Sobre usos da fotografia na prática de pesquisa: força persuasiva e/ou conflito de representações. Ana Lucia Lucas Martins. (UFRRJ) Imagem (fotográfica) e Sociologia A presença do tema imagem e ciências sociais constitui uma característica do estudo de cientistas sociais desde fins dos anos 80. Ao final da década de 90 um balanço crítico é realizado por uma série de autores sobre o uso de imagens nas ciências sociais. Há uma avaliação de que se evoluiu do tratamento da imagens como objeto para indagar o que as imagens pressupõe em termos de “ maneiras de ver” e “ modos de pensar”. É significativo a presença de publicações no contexto brasileiro dedicadas a expor debates e estudos que problematizam usos diferenciados das imagens na produção de conhecimento 1. É expressivo também o modo como uma interlocução com especialistas vem se combinar para a apropriação de imagens nas ciências sociais haja vista a presença de profissionais (cineastas, fotógrafos) em congressos de natureza acadêmica. Deve-se notar ainda a formalização de disciplinas acusando a construção de um campo específico de reflexões (sociologia da imagem; sociologia visual; antropologia visual; etnografia e imagem). Levando em conta que o debate sobre imagem e ciências sociais se apóia em diferentes suportes imagéticos e se dá no contexto de problemáticas específicas dos campos 1 Destacam-se algumas publicações: Desafios da Imagem de 1998 organizado por Miriam Moreira Leite e Bela Felman-Bianco ; O Fotográfico de 1998 organizado por Etienne Samain e a Revista Cadernos de Antropologia e Imagem da UERJ que publica semestralmente desde 1995 estudos sobre a relação imagem e ciências sociais. de conhecimento, este trabalho trata de um aspecto do debate que é o do uso da fotografia na pesquisa sociológica. O uso da fotografia como fonte; o estudo da prática da fotografia e o significado da fotografia produzida por indivíduos pertencentes a diferentes grupos sociais/ocupacionais; e a fotografia como instrumento de pesquisa são modos pelos quais a relação fotografia e pesquisa sociológica tem se constituído. O uso da imagem como fonte produz um debate que se estrutura no problema da imagem como “evidência aceitável”. O papel das imagens na “construção cultural“ das sociedades lhes confere a condição “de testemunhas de arranjos sociais do passado e acima de tudo as maneiras de ver e pensar do passado” (Burke, 2004). Portanto aqui a relação estabelecida incorpora questões derivadas de debate no campo da história e das fontes alternativas. Estudos da Miriam Moreira Leite reunidos em Retratos de Família (2000) são uma representação significativa de invenções metodológicas para a compreensão de imagens fotográficas do passado e os problemas de conhecimento gerados que se constituíram em referências importantes para trabalhos que vieram a ser desenvolvidos na pesquisa sociológica no Brasil. A compreensão da prática fotográfica e do significado da fotografia foi abordada por Pierre Bourdieu, nos anos 60, como uma sociologia de grupos. Em Art Moyen (1965) o autor reconhece a popularidade da fotografia na sociedade francesa e entende que a análise da prática da fotografia e do significado da imagem fotográfica são “momentos excepcionais” para se conhecer a lógica da estética de diferentes grupos sociais. O interesse sociológico reside no fato de que a fotografia engendra um esquema de percepções, de pensamento e apreciações que diz respeito ao grupo social. Por exemplo, quando aborda a relação que camponeses estabelecem com a fotografia ele demonstra que essa relação é, em última análise, um aspecto da relação que esse camponês estabelece com a vida urbana. Seu modo de ver a fotografia é um modo de afirmar valores que o definem como camponês, porque associaria o modo de vida urbano a uma arte de viver que coloca em questão a arte de viver no campo. Margareth Mead e Gregory Bateson em Balinese Caracter (1942) cujos estudos foram realizados em 1936 e 1937 apresentam a fotografia como um modo novo de apreender aspectos da vida balinesa no que é considerado o mais importante trabalho de natureza antropológica com fotografia. Howard Becker(1981), ao comentar essa “inovação experimental” reconhece a força expressiva das imagens produzidas por Bateson mas alerta para o formato perigosamente “ científico” com que foram tratadas as imagens. Essa intenção científica, traduzida em objetividade, da apropriação de imagens fotográficas como instrumento de pesquisa no contexto da antropologia aparece em outro estudo importante que é