Avaliação de parâmetros microbiológicos e toxicológicos de ostras

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Avaliação de parâmetros microbiológicos e toxicológicos de ostras (Crassostrea
sp.) do município de Cananéia, São Paulo
ALLAN ROGÉRIO DE ALVARENGA
ii
INSTITUTO BIOLÓGICO
PÓS-GRADUAÇÃO
Avaliação de parâmetros microbiológicos e toxicológicos de ostras
(Crassostrea sp.) do município de Cananéia, São Paulo
ALLAN ROGÉRIO DE ALVARENGA
Dissertação apresentada ao Instituto Biológico, da
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios,
para obtenção do título de Mestre em Sanidade,
Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio.
Área de Concentração: Segurança Alimentar e
Sanidade no Agroecossistema.
Orientadora: Dra. Edviges Maristela Pituco
São Paulo
2016
iii
iv
SECRETARIA DE AGRICULTURA E
ABASTECIMENTO
AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS
INSTITUTO BIOLÓGICO
Pós-Graduação
Av. Cons. Rodrigues Alves 1252
CEP 04014-002 - São Paulo – SP
[email protected]
FOLHA DE APROVAÇÃO
Nome do candidato: ALLAN ROGÉRIO DE ALVARENGA
Título: Avaliação de parâmetros microbiológicos e toxicológicos de ostras (Crassostrea sp.)
do município de Cananéia, São Paulo
Orientadora: Dra. Edviges Maristela Pituco
Dissertação apresentada ao Instituto Biológico da
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
para obtenção do título de Mestre em Sanidade,
Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio.
Área de Concentração: Segurança Alimentar e
Sanidade no Agroecossistema
Aprovada em:
Banca Examinadora
Assinatura:
Profa. Dra.: Edviges Maristela Pituco.
Instituição: Instituto Biológico de São Paulo.
Assinatura:
Profa. Dra.: Eliana de Fatima Marques de Mesquita.
Instituição: Universidade Federal Fluminense – UFF.
Assinatura:
Profa. Dra.: Eliana Scarcelli Pinheiro.
Instituição: Instituto Biológico de São Paulo.
v
À minha mãe, Ana Maria de Alvarenga, minha melhor
amiga, que sempre me apoiou e que é a única pessoa
capaz de acreditar na minha capacidade, mais do que eu
mesmo.
vi
AGRADECIMENTOS
À Deus, pela vida e pela certeza de que nela terei o seu conforto nas horas difíceis.
À minha mãe, pessoa indispensável em minha vida, minha melhor amiga e maior
incentivadora, a quem devo tudo que sou até hoje.
À minha avó, pelo carinho e dedicação que me ajudaram a ser quem sou e chegar até aqui.
À minha irmã, com a qual dividi tantos momentos de alegrias intensas e conflitos passageiros,
e que além de tudo me deu dois grandes presentes, meus sobrinhos, meus afilhados, minhas
paixões, Lucas e Gabriel.
À toda minha família, por serem exatamente como são e, por isso, terem se tornado a pedra
fundamental da minha vida.
À minha orientadora, Maristela Pituco, um grande exemplo de pessoa e profissional, por ter
generosamente me acolhido com amizade em São Paulo, por ter aceitado o desafio de me
orientar em uma área nova, por tudo que me ensinou e contribuiu para meu desenvolvimento
profissional e pela confiança depositada.
À toda equipe do Laboratório de Viroses de Bovídeos, pelo apoio e atenção, em especial a
Dra. Liria Hiromi Okuda que tanto ajudou no desenvolvimento das análises moleculares, à
Alisete por estar sempre disposta ajudar nas questões administrativas e à Michele que mesmo
da Itália sempre que pode ajudou no desenvolvimento do projeto e à Vivian e Mayra que
sempre estiveram por perto prontas para ajudar.
À Dra. Alessandra Nassar, pelo apoio, pela constante atenção nas análises bacteriológicas e
por ter aceito participar da banca examinadora deste trabalho.
À toda equipe do Laboratório de Bacteriologia Geral, em especial a Bê e a Rô, por todo apoio
e momentos de descontração.
Ao Dr. Luiz Carlos Luchini e seu irmão Dr. Paulo Dirceu Luchini, por ter aceito contribuir no
desenvolvimento desse trabalho e ter me orientado nas análises químicas de metais pesados.
À toda equipe do Centro de Virologia do Instituto Adolfo Lutz, que me permitiu realizar as
análises virais, especialmente à Dra. Regina Célia Moreira, Dra. Adriana Parise Compri, Dra.
Rita de Cássia Compagnoli Carmona e Dra. Fabiana Cristina Pereira dos Santos, que foram
de uma atenção e compreensão sem igual e que ajudaram em todos os momentos possíveis.
À Dra. Isabel Oba do Centro de Virologia do Instituto Adolfo Lutz, com quem fiz meu primeiro
contato na instituição e desde então sempre foi extremamente atenciosa e colaborativa
comigo e meu trabalho, sendo fundamental para conclusão do mesmo.
À Noemi Rovaris e ao Dr. Marcelo Alves Pinto da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) pelo
auxílio e treinamento nas análises virais.
À professora Eliana Mesquita, por todo o apoio, compreensão, confiança e ensinamentos que
vem desde a época da graduação e por ter aceito o convite de participação na banca
examinadora o que só contribuiu para o melhor desenvolvimento desse trabalho.
À professora Eliana Scarcelli, pela sua leveza, pelos ensinamentos durante o curso de
vii
mestrado e por ter aceito o convite de participação na banca examinadora o que contribuiu
para melhoria da qualidade desse trabalho.
À professora Dolores Úrsula Mehnert, que desde o primeiro contato foi muito atenciosa e
prestimosa e ainda por ter aceito o convite de participação na banca examinadora o que, com
seu largo conhecimento em virologia ambiental, só irá melhorar a qualidade desse trabalho.
À Dra. Adriana Corrêa, pela contribuição e treinamentos fundamentais para elaboração desse
trabalho.
A todos os grandes professores que passaram na minha vida, pelos ensinamentos, conselhos,
e pela incrível contribuição que deram para meu desenvolvimento o que com certeza os
tornaram figuras inesquecíveis para mim.
Ao Daniel Rocha, chefe e amigo, e aos demais amigos de trabalho do SVA-Santos, pela
generosidade, onde desde o início da minha decisão de cursar o mestrado me apoiaram e
contribuíram para minha liberação.
À querida amiga Rogéria Conceição, pelo carinho e ajuda sempre constante até mesmo
quando o assunto era a minha licença.
Aos amigos Adriano e Jaqueline, com os quais formo o Trio Carioca do SVA-SNT e que desde
os primeiros contatos as afinidades levaram a uma amizade tão boa, que mesmo no período
de licença estávamos sempre juntos.
Aos meus queridos amigos de Escola Técnica, pela amizade por todo esse tempo que tende
ao infinito, pela constante alegria na minha vida e por todas as mensagens de whatsapp
perguntando se eu já tinha terminado ou se precisava de mais alguma ajuda na correção do
que eu já não enxergava mais.
À amiga Luciana pela dedicação com que me ajudou, mas não só por isso, por todos esses
anos de convívio, amizade, parceria que nunca vai passar.
Aos amigos de pós-graduação, pelo incentivo, convívio e caminhada firme.
À Adeline companheira de viagem até campinas, companheira de laboratório, companheira
de perrengues experimentais, pela amizade e por tudo que me ajudou durante o mestrado.
À Josemara, companheira de madrugadas no laboratório, pela amizade e companheirismo.
Ao Mário de Cananéia que tanto ajudou nas colheitas de amostras.
Ao Instituto Biológico e a sua Pós-Graduação, pelo apoio sem o qual não seria possível
realizar esse trabalho.
E a todos os envolvidos direta ou indiretamente no desenvolvimento desse trabalho.
viii
RESUMO
ALVARENGA, A.R. AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS E
TOXICOLÓGICOS DE OSTRAS (CRASSOSTREA SP.) DO MUNICÍPIO DE CANANÉIA,
SÃO PAULO. São Paulo – SP. 2016. Dissertação (Mestrado em Sanidade, Segurança
Alimentar e Ambiental no Agronegócio) – Instituto Biológico.
O município de Cananéia-SP é o maior produtor de ostras do Estado e essa produção tem
grande importância para a população local. Ostras são organismos filtradores capazes de
acumular em seus tecidos diversos tipos de contaminantes químicos e biológicos. São
amplamente descritos, pelo mundo, surtos de gastroenterites relacionados ao consumo de
ostras provenientes de águas contaminadas por fezes. A poluição por esgoto doméstico
compromete o ambiente aquático e possui reflexos nos alimentos nele produzido uma vez
que é capaz de introduzir bactérias e vírus patogênicos nesse meio, além de contaminantes
inorgânicos como metais pesados. O presente estudo avaliou a presença de coliformes
termotolerantes pelo NMP em 100g; Norovírus GII e Vírus da Hepatite A, por RT-qPCR e
metais pesados (Pb, Cd, Zn e Cu) por espectrofotometria de absorção atômica em ostras de
quatro regiões do estuário de Cananéia e revelou contaminação em graus variados para todas
as regiões de coliformes termotolerantes, inclusive com contagens que implicariam na
suspensão da retirada dos animais para o comércio. Revelou também a ausência de Vírus da
Hepatite A e a presença de Norovírus em 18,3% das amostras distribuídas em todas as áreas
de amostragem e, por fim, revelou teores de metais pesados dentro dos limites fixados na
legislação vigente exceto para o zinco que apresentou valores muito superiores aos vigentes
estabelecidos. Desta forma frente a inexistência de legislação que contemple um escopo mais
completo de análises que possam garantir a adequada fiscalização e, por conseguinte, a
devida inocuidade do alimento ostra, recomenda-se que medidas sejam adotadas para
atualização da legislação vigente nesse sentido.
Palavras-chave: Bivalves; Contaminação; Coliformes Termotolerantes; Norovírus, Vírus da
Hepatite A; Metais Pesados.
ix
ABSTRACT
ALVARENGA, A.R. MICROBIOLOGICAL AND TOXICOLOGICAL PARAMETERS
ASSESSMENT OF OYSTERS (CRASSOSTREA SP.) FROM CANANÉIA CITY, SÃO PAULO
STATE. São Paulo – SP. 2016. Dissertação (Mestrado em Sanidade, Segurança Alimentar e
Ambiental no Agronegócio) – Instituto Biológico.
