminuiu, ainda que pouco, as propriedades funcionais do solo, sendo necessária uma investigação detalhada na área para quantificação dessa alteração (CETESB, 2001). As quantidades de metais pesados estarem acima dos valores S (Tabela 4.2), significa que podem ocorrer potenciais riscos ao meio ambiente, logo, pode-se aferir que existe a real necessidade de realizar alguma forma de intervenção na área. De acordo com a legislação federal brasileira (BRASIL, 2009) os valores de referência de qualidade de solo dependem do uso pretendido. Menores valores de concentração de metais são admitidos para solos cujos usos pretendidos são as atividades agrícolas. Os maiores valores, para o uso industrial e os intermediários, para solos que se pretendem realizar atividades residenciais. A análise da Tabela 4.2 permite verificar que alguns dos valores de concentração dos metais analisados (Ni, Cu) encontram-se acima daqueles de referência para solos de áreas industriais. Sendo assim, a legislação obriga a intervenção no sítio, objetivando a reabilitação ao uso pretendido do local. O efeito sinérgico ou antagônico, entretanto, da presença de vários elementos químicos não é abordado na Legislação Holandesa, tampouco na Brasileira, justificando, assim, esse estudo. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 90 Duas das três amostras de solo analisadas também apresentaram teores de hidrocarbonetos totais de petróleo (HTPs) acima dos valores de intervenção (I) da Lista Holandesa (2000) (Tabela 4.2). Entretanto, é importante ressaltar que o teor de HTP é um parâmetro que, por si só, não pode ser empregado para avaliar o risco à saúde humana e ao meio ambiente, visto que engloba diferentes tipos e concentrações de compostos extraíveis pelo diclorometano (WEISMAN, 1998). No entanto, pode servir como uma ferramenta útil para identificação de uma contaminação, avaliação do grau de contaminação e avaliação do progresso de uma contaminação. A análise dos cromatogramas apresentados nas Figuras 4.2, 4.3 e 4.4 revela diferenciados perfis de hidrocarbonetos presentes nas amostras coletadas em 2008, 2009 e 2011, respectivamente. A análise dos perfis cromatográficos dos extratos orgânicos do solo (empregando CH 2Cl2) permitiu verificar que, somente, aproximadamente 20% dos compostos apareceram como hidrocarbonetos resolvidos de petróleo (HRP) e 80% dos compostos, como uma mistura complexa não resolvida (MCNR). Em ambos os casos, eluindo majoritariamente na faixa do óleo lubrificante (>C20). Verifica-se, ainda, que nem pristano nem fitano foram detectados nos extratos. A ausência dos isoprenoides pristano e fitano, a abundância de compostos como MCNR e a elevação da linha de base dos cromatogramas informam que houve processo de intemperismo dos contaminantes orgânicos do solo. Entende-se como intemperismo a ação de variáveis como exposição à luz, evaporação, biodegradação e outros fatores, ao longo de um espaço de tempo, sobre o contaminante (NASCIMENTO; OLIVEIRA; de FRANÇA, 2013). O intemperismo rende na remoção das moléculas mais leves e das mais facilmente degradáveis rendendo na permanência de compostos de mais difícil degradação (química ou biotecnológica), que são denominadas de recalcintrantes ou persistentes, incrementando sobremaneira a problemática para o tratamento. Pela análise da Tabela 4.2 pode-se inferir que as concentrações de matéria orgânica são muito superiores às de HTP, o que pode ser explicado pela disposição frequente de material biológico, proveniente da estação de tratamento de efluentes industriais da refinaria, que opera com sistema de lodo ativados, no sistema Landfarming em questão. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 4.2: Perfil cromatográfico mostrando a mistura complexa de hidrocarbonetos de petróleo na amostra de solo coletada em 2008. 91 MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 4.3: Perfil cromatográfico mostrando a mistura complexa de hidrocarbonetos de petróleo na amostra de solo coletada em 2009. 92 MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 4.4: Perfil cromatográfico mostrando a mistura complexa de hidrocarbonetos de petróleo na amostra de solo coletada em 2011. 93 MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 94 O teor de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) totais está apresentado na Tabela 4.2. Note-se que as quantidades de HPAs, assim como as quantidades dos metais, estão muito acima dos valores de referência (S) estipulados pela Legislação Holandesa. Os HPAs são bastante resistentes à degradação, sendo o seu tempo de meia-vida em solo bastante grande, de acordo com estimativa de vários pesquisadores. Dependendo do composto, o tempo pode variar de meses a 28 anos (WILD et al., 1990; TRAPIDO,1999). O valor da concentração de benzo(a)pireno foi muito próximo do limite de intervenção para solos de áreas industriais, de acordo com a Legislação Brasileira (BRASIL, 2009) que também justifica o estudo. Ressalte-se que o solo do Landfarming apresenta uma mistura hidrocarbonetos de elevada complexidade, sugerindo que nele, a atividade dos microrganismos autóctones com capacidade de degradar contaminantes orgânicos estaria limitada. Sabe-se que moléculas recalcitrantes, devido a sua estrutura química, tendem a ser biodegradadas lentamente e, por consequência, a se acumular no solo, comprometendo a sobrevivência de várias espécies microbianas (HENCKLEIN et al., 2007). Além disso, as interações abióticas podem ter papel fundamental nos processos biológicos, visto que podem modificar a capacidade de biotransformação dos hidrocarbonetos e o tempo de permanência deles no solo, tornando-os indisponíveis para os microrganismos (SABATÉ; VIÑAS; SOLANAS, 2004). Os HPAs podem ser removidos por oxidação química, fotólise volatilização, bioacumulação, adsorção de partículas sólidas, lixiviação e biorremediação, processo que tem apresentado crescente destaque na descontaminação de HPAs no meio ambiente (REDDI, 2000; RISERROBERSTS, 1998). Diversos trabalhos apontam o uso de fitorremediação em solos contaminados com diferentes HPAs por diversas plantas: Salix exigua, Populus sp., Tripsacum dactyloides, Sagitaria latifolia, Panicum virgatum e Carex stricta (EULISS et al., 2008); Aegiceras corniculatum (TAM; WONG, 2008); Lolium perene (REZEK et al., 2008); Zostera marina (HUESEMANN HAUSMANN; FORTMAN, 2009); Festuca arundinacea, F. elata e F. gigantea (LIU et al., 2014). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 95 No que tange ao conteúdo de água, os valores determinados (variando entre 0,26 e 0,38 kg/kg de solo) (Tabela 4.3) se apresentam adequados ao cultivo de girassol. De acordo com a literatura, o teor de água disponível para o desenvolvimento do girassol deve ser em torno de 0,2 kg/kg de solo (KLEIN; REICHERT; REINERT, 2006). Note-se que os conteúdos de água determinados são considerados elevados para solos arenosos (EMBRAPA, 2006). O alto teor de água pode ser atribuído ao frequente descarte de lodos biológicos, contaminados com óleo, provenientes da estação de tratamento de efluentes industriais (ETDI) da refinaria no solo, além da presença de hidrocarbonetos que pode ainda ter contribuído para a coesão das partículas de areia, levando à redução da permeabilidade do solo. Tem-se também que considerar o alto índice pluviométrico da região, nos períodos das coletas, bem como a presença de uma vegetação natural (Figura 4.5), no Landfarming, que pode ter contribuído para proteger o solo da incidência direta dos raios solares e dos ventos, minimizando as perdas de água por evaporação (NEVES; VERSIANI; RODRIGUES, 2007). Figura 4.5: Foto da área do Landfarming, mostrando a presença de vegetação nativa. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 96 Segundo Reganold, Papendick e Parr (1990), ainda existe a possibilidade de haver retenção de água no solo pela agregação das suas partículas, em virtude da produção de substâncias poliméricas (exopolisacarídeos, EPS) pelos microrganismos autóctones. Neste caso, os hidrocarbonetos serviriam como fonte de carbono para a síntese de EPS. Portanto, a presença de hidrocarbonetos pode ter contribuído para o aumento da capacidade retenção de água do solo, o que, por sua vez, permitiria o uso de menor quantidade de água para irrigação dos plantios em campo. Mais do que a umidade, a avaliação da capacidade de campo 3 (CC) é importante para o manejo da irrigação. Este parâmetro depende da ação conjunta de vários fatores, particularmente, das características do solo (BEUTLER et al., 2002). Portanto, a CC varia de solo para solo, dependendo, principalmente, da quantidade e natureza da fração argila (ARRUDA, ZULLO; OLIVEIRA, 1987). Por exemplo, a quantidade de água disponível é maior em solos argilosos e em solos que possuem alto conteúdo de húmus e muito menornos solos arenosos (EMBRAPA, 2006). Logo, os valores de CC de 29 a 31%, determinados para o solo do Landfarming, sugerem uma característica diferente às apresentadas comumente pelos solos arenosos. Sobrinho, Tieppo e Silva (2011) indicaram que a faixa de umidade ideal para o desenvolvimento de girassol é de 70 a 80% da CC, ou seja, o solo de Landfarming utilizado se apresenta adequado ao desenvolvimento do ensaio de fitorremediação. O pH das amostras, embora coletadas em períodos distintos, apresentaram valores dentro da faixa ótima (6,5 a 8,0) quer para a atividade microbiana (RISER-ROBERTS, 1998), quer para o desenvolvimento de vegetais (NACIMENTO et al., 2004), particularmente o girassol (AMABILE; GUIMARÃES; FARIAS NETO, 2003). Segundo Lira et al. (2009), o girassol demanda pH na faixa de 5,2 a 7,0. Sendo assim, não foi necessário realizar a calagem do solo para a correção do pH. No que tange a caracterização microbiológica do solo, foi realizada a enumeração 3 de microrganismos cultiváveis, heterotróficos totais e É a quantidade de água retida pelo solo depois que o excesso tenha drenado e a taxa de movimento descendente tenha decrescido acentuadamente, o que geralmente ocorre dois a três dias depois de uma chuva ou irrigação em solos permeáveis de estrutura e textura uniformes (VEIHMEYER; HENDRICKSON, 1931; 1949). