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Artigo original
Percepção de funcionalidade de paciente
idosa residente do município de
Porto Alegre: estudo de caso
Elderly patient functionality perception resident of the
city of Porto Alegre: a case study
Letícia dos Santos1
Marcello Mascarenhas2
Lucila Ludmila Paula Gutierrez3
RESUMO
Introdução: A capacidade funcional do idoso pode sofrer alterações fisiológicas a médio e longo prazo no
processo de envelhecimento e levar à sua diminuição e à dependência de cuidados. Objetivos: avaliar a percepção da funcionalidade de idosa de 94 anos residente em Porto Alegre /RS em relação a algumas das Atividades básicas de vida diária (Abvds) e Atividades instrumentais de vida diária (Aivds) na visão da própria paciente, de sua cuidadora e de sua fisioterapeuta, antes e após realizar exercícios contra resistidos durante
sessões de fisioterapia domiciliar durante 12 semanas, entre os meses de fevereiro a abril de 2015. Metodologia: Foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas com perguntas abertas gravadas pelo pesquisador, questionando o histórico da idosa e posteriormente foi aplicado um roteiro de questões para avaliar a
percepção da funcionalidade desta idosa por ela própria, pela cuidadora e pela fisioterapeuta antes e depois
da implantação do programa de exercícios contra resistidos em relação a algumas das Abvds e Aivds. Resultados: Os resultados demonstraram que a idosa conseguiu realizar três das quatro atividades propostas no
questionário antes de iniciar o treinamento fisioterapêutico contra resistido e que após se tornou independente para todas as atividades propostas. Conclusão: Estes dados demonstram ter havido efeito positivo do
treinamento contra resistido nas Abvds e Aivds da idosa estudada.
PALAVRAS-CHAVE:
Envelhecimento, Qualidade de vida, Funcionalidade.
Fisioterapeuta, Especialista em Geriatria e Gerontologia pela Rede Metodista de Educação do Sul. (lets.santos@hotmail.
com)
2
Doutor, docente do curso de Farmácia e Biomedicina do Centro Universitário Metodista IPA. (marcello.mascarenhas@
metodistadosul.edu.br)
3
Doutora, docente do curso de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, pertencente ao
Departamento de Ciências Básicas da Saúde. ([email protected])
1
Ciência em Movimento | Ano XVIII | Nº 36 | 2016 junho
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Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
ABSTRACT
Introduction: The functional capacity of the elderly can suffer physiological changes in the medium and long
term in the aging process and lead to its decline and dependency care. Objectives: Evaluate the perception of
the elderly functionality of 94 years resident in Porto Alegre / RS in relation to some of the basic activities of daily living (BADL) and instrumental activities of daily living (IADL) in view of their own patients, their caregivers and
their physiotherapist, before and after performing exercises against resistance during home physiotherapy sessions for 12 weeks between the months February to April 2015. Methods: It were conducted semi-structured
individual interviews with open questions written by the researcher questioning the history of the elderly and
was afterward to a list of questions to assess the perception of the functionality of this aging by itself, the caregiver and the physiotherapist before and after the implementation of exercises against resistance program in
relation to some of BADL and IADL. Results: The results demonstrated that the elderly has achieved three of the
four activities proposed in the questionnaire before starting physical therapy training against resistance and that
after it became independent for all activities proposed. Conclusion: These data demonstrate that there was positive effect of training against resistance in BADL and IADL of the studied elderly.
KEYWORDS
Aging, Quality of life, Functioning.
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Ciência em Movimento | Ano XVI II | Nº 36 | 2016 junho
Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
Introdução
residente em Porto Alegre /RS em relação a algumas
das Atividades básicas de vida diária (Abvds) e Ativi-
O envelhecimento é um processo dinâmico, pro-
dades instrumentais de vida diária (Aivds) na visão
gressivo e multifatorial, no qual ocorrem modificações
da própria paciente, de sua cuidadora e de sua fisio-
morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas
terapeuta, antes e após realizar exercícios contra re-
(MONTECLARO, 2014). No Brasil já existem 21 milhões
sistidos durante sessões de fisioterapia domiciliar
de indivíduos com mais de sessenta anos, sendo as
durante 12 semanas, entre os meses de fevereiro a
regiões Sudeste e Sul do Brasil as regiões com maior
abril de 2015.
população idosa no país (REBOUÇAS et al., 2013; IBGE, 2016; BRASIL: ESTATUTO DO IDOSO, 2016).
