Artigos Estudos e Comentários ao estudo ACCOMPLISH Comentados The Avoiding cardiovascular Events trough Com­ bination Therapy in Patients Living with Systolic Hypertension (ACCOMPLISH) estudo, foi desenhado para avaliar a hipótese de que o tratamento com um IECA combinado com Amlodipina teria menos eventos cardiovasculares do que o tratamento de um IECA com um diurético tiazidico. Foi um estudo clínico multicêntrico, duplamente cego, que comparou as taxas de morbilidade e mortalidade cardiovasculares quando estas duas associações terapêuticas eram utilizadas como intervenção inicial em doentes com HTA que estavam em alto risco para eventos cardiovasculares. Foram incluídos 11.462 hipertensos de cinco Países (USA, Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia), com um total de 548 centros. Todos os doentes tinham HTA e estavam em alto risco de eventos cardiovasculares; foram incluídos doentes com história de eventos coronários, enfarte do miocárdio, revascularização ou AVC; insuficiência renal; doença arterial periférica; hipertrofia ventricular esquerda; ou diabetes mellitus. Os doentes começaram o tratamento com uma combinação de 20 mg de benazepril com 5 mg de amlodipina ou com 12,5 mg de hydrochlorotiazida (HCTZ) uma vez ao dia em comprimidos únicos. Conforme o protocolo o componente benazepril em ambos os grupos foi aumentado para 40 mg diários um mês depois da randomização. Depois os investigadores podiam aumentar a amlodipina para 10 mg diários e aumentar a HCTZ para 25 mg diários se necessário, para atingir a pressão alvo de menos de 140/90 mmHg (ou 130/80 mmHg para os doentes com diabetes ou doença renal). Era permitido adicionar outros agentes hipotensores (excluindo qualquer bloqueador dos canais do cálcio(BCC), IECA, ARA II ou diurético tiazídico). Foram incluídos homens e mulheres com idades > ou = a 60 anos, com TA sistólica > ou = a 160 mmHg ou a fazer terapêutica anti- hipertensora. Entre Outubro de 2003 e Maio de 2005, 13,782 doentes foram rastreados, e foram incluídos 11,506 doentes no grupo de estudo – 5744 doentes no grupo de benazeprilamlodipina e 5762 no grupo de benazepril-HCTZ. Não havia diferenças significativas nas características basais entre os doentes dos dois grupos terapêuticos. A idade média foi de 68.4 anos de idade, e 39.5% dos doentes eram mulheres. Aproximadamente metade da população do estudo (49.6%) tinha um IMC maior que 30 António Jorge de Paiva Jara Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1972. Director do Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Évora desde 1986, Grau de Chefe de Serviço de Cardiologia em 1989, concurso de Chefe de Serviço de Cardiologia em 1992, actualmente Director do Serviço de Cardiologia do Hospital do Espírito Santo de Évora-EPE. Membro da Fundação Portuguesa de Cardiologia, do Corpo Redactorial da Revista Portuguesa de Cardiologia, do Conselho Científico Nacional da Revista Portuguesa de Hipertensão e Risco Cardiovascular, e da Direcção da Sociedade Portuguesa de Cardiologia no biénio de 1995/1997. Várias comunicações em Congressos e participação em trabalhos de investigação Nacionais e Internacionais. Benazepril mais Amlodipina ou Hydrochlorotiazida para doentes hipertensos em alto risco Kenneth Jamerson, M.D.; Michael A weber,M.D.; GeorgeL.Bakris,M.D.;Björn Dahlöf,M.D.;Bertram Pitt,M.D.;Victor Shi,M.D.; Allen Hester,Ph.D.; Jitendra Gupte, M.S.; Marjorie Gatlin, M.D.; and Eric J. Velazquez, M.D.; for the ACCOMPLISH trial investigators N Engl J Med 2008; 359:2417-28 90 Revista Factores de Risco, Nº13 ABR-JUN 2009 Pág. 90-92 de 1,1 mmHg que houve entre os dois grupos. Estamos perante uma população de alto risco cardio­ vascular e sabemos que o risco de AVC e de DC é tanto maior quanto maior a TA, quer sistólica quer diastólica, mesmo dentro dos valores considerados normais. Estudos epidemiológicos observacionais mostraram que cada vez que a TA é reduzida de 20 /10 mmHg o risco de AVC é reduzido e isto até à TA sistólica de 115 mmHg (Levington S and al. Lancet 2002: 360:1903-1913). Por outro lado, o estudo VALUE (J.Hypertension 2006: 24:1405-12), que envolveu 15.245 doentes com > 50 anos com HTA e alto risco cardiovascular, mostrou a importância que tem nestes doentes o controlo rápido da TA, e como pequenas diferenças da TA se podem traduzir em diferenças em número de eventos prevenidos. É ainda de considerar que a amlodipina aumente o óxido nítrico endotelial, tem efeito aditivo na redução da HVE e da rigidez da parede arterial (em humanos), e atrasa a progressão da aterosclerose (em animais de laboratório). Os bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) conseguem uma redução de 38% de AVC quando comparados com placebo em 4RCTs e ainda mais 12% quando comparados com IECA (Blood Pressure Triaists 2003), e a protecção dada pelos BCC parecem não resultar do grau de redução da TA sistólica (Angeli e al. 2004). Aproximadamente metade dos doentes tinha um IMC >30 e 60,4% dos doentes tinha diabetes. Os diuréticos podem causar múltiplas perturbações metabólicas, podem provocar excesso de depleção de volume e induzir azotemia pré-renal e favorecer a trombose, podem aumentar o colesterol total, colesterol das LDL e triglicéridos (sobretudo em doses maiores que 50 mg de hydrochlorotiazida (HCTZ)), provocam insulinoresistência, intolerância à glicose, diabetes de novo e agravamento do controlo da diabetes. A clorotalidona tem um efeito metabólico menos intenso e uma acção mais prolongada que a HCTZ, mas não há estudos comparativos entre os dois diuréticos. A hipokaliemia é três vezes mais frequente com a clorotalidona do que com a HCTZ, é dose dependente e acentua-se por aumento da ingestão de sódio. O risco potencial major de depleção de potássio é o aumento da incidência de AVC (Levine et Coull 2002) e este efeito relaciona-se como aumento da reactividade plaquetária (Kimera et al. 2004). Existe aumento da morte súbita com diuréticos não poupadores de potássio, dependente da dose, e no estudo e a média eram de 31. É de notar que 60,4 % dos doentes tinham o diagnóstico de diabetes. Ao fim de 6 meses 60,9% dos doentes no grupo benazepril-amlodipina recebiam a dose máxima de 40mg de benazepril e 10 mg de amlodipina, e 60,3% do outro grupo recebiam a dose máxima de 40 mg de benazepril e 25mg de hydrochlorotiazida. Em ambos os grupos 32,3% dos doentes recebiam ao fim de um ano medicação adicional. A tensão arterial média depois dos ajustamentos de doses foi de 131,6/73.3 mmHg no grupo benazepril-amlodipina e 132,5/74.4 mmHg no grupo benazepril-hydrochlorotiazida. A diferença média de tensão arterial entre os dois grupos foi de 0.9 mmHg sistólica e 1.1 mmHg diastólica (P<0,001) para ambos os valores de tensão arterial). A tensão arterial controlo, definida como menos de 140/90 mmHg, foi atingida em 75,4% dos doentes no grupo benazepril-amlodipina e em 72,4% no grupo benazepril-hydrochlorotiazida. O estudo foi terminado antecipadamente depois de um follow-up de 36 meses. Houve 552 eventos (outcomeprimário) no grupo benazepril-amlodipina (9.6%) e 679 no grupo benazepril-HCTZ (11.85), representando uma redução de risco absoluto coma terapêutica benazepril-amlodipina de 2,2%, e uma redução de risco relativo de 19,6% (HR,0,80,95% CI, 0,72 a 0,90; P<0,001). Para os end point secundários de morte de causa cardiovascular, enfarte do miocárdio não fatal, e AVC não fatal foi o HR 0,79 (95% CI, 0,67 a 0,92; P= 0,002). A taxa de eventos adversos foi consistente com as observadas com a experiência clínica dos fármacos estudados. Conclusão A combinação benazepril-amlodipina foi superior à de benazepril-hydrochlorotiazida, na redução de eventos cardiovasculares, em doentes com hipertensão arterial que estavam em alto risco para tais eventos. Este estudo mostrou que um simples comprimido com a combinação benazepril-amlodipina reduz o risco de morbilidade e mortalidade em 20% comparado com a terapêutica convencional, e sugere que a terapêutica combinada é provavelmente uma