Cananéia city is the São Paulo state's largest oyster producer and this production is very
important for local people. Oysters are filter organisms able to accumulate in their tissues
various types of chemical and biological contaminants. Are widely described, the world,
gastroenteritis outbreaks related to consumption of oysters from water contaminated by
feces. Pollution by domestic sewage commits the aquatic environment and has reflections in
foods producedtherein once that is able to introduce in this means pathogenic bacteria and
viruses, as well as inorganic contaminants such as heavy metals. This study evaluated the
presence of thermotolerant coliforms by NMP/100g; Norovirus GII and Hepatitis A Virus by
RT-qPCR and heavy metals (Pb, Cd, Zn and Cu) by spectrophotometry of atomic absorption
in oyster from four regions of Cananéia estuary and revealed contamination for coliforms
thermotolerant in varying degrees to all regions, including scores that would entail the
suspension of the withdrawal of animals for trade. Also revealed the absence of Hepatitis A
virus and the presence of Norovirus in 18.3% of the samples distributed in all sampling areas,
and finally revealed heavy metal content within the limits specified in current legislation except
for zinc, which showed much higher than the current set values. Thus front the lack of laws
addressing a more complete scope of analysis that can ensure proper supervision and
therefore the due safety food, it is recommended that measures be taken to update current
legislation in this regard.
Keywords: Bivalves; Contamination; Thermotolerant Coliforms; Norovirus, Hepatitis A Virus;
Heavy metals.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Riscos, benefícios e oportunidades dos oceanos e saúde humana ...................... 18
Figura 2: Produção mundial de pescado a partir da pesca de captura e da aquicultura ....... 22
Figura 3: Mapa do Litoral do Estado de São Paulo .............................................................. 25
Figura 4: Mapa do Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia-Iguape ................................ 26
Figura 5: Visão simplificada do processo de absorção de partículas pelos bivalves. ........... 30
Figura 6: Características anatômicas da ostra. .................................................................... 31
Figura 7: Rotas de transmissão de vírus entéricos .............................................................. 37
Figura 8: Fluxograma das atividades experimentais desenvolvidas no presente trabalho. ... 50
Figura 9: Localização das áreas de colheita de amostras no Município de Cananéia .......... 51
Figura 10: Representação gráfica do NMP de coliformes termotolerantes em 100g de ostras,
das amostras colhidas nos diferentes locais do município de Cananéia. ............................. 62
Figura 11: Representação gráfica da distribuição das amostras quanto ao critério de retirada
de ostras para comercialização. .......................................................................................... 66
Figura 12: Distribuição mensal da carga bacteriana em ostras por NMP/100g .................... 67
Figura 13: Eletroforese em gel de agarose corado com GelRed™ revelando resultado da RTPCR para gene β-actina. ..................................................................................................... 71
Figura 14: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no protocolo com
reagente marca DNA Express Biotecnologia®...................................................................... 72
Figura 15: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca DNA Express Biotecnologia®...................................................................... 72
Figura 16: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida durante
cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no protocolo com
reagente marca DNA Express Biotecnologia®...................................................................... 73
Figura 17: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca DNA Express Biotecnologia®. ............................................................. 73
Figura 18: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida durante
cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no protocolo com reagente
marca Roche®...................................................................................................................... 74
Figura 19: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca Roche®. ...................................................................................................... 74
xi
Figura 20: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida durante
cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no protocolo com
reagente marca Roche®. ...................................................................................................... 75
Figura 21: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca Roche®. .............................................................................................. 75
Figura 22: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida durante
cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no protocolo com reagente
marca Invitrogen®. ............................................................................................................... 76
Figura 23: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca Invitrogen®. ................................................................................................ 76
Figura 24: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida durante
cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no protocolo com
reagente marca Invitrogen®. ................................................................................................ 77
Figura 25: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca Invitrogen®. ......................................................................................... 77
Figura 26: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para as amostras positivas para Norovírus. ........................................... 79
Figura 27: Curva de calibração para Zinco. ......................................................................... 84
Figura 28: Curva de Calibração para Cobre. ........................................................................ 85
Figura 29: Curva de Calibração para Cádmio. ..................................................................... 85
Figura 30: Curva de Calibração para Chumbo. .................................................................... 86
Figura 31: Concentração de zinco nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada............................................................................................................................ 87
Figura 32: Concentração de cobre nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada............................................................................................................................ 89
Figura 33: Concentração de cádmio nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada............................................................................................................................ 89
Figura 34: Concentração de chumbo nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada............................................................................................................................ 90
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Perigos associados ao consumo de moluscos bivalves ....................................... 33
Tabela 2: Causas microbianas das enfermidades associadas ao consumo de moluscos
bivalves................................................................................................................................ 34
Tabela 3: Preparo do Master mix para RT-qPCR................................................................. 56
Tabela 4: Par de primers e sondas para HAV e Norovírus ................................................... 57
Tabela 5: Parâmetros para programação do Termociclador RT-qPCR. ............................... 58
Tabela 6: Parâmetros para programação do Termociclador para PCR de Actina ................ 59
Tabela 7: Valores de NMP de coliformes termotolerantes/100g das amostras colhidas nos
diferentes locais do município de Cananéia. ........................................................................ 63
Tabela 8: Avaliação do desempenho dos protocolos com os diferentes reagentes testados.
............................................................................................................................................ 78
Tabela 9: Resultado da análise qualitativa por RT-qPCR para as amostras testadas para
Norovírus. ............................................................................................................................ 80
Tabela 10: Avaliação das concentrações obtidas na determinação dos diferentes metais, em
ppm, em base úmida. .......................................................................................................... 86
xiii
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................ viii
ABSTRACT .......................................................................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. x
LISTA DE TABELAS........................................................................................................... xii
SUMÁRIO........................................................................................................................... xiii
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14
2 OBJETIVOS.................................................................................................................... 16
3 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 17
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ANTRÓPICA........................................................... 17
ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CONSUMO DE PESCADO .............................. 20
LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO .............................................................. 24
MOLUSCOS BIVALVES: CARACTERÍSTICAS E PERIGOS RELACIONADOS ... 28
VÍRUS ENTÉRICOS .............................................................................................. 35
3.5.1 Vírus da Hepatite A ....................................................................................... 38
3.5.2 Norovírus ....................................................................................................... 41
3.6
BACTÉRIAS INDICADORAS DE CONTAMINAÇÃO E SEU MONITORAMENTO . 43
3.7
CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS......................................................... 45
3.8
LEGISLAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DE CONTROLE HIGIÊNICOSANITÁRIO DE BIVALVES.............................................................................................. 48
4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 50
4.1
4.2
DESENHO EXPERIMENTAL ................................................................................ 50
METODOLOGIA .................................................................................................... 51
4.2.1 Definição e Processamento Inicial das Amostras ...................................... 51
4.2.2 Análises Bacteriológicas .............................................................................. 52
4.2.3 Análises Virais ............................................................................................... 54
4.2.4 Análises dos Teores de Metais Pesados ..................................................... 59
4.2.5 Análises Estatísticas ..................................................................................... 61
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 62
5.1
5.2
5.3
5.4
ANÁLISES BACTERIOLÓGICAS .......................................................................... 62
ANÁLISES VIRAIS ................................................................................................ 71
ANÁLISES DE METAIS ......................................................................................... 84
LEGISLAÇÃO VIGENTE FRENTE AOS RESULTADOS OBTIDOS ...................... 92
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 94
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 95
8 APÊNDICES ................................................................................................................. 104
14
1 INTRODUÇÃO
A expansão demográfica mundial traz consigo um desafio à humanidade: elevar a
produção de alimentos com sustentabilidade e menor impacto ambiental. Este desafio se
torna ainda maior quando se observa que ao longo dos anos, o planeta Terra vem
experimentando diversas modificações antrópicas que impactam negativamente os mais
variados ecossistemas e comprometem a salubridade do ambiente e a saúde do homem.
Atualmente, a aquicultura é umas das atividades de produção de alimentos que mais
cresce no mundo e é considerada uma alternativa estratégica para segurança alimentar. Além
disso, ela reúne vantagens do ponto de vista ambiental, econômico e social, uma vez que
reduz a pressão sobre os estoques naturais; aumenta a renda dos produtores e contribui para
fixação das populações tradicionais nas áreas de origem.
A ostreicultura é um ramo da aquicultura destinado ao cultivo de ostras, que em virtude
das características de alimentação desses animais, que não dependem de ração, é de baixo
custo de implantação e manutenção, o que garante maior viabilidade econômica na produção
se comparado à outras culturas.
O cultivo desses organismos reduz a pressão sobre os estoques naturais, por reduzir
o extrativismo predatório que ameaça o equilíbrio do ecossistema, está relacionado à
sustentabilidade sociocultural, por promover a valorização de saberes tradicionais, o
fortalecimento da unidade familiar e a fixação da população na região, ainda garante o
fortalecimento da segurança alimentar das comunidades ribeirinhas e aumento da renda
familiar, além de promover a abertura de novos mercados como o gastronômico e o de turismo
e que geram emprego e renda para a população costeira.
No entanto, o ambiente aquático vem sendo altamente impactado ao longo dos anos
com o desenvolvimento desordenado e sem planejamento das cidades. Os oceanos são o
destino final de todo resíduo gerado pelas atividades humanas, seja por descarga direta ou
através do aporte de rios. Portanto, a expansão demográfica desordenada e sem
infraestruturas mínimas como as de saneamento básico compromete os ecossistemas
aquáticos, o desenvolvimento da aquicultura e a qualidade de vida, bem-estar e saúde da
população.
A saúde do ambiente aquático está, portanto, intimamente ligada a saúde da
população. A descarga de poluentes orgânicos e inorgânicos nesse ambiente interfere na vida
marinha e assim na sua capacidade de produzir alimentos, bem como compromete a
qualidade desses alimentos, que uma vez contaminados podem gerar agravos a saúde da
população.
15
A segurança do alimento está relacionada à sua inocuidade e o pescado, termo
genérico que engloba os animais aquáticos destinados à alimentação humana, é um dos
alimentos mais relacionados a casos de doenças veiculadas por alimentos. Nesse grupo, os
moluscos bivalves (ostras e mexilhões) destacam-se por serem animais filtradores que
possuem capacidade de reter e acumular em seus tecidos uma série de contaminantes
químicos e biológicos
Os principais contaminantes químicos são os óleos, agrotóxicos e metais pesados, e
os principais agentes biológicos são os patógenos entéricos de veiculação hídrica os quais
são geralmente eliminados em grandes quantidades nas fezes de pessoas infectadas e são
altamente resistentes em condições ambientais o que favorece a perpetuação e reciclagem
desses patógenos na população susceptível que entra em contato com água e/ou alimentos
contaminados por eles.
No grupo de patógenos entéricos possuem maior relevância as bactérias de origem
fecal, as quais vêm sendo largamente usadas como indicadores da contaminação de
alimentos e podem estar associadas a diversas doenças veiculadas por eles, e os vírus
entéricos que são atualmente os patógenos mais comuns a causar doenças veiculadas por
água e alimentos, onde se destacam o norovírus, apontado como principal causador de
doenças diarreicas no mundo e vêm sendo largamente relacionados à surtos envolvendo
água e alimentos crus, inclusive moluscos bivalves, e o vírus da hepatite A (HAV) que causa
uma doença grave e debilitante que pode levar a morte.