Metodologia
Especificamente, no envelhecimento do músculo
esquelético há um declínio fisiológico da força mus-
Foi realizado um estudo de caso descritivo, com
cular que pode comprometer a capacidade funcional
abordagem qualitativa. Este estudo de caso foi feito
(ou funcionalidade) do idoso (FIEDLER et al., 2008),
com idosa moradora da cidade de Porto Alegre, em
levando-o à dependência de cuidados (FARIAS et al,
sua própria residência, no bairro Independência des-
2012) e tirando do mesmo a capacidade de decidir
te município. Conforme visto, objetivou-se avaliar a
e atuar de forma independente no seu cotidiano, o
funcionalidade da paciente, sob três prismas diferen-
que gera profundas consequências na vida deste in-
tes: a percepção de melhora (ou não) da própria ido-
divíduo e de seus familiares (MACIEL, 2010). Assim,
sa, sua cuidadora e sua fisioterapeuta. Assim, a co-
as avaliações funcionais passam a ser importantes
leta de dados foi precedida da aprovação do Comitê
instrumentos que auxiliam os profissionais da saúde
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro
a obter ferramentas para atuar na prevenção e/ou
Universitário Metodista IPA, sob número da CAE
reabilitação destes indivíduos. Estas avaliações po-
40072914.4.0000.5308 e pela assinatura do Termo
dem ser classificadas em incapacidades das Ativida-
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelas
des básicas de vida diária (Abvds), também chama-
entrevistadas e ocorreu em dois momentos: antes de
das de atividades de autocuidado (como alimentar-
se começar o treinamento contra resistido com du-
-se, higienizar-se e vestir-se) e das Atividades instru-
ração de 12 semanas (no mês de fevereiro de 2015)
mentais de vida diária (Aivds), também denominada
e após o treinamento (no mês de abril de 2015). A
de habilidades de mobilidade (DEL DUCA et al.,
coleta de dados foi feita individualmente, com as três
2009), que esta faixa etária apresenta ao longo dos
entrevistadas, por meio de aplicação de questionário
anos. Em países desenvolvidos já se vê avanço posi-
semiestruturado com perguntas abertas gravadas
tivo nos parâmetros de funcionalidade com a melho-
pelos pesquisadores, na residência da própria idosa,
ria da tecnologia da medicina, equipamentos espe-
em sala reservada para minimizar constrangimentos.
cíficos para os idosos com problemas de saúde, me-
O tempo necessário para responder o questionário
lhora nas condições socioeconômicas e aumento do
foi de 15 minutos para cada vez que este foi aplicado
nível educacional (MACIEL, 2010). Além disto, estu-
em cada componente da amostra. Primeiramente,
dos apontam que treinamento contra resistido em
foram questionados o a estrutura familiar, idade, se-
idosos melhora a capacidade funcional, resistência
xo, estado civil e nível de escolaridade da idosa para
de força, agilidade e equilíbrio dinâmico dos mes-
ela mesma. Posteriormente, foi aplicado um roteiro
mos, pelo ganho de força muscular (PRADO et al,
de questões para avaliar a percepção da idosa, da
2010; BAPTISTA, 2011; GLÉRIA, et al 2011; UENO et
cuidadora e da fisioterapeuta em relação à funciona-
al., 2012), gerando influência positiva no desempe-
lidade da paciente antes de iniciar o treinamento e
nho funcional de idosos, podendo preservar sua in-
após finalizar o treinamento contra resistido fisiote-
dependência e autonomia (UENO et al., 2012).
rapêutico de 12 semanas, que ocorreu entre os me-
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar
ses de fevereiro e abril de 2015. As questões do ques-
a percepção da funcionalidade de idosa de 94 anos
tionário foram elaboradas de forma a serem bem
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Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
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compreendidas pelas entrevistadas. Assim, o questionário continha perguntas como “A idosa consegue
levantar do sofá sem pedir ajuda a outra pessoa?”,
“A idosa consegue ir ao banheiro, sentar, fazer a higiene pessoal e levantar do vaso sanitário sem pedir
ajuda a outra pessoa?”, “A idosa consegue levantar-se da cama sem pedir ajuda a outra pessoa?”, “A
idosa consegue ir a cozinha pegar um lanche ou um
copo de água sem pedir ajuda a outra pessoa?”.
