ROTEIRO DA GRAVAÇÃO Vinheta de Abertura Locutor: - Olá ouvintes, está começando mais uma transmissão da rádio Rala-Coco direto da Universidade de Brasília e hoje vamos falar de um assunto muito comum, mas que ainda traz muitas dúvidas, falaremos sobre os agrotóxicos e os impactos que eles causam na sua saúde. Para debater sobre o assunto estão aqui os alunos do Curso de Gestão em Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, são eles: Ana Luíza, Fernanda, Admilsom, Antônio e Amanda, dá um ‘oi’ aí galera para os nossos ouvintes. Convidados: - ‘Oooiii’. Locutor: - Pessoal, pra começar nossa discussão, temos de deixar bem claro qual é a definição de agrotóxicos e pra isso eu gostaria de solicitar a participação da nossa amiga Amanda. Amanda: - Os agrotóxicos são produtos utilizados na agricultura para controlar insetos, doenças ou plantas daninhas que causam danos às plantações, já as plantas daninhas são plantas que crescem em uma plantação causando prejuízos a esta. Locutor: - Amanda mais uma pergunta, qual é a origem dos agrotóxicos? Amanda: - A origem dos agrotóxicos esta na segunda guerra mundial com a sua utilização de forma militar e não na agricultura como muitos pensam, somente depois que passou-se a utilizar na agricultura. Locutor: - Muito obrigado Amanda pela sua participação. Uma pergunta que os nossos ouvintes estão fazendo é se os agrotóxicos são todos iguais, para responder essa pergunta eu vou solicitar a participação da nossa colega Fernanda. Fernanda: - De uma forma simplificada podemos classificar os agrotóxicos em três tipos: Inseticidas: usados para combater os insetos, moluscos, etc. Fungicidas: usados para combater as doenças causadas por fungos, bactérias e vírus. Herbicidas: usados para combater as plantas daninhas. Locutor: Taí nossa amiga Fernanda trazendo a classificação dos agrotóxicos. Vamos entrar em uma questão muito importante: quais são os alimentos que mais estão contaminados por uso inadequado de agrotóxicos, tenho certeza que nossos ouvintes querem saber. Para isso eu vou chamar Admilsom. Admilsom: De acordo com analise da ANVISA (Agencia Nacional Vigilância Sanitária), os alimentos com maior índice de reprovação por terem recebidos de forma inadequada o uso de agrotóxicos são: 1 – Pimentão; 2 – Morango; 3 – Pepino; 4 – Alface; 5 – Cenoura; 6 – Abacaxi; 7 – Beterraba; 8 – Couve; 9 – Mamão; 10 – Tomate. Como nossos ouvintes podem perceber são alimentos bem presentes na mesa dos brasileiros. Locutor: Muito obrigado Admilsom pela sua participação por trazer para nós quais são os alimentos mais contaminados por agrotóxicos. Pessoal, daqui a pouquinho teremos uma entrevista nos nossos estúdios com o professor Fernando Carneiro, docente da Universidade de Brasília e grande especialista em agrotóxicos. Vocês não podem perder!!! Locutor: - Para falarmos mais deste assunto vamos conversar com o professor Fernando Carneiro, um grande especialista em agrotóxico e docente da UnB. Antes de começar, gostaria de agradecer a sua presença professor Fernando, que com certeza irá enriquecer o nosso debate. Professor Fernando: Eu queria saudar os ouvintes da rádio Rala Coco e dizer que para mim é uma honra poder dar uma entrevista para a rádio. Locutor: Está aí o grande Professor Fernando. Professor vou fazer algumas perguntas para você. Quais as principais consequências na saúde de quem consomem alimentos com uso inadequado de agrotóxicos? Professor Fernando: As consequências na saúde de quem consome alimentos contaminados com agrotóxicos, elas vão ser sentidas daqui há dez, vinte, trinta anos. É o que a gente chama dos resultados da exposição crônica que pode levar ocorrência de casos de câncer, por exemplo. Isso está entre uma das consequências na ingestão de alimentos contaminados com agrotóxicos. Mas há também alimentos contaminados com agrotóxicos que podem gerar alterações hormonais, diversos tipos de distúrbios endócrinos. Já existem pesquisas que evidenciam isso em vários países do mundo. Locutor: Está certo. Professor, uma pergunta dos nossos ouvintes. É verdade que