Uma vez contaminando as águas onde vivem ou são cultivados moluscos bivalves,
esses patógenos podem ser captados e acumulados nos tecidos desses animais,
comprometendo sua inocuidade podendo causar surtos/doenças nos indivíduos susceptíveis,
situação que vêm sendo relatada em diversos países ao redor do mundo.
No Litoral Sul de São Paulo, o município de Cananéia, inserido no vale do Ribeira,
uma das regiões mais pobres do estado possui características preservacionistas e revela-se
como maior produtor de ostras estadual, ao mesmo passo que convive com o turismo e com
áreas povoadas com carência de saneamento básico.
Desta forma, a avaliação do grau de contaminação química e biológica das ostras do
município de Cananéia se faz importante para avaliar sua inocuidade e possíveis riscos a
população.
16
2 OBJETIVOS
2.1
GERAL
O presente trabalho possui como objetivo principal a identificação de perigos
microbiológicos e toxicológicos oriundos da degradação ambiental antrópica em ostras do
município de Cananéia- SP que reflitam riscos à saúde da população.
2.2
ESPECÍFICOS
a. Avaliar a presença de bactérias indicadoras de contaminação fecal nos tecidos
comestíveis de moluscos bivalves, por meio da técnica de Número Mais Provável
(NMP);
b. Determinar a prevalência de vírus entéricos (Vírus da Hepatite A e Norovírus) nos
moluscos bivalves, por meio de técnicas moleculares;
c. Avaliar os teores de metais pesados nos tecidos comestíveis dos moluscos bivalves;
d. Correlacionar os dados obtidos com a legislação vigente a fim de avaliar o grau de
segurança no consumo desses animais no Brasil.
17
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL ANTRÓPICA
Ao longo dos últimos anos, a população mundial duplicou enquanto o consumo de
água multiplicou-se por sete. O crescimento rápido da população urbana e da industrialização
está submetendo a graves pressões os recursos hídricos e a capacidade de proteção
ambiental de muitas regiões (MORAES; JORDÃO, 2002)
Considerando que, da água existente no planeta, 97% são salgadas (mares e
oceanos), e que 2% formam geleiras inacessíveis, resta apenas 1% de água doce,
armazenada em lençóis subterrâneos, rios e lagos, distribuídos desigualmente pela Terra. O
manejo holístico desta como um recurso finito e vulnerável e a integração de políticas de
recursos hídricos aos planos econômicos e sociais tem importância fundamental para o futuro
(MORAES; JORDÃO, 2002)
Oceanos e seres humanos têm interagido desde a antiguidade e, ao longo de milhares
de anos, os oceanos têm servido como uma fonte de alimento, gerado comércio, provido
meios de subsistência, bem como conectando civilizações ao redor do mundo, o que por sua
vez demonstra que as interações com ambientes costeiros e marinhos podem ter impactos
benéficos importantes na nossa saúde e bem-estar. No entanto, ecossistemas costeiros e
marinhos danificados, em decorrência de desastres naturais ou como resultado da exploração
humana, levaram a uma série de consequências negativas para a saúde humana, incluindo
perda de vida (FLEMING et al., 2014).
Dentro da íntima relação existente entre os ecossistemas costeiros e marinhos e a
saúde e bem-estar da população podemos inferir como influências negativas ou riscos, as
alterações climáticas, as condições meteorológicas extremas, os eventos naturais (por
exemplo os tsunamis), a acidificação do oceano, a proliferação de algas nocivas, os microorganismos patogénicos, a resistência aos antibióticos, os produtos químicos antrópicos, os
plásticos marinhos, os nanomateriais e as espécies exóticas e como fatores benéficos e
oportunidades, a pesca sustentável, a aquicultura, os alimentos marinhos (pescado), as
comunidades costeiras sustentáveis, a biotecnologia marinha sustentável, os produtos
naturais e farmacêuticos, a biodiversidade, a saúde única, as espécies sentinelas, a recreação
ao ar livre (Blue Gym), a saúde e o bem-estar da costa, as áreas marinhas protegidas e a
energia marinha renovável (Figura 1) (FLEMING et al., 2014)
18
Figura 1: Riscos, benefícios e oportunidades dos oceanos e saúde humana
(Extraído de FLEMING et al., 2014)
Nesse sentido, torna-se claro que o homem, em particular os moradores do litoral,
depende muito do uso das águas marinhas costeiras não poluídas para obtenção de alimentos
e para fins recreativos. No entanto, as contaminaçãos microbianas por bactérias e vírus,
relacionadas direta e indiretamente à atividade humana e animal, cada vez mais afetam a
inocuidade dos alimentos marinhos, bem como o uso comercial e recreativo destas águas.
Além disso, a contaminação química predominantemente antrópica das águas marinhas tem
levado ao crescente perigo de altos níveis de metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos e outras substâncias ambientalmente persistentes entrarem na cadeia alimentar
marinha (FLEMING et al., 2006).
Na maioria das áreas costeiras do mundo foram relatados danos causados pela
poluição que afetaram significativamente a obtenção de alimentos de origem marinha. A
produção e emissão de poluentes geralmente é derivada da agregação humana, do uso de
recursos naturais e de intervenções, como o desenvolvimento de infraestrutura, atividades
agrícolas, desenvolvimento industrial, urbanização, turismo, etc sendo os principais
contaminantes os poluentes orgânicos persistentes, nutrientes, óleos, radionuclídeos, metais
19
pesados, patógenos, sedimentos, lixos e detritos. De longe, o maior volume de resíduos
descarregados para o meio marinho é de esgoto que contém resíduos industriais, resíduos
urbanos, restos de animais, resíduos de matadouros, água e resíduos domésticos, dentre
outros. Cargas enormes de tais resíduos contendo uma variedade de substâncias prejudiciais,
incluindo vírus, bactérias e protozoários patogênicos, produtos químicos tóxicos, tais como
organoclorados e os metais pesados, e uma variedade de outros resíduos orgânicos e
inorgânicos são gerados diariamente nas cidades altamente povoadas e são finalmente
conduzidos pelos sistemas de drenagem que geralmente descarregam em rios próximos ou
sistemas aquáticos onde causam grande impacto negativo ao meio ambiente, aos seres que
ali vivem e ao homem (SHAHIDUL ISLAM; TANAKA, 2004).
Atualmente, a maioria da população mundial vive em regiões costeiras,
aproximadamente 50% da população mundial vive em cidades dentro de 100 km da costa e
este percentual está aumentando diariamente, particularmente em áreas tropicais e
subtropicais. Essas áreas costeiras são afetadas diariamente pelas grandes quantidades de
resíduos não tratados gerados pelo homem, bem como pelas mudanças no uso da terra e na
hidrologia (FLEMING et al., 2006; STEWART et al., 2008).
Um fator agravante da situação é a forma de ocupação urbana pelo homem, a qual
ocorre em alta velocidade, mas sem ser acompanhada de planejamento e estruturação
urbana adequada. Esta forma improvisada de ocupação caracterizada pela autoconstrução,
carência de serviços básicos de urbanização, habitações precárias, vem produzindo impactos
ambientais nocivos e com isso, comprometendo a qualidade do meio ambiente (CORRÊA;
SILVA, 2015).
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
(2010), em 2008, pouco mais da metade dos municípios brasileiros (55,2%) tinham serviço de
esgotamento sanitário por rede coletora, e apenas 28,5% dos municípios brasileiros fizeram
tratamento de seu esgoto. Mesmo na Região Sudeste, onde 95,1% dos municípios possuíam
coleta de esgoto, menos da metade desses (48,4%) o trataram, revelando um problema de
saneamento básico no país que tem como reflexo a degradação dos ecossistemas aquáticos
e a veiculação de doenças. (IBGE, 2010)
As condições precárias de saneamento básico permitem que uma série de patógenos
contaminem corpos hídricos vulnerabilizando a população mundial ao surgimento de
enfermidades em especial as diarreicas, o que segundo a Organização Mundial de Saúde –
OMS (2013) ocasionou no ano de 2011 a morte de 2 milhões de pessoas e causou 4 bilhões
de casos de doenças. (OMS, 2013)
A contaminação dos recursos hídricos pelo despejo de resíduos não tratados influencia
diretamente na inocuidade dos alimentos obtidos dessas águas com reflexo direto na saúde
da população que os consome, ora de forma aguda nos casos de vírus e bactérias ou de
20
forma crônica nos casos de contaminação por metais pesados (SHAHIDUL ISLAM; TANAKA,
2004; FLEMING et al., 2006; STEWART et al., 2008).
3.2
ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CONSUMO DE PESCADO
A produção pesqueira mundial total – produtos obtidos por pesca extrativa (captura ou
extração) e da aquicultura – no ano de 2012 atingiu a marca de 158 milhões de toneladas (t),
das quais cerca de 136 milhões foi destinada ao consumo humano. Dados preliminares de
2013 indicam aumento da produção para 160 milhões de toneladas, das quais 138 milhões
destinada ao consumo humano. O crescimento contínuo da produção de pescado e a
melhoria nos canais de distribuição proporcionaram um considerável aumento no
fornecimento de alimentos da pesca e aquicultura nas últimas cinco décadas, com uma taxa
média de crescimento de 3,2% no período 1961-2009, superando o índice de crescimento da
população de 1,6% (FAO, 2014).
Esse constante incremento da produção de pescado denota não só o crescimento da
população, mas também o aumento do consumo de pescado pelo homem ao longo dos
últimos anos. O consumo mundial per capita de pescado registou um crescimento médio de
9,9 kg em 1960 para 17,0 kg na década de 2000 e 18,9 kg em 2010, as estimativas
preliminares apontam para um aumento ainda maior do que 19,2 kg em 2012. Esse aumento
impressionante corresponde à combinação de crescimento da população, aumento da renda
e urbanização inter-relacionados com o forte crescimento da produção pesqueira e canais de
distribuição modernos (FAO, 2014).
O pescado é a carne mais demandada mundialmente e a de maior valor de mercado.
Contudo, no Brasil no período de 2010 a 2013 o pescado ficou na última posição entre as
quatro principais proteínas de origem animal consumidas, com média de 10,31 kg/hab/ano e
embora venha aumentando nos últimos anos, o valor ainda está abaixo do mínimo
recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 12 kg por habitante por ano
(ROCHA et al., 2013; MPA, 2015).
O pescado e os produtos da pesca representam uma importante fonte de proteínas e
micronutrientes essenciais para uma nutrição equilibrada e boa saúde. Em 2009, o pescado
representou 16,7% do consumo de proteínas animais pela população mundial e de 6,5% de
todas as proteínas consumidas (FAO, 2014).