O programa de exercícios contra resistidos foi realizado na residência da própria idosa, duas vezes por
semana com duração de 60 minutos para os grupos
musculares quadríceps, tríceps sural dos membros inferiores e bíceps, tríceps, flexores de mão e dedos para
membros superiores. Para cada grupo muscular foram
realizadas três séries de cada exercício com 12 repetições em cada série, durante as 12 semanas. A idosa
utilizou caneleira de 0,5kg, resistência manual, bola de
plástico média, bola de borracha pequena e alongamento manual ao final da musculatura flexora ísquios
tibiais e tríceps sural de membros inferiores realizados
pela fisioterapeuta em uma repetição de 15 segundos.
O programa de exercícios prescritos e orientados pela
fisioterapeuta incluiu caminhadas no corredor da casa
por duas vezes (ida e volta); deitar a idosa em decúbito
dorsal e realizar planti flexão e dorsi flexão contra resistido manualmente nos pés; deitar a idosa em decúbito
dorsal e realizar exercícios de flexão e extensão de quadril e joelho (com caneleira de 0,5kg e com auxílio do
fisioterapeuta se necessário); deitar a idosa em decúbito dorsal e fletir o quadril com o joelho em extensão
(com auxílio do fisioterapeuta se necessário); deitar a
idosa em decúbito dorsal com os dois joelhos fletidos,
deixar os pés apoiados e elevar quadril com contração
de glúteos e músculos abdominais; deitar a idosa em
decúbito dorsal com joelhos fletidos, os dois pés apoiados e realizar abdução de quadril contra resistido manualmente; sentar a idosa e faze-la apertar bola com a
mão; sentar a idosa e faze-la apertar bola entre os joelhos (com auxílio do fisioterapeuta se necessário); sentar
a idosa e faze-la levantar-se do sofá, realizando trabalho
de força para grupo muscular quadríceps (3 séries de 2
repetições, com auxílio do fisioterapeuta se necessário);
sentar a idosa e faze-la jogar bola com os membros
superiores; sentar a idosa e faze-la realizar abdução de
quadril de modo contra resistido manualmente; sentar
a idosa e faze-la realizar rotações de cintura escapular
com a bola entre as mãos; coloca-la em pé e faze-la
subir e descer obstáculos em deslocamento para frente
Ciência em Movimento | Ano XVI II | Nº 36 | 2016 junho
(1 série, com auxílio do fisioterapeuta se necessário),
coloca-la em pé e faze-la subir e descer degrau da casa
simulando uma escada (2 séries de 5 repetições, com
auxílio do fisioterapeuta se necessário); coloca-la em pé
e faze-la equilibrar-se estaticamente de modo uni podal,
alternando a perna direita e esquerda durante 10 segundos (com auxilio do fisioterapeuta) e, por fim, coloca-la deitada em decúbito dorsal e fazer alongamento
de membros inferiores.
Os dados foram apresentados descritivamente
em tabelas mostrando os resultados antes e após os
exercícios com as percepções de cada uma das entrevistadas. Não houve conflito de interesses no presente trabalho e o financiamento deste foi custeado
pelos próprios autores.
Resultados
Conforme visto, este estudo de caso foi realizado
com idosa residente em Porto Alegre/RS, no bairro
Independência. A idade da idosa pesquisada tinha a
idade de 94 anos, sexo feminino, viúva, com uma estrutura familiar de dois filhos e um irmão mais novo.
Possuía pensão e bens deixados pelo marido. Cursou
até a quarta série do ensino fundamental (grau de
escolaridade). As características socioeconômicas da
idosa pesquisada podem ser visualizadas na Tabela 1.
Tabela 1- Características socioeconômicas da idosa entrevistada, residente do município de Porto Alegre/RS, que
fez treinamento contra resistido de 12 semanas, ocorrido
entre fevereiro e abril de 2015.
