Aplicação da técnica de energia muscular em criança portadora de

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Aplicação da técnica de energia muscular em
criança portadora de paralisia cerebral: um
estudo de caso
Application of muscle energy technique in a child with cerebral palsy: a case study
Bruna Kuerten Rocker; Renata Machado Baptista.
Resumo: A paralisia cerebral (PC) é uma lesão de caráter não progressivo, que acomete o
sistema nervoso central, levando a déficits posturais, tônicos e na execução dos movimentos.
Propõe-se que as desordens do desenvolvimento motor, resultantes da lesão cerebral primária,
são de caráter permanente e mutável. O desequilíbrio do tônus motor leva a um encurtamento
da musculatura e pode gerar deformidades ósseas, ocasionando deficiências funcionais. A
técnica de energia muscular (TEM) exerce o alongamento sobre músculos encurtados,
espásticos e contraturados ou acometidos de fibroses e pontos-gatilhos. Desta forma, o
objetivo do estudo foi verificar a contribuição da aplicação da técnica de energia muscular no
tratamento fisioterapêutico de um paciente com paralisia cerebral. Este estudo foi composto
por um caso. Uma criança portadora de PC com hemiparesia direita, 07 anos, gênero
masculino. O tratamento constou de 15 atendimentos com 2 intervenções semanais e duração
de 50 minutos cada intervenção. A TEM foi aplicada nos seguintes músculos: gastrocnêmio e
sóleo, posteriores da coxa, quadrado lombar, grande dorsal, piriforme, trapézio superior e
bíceps braquial, onde o terapeuta buscava uma barreira no alongamento do músculo que
indicasse um encurtamento. Logo, era solicitado ao paciente que realizasse uma contração
isométrica por 5 a 7 segundos, relaxando em seguida. Então, o terapeuta buscava nova
barreira e mantinha o alongamento já conseguido por cerca de, 45 segundos a 1 minuto
(tempo de repouso para o paciente). Os resultados mostraram melhoras em algumas
habilidades motoras do paciente como: ficar em supino, ficar ajoelhado e semi-ajoelhado, e,
ações como levantar. Conclui-se então que a aplicação da TEM contribuiu para o tratamento
desta criança portadora de PC.
Palavras-chave: paralisia cerebral, fisioterapia, transtornos das habilidades motoras.
Abstract: Cerebral palsy (CP) is an injury to a non-progressive disorder affecting the central
nervous system, leading to postural deficits, tonics and execution of movements. It is
proposed that the disorders of motor development, resulting from the primary brain injury, are
permanent and changeable. The imbalance of motor tone leads to a shortening of the muscles
and can cause bone deformities, causing functional deficiencies. The muscle energy technique
(MET) exercises on stretching shortened muscles, and spastic contracture or fibrosis of
affected and trigger points. Thus, the purpose of this study was to assess the contribution of
the application of muscle energy technique in physical therapy from a patient with cerebral
palsy. This case study was composed of only one case. A child with a PC with right
hemiparesis, 07 year old male. The treatment consisted of 15 weekly visits with 2
interventions and 50 minutes each intervention. MET was applied to the following muscles:
gastrocnemius and soleus, hamstring, quadratus lumborum, latissimus dorsi, pyriform, upper
trapezius and biceps muscles, where the therapist sought a barrier in the elongation of the
muscle that would indicate a shortening. It was therefore asked patients to make an isometric
contraction for 5-7 seconds, then relax. Then, the therapist sought new barrier and held the
elongation for about 45 seconds to 1 minute (rest time for the patient). The results showed
some improvements in this patient motor skills, such as staying in supine and semi-kneel
kneeling, and actions such as stand up. It was concluded that implementation of MET
contributed to the treatment of children with CP.
Keywords: cerebral palsy, physical therapy, motor skills disorder
2
INTRODUÇÃO
A Paralisia cerebral
(PC)
apresenta
caráter
duvidoso quando falamos
da sua incidência no Brasil.
Porém,
acredita-se
que
surgem 17.000 novos casos
anualmente, número esse,
agravado
por
pouca
informação
durante
a
gestação
e
preventivos
realizados pelo país1.
O termo PC designa
um grupo de afecções
cerebrais
de
caráter
estacionário
e
que
apresenta
clinicamente
distúrbios do movimento e
da postura, devido ao
defeito ou lesão do cérebro
no começo da vida2.