o trabalho de John Collier. Em Antropologia Visual (1977) o uso da fotografia é tematizado enquanto um “registro” com papel em diferentes etapas da pesquisa. Ao inventariar os diferentes modos como a fotografia aparece na pesquisa sociológica pretendo destacar uma questão específica: a associação entre a prática fotográfica e a produção de conhecimento em sociologia . Fotografar para quê? Ao final dos anos 80 quando realizei um primeiro trabalho com fotografias, algumas vezes ouvi de colegas sociólogos a pergunta, fotografar para quê? O que isso acrescenta ou modifica nas nossas práticas de produção de conhecimento? E frequentemente ficava um pouco decepcionada com o fato de algo que me parecia tão significativo não ser percebido da mesma forma em meios acadêmicos e fracassava um pouco na produção de argumentos que sustentassem o uso de imagens na pesquisa. Eu não sabia responder para quê fotografava nem tampouco argumentar substantivamente como lidar sociologicamente com o que a imagem me dava a ver? Que problemáticas poderiam ser constituídas? Tinha a sensação que me debruçar sobre as imagens que produzia, para pensá-las de uma perspectiva sociológica, era como quebrar um código de algo que de meu ponto de vista era para ser visto. Como então tornar a visualidade significativa na compreensão sociológica. Entendo que ver é estar diante do modo como as sociedades se produzem visualmente. E isto é significativo do ponto de vista sociológico. Cientistas sociais produzindo suas próprias imagens diz respeito ao modo como indivíduos que pertencem a um determinado contexto apreende e constrói visualidades de aspectos da vida social . Penso ainda ter compreendido que se está diante de uma problemática da construção do conhecimento sociológico que diz respeito ao que está estabelecido como significativo e relevante na prática científica e os estranhamentos com novos objetos. Fica clara a idéia da hierarquia de objetos legítimos em cada momento da sociedade. Em Regras da Arte, Bourdieu (1996) pergunta se deve a “sociologia rejeitar como insignificante as condutas que não tem uma evidência histórica imediata”. Não só afirmar a insignificância mas também recusar a possibilidade de compreensão sociológica de determinadas experiências em nome da irredutibilidade bane da ciência certos objetos ( Bourdieu; 1996 ) Um balanço realizado sobre estudos até os anos 90 faz um diagnóstico que mostra que a transferência da banalização das imagens na sociedade contemporânea para o campo do conhecimento seria o elemento que dificulta a construção de problemáticas sociológicas, conferindo uma naturalização das imagens no contexto da pesquisa. (Darbon; 1998;101112). Essa banalização estaria sustentada por um conjunto de atributos que acredita-se as imagens possuem , o poder do realismo, da precisão, poder de evocar . A “força da evidência” da fotografia seria uma questão essencial ao cientista social. Neste caso, o que se constitui como problemática sociológica é tratar como uma questão a “força da evidência” da fotografia. Como pensar as questões de produção de fotografia no âmbito da pesquisa? Como fazer uma vigilância sobre a mais forte convenção de representação com que trabalhamos, o realismo 2? Como não confundir “realismo referencial” com “analogismo mimético” (Barthes, 1984) Uma fotografia é o que ela representa sob que condições? É na tentativa de pensar uma particularidade da relação produção de fotografia e sociologia que exploro um momento da constituição na sociologia desta relação. Considerações sobre uma tradição e força persuasiva. A importância da visualidade na constituição da sociedade moderna, apontado por Simmel (1967) e Benjamim (1936) é observada na relação entre cotidiano e invenções técnicas como montagem de uma nova percepção. A associação entre pesquisa sociológica e a prática da fotografia parece ser um desses momentos em que se expressa uma nova condição das imagens na sociedade, das formas de organização do olhar e práticas de conhecimento. 