Os produtos derivados de animais aquáticos têm seu consumo recomendado em
virtude de suas características nutricionais: 1) um alimento com baixo teor de gordura
(incluindo o colesterol) e alto teor proteico; 2) fonte de nutrientes essenciais, como as
21
vitaminas e minerais, e de ácidos graxos poli-insaturados. Ganham especial destaque em
países em desenvolvimento, onde são frequentemente a única fonte de proteína animal. O
seu consumo fornece proteínas de elevado valor biológico e seus tecidos comestíveis são
pobres em gordura saturada e ricos em poli-insaturadas, contendo dois ácidos graxos
essenciais do tipo ômega-3: o ácido eicosapentóico (EPA) e ácido docosahexanóico (DHA).
Possuem ainda uma proporção adequada entre os ácidos graxos do tipo ômega-3 e do tipo
ômega-6, ideal para a alimentação humana. Os moluscos bivalves são também uma fonte de
vitaminas (A e D) e minerais essenciais (FAUCONNEAU, 2002; SARTORI; AMANCIO, 2012).
Dentre os possíveis benefícios da ingestão de uma ou duas porções de peixe por
semana, que contêm cerca de 2 g de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, estão a
redução do risco de Acidente Vascular Cerebral, de depressão, do Mal de Alzheimer e de
morte por doença cardíaca (SARTORI; AMANCIO, 2012).
A experiência de expansão sem precedentes do mercado global de alimentos que vem
se tornando mais homogêneo e globalizado e a mudança nos padrões alimentares, que
buscam alimentação mais saudável, elevam as previsões do consumo de pescado a cada
ano e, além disso, a demanda por produtos à base de pescado também deve aumentar nas
próximas décadas, seja por razões socioeconômicas, de saúde ou religiosas. Assim sendo o
aumento do consumo per capita de pescado será cada vez mais dependente da
disponibilidade dos produtos da aquicultura, e sua capacidade de adequação às exigências
do mercado consumidor tendo em vista que atualmente, quase metade da produção de
pescado já é originada desta forma de produção que deve suplantar a pesca extrativa em
alguns anos (ROCHA et al., 2013)
Segundo dados da FAO (2014), desde meados dos anos 1990, a aquicultura tem sido
o motor do crescimento da produção pesqueira total visto que a produção global da pesca
extrativa tem se estabilizado e vem se mantendo, ao longo dos últimos anos, com valores em
torno de 90 milhões de toneladas, enquanto a contribuição da aquicultura vem sofrendo
incremento constante, passando de 13,4% em 1990 para 25,7% em 2000 e 42,2% em 2012,
quando atingiu a marca recorde de aproximadamente 66,6 milhões de toneladas, o que
representou um aumento médio anual de 6,2% no período de 2000 a 2012 (Figura 2).
22
Figura 2: Produção mundial de pescado a partir da pesca de captura e da aquicultura
(FAO, 2014).
Isto se deve ao fato de que os estoques de pescado de pesca extrativa vêm mostrando
uma tendência de declínio nas últimas décadas. Esta tendência tem sido atribuída a
exploração dos estoques marinhos sob um regime de livre acesso, que permite a sobre
exploração dos recursos pesqueiros, o uso de técnicas predatórias e conta com a falta de
fiscalização efetiva do poder público onde esse conjunto promove a redução de renda dos
pescadores, ameaça o equilíbrio dos ecossistemas marinhos, e por último, aumenta a
vulnerabilidade das comunidades costeiras, colocando em risco sua segurança alimentar e
até mesmo sua sobrevivência ao longo das últimas décadas (GOMES et al., 2008).
Nesse contexto, a aquicultura desponta como o setor de produção de alimentos que
mais cresce no mundo, sendo praticada em vários países, é uma importante fonte de renda e
de proteína animal, com papel relevante na segurança alimentar, ainda se destacando na
redução da pressão ambiental sobre as espécies obtidas por meio da pesca (IBGE, 2013).
O Brasil possui grande potencial para a aquicultura a ser explorado e que poderá gerar
novos empregos, renda e alimentos de alto valor biológico. Este potencial se deve ao clima
favorável, às condições naturais como, sua vasta dimensão territorial (8,5 milhões de km2),
sua extensão costeira de mais de oito mil quilômetros, sua zona econômica exclusiva (ZEE)
de 3,5 milhões de km², sua disponibilidade de aproximadamente, 13% da água doce renovável
do planeta, sua diversidade de biomas e sua imensa biodiversidade, que abriga inúmeras
espécies com potencial zootécnico (IBGE, 2013; ROCHA et al., 2013).
23
Produção em aquicultura pode ser dividida em duas categorias principais: aquicultura
continental e maricultura. A produção mundial de pescado comestível obtida a partir de
aquicultura continental e maricultura apresentavam o mesmo volume de 2,35 milhões
toneladas em 1980. No entanto, o crescimento da aquicultura continental desde então tem
sido superior ao crescimento da maricultura, com taxas de crescimento médias anuais de
9,2% e 7,6%, respectivamente (FAO, 2014).
A maricultura é reconhecida mundialmente como uma importante alternativa de
geração de empregos, renda e alimento, que tem contribuído para a fixação de comunidades
tradicionais em seus locais de origem. Vários países vêm desenvolvendo políticas de
desenvolvimento sustentável da maricultura, uma vez que essa atividade possui um enorme
potencial de contribuição para o desenvolvimento social da zona costeira (BARBIERI et al.,
2014)
Em 2012, a maricultura (24,7 milhões de toneladas) foi dominada pelos moluscos
(malacocultura) (65,4%, 14,9 milhões de toneladas) que na sua maioria são representados
pelos bivalves, por exemplo, ostras, mexilhões, berbigões e outros (FAO, 2014).
Particularmente, a malacocultura é considerada uma atividade ambientalmente
sustentável que promove a preservação e a manutenção dos recursos naturais marinhos,
provê uma colheita sustentável de alta qualidade e valor econômico e proporciona a fixação
de comunidades tradicionais costeiras em seus locais de origem, gerando empregos e
desenvolvimento social local, mas para tanto, no Brasil o seu desenvolvimento deve seguir as
orientações do Código de Conduta para o Desenvolvimento Sustentável e Responsável da
Malacocultura Brasileira, atendendo às recomendações referentes à instalação e ao
posicionamento das áreas aquícolas, à destinação de resíduos; ao impacto visual; ao controle
de incrustações de organismos competidores no sistema de cultivo; ao uso de embarcações,
veículos e estruturas/equipamentos de cultivo; à prática de cultivo e ao manejo e à coleta de
sementes do ambiente marinho, dentre outras, bem como medidas mitigatórias de risco
previstas em planos e políticas de desenvolvimento, como o Programa Nacional de Sanidade
de Animais Aquáticos (BARBIERI et al., 2014).
Na América do Sul, o Brasil ocupa o segundo lugar na produção de moluscos,
superado apenas pelo Chile. Esta atividade apresentou elevadas taxas de crescimento em
Santa Catarina no decorrer das últimas duas décadas, fazendo com que esse estado atingisse
em 2013, 97,2% (18.817 toneladas) de toda produção nacional (IBGE, 2013; EPAGRI, 2014).
No Brasil o cultivo de moluscos é um setor da aquicultura que tem um grande potencial
de expansão, pois, na prática, a produção está ainda concentrada nas zonas costeiras
abrigadas do estado de Santa Catarina e com menor expressão nos estados do Paraná, São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Sergipe (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008).
A malacocultura nacional é baseada no cultivo de três espécies: o mexilhão (mitilicultura), a
24
ostra (ostreicultura) e a vieira (pectinicultura). Em 2011, a mitilicultura (15.989 toneladas)
apresentou um incremento de 16,4% na produção em relação a 2010, a ostreicultura (2.538
toneladas) de 24,2% e a pectinicultura (13,4 toneladas) apresentou um crescimento de 9,0%
na produção (MPA, 2013).
O cultivo de ostras se desenvolve principalmente em ambientes estuarinos e regiões
costeiras, utilizando diferentes métodos de cultivo (long line, balsas flutuantes e mesas fixas),
de acordo com a característica dos ambientes costeiros, condições ambientais e tradição local
(LAVANDER et al., 2013).
No litoral do Estado de São Paulo, segundo dados do Instituto de Pesca (2015) e do
IBGE (2013), a produção de moluscos bivalves está distribuída ao longo de dez municípios
do litoral paulista e no município de Cananéia concentra-se a maior parte da produção de
ostras, que são produzidas pelo sistema de engorda em tabuleiros de forma artesanal e em
pequena escala, envolvendo os moradores das próprias comunidades, o que permite a estes
o desenvolvimento de uma atividade de vocação natural, estimulando a fixação das
populações no litoral o que contribui para o fortalecimento das comunidades tradicionais e
valorização da cultura regional, além de ser uma forma de diversificar as atividades do setor
pesqueiro, de preservar os ambientes aquáticos e aumentar as opções ao turismo através do
turismo gastronômico (BARBIERI et al., 2014). (IBGE, 2013; INSTITUTODEPESCA, 2015)
3.3
LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
O litoral paulista, com cerca de 400 quilômetros de extensão, localiza-se entre as
latitudes 23°30’ - 25°S e as longitudes 44°30’ - 48°W e pode ser subdividido em três grandes
áreas: o Litoral Norte, que inclui os municípios de Ubatuba; Caraguatatuba; Ilhabela e São
Sebastião (sendo o limite norte a praia do Camburi e limite sul a praia de Boracéia), a Baixada
Santista (do município de Peruíbe até Bertioga) e o Litoral Sul que abrange os municípios de
Iguape, Ilha Comprida e Cananéia (Figura 3) (SEIXAS et al., 2014).
25
Figura 3: Mapa do Litoral do Estado de São Paulo
(Modificado de SEIXAS et al., 2014)
No Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, os três municípios do Litoral Sul
constituem o Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia-Iguape, sendo limitado na porção
norte pelo município de Iguape, a leste pela Ilha Comprida, a oeste pela Serra do Mar e na
parte sul pelas ilhas de Cananéia e do Cardoso. Essas quatro ilhas (Cardoso, Comprida,
Cananéia e Iguape) são separadas entre si por um sistema de canais e rios (canal de
Ararapira; baía de Trapandé; mares de Cubatão, Cananéia e Pequeno/ Iguape; Valo Grande
e rio Ribeira de Iguape). Este complexo é margeado e protegido por extensas regiões de
manguezais e sofre influência constante das águas dos rios vindos do fundo continental da
Serra do Mar, principalmente do rio Ribeira de Iguape o rio principal desta região e mesmo do
litoral paulista e interliga-se ao oceano na parte norte pela Barra de Icapara e na parte sul
pelas Barras de Cananéia e de Ararapira (Figura 4) (SALES; MALDONADO, 2000;
BARCELLOS et al., 2005; TESSLER et al., 2006; MENDONÇA; MIRANDA, 2008).