Variáveis
Idade
Sexo
Estado Civil
Escolaridade
94 anos
Feminino
Viúva*
4a série ensino fundamental
* A entrevistada apresenta estrutura familiar de dois filhos
e um irmão mais novo. Possui pensão e bens deixados pelo
marido
O mesmo questionário sobre a percepção de
funcionalidade em relação a algumas Atividades básicas de vida diária (Abvds) e Atividades instrumentais de vida diária (Aivds) foi aplicado à idosa, à
cuidadora e à fisioterapeuta antes e após o treinamento fisioterapêutico contra resistido de doze semanas. Na entrevista realizada com a idosa foi pos-
Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
sível observar que a mesma conseguia realizar três
das quatro atividades questionadas antes do treinamento e que após os exercícios contra resistidos
todas as quatro atividades propostas foram realizadas. A primeira pergunta feita à idosa versava sobre
sua capacidade de levantar-se do sofá sem o auxílio
de outra pessoa; a idosa respondeu que conseguia
se levantar nas duas aplicações do questionário (antes e após o treinamento). A segunda questão era
se conseguia ir ao banheiro, sentar, fazer higiene
pessoal e levantar-se do vaso sanitário sem pedir
ajuda a outra pessoa; a idosa respondeu que sim
antes e após o treinamento, relatando que conseguia levantar-se após a higiene agarrando-se na pia
do banheiro. Para a terceira questão, que abordava
sobre a capacidade da idosa levantar-se da cama
sem pedir ajuda, as respostas (antes e depois do
treinamento) foram sim. A última questão tratava
sobre a capacidade da idosa de se locomover até a
cozinha pegar algum lanche sem pedir auxílio à outra pessoa: nesta questão, a idosa respondeu que
não antes do treinamento e sim, após o mesmo. A
percepção da idosa antes e após o treinamento está na Tabela 2.
Tabela 2- Percepção da idosa entrevistada, residente do
município de Porto Alegre/RS, antes e após treinamento
contra resistido de 12 semanas, ocorrido entre fevereiro e
abril de 2015, sobre sua própria funcionalidade em relação a algumas das Atividades básicas de vida diária
(Abvds) e Atividades instrumentais de vida diária (Aivds).
Em relação à entrevista respondida pela cuidadora, a mesma era do sexo feminino, tendo respondido ao mesmo questionário antes e depois do treinamento fisioterapêutico contra resistido de 12
semanas. A cuidadora respondeu que a idosa conseguia levantar do sofá sem pedir ajuda a outra pessoa (antes e depois do treinamento), mas que não
conseguia ir ao banheiro e fazer a higiene pessoal
e nem se levantar do vaso sanitário sem pedir auxílio, antes do treinamento. Contudo, relatou que
após o treinamento, a idosa conseguia executar sozinha esta tarefa. Sobre o levantar-se da cama sem
pedir auxílio à outra pessoa, a resposta foi que sim,
a idosa conseguia levantar-se antes e depois do treinamento. Na pergunta sobre alimentação, se a idosa conseguia ir a cozinha pegar algum lanche sem
pedir ajuda a outra pessoa, a resposta da cuidadora
foi que sim (antes e depois do treinamento), relatando que antes do treinamento a idosa só o faria
se estivesse com fome e não contasse com o auxílio
de ninguém para executar esta tarefa. Os resultados
da percepção da cuidadora antes e depois do treinamento estão descritos na Tabela 3.
Tabela 3- Percepção da cuidadora entrevistada antes e
após tratamento fisioterapêutico contra resistido de 12
semanas, ocorrido entre fevereiro e abril de 2015, no município de Porto Alegre/RS, sobre a funcionalidade da idosa estudada em relação a algumas das Atividades básicas
de vida diária (Abvds) e Atividades instrumentais de vida
diária (Aivds).
Variáveis
Antes
tratamento
Após
tratamento
Variáveis
Antes
tratamento
Após
tratamento
Levanta do sofá sem pedir
ajuda a outra pessoa
Sim
Sim
Consegue levantar do sofá sem
pedir ajuda a outra pessoa
Sim
Sim
Consegue ir ao banheiro
sentar, fazer higiene pessoal e levantar do vaso
sem pedir ajuda a outra
pessoa
Sim
Sim
Consegue ir ao banheiro sentar,
fazer higiene pessoal e levantar
do vaso sem pedir ajuda a outra
pessoa
Não
Sim
Sim*
Sim
Consegue quando esta
deitada levantar da cama
sem pedir ajuda a outra
pessoa
Sim
Consegue quando esta deitada
levantar da cama sem pedir ajuda
a outra pessoa
Sim
Sim
Consegue se estiver com
fome ir a cozinha pegar
algum lanche sem pedir
ajuda a outra pessoa
Não
Consegue se estiver com fome ir
a cozinha pegar algum lanche
sem
pedir ajuda a outra pessoa
Sim
Sim*
* Às vezes.
