Bloqueadores Neuromusculares A junção neuromuscular é a região de íntimo contato entre terminal nervoso e a membrana da fibra muscular esquelética. As membranas são separadas pela fenda sináptica, um espaço de cerca 20nn. Quando um potencial de ação do nervo despolariza seu terminal, o influxo de íons cálcio para dentro do citoplasma faz com que as vesículas de armazenamento se fundam com a membrana celular e libere a acetilcolina do seu interior. Essas moléculas se difundem pela fenda sináptica e se ligam a receptores colinérgicos nicotínicos na placa motora. Os receptores colinérgicos são constituídos de cinco cadeias protéicas (2 alfa, 1 beta, 1 delta e 1 épsilon) com o canal iônico formado no centro desse círculo de proteínas. As unidades alfas são capazes de se ligar às moléculas de acetilcolina(ACh) e se ambos os sítios forem ocupados pela ACh ocorre a abertura do canal um influxo de íons sódio e cálcio e a saída de íons potássio, gerando um potencial na placa.O potencial de ação se propaga na membrana muscular e nos túbulos T liberando cálcio para o retículo sarcoplasmático,permitindo a interação actina-miosina e a contração muscular. A ACh é rapidamente hidrolisada em acetato e colina pela acetilcolinesterase e os canais iônicos se fecham, cessando o potencial e causando o relaxamento da musculatura. Os bloqueadores neuromusculares (BNM) podem ser: 1. Adespolarizantes – impedem a ativação do receptor pela ACh atuando antagonistas competitivos por competir com a ACh nas subunidades alfa do receptor juncional. Logo o bloqueio é dose dependente. Tem como característica a fadiga e a potencialização póstetânica. 2. Despolarizantes – agem ligando-se aos receptores da ACh gerando um potencial de ação. Porém como não são metabolizados pela acetilcolinesterase sua despolarização é prolongada. Como os canais de sódio possuem um componente tempo dependente, ocorre uma acomodação da membrana e os canais se fecham até um novo estímulo, gerando uma paralisia flácida (bloqueio fase I).Caracteriza-se por ausência de fadiga e de potencialização pós-tetânica.O bloqueio fase II é resultante da ação persistente dos BNM despolarizantes (altas doses,infusão contínua ou doses repetidas).Neste caso,o bloqueio despolarizante tem características de bloqueio adespolarizante. O método mais eficaz para avaliar a função neuromuscular é a medida da força de contração muscular em resposta à estimulação elétrica do nervo motor. Logo, devemos escolher um nervo motor próximo a superfície da pele e cuja ação possa ser facilmente observada. Sendo assim, os nervos ulnar, facial e tibial posterior são mais utilizados.O eletrodo negativo(cátodo) de cor preta deve ser colocado sobre o nervo a ser estimulado e o eletrodo positivo(ânodo) de cor vermelha deve ser colocado proximal ao negativo a uma distância de 2 a 5 cm. Local do eletrodo Punho entre artéria ulnar e tendão do flexor ulnar do carpo Próximo ao lóbulo da orelha Posterior ao maléolo tibial e posterior à artéria tibial nervo ulnar resposta Adução do polegar facial Tibial posterior Contração orbicular Flexão plantar do hálux Padrões de estímulos: 1. Estímulo isolado- o nervo é submetido a um estímulo supramáximo com freqüência de 0,1 a 1 Hz, comparando a resposta obtida com a resposta antes do BNM. A resposta só começa a diminuir quando pelo menos 75% dos receptores estão ocupados pelo BNM e desaparece quando 90 a 95% estão ocupados. Não distingue tipo de bloqueio e possui faixa clínica muito pequena,limitando sua utilidade. 2. Seqüência de quatro estímulos- realizada através de quatro estímulos supramáximos de 0,1 a 0,3 com freqüência de 2 Hz. No bloqueio adespolarizante ocorre decréscimo progressivo na amplitude (fadiga) proporcional à intensidade do bloqueio. Uma a duas respostas indicam em geral bom grau de relaxamento cirúrgico. Tem como vantagem não necessitar de controle, diferenciar o tipo de bloqueio e detectar o bloqueio residual. O bloqueio pode ser avaliado pela relação da amplitude entre a quarta e a primeira resposta da seqüência. O valor T4/T1 > 0,7 indica ausência de dificuldade respiratória embora não previna aspiração.A capacidade de elevar a cabeça por 5 Seg. está associada a T4/T1= 0,8. Receptores bloqueados 100% 95% 90% 90% 80% 75% % normal 0% 0% 10% 20% 25% 100% Respostas à SQE 0 0 1 2 3 T4/T1 > 0,7 3. Estímulo tetânico – estímulo com freqüência maior ou igual a 30 Hz resulta em contração mantida. Quanto maior a resposta menos fibras estão bloqueadas. No bloqueio adespolarizante com estímulos isolados após estímulo tetânico observamos aumento da resposta contrátil (potenciação pós-tetânica). 