A
PC
pode
ser
entendida por uma lesão
não progressiva do cérebro
imaturo,
podendo
esta
ocorrer nos períodos pré,
peri e pós natal. Além da
desordem de movimento e
da postura que podem
gerar
deformidades
musculoesqueléticas
graves, temos a associação
a
problemas
de
fala,
audição,
visão,
retardo
mental e/ou epilepsia3.
Além
de
poder
apresentar as alterações
citadas
acima,
ela
apresenta um retardo e um
curso
anormal
de
desenvolvimento,
principalmente até os cinco
anos de idade, porém, a
mesma pode se estender
até a adolescência ou
infância4.
Seus
déficits
motores acabam por afetar
sua psicomotricidade e seu
comportamento emocional.
O desequilíbrio do tônus
motor
leva
a
um
encurtamento
da
musculatura e pode gerar
deformidades
ósseas,
ocasionando
deficiências
funcionais.
Sendo
uma
grande
meta
para
o
fisioterapeuta diminuir as
deficiências
funcionais,
contribuindo para que o
paciente
seja
o
mais
independente possível nas
suas AVDs e na sua
locomoção. O tratamento
fisioterapêutico é bastante
abrangente, sendo que o
mesmo
considera
o
alongamento muscular, a
estabilidade articular e a
força, para que consiga
alcançar seus objetivos5.
A fisioterapia atua
na liberação de músculos
espásticos
e
o
seu
fortalecimento, através de
métodos como a Facilitação
Neuromuscular
Proprioceptiva
(FNP),
porém com a exigência (em
muitos
casos)
de
um
esforço muito alto por parte
do paciente6. Fred Mitchell,
aprofundando-se
nesse
trabalho, criou a Técnica de
Energia Muscular (TEM),
que
consiste
em
um
método de terapia manual
onde o paciente participa
ativamente,
e,
com
a
supervisão
de
um
terapeuta,
realiza
contrações musculares (em
geral
isométricas)
que
partem de princípios como
o
relaxamento
pósisométrico
(RPI)
e
a
inibição recíproca (IR) para
restituir
a
mobilidade
articular,
alongando
músculos
encurtados,
contraturados
ou
hipertônicos e reduzindo
quadros álgicos decorrentes
de espasmo muscular6,7,
característicos de pacientes
acometidos de PC.
A PC geralmente
trás para o portador, no
mínino
uma
deficiência
associada,
tais
como,
comprometimento
cognitivo,
alterações
sensoriais,
convulsões,
doenças
sistêmicas
(ortopédicas
e
respiratórias),
secundária
ao quadro principal, isso faz
com que a mesma fique
afastada da sociedade, por
incapacidades relacionadas
às deficiências ou até por
preconceito da população8.
As
técnicas
utilizadas para tratamento
de um paciente portador de
PC são bem variadas,
sendo
que
todas
apresentam
resultados
positivos em relação ao
tratamento,
levando
a
criança a desenvolver suas
habilidades
motoras
de
uma forma mais correta, a
obter seu desenvolvimento
motor o mais próximo ao
de uma criança normal e
evitar o desenvolvimento
de
deformidades
e
contraturas
no
sistema
músculo esquelético1.
A fisioterapia almeja
aumentar
a
capacidade
funcional destas crianças.
Assim, o tratamento deve
estabelecer
previamente
quais as prioridades para
cada criança em cada
época do desenvolvimento2.
Estudos
sobre
a
aplicação das Técnicas de
Energia
Muscular
em
pacientes com PC não
foram encontrados. Desta
forma, o objetivo deste
estudo
foi
verificar
a
contribuição da aplicação
da Técnica de Energia
Muscular no tratamento
fisioterapêutico
de
um
paciente
com
paralisia
cerebral.
MÉTODO
O
estudo
foi
realizado na Clínica Escola
de
Fisioterapia
da
Universidade do Sul de
Santa Catarina, Campus
Tubarão. O período total
para a realização do estudo
foi dos meses de março a
novembro de 2010.
3
Para a realização
deste
estudo
foi
selecionado um paciente
entre os atendidos na
Clínica
Escola
de
Fisioterapia da UNISUL, de
07
anos,
masculino,
acometido
de
paralisia
cerebral com hemiparesia
direita. Seguidamente, foi
realizado o contato direto
com os responsáveis para
apresentação dos objetivos
da pesquisa e do termo de
consentimento
livre
e
esclarecido (TCLE), que foi
aceito e assinado pelos
mesmos.