* Quando não há ninguém que possa lhe ajudar.
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Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
Nas respostas da entrevista feitas com a fisiote-
Discussão
rapeuta foi relatado que a idosa podia executar todas
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as tarefas (antes e depois do treinamento). Na pri-
Entre os avanços científico e técnico que permiti-
meira pergunta sobre levantar do sofá sem pedir aju-
ram que os indivíduos vivessem por mais tempo e que,
da a outra pessoa, a fisioterapeuta observa que a
portanto, envelhecessem, estão as ações na área da
idosa consegue realizar a tarefa. Em relação à idosa
saúde como a elaboração de programas associados a
conseguir ir ao banheiro, fazer higiene pessoal e le-
doenças específicas, imunizações em massa e aumen-
vantar do vaso sanitário sem pedir ajuda, a fisiotera-
to da cobertura de assistências médica (REBOUÇAS et
peuta observou que a idosa conseguia (antes e após
al., 2013). No Brasil, a população com 65 anos ou
o treinamento) e descreve que a mesma vai cami-
mais, que era de 4,8% em 1991, passou a 5,9% em
nhando até o banheiro com a bengala, faz higiene
2000 e chegou a 7,4% em 2010 (IBGE, 2016).
sozinha e utiliza a pia como apoio ao levantar do
As alterações fisiológicas observadas no envelhe-
vaso sanitário. Na avaliação da profissional, quando
cimento, devido a fatores genéticos e ambientais
questionado se a idosa conseguia levantar da cama
(CRUZ et al., 2011), não ocorrem da mesma maneira
sem pedir ajuda a outra pessoa, a resposta foi que
em todos os indivíduos; há maneiras diferentes de
sim para antes e depois do treinamento. Na última
envelhecer e principalmente de encarar o envelheci-
pergunta questionou-se a fisioterapeuta se a idosa
mento. Para atingir-se uma maneira ativa de envelhe-
consegue ir a cozinha se servir de lanche sem pedir
cer, é necessário que existam oportunidades de saúde,
ajuda a outra pessoa; a fisioterapeuta respondeu que
participação e segurança de forma intermitente ao
sim para antes e depois do treinamento. Os resulta-
longo da vida, com políticas e programas de saúde
dos da percepção da fisioterapeuta sobre antes e
fundamentados nos direitos, exigências, prioridades
depois ao treinamento contra resistido de doze se-
e nas habilidades destes idosos (FARIAS, 2012).
manas estão na Tabela 4.
Dentre os comprometimentos advindos com o
Tabela 4 - Percepção da fisioterapeuta entrevistada antes
e após tratamento fisioterapêutico contra resistido de 12
semanas, ocorrido entre fevereiro e abril de 2015, no município de Porto Alegre/RS, sobre a funcionalidade da idosa estudada em relação a algumas das Atividades básicas
de vida diária (Abvds) e Atividades instrumentais de vida
diária (Aivds).
Variáveis
Consegue levantar do sofá sem
incapacidade funcional, caracterizada como qualquer restrição para desempenhar uma atividade dentro da extensão considerada normal para a vida humana (DEL DUCA et al., 2009). A funcionalidade é
um indicador do grau de independência dos idosos
e é a partir da medida de funcionalidade que se de-
Antes
Após
trata-
trata-
men-
men-
to
to
Sim
Sim
World Health Organization) em 2002, criou a CIF
Sim
Sim
descreve que a funcionalidade do idoso se relaciona
pedir ajuda a outra pessoa
Consegue ir ao banheiro sentar,
avanço cronológico da idade, está a ocorrência de
vem implementar ações preventivas e terapêuticas
para os mesmos. Pereira e colaboradores (2014) trazem que a Organização Mundial da Saúde (WHO –
(Classificação Internacional de Funcionalidade), que
fazer higiene pessoal e levantar
com os componentes de funções e estruturas do or-
do vaso sem pedir ajuda a outra
ganismo, atividade e participação social, observan-
pessoa
do-se o indivíduo como um todo, de modo interdis-
Consegue quando esta deitada
Sim
Sim
ciplinar. Estudos citam que por volta dos vinte anos
levantar da cama sem pedir ajuda
a capacidade funcional do organismo chega a seu
a outra pessoa
ápice e que após os 60 anos esta poderá cair 30% ou
Consegue se estiver com fome ir
Sim
Sim
mais, variando de acordo com histórico de doenças