alimentos grandes e com uma aparência mais bonita é um indicador de uso de agrotóxicos? Professor Fernando: Sim, isso tem sentido. A verdade, muitas vezes o alimento que não tem uso de agrotóxicos, é chamado orgânico ou agroecológico, muitas vezes ele é menor, mais enrugado. Ás vezes você percebe a presença até de algum tipo de inseto. Esse inclusive é uma alimento, digamos que pode estar com menos risco de estar contaminado, que contém insetos, o menor, muitas vezes não é o mais bonito. Geralmente esses alimentos que apresentam essa aparência impecável, é sinal de que houve um trabalho direcionado para a potencialização do seu crescimento, isso com preço muitas vezes alto. Mas apenas a olho nu não é possível. Teremos que estar fazendo um exame, no campo de análises de resíduos para verificar se ele tem ou não presença . Existe realmente uma probabilidade maior. Locutor: Certo! Professor, então complementando, a olho nu não é possível identificar algum desses indicadores do uso de agrotóxicos? Professor Fernando: A olho nu você não tem condições. Em função das características do produto você pode estimar. Então a chance realmente é maior em produto de dimensões muito exageradas, sem nenhum tipo de aparência que indique algum tipo de ação de uma praga. É uma questão de probabilidade maior, mas eu não posso realmente dar certeza. Locutor: Está certo. O que a população pode fazer para diminuir de alguma forma o risco de ter a sua saúde afetada pelo consumo de alimentos com uso inadequado de agrotóxicos? Professor Fernando: Muitos pesquisadores indicam a lavagem, descascar certos tipos de vegetais para amenizar essa contaminação. Eu tenho algumas, digamos observações quanto a isso. De que isso pode não ser as medidas mais efetivas. Porque alguns agrotóxicos tem ação sistêmica. Eles se distribuem por todas as partes da planta. Então somente lavando, descascando, não seria suficiente para inibir a ação do resíduo de agrotóxicos. Então o que eu recomendo é a procura pelos alimentos agroecológicos ou orgânicos que já estão distribuídos em muitos supermercados e muitas feiras em Brasília. Em Brasília existe a Ágil que é a Associação de Agricultores Orgânicos do Distrito Federal, que existe mais de quinze pontos de compra de produtos agroecológicos. Inclusive na UnB, no ICC Norte, todas as terças de manhã é possível comprar produtos vindos diretos de assentamentos da Reforma Agrária como o caso da Colônia que utilizam a forma agroecológica e sem uso de agrotóxicos. Então convido a todos os ouvintes que queiram comer alimentos, se alimentar de produtos sem agrotóxicos, que visite na própria UnB, todas as terças de manhã, a feirinha agroecológica do assentamento Colônia. Locutor: Está certo! Professor, você então apontaria os alimentos orgânicos como alimentos mais saudáveis? Professor Fernando: Sem dúvida. O que as pesquisas indicam que os alimentos orgânicos agroecológicos, além de não conter resíduos de agrotóxicos, eles possuem características em termos de vitaminas, proteínas e minerais em maior abundância do que os alimentos produzidos de forma convencional. Locutor: Esses alimentos orgânicos, Professor, eles estão realmente acessíveis, analisando o chamado custo – benefício, à população de Brasília e também a população do nosso entorno? Professor Fernando: Veja! Nos supermercados mais tradicionais eles estão com o custo em volta de 30% a mais. Mas nas feirinhas agroecológicas que existem na cidade, já se pode encontrar esse alimento com o custo mais acessível. Um exemplo desse que eu acabei de falar que tem na própria UnB. É claro que ainda o custo não é o ideal porque existe pouca assistência técnica, pouco apoio a esse produtor. Para você ter uma ideia, se um produtor agroecológico precisar de um financiamento no banco, o fato dele não usar agrotóxico faz ele perder o seguro agrícola. Então ele é mais desprotegido. Isso faz com que o preço do produto seja mais alto porque ele tem menos apoio governamental, menos assistência técnica. Isso dificulta um pouco. Fundamental que o Estado brasileiro, vou dar o