100 SEQÜÊNCIAS E EQUAÇÕES DE DIFERENÇAS BASEADAS NA SEQÜÊNCIA DE FIBONACCI Bruno Wesley Barbosa ((Uni-FACEF) Antonio Carlos da Silva Filho (Uni-FACEF) 1 INTRODUÇÃO Leonardo Pisano é mais conhecido pelo seu apelido: Fibonacci. Ele era filho de Guilielmo e um membro da família Bonacci. Fibonacci nasceu na Itália, mas foi educado no Norte da África, onde seu pai tinha um posto diplomático. Fibonacci terminou sua formação e suas viagens ao redor de 1200 e, então, retornou a Pisa. Restaram cópias dos seguintes livros escritos por ele: Liber abaci (publicado em 1202), Practica geometriae (publicado em 1220), Flos (publicado 1225), and Liber quadratorum. Liber abaci, publicado em 1202, após o retorno de Fibonacci à Itália, foi baseado na aritmética e na álgebra que Fibonacci acumulou durante suas viagens. Este livro, que foi largamente copiado e imitado, introduziu o sistema posicional decimal e o uso de numerais arábicos na Europa. Um problema na terceira secção do Liber abaci levou à introdução dos Números de Fibonacci e da seqüência de Fibonacci, pelos quais Fibonacci é mais lembrado hoje em dia: “Quantos pares de coelhos podem se formar em um ano, partindo de somente um par?”. A resposta, para uma dada condição inicial, levou à seqüência de números: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233. Fibonacci provavelmente incluiu o “problema dos coelhos” a partir dos seus contatos no exterior e não inventou nem o problema nem a série de números que levam o seu nome. Cada termo desta série pode ser obtido a partir dos dois primeiros termos, somando os dois anteriores. A razão entre termos sucessivos nesta série conduz à assim chamada Razão Áurea: 1,61803... . Esta razão também pode ser obtida como uma das raízes da equação: x2 = x + 1. Uma generalização levou a uma série onde, a partir de três termos iniciais arbitrários, obtinham-se os próximos termos somando os três termos imediatamente anteriores. A razão entre três termos sucessivos desta série converge para o número 1,83928..., que passou a ser conhecido como número 101 Tribonacci (FEINBERG, 1963; ELIA, 2001). Ocorre que este número também pode ser obtido como uma das raízes da equação: x3 = x2 + x + 1. Generalizações posteriores levaram à construção de séries a partir de quatro termos arbitrários, cinco termos arbitrários, etc. Em cada uma destas séries, a razão entre termos consecutivos converge, respectivamente, para os números: 1,92756... (número Tetranacci), 1,96594... (número Pentanacci) etc. Estes números também são soluções, respectivamente, das seguintes equações (MUSTONEN, 2005): x4 = x3 + x2 + x + 1 e x5 = x4 + x3 + x2 + x + 1, etc. Os coeficientes nas equações definidas no parágrafo anterior são todos iquais a 1. Este trabalho analisará os casos em que estes coeficientes são diferentes de 1. Chamaremos a estas séries de séries de Fibonacci generalizadas. O relacionamento entre as séries generalizadas de Fibonacci e a série de Fibonacci propriamente dita é o objeto deste trabalho. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Chamando de F(i) ao i-ésimo número de Fibonacci, a relação básica entre os Números de Fibonacci é: F(i+2) = F(i+1) + F(i) Se fizermos a razão entre dois números sucessivos na série de Fibonacci (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, ...), isto é, se dividirmos cada número pelo seu antecessor, nós encontraremos a seguinte série de números: 1/1 = 1, 2/1 = 2, 3/2 = 1·5, 5/3 = 1·666... , 8/5 = 1·6, 13/8 = 1·625, 21/13 = 1·61538... Esta seqüência de números converge para o número conhecido como Razão Áurea e representado por Φ: Φ = 1·61803 39887 49894 84820 45868 34365 63811 77203 09179 ... 102 Se pegarmos três números vizinhos de Fibonacci, F(i), F(i+1) e F(i+2), então, para valores bem grandes de i, a razão entre F(i) e F(i+1) será quase a mesma que a razão entre F(i+1) e F(i+2). Assim, vejamos o que ocorre quando estas razões produzem o mesmo valor, X: F (i + 1) F (i + 2) = = X F (i ) F (i + 1) Usando a relação de Fibonacci, podemos substituir F(i+2) por F(i+1)+F(i) e, então, simplificar a fração resultante: F (i + 1) F (i + 2) F (i + 1) + F (i ) F (i + 1) F (i ) F (i + 1) 1 = = = + = + F (i ) F (i + 1) F (i + 1) F (i + 1) F (i + 1) F (i + 1) F (i + 1) F (i ) Mas, como o último termo é 1/X, X =1+ 1 X ou X2 = X +1 Uma seqüência Tribonacci