Neste
estudo
os
atendimentos
foram
compostos da aplicação da
técnica de energia muscular
isométrica nos músculos
gastrocnêmio
e
sóleo,
posteriores
da
coxa,
quadrado lombar, grande
dorsal, piriforme, trapézio
superior e bíceps braquial,
onde o terapeuta buscava
uma
barreira
no
alongamento do músculo,
indicando
encurtamento.
Logo, era solicitado ao
paciente para realizar uma
contração isométrica por 5
a 7 segundos e em seguida
ao relaxamento muscular, o
terapeuta buscava nova
barreira e mantinha o
alongamento já conseguido
por cerca de, 45 segundos
a 1 minuto, tempo este que
representava um repouso
ao paciente. Após, era
solicitado ao paciente nova
contração isométrica, até
completarem-se três delas.
Dessa forma, era proposto
que após as aplicações, o
encurtamento resultante da
hipertonia presente neste
paciente, fosse reduzido e
assim fosse possível avaliar
a contribuição da técnica
com relação a um paciente
acometido
de
paralisia
cerebral.
Foram realizados, no
total,
15
atendimentos,
sendo 02 atendimentos por
semana, e que tiveram a
duração de 01 hora. A
avaliação
e
reavaliação
foram
realizadas,
respectivamente,
no
primeiro e último dia de
atendimento.
Os
atendimentos
sempre
foram
realizados
pela
mesma pesquisadora, e,
avaliação e reavaliação por
ambas.
Os
materiais
utilizados foram ficha de
avaliação e evolução do
paciente, além de matérias
disponíveis na clínica, como
macas,
escadinhas,
tatames e banquinhos.
Os
dados
foram
obtidos da avaliação inicial,
das anotações na ficha de
evolução clínica diária do
paciente e da reavaliação
da criança. Os dados ainda
foram apresentados através
de quadros com a situação
do paciente em antes e
depois das intervenções,
com o intuito de analisar a
evolução
da
criança
durante o tratamento e a
contribuição do TEM na PC
após
período
de
tratamento.
RESULTADOS
Os
músculos
encurtados
(Quadro
1)
foram
identificados
de
forma subjetiva, por meio
de posturas e padrões
adotados pelo paciente.
Além disso, após a análise
subjetiva, o paciente foi
posicionado na postura de
tratamento
(através
da
TEM) específica para cada
músculo
e
foram
encontradas
barreiras
(indicando encurtamento)
no
movimento
passivo
desses músculos, são eles:
Quadro 1 – Identificação dos músculos encurtados e músculos tratados
Músculos encurtados
Músculos tratados
Trapézio superior
Sim
Subescapular
Não
Bíceps braquial
Sim
Flexores de dedos
Não
Grande dorsal
Sim
Quadrado lombar
Sim
Piriforme
Sim
Posteriores da coxa
Sim
Tríceps sural
Sim
A proposta inicial era
de que todos os músculos
encurtados
recebessem
tratamento, no entanto, a
não realização correta da
contração isométrica pelo
paciente,
limitou
a
aplicação da técnica em
alguns desses músculos.
Assim sendo, 7 dos 9
músculos
identificados
como encurtados, foram
tratados
por
meio
da
aplicação da TEM em sua
forma
de
contrações
4
isométricas.
São
eles:
trapézio superior, bíceps
braquial, grande dorsal,
quadrado
lombar,
piriforme, posteriores da
coxa e tríceps sural.
As
seguintes
habilidades motoras como,
rolar,
prono,
supino,
sentado, ajoelhado, semiajoelhado, levantar, em pé,
marcha,
chutar,
correr,
subir e descer escadas e
pegar objetos, realizadas
pelo
paciente,
foram
analisadas
de
forma
qualitativa,
onde
foi
observado
melhora
em
algumas delas, podendo-se
notar que quanto mais
complexa era a atividade
menor, ou ausente, era a
evolução encontrada.
No quadro 2, em
supino, obteve-se melhora
do em relação a rotação
interna de ombro direito
que diminuiu em relação à
observação
de
préintervenção.
O
joelho
direito
apresentou-se
discretamente
mais
estendido na observação
em pós do que em préintervenção. Já na posição
prono,
houve
discreta
diminuição da flexão de
cúbito direito, e ajoelhado,
evoluiu para sem apoio de
membro superior esquerdo
e
demonstrou
mínima
dificuldade para atingir a
posição,
além
de
apresentar
alinhamento
adequado dos membros
inferiores.
