PINTA PRETA Medidas essenciais de controle PINTA PRETA A pinta preta dos citros, também conhecida como mancha preta dos citros, é considerada uma das doenças mais importantes da citricultura paulista. Apesar do alto custo de controle, para cada R$ 1,00 gasto com pulverizações, o citricultor deixa de perder de R$ 5,00 a 25,00 com a redução da queda de frutos. Os maiores prejuízos são observados em pomares mais velhos, principalmente em plantas mal nutridas. O histórico da doença no pomar é importante para definir as estratégias de controle. Depois de instalada em uma área, não há possibilidade de eliminação, por isso, a adoção de medidas de prevenção é essencial. CONTAMINAÇÃO AGENTE CAUSAL – a pinta preta é causada por um fungo, que recebe o nome de Phyllosticta citricarpa. O fungo pode se multiplicar e produzir esporos assexuais (conídios) em frutos, folhas e ramos secos da planta e esporos sexuais (ascósporos) em folhas caídas no solo. VARIEDADES ATACADAS – ocorre em todas as variedades de laranjas doces, limões verdadeiros, tangerinas e seus híbridos. Não há sintomas na lima ácida ‘Tahiti’. PREJUÍZOS – o principal problema da pinta preta para a citricultura é a queda prematura de frutos, o que pode reduzir drasticamente a produção. O fungo não altera a qualidade do suco, mas provoca lesões na casca da fruta, deixando-a com aparência manchada, o que prejudica a sua comercialização no mercado in natura. É uma doença quarentenária e, por isso, frutos de áreas contaminadas não podem ser exportados para áreas livres da doença, como a Europa. DISTRIBUIÇÃO – No Brasil, a doença está presente em todos os estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nos estados do Amazonas e Rondônia (região Norte) e na Bahia (região Nordeste). No estado de São Paulo, os maiores problemas são observados nas regiões Leste, Centro e Norte. DISSEMINAÇÃO O cancro cítrico, causado pela A pinta preta pode chegar ao pomar de diversas formas. As mais comuns são: bactéria Xanthomonas citri subsp. citri, pode ocorrer em todas as espécies MUDAS – plantio de mudas de viveiros não certificados contendo o fungo pode e variedades de citros de importância dispersar a doença para áreas nas quais não está presente; comercial. Os impactos diretos do cancro cítrico MATERIAL VEGETAL – folhas e ramos de pomares contaminados podem ser para a citricultura estão relacionados transportados, principalmente por caminhões e implementos, em época de colheita; aos prejuízos à produção, devido à depreciação da qualidade, à restrição VENTO – os esporos do fungo presentes nas folhas de citros em decomposição podem da comercialização, e principalmente, à ser levados pelo vento para outras plantas do mesmo pomar e de pomares vizinhos. redução pela queda prematura de frutos afetados pela doença. Estes danos potenciais levam ao aumento dos custos de produção tanto em áreas onde é realizada a erradicação, pela adoção de medidas preventivas, inspeções e eliminação de plantas, como em áreas que manejam a doença, pela aplicação de bactericidas cúpricos, redução de área útil para implantação de quebra-ventos e a queda de frutos. DISSEMINAÇÃO: Pode ocorrer por ação de chuvas acompanhadas de vento, por intermédio do homem, de máquinas, ferramentas, equipamentos, mudas, material SINTOMAS + MANCHA PRETA OU DURA É o sintoma mais típico da doença. Aparece durante a maturação dos frutos, geralmente no inverno. As lesões apresentam bordas salientes marrom escuras ou negras e centro deprimido de cor palha com pontinhos escuros (picnídios), nos quais são formados os esporos. + MANCHA SARDENTA Pequenas lesões levemente deprimidas e avermelhadas que aparecem em frutos maduros. Podem ocorrer na pós-colheita. + MANCHA VIRULENTA Formada pelo aumento de lesões e fusão de vários tipos de sintomas. Pode chegar a tomar boa parte do fruto. + FALSA MELANOSE São pequenas manchas superficiais pretas e lisas, dispersas ou agregadas na casca. Esse sintoma ocorre em frutos ainda verdes e é o primeiro a aparecer, a partir de fevereiro. Pode ser confundido com a melanose dos citros, que apresenta lesões mais ásperas e claras. SINTOMAS + MANCHA RENDILHADA