4. Dupla rajada ou Double-burst- avalia bloqueio residual com precisão. Consiste em duas rajadas de estímulo tetânico de 50 Hz separadas por 750 milissegundos. No músculo parcialmente paralisado por BNM adespolarizante a segunda resposta é mais fraca que a primeira. A reversão farmacológica dos BNMs adespolarizantes é feita com a utilização dos anticolinesterásicos, cuja função é aumentar a concentração da ACh na junção neuromuscular através da inibição da acetilcolinesterase. Alguns fatores interferem na velocidade de reversão do bloqueio, tais como: 1. Grau do bloqueio – quanto mais profundo o bloqueio, maior o tempo para a reversão. 2. Tipo de antagonista – a neostigmine é mais eficaz 3. Tipo de BNM – bloqueadores de ação mais curta são revertidos de modo mais fácil 4. Idade – crianças necessitam de menores doses 5. Temperatura – hipotermia dificulta a reversão 6. Distúrbios ácido-base e hidroeletrolíticos – acidose respiratória impede a reversão completa do bloqueio principalmente com PCO2 acima de 50 mmHg. Hipocalcemia e hipermagnesemia potencializam o bloqueio. 7. Interação com drogas – agentes inalatórios potencializam o bloqueio. Antibióticos aminoglicosídeos interferem na reversão e prolongam os efeitos dos bloqueadores. Anestésicos locais também potencializam os efeitos dos BNMs.Bloqueadores de canais do cálcio e magnésio também prolongam a ação dos BNM. Neostigmine - provoca inibição reversível da acetilcolinesterase por antagonismo competitivo. Causa efeitos muscarínicos e nicotínos pela ação da ACh acumulada. Causa bradicardia e hipotensão prevenidas pela atropina. Causa ainda salivação, aumento de secreções e da motilidade intestinal. Sua ação ocorre após 3 minutos com pico aos 8 minutos. Dose = 0,04 mg/Kg. Classificação dos Bloqueadores Neuromusculares Grupo químico aminoéster Benzilisoquinolina “ “ aminoesteróides “ “ Tipo de bloqueio despolarizante adespolarizante “ “ “ “ “ agente succinilcolina atracúrio Latência (min.) 1 – 1,5 2-4 Duração (min.) 5-8 30-60 cisatracúrio mivacúrio pancurônio rocurônio vecurônio 2-4 2-4 4-5 1-2 1-2 30-60 12-20 120-180 30-60 60-90 1. Succinilcolina- agente despolarizante de início de ação rápido e duração ultracurta, sendo rapidamente hidrolisada pela colinesterase plasmática. Pode causar bradicardia em crianças, taquicardia , hipercalemia (risco em queimados, paraplégicos, politraumatizados, insuficiência renal ), mialgias e hipertensão ocular e cerebral. Pode causar hipertermia maligna. Dose=1 a 1,5mg/Kg IV 2. Atracúrio - agente adespolarizante de ação intermediária com metabolização pela reação de Hofmann, uma degradação dependente de pH e temperatura e hidrólise por esterases não específicas.Causa liberação de histamina.Dose= 0,5 mg/Kg IV 3. Mivacúrio- bloqueador de curta duração revertido por hidrólise pela pseudocolinesterase. Libera histamina e sua ação está prolongada durante circulação extracorpórea. Dose=0,25 mg/Kg. 4. Cisatracúrio agente de ação intermediária com metabolização Hofmann (depende de pH e temperatura). Causa limitada liberação de histamina. Dose=0,05 a 0,1mg/Kg. 5. Pancurônio- agente de ação prolongada que causa aumento da freqüência cardíaca, do débito e da pressão arterial por estímulo ganglionar e bloqueio muscarínico. Sua eliminação depende das vias renal e hepática. Dose=0,08mg/Kg 6. Vecurônio – bloqueador de ação intermediária que não causa liberação de histamina nem efeito vagolítico. É excretado pela bile principalmente. A diminuição de albumina aumenta a fração livre e hipotermia prolonga os efeitos. Dose=0,1mg/Kg. 7. Rocurônio-agente de ação intermediária de rápido início de ação devido a sua menor ligação protéica a maior difusão da droga do plasma para receptores sinápticos. Apresenta leve ação vagolítica e possui excreção biliar.Dose=0,6mg/Kg