2 Realismo é uma categoria da estética e define uma convenção visual da cultura ocidental.. A conjunção entre uma perspectiva sociológica, uma retórica do realismo e determinadas condições sociais fundou a colaboração entre fotógrafos e sociólogos no início do século XX. Um paralelo entre o surgimento da fotografia e a sociologia é expresso por Howard Becker 3(1986) e fornece elementos para se pensar a combinação de dois olhares para a exploração da sociedade”. A sociologia à qual Howard Becker se refere é aquela praticada no âmbito de uma tradição: a da Escola de Chicago4. O abandono de um pensamento especulativo dos construtores de grandes sistemas teóricos em proveito da elaboração de um conhecimento baseado na pesquisa empírica, com aplicações sociais define a perspectiva filosófica da Escola de Chicago. A filosofia social do pragmatismo instrumentaliza o trabalho da Escola fornecendo conceitos para a pesquisa social e ao mesmo tempo dá à produção de conhecimento um sentido; orientar a ações sociais visando mudanças sociais ( Joas,1996:142) A idéia de uma sociologia da ação, onde prevalece o espírito da pesquisa versus uma sociologia especulativa; a crença de que a sociologia pode ser um instrumento de avaliação e intervenção na vida social; de que pode produzir conhecimentos úteis para a solução de problemas sociais concretos são características importantes nos trabalhos da Escola cuja atenção converge para lidar com problemas gerados no contexto da cidade de Chicago e mais amplamente com um problema da formação da sociedade norte-americana que é a imigração e assimilação de imigrantes a esta sociedade. (Coulon, data; pg). 3 Howard Becker é considerado junto com outros sociólogos (Goffman) como herdeiros da orientação teórica e metodológica da Escola de Chicago e continuadores de uma tradição de trabalho representada pela Escola. 4 O que se designa como Escola de Chicago é um conjunto de trabalhos de pesquisa sociológica realizados entre 1915 e 1940 por professores e estudantes da Escola de Chicago. (Coulon; data.) Os problemas de investigação criados originam “métodos originais”5 de pesquisa com orientação para uma sociologia qualitativa: uso de documentos pessoais; trabalhos de campo sistemático; entrevistas; testemunhos; observação; exploração de fontes documentais diversas. (Coulon,data,pg). È nesta tradição sociológica de valorização da pesquisa empírica; da observação das experiências da vida cotidiana que se desenvolve uma sociologia cujos objetivos eram “entender os problemas gerados pelas grandes transformações econômicas, sócioculturais e políticas que acompanhavam a revolução industrial. Ao se dedicar a isso propunha soluções para as péssimas condições de trabalho, exploração da mão de obra infantil, precárias condições de higiene e a miséria.”(Becker,1986;pg) O lugar que a fotografia ocupa nesse contexto sociológico é assinalado por estudos de artigos publicados na The American Journal of Sociology, fundada em 1896. A fotografia é mostrada até 1916 quando mudanças6 ocorrem e a fotografia desaparece da publicação.(Stasz,1978 apud Maresca, mimeo, s/d;2). Do ponto de vista de uma tradição fotográfica, a colaboração entre fotógrafos e sociólogos pode ser assinalada por uma mudança no papel do fotógrafo diante de uma sociedade em crise provocada pelas transformações advindas do capitalismo industrial urbano. Os temas fotográficos como a guerra, os triunfos da Nação, os americanos ilustres, são substituídos por outros7 (Trachtenberg,1994;164). Segundo Becker (1986) “a fotografia 5 Becker ( data; pg) afirma que tal riqueza metodológica foi pouco problematizada, não havendo “ qualquer traço de uma reflexão sistemática sobre métodos utilizados” . 6 Segundo Maresca (s/d) “as mudanças correspondem a uma reorientação do redator em direção a um conteúdo explicitamente “científico” . A sociologia foi chamada a sustentar sua “ démarche” sobre aquelas das ciências puras. A revista passou a consagrar um lugar crescente às estatísticas , às discussões metodológicas ou teóricas, eliminado os artigos que tratavam de reformas sociais” . 7 De 1870-1890 o fotógrafo Jacob Riis é o primeiro a lidar com a fotografia como instrumento de crítica social com imagens sobre bairros pobres de Nova York. ( Freund, G., 2004;98) assumia a tarefa de expor os males da sociedade, de dar a ver o que não se queria ver e clamar por ações para corrigi-los”. O trabalho fotográfico do sociólogo Lewis Heine8, que havia estudado teoria educacional com John Dewey na Escola de Chicago, é visto como um marco dessa associação de produção de fotografias com estudos sobre a vida urbana. Lewis Heine entre 1908-1917 fotografa crianças com o tema do trabalho infantil e condições de moradia.