Pequenas lesões escuras, superficiais e lisas. Esse sintoma não tem bordas definidas, similar a falsa melanose. Mas se espalha, tomando grande parte da superfície do fruto. + MANCHA TRINCADA Lesões superficiais escuras sem formato e tamanho definidos que aparecem em frutos verdes e ficam trincadas à medida que ocorre o amadurecimento. Está associada à presença do ácaro da falsa ferrugem. + EM FOLHAS Os sintomas não são comuns em laranja doce, mas são facilmente encontrados em limão verdadeiro. São do tipo mancha dura e falsa melanose. PERÍODO DE SUSCETIBILIDADE Os frutos podem ser infectados desde a queda de pétalas até o período de colheita. O risco de contaminação dos frutos ocorre no período no qual a frequência de chuvas é elevada, que, no estado de São Paulo, normalmente vai de setembro a abril. Os sintomas de pinta preta aparecem somente a partir de fevereiro, de 40 a 300 dias após a infecção do fruto pelo fungo, e vão se intensificando até a colheita, à medida que eles vão amadurecendo. Entretanto, as precipitações podem se estender para os meses de maio e junho e, neste caso, as infecções também aparecerem tardiamente. As lesões dos tipos mancha dura, sardenta e virulenta (veja mais em sintomas) estão mais associadas à queda prematura de frutos, principalmente, aqueles com maior severidade de sintomas e com lesões mais próximas ao pedúnculo. PREVENÇÃO INSPEÇÃO - é importante aliada para a detecção da pinta preta a tempo de tomar medidas para evitar que a doença se espalhe pelo pomar. Para obter mais eficiência na busca de sintomas, inspecione os frutos posicionados no terço inferior da copa da árvore (saia), no lado com mais exposição à luz solar, pois o aparecimento dos sintomas é favorecido pela luminosidade combinada com altas temperaturas. PLANTIO DE MUDAS CERTIFICADAS – as mudas devem ser adquiridas em viveiros telados e certificados. NUTRIÇÃO E SANIDADE DO POMAR – árvores severamente afetadas por outras doenças devem ser removidas do pomar. Plantas debilitadas normalmente apresentam queda mais acentuada de frutos. CONTROLE DA ENTRADA DE MATERIAL NO POMAR – é preciso estar atento ao que circula no pomar. O trânsito de material vegetal entre áreas com e sem a doença deve ser evitado. Além disso, é indicado desinfestar e retirar restos vegetais de veículos e de materiais de colheita. A instalação de bins distantes dos pomares auxilia na prevenção da pinta preta, assim como de outras doenças, pois diminui a circulação de veículos nos pomares. REMOÇÃO DOS FRUTOS TEMPORÃOS INFECTADOS ANTES DO INÍCIO DA FLORADA – frutos com sintomas podem conter esporos do fungo que são levados por respingos de chuva para outros frutos, folhas e ramos. CICLO DA PINTA PRETA Após 40 a 300 dias da infecção os sintomas aparecem nos frutos. Ascósporos são levados pelo vento até ramos, folhas e frutos da mesma planta ou de outras plantas vizinhas. Nas folhas de citros em decomposição são formados os esporos (ascósporos). Mudas de viveiros desprotegidos podem ser contaminadas e introduzirem a doença em uma nova área, uma vez que os sintomas raramente são observados em folhas. Em frutos sintomáticos, folhas ou ramos secos são formados os esporos (conídios). Novos sintomas são formados nos frutos, aumentando a doença na planta. Os conídios são levados dos frutos e ramos doentes, pela água, para frutos sadios localizados abaixo deles. As folhas infectadas caem dando continuidade ao ciclo da doença. Folhas contaminadas podem introduzir a doença em uma nova área. MANEJO Nos pomares com pinta preta, o manejo pode ser complementado por um conjunto de medidas que ajuda a proteger os frutos e a impedir a disseminação da doença no pomar. COBERTURA DE FOLHAS CAÍDAS – o plantio de adubo verde nas entrelinhas do talhão e posterior corte com roçadeira ecológica permite direcionar o mato para debaixo da copa das plantas, cobrindo as folhas de citros caídas e servindo como barreira física que dificulta a liberação dos ascósporos. REMOÇÃO OU DECOMPOSIÇÃO DAS FOLHAS CAÍDAS – as folhas de citros caídas também podem ser removidas com sugadores ou rastelo e trituradas com o uso de trinchas. Outra opção é acelerar