a cozinha pegar algum lanche
individuais (DESLANDES, 2013; SANDRI, 2013; PEREI-
sem pedir ajuda a outra pessoa
RA et al. 2014; MONTECLARO, 2014). Uma das formas para avaliar a funcionalidade do idoso é por
Ciência em Movimento | Ano XVI II | Nº 36 | 2016 junho
Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
meio da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), descrita
2010). Em estudo com idosos saudáveis do sexo mas-
por Lé Visa (2014), que utiliza as Atividades básicas
culino foi identificado que no treinamento contra
de vida diária (Abvds), referentes à capacidade do
resistido são adicionados sarcômeros em paralelo na
idoso de realizar os seus cuidados pessoais (como
fibra muscular, permitindo ao músculo gerar mais
alimentação, higiene pessoal, vestuário), mobilidade
força. Ainda, este mesmo estudo identifica os bene-
(como andar e movimentar-se) e capacidade de man-
fícios de idosos que praticam exercício físico quando
ter a continência urinária e fecal. A AGA também
comparados a idosos sedentários e descreve que o
utiliza as Atividades instrumentais de vida diária (Ai-
treinamento de força nos principais grupos muscu-
vds) que indicam a capacidade do indivíduo de man-
lares, para idosos, deveria ser realizado pelo menos
ter uma vida socialmente independente inserido ao
uma vez por semana, de modo a mantê-los fisica-
meio onde vive, classificada em atividades dentro de
mente ativos, respeitando suas questões de saúde
casa como cozinhar, arrumar a casa, cuidar de suas
(BAPTISTA, 2009). Já Perez e colaboradores (2010),
finanças, de suas medicações e atividades fora de
em seu estudo, encontraram no grupo de idosas que
casa como fazer compras, utilizar meios de transpor-
realizavam exercício físico regularmente um índice
te, ir a compromissos sociais e de saúde.
sênior de autonomia de ação (ISAC) e índice de au-
Tavares e colaboradores (2012), em um estudo no
tonomia exprimida (IAE) acima do mínimo conside-
município de Uberaba/MG, descreveram que com o
rado essencial e maior quando comparadas ao grupo
aumento da população idosa ampliaram-se as inci-
de idosas sedentárias. Ainda, a literatura demonstra
dências de alterações do desempenho funcional, tra-
que idosos que praticam exercício físico possuem da-
zendo consequente dependência. Estes autores rela-
dos elevados de aptidão cardiorrespiratória e mus-
tam que 26,8% dos idosos apresentavam dependên-
cular, melhor composição corporal, maiores índices
cia para realização das Abvds, principalmente na
de saúde funcional, baixo risco de quedas e uma
capacidade de fazer sua higiene pessoal e vestir-se.
maior função cognitiva, com risco reduzido para li-
Almeida e colaboradores (2012) citam um estudo
mitações funcionais e sociais, quando comparados a
feito no Brasil por Lebrão e colaboradores (2003) em
idosos sedentários (BATISTA, 2011). Assim, exercícios
que 19,2% dos idosos necessitavam de ajuda para
contra resistidos são tidos como excelentes para
Abvds e 26,8% para Aivds. Este estudo ainda de-
manter a capacidade funcional do idoso e isto foi
monstrou que fatores intrínsecos relacionados com
demonstrado pelo presente estudo, uma vez que a
o envelhecimento desta população estudada (como
idosa conseguiu desempenhar as tarefas solicitadas
tontura e diminuição da acuidade auditiva e visual)
e as atividades diárias, embora a literatura traga que
eram os principais limitantes para a execução das
a força muscular esquelética apresenta queda entre
Abvds. Embora a idosa deste estudo de caso apre-
os 70 e 80 anos (perda de 20% a 40% da força mus-
sentasse 94 anos, ela ainda conseguia executar as
cular esquelética) e aos 90 anos, a perda já é maior
Abvds e Aivds no seu cotidiano, mesmo estando, dia-
que 50% independentemente do gênero sexual. No
riamente, acompanhada de uma cuidadora. A pa-
presente estudo de caso, a idosa pesquisada já rea-
ciente foi beneficiada com os resultados do treina-
lizava atividade de fisioterapia antes da entrevista
mento físico contra resistido de 12 semanas de du-
inicial e, por este motivo, ela já executava todas as