( fotos 1, 2, 3, 4, 5, 6) . Autores apontam que o trabalho de Heine foi importante instrumento de luta para mudanças nas condições de vida dos pobres e agiu na consciência dos norteamericanos que exigiram mudanças na legislação (Becker, 1986; Freund, 2004 ). A idéia de força persuasiva advém, a meu ver, da capacidade da imagem se fazer significativa no modo como articula signos e das condições de recepção das imagens. É também essa força persuasiva que impacta os discursos construídos sobre a imagem ou a partir da imagem. Há, por exemplo, na história do foto-jornalismo um conjunto de imagens que servem para pensar essa questão. Lembro da clássica fotografia da menina queimada com napalm na guerra do Vietnã (foto 7) e seu impacto sobre a sociedade. As condições sociais para recepção dessa imagem se distinguem de situações semelhantes. Mais recentemente posso recordar duas fotografias que me remetem à imagem da menina do Vietnã . O do jovem assassinado em conflitos antiglobalização na Itália em 19??(foto 8) e a mãe e sua filha no ataque terrorista na escola de Beslan publicada por agências no mundo inteiro ( foto 9). 8 É somente na década de 30 que L. Heine adquire um reconhecimento como fotógrafo. A aceitação tardia é atribuída ao fato de que seu trabalho se dava dentro de uma estrutura organizacional que não era a do mundo da arte. O contexto do trabalho artístico de Heine era a estrutura institucional das Reformas Progressivas (redes organizadas de associações; publicações da Escola de Chicago, etc. ). As condições de recepção à obra de Heine serão dadas pela produção de categorias de práticas estéticas como “camera work” por Stiegletz que possibilita o reconhecimento de Heine e lhe dá um lugar na história da fotografia. (Trachtenberg, 1994; 165). Se a “força da evidência”, aquilo que é dado, é o perigo que ronda a análise sociológica, naturalizando as imagens, a força persuasiva é o diálogo, é a tensão que se imprime como problema na análise sociológica. Olhando para uma tradição de colaboração entre sociologia e fotografia me parece que o que funda essa colaboração é a força persuasiva das imagens oriundas da combinação de um realismo com as condições de recepção das imagens. Conflito de representações O que funda a relação fotografia e sociologia numa tradição sociológica é a natureza política dessa relação. No entanto a colaboração entre fotógrafos e sociólogos enfraquece a medida que sociologia e fotografia passam a ter fronteiras mais definidas enquanto ciência e arte. (Becker, 1986; 230). E novas questões são colocadas para pensar a prática da fotografia no contexto da pesquisa sociológica. Para H. Becker (1986: 241)) os problemas são complexos. Como introduzir na pesquisa uma prática que é da cultura do instantâneo, organizada sob convenções distintas da produção de conhecimento? Que procedimentos deveriam adquirir os sociólogos que usam a fotografia para recortar coisas que o “senso comum fotográfico” não recortaria? Como lidar com hábitos visuais estabelecidos? E de que modo romper com a naturalização da prática fotográfica em contextos de estudo. Para lidar com esses problemas dois aspectos me parecem centrais para a relação sociologia e fotografia a) definições de arte e (ciência) e b) o uso da noção de “ convenção” . H. Becker define arte como uma forma de ação coletiva. O seu interesse pela arte como um problema teórico, ou seja por compreender a organização social do mundo da arte, justifica-se pelo fato de que comparada com outras formas de organização social a arte e a ( ciência) representam um tipo de organização que opera com mais liberdade e menos planificada do que geralmente se gostaria que as coisas funcionassem na nossa sociedade. Portanto é a dimensão da experimentação9 presentes, a meu ver , no entendimento que de H. Becker tem da organização social do mundo da arte e da (ciência) que possibilita a exploração da sociedade a partir da complementaridade de duas lógicas distintas representadas pelas imagens fotográficas e conhecimento sociológico. A produção de representações da realidade social em diferentes “contextos organizacionais” são moldadas de acordo com as necessidades, convenções, restrições do contexto. As fotografias produzidas por sociólogos resultam também de “convenções” que organizam o mundo a qual pertencem. O conceito de “convenção” (Becker, 1977; 214) remete “às idéias e compreensões que as pessoas têm em comum e através das quais efetuam sua atividade cooperativa”. Howard Becker chama a atenção para um fato dinâmico que o conceito comporta: “embora padronizadas, as convenções raramente são rígidas, imutáveis. Elas não especificam um conjunto inviolável de regras ao qual todo mundo deve se referir ao estabelecer questões sobre o que fazer” (Becker; 1977; 214). A quebra de convenções requer novo aprendizado, socialização deste aprendizado, usos de