a decomposição desse material com o uso de compostos como ureia, que podem ser aplicados por meio de barras de herbicidas. PODA DE LIMPEZA DE RAMOS SECOS esta medida é importante para reduzir as fontes de contaminação na planta, além de facilitar a aeração e melhorar a penetração dos defensivos no interior da copa das árvores. IRRIGAÇÃO – principalmente no inverno, esta medida reduz a queda excessiva de folhas e frutos. Também propicia floradas mais uniformes, o que melhora e facilita o controle químico. A irrigação por gotejo é a mais indicada nesse caso, pois está associada a uma menor formação de ascósporos nas folhas caídas, em comparação com microaspersão. ANTECIPAÇÃO DA COLHEITA – a medida é indicada nos talhões nos quais a doença está presente em níveis altos – principalmente nos mais velhos de variedades tardias – pois evita a queda de frutos com sintomas, que poderiam servir de fonte de contaminação para frutos novos, folhas e ramos. QUEBRA-VENTOS – a utilização ao redor da propriedade e entre os talhões cria uma barreira física que dificulta a disseminação do fungo pelo vento. CONTROLE QUÍMICO FUNGICIDAS RECOMENDADOS Os fungicidas recomendados são os cúpricos e as estrobilurinas. Desde janeiro de 2012, os fungicidas carbendazim, mancozebe e tiofanato-metílico foram retirados da lista PIC (Produção Integrada dos Citros) e não são indicados para uso em pomares que destinam sua fruta a produtos de exportação, como o suco de laranja. Os fungicidas, principalmente as estrobilurinas devem ser misturados com óleo mineral ou vegetal a 0,25%. O controle químico deve ser feito com critério e planejamento para que seja eficiente e não selecione fungos resistentes. FUNGICIDAS RECOMENDADOS NA LISTA PIC* Grupo químico Ingrediente ativo Produto comercial Dose Intervalo de aplicação Estrobilurina azoxistrobina piraclostrobina trifloxistrobina Consultar Lista PIC 3,8g de ingrediente ativo/100L 35 a 42 dias Cúprico Oxicloreto de cobre Hidróxido de cobre Óxido cuproso Consultar Lista PIC 90g de cobre metálico/100L 21 a 28 dias Óleo Vegetal ou mineral Consultar Lista PIC 0,25% 21 a 42 dias *Lista de defensivos da Produção Integrada de Citros disponível no site www.fundecitrus.com.br PERÍODO DE PULVERIZAÇÕES Período de pulverizações setembro... Expressão dos sintomas ...abril/maio... colheita O número de aplicações pode variar de duas a seis por ano, com início após a queda das pétalas das flores (de setembro a novembro) e término quando se encerra o período chuvoso (de abril a maio) (ver figura acima). A quantidade de pulverizações e os produtos a serem aplicados devem levar em consideração a intensidade da doença na área, a variedade da planta e o destino da produção. Se a fruta for direcionada para a indústria, o número de pulverizações é menor, variando de uma a cinco por ano, uma vez que o objetivo é manter os frutos na árvore, mesmo apresentando sintomas. Por outro lado, se a produção for destinada ao mercado de fruta in natura podem ser necessárias mais de cinco aplicações. CONTROLE QUÍMICO INTERVALO ENTRE APLICAÇÕES As aplicações de produtos cúpricos devem ocorrer em intervalos de três a quatro semanas. Já as com produtos de ação sistêmica (estrobilurinas), mesmo associados com cobre, devem ser feitas em intervalos de cinco a seis semanas. VELOCIDADE DE APLICAÇÃO A velocidade de aplicação não deve ser superior a 4,5 km/h. Se a produção for destinada para o mercado de fruta in natura, a velocidade deve ser abaixo de 4 km/h. VOLUME DE CALDA O produto deve atingir as partes internas das plantas para reduzir a quantidade do fungo em ramos, folhas e frutos. Os volumes de calda das pulverizações não devem ser muito baixos. Recomenda-se para pomares com produção destinada a suco em torno de 75 mL de calda/m3 de copa (equivalente a aproximadamente 1600-2500 L/ha em pomar adulto). Em áreas voltadas para o mercado de fruta de mesa, o volume deve ser igual ou superior a 100 mL/m3. Os maiores volumes devem ser utilizados em pomares mais velhos, em variedades de maturação tardia e em áreas com histórico da doença. Recomenda-se a colocação de papéis hidrossensíveis no interior da copa