26
Figura 4: Mapa do Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia-Iguape
(DOI, 2012)
Desde a colonização o litoral paulista esteve em evidência, pois exerceu importante
papel de receptor de colonizadores e comerciantes. Ao longo dos anos a ação do homem tem
transformado esse ambiente e com a intensa ocupação deste litoral, ocorrida a partir de 1950,
a interferência no compartimento costeiro foi acentuada, especialmente, em virtude das
modificações constantes na estrutura portuária de Santos e São Sebastião, e ainda com a
implantação do polo petroquímico e industrial em Cubatão e a construção de rodovias como
Anchieta, Padre Manoel da Nóbrega (na década de 50) e Imigrantes, Tamoios e Rio – Santos
(na década de 1970) (TESSLER et al., 2006).
As melhorias de acesso e a oferta de empregos com o fortalecimento da atividade
portuária e industrial contribuíram para o crescimento demográfico da região, e também
atraíram o mercado de turismo o que acabou proporcionando um crescimento urbano irregular
e desordenado, causando forte impacto ambiental nestas localidades (TESSLER et al., 2006).
O Litoral Sul passou, entre os séculos XVII e XIX, por ciclos de prosperidade
temporários, com a mineração, construção naval e a agricultura, que por fim em virtude do
aumento de mercado para os produtos pesqueiros deram lugar, especialmente a partir da
década de 60, a pesca lagunar, costeira e marinha. A região sempre esteve à margem do
desenvolvimento verificado em outras áreas do estado. O isolamento e dificuldades de
27
acesso, em razão das características geográficas, aliado à marginalização econômica,
resultou na conservação ambiental e no fortalecimento da cultura caiçara, altamente
dependente dos recursos naturais (MACHADO, 2009)
O Complexo Estuarino-Lagunar de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida é grande
remanescente de Mata Atlântica e por seu elevado grau de conservação a região apresenta
várias áreas institucionalmente protegidas, como a APA de Cananéia, Iguape e Peruíbe, os
Parques Estaduais da Ilha do Cardoso e de Jacupiranga, as Estações Ecológicas de JuréiaItatins e de Chauás e a Reserva Extrativista do Mandira (MACHADO, 2009; BARBIERI et al.,
2014).
As características geográficas, biológicas e culturais da região estuarina-lagunar de
Cananéia as tornam propícia ao desenvolvimento da maricultura, principalmente de moluscos
bivalves, conciliando a permanência das comunidades tradicionais e a preservação do
ambiente. Assim sendo, a ostreicultura é considerada uma das principais atividades aquícolas
de Cananéia (COLLAÇO; SARTOR; BARBIERI, 2015).
Cananéia localiza-se aos 25ºS e 48ºW e apresenta 1.242 km2 de área, distribuídos
nas partes continental e insular. Possui acesso pelas rodovias BR-116 e SP-226 e está a
cerca de 250 km da capital do estado. O município está inserido no Vale do Ribeira e Litoral
Sul, uma das áreas mais pobres do Estado de São Paulo (MACHADO, 2009).
A ostra de mangue, Crassostrea spp. é um dos mais importantes recursos da pesca
artesanal do estuário de Cananéia e é explorada comercialmente no estuário desde a década
de 1940, inicialmente para a subsistência, e comercialmente após a década de 1950.
Contudo, somente a partir da década de 1970 que essa atividade passou a ter importância
econômica como alternativa para os pescadores artesanais da região, que embora possua
contribuição menor quando comparada ao total de pescado desembarcado, consiste em um
dos principais produtos da área estuarina do município, beneficiando diretamente cerca de
uma centena de famílias. O estuário é considerado o maior banco natural do Estado de São
Paulo e muitas comunidades do município praticam o extrativismo, nos períodos de maré
baixa, em áreas onde predomina o mangue vermelho Rhizophora mangle (MACHADO, 2009;
MACHADO et al., 2011).
Nos anos 90, um projeto interinstitucional introduziu junto às comunidades da região a
“engorda de ostras”, atividade derivada da tecnologia de cultivo integral. Consiste no arranjo
de ostras entre 5 e 10cm em estruturas instaladas na zona entremarés, até que atinjam
tamanho comercial (> 7cm). A engorda mostrou ser uma alternativa viável, por agregar valor
ao produto, reduzindo a pressão sobre o estoque. Além disso, a prática aumenta as
oportunidades reprodutivas dos indivíduos retirados do manguezal e dispostos nos viveiros,
ajudando a recompor os bancos naturais. Atualmente, apenas 40% da produção total de
ostras de Cananéia são provenientes de viveiros de “engorda”, sendo o restante da produção
28
proveniente do extrativismo (MACHADO, 2009; MACHADO; FAGUNDES; HENRIQUES,
2013; COLLAÇO; SARTOR; BARBIERI, 2015).
Economicamente, para o município de Cananéia, a maricultura gera impacto positivo,
uma vez que os produtores, apesar de na maioria das vezes não terem essa atividade como
única fonte de renda, aumentam seus rendimentos, melhorando, assim, sua qualidade de
vida, principalmente nas ocasiões do defeso de espécies tradicionalmente pescadas
(BARBIERI et al., 2014).
Dentre as comunidades que exploram comercialmente a ostra, se destaca a
comunidade Mandira, que está localizada na parte continental do município de Cananéia e é
composta por cerca de 70 pessoas distribuídas em 18 famílias, que exploram a ostra, sua
principal fonte de renda, desde os anos 70, quando a agricultura tradicional e o extrativismo
vegetal, passaram a ser constrangidas pelas leis ambientais. No ano 2002, cerca de 1200 ha
de mangue utilizados pela comunidade Mandira foram transformados em Reserva Extrativista
(Resex), isto é, uma unidade de conservação de uso sustentável, com utilização permitida às
populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo ou em
outras atividades de baixo impacto e visa assegurar os meios de vida destas populações e o
uso sustentável dos recursos naturais (BRASIL, 2002; MACHADO, 2009; MACHADO;
FAGUNDES; HENRIQUES, 2013).
A criação do Resex na comunidade Mandira conecta-se diretamente ao fato de que
em paralelo ao crescimento da maricultura, aumenta a cada dia a consciência de que, para o
desenvolvimento responsável e sustentável dessa atividade, é necessário um cuidadoso
planejamento participativo quanto ao ordenamento dos cultivos e um criterioso manejo destes,
de forma a prevenir e reduzir os impactos ambientais e socioeconômicos na região, uma vez
que as regiões litorâneas são, em geral, extremamente vulneráveis a ações com pouco ou
nenhum planejamento, devido ao crescente aumento da população residente, à grande
variação da população flutuante e à ampla variedade de atividades econômicas desenvolvidas
nessas áreas, como as pesqueiras, as portuárias e o turismo (BARBIERI et al., 2014).
3.4
MOLUSCOS BIVALVES: CARACTERÍSTICAS E PERIGOS RELACIONADOS
O termo ostra é comumente utilizado para denominar diversas espécies de moluscos
bivalves dos gêneros Ostrea e Crassostrea, sendo mais aplicado àquelas espécies que pelo
seu sabor e conteúdo de carne, são empregadas em larga escala na alimentação humana
(LOURENÇO et al., 2006).
29
Pertencentes ao Filo Mollusca, grupo dividido em seis classes que incluem distintos
animais como bivalves, cefalópodes e gastrópodes, que possui mais de 120 mil espécies
viventes, sendo superado somente pelos insetos e nematódeos quanto à diversidade de
animais, classe Bivalvia, possui animais distribuídos em distintos ambientes aquáticos
alcançando grande diversidade nas regiões costeiras. Esses animais possuem os corpos
comprimidos lateralmente e as partes moles do corpo encontram-se completa ou parcialmente
encerradas em uma concha calcária, composta por duas valvas articuladas unidas por
ligamentos e músculos adutores. As brânquias dos animais desta classe são bem
desenvolvidas e especializadas tanto para a alimentação, quanto para a respiração (HELM;
BOURNE; LOVATELLI, 2004; POLI et al., 2004; BAQUEIRO-CÁRDENAS et al., 2007).
Os moluscos bivalves podem ser encontrados tanto em água salobra como em água
doce. No entanto, são maioritariamente marinhos, bênticos infaunais ou epifaunais,
alimentando-se por filtração da água, graças ao movimento ciliar de células das brânquias.
Apresentam-se geralmente como suspensívoros e micrófagos que ingerem por filtração o
plâncton e a grande diversidade de material particulado suspenso na água ou como
detritívoras ou sedimentívoras, que ingerem o material orgânico em decomposição que está
sedimentado no substrato onde habitam. (POLI et al., 2004; BERGONCI, 2005).
Os moluscos bivalves são organismos sedentários que devido às características
fisiológicas do seu processo de alimentação, no qual são capazes de filtrar grandes volumes
de água (de 5 até 20 litros por hora), com a finalidade de reter e concentrar as partículas em
suspensão (fitoplâncton) presentes na água podem acumular, nos seus tecidos comestíveis,
níveis muito mais altos do que os encontrados no ambiente aquático, não só de nutrientes,
mas também de outras partículas, substâncias e microrganismos, os quais podem
potencialmente provocar agravos à saúde de seres humanos (LEES, 2000; GOSLING, 2003;
KOOPMANS; DUIZER, 2004).
O bivalve primitivo era consumidor seletivo do material depositado no sedimento,
coletando as partículas do substrato através dos tentáculos palpares. As brânquias no seu
estado mais primitivo tinham função respiratória, e minoritariamente alimentar, a característica
mais marcante na evolução dos bivalves é a modificação da estrutura deste órgão. À medida
que o novo sistema branquial se desenvolve, a corrente ventilatória passa a filtrar partículas
em suspensão, incorporando-as como alimento. Atualmente, esses animais captam o
alimento da água que flui atrás da cavidade do manto pelas brânquias, as quais se
apresentam pregueadas, alongadas e ciliadas, capazes de concentrar o material particulado.
A seleção se dá por tamanho (tipicamente entre 1 μm e 7 μm dependendo da espécie) e
também por critérios bioquímicos e de palatabilidade. A triagem seletiva das partículas
durante o mecanismo de alimentação ocorre paralelamente em diferentes órgãos e se inicia
pela retenção nas brânquias, seguida da triagem nas mesmas ou nos palpos labiais, que
30
rejeitam as partículas não selecionadas, via pseudofezes e, por fim, a partícula é absorvida
no estômago (Figura 5) (BEECHAM, 2008; GALVÃO et al., 2009).
Figura 5: Visão simplificada do processo de absorção de partículas pelos bivalves.