Quadro 2 – Descrição de “prono”, “supino”, e “ajoelhado” em pré e pós-intervenção
Habilidade motora
Prono
Supino
Ajoelhado
Pré-intervenção
MSD: apoio do membro no
tatame,
rotação
interna
de
ombro com flexão de cúbito
(cerca de 97°), mão fechada
(flexão de dedos). MSE: apoio do
membro (com a mão) no tatame
realizando flexão de cúbito e
permanece
com
a
mão
estendida. MID: sem extensão
completa de joelho, fica abduzido
e com pé em plantiflexão. MIE:
estendido. Tronco inclinado ao
lado parético.
MSD: rotação interna de ombro,
flexão de cúbito, punho e dedos.
MSE: estendido ao lado do corpo.
MID:
não
estende
completamente (cerca de 7°) o
joelho e pé em plantiflexão. MIE:
estendido. Tronco inclinado ao
lado parético.
Apresentou
demasiada
dificuldade
em
ficar
nesta
posição, para manter-se precisa
de algum apoio no MSE. MSD:
ombro com rotação interna,
flexão de cúbito e dedos. MSE:
faz o apoio. MMII em flexões
associadas, porém desalinhados.
Tronco inclinado ao lado parético.
E no quadro 3,
observamos que na posição
de semi-ajoelhado, em préintervenção
não
era
realizada,
em
pósintervenção
passou
a
realizar,
porém,
apresentando
grande
Pós-intervenção
MSD: apoio do membro no
tatame, rotação interna de
ombro com flexão de cúbito
(cerca de 90°), mão fechada
(flexão de dedos). MSE: apoio
do membro (com a mão) no
tatame realizando flexão de
cúbito e permanece com a mão
estendida. MID: sem extensão
completa
de
joelho,
fica
abduzido
e
com
pé
em
plantiflexão. MIE: estendido.
Tronco
inclinado
ao
lado
parético.
MSD: leve rotação interna de
ombro, flexão de cúbito, punho
e dedos. MSE: estendido ao lado
do corpo. MID: não estende
completamente (cerca de 4°) o
joelho e pé em plantiflexão.
MIE: estendido. Tronco inclinado
ao lado parético.
Apresentou mínima dificuldade
para adquirir a postura. MSD:
ombro pouco rodado interno,
semi-flexão de cúbito, flexão de
dedos. MSE: estendido ao lado
do corpo. MMII em posição
adequada
para
ajoelhar-se
(flexões
associadas).
Tronco
inclinado ao lado parético.
dificuldade para manter a
postura.
No
levantar,
evoluiu da necessidade de
apoio de membro superior
esquerdo para sem apoio,
mantendo a sequência de
extensão de joelho e tronco
e em pé, diminuiu a flexão
de cúbito, o pé fez apoio
total no solo e o tronco não
apresentou
inclinação
aparente.
Nas habilidades de
rolar,
chutar,
correr,
marcha, subir e descer
escadas, pegar objetos e
5
sentado,
evolução
não
houve
ou
diferenças
entre
pré
intervenção,
e
pósconforme
observado na avaliação e
reavaliação do paciente.
Quadro 3 – Descrição de “semi-ajoelhado”, “levantar” e “em pé” em pré e pós-intervenção
Habilidade motora
Pré-intervenção
Pós-intervenção
Não conseguiu realizar a posição Apresentou dificuldade em se
devido ao grande desequilíbrio manter na posição devido ao
apresentado de tronco e MMII.
desequilíbrio.
MSD:
ombro
pouco rodado interno, flexão de
Semi-ajoelhado
cúbito (cerca de 90°), flexão de
dedos. MSE: estendido ao lado
do corpo. Tronco inclinado ao
lado parético.
Necessita
apoiar
a
mão Não utiliza apoio do MSE para
esquerda. MSD: cúbito e dedos execução da atividade. MSD:
flexionados. MSE: faz o apoio. cúbito e dedos flexionados.
MID: rodado externo e em MSE: estendido ao lado do
plantiflexão. MIE: posição neutra. corpo. MID: pouco rodado
Tronco inclinado ao lado parético. externo e em plantiflexão. MIE:
Levantar
Faz extensão total de joelho E e posição neutra. Tronco inclinado
permanece em semi-flexão de ao lado parético. Faz extensão
joelho D, em seguida, faz total de joelho E e permanece
extensão de tronco e fica na em semi-flexão de joelho D, em
posição ereta.
seguida, faz extensão de tronco
e fica na posição ereta.