para verificar se a pulverização está atingindo os alvos internos da planta. CUBICAGEM Cubicagem (m³) = Largura(m) x Profundidade(m) x Altura(m) ALTURA A cubicagem da planta é uma forma de padronizar a quantidade de calda por volume de copa. Considera-se a altura, largura (espaçamento entre plantas na linha) e profundidade (diâmetro da copa no sentido perpendicular a linha de plantio. PROF UND IDAD E LARGURA RESISTÊNCIA DO FUNGO AOS FUNGICIDAS Atenção: No estado de São Paulo já existe relato de resistência de Phyllosticta citricarpa aos benzimidazóis (carbendazim). Sendo assim, deve-se evitar o uso excessivo das estrobilurinas, a fim de impedir a seleção de populações resistentes do fungo da pinta preta, e também de outros fungos que causam doenças em citros, e manter a eficiência das estrobilurinas. SUGESTÕES DE PROGRAMAS DE PULVERIZAÇÃO 1) SAFRA COM FLORESCIMENTO NORMAL (SETEMBRO) - As duas primeiras aplicações são realizadas normalmente com fungicidas cúpricos (a primeira em setembro e a segunda de 21 a 28 dias depois), pois são eficientes também para o controle de verrugose e melanose. - A partir de novembro até fevereiro (início do período de chuvas frequentes e intensas), as pulverizações devem ser feitas com estrobilurinas, pois são mais eficientes que os cúpricos. Para evitar resistência do fungo, recomenda-se não utilizá-las em mais de três aplicações por safra. FLORESCIMENTO NORMAL Cobre set/out Cobre Estrobilurina Estrobilurina mar/abr 2) SAFRA COM FLORESCIMENTO TARDIO (OUTUBRO/NOVEMBRO) - Nos anos em que o florescimento se encerra tardiamente e a frutificação inicia-se nos meses mais chuvosos (novembro e dezembro), recomenda-se utilizar as estrobilurinas a partir da segunda aplicação*. FLORESCIMENTO TARDIO Cobre out/nov Cobre Estrobilurina* Estrobilurina Estrobilurina abr/mai ERROS MAIS COMUNS NO CONTROLE INTERVALO ENTRE AS APLICAÇÕES Se os intervalos entre as aplicações de cobre ultrapassarem 28 dias e as de estrobilurina excederem 42 dias, os frutos ficarão desprotegidos, comprometendo todo o programa de controle. MOMENTO DA APLICAÇÃO As duas primeiras pulverizações normalmente são com cúpricos, mas em safra com florescimento tardio, a segunda coincide com o período chuvoso intenso e deve ser feita com estrobilurina, pois o cobre tem de 50 a 70% de controle e a estrobilurina até 97%. PERÍODO DE CONTROLE O citricultor não deve finalizar o programa de controle antes do fim do período chuvoso, que, em São Paulo, normalmente vai até março/abril. Se adotar intervalos mais curtos entre aplicações, o número de pulverizações será maior. ADEQUAÇÃO DO EQUIPAMENTO AO POMAR Em pomares velhos não podados, o espaço na entrelinha para passagem do pulverizador fica reduzido, tornando a aplicação desuniforme e ineficiente. Além disso, usar pulverizador pequeno em plantas muito altas não permite boa cobertura no terço superior da copa. DOSE DOS PRODUTOS A dose dos fungicidas não deve ser reduzida sem critérios, pois pode comprometer a eficiência e aumentar o risco de resistência. Não é aconselhável excluir ou substituir o uso do óleo por outros produtos, principalmente em pomares velhos com muita doença. VOLUME DE CALDA Recomenda-se em pomares cuja a produção é destinada para suco, o volume de 75 mL de calda/m³ de copa. Usar volumes inferiores somente em pomares menos densos, onde a calda atinge o interior da copa. VELOCIDADE DE APLICAÇÃO A velocidade de aplicação acima de 4,5 km/h não é recomendada. Em pomares em que as frutas são produzidas para o mercado in natura a velocidade não deve ser superior a 4 km/h. REGULAGEM E CALIBRAGEM Os pulverizadores devem estar conservados, regulados e calibrados. A calda deve ser bem distribuída por toda a copa. Tamanho de gotas em torno de 150 micra. Pressão de trabalho em torno de 100 a 200 psi. Av. Dr. Adhemar Pereira de Barros, 201 Vila Melhado, Araraquara/SP 16 3301 7000 / 0800 112155 www.fundecitrus.com.br Autor: Geraldo José da Silva Junior | Edição: Fabiana Assis | Revisão: Jaqueline Ribas | Projeto gráfico: Marcelo Almeida “Quén” | Ilustrações: Mayara Laurindo | Fotos: Henrique Santos e Arquivo Fundecitrus | 2016 © - Versão atualizada