(Adaptado de BEECHAM, 2008)
Desta forma, como a fonte de alimento destes animais é reconhecida como substrato
de adsorção para os contaminantes químicos e biológicos, como os vírus, o material
particulado atua como via de transferência destes para a biota que pode acumular nos seus
tecidos, especialmente no tecido digestivo (estômago, intestino e divertículo digestivo) (Figura
6) concentrações de 100 a 10.000 vezes superiores às verificadas na água. (BEECHAM,
2008; GALVÃO et al., 2009; MCLEOD et al., 2009).
31
Figura 6: Características anatômicas da ostra. Imagem superior indicando em (A) o
tecido digestivo que foi alvo desse estudo para pesquisa de vírus e em (B), (D) e (E) o
músculo adutor, brânquias e palpos labiais, respectivamente (Acervo pessoal do autor,
Alvarenga A.R., 2015). Na Imagem inferior uma representação esquemática das principais
estruturas anatômicas de uma ostra. (Adaptado de MCLEOD et al, 2009)
Desta forma, bivalves marinhos possuem características especialmente interessantes
para avaliar as concentrações ambientais dos contaminantes: ocorrem em estuários e zonas
costeiras; são sésseis, o que não lhes permite escapar da poluição se deslocando para outras
áreas; possuem tempo de vida relativamente longo, o que permite estudos de longo prazo;
ampla distribuição geográfica, facilitando a intercomparação dos dados obtidos de regiões
diferentes; aparecem frequentemente em alta densidade e são de fácil coleta; acumulam
concentrações de contaminantes em seus tecidos acima do encontrado na fonte de
contaminação, sem efeitos tóxicos; etc (GALVÃO et al., 2009).
Assim, como consequência de seu crescimento em áreas costeiras onde esgoto não
tratado ou tratado inadequadamente é despejado, os moluscos são capazes de concentrar
microrganismos durante a filtração da água (LA ROSA; FRATINI; SPURI VENNARUCCI; et
al., 2012; NIETO; LÓPEZ; ESPIGARES, 2013).
Como
agravante, várias
espécies
de moluscos bivalves são consumidas
preferencialmente cruas ou vivas (ostras) ou malcozidas (mexilhões), o que as leva a uma
categoria de alimentos de alto risco que exigem medidas de controle adequadas para eliminar
32
ou reduzir para níveis aceitáveis os perigos biológicos, químicos e físicos. Além disso, a
distribuição de produtos crus congelados tem prolongado o período de oferta para consumo
de moluscos bivalves contaminados (WEBBY et al., 2007; LEE; LOVATELLI; ABABOUCH,
2010).
Os principais perigos relacionados aos moluscos bivalves estão associados a
microrganismos – bactérias e vírus – contaminantes do ambiente aquático; a organismos que
estão naturalmente presente no meio marinho, como víbrios marinhos patogênicos e
biotoxinas produzidas por certas algas unicelulares e ainda aos contaminantes químicos,
como os metais pesados, praguicidas, organoclorados, ou substâncias petroquímicas que
constituem um perigo potencial em algumas áreas, porém não existem provas de que estes
últimos representem um problema significativo (LEE; LOVATELLI; ABABOUCH, 2010).
Ainda nesse sentido, Hernroth et al. (2002) descrevem que as intoxicações humanas
relacionadas ao consumo de moluscos bivalves estão ligadas a estes animais quando
contaminados por produtos químicos e biotoxinas, provenientes, respectivamente, de
efluentes industriais e resíduos agrícolas e de áreas com elevada floração de algas. Enquanto
que as infecções humanas estão relacionadas ao consumo de moluscos bivalves
contaminados por protozoários, vírus e bactérias, que podem ter sua origem em descargas
de esgotos domésticos e vazamentos de tanques sépticos, entre outras.
(HERNROTH et al., 2002)
Em um contexto mundial, os principais perigos associados ao consumo de moluscos
derivam da contaminação microbiológica das águas onde são criados. Esta contaminação
está diretamente relacionada com a contaminação do meio aquático, sendo que as atividades
humanas e as alterações climáticas são os principais fatores que podem alterar a qualidade
da água, as quais uma vez poluídas ocasionam agravos à saúde da população (FLEMING et
al., 2006; LEE; LOVATELLI; ABABOUCH, 2010).
As Tabelas 1 e 2 a seguir foram adaptados de Lee et al. (2010) e descrevem,
respectivamente, os principais perigos associados ao consumo de moluscos bivalves e as
causas microbianas das enfermidades, em seres humanos, associados ao consumo desses
animais.
33
Tabela 1: Perigos associados ao consumo de moluscos bivalves
Tipo de Perigo
Tipo de Agente
Contaminante
Salmonella spp., Shigella spp.,
Vibrio parahaemolyticus, Vibrio
Bactérias
vulnificus, Vibrio cholerae,
Campylobacter spp., Listeria
Infecções
monocytogenes
Vírus
Norovírus e HAV
Química
Metais pesados: Hg, Cd, Pb.
Orgânicos: Dioxinas, Bifenilas
policloradas (PCB),
Hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos (PAH), praguicidas
Biotoxinas
Toxina paralisante dos
moluscos (PSP), Toxina
diarreica dos moluscos (DSP),
toxina amnésica dos moluscos
(ASP), Neurotoxina dos
moluscos (NSP)
Intoxicações
(Adaptado de LEE, et al., 2010).
34
Tabela 2: Causas microbianas das enfermidades associadas ao consumo de moluscos bivalves.
Período de
incubação
Duração
Sinais Clínicos
Fonte principal de
contaminação dos moluscos
Salmonella typhi e S.
paratyphi
7 a 28 dias, em
média 14 dias
S.typhi: Até 4
semanas, S.
paratyphi: 2-3
semanas
Mal-estar, cefaleia, febre, tosse, náuseas,
vômitos, constipação, dor abdominal, calafrios,
erupções cutâneas, fezes com sangue
Fezes humanas/ esgoto
Outras Salmonellas
6 a 72 horas, em
média 18 a 36
horas
4-7 dias
Dor abdominal, diarreia, calafrios, febre, náuseas,
vômitos, mal-estar
Fezes humanas/ esgoto ou
esterco de aves/chorume
Campylobacter
2 a 7 dias
3-6 dias
Diarreia (geralmente com sangue), dor
abdominal, febre, anorexia, mal-estar, cefaleia,
vômitos
Esterco de animais/aves/
chorume
Shigella
24-72 horas
5-7 dias
Dor abdominal, diarreia, fezes com sangue e
muco, febre
Fezes humanas/esgoto
Vibrio parahaemolyticus
2 a 48 horas, em
média 12 horas
2-14 dias, em
média 2,5 dias
Dor abdominal, diarreia, náuseas, vômitos, febre,
calafrios, cefaleia
Ambiente Marinho
Vibrio vulnificus
< 24 horas
2-3 dias
Mal-estar, calafrios, febre, prostração, lesões
cutâneas, mortalidade
Ambiente Marinho
Vibrio cholerae
sorotipos O1 e O139
1-5 dias,
geralmente 2-3 dias
2-5 dias
Diarreia abundante e aquosa, fezes em “água de
arroz”, vômitos, dor abdominal, desidratação
Fezes humanas/ esgoto
Vibrio cholerae
não-O1/não O139
2 a 3 dias
Até 1 semana
Diarreia aquosa (de fezes amolecidas a diarreia
colérica)
Ambiente Marinho
Norovírus
1-3 dias, em média
36h
20 a 72 horas
Diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal,
cólicas abdominais
Fezes humanas/ esgoto
Vírus da Hepatite A
10 a 50 dias, em
média 25 dias
10 a 30 dias (10%
dos infectados 6-9
meses)
Febre, mal-estar, cansaço, anorexia, náusea, dor
abdominal, icterícia
Fezes humanas/ esgoto
Astrovírus
1 a 2 dias
48 a 72 horas
Diarreia, algumas vezes acompanhada por um ou
mais sintomas entéricos
Fezes humanas/ esgoto
Microrganismos
Bactérias
Vírus
(Adaptado de LEE, et al., 2010)
35
O incremento no consumo global de produtos do mar tem conduzido a um aumento
da distribuição internacional do pescado e também vem sendo observado o crescimento no
número de surtos de doenças transmitidas por alimentos associados com peixes e bivalves,
o que pode estar relacionado à melhoria da vigilância, mas que tem implicações internacionais
para investigações de surtos (WEBBY et al., 2007).
Dados do CDC – “Centers for Disease Control e Prevention” – (2013) apontam o
pescado como uma commodity muito importante nas doenças transmitidas por alimentos e
destaca que moluscos bivalves são altamente relacionados aos casos de viroses veiculadas
por alimentos em especial as relacionadas aos norovírus. (CDC, 2013)
3.5
VÍRUS ENTÉRICOS
Os vírus são microorganismos muito pequenos, variando em tamanho de 15 a 400°nm
e são capazes de causar uma grande variedade de doenças em plantas, animais e seres
humanos. Estas infecções não ocorrem ao acaso e cada grupo de vírus tem a sua própria
gama de hospedeiros e tropismo celular. Os vírus podem ser transmitidos de várias
maneiras:por perdigoto, pela contaminação com amostras de fezes de uma pessoa infectada
com um vírus intestinal, por relações sexuais, por contato com o sangue de pessoas
infectadas com o vírus transmitido por via sanguínea, pelo contato com animais infectados
com vírus zoonóticos, ou por vetores, como mosquitos ou carrapatos (arbovírus). Os vírus
mais relevantes em infecções de origem alimentar são aqueles que infectam as células que
revestem o trato intestinal e são excretados através das fezes ou do vômito (KOOPMANS;
DUIZER, 2004).
Esses vírus são genericamente denominados de vírus entéricos que engloba um
grande e variado grupo de vírus transmitidos por via fecal-oral e que primariamente infectam
e se replicam no trato gastrintestinal do hospedeiro, com consequente eliminação fecal de
partículas virais (FONG; LIPP, 2005).
São geralmente vírus não envelopados, o que lhes confere uma elevada estabilidade
frente a potenciais inativadores como temperatura, dessecação, detergentes e ácidos, isto
porque seu revestimento primário é composto de proteínas, ao contrário dos vírus
envelopados que possuem primariamente uma membrana lipídica, que é facilmente destruída
pelo calor, ácidos, detergentes, solventes e secagem uma vez que o envelope viral se mantém
estruturado somente em meio aquoso, o que os leva a serem geralmente transmitidos em
fluidos, gotículas respiratórias e sangue, tendo em vista que a maioria não resiste
às
36
condições
adversas
do
trato
gastrointestinal
(BOZKURT;
D’SOUZA;
DAVIDSON,
2015).(BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON, 2015)
No ambiente, vírus entéricos podem sobreviver sob uma ampla faixa de pH (3 a 10) e
durante longos períodos a baixas temperaturas. Em água do mar permanecem infectantes
por até 130 dias, por até 120 dias em água doce e esgoto, e por até 100 dias em solo com
temperatura entre 20 a 30°C. Estes períodos de sobrevivência superam os relatados para
coliformes fecais e outras bactérias indicadoras em ambientes similares (FONG; LIPP, 2005).