MSD: rotação interna de ombro, MSD: cúbito em flexão (cerca de
flexão de cúbito (cerca de 70°) e 35°)
com flexão de dedos.
dedos. MSE: estendido ao lado MSE: estendido ao lado do
do corpo. Tronco e cabeça corpo. MID: levemente rodado
Em pé
inclinados ao lado parético. MID: externo. MIE: posição neutra.
rotação externa de quadril e Tronco sem inclinação aparente.
plantiflexão. MIE: estendido com
posição neutra.
DISCUSSÃO
Em uma disfunção
predominantemente
sensório-motora
na
PC,
distúrbios
no
tônus
muscular, na postura e na
movimentação
voluntária
estão de alguma forma,
envolvidos. Esses distúrbios
caracterizam-se pela falta
de
controle
sobre
os
movimentos,
por
modificações
adaptativas
do comprimento muscular,
resultando,
em
alguns
casos, em deformidades
ósseas9.
A técnica de energia
muscular é uma técnica de
contração e relaxamento
desenvolvida
por
osteopatas,
porém,
utilizada em muitas outras
formas
de
terapias
manuais,
que
historicamente, surgiu com
base na FNP. Utilizada não
só por osteopatas, mas
também fisioterapeutas. É
descrita como técnica ativa
em que o paciente contribui
para a força corretiva e é
responsável pela dosagem
aplicada6,10.
A literatura diz que a
TEM pode ser usada no
alongamento e relaxamento
muscular, recuperação da
força de músculos fracos,
diminuição da dor e ainda
na
diminuição
de
hipertonicidade
dos
músculos6.
Várias teorias têm
sido propostas para explicar
a função fisiológica por trás
da TEM e da FNP, mas o
mecanismo pelo qual se
produzem os efeitos da
TEM
ainda
é
incerto.
Sugere-se
que
o
alongamento
muscular
produzido pela TEM deve-se
ao envolvimento do órgão
tendinoso de Golgi (OTG).
Este
receptor
sensorial
encapsulado está localizado
nos tendões do músculo
esquelético
e
detecta
mudanças
na
tensão
muscular6,
dando
ao
sistema
nervoso
informações
instantâneas
sobre o grau de tensão em
cada pequeno segmento de
cada músculo11.
Em
seu
estudo,
Stigger12 cita autores que
afirmam saber que crianças
com
PC
normalmente
possuem um estilo de vida
mais
sedentário,
sendo
razoável presumir que a
musculatura
dessas
crianças
apresentará
6
características semelhantes
às observadas decorrente
da inatividade, embora não
exista um consenso se a
espasticidade
representa
um modelo de desuso ou
sobrecarga. Na PC, os
músculos esqueléticos que
estão
espásticos
não
relaxam
durante
a
atividade. Assim, tanto a
espasticidade
quanto
o
espasmo muscular resistem
ao alongamento e tendem a
manter o músculo em uma
posição
encurtada,
favorecendo
o
encurtamento muscular12.
Em
um
estudo
aleatório envolvendo grupo
experimental
e
grupo
controle, foi analisado o
efeito da técnica de energia
muscular na extensibilidade
dos
isquiotibiais
e
o
mecanismo de flexibilidade
neles
alterados
em
indivíduos saudáveis. Os
resultados mostraram que
houve
um
aumento
significativo na amplitude
de movimento no joelho
após uma única aplicação
da TEM para o grupo
experimental,
quando
nenhuma
mudança
foi
observada
no
grupo
controle. De acordo com a
avaliação
no
grupo
experimental, a técnica de
energia muscular produziu
um aumento imediato na
extensão passiva do joelho.
Atenta-se
que
esta
mudança
observada
na
amplitude de movimento é
possivelmente devido a um
aumento da tolerância ao
alongamento, uma vez que
não houve evidência de
alterações
de
viscoelasticidade
dos
músculos13.
Outro
estudo
demonstrou um aumento
na rotação torácica ativa
em indivíduos tratados com
o
TEM,
e,
nenhuma
mudança significativa no
grupo controle. A TEM
aplicada à coluna torácica
no sentido da rotação
restrita
aumentou
significativamente
a
rotação de tronco ativa,
enquanto a rotação do
tronco
no
lado
sem
restrições e os controles
não tratados mantiveramse inalteradas. O tamanho
do efeito produzido pela
intervenção TEM provou ser
grande, uma vez que o
valor médio de rotação do
tronco para o lado restrito
de pré-tratamento foi de
26,43
graus,
e,
imediatamente
após
o
tratamento,
essa
faixa
subiu para 37,09 graus.