exemplo da Embrapa que tem bilhões no seu orçamento. Se a gente separasse metade do orçamento da Embrapa para pesquisa agroecológica, hoje o Brasil, ao invés de ser o maior consumidor mundial de agrotóxico, poderia ser o maior produtor mundial de alimentos saudáveis. Acho que esse é o desafio que está colocado e que nós temos que pressionar os órgãos do governo para desenvolver políticas públicas que realmente promovam saúde e estimule a produção saudável. Locutor: O Senhor acabou de falar que o Brasil poderia ser o maior produtor de alimentos saudáveis. Na prática, o que precisa ser feito para esse objetivo, para esse desafio ser alcançado? Professor Fernando: Bom, primeira coisa: Quem hoje produz alimento no Brasil é a agricultura familiar, segundo o senso IBGE. 70% dos alimentos que estão na mesa do brasileiro é da agricultura familiar. A grande parte do que se usa agrotóxico hoje no Brasil é direcionado para as commodities para exportação. Então a primeira coisa é priorizar realmente políticas que viabilizem apoio e assistência técnica para esse pequeno produtor que é responsável por alimentar o brasileiro. E justamente é ele que tem menos apoio. É um grande agronegócio para exportação ter muito mais subsídio, mais apoio governamental. Para você ter uma ideia, ele tem dez vezes acesso mais crédito do que o pequeno. Então primeira coisa é uma grande política de assistência técnica e crédito agrícola voltado para transição agroecológica. Que também a gente não vai conseguir da noite para o dia mudar o modelo convencional para o agroecológico. Uma série de medidas devem ser feitas para que ocorra uma transição gradativa e a gente possa desenvolver uma agricultura que além de não usar o veneno, o agrotóxico, ela estimule a distribuição social da riqueza. Então não fique concentrada na mão de poucos e preserve o ambiente. Já que uma das maiores riquezas que o Brasil tem é a sua própria biodiversidade. Locutor: Certo. Professor, uma última pergunta para você. A Anvisa divulgou uma lista com o ranking dos alimentos com maior índice de contaminação por uso inadequado de agrotóxicos. Existe entre eles o tomate, alface, cenoura que são alimentos tão comuns na mesa dos brasileiros. O que o Senhor pode comentar sobre isso para os nossos ouvintes? Professor Fernando: Bom, essa lista da Anvisa indica que ainda de modo geral, se juntar todos os alimentos, entorno de 30% dos alimentos tem análise de resíduos insatisfatórias, ou seja, são agrotóxicos ou não autorizados para aquela agricultura, ou os resíduos estão acima dos padrões aceitáveis. Isso significa que nossa população está sob risco e que ao longo dos anos uma exposição continuada a alimentos com resíduos de agrotóxicos, podemos afirmar que existe uma carga de doenças que pode estar sendo gerada a partir disso. Ainda se requer mais pesquisas e estudos para a gente poder evidenciar isso de forma mais adequada, mas eu posso lhe dizer que o aumento da incidência de câncer hoje na nossa população pode estar associada a esse consumo excessivo de agrotóxico. Hoje as taxas de incidência de câncer no Brasil encontra-se taxas maiores inclusive entre a população rural comparada com a urbana. É uma coisa que não se esperaria já que nas zonas urbanas se expõe mais a poluição atmosférica, uma série de outras substâncias químicas que não tem no campo. Então uma das hipóteses que nós trabalhamos é que o homem do campo é exposto de diversas formas. Ele é exposto no trabalho, na sua comunidade e também nos seus alimentos. Eles tem uma tríplice exposição. Isso pode também ser uma das hipóteses que também explica essa maior incidência de câncer na população rural. Então esses dados da Anvisa que teve mostrado infelizmente ainda é muito localizado.. Faltam dados sobre agrotóxicos no Brasil, faltam dados melhores sobre o nível de intoxicação dos trabalhadores. Então frente a total ausência de dados, essa informação da Anvisa pelo menos é algo que está chegando a sociedade. O Governo precisa fazer ainda muito mais em termo de monitoramento e vigilância do impacto dos agrotóxicos