Possuem ainda características epidemiológicas que podem representar um importante
risco para saúde pública como: são patógenos espécie-específicos e não replicam no
ambiente fora do hospedeiro; sua dose infectante é baixa (<101-103); são eliminados, por
longos períodos, quantidades de partículas virais extremamente elevadas nas fezes (105-1011)
e no vômito (107); ocorre eliminação de partículas virais em períodos assintomáticos
prolongados (3-4 semanas) e são ácido-resistentes (KOOPMANS; DUIZER, 2004; GIBSON,
2014; KOTWAL; CANNON, 2014).
Vírus entéricos podem estar presentes naturalmente em ambientes aquáticos ou, mais
comumente, são introduzidos através de atividades humanas, tais como vazamento de esgoto
e sistemas sépticos, escoamento urbano, escoamento agrícola, e, no caso dos estuários e
oceanos, emissários de esgoto e descargas de águas residuais de navios. Em grandes
quantidades no efluente bruto e com as práticas atuais de tratamento que não eliminam
completamente estes agentes, os vírus se tornam poluentes ambientais e na água o destino
dos patógenos entéricos pode assumir múltiplas rotas que originam diversas vias de
transmissão. Esses vírus podem ser transportados no ambiente através de águas
subterrâneas, águas estuarinas, água do mar, rios, aerossóis emitidos a partir de estações de
tratamento de esgoto, água insuficientemente tratada, água potável e poço e chegar até o
homem por meio de moluscos bivalves cultivados em águas contaminadas, de cultivo de
alimentos realizados com irrigação com água contaminada e/ou fertilizados com dejetos,
águas recreacionais contaminados por esgoto, água potável contaminada e ainda pelo
contato direto pessoa a pessoa e pelo contato com superfícies contaminadas (Figura 7)
(FONG e LIPP 2005, BOSCH 1998, BOZKURT, D'SOUZA, DAVIDSON 2015).
.(BOSCH, 1998; FONG; LIPP, 2005; BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON, 2015).
37
Figura 7: Rotas de transmissão de vírus entéricos
(Adaptado de BOSCH, 1998).
No meio hídrico, estes vírus podem ainda se associar a sólidos em suspensão e
posteriormente acumular-se nos sedimentos, onde eles persistem mais tempo do que na
coluna de água e desta forma, os sedimentos funcionam como um reservatório a partir do
qual os vírus são ressuspendidos na coluna de água por diversos fenômenos naturais ou
artificiais, permitindo a manutenção do ciclo (BOSCH, 1998).
As infecções humanas por vírus entéricos são frequentemente assintomáticas, mas
também podem induzir vários quadros clínicos sintomáticos, tais como gastroenterites,
doenças respiratórias, hepatite, conjuntivite e doenças do sistema nervoso central, sendo
ainda possível apresentar um alto risco de morbidade e mortalidade em populações de alto
risco, como crianças, pacientes imunodeprimidos e idosos (LA ROSA; FRATINI; DELLA
LIBERA; et al., 2012; PREVOST et al., 2015).
Esse amplo espectro clínico está relacionado a diversidade de vírus que está inserida
no grupo dos vírus entéricos. Grupo que pode ser dividido em três grupos principais de acordo
com o tipo de doença produzida: vírus que causam gastroenterite (astrovírus, rotavírus,
norovírus, adenovírus entérico); vírus da hepatite transmitidos por via fecal-oral (vírus da
hepatite A e vírus da hepatite E) e vírus que replicam no intestino humano, mas que causa
doença após migrar para outros órgãos, tal qual sistema nervoso central (enterovírus)
(KOOPMANS et al., 2002; KOOPMANS; DUIZER, 2004).
Os vírus entéricos são atualmente reconhecidos como os principais patógenos
envolvidos em doenças transmitidas por água e alimentos, tanto em países desenvolvidos,
38
quanto nos em desenvolvimento (BELLOU; KOKKINOS; VANTARAKIS, 2013; ARTHUR;
GIBSON, 2015; PREVOST et al., 2015).
Alimentos em situação de risco para a presença de vírus entéricos incluem aqueles
sujeitos principalmente à manipulação, tais como vegetais folhosos, itens de delicatessen, e
outros alimentos prontos-para-comer que não sejam objeto de tratamento posterior, e aqueles
sujeitos a contaminação ambiental, tais como frutos do mar e produtos frescos (BOZKURT;
D'SOUZA; DAVIDSON, 2015).
Evidências epidemiológicas sugerem que os vírus entéricos humanos são os
patógenos mais comuns transmitidas por moluscos bivalves
(LEES, 2000; BELLOU;
KOKKINOS; VANTARAKIS, 2013).
Moluscos bivalves concentram passivamente partículas virais durante o processo de
filtração de água e ao contrário de espécies bacterianas entéricas, vírus entéricos persistem
em moluscos por um período de tempo prolongado e esta persistência parece resultar em seu
impacto significativo na saúde pública. Os vírus são principalmente concentrados no tecido
pancreático, também chamado divertículo digestivo e essa acumulação depende de fatores
como temperatura da água, produção de muco, conteúdo de glicogênio no tecido conjuntivo
e desenvolvimento gonadal (MAALOUF; POMMEPUY; LE GUYADER, 2010).
Surtos de doenças virais transmitidas por moluscos bivalves têm ocorrido em muitos
países apesar das estratégias existentes para evitar a contaminação de áreas de cultivo
desses animais. O tipo mais frequente de molusco bivalve consumido que estava envolvido
em surtos foram as ostras (58,4%) e os patógenos virais mais comuns envolvidos foram
norovírus (83,7%) e vírus da hepatite A (12,8%) (MAALOUF; POMMEPUY; LE GUYADER,
2010; BELLOU; KOKKINOS; VANTARAKIS, 2013; GIBSON, 2014).
3.5.1
Vírus da Hepatite A
A hepatite A, que representa um grande problema de saúde em todo o mundo, é
causada pelo vírus da hepatite A (HAV), o qual pertence a família Picornaviridae que inclui os
géneros Rhinovirus, Cardiovirus, Enterovirus, Aphthovirus e Hepatovirus, sendo o HAV o
único membro do gênero Hepatovirus (VAUGHAN et al., 2014; BOZKURT; D'SOUZA;
DAVIDSON, 2015).
O HAV é um vírus não-envelopado, com 27 a 32 nm de diâmetro, de formato
icosaédrico no qual o capsídeo é composto por 12 pentâmeros cada um consistindo de 5
copias de VP1, VP2 e VP3. Seu material genético é composto por uma única fita de RNA de
39
polaridade positiva com aproximadamente 7,5kb, com uma única sequência aberta de leitura
(ORF), que é precedida por uma região não traduzível (UTR) 5’ e seguida por uma 3’-UTR
com uma pequena cauda poli A. A ORF é dividida em três regiões (P1, P2, P3) e codifica
uma poliproteína) (DEBING; NEYTS; THIBAUT, 2014; VAUGHAN et al., 2014; BOZKURT;
D'SOUZA; DAVIDSON, 2015).
A região P1 é traduzida em três proteínas estruturais do capsídeo viral (VP1, VP2 e
VP3) e na VP4 a qual é essencial para formação do virion, mas não está presente na partícula
madura. As proteínas estruturais são clivadas pela protease viral 3C, que é codificada na
região P3, que também codifica as proteínas 3A, 3B e 3D. As proteínas não estruturais são
processadas a partir das regiões P2 e P3 e são necessárias para síntese do RNA e montagem
do virion (VAUGHAN et al., 2014; BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON, 2015).
Com base na caracterização molecular da VP1 um único sorotipo de HAV é descrito
sendo este dividido em sete genótipos (I-VII). Os genótipos G1, G2, G3 e G7 estão
relacionados à humanos e os demais aos símios. O genótipo mais prevalente em humano é
o G1 (DEBING; NEYTS; THIBAUT, 2014; BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON, 2015).
O HAV possui ciclo entero-hepático que envolve inicialmente a entrada oral do vírus,
seguida da sua adsorção e replicação inicial nas células do estômago/intestino e a partir daí
atinge a corrente sanguínea, para finalmente chegar ao fígado, onde penetra nos hepatócitos
interagindo com um receptor presente na superfície da célula (HAVCR1). Após replicação nos
hepatócitos, o vírus é liberado através do canalículo biliar para o intestino e para fora do corpo
nas fezes (PINTÓ et al., 2012; VAUGHAN et al., 2014).
Nos casos de infecção sintomática, o aparecimento de sintomas se dá de forma
abrupta e começa geralmente 28 dias após a exposição, num período de incubação que pode
variar de 15 a 50 dias e os sinais clínicos duram ao longo de 5 semanas. Os sinais e sintomas
de infecção podem incluir náuseas, vômitos, diarreia, urina escura, icterícia, febre, dor de
cabeça, perda de peso, e dor abdominal. Entre os sinais clínicos, os aumentos na atividade
da ALT sérica são notáveis e a resposta imunológica inclui resposta humoral com IgM e IgG
anti-HAV e, embora a resposta de IgM seja normalmente de curta duração, a imunidade
conferida pela IgG anti-HAV permanece ao longo da vida (MATHENY; KINGERY, 2012;
PINTÓ et al., 2012).
Em relação à evolução dos títulos virêmicos de HAV, estes se desenvolvem antes do
início dos sintomas e permanecem até 3 semanas após este início, atingindo picos de
aproximadamente 106 cópias genômicas por mililitro de soro. Do mesmo modo, a eliminação
do vírus nas fezes ocorre antes do aparecimento dos sintomas permanecendo até,
aproximadamente, 3 semanas após o início, com picos de até 1011 cópias genômicas por
grama de fezes (PINTÓ et al., 2012).
40
O vírus excretado em grandes quantidades nas fezes de pessoas infectadas pode
contaminar o solo, água (doce ou água do mar) e alimentos, incluindo moluscos bivalves
(mexilhões e ostras) provenientes de água contaminada o que servirá de fonte de infecção
para indivíduos susceptíveis (LA ROSA; FRATINI; DELLA LIBERA; et al., 2012).
Soma-se a isso, a dose infectante muito baixa (10 a 100 partículas de vírus) do HAV
que contribui para a propagação do vírus na população (BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON,
2015). A ausência de envelope viral garante estabilidade no ambiente, conferindo um elevado
grau de resistência a baixo pH e temperatura, especialmente quando associado com a
matéria orgânica. O vírus pode se manter viável por até 60 dias em água corrente, por 6
semanas na água de rios, por 8 semanas em lençóis freáticos e até 30 semanas na água do
mar, características que potencializam a transmissão fecal-oral e a transmissão através da
água e alimentos contaminados com fezes (LA ROSA; FRATINI; DELLA LIBERA; et al., 2012;
VAUGHAN et al., 2014).