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 97 degradadores de hidrocarbonetos (Tabela 4.4). A análise da tabela revela elevada concentração de bactérias heterotróficas nas amostras de solo, nas diferentes amostragens realizadas (> 106 UFC/g de solo). Isto demonstra que o sítio apresenta potencial para degradação de hidrocarbonetos por via microbiana, quer associadas aos vegetais, ou independentemente. Contudo, a complexidade dos hidrocarbonetos presentes, como revelado pela análise cromatográfica (Figuras 4.2 a 4.4), sugere reduzida metabolização de hidrocarbonetos com maior recalcitrância. Nas amostras de solo coletadas em 2008 e 2009, aproximadamente 50 e 75%, respectivamente, da população bacteriana heterotrófica total era degradadora de hidrocarbononetos, o que indica seleção de espécies potencialmente degradadoras destas substâncias. No entanto, na amostragem de 2011, houve um decréscimo expressivo do número de BDH no solo, provavelmente, devido a menor quantidade de HTP no solo e de metais pesados, com destaque para o níquel (Tabela 4.2). A introdução de óleo cru no solo, de forma acidental ou intencional, provoca aumento do número de microrganismos com capacidade de degradação de hidrocarbonetos e, consequentemente, a elevação da atividade microbiana nesse ambiente. Isso ocorre, porque os microrganismos autóctones podem adaptar-se aos diferentes compostos, e sofrer alterações genéticas resultando em seleção natural. Em solos não contaminados, menos de 1% da população microbiana nativa apresenta capacidade para degradar hidrocarbonetos de petróleo, enquanto esse valor pode atingir de 1 a 10% do total dos microrganismos autóctones cultiváveis em ambientes terrestres contaminados por óleo cru (ATLAS, 1991). Segundo Bhatnagar e Fathepure (1991), existe uma variedade de espécies microbianas capazes de metabolizar hidrocarbonetos em solos. Contudo, a eficiência da biodegradação de hidrocarbonetos depende da interrelação entre diferentes espécies já que a tolerância a substâncias tóxicas e à capacidade degradativa de compostos xenobióticos, na maioria das vezes, requer a associação de diferentes enzimas e fatores físico-químicos (ALHADHRAMI; LAPPIN-SCOTT; FISHER, 1995). Alguns autores observaram que bactérias e fungos são os principais responsáveis pela biodegradação de substâncias não-hidrossolúveis, e que a MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 98 presença de surfactantes favorece a ação dos biodegradadores (BOTTURA, 1994; KATAOKA, 2001). No presente trabalho, pode-se constatar a presença de culturas fúngicas, embora em número inferior ao de bactérias, o que corrobora a importância da coparticipação desses dois grupos microbianos no processo de biodegradação de compostos recalcitrantes. As bactérias, em geral, são tidas como mais importantes pelo seu metabolismo ser mais rápido. No entanto, os fungos apresentam potencial para degradar hidrocarbonetos aromáticos policíclicos de alta massa molar e; inclusive, outros compostos orgânicos recalcitrantes, uma vez que são dotados de complexos sistemas enzimáticos, com capacidade de síntese e excreção de diversas enzimas extracelulares (ATAGANA, 2006). Alguns trabalhos já avaliaram a importância dos fungos na remediação de solos contaminados (ATAGANA, 2006; WINQUIST et al, 1014; MARCO-URREA;GARCÍA-ROMERA; ARANDA, 2015). Trabalhos que demonstraram a eficácia da biorremediação no tratamento de solos contaminados com hidrocarbonetos reportam números de BHT, BDH e fungos variando de 105 a 108, 103 a 108 e de 102 a105 NMP/g de solo, respectivamente. Logo, pode–se concluir que o solo desta pesquisa apresenta características microbiológicas adequadas para implementação do tratamento biológico. 4.2 Seleção de Cultivar de Helianthus annuus Nesta etapa, foram feitos testes comparativos com os quatro cultivares de girassol visando verificar o desempenho para a fitorremediação do solo multicontaminado (com hidrocarbonetos e metais pesados). Paralelamente, foram conduzidos ensaios em solo comercial (ECOFARM, Itaúna, MG) não contaminado (ensaio controle biótico) a fim de verificar algum comportamento diferenciado do crescimento dos cultivares de girassol em relação aos ensaios de fitorremediação. Primeiramente, estão apresentados na Figura 4.6 os resultados dos percentuais de germinação das sementes dos quatro cultivares comerciais de girassol ensaiados (H2, M, P e H3) tanto em solo multicontaminado (Landfarming) como não contaminado (ensaios controle biótico). % de germinação MARTINS, C.D.C. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 RESULTADOS E DISCUSSÃO a a a a 99 a b c H2 c M Solo Não contaminado P H3 Solo Multicontaminado Figura 4.6: Germinação dos cultivares de Helianthus annuus em solo não contaminado (ensaios controle) e multicontaminado (Landfarming). Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). Note-se que a germinação das sementes dos quatro cultivares testados, ocorreu 7 dias após o plantio no solo contaminado, sendo que algumas germinaram em apenas 4 dias. Tejeda-Agredano et al. (2012) também observaram germinação de todas as sementes plantadas em solo argiloso proveniente de uma unidade industrial de processamento de madeira, com registro de contaminação com creosoto4 há mais de 100 anos. Porém neste caso, a germinação ocorreu no intervalo de 15 dias. A análise comparativa dos dados obtidos revela que os cultivares H2 e H3 foram os mais eficientes, no que concerne à germinação (Figura 4.6). Ainda analisando a figura, nota-se que a germinação destes dois cultivares foi máxima tanto no solo multicontaminado, quanto no solo isento de contaminantes. Interessante destacar que o cultivar P teve um comportamento melhor no solo multicontaminado em relação ao solo não contaminado, enquanto que o desempenho do cultivar M foi maior no solo não contaminado (controle). 4 Substância gordurosa com odor de fumaça e gosto de queimado, produzido por tratamento a alta temperatura de madeiras. Contém cresóis e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos que são carcinógenos. Tem sido amplamente utilizado como conservante de madeira e em pesticidas. Inicialmente foram utilizados em desinfetantes, laxativos e agentes dermatológicos (LENSON, 1956). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 100 Com o conjunto de dados obtidos com o Teste de Tukey, é possível verificar que os experimentos marcados com letras distintas são estatisticamente diferentes, a um nível de significância de 5%. De acordo com este teste, numa mesma coluna, as médias marcadas com letras em comum não diferem entre si. Nesses testes, o coeficiente de variação (CV), obtido através do teste de médias de Tukey (p≤ 0,05), foi de 0,8%. O coeficiente de variação relaciona o desvio padrão em termos de porcentagem da média aritmética. Os pesquisadores utilizam o coeficiente de variação para comparar a variabilidade de seus resultados. Ele é sempre expresso em porcentagem, e dá uma ideia da precisão do experimento, isto é, quanto menor o coeficiente de variação, maior a precisão. De acordo com a classificação5 de Pimentel-Gomes (2000) para os ensaios agrícolas, o valor de CV de 0,8% é considerado baixo, ou seja, o conjunto de dados obtidos são estatisticamente significativos. Os resultados obtidos demonstram a resistência do girassol, em particular os cultivares H2 e H3. Segundo Talamini et al. (2011), percentuais de germinação superiores à 70% são considerados bons. No presente estudo, este índice é ainda mais, uma vez que o solo contem hidrocarbonetos e metais pesados em grande quantidade. De acordo com trabalho realizado por Arnuti et al. (2003), foi constatado que o girassol se desenvolve e se adapta a diferentes condições ambientais, podendo tolerar temperaturas baixas (SILVA et al., 2007) e estresse hídrico. No entanto, os maiores índices de germinação estão relacionados à qualidade fisiológicas dos aquênios. No decorrer dos 40 dias de ensaio, todos os cultivares ensaiados apresentaram crescimento semelhante, com perfil linear. A altura média dos indivíduos, ao final dos cultivos foi de, aproximadamente, 305 cm, independentemente do cultivar. Ao término do período experimental, as partes aéreas foram desbastadas, secas e pesadas. A Figura 4.7 apresenta os dados de biomassa seca, expressos em valores médios, para plantios em solo multicontaminado e não contaminado (controle). Os valores de biomassa obtidos (2,7 – 4,3 g / 5 Classificação dos CV de Pimentel-Gomes (2000) para ensaios agrícolas:baixo, quando inferior a 10%; médio, entre 10 e 20%; alto, entre 20 e 30%; e muito alto, superior a 30 MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 101 indivíduo) estão dentro da faixa encontrada na literatura. A literatura reporta faixas muito amplas para os valores de biomassa seca de girassol em ensaios de fitorremediação. Por exemplo, Romeiro (2005), encontrou entre 1 e 2,5 g de biomassa seca (soma da massa da raiz e partes aéreas) em ensaios de fitoextração de chumbo, em hidroponia. Já Lin et al. (2009) observou massas de plantas de girassol cultivadas em solos contendo diferentes concentrações Biomassa (g) chumbo, variando entre 17,5 e 22,5 g / indivíduo, em ensaios de 60 dias. 5,00 4,50 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 a a b b c d H2 d d M Solo Não contaminado P H3 Solo Multicontaminado Figura 4.7: Variação da massa média das partes aéreaspara cultivares de girassol, decorridos 40 dias de crescimento em solos multicontaminado (Landfarming) e não contaminado por indivíduo. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). Com o conjunto de dados obtidos com o teste de Tukey (p≤0,05), foi possível verificar um coeficiente de variação de 2,09%, o que indica que os dados obtidos possuem significância estatística, o que permite uma análise criteriosa. Assim, pode-se concluir que o desenvolvimento dos cultivares P, M e H3 foi semelhante em solo não contaminado e em solo multicontaminado. Já o cultivar H351, produziu maior quantidade de biomassa no cultivo em solo multicontaminado. A produção de biomassa em solo multicontaminado ocorreu de maneira crescente na seguinte ordem: M < H2< H3 < P. Comparativamente, o cultivar M MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 102 apresentou o pior desempenho, tanto nos ensaios de germinação quanto de desenvolvimento, em solo multicontaminado. O cultivar P apresentou o maior crescimento, embora a germinação tenha sido inferior aos cultivares H3 e H2. Em termos de avaliação global, o desempenho do cultivar H3 mostrou-se mais eficiente no solo multicontaminado. As biomassas vegetais (partes aéreas) também foram avaliadas quanto ao conteúdo de metais (V, Ni, Pb, Cd, Cu) (Tabela 4.5). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p≤0,05) e os coeficientes de variação foram obtidos para cada metal: vanádio (3,23%), níquel (4,25%), chumbo (6,82%), cádmio (2,79%) e cobre (7,44%). Todos os conjuntos de dados dos metais analisados apresentam significância estatística. Pode-se evidenciar a presença de todos os metais encontrados no solo nas biomassas dos diferentes cultivares. Note-se que as maiores e menores extrações, cobre e cádmio, respectivamente, foram dependentes dos teores desses metais no solo (Tabela 4.2). No entanto, a extração dos demais metais não pode ser relacionada com a proporção dos mesmos no solo, sendo, majoritariamente, dependente do cultivar empregado. As maiores extrações foram determinadas para o cultivar H3. Sung, Lee e Lee (2011) estudaram o acúmulo de cobre, níquel e cromo em diversas plantas, incluindo girassol, em ensaios de fitorremediação com rejeito da siderurgia. Os autores encontraram concentrações de Cu, Ni e Cr nos tecidos vegetais de 25-50, 25-80 e 50-80 mg/kg, respectivamente. Turgut, Pepe e Cutright (2004) avaliaram o acúmulo de Cr, Ni e Cd em dois diferentes cultivares de girassol, teddy bear e dwarf sunspot. Os dois cultivares apresentaram concentrações de Cr, Ni e Cd em seus tecidos vegetais de aproximadamente 0,19; 0,0065 e 0,12 mg/g, respectivamente. Assim, infere-se que a acumulação dos metais no tecido vegetal é heterogênea, corroborando o relato de Becker et al. (2008), que usaram espectrometria de massa por ionização acoplada por plasma com ablação a laser (LA-ICP-MS) para mostrar do acúmulo de diferentes elementos (Mg, Fe, Mn, Zn, Cu, Cd, Rh, Pt e Pb) em folhas, caule e raízes de plantas de tabaco. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 103 Tabela 4.5: Concentração de metais (V, Ni, Pb, Cd e Cu) nas partes aéreas dos diferentes cultivares de girassol após 40 dias de ensaio de fitorremediaçãoem solo contaminado de Landfarming (mg/kg) Metais H2 P M H3 Vanádio 0,5 ± 0,07b 0,5 ± 0,07b 0,5 ± 0,07b 7,4 ± 0,3a Níquel 2,6 ±0,15c 1,7 ±0,14d 3,4 ±0,16b 5,6 ±0,17a Chumbo 2,6±0,16b 0,5±0,14d 1,7±0,15c 3,5±0,17a Cádmio 0,051± 0,0014a 0,051± 0,0014a 0,052 ± 0,0014a 0,049 ± 0,0014a Cobre 21 ± 1,41ab 14 ± 1,41c 16 ± 1,41bc 25 ± 1,41a Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 104 As amostras de solo retiradas dos vasos, ao final dos 40 dias de ensaio, também foram analisadas, a fim de avaliar a remoção de metais (Figura 4.8) e hidrocarbonetos (Figuras 4.9 e 4.10) além do número das principais populações microbianas autóctones (Figuras 4.11 a 4.13) É importante enfatizar que na Figura 4.8 (A a E) estão apresentados os percentuais de remoção de metais pesados (vanádio, níquel, chumbo, cádmio e cobre) pelas quatro linhagens de girassol, levando em consideração as perdas nos reatores de controle biótico e abiótico (remoção de 0%). Com o conjunto de dados obtidos com o Teste de Tukey (p≤0,05), foi possível verificar um coeficiente de variação de 2,12; 1,57; 1,8; 0,71 e 1,31% para V, Ni, Pb, Cd e Cu, respectivamente. Analisando a Figura 4.8 pode-se observar que houve remoção dos metais pesados analisados pelos diferentes cultivares de girassol, embora os percentuais tenham variado de acordo o metal analisado e o cultivar empregado. Comparativamente, a maior remoção de vanádio do solo, de cerca de 40% foi alcançada pelo emprego dos cultivares H3 e P. No caso do chumbo, os cultivares H3 e H2 foram os mais eficientes, obtendo-se remoções superiores a 50%. Já para o cobre, os quatro cultivares permitiram remover mais de 40% deste metal contido no solo, sendo o melhor desempenho o observado para H2 (73,8%). É importante destacar que o cobre e o chumbo foram os elementos encontrados em maior concentração no solo (Tabela 4.2). A remoção de cádmio foi igual para os quatro cultivares testados, alcançandose 100%, provavelmente devido ao seu baixo teor inicial no solo de 3,2 mg/kg (Tabela 4.2). Para a remoção de níquel pode-se observar comportamento semelhante, embora a remoção tenha variado entre 40 e 50%. A análise global das remoções de metais permite indicar que o cultivar M como o menos eficiente, enquanto o melhor desempenho pode ser atribuído ao cultivar H3, considerando o tipo e a concentração dos metais no solo e a toxicidade além dos percentuais de remoção. Marques et al. 2013 observaram que diferentes concentrações de cádmio (0, 10, 20 e 30 mg/kg) aplicadas ao solo levaram a diferenças no acúmulo do metal na raízes e folhas de girassol, após 140 dias de ensaio. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO (A) 105 (B) a a a ab c b b 0 10 20 ab 30 40 50 60 70 80 90 100 0 Remoção de vanádio (%) 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Remoção de níquel (%) (C) (D) a a c a d a b 0 10 20 a 30 40 50 60 70 80 90 100 0 Remoção de chumbo (%) 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Remoção de cádmio (%) (E) b c c a 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Remoção de cobre (%) H2 M P H3 Figura 4.8: Remoção percentual de (A) vanádio; (B) níquel; (C) chumbo; (D) cádmio e (E) cobre do solo após 40 dias de crescimento dos cultivares H2, P, M e H3. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 106 Existem diversos trabalhos nesta área de pesquisa. Alguns trabalhos encontrados que apresentam dados referentes à análise de metais no solo cultivado com girassol estão citados a seguir. Usman e Mohamed (2009) observaram o efeito da adição de EDTA e da inoculação de diferentes culturas fúngicas às raízes de girassol. Após 60 dias de ensaio, observaram remoções de Cu (24 a 31%), Cd (24 a 34%) e Pb (6 a 15%),em solo artificialmente contaminado. Em estudo anterior publicado por Chen, Li e Shen (2004) foi estudado o efeito da adição de EDTA na fitorremediação de metais por girassol. Após 53 dias de fitorremediação foram obtidos percentuais de remoção de Cu (16%), Cd (23%) e Pb (4%). Dessa forma, pode-se concluir que os resultados obtidos nesse trabalho, com diferentes cultivares brasileiros de girassol são promissores como fitorremediadores de metais, mesmo quando cultivados em solo cocontaminado com hidrocarbonetos. A fitorremediação de metais na ausência de hidrocarbonetos, já foi amplamente documentada por diferentes autores (CINDY et al., 2006; NIU et al., 2007; FASSLER et al., 2010; ROJAS-TAPIAS; BONILLA; DUSSAN, 2012). A Figura 4.9 apresenta o valor inicial de hidrocarbonetos totais do petróleo (HTPs) no solo e os determinados após 40 dias do plantio dos cultivares de girassol estudados. Para esta variável, o coeficiente de variação obtido através da análise das médias (Teste de Tukey, p≤0,05) foi de 1,86%. Similarmente, os cultivares H2, M e P levaram a uma redução de cerca de 10% do conteúdo de HTPs no solo; consideradas nos cálculos, as perdas referentes aos controles biótico e abiótico,. Já o cultivar H3 alcançou uma remoção de 15%. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 107 9500 HTP (mg/Kg) 9000 8500 a 8000 a a b 7500 7000 6500 Inicial H2 M P H3 Figura 4.9: Teores de hidrocarbonetos totais do petróleo (HTP) nos solos antes e após 40 dias do crescimento de diferentes cultivares de Helianthus annuus. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). Siciliano e Germida (1998) observaram uma redução de cerca de 21% na concentração de HTP em ensaios de fitorremediação utilizando espécies forrageiras. Entretanto, esses resultados foram alcançados somente após 20 meses de tratamento para solo contaminado unicamente com hidrocarbonetos. Mais recentemente, Moreira et al. (2012) observaram um decréscimo de 12% no teor de HTP em sedimento de manguezal após 90 dias de fitorremediação com Rizophora mangle L, também contaminado exclusivamente com hidrocarbonetos de petróleo. Assim, os resultados apresentados no presente trabalho são promissores e inovadores, pois demonstram a remoção concomitante de hidrocarbonetos e metais pesados de um solo real, proveniente de área industrial. A Figura 4.10 apresenta a remoção da percentual de benzo(a)pireno (B(a)P), levando-se em consideração as perdas nos controles biótico e abiótico. Foi realizada apenas a análise deste HPA, uma vez que sua concentração inicial no solo representava 50% do total dos HPAs. Além disso, B(a)P é um HPA de alta massa molecular, de reconhecida persistência no solo, MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 108 com valores de meia-vida variando de meses a até muitos anos (WILD et al., 1990; TRAPIDO, 1999). Os metabolitos oriundos de B(a)P são considerados mutagênicos e altamente carcinogênicos, classificados no grupo carcinogênico 1 pelo IARC (International Agency for Research on Cancer). As médias dos valores percentuais obtidos também foram analisadas pelo teste de Tukey (p≤0,05) e o coeficiente de variação determinado foi de 0,19%. Remoção de B(a)P (%) 60 a b 50 40 c 30 d 20 10 0 H2 M P H3 Figura 4.10: Remoção percentual de benzo(a)pireno do solo, após 40 dias de cultivo de diferentes cultivares de girassol (H2, M, P e H3). Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). Os valores de remoção consideram as perdas nos controles biótico e abiótico. Observando a Figura 4.10, evidencia-se que os quatro cultivares foram capazes de remover B(a)P do solo, entretanto a remoção variou de acordo com o cultivar empregado. O cultivar H3 foi o mais eficiente, com remoção de 52,1%, seguido do M (47,7%), H2 (32,1%) e P (18,3%). Trabalho publicado por Tejeda-Agredano et al. (2012) é o único encontrado na literatura que relata o girassol influenciando a biodegradação de HPAs. Em seus ensaios, os autores investigaram a participação da comunidade rizosférica do girassol na metabolização de fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno e criseno presentes no solo. Os seus resultados demonstraram que a presença do girassol levou a acréscimos de 17 e 22% na MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 109 biodegradação dos HPAs (total), após 45 e 90 dias, respectivamente, em comparação aos ensaios sem girassol. Dentre os HPAs estudados, o que se mostrou mais resistente à degradação foi o criseno, tanto nos ensaios com girassol como na sua ausência. Entretanto, o uso de girassol contribuiu de maneira importante para a degradação deste HPA, uma vez que a degradação passou de 8% para 46%, com 45 dias e de 11% para 49%, com 90 dias. Liste e Alexander (2000) realizaram ensaios de fitorremediação, com duração de 56 dias, com os cereais Avena sativa e Brassica napus var. radícola resultando na redução do pireno em 55,4 e 73,5%, respectivamente, dos quais 18% foram referentes a atividade microbiana e as perdas abióticas (ensaios controle). Através do cultivo das ervas Anethum graveolens, Capsicum annuum e Raphanus sativus, os mesmos autores encontraram decréscimos na concentração de pireno variando entre 51,2 e 66,9% após 28 dias de fitorremediação, dos quais apenas 6,7% correspondiam às perdas nos ensaios controle. Posteriormente, Sun et al. (2011) investigaram a capacidade de Tagetes patula de fitorremediar solo exclusivamente contaminado com diferentes quantidades de B(a)P (2, 5, 10 e 50mg/kg). Após 92 dias, os autores observaram remoções B(a)P de cerca de 10%, independentemente da concentração inicial do HPA, pela atividade do vegetal na zona das raízes. Em ensaios realizados com solo co-contaminado com B(a)P e metais (Cd, Cu e Pb) em duas diferentes concentrações foi observado que a planta foi capaz de remover entre 78,2 e 92,9% do B(a)P. Segundo os autores, os resultados sugerem que a planta apresenta elevada tolerância para B(a)P, mesmo quando associado a metais de reconhecida toxicidade (COURBOT et al., 2004). Mais recentemente, Wang et al. (2014) avaliaram a fitorremediação de um sedimento retirado de manguezal e contaminado artificialmente com diferentes HPAs, entre eles o B(a)P. Os cultivos de 60 dias com três plantas típicas de manguezal (Kandelia obovata, Bruguiera gymnorrhiza e Avicennia marina) resultaram em remoções de B(a)P variando de 50 e 85%, aproximadamente. Nesse estudo, é possível evidenciar que a remoção de B(a)P por K. obovata aumenta linearmente com o aumento da concentração inicial do HPA (3 – 24 mg/kg), comportamento distinto foi observado para os MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 110 outros dois vegetais testados, para as quais a partir de uma determinada concentração do HPA tem-se um decréscimo da remoção. Solos contaminados com HPAs freqüentemente contem altas quantidades de outros poluentes, como metais pesados, em face do descarte de rejeitos de processos industriais, geração de energia e resíduos de incineração (KRISHNA; GOVIL, 2008). Logo a capacidade de um vegetal de remover poluentes de solos co-contaminados com materiais orgânicos e inorgânicos é uma vantagem. Portanto, os resultados obtidos no presente trabalho indicam que é possível realizar o tratamento biológico do solo multicontaminado proveniente de um ambiente industrial pelo emprego dos cultivares brasileiros. Ao contrário da matéria orgânica, os metais não podem ser degradados por via microbiana, logo a remoção de metais pesados requer a sua fitoextração dos solos contaminados pelas plantas (ZOU; SONG, 2004; SUNG; LEE; LEE, 2011). Ao final dos ensaios de fitorremediação, o solo também foi analisado microbiologicamente para avaliação das populações relevantes no processo de biodegradação de poluentes orgânicos. Os valores médios das quantificações de bactérias heterotróficas totais (Figura 4.11), bactérias degradadoras de hidrocarbonetos (Figura 4.12) e fungos totais (Figura 4.13) foram analisados comparativamente pelo Teste de Tukey (p<0,05) e obtiveram coeficientes de variação de 11,97; 7,42 e 1,19% respectivamente. A quantidade microrganismos desses grupos microbianos, nos ensaios controle biótico (solo multicontaminado não plantado), também foi determinada, entretanto, os valores permaneceram próximos aos determinados inicialmente, conforme ilustra a Tabela 4.4. Em relação ao número inicial de bactérias heterotróficas totais (Figura 4.11) presentes no solo, nos ensaios em que foram semeados os cultivares H2 e M, houve um acréscimo de uma ordem de grandeza. Porém, a população de BHT praticamente não se alterou nos solos em que foram realizados os plantios dos cultivares H3 e P, que, inclusive, não apresentaram diferença estatística entre si. Contudo, houve redução da população de BHT no ensaio controle biótico. Portanto, aparentemente, o crescimento dos cultivares, em MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 111 especial, H2 e M favoreceu, de alguma forma, o metabolismo desse grupo microbiano. a Bactérias Heterotróficas Totais (UFC/g) 1,00E+09 b 1,00E+08 c c 1,00E+07 1,00E+06 1,00E+05 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 inicial H2 M P H3 Figura 4.11: Bactérias heterotróficas totais presentes nas amostras de solo antes e ao final do cultivo dos cultivares de girassol.Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). UFC – unidades formadoras de colônia. Bactérias Degradadoras de Hidrocarbonetos (NMP/g) 1,00E+09 a 1,00E+08 b b M P c 1,00E+07 1,00E+06 1,00E+05 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 inicial H2 H3 Figura 4.12: Bactérias degradadoras de hidrocarbonetos presentes nas amostras de solo antes e ao final do cultivo dos cultivares de girassol.Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). NMP – número mais provável. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO a Fungos Totais (UFC/g) 1,00E+07 b 112 c d 1,00E+06 1,00E+05 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 inicial H251 Morgan Paraiso H358 Figura 4.13: Fungos totais presentes nas amostras de solo antes e ao final do cultivo dos cultivares de girassol. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). UFC – unidades formadoras de colônias. A população de bactérias degradadoras de hidrocarbonetos (Figura 4.12), no solo, aumentou em relação ao início do cultivo com girassol. A variação do número dessas bactérias respeitou a seguinte ordem crescente: H3 < P = M < H2, com ordem de grandeza variando entre 107 e 108 NMP/g de solo seco. Portanto, os resultados indicam que a presença de girassol, de alguma forma, incrementou a população dessas bactérias. Ainda é possível observar que a relação de BHT e BDH foi mantida após os cultivos com girassol. O número de fungos totais (Figura 4.13) teve um aumento maior, em relação ao número inicial, na presença dos quatro cultivares de girassol testados, em relação ao comportamento das outras duas populações bacterianas pesquisadas. Neste caso, o incremento foi de uma a duas ordens de grandeza, sendo o maior valor encontrado nos ensaios com H2. Em geral, a atividade das populações microbianas no solo foi favorecida pela presença do girassol, em particular para as culturas fúngicas, o que pode estar relacionado com a liberação de substâncias químicas e enzimas pelas raízes das plantas, favorecendo o crescimento microbiano (ALVEY; MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 113 CROWLEY, 1996). Os resultados apontam para a existência de interação entre microrganismos e planta no processo de biodegradação de compostos recalcitrantes. Em estudo realizado por Tejeda-Agredano et al. (2012) foram identificados diferentes compostos em exsudatos de raízes de girassol, incluindo carboidratos, aminoácidos, ácidos graxos e vários ácidos aromáticos. Dentre os ácidos aromáticos os mais abundantes foram os ácidos fitálicos e protocatecóico, que são compostos tipicamente intermediários do metabolismo de HPA por bactérias (KANALY; HARAYAMA, 2010). Segundo Brown e Nadeau (2002), as plantas contribuem para absorção dos elementos tóxicos residuais no solo após a atividade microbiana, minimizando os contaminantes nele presentes a níveis aceitáveis. Assim sendo, a atividade microbiana pode ser estimulada pela disponibilidade de nutrientes produzidos pelas plantas e/ou pela remoção de elementos tóxicos pelas mesmas. Considerando os resultados obtidos nesta primeira etapa, a Figura 4.14 mostra, resumidamente, a eficiência dos cultivares testados em relação aos parâmetros estudados. Analisando os dados, foi selecionado o cultivar H3 para continuidade do trabalho em laboratório. Além de ter apresentado, de uma maneira geral, as maiores remoções percentuais dos contaminantes, H3 exibiu maior robustez em relação aos demais cultivares. À exceção do cultivar H3, os demais cultivares apresentaram sinais de intoxicação como murcha e aparecimento de folhas cloróticas com pontos necróticos e queda das folhas mais velhas. Sintomas semelhantes foram observados por Zeitouni (2003) em plantas de pimenta e de girassol crescidas na presença de Pb. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 114 Eficiência Germinação P < M < H2 = H3 Biomassa M < H2 < < H3 < P Metais na biomassa P ≤ M ≤ H2 << H3 Remoção de metais M < P ≤ H2 << H3 Remoção de HTPs H2 = M = P << H3 Remoção de B(a)P P < H2 < M < H3 Crescimento BHT P = H3 ≤ M ≤ H2 Crescimento BDH H3 ≤ P = M ≤ H2 Crescimento FT H3 ≤ P ≤ M ≤ H2 Figura 4.14: Resumo comparativo da eficiência dos cultivares de girassol em relação aos parâmetros estudados. HTP: hidrocarbonetos totais do petróleo; B(a)P: benzo(a)pireno; BHT: bactérias heterotróficas totais, BDH: bactérias degradadoras de hidrocarbonetos. 4.3 Efeito da Suplementação com Fertilizante e da Densidade Populacional na Fitorremediação do Solo Nesta etapa, foi estudada a influência da suplementação do solo com fertilizante mineral e da densidade populacional sobre a remoção de metais pesados e de hidrocarbonetos do petróleo pelo cultivar selecionado nos testes anteriores. As variáveis foram selecionadas considerando a revisão da Literatura sobre o tema e também a economicidade do processo, sobretudo quando se vislumbra a ampliação da escala. Para tanto, foi utilizado o solo multicontaminado referente à coleta realizada em 2009 pelo cultivar selecionado, H3. Os ensaios foram realizados em casa de vegetação, com tempo de duração de 80 dias, contemplando diferentes densidades do vegetal (1 e 5 indivíduos/ vaso), na presença e ausência de fertilizante (N:P:K, 10:10:10). A Figura 4.15 apresenta imagens do vegetal em diferentes fases do crescimento. Corroborando os resultados anteriores (Figura 4.7), as sementes de girassol foram capazes de germinar no solo multicontaminado nas diferentes condições ensaiadas. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO (A) (D) (B) (E) 115 (C) (F) (C) (D) Figura 4.15: Fotos do girassol durante o (E) desenvolvimento em solo multicontaminado. A: 7 dias após o plantio; B: decorridos 21 dias, com 26 cm de altura média; C: brotamento da flor ocorrido no 50º dia; D a F: floração das mudas de girassol com 60 dias de plantio (72 cm de altura média). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 116 Ao final do ensaio, as plantas foram retiradas do solo e separadas em raízes e partes aéreas (caules, folhas e flores). As médias das massas secas das diferentes partes vegetais estão representadas na Figura 4.16 A e B. O coeficiente de variação determinado pelo Teste de Tukey (p<0,05) para as partes aéreas e raízes foi 1,02 e 3,67%, respectivamente. A Massa seca das raízes/indivíduo (g) 3 a 2,5 2 b 1,5 c 1 d 0,5 0 Massa seca das partes aéreas/indivíduo (g) B 7 a 6 5 4 b b c 3 2 1 0 Ensaio 1 planta - sem fert. 5 plantas - sem fert. 1 planta - com fert. 5 plantas - com fert. Figura 4.16: Massa seca obtida através da média das raízes (A) e do conjunto das partes aéreas (B) de cada indivíduo de girassol H3 cultivado por 80 dias nas quatro condições estudadas. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 117 Analisando a Figura 4.16, é possível observar que houve crescimento do vegetal em todas as condições ensaiadas, e que a massa total de cada indivíduo variou entre 2,92 e 8,18 g, indicando que as variáveis estudadas influenciaram o desenvolvimento do girassol. Esses dados são corroborados por outros autores, em condições diferenciadas. January et al. (2008) observaram uma variação na produção de biomassa de girassol anão entre 2,0 e 7,4 g em solução hidropônica contendo Cd, Cr, Ni, As e Fe na presença e na ausência de EDTA, em ensaios com duração de 17 dias. Também em condições hidropônicas, Keulen, Wei e Cutright (2008) evidenciaram que a produção de biomassa seca de dois diferentes cultivares de girassol, Teddy Bear e Sundance foi de 2,7 e 4,8 g, respectivamente, em soluções contendo Cd, Cr, Ni e As, em ensaios com duração de 17 dias. Hassan, Hijri e St-Arnaud (2013) cultivaram girassol, em casa de vegetação, em solos com diferentes concentrações de cádmio, por 70 dias. A massa seca das plantas cultivadas sob diferentes condições variou entre 7,9 e 11,3 g. Valores semelhantes foram reportados por Marques et al. (2013) para plantas de girassol cultivadas em solos contendo zinco e cádmio em escala de casa de vegetação, por 140 dias. Tejeda-Agredano et al. (2012) cultivaram girassol, em casa de vegetação, em solo proveniente de ambiente contaminado com 6 HPAs. Após 90 dias, a massa seca das plantas foi de 6,5 g. Ainda observando a Figura 4.16, nota-se que a condição que favoreceu maior desenvolvimento das raízes também resultou no maior desenvolvimento da parte aérea (1 planta – sem fertilizante) e, igualmente, a condição em que houve um menor desenvolvimento das raízes também levou a um menor crescimento da parte aérea (5 plantas – com fertilizante). Pode-se presumir que nos ensaios em que um maior número de indivíduos concorria entre si, o crescimento foi prejudicado. O efeito da fertilização também não foi benéfico, uma vez que nos experimentos sem fertilizante, a produção de biomassa foi maior, ratificando que a quantidade de macronutrientes no solo estava adequada ao desenvolvimento do girassol, não havendo necessidade de correção. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 118 A biomassa vegetal obtida ao final de 80 dias de ensaio, após ser pesada, foi analisada quanto a sua concentração de metais pesados. As concentrações de Cu, Zn, Cd, V, Ni, Pb e Cr presentes na biomassa vegetal de girassol H3 estão apresentadas nas Figuras 4.17 A, B, C, D, E, F e G, respectivamente. Foi feita uma análise das médias através do teste de Tukey (p≤0,05). Para cada metal, as colunas marcadas com letras distintas são estatisticamente diferentes, a um nível de significância de 5%. Os coeficientes de variação determinados para Cu, Zn, Cd, V, Ni, Pb e Cr foram 1,26; 5,15; 2,26; 1,14; 6,78; 5,82 e 11,82%, respectivamente. A concentração de cobre nas biomassas variou entre 77 e 175 mg/ kg de biomassa seca (Figura 4.17 A). Chigbo e Batty (2013) observaram que a concentração de cobre em Brassica juncea em solo contendo de 50 a 100 mg de cobre/kg de solo co-contaminado com pireno variou entre 125 e 330 mg/kg de biomassa seca. A concentração de Zn variou entre 168 e 618 mg/kg de biomassa seca (Figura 4.17 B). A concentração de Cd variou entre 0,05 e 0,6 mg/kg de biomassa seca (Figura 4.17 C), estando muito abaixo do reportado na literatura (KEULEN; WEI; CUTRIGHT, 2008; MEIGHAN et al., 2011; GUO; XU; MA, 2012). Isso se deve a baixa concentração desse elemento no solo ao início do plantio (Tabela 4.2). A concentração de V variou entre 25 e 60 mg/kg de biomassa seca (Figura 4.17 D). Makuya et al. (2012) estabeleceram valores de V em Cynodon dactylon variando entre 40 e 90 mg/kg de biomassa seca. A concentração de Ni variou de 11 a 40 mg/kg. Entretanto, Turgut et al. (2004) observaram concentrações de Ni de cerca de 6,5 mg/kg de biomassa, para dois diferentes cultivares de girassol (girassol anão cultivar 06710K e Teddy bear 06712A). Já o conteúdo de Pb variou de 12 a 44 mg/kg de biomassa seca de girassol (Figura 4.17 F). Ha, Sakakibara e Sano (2011) estudaram o acúmulo de alguns metais no tecido de Eleocharis acicularisem condições de hidroponia e o conteúdo de Zn e Pb determinado foi 213 e 1120 mg/kg de biomassa seca, respectivamente, para soluções contendo variadas concentrações desses elementos (1, 2 e 4 mg/L). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 119 (A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) Figura 4.17: Concentração de metais (mg/kg) nas biomassas vegetais produzidas após 80 dias de cultivo de girassol H3 nas quatro diferentes condições estudadas. [(A) Cu, (B) Zn, (C) Cd, (D) V, (E) Ni, (F) Pb e (G) Cr]. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 120 A concentração de Cr variou entre 12 e 33 mg/kg de biomassa seca (Figura 4.17 G). Já o conteúdo de Ni variou de 11 a 40 mg/kg de biomassa seca de girassol (Figura 4.18 E). January et al. (2008) estudaram o acúmulo alguns metais no tecido de girassol variedade sundance em condições de hidroponia e o conteúdo de Cr e Ni determinado foi de aproximadamente 6000 e 2500 mg/kg de biomassa seca, respectivamente. Os resultados apresentados na Figura 4.17 demonstram a ocorrência de fitoextração dos metais pelo cultivar de girassol utilizado, o que é corroborado pela literatura científica. Adicionalmente, pode-se observar que a adição de fertilizante concorreu para os melhores resultados de acúmulo dos metais analisados nas biomassas. Em geral, os ensaios com 5 indivíduos, com adição de fertilizante, acumularam as maiores quantidades de todos os metais pesquisados. Desse modo, o efeito das duas variáveis estudadas divergiu quando se comparam os dados referentes ao crescimento (Figura 4.16) e ao acúmulo de metais nos tecidos vegetais (Figura 4.17), uma vez que os resultados do crescimento do girassol indicam que os ensaios sem fertilizante e um indivíduo foi melhor enquanto os resultados do acúmulo de metais indicam que os ensaios com 5 indivíduos cultivados na presença de fertilizante foram melhores. Isso pode ser explicado pelo fato de que a dinâmica dos macronutrientes no solo é bastante complexa, devido a grande quantidade de reações químicas e biológicas que influenciam sua disponibilidade para as plantas (CUNHA, 1985). Nas Figuras 4.18 a 4.21 estão compilados os dados referentes às análises químicas e microbiológicas do solo, após 80 dias do biotratamento. As remoções percentuais dos metais pesados do solo, que foram calculadas considerando as perdas bióticas e abióticas são apresentadas na Figura 4.18. Pode-se observar que o girassol foi capaz de remover todos os elementos químicos estudados, embora o percentual de remoção de cada metal tenha variado em função das condições de tratamento testadas. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 121 a b b Mercúrio c d c Cobre a b b a Zinco a b a b b b Cádmio b a Vanádio b b a b b b Níquel a c Chumbo a b b a Cromo a a 0 10 20 30 40 50 60 Remoção (%) 5 plantas - com fertlizante 1 planta - com fertilizante 5 plantas - sem fertilizante 1 planta - sem fertilizante Figura 4.18: Remoção (%) de alguns metais pesados do solo após 80 dias de crescimento de girassol H3. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 122 Nos tratamentos com 5 indivíduos, a fertilização favoreceu a remoção de Hg (48%), Cd (22%) e Ni (9%). Em relação aos elementos Pb e Zn, a análise estatística indicou não haver diferença no emprego de diferentes tratamentos. A exceção foi verificada para a remoção de V (15%) que foi melhor na condição de emprego de 1 indivíduo e suplementação com fertilizante. Outros trabalhos também demonstraram o potencial fitorremediador de Helianthus annuus, embora usando solos artificialmente e exclusivamente contaminados com metais pesados. Usman e Mohamed (2009) obtiveram remoções de Zn (2 a 4%), Cu (1,6 a 3%), Cd (2,6 a 4%) e Pb (0,4 e 1,3%) após 60 dias de ensaio. Melhores resultados foram obtidos por Chen e Shen (2004) na remediação de solo com adição de agente tensoativo (EDTA) alcançando, após 53 dias, percentuais de remoção de 4, 16, 13 e 23%, para Pb, Cu, Zn e Cd, respectivamente. A remoção de mercúrio no solo variou entre 11 e 48% (Figura 4.18), embora este elemento não tenha sido detectado na planta (Figura 4.18). Isto demonstra a efetiva capacidade do girassol de fitovolatilizar esse elemento. A capacidade de vegetais fitovolatilizar mercúrio é conhecida (HENRY, 2000). Nesse tipo de fitorremediação, o mercúrio é absorvido pelas raízes, convertido em formas não tóxicas e depois liberado na atmosfera (GHOSH; SINGH, 2005). Trabalho publicado por Carrasco-Gil et al. (2012) indica que, em plantas da espécie Medicago sativa, o conteúdo de mercúrio nos tecidos vegetais diminuiu de 2,4 para 0,5 mg/ kg em 3 e 7 semanas de ensaio, respectivamente, ao passo que o conteúdo deste elemento no solo diminuiu de 4,0 para 3,3 mg/ kg de solo no mesmo período, indicando que parte do conteúdo de mercúrio volatilizou ao longo do tempo. Esse relato ratifica os dados obtidos nesta etapa experimentou, uma vez que o conteúdo de mercúrio no solo diminuiu até 48% e sua presença não foi evidenciada nos tecidos vegetais. Em geral, o emprego de maior número de indivíduos e fertilização proporcionou maior redução da concentração dos elementos (Hg, Cd, Pb e Ni) no solo, corroborando a análise do acúmulo de metais nas biomassas (Figura 4.17). Adicionalmente, pode-se inferir que a fitorrmediação com girassol foi eficiente para remoção simultânea de diferentes metais de solo cocontaminado com hidrocarbonetos recalcitrantes, o que dificultaria ainda mais a sua descontaminação. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 123 Na Figura 4.19 estão representados os percentuais de redução dos HTPs conduzidos com girassol H3. Foi feita a análise das médias, calculadas levando-se em consideração as perdas nos controles, pelo teste de Tukey Redução de HTP (%) (p≤0,05), obtendo-se coeficiente de variação de 15,3%. 40 a 30 b 20 bc 10 c 0 1 planta - sem fert. 5 plantas - sem fert. 1 planta - com fert. 5 plantas - com fert. Figura 4.19: Remoção percentual de HTP’s do solo após 80 dias de crescimento de girassol H3. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). Todos os tratamentos testados permitiram a remoção dos HTPs, embora os percentuais tenham variado de acordo com as condições. Assim como observado em relação aos metais, os cultivos na presença de fertilizante com 5 indivíduos levaram a uma redução mais eficiente no conteúdo de HTPs do solo, de 34% (Figura 4.19). Segundo Hejazi, Husain e Khan (2003), o teor de HTP não pode ser empregado como resposta para quantificar o risco à saúde humana e ao meio ambiente, visto que engloba diferentes tipos de hidrocarbonetos em distintas proporções. No entanto, pode ser empregado como uma ferramenta útil para identificação do grau de contaminação, assim como avaliar o desempenho de um processo de remediação. Resultados similares de remoção de HTP foram descritos por Siciliano e Germida (1998) para ensaios de fitorremediação utilizando forragens. Entretanto, foram necessários 20 meses de ensaio para que a remoção de HTP atingisse 21%. Por outro lado, Moreira et al. (2011) observaram decréscimo de apenas 3% no conteúdo de HTP em sedimento de manguezal, MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 124 após 90 dias de fitorremediação com Rhizophora mangle L. Porém, nestes dois casos não havia a contaminação simultânea com metais pesados de elevada toxicidade. Ademais, a elevada concentração de HTP no solo deste estudo (Tabela 4.2), dos quais 90% relacionados com a MCNR e 10% por hidrocarbonetos lineares resolvidos de alta massa molecular indica a existência efetiva de hidrocarbonetos degradados, associada a óleos intemperizados ou a possíveis aportes crônicos. A ausência de pristano e de fitano corrobora as alegações de degradação do óleo, pois os alcanos de cadeias lineares são mais facilmente biodegradados por microrganismos do que os hidrocarbonetos ramificados (JUNIOR; GOMES; SORIANO, 2009). O intemperismo é entendido como o resultado de processos biológicos, químicos e físicos que podem afetar o tipo de hidrocarbonetos que permanecem no solo (TRINDADE et al., 2005). Estes processos incrementam a absorção de contaminantes orgânicos hidrofóbicos na matriz do solo, diminuindo a taxa e a extensão da biodegradação, pelo acumulo, ao longo do tempo, de substâncias cuja biodegradação é menos favorecida, justificando a fitorremediação. A Figura 4.20 representa o percentual de remoção dos 16 HPAs considerados prioritários pela EPA, após 80 dias de fitorremediação com girassol, levando-se em consideração as perdas nos reatores controle. Os HPAs são conhecidos por possuírem grande resistência à degradação e dependendo do composto, a meia-vida pode variar de meses a até vários anos (TRAPIDO, 1999). Note-se que houve remoção de todos os HPAs analisados, em pelo menos uma das condições testadas. Em geral, as remoções máximas de HPAs foram alcançadas no tratamento com maior densidade de vegetal e com adição de fertilizante (Figura 4.20), conforme observado para os HTPs (Figura 4.19). Nesta condição (5 indivíduos com fertilizante), a fitorremediação do solo multicontaminado por girassol foi responsável por remoções de HPAs superiores a 50%, sendo: criseno> benzo(a)antraceno> benzo (a)pireno > benzo(g,h,i)perileno> pireno. Provavelmente, o aporte de nutrientes inorgânicos pela adição do fertilizante estimulou o crescimento do vegetal e a atividade microbiana no solo, estimulando a atividade fitorremediadora na rizosfera (OLSON et al., 2008). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 100 125 a 90 Remoção (%) 80 a a 70 b 60 a a 50 a c d a 40 a 30 bb b c 20 10 a a aab c aab c a b c d aab c bbb b c d c aa bb bbb b cc aab c bbb bbb d bbb 0 1 planta - sem fertilizante 5 plantas - sem fertilizante 1 planta - com fertilizante 5 plantas - com fertilizante Figura 4.20: Percentuais de remoção dos 16 HPAs prioritários do solo determinados nos experimentos conduzidos com girassol H3 após 80 dias. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 126 Liste e Alexander (2008) determinaram, em 56 dias de fitorremediação com os cereais Avena sativa e Brassica napus var. radicola, reduções no conteúdo de pireno de 55,4 e 73,5%, respectivamente, dos quais 18% foram decorrentes apenas da atividade microbiana e perdas abióticas (ensaios controles). Entretanto, estes autores desenvolveram os ensaios em solo artificialmente e exclusivamente contaminado por pireno. Tejeda-Agredano et al. (2012) utilizaram girassol (H. annuus L. cv. PR 63A90) para fitorremediar uma mistura de solos contendo 6 HPAs, ao longo de 90 dias. Descontando-se as perdas nos ensaios controle (solo não plantado), as remoções de fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno e criseno foram de 0, 11, 16, 22, 10 e 41%, respectivamente. Na Figura 4.21 A, B e C estão representadas, respectivamente, as populações de bactérias heterotróficas totais, bactérias degradadoras de hidrocarbonetos e fungos totais, no início e após 80 dias, nas diferentes condições de tratamento testadas. Analisando a Figura 4.21 A, pode-se observar que os números de indivíduos testados não promoveu influência na concentração de bactérias heterotróficas totais ao final de 80 dias de cultivo. Entretanto, a suplementação com fertilizante exerceu efeito negativo sobre a concentração desse grupo microbiano, sobretudo nos testes conduzidos com uma planta. Analisando a Figura 4.21 B, pode-se observar que os números de indivíduos testados também não promoveu influência na concentração de microrganismos degradadores de hidrocarbonetos ao final de 80 dias de cultivo. No entanto, a concentração desses microrganismos aumentou com a suplementação com fertilizante e uma planta. Nos testes conduzidos com cinco plantas e suplementação com fertilizante, foram observados os menores resultados de concentração de degradadores de hidrocarbonetos, em 80 dias de processo. Para o caso dos fungos (Figura 4.21 C), não foi verificada influência da suplementação com fertilizante e maiores valores de concentração celular foram observados nos ensaios realizados com um indivíduo na ausência do fertilizante. Esse conjunto de resultados permite verificar que nas condições estudadas, as concentrações dos grupos microbianos pesquisados permaneceram elevadas, indicando um ambiente não inibitório ao desenvolvimento celular, e provavelmente à degradação dos compostos orgânicos. Estudos adicionais são necessários para elucidar o MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 127 papel da densidade populacional do vegetal e da suplementação com fertilizante sobre a dinâmica microbiana na fitorremediação. (A) a a b Bactérias Heterotróficas Totais (UFC/g) 1,00E+08 c 1,00E+06 1,00E+04 1,00E+02 1,00E+00 (B) Bactérias Degradadoras de Hidrocarbonetos (NMP/g) 1,00E+08 1,00E+06 a b b c 1,00E+04 1,00E+02 1,00E+00 Fungos Totais (UFC/g) (C) 1,00E+07 a 1,00E+06 b b b 1,00E+05 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 Inicial 5 plantas - sem fert. 5 plantas - com fert. 1 planta - sem fert. 1 planta - com fert. Figura 4.21: (A) Bactérias heterotróficas totais, (B) bactérias degradadoras de hidrocarbonetos e (C) fungos totais, presentes nas amostras de solo antes e ao final de 80 dias do cultivo de girassol H3. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). UFC – unidades formadoras de colônias; NMP – número mais provável. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 128 Muitos autores têm estudado o papel das bactérias na fitorremediação, demonstrando que a interação planta-bactéria pode aumentar a degradação de poluentes (SICILIANO; GERMIDA, 1998). Marques et al. (2013) demonstraram que o acúmulo de Zn e Cd em tecidos de girassol aumentaram em 67 e 64%, respectivamente, quando o solo foi inoculado com culturas bacterianas, indicando a importância da comunidade rizosférica na fitorremediaçãode solo contaminado com estes metais. Esse incremento na biodegradação se deve a diferentes mecanismos que as bactérias podem desenvolver, como: fixar nitrogênio atmosférico, sintetizar sideróforos capazes de solubilizar e seqüestrar ferro do solo, sintetizar diferentes fitohormônios, incluindo auxinas e citoquininas, solubilizar minerais como fósforo e disponibilizá-los para as plantas, e produzir enzimas que modulam o desenvolvimento do vegetal (LAMBERT; JOOS, 1989). A avaliação do comportamento da comunidade microbiana no tratamento de sedimento de manguezal contaminado por hidrocarbonetos de petróleo, realizada por Ramsay et al. (2000), mostrou que a concentração inicial de bactérias heterotróficas, da ordem de 106 células/g, se manteve inalterada durante um período de 270 dias. Tam e Wong (2008) também não observaram aumento da população de bactérias heterotróficas totais durante a fitorremediação de sedimento de manguezal pelo vegetal Aegiceras corniculatum. Entretanto, Österreicher-Cunha et al. (2004) constataram declínio da população bacteriana total, em solo contaminado por gasolina, durante tratamento por ventilação (Bioventing). 4.4 Testes de fitorremediação em escala de campo Os ensaios em campo foram realizados com vistas à validação da alternativa biotecnológica de emprego do cultivar de girassol H3 como agente fitorremediador, considerando os resultados promissores obtidos em casa de vegetação. A literatura reporta que vários fatores, em especial, a densidade, época de semeadura, e adubação contribuem para o sucesso do desenvolvimento do MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 129 vegetal (UNGARO et al., 2000; BRAZ et al., 2008; THOMAZINI; MARTINS, 2011). Por conta disso, e dado os resultados obtidos em casa de vegetação e da caracterização do solo amostrado em 2011 (relação C:N:P de 120:18:1), nos ensaios em campo foram, novamente, avaliados os efeitos da densidade do vegetal e da fertilização do solo. Deste modo, foi testada a adição de fertilizante N:P:K (10:10:10) ao solo, apesar do seu alto teor de nitrogênio e fósforo, em relação à maioria dos solos, devido a presença de biomassa proveniente da ETE. No Landfarming, foram realizados três plantios, com duração cada de 90 dias. Independentemente de o período ter sido mais ensolarado ou mais chuvoso, o tempo de inflorescência foi semelhante. Ressalta-se que o ciclo do girassol varia, em média, entre 100 e 110 dias para a produção de grãos (LIRA et al., 2009). A Figura 4.22 (A-J) mostra diferentes períodos do plantio, incluindo o brotamento das sementes, o desenvolvimento das plantas em vários estágios até a inflorescência atingida com 90 dias (Figura 4.22 I e J). No 14º dia já era possível visualizar as mudas (Figura 4.22 B). Neste ponto, foi feito o desbaste deixando apenas a muda mais robusta, por cova. Pode-se observar o intenso desenvolvimento da vegetação nativa desde os estágios iniciais do crescimento do girassol (Figura 4.22, C-D). Contudo, no entorno da planta verificava-se um crescimento muito reduzido em um raio de até aproximadamente 15 cm. Esta observação confirma dados da Literatura que apontam o girassol como produtor de substâncias inibitórias a alguns vegetais (SILVA, 2009; ALSAADAWI; SARBOUT; AL-SHAMA, 2011; NIKNESHAN et al., 2011). Algumas plantas são capazes de produzir substâncias químicas com propriedades que afetam benéfica ou maleficamente outras espécies de plantas, fenômeno denominado alelopatia (MOLISCH, 1937). Assim, a alelopatia envolve interações planta-planta, planta-microrganismos, e plantasolo-planta (GNIAZDOWSKA; BOGATEK, 2005). Estas substâncias, denominadas aleloquímicos, são encontradas em diferentes partes da planta e distribuídas em concentrações variadas durante o seu ciclo de vida (ALMEIDA et al., 2008). Os aleloquímicos quando liberados MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 130 em quantidades suficientes causam efeitos na germinação, no crescimento e/ou no desenvolvimento de plantas já estabelecidas e, ainda, no desenvolvimento de micro-organismos (CARVALHO, 1993). Mas, em geral, esses compostos apresentam baixa toxicidade aos organismos não alvo (MORALES et al., 2007). Vários vegetais são capazes de produzir aleloquímicos, tendo sido já identificados: ácidos graxos de cadeia longa, terpenóides e esteróides, fenóis, ácido benzoico, ácidos orgânicos, aldeídos, acetonas, ácidos orgânicos (cítrico, málico acético e butírico), naftoquinonas, antraquinonas, quinonas, flavonóides, lactonas, cumarina, entre outras (REZENDE, 2003). Os aleloquímicos são encontrados em todas as partes da planta, mas, normalmente, as maiores concentrações estão nas folhas (ALMEIDA et al., 2008). Particularmente, o girassol é uma espécie conhecida pela elevada capacidade de produzir alelo químicos como, por exemplo, sequisterpenóides (MACÍAS et al., 2003).Uma planta normal apresenta um potencial de 40% de inibição do crescimento de outras plantas, embora essa inibição possa ser aumentada para 50% a 70%, em função de alterações nas condições de cultivo. Interessante ressaltar, não ter havido a necessidade da prática de regas durante os três plantios realizados. Isto concorre para a implantação da fitorremediação como forma de tratamento, não só por evitar problemas de ordem operacional, mas, principalmente, por ser o consumo de água uma preocupação mundial. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO A 131 B C D E F G H I J Figura 4.22 A-J: Diferentes estágios de desenvolvimento do girassol nos testes em campo. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 132 Ao final dos ensaios, amostragens de solo e do vegetal foram realizadas para procedimentos analíticos. Os resultados que a seguir serão apresentados correspondem aos valores médios dos resultados obtidos. Na Figura 4.23 (A e B) são apresentadas as massas produzidas do vegetal para cada tratamento, contemplando as massas de raízes e partes aéreas. Massa das raízes/indivíduo (g) (A) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 a a sem fertilizante Massa das partes aéreas/indivíduo (g) (B) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 b b com fertilizante a b c sem fertilizante 5 indivíduos c com fertilizante 9 indivíduos Figura 4.23: Massa seca obtida através da média das raízes (A) e do conjunto das partes aéreas (B) de cada indivíduo de girassol H3 cultivado por 90 dias nas quatro condições estudadas. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 133 Os cultivos sem fertilizante induziram a um maior crescimento tanto das raízes (Figura 4.23 A) quanto das partes aéreas (Figura 4.23 B), ratificando os resultados observados em casa de vegetação (Figura 4.16). Logo, pode-se deduzir que a suplementação com fertilizante pode ter sido executada em excesso, corroborando as alegações de Biscaro et al. (2008) sobre efeitos tóxicos do uso excessivo de nitrogênio em cultivos de girassol. As partes aéreas dos cultivos sem fertilizante foram mais abundantes nos cultivos com 5 indivíduos em comparação àqueles com 9 indivíduos (Figura 4.23 B). Para os cultivos com fertilizante, não houve diferença estatística entre os cultivos com 5 ou 9 indivíduos, sendo o mesmo observado para a quantidade de biomassa radicular dos cultivos sem fertilizante (Figura 4.23 A). Dentre as inúmeras publicações consultadas, nenhuma apresenta dados para fitorremediação com girassol em campo. Também não é possível qualquer comparação com os ensaios em laboratório, devido ao crescimento exacerbado do vegetal ocorrido em campo. Para fins ilustrativos, o girassol, em campo, alcançou alturas superiores a 150 cm, flores com até 24 cm de diâmetro. Comparativamente, o valor máximo de massa seca do vegetal determinado em campo (96 g/ indivíduo) foi aproximadamente 10 vezes maior daquele obtido nos testes em laboratório (8,5 g/ indivíduo). A Figura 4.24 ilustra a notável diferença entre as florações produzidas em casa de vegetação e em campo. Figura 4.24: Comparação entre o desenvolvimento das flores de girassol ao final dos ensaios em campo (A) e no 70º dia em casa de vegetação (B). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 134 Na Figura 4.25 (A a C) estão representados os conteúdos de Zn, Cu e Cr determinados nas diferentes partes vegetais (caules, flores, folhas e raízes) obtidas nos ensaios em campo. De um modo geral, para cobre e cromo, o acúmulo ocorreu prioritariamente nas raízes dos girassóis. Entretanto, o zinco, encontrado em maior concentração nos tecidos analisados, foi acumulado de modo similar nos caules, folhas e raízes. Note-se que o perfil de acúmulo dos diferentes metais variou em função do tratamento empregado, não sendo possível estabelecer qual a condição que levou ao maior acúmulo, genericamente. Os valores dos metais V, Pb, Ni e Cd nos tecidos vegetais não foram apresentados por estarem abaixo do limite de detecção do método, embora tenham sido verificadas as suas remoções do solo. Marques et al. (2013) verificaram o acúmulo de zinco nas folhas e raízes de girassol cultivado em solos contendo diferentes concentrações do metal (0, 100 e 500 mg/kg) e inoculados com duas bactérias conhecidas como PGPR (plant growth-promoting rhizobacteria). A menor concentração de zinco detectada nas raízes, de 51±22 mg/kg, foi referente ao experimento conduzido em solo não acrescido do metal e inoculado com a bactéria Chryseobacterium humi; enquanto o valor máximo, de 443±80 g/kg, correspondeu ao ensaio realizado no solo acrescido da maior quantidade do metal sem inóculo bacteriano. No que concerne ao conteúdo de zinco nas folhas, os autores determinaram valores variando de 45±37 mg/kg (solo não acrescido do metal e inoculado com C. humi) a 374±31 mg/kg(solo acrescido da maior quantidade do metal inoculado com C. humi). Ainda analisando a figura, tem-se que o acúmulo de cobre se deu principalmente nas raízes do girassol (Figura 4.25 B), alcançando o valor máximo de cerca de 100 mg/kg. Kötschau et al. (2014) também avaliaram o acúmulo de cobre em tecidos de girassol cultivado em solo co-contaminado por diferentes metais, com concentração inicial de cobre de 51,2 mg/kg. Após 170 dias de cultivo, os autores determinaram uma concentração de cobre nas raízes de 26,4 mg/kg, ou seja de cerca de 50%. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 135 (A) Zinco (mg/Kg) 1000 d b c 100 a d c b a b c a d a b c d 10 1 FLOR CAULE FOLHA RAÍZ Cobre (mg/Kg) (B)1000 10 a a b a 100 b b a c b c b b b a c c 1 FLOR Cromo (mg/Kg) (C) CAULE FOLHA RAÍZ 100 a a 10 b b b b a b b a b b c c c CAULE FOLHA c 1 FLOR RAÍZ 5 plantas - sem fert. 9 plantas - sem fert. 5 plantas - com fert. 9 plantas - com fert. Figura 4.25: Conteúdos de: A) zinco B) cobre e C) cromo detectados nas diferentes partes dos vegetais cultivados nas condições testadas. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 136 Já o acúmulo de cromo nas diferentes partes da planta foi o menor dentre os metais analisados (Figura 4.25C). Em geral, a maior quantidade de cromo foi determinada nas raízes. Em relação às outras partes vegetais, os valores máximos de acúmulo foram obtidos nas biomassas oriundas do tratamento com 9 indivíduos e presença de fertilizante. Sung et al. (2011) estudaram o acúmulo de cobre, níquel e cromo em diversas plantas, incluindo girassol, em ensaios de fitorremediação com rejeito da siderurgia. Os autores encontraram concentrações de Cu, Ni e Cr nos tecidos vegetais variando entre 25-50, 25-80 e 50-80 mg/kg, respectivamente. Algumas plantas podem concentrar metais essenciais ou não nas suas raízes e partes aéreas em níveis muito superiores aos presentes no solo (RASKIN et al., 1994). Entretanto, estes mecanismos de acúmulo de metais, que compreendem a quelação extracelular e intracelular, precipitação, compartimentalização e translocação no sistema vascular, são ainda pouco compreendidos. O conteúdo dos 16 HPAs prioritários, segundo a USEPA, presente nas folhas, caules, flores e raízes também foi determinado. Entretanto, os valores apresentaram variação nas concentrações dos elementos, o que pode estar relacionado com a heterogeneidade das amostras, de modo que o tratamento estatístico dos dados foi impossibilitado. Portanto, para estabelecer o perfil de distribuição dos HPAs nos tecidos vegetais foi concebida a Tabela 4.6. Foram detectados 10 HPAs nas amostras de tecidos vegetais. Não foi detectado nenhum HPA nas amostras de caules de nenhum dos 4 tratamentos. Apenas o ensaio com 9 plantas sem fertilizante apresentou conteúdo quantificável de HPAs nas flores. Além disso, os tecidos vegetais referentes aos ensaios com 5 plantas com fertilizante não continham nenhum HPA. Note-se que fenantreno, antraceno e pireno apareceram, mais frequentemente, nas amostras de tecido vegetal. Adicionalmente, pode-se concluir, observando a Tabela 4.6, que eles se concentraram principalmente nas raízes produzidas nos ensaios sem fertilizante. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 137 Tabela 4.6: Distribuição dos HPAs presentes nas amostras de tecidos vegetais obtidas a partir dos cultivos de girassol em campo nas diferentes condições de ensaio 5 plantas 9 plantas Nº de Sem Com Sem Com anéis fertilizante fertilizante fertilizante fertilizante HPA Naftaleno 2 Acenafteno 3 Fluoreno 3 Fenantreno 3 X X Antraceno 3 X X X Fluoranteno 4 X X Pireno 4 X X Benzo[a]antraceno 4 Benzo[b]fluoranteno 5 X Benzo[a]pireno 5 X Nota: - folhas e - raízes; X X X X X X X X - flores. As concentrações de fenantreno encontradas nas raízes dos girassóis cultivados na ausência de fertilizante foram de 125 e 735 µg/kg para os cultivos com 5 e 9 plantas, respectivamente. Já as concentrações de antraceno encontradas nas raízes dos girassóis cultivados na ausência de fertilizante foram de 161 e 517 µg/kg para os cultivos com 5 e 9 plantas, respectivamente. Em relação ao pireno, as concentrações do mesmo encontradas nas raízes dos girassóis cultivados na ausência de fertilizante foram de 565 e 1129 µg/kg para os cultivos com 5 e 9 plantas, respectivamente. Esses números revelam que a maior densidade de indivíduos favoreceu o acúmulo desses três HPAs nas raízes, sempre, sem adição de fertilizante. Não foram encontrados relatos na literatura consultada sobre acúmulo de HPAs em tecidos de girassol, o que impede a análise criteriosa dos MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 138 resultados obtidos. Para fins comparativos, a seguir são apresentados resultados de acúmulo de HPAs com emprego de outros vegetais. Zhu e Zhang (2008) observaram o acúmulo de fenantreno e pireno na biomassa de Lolium multiflorum obtida após um ensaio de 288 dias de fitorremediação. As concentrações de fenantreno e pireno encontradas nas raízes da gramínea foram de 1630 e 31400 µg/kg de tecido, respectivamente. Sun et al. (2011) também determinaram o acúmulo de B(a)P em tecidos vegetais de plantas cultivadas em solo co-contaminado com metais (Cd, Cu e Pb). Os autores realizaram experimentos com a planta da espécie Tagetes patula em solos contendo diferentes concentrações iniciais dos contaminantes, em diferentes combinações entre elas. Após 92 dias de ensaio, foi determinada a concentração de B(a)P nos diferentes tecidos. Os autores observaram que a concentração de B(a)P nas raízes foi de 1,8 mg/kg, na menor concentração deste HPA no solo (2 mg/kg de solo), aumentando até o valor de 22,6 mg/kg, na maior concentração (50 mg/kg de solo). Os autores observaram também que a concentração dos contaminantes nos tecidos das raízes foi superior à determinada nas partes aéreas da planta. Paralelamente, foram realizadas quantificações químicas e microbiológicas no solo coletado ao final do ensaio. A Figura 4.26 apresenta a remoção de metais pesados do solo após tratamentos por fitorremediação. Os resultados são expressos em percentual de remoção levando-se em consideração as perdas nos ensaios controle. Verifica-se que a presença do girassol promoveu aumento da remoção dos metais analisados. E assim como observado anteriormente, a remoção de cada metal variou em função da condição de ensaio aplicada. De um modo geral, a condição que permitiu a remoção máxima da maioria dos metais foi com 5 indivíduos na ausência de fertilizante, com exceção do mercúrio que foi removido com maior eficácia no cultivo com 5 indivíduos com adição de fertilizante. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 139 ab mercúrio b c c b chumbo d níquel b d c b a c b b a a c b zinco 0 a c cromo cobre a a 10 ab 20 30 Remoção (%) a 40 9 plantas - com fert. 5 plantas - com fert. 9 plantas - sem fert. 5 plantas - sem fert. 50 Figura 4.26: Remoção (%) de metais do solo após fitorremediação com girassol nos ensaios em campo para as diferentes condições estudadas. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). A remoção de mercúrio variou entre 26 e 44%, nos diferentes ensaios realizados (Figura 4.26), sendo máxima nos experimentos com 5 indivíduos na presença de fertilizante, embora nessacondição, não tenha sido detectada a presença desse elemento na biomassacoletada. De acordo com Ali, Khan e Sajad (2013) o mercúrio pode ser absorvido do solo pelo vegetal, convertido em formas voláteis e fitovolatilizado para a atmosfera. Por isso, esse uso da fitorremediação é muito limitado e controverso, uma vez que este elemento é transferido do solo para a atmosfera e retorna ao solo através da precipitação (HENRY, 2000). As remoções de chumbo, níquel, cromo, cobre e zinco variaram entre 12 e 35%;0 e 8%; 7 e 32%; 0 e 11% e; 6 e 35%, respectivamente, com seus MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 140 valores máximos sendo alcançados no ensaio sem fertilizante com 5 indivíduos (Figura 4.26). Tariq e Ashraf (2013) utilizaram girassol na fitorremediação de solo proveniente de um campo de tiros das forças armadas do Paquistão contaminado por metais, em casa de vegetação. Os autores observaram que após o ensaio, houve remoção de cobre (27%), chumbo (49%) e níquel (26,5%). Segundo Coutinho e Barbosa (2007), o cromo é um metal bastante utilizado em curtumes, contaminando a água utilizada e que nem sempre é reciclada. Preocupados com o destino dessa água, têm sido testadas alternativas para tratamento e recuperação dos efluentes residuais do processo. Estudos realizados por Alvarez et al. (2004) indicam que as plantas aquáticas possuem tolerância a metais, como foi demonstrado pelo lírio aquático, que apresentou uma elevada taxa de crescimento e importante capacidade de absorver metais pesados pelo seu sistema radicular. Os autores testaram 4 efluentes de curtumes que utilizam o cromo e mostraram que essa planta possui uma eficiência de cerca de 75% na descontaminação dos mesmos. Bharti e Banerjee (2012) obtiveram remoções de cobre pelas macrófitas Azolla pinnata e Lemma minor, em sistema hidropônico, de 93 e 98,8%, respectivamente. Babu, Kim e Oh (2013) observaram uma remoção de 64% do conteúdo de zinco após cultivo de Alnus firma inoculada com a bactéria endofítica Bacillus thuringiensis GDB-1. Os teores de HTP nos solos amostrados no 90º dia de biotratamento para cada condição experimental ensaiada são mostrados na Figura 4.27. Os valores não variaram em função das condições empregadas, sendo os percentuais de remoção de HTPs semelhantes, em torno de 80%. Os percentuais de remoção foram calculados considerando os dados referentes aos respectivos ensaios nas subcélulas controle, logo, indicam o efeito apenas do vegetal na remoção de hidrocarbonetos. Valores semelhantes foram observados por Moreira et al. (2012), que cultivaram Avicennia schaueriana por MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 141 90 dias para fitorremediar sedimento de manguezal contaminado com HTPs, em casa de vegetação. Considerando os resultados obtidos (Figura 4.27), pode-se concluir que a presença do girassol favorece a remoção de HTP, corroborando as informações levantadas nos experimentos realizados em casa de vegetação. controle 9 plantas - com fertlizante a 5 plantas - com fertilizante a 9 plantas - sem fertilizante a 5 plantas - sem fertilizante a 1,60E+07 1,40E+07 1,20E+07 1,00E+07 8,00E+06 6,00E+06 4,00E+06 2,00E+06 0,00E+00 HTP (µg/kg) valor de alerta (T) limite de intervenção (I) Figura 4.27: Concentração de HTP residual nos solos submetidos aos diferentes ensaios de fitorremediação realizados na área do Landfarming com girassol. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). É possível observar ainda, na Figura 4.27, uma linha referente aos valores de intervenção (I) e de alerta (T) segundo a legislação holandesa. O valor de intervenção (I) indica um nível de qualidade do solo acima do qual existem riscos para a saúde humana e para o ambiente. A ultrapassagem desse valor indica a necessidade de implementação, na área avaliada, de ações voltadas para a sua remediação. Já o valor de alerta (T) é um valor MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 142 médio entre o valor de intervenção e o valor de referência (valor que indica um nível de qualidade do solo que permite considerá-lo “limpo”, considerando-se a sua utilização para qualquer finalidade) ideal para os dois primeiros S e I. Ele indica que já ocorreu uma certa alteração que diminuiu, ainda que pouco, as propriedades funcionais do solo, sendo necessária uma investigação detalhada na área para quantificação dessa alteração. Como o valor de referência é muito baixo, não foi representado na Figura 4.27. Entretanto, observando a Figura 4.27 é possível concluir que a presença do girassol foi determinante para que a concentração de HTPs fosse reduzida para valores muito abaixo do limite de intervenção e próximos (pouco acima) do limite de alerta. Nos testes em campo, as concentrações de HPAs nas amostras de solo coletadas das sub-células teste e controle, ficaram abaixo do limite de quantificação (em média 5 µg/kg), por isso os dados não foram compilados em figura. Estes resultados são muito menores do que aqueles encontrados para o solo antes do tratamento, visto que, inicialmente, a concentração de HPAs era de 6,8 mg/kg. (Tabela 4.2). Por outro lado, trabalho publicado por Tejeda-Agredano et al. (2012) indicou que o cultivo de girassol em solo contaminado com 6 HPAs (fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno e criseno) incrementou a descontaminação em relação aos ensaios sem a planta. Os autores determinaram que, após 90 dias de cultivo, a concentração Σ6HPAs reduziu de 21,7 para 1,5 mg/kg, enquanto a concentração final nos ensaios sem vegetal foi de 5,0 mg/kg. Isso significa que nos ensaios na presença de girassol a remoção da Σ6HPAs foi de 93%, dos quais 77% são referentes à atividade microbiana. Os 16% restantes foram atribuídos à presença do girassol, que pode ter atuado favorecendo a atividade microbiana ou absorvendo os HPAs presentes no solo. Entretanto, é importante salientar que os autores não evidenciaram a presença desses HPAs nos tecidos vegetais. Liu et al. (2014) também observaram remoção de praticamente 100% de 8 HPAs (fluoranteno, pireno, benzo(a)antraceno, criseno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)pireno e dibenzo(a,h)antraceno) pesquisados em amostras de solo fitorremediado com a planta “Fire Phoenix”, por 150 dias. Wang et al. (2014) conseguiram resultados similares através do uso de três MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 143 plantas de manguezais em ensaios realizados com sedimento contaminado com diferentes fluorenofenantreno, concentrações de antraceno, pireno, 8 HPAs criseno, distintos (fluoranteno, benzo(k)fluoranteno e benzo(a)pireno). Outra hipótese para a ausência dos HPAs nas amostras coletadas ao final do ensaio é que o meio físico local é bastante heterogêneo e que as determinações ficaram estatisticamente comprometidas, o que poderia ser verificado com a execução de um maior número maior de amostragens ou testes. Isso não foi possível considerando as limitações de tempo e financeiras. A distribuição das populações de bactérias heterotróficas totais, bactérias degradadoras de hidrocarbonetos e fungos totais nas amostras de solo coletadas nas sub-células teste e controle, após 90 dias de fitorremediação, são mostradas na Figura 4.28 A a C. O número de bactérias heterotróficas totais permaneceu em torno de 108 UFC/g de solo em todos os ensaios (Figura 4.28 A). De acordo com o Teste de Tukey, não houve diferença estatística entre os valores obtidos nas diferentes condições ensaiadas, diferentemente do que aconteceu na etapa de laboratório em que os valores variaram em até duas ordens de grandeza (Figura 4.21A). Já a população de bactérias que metabolizam os hidrocarbonetos permaneceu em torno de 104 NMP/g de solo, entretanto, os ensaios na presença de girassol apresentaram aumento no número desse tipo de microrganismo de uma ordem de grandeza (Figura 4.28 B). Nesse caso, é possível observar que os resultados do ensaio em campo divergiram daqueles verificados em casa de vegetação (Figura 4.22B), em que a presença do girassol aumentou em até três ordens de grandeza o número dessas bactérias. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 144 (A) a Bactérias Heterotróficas Totais (UFC/g) de solo 1,00E+08 a a a 1,00E+06 1,00E+04 1,00E+02 1,00E+00 Inicial 5 plantas - 9 plantas - 5 plantas - 9 plantas sem sem com com fertilizante fertilizante fertilizante fertilizante Bactérias Degradadoras de Hidrocarbonetos (NMP/g de solo) (B) Fungos Totais (UFC/g de solo) (C) a 1,00E+05 a a a 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 Inicial 1,00E+06 1,00E+05 1,00E+04 1,00E+03 1,00E+02 1,00E+01 1,00E+00 5 plantas - 9 plantas - 5 plantas - 9 plantas sem sem com com fertilizante fertilizante fertilizante fertilizante a b Inicial b ab 5 plantas - 9 plantas - 5 plantas - 9 plantas sem sem com com fertilizante fertilizante fertilizante fertilizante Figura 4.28: Variação das populações de bactérias heterotróficas totais (A), bactérias degradadoras de hidrocarbonetos (B) e fungos totais (C) no solo para tratamentos por fitorremediação com girassol realizados na área do Landfarming. Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si para o Teste de Tukey (p<0,05). UFC – unidades formadoras de colônias; NMP – número mais provável. MARTINS, C.D.C. RESULTADOS E DISCUSSÃO 145 De acordo com análise estatística, os fungos foram os microrganismos que mais variaram, no solo, em função do tratamento empregado, sendo seu maior número alcançado nos ensaios com 9 plantas, sem fertilizante (9,5 x 10 4 UFC/g de solo). Vários autores relataram o papel relevante dos fungos na fitorremediação (CITTERIO et al., 2005; LI et al. 2009; SHEN; CHRITIE; LI, 2006). Hassan, Hijri e St-Arnaud (2013) avaliaram o papel dos fungos micorrízicos Rhizophagus irregulares e Funneliformes mosseae na absorção de cádmio, zinco e cobre emcultivo de girassol por 70 dias. Os autores observaram que as plantas de girassol inoculadas com R. irregulares acumularam mais 62 mg de cádmio do que aquelas sem o fungo. Já os cultivos de girassol inoculados com F. mosseae acumularam 350 e 700 mg a mais de zinco e cobre, respectivamente, do que aqueles sem o fungo. MARTINS, C.D.C. CONCLUSÕES 147 CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES Os resultados obtidos permitem concluir: Ensaios em casa de vegetação Os cultivares de girassol (Helianthus annuus L.) - M, P, H2 e H3 foram capazes de germinar e se desenvolver em solo multicontaminado por metais e hidrocarbonetos, sendo a taxa germinação superior a 85% e o tempo médio de germinação de 5 dias. A maior produção de biomassa vegetal foi obtida com o cultivar P, embora o emprego do cultivar H3 tenha proporcionado o maior acúmulo de vanádio, níquel, chumbo e cobre. Já para o acúmulo de cádmio, o Teste de Tukey não apontou diferenças significativas entre os cultivares testados; A remoção de metais do solo variou em função do cultivar de girassol empregado, com exceção do cádmio que foi totalmente removido por todos os cultivares testados, provavelmente, devido a seu baixo teor inicial no solo; MARTINS, C.D.C. CONCLUSÕES 148 A remoção máxima de vanádio do solo foi cerca de 40% (cultivares H3 e P). O cultivar H3 removeu a maior quantidade de níquel (48,5%) e chumbo (60,5%). E a remoção máxima de cobre, de 73,5%, foi alcançada pelo cultivar H2; A remoção de HTP do solo foi de aproximadamente 10% nos ensaios de fitorremediação com cultivares M, P e H2, e de 15% pelo emprego do cultivar H3; A remoção máxima do hidrocarboneto poliaromático (HPA) benzo(a)pireno (B(a)P), de 52%, foi alcançada no solo com o cultivar H3; Em comparação aos ensaios controle, as populações de BHT, BDH e fungos apresentaram aumentos na presença do girassol de uma a duas ordens de grandeza, particularmente, nos ensaios realizados com o cultivar H2; Dentre os cultivares testados, H3 exibiu maior robustez e melhor eficiência de descontaminação; Em experimentos de 80 dias, a produção de biomassa vegetal foi máxima nos cultivos realizados com um indivíduo sem adição de fertilizante, enquanto o acúmulo dos contaminantes na biomassa obtida variou de acordo com a substância avaliada; Entretanto, a presença de fertilizante incrementou a capacidade de acumular e remover os contaminantes do solo; Genericamente, os valores máximos de metais e hidrocarbonetos no tecido vegetal foram determinados na biomassa referente ao tratamento com cinco indivíduos na presença de fertilizante: HTP (34%), criseno (93%), benzo(a)antraceno (75%), B(a)P (67%) e Hg (48%); Para o biotratamento com cinco indivíduos e fertilização, foram detectados acúmulos na biomassa vegetal de: cobre (175 mg/kg), zinco (18 mg/kg), cádmio (0,6 mg/kg), vanádio (60 mg/kg), níquel (40 mg/kg), chumbo (44 mg/kg) e cromo (33 mg/kg). MARTINS, C.D.C. CONCLUSÕES 149 Ensaios em campo A produção de biomassa vegetal foi máxima nos cultivos realizados com cinco indivíduos sem adição de fertilizante; O perfil de acúmulo dos diferentes metais nas biomassas vegetais variou em função do tratamento empregado, mas, de maneira geral, a remoção de metais foi maior nos ensaios sem fertilizante; Genericamente, para cobre e cromo, o acúmulo ocorreu prioritariamente nas raízes dos girassóis. Entretanto, o zinco, encontrado em maior concentração nos tecidos analisados, foi acumulado de modo similar nos caules, folhas e raízes; Os valores dos metais vanádio, chumbo, níquel e cádmio nos tecidos vegetais estavam abaixo do limite de detecção do método, embora tenham sido determinadas as suas remoções do solo; Os HPAs fenantreno, antraceno e pireno apareceram, mais frequentemente, nas amostras dos tecidos vegetal, concentrando-se principalmente nas raízes produzidas nos ensaios sem fertilizante, independentemente do número de indivíduos cultivados; No solo, a remoção de HTPs foi estatisticamente igual para todos os tratamentos realizados (aproximadamente 80%) e não foi possível detectar os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), decorridos 90 dias; Em termos gerais, a fitorremediação empregando girassol é uma alternativa promissora para o tratamento de solos multicontaminados por metais pesados e hidrocarbonetos. MARTINS, C.D.C. TRABALHOS FUTUROS 150 CAPÍTULO 6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Estudos de fitorremediação com girassol em solo multicontaminado são necessários para auxiliar no melhor entendimento da distribuição de contaminantes nos tecidos vegetais, particularmente dos HPAs. Para tanto, se faz necessário um aprimoramento da metodologia de extração destas substâncias da biomassa vegetal produzida. Ademais, se faz necessária a extensão desse estudo na área de produção de biodiesel utilizando as sementes produzidas durante os ensaios de fitorremediação. Desse modo, pode-se determinar a presença de metais pesados no óleo obtido a partir das sementes de girassol produzidas nos ensaios de fitorremediação. MARTINS, C.D.C. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 151 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIKO, A.; MORAES, O. B. Desenvolvimento Urbano Sustentável. São Paulo, Escola Politécnica da USP, 29 p. 2009. AIRES, J. R. LTC no manejo de borras de petróleo. Tese de D.Sc., UFF, Niterói, RJ, Brasil, 2002. 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