na saúde do meio ambiente. Isso da Anvisa é um primeiro passo, ainda falta muito. Inclusive a Anvisa tem reavaliado alguns produtos que já estão banidos em outros países, que as empresas simplesmente entram na justiça contra a Anvisa para manter os produtos que são banidos no seu próprio país de origem. Existe hoje uma campanha nacional contra os agrotóxicos pela Vida. Eu faço parte desta campanha na coordenação nacional pelo Abrasco, Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Nós estamos construindo um dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde brasileira. Nós vamos estar lançando agora, na semana que vem, no Congresso Mundial de Nutrição, no Rio de Janeiro, onde esse dossiê vai ser , digamos, toda imprensa nacional e internacional, vai ter acesso. Então a gente acredita que as ações como essa campanha, ações como esse dossiê que está juntando evidências científicas, temos uma dimensão do dano a saúde do brasileiro, possa sensibilizar o Estado para que se tome medidas adequadas para o controle de agrotóxicos no Brasil. Locutor: Agradecemos a sua participação que trouxe muita qualidade ao nosso debate. Professor Fernando: Ok, estamos à disposição aqui no Departamento de Saúde Coletiva. É uma das ilhas de pesquisa nossa que estão os impactos da saúde no ambiente associados ao uso de agrotóxico, ao desenvolvimento agrícola no campo e podem contar conosco. Obrigado. Locutor: Obrigado professor Fernando. Locutor: - Depois dessa entrevista com o especialista Fernando Carneiro foi falado um pouco sobre alimentos orgânicos e por isso agora vamos aprofundar um pouco nesse assunto conversando com a nossa colega Ana Luíza. Ana, fala para os nossos ouvintes: o que são produtos orgânicos? Ana: - Os orgânicos são alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos e nem adubos químicos. Eles não agridem a natureza, mantendo solo inalterado e a qualidade dos alimentos. Locutor: - Mas se não há agrotóxicos, como combater as pragas? Ana: - Na agricultura são utilizados apenas sistemas naturais para combater os insetos e fertilizar o solo. Locutor: - Então, há alguma diferença na qualidade nutricional dos alimentos orgânicos em comparação aos não orgânicos? Ana: - A única diferença que há entre eles é que os alimentos orgânicos apresentam a vantagem de serem mais saudáveis que aqueles que recebem agrotóxicos. Também são mais saborosos. Locutor: - Quais as vantagens os produtos orgânicos trazem para a natureza? Ana: - A produção de orgânicos respeita o meio ambiente, evitando a contaminação de solo, água e vegetação, e assim diminuem a poluição da natureza. É considerada também uma atitude de responsabilidade ecológica. Locutor: - Há desvantagens nessa produção? Ana: - Há uma única desvantagem na produção de produtos orgânicos, infelizmente eles são mais caros que os produtos convencionais. Locutor: - Mas se fazem mais bem que alimentos inorgânicos, por que eles são vendidos mais caros? Ana: - Por que a sua produção requer mais gastos e também são feitos em baixa escala, para assim garantir a qualidade do alimento. Locutor: - Muito obrigado Ana pela sua participação. Queridos ouvintes nosso debate sobre os agrotóxicos está chegando ao fim, mas antes, vamos passar uma dica prática pra você que está nos ouvindo. Essa dica é com você Admilsom. Admilsom: - O ideal é deixar as frutas e verduras em um litro água com uma colher de bicarbonato de sódio por no mínimo 30 minutos, logo após este tempo, é necessário deixar em repouso em água e água sanitária ou vinagre. Locutor: - Obrigado Admilson pela sua participação. Infelizmente nosso tempo acabou ouvintes, espero que vocês tenham gostado do nosso programa, que tenha sido produtivo e esclarecido algumas dúvidas que vocês tivessem sobre os agrotóxicos. Agradeço também aos nossos convidados que estão aqui no estúdio Rala-Coco, dá um tchau aí galera. Convidados: ‘Tchaaaau’. Vinheta de encerramento. Estudantes do curso de Graduação em Saúde Coletiva Admilson Campelo, Amanda Cecília Matos, Fernanda Campelo, Jéssica Lima , Hudson Xavier, Tassio Martins.