boa estratégia inicial para doentes de alto risco. A alta taxa de controlo da TA com ambas as combinações é um dado adquirido de estudo. No entanto, consideramos que temos que valorizar as diferenças na TA sistólica de 0,9 mmHg e da TA diastólica 91 Comentários ao estudo ACCOMPLISH. SHEP entre os doentes com 12,5 e 25 mg de clorotalidona, os 7,2% que desenvolveram hipokaliémia tiveram metade da redução dos eventos cardiovasculares major do que os com potássios normais. A incidência de diabetes de novo no estudo ALLHAT, nos doentes medicados com clorotalidona (a maioria com doses de 25 mg, equivalentes a 40 a 50 mg de HCTZ) foi de 11,5%, comparada com os 8,3% com amlodipina e 7,6% com lisinopril. Durante os quatro anos do estudo não foram evidentes consequências adversas deste aumento de diabetes. No entanto estes doentes eram doentes diferentes na medida em que não eram doentes de alto risco cardiovascular (doentes com um factor de risco) e não tinham IMC>30 e altas percentagens de diabetes. O estudo SHEP, a despeito de um aumento de diabetes não houve um aumento de eventos cardiovasculares, e fez um follow-up de 15 anos, mas nos anos pós- trial não houve controlo das medições e e das condições médicas (Kortis et al. 2005). Está perfeitamente estabelecido que a hiperglicemia está fortemente associada com complicações micro vas­ culares. Verdecchia et al. (Hypertnsion 2004:43:963-969) calculam que pode ser prevenido um evento cardiovascular para cada 385-449 doentes com “novos “ hipotensores do que com os antigos por cada quatro anos. Um estudo observacional sugere que o uso de diuréticos a aumenta a mortalidade cardiovascular em doentes com HTA e DM que permaneçam hiperglicémicos a despeito do tratamento (Alderman e tal. Hypertension 1999:33. 12301134). A diabetes de novo implica um significativo aumento de risco de AVC (HR 1,67;95% (CI): 1,1-2,6 – P< 0,051), EAM (OR: 1,66; 95% CI 1,1- 2,5 -<0,05) e mortalidade (OR: 1,42; 95% CI ; 1,1- 1,9¸P<0,05) conforme um follow-up de 25-28 anos - Torbjörn Almgren et al. (J.Hypertension 2007, 25: 1311-1317). É de notar ainda que os estudos com dados positivos com diuréticos são apenas com a clorotalidoana e indapamida. A HCTZ isolada não tem estudos e no OSLO study foi pior que o não tratamento, no MRFIT foi pior que a clorotalidona e no austrlian foi pior que o enalapril. O único estudo positivo foi no Va em que a dose foi de 50mg 2x dia. Considerando que as Recomendações para o diagnós­ tico e tratamento da HTA da ESH, da ESC- 2007 , preconizam que as estratégias terapêuticas sejam decididas em função do risco global do indivíduo e não apenas do seu valor de TA, e o objectivo é “obter uma redução máxima do risco cardiovascular a longo prazo. Considerando ainda que as recomendações salientam que os principais 92 benefícios da terapêutica farmacológica anti hipertensiva se devam à redução da TA per si, afirmam também que os efeitos cardiovasculares protectores de um dado fármaco decorrem também dos seus efeitos específicos sobre as alterações metabólicas, as lesões dos órgãos alvo (HVE, Aterosclerose assintomática, micro albuminúria, disfunção renal) e os factores de risco cardiovasculares. Assim, pensamos que os diuréticos não têm que ser necessariamente os fármacos a utilizar preferencialmente como 2ª linha e que esta associação é mais fisiológica e num comprimido único vai permitir uma maior adesão à terapêutica António Jorge Jara Bibliografia Prospectives studies Collaboration. Lancet 1995;346:1647-1653 Vasan RS et al N Engl J Med 2001 ; 345 :1291-1297. Verdechia et al Hypertension 2004; 43: :963-969 Alderman et al Hypertension 1999. 33 :1130-1134 Levingston S and al Lancet 2002 : 360 : 1903- 1913 Jeffrey A. Cutler and Barry R Davis Circulation vol 28. Nº 4 Agosto 2008 Franz H. Messerli, Stripal Bangalore and Steve Julius Circulation vol.28, Nº4. Julho/Agosto 2008 Nilsson e tal J Hypertens 2006; 24:2478-2482 Peter M Nilsson J Hypertension 2007. 25: 1201-1204 Kaplan’s Clinical Hypertension