assemelha-se a uma seqüência de Fibonacci, mas em vez de começarmos com dois termos pré-definidos, a seqüência é iniciada com três termos pré-determinados, e cada termo posterior é a soma dos três termos precedentes (BEZUSZKA, 1977). Os primeiros números de uma pequena seqüência padrão Tribonacci são: 1, 1, 2, 4, 7, 13, 24, 44, 81, 149, 274, 504, 927, 1705, 3136, 5768, 10609, 19513, 35890, 66012, 121415, 223317, etc. Já uma seqüência Tetranacci assemelha-se a uma seqüência Tribonacci, com a diferença que são quatro termos pré-determinados, e cada termo seguinte é a soma dos quatro termos precedentes (WADDILL, 1992). Os primeiros números de uma pequena seqüência padrão Tetranacci seriam: 1, 1, 2, 4, 8, 15, 29, 56, 108, 208, 401, 773, 1490, 2872, 5536, 10671, 20569, 39648, 76424, 147312, 283953, 547337, etc. Todas estas séries generalizadas apresentam a propriedade de que dois termos consecutivos convergem para determinadas constantes, denominadas na literatura números Tribonacci, Tetranacci, etc. Os primeiros são os seguintes: 103 Fibonacci: 1,618033988749894 Tribonacci: 1,839286755214161 Tetranacci: 1,927561975482925 Pentanacci: 1,965948236645485 ... Ocorre que os n-bonacci podem ser obtidos como soluções das equações (MUSTONEN, 2005): x2 = x + 1 x3 = x 2 + x + 1 x 4 = x3 + x 2 + x + 1 ... x n = x n−1 + x n−2 + x n−3 + ... + 1 Mas o que acontece quando os coeficientes destas equações não são iguais a 1? Ou seja, quando temos equações dos seguintes tipos: x 2 = A1 x + A0 1 x 3 = B2 x 2 + B1 x + B01 x 4 = C3 x 3 + C2 x 2 + C1 x + C01 ... x n = Dn−1 x n−1 + Dn−2 x n −2 + Dn−3 x n−3 + ... + D0 1 A procura das respostas a esta pergunta constitui o corpo do presente trabalho, centrado, porém, na investigação da primeira equação: a que define os números de Fibonacci propriamente ditos. 3 RESULTADOS A pesquisa ainda está em andamento. Numa primeira fase, analisamos o que acontece com a equação: 104 x 2 = A1 x + A0 Neste caso, em particular, a solução pode ser encontrada de maneira analítica. A raiz positiva, que nos interessa, é: x = (i) A1 + A1 + 4 A0 2 2 Fazendo A0 = 1 e variando A1 no intervalo (0, 2], obtemos o seguinte gráfico: 2.5 x 2 1.5 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 A1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 Fig. 1 Valores de x à medida que A1 percorre o intervalo (0, 2]. A linha azul representa a razão áurea. (ii) Fazendo A1 = 1 e variando A0 no intervalo (0, 2], obtemos o seguinte gráfico: 105 2 1.9 1.8 1.7 x 1.6 1.5 1.4 1.3 1.2 1.1 1 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 A0 1.2 1.4 1.6 1.8 2 Fig. 2 Valores de x à medida que A0 percorre o intervalo (0, 2]. A linha azul representa a razão áurea. (iii) Fazendo A0 e A1 variarem no intervalo (0, 2], obtemos o gráfico tridimensional a seguir: 3 2.5 X 2 1.5 1 0.5 0 2 2 1.8 1.6 1.5 1.4 1.2 1 1 0.8 A1 0.6 0.4 0.2 0.5 0 0 A0 Fig. 3 Valores de x à medida que A0 e A1 percorrem o intervalo (0, 2]. O Plano azul representa a razão áurea. 106 4 ANÁLISE E CONCLUSÃO De acordo com os gráficos obtidos, podemos verificar que os valores convergem continuamente para a razão áurea. Resta, agora, explorar os casos para as sequências generalizadas de Tribonacci, de Tetranacci, etc. BIBLIOGRAFIA BEZUSZKA, S.; D’ANGELO, L. An Application of Tribonacci Numbers. The Fibonacci Quarterly, . 15.2, 1977, p. 140-146. BIRKHOFF, Garret; MACLANE, Saunders. Álgebra Moderna Básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois S. A., 1977. 485 p. ELIA, M. Derived Sequences, The Tribonacci Recurrence and Cubic Forms. The Fibonacci Quarterly, v. 39.2, p. 107-109, 2001. FEINBERG, M. Fibonacci-Tribonacci. The Fibonacci Quarterly. v. 1, p. 71-74, 1963. GRAHAM, Ronald L.; KNUTH, Donald E.; PATASHNIK; Oren. Matemática Concreta. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1995, 475 p. HANSELMAN, Duane; LITTLEFIELD, Bruce. Matlab 6 – Curso Completo. São Paulo: Prentice Hall, 2003. 676 p. LIVIO, Mario. Razão Áurea: A História de Φ. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006. 333 p. MUSTONEN, Seppo. Extension of Golden Section to Multiple-Partite division of a Line Segment. 2005, 3 p. Disponível em http://www.survo.fi/papers/nsection.pdf. Acesso em: 23 abril 2007. WADDILL, M. E. The Tetranacci Sequence and Generalizations. The Fibonacci Quarterly, v. 30.1, p. 9-15, 1992.