novos materiais, técnicas , conflitos, etc. H. Becker sugere que aprendizados são necessários para sociólogos produzirem fotografias, por exemplo, conhecer os instrumentos estilísticos pelos quais fotógrafos se expressam nas suas imagens. Ao se apropriar da linguagem expressiva da fotografia, sociólogos seriam levados a pensar os “instrumentos expressivos” do próprio trabalho 9 Grifo meu sociológico. Outra resposta para os sociólogos aponta o problema como sendo de compreensão do que se está fotografando, ou seja “a sua teoria” . “A teoria sociológica é um conjunto de idéias que podem produzir sentido enquanto você fotografa. A teoria te diz quando a imagem contém alguma coisa de valor, ela te diz o que vale a pena ser comunicado. Ela fornece os critérios pelos quais dados e declarações de valor podem ser separados daquelas que não contem nenhum valor. Que não acrescentam nada ao conhecimento da sociedade.” (1986;243) O conflito de representações é problematizado sob a forma de oposição entre análise social e expressão estética ( Becker; 1981) . As “convenções” do mundo da ciência e do mundo das artes colocam obrigações, interesses diferenciados. Porém as possibilidades de combinação entre trabalhos de fotógrafos e sociólogos reside na relativização das distinções entre expressão estética e análise social, ainda que convenções diferentes sobre a linguagem e o modo de difusão de obras tornem o objetivo de um e outro contraditórios (1986; pg). Becker refuta a idéia de objetividade e não-interferência na produção da imagem, quando ela é feita num contexto “científico”, e parte do pressuposto de que informação e expressão não podem estar separadas. Ele sugere aos “acadêmicos” ou cientistas sociais que aprendam a fazer escolhas estilísticas significativas no lugar de ignorá-las. E minimiza a distinção arte e ciência ; informação e expressão. **** A preocupação central deste trabalho compartilha de inquietações que têm ocupado historiadores, sociólogos e antropólogos que consideram a visualidade uma dimensão possível de ser explorada pelos respectivos campos de conhecimento e o de que o modo de problematizar esta visualidade tem gerado debates distintos no interior dos campos de conhecimento. Certamente haverá muitas discordâncias acerca da existência de disciplinas como a sociologia da imagem; sociologia visual, etc. Esse no entanto não é o papel deste trabalho, nem lidar com critérios epistemológicos mas compartilhar da idéia de que a visualidade é tem um valor estratégico para o conhecimento da vida social e que reivindica um “modo próprio de análise” ( Jay, M apud . B de Meneses 2005: 34). Ao abordar o modo como numa tradição sociológica se praticou o uso de imagens na produção de conhecimento e abordar as questões teórico-metodológicas parece importante para lidar com diagnósticos sobre a problematização das imagens na produção de conhecimento que apontam a precariedade das reflexões dos trabalhos contemporâneos (Darton, 1998). A experiência de colaboração entre a fotografia e sociologia praticadas no âmbito das pesquisas da Escola de Chicago sugere uma dimensão política e um modus operandi da pesquisa. Relacionar a prática da fotografia a outros processos da prática de pesquisa é um longo trabalho de construção de um habitus científico para o qual não há treinamento porque ele só pode ser “ apreendido no jogo científico” e o rigor exigido por esse jogo não deve ser confundido com rigidez que é o contrário da inteligência e da invenção. ( Bourdieu 2000:23) . E é no esforço de revelar as hesitações, os embaraços, as renúncias, socializar as dificuldades que me parece ser possível trabalhar para responder a algumas questões. Bibliografia BARTHES, R.. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1984. BECKER, H. “Arte como ação coletiva” In Becker, H. Uma Teoria da Ação Coletiva. Rio de Janeiro. Ed. Zahar, 1976. ______________. Exploring Society Photographically. Chicago: Mary and Leigh Block Gallery/Nothwestern University, 1981. ______________. Doing Things Together. Chicago. Northwestern Univ. Press/Ezanstron, 1986. ______________. “ Balinese Character: uma análise – Gregory Bateson e Margaret Mead” . in Cadernos de Antropologia e Imagem, no 2, 1996. BENJAMIM, W. “A Obra de Arte na época de sua Reprodutibilidade Técnica”. Walter Benjamim. São Paulo. Coleção Grandes Cientistas Sociais, Ed. Ática, 1985. BOURDIEU, P. As Regras da Arte . São Paulo. Companhia das Letras, 1996. _______________. O Poder Simbólico. 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