ração, conforme a percepção das entrevistadas (a
tarefas. Mesmo assim, as entrevistadas consideraram
idosa, a cuidadora e a fisioterapeuta), pois foi possí-
que houve uma melhora na capacidade funcional da
vel verificar que sua capacidade funcional estava pre-
idosa. Desta maneira, percebe-se que os exercícios
servada e que melhorou após treinamento contra
resistidos são ferramentas essenciais para a manu-
resistido com duração de 12 semanas. A prática de
tenção da qualidade de vida no envelhecimento sau-
exercício físico contra resistido regular é capaz de
dável (BARBOSA et al., 2009; FECHINE & TROMPIERI,
aumentar a massa muscular, melhorar a saúde física
2012; SANDRI, 2013; DESLANDES, 2013), uma vez
e função muscular, permitindo que o indivíduo exe-
que são capazes de colaborar para a manutenção da
cute diversas atividades (MACIEL, 2010; PEREZ et al,
independência funcional do idoso. Cabe ressaltar
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Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
que esta vantagem é adquirida mesmo quando se
nota-se que o treinamento contra resistido auxiliou-a,
começa a prática tardiamente (FIELDER e PEREZ,
no mínimo, na manutenção de sua funcionalidade. A
2008; ARAÚJO, 2010; OLIVEIRA et al., 2010; MACIEL,
literatura ainda mostra que a capacidade funcional de
2010; TAVARES et al., 2012; DESLANDES, 2013).
idosos é melhor em indivíduos casados e viúvos, sen-
Dentre as atividades importantes para a manutenção
do este último o estado civil da idosa pesquisada no
do equilíbrio, agilidade e capacidade funcional, as
presente caso (Drummond et al., 2013).
mais utilizadas são as caminhadas, exercícios de força (exercícios contra resistidos) e alongamento (CAR-
Considerações Finais
VALHO et al., 2010), sendo este o motivo da escolha
de exercícios contra resistidos para a avaliação da
Como foi descrito nos resultados, a idosa já apre-
percepção de funcionalidade da paciente idosa do
sentava independência para realizar três das quatro
presente estudo.
perguntas do questionário aplicado antes e depois
Em relação ao gênero, Carvalho e colaboradores
de treinamento fisioterapêutico contra resistido de
(2010) encontraram que um terço das idosas pesqui-
12 semanas em relação a suas Abvds e Aivds, uma
sadas eram pouco ativas, e que acima de sessenta
vez que esta já realizava fisioterapia duas vezes por
anos a inatividade física ao longo do dia dos idosos é
semana, estando neste fator, possivelmente, a sua
alta. Isto ocorre porque a prática de atividades diminui
capacidade física. No entanto, quando foram inseri-
com o avanço da idade, o que pode se associar à di-
dos os exercícios contra resistidos, a idosa respondeu
minuição da capacidade física. Sabe-se também que
positivamente, melhorando nos itens em que já era
mulheres têm menor atividade física em relação aos
funcional e o no item que não havia independência.
homens, principalmente em atividades de lazer; po-
48
Este resultado, nos leva a concluir que para
rém, participam mais do que os homens em atividades
esta idosa de 94 anos, os exercícios contra resistidos
caseiras (CARVALHO et al., 2010; CORREA & PINTO,
foram o fator que levou a melhora das Abvds e Aivds
2011). Além disto, dados nacionais apontam o sexo
no cotidiano da mesma, melhorando e preservando
feminino como mais suscetível ao declínio funcional
sua qualidade de vida e independência funcional. As-
quando comparado ao masculino (DRUMMOND et
sim, estudos que auxiliam no reconhecimento das
al., 2013). Torres e colaboradores (2014) demonstra-
causas que levam as incapacidades e perdas de au-
ram que o sexo e faixa etária apresentam associação
tonomia no envelhecimento são essenciais, pois esta
significativa com a capacidade de realização de Abvds.
compreensão possibilita ao profissional da área da
Apesar de a paciente estudada ser do sexo feminino,
saúde intervir e auxiliar estes pacientes.
Ciência em Movimento | Ano XVI II | Nº 36 | 2016 junho
Percepção de funcionalidade de paciente idosa residente do município de Porto Alegre: estudo de caso
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