Este estudo mostrou a
validade do uso da TEM
dentro da coluna torácica
quando a rotação do tronco
restrita está presente14.
Os tratamentos na
PC podem envolver desde
medicamentos
até
cirurgias, mas o principal
foco é o da reabilitação,
sendo que a reabilitação
física é realizada pela
intervenção da fisioterapia2.
A avaliação da efetividade
do
tratamento
na
deficiência motora é difícil
porque o tratamento não é
padronizado. Programas de
tratamento individualizados
variam
em
muitos
parâmetros
envolvendo
muitas
questões
subjetivas15.
Linda15
aborda
estudos que indicaram que
a
melhora
na
função
motora é mais provável que
ocorra quando as metas da
terapia são específicas e
mensuráveis,
além
de
criadas em parceria com os
pais da criança e outros
cuidadores. Além disso,
quantidades intensas de
fisioterapia
podem
representar
nenhuma
vantagem
sobre
o
tratamento,
e,
não
é
garantia que a longo prazo
a terapia possa representar
maior/melhor vantagem do
que a terapia a curto prazo.
Na
PC,
deve-se
observar a extensão do
distúrbio
motor,
sua
intensidade
e,
principalmente,
a
caracterização semiológica
desse distúrbio. Assim a
paralisia cerebral apresenta
várias
formas
clínicas.
Dentre elas, a hemiplegia é
a
manifestação
mais
frequente. Em geral, o
indivíduo
hemiplégico
(hemiparético)
apresenta
maior comprometimento do
membro
superior.
O
paciente
ainda
pode
apresentar
atitude
em
semi-flexão do membro
superior, permanecendo o
membro
inferior
hiperestendido e aduzido, e
o
pé
em
postura
equinovara, padrão este,
que pode ter modificações
como variação de cada
caso2.
Segundo Mancini et
al16, devido à lesão que
persiste, o portador de PC
apresenta
alterações
neuromusculares,
como
variações
do
tônus
muscular, persistência de
reflexos primitivos, rigidez,
espasticidade, entre outros.
Tais alterações geralmente
se
manifestam
com
padrões
específicos
de
postura e de movimentos
que podem comprometer o
desempenho
funcional
dessas
crianças.
Consequentemente, a PC
pode interferir de forma
importante na interação da
criança
em
contextos
relevantes,
influenciando,
assim, a aquisição e o
desempenho não só de
marcos motores básicos
(rolar, sentar, engatinhar,
andar), mas também de
atividades da rotina diária,
como
tomar
banho,
7
alimentar-se,
vestir-se,
locomover-se
em
ambientes variados, entre
outras16.
Mancini16
ainda
aborda um estudo que
comparou
crianças
com
deficiências
motoras
e
crianças
normais,
demonstrando que, quanto
maior a limitação motora
da criança, maior será a
quantidade
de
tempo
necessária para execução
das atividades diárias. Bem
como em outro estudo,
onde documentou que a
condição de PC influencia o
desempenho
funcional
dessas
crianças,
interferindo diretamente no
ritmo e na ordem de
aquisição de atividades de
autocuidado17.
CONCLUSÃO
A fisioterapia tem
ampla atuação na paralisia
cerebral, sendo que para
cada indivíduo o tratamento
deve
ser
diferencial,
objetivando melhorar as
habilidades já conhecidas
incluindo o ganho de outras
novas. Este estudo buscou
verificar a contribuição da
Técnica
de
Energia
Muscular
na
Paralisia
Cerebral. A escolha desta
técnica para tratamento foi
fundamentada na literatura
que nos mostra resultados
da TEM para o alongamento
de
músculos,
e,
em
contrapartida, a PC que em
muitos casos pode evoluir
com
disfunções
esqueléticas, estando entre
elas,
a
musculatura
hipertônica/encurtada.
Ainda
que
com
limitações para a realização
do estudo, identificamos os
músculos encurtados e as
habilidades motoras que o
paciente
realizava.
Comparando os dados de
pré
e
pós-intervenção
através
da
TEM,
os
resultados
mostraram
melhoras
em
algumas
habilidades
motoras
do
paciente
como:
supino,
ajoelhado, semi-ajoelhado
e levantar. Assim, em
geral,
pode-se
verificar
uma
contribuição
da
aplicação da TEM neste
paciente portador de PC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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