Estima-se que cerca de 1,4 milhões de novos casos de infecções por vírus da hepatite
A (HAV) ocorrem anualmente no mundo com 11-22% requerendo hospitalização. A gravidade
e o curso clínico da infecção pelo HAV estão fortemente relacionados com a idade no
momento da infecção. Nos países em alta endemicidade, quase todos os indivíduos são
infectados na infância, quando a infecção é principalmente assintomática e a imunidade
duradoura permanece protetora na vida adulta. Contudo, em países de baixa endemicidade,
a taxa de incidência é muito baixa e poucos indivíduos são infectados na infância, por isso a
maioria das crianças e muitos adultos permanecem suscetíveis à infecção que ocorre
principalmente como consequência de viajar para regiões endêmicas, ter práticas sexuais de
risco ou consumir água ou alimentos contaminados. Sendo, nessa situação (infecção não
infantil), maior o risco de desenvolver infecção sintomática pelo HAV, podendo até mesmo
conduzir à insuficiência hepática aguda e morte, embora em raras ocasiões, com as taxas de
mortalidade atingindo 1,8% entre aqueles com mais de 60 anos de idade (JACOBSEN;
WIERSMA, 2010; PINTÓ et al., 2012; MELHEM et al., 2014).
Além disso, a taxa de incidência HAV está fortemente associada com indicadores
socioeconômicos e de acesso à água potável onde o aumento da renda e do acesso a água
potável diminuem a incidência do HAV (MELHEM et al., 2014).
A Infecção pelo HAV é altamente endêmica em regiões em desenvolvimento, onde as
práticas de tratamento de esgoto e de higiene podem ser menores enquanto é muito menos
frequente nas regiões desenvolvidas (LA ROSA; FRATINI; DELLA LIBERA; et al., 2012;
MELHEM et al., 2014; VAUGHAN et al., 2014).
Contudo, surtos de origem alimentar são predominantes tanto nos países
desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Frutos do mar podem ser uma
importante fonte de infecção, porque o esgoto é principalmente eliminado sem tratamento e
41
água e ostras, por exemplo, podem concentrar estes vírus e, quando as pessoas ingerem
esses alimentos crus ou malcozidos correm o risco de desenvolver infecção pelo HAV
(TAHAEI, MOHEBBI, ZALI 2012). Têm sido relatados muitos surtos de vírus da hepatite A em
todo o mundo associados ao consumo de moluscos bivalves (LEES, 2000).
(TAHAEI; MOHEBBI; ZALI, 2012)
3.5.2
Norovírus
O norovírus humano (HuNoVs), previamente descrito como vírus Norwalk, foi
inicialmente identificado em amostras de fezes coletadas durante um surto de gastroenterite
em Norwalk em Ohio, Estados Unidos da América e foi o primeiro agente viral demonstrado
como causa de gastroenterite (ROBILOTTI; DERESINSKI; PINSKY, 2015).
Atualmente os HuNoVs são a causa mais comum de gastroenterites epidêmicas e a
principal causa de doenças transmitidas por alimentos. HuNoVs são responsáveis por
aproximadamente 50% de todos os surtos de gastroenterite reportados nos Estados Unidos
da América e nos países da Europa (DESAI et al., 2012).
Pertencentes a família Caliciviridae que engloba vírus pequenos, não-envelopados
com genoma em fita simples de RNA com polaridade positiva e que é constituída por cinco
gêneros, incluindo Norovirus, Sapovirus, Lagovirus, Nebovirus, e Vesivirus, dos quais
somente os dois primeiros causam gastroenterites em humanos, os norovírus são divididos
em seis genogrupos (GI-GVI), baseados na sequência da principal proteína do capsídeo VP1.
Os genogrupos GI, GII e GIV infectam humanos causando gastroenterites agudas, enquanto
os genogrupos GII, GV e GVI, infectam animais(THORNE; GOODFELLOW, 2014). Os três
genogrupos que infectam humanos são ainda subdivididos em genótipos, definidos com base
na sequência da RNA polimerase dependente de RNA ou da sequência do capsídeo, sendo
11 genótipos definidos para os GI, 22 para o GII e apenas dois para o GIV e segundo dados
epidemiológicos o genótipo 4 do GII (GII.4) é o mais prevalente nos surtos ao redor do mundo
(MORILLO; TIMENETSKY, 2011; THONGPRACHUM et al., 2016).
Os HuNoVs são vírus RNA não-envelopados com cerca de 27 a 38 nm de diâmetro,
com simetria icosaédrica e seu genoma é composto de fita simples de polaridade positiva
variando em tamanho de 7,4 para 8.3 kb e ligado covalentemente a proteína do genoma viral
(VPg) na extremidade 5’ e poliadenilado na extremidade 3’. Este genoma contém três ORFs
denominadas, ORF-1, ORF-2, e ORF-3 que codificam oito proteínas estruturais e não
estruturais. A ORF-1 é a maior e codifica seis proteínas não estruturais (NS): p48
(responsáveis pela replicação), NTPase (trifosfatase nucleósidica), p22 (precursora na via de
processamento proteolítico), VPg (proteína viral que se liga à extremidade 5' para iniciar a
42
tradução), 3CLpro (protease), e de RdRp (RNA polimerase dependente de RNA) que são
proteoliticamente processadas pela protease cisteína viral (Pro).
As ORF-2 e ORF-3
codificam os componentes estruturais do vírus, proteína viral 1 (VP1) e VP2, respectivamente
(ROBILOTTI,
DERESINSKI,
PINSKY
2015,
BOZKURT,
D’SOUZA,
DAVIDSON
2015).(BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON, 2015; ROBILOTTI; DERESINSKI; PINSKY, 2015)
No hospedeiro humano é sabido que os HuNoVs se ligam as células epiteliais
intestinais por meio de receptores, mas seu local de replicação não foi ainda estabelecido,
embora se assuma que seja no intestino delgado (BOZKURT, D’SOUZA, DAVIDSON 2015).
Além disso, a base patológica da causa da diarreia também não é clara uma vez que o epitélio
intestinal parece permanecer intacto durante a infecção e se sugere que a diarreia é causada
por alterações nos processos secretório/absortivos do órgão (KARST; ZHU; GOODFELLOW,
2015).
A infecção com HuNoVs geralmente tem um início súbito após um curto período de
incubação de 1 a 2 dias. Os sintomas são variáveis e podem incluir diarreia, náuseas, vómitos
(em> 50% dos casos), cólicas abdominais, e mal-estar. A duração dos sintomas é geralmente
inferior a 7 dias, em torno de 2 dias. Na maioria dos casos, a excreção do vírus nas fezes dura
cerca de 1 a 2 semanas, mas pode ser mais longo, dependendo do vírus e do hospedeiro. As
fezes diarreicas são geralmente aquosas ou amolecidas, sem sangue ou muco, e leucócitos
estão tipicamente ausentes. A doença é autolimitada em indivíduos bem nutridos com sistema
imunológico normal. Infecções assintomáticas ou doença leve são comuns, mas podem
ocorrer doenças graves em crianças, idosos e imunocomprometidos, resultando em
significativa morbidade. Diarreia crônica, excreção viral prolongada por meses, e aumento da
mortalidade são vistos em pacientes imunodeficientes (BOZKURT; D'SOUZA; DAVIDSON,
2015; PANG; LEE, 2015; ROBILOTTI; DERESINSKI; PINSKY, 2015).
A excreção viral prolongada nas fezes após recuperação clínica, somada a quantidade
vital excretada (108 a 1010 cópias de RNA por grama de fezes) e baixa dose infectante (< 20
partículas virais) proporcionam ao HuNoVs forte patogenicidade (MORILLO; TIMENETSKY,
2011).
Além dessas importantes características, destaca-se sua elevada resistência às
condições ambientais adversas que permite que o vírus permaneça infectante por semanas
ou meses no ambiente, tendo sido descrita a persistência por 1 a 3 meses em diferentes tipos
de água (mineral, água de torneira e fluviais) e em condições de temperaturas que variam
desde abaixo de 0°C a 60°C, aliados à sua resistência a desinfetantes comuns, a exemplo de
sua resistência à cloração em concentrações de até 10ppm, favorecem a perpetuação desse
vírus infeccioso nos ambientes (LA ROSA; FRATINI; SPURI VENNARUCCI; et al., 2012;
KARST; ZHU; GOODFELLOW, 2015).
43
Desta forma, a via fecal-oral em consequência do contato pessoa a pessoa e da
contaminação de alimentos, água ou fômites por fezes e/ou vômito de indivíduos infectados é
a forma de transmissão mais comum. Os alimentos comumente implicados em surtos de
HuNoVs incluem moluscos bivalves, vegetais frescos e frutas vermelhas, pois são
consumidos crus e podem ser contaminados por HuNoVs através da água contaminada.
Ainda é descrito como um relevante ponto de entrada na cadeia alimentar, a contaminação
pelos manipuladores de alimentos infectados por HuNoVs (KARST; ZHU; GOODFELLOW,
2015).
O consumo de moluscos bivalves crescendo em ambientes aquáticos impactados por
efluentes de esgoto ou esgoto não tratado tem sido associado a numerosos surtos de
gastroenterite causada por HuNoVs em todo o mundo (OKOH; SIBANDA; GUSHA, 2010).
3.6
BACTÉRIAS INDICADORAS DE CONTAMINAÇÃO E SEU MONITORAMENTO
As bactérias do grupo coliforme têm sido utilizadas há vários anos na avaliação da
qualidade microbiológica de amostras ambientais e atendem a vários dos requisitos de um
bom indicador de contaminação fecal. A definição desses grupos de coliformes teve seus
critérios baseados nas técnicas utilizadas para as análises e não o da taxonomia clássica.
Assim, utiliza-se características tais como capacidade de fermentação da lactose em
presença de agentes tensoativos, nas temperaturas de 35°C (coliformes totais) ou 44-45°C
(coliformes termotolerantes), com formação de ácido, gás e aldeído para classificar os grupos
(CETESB, 2008).
Para serem considerados bons indicadores, os micro-organismos devem: ser de fácil
distinção; estar associados com a fonte do agente patogênico e estar ausentes em áreas não
poluídas; ocorrer em número correlacionável ou maior do que o agente patogênico; não
devem multiplicar fora do hospedeiro; devem ser pelo menos tão resistentes à inativação
natural e artificial como o agente patogênico, de preferência com uma sobrevivência
levemente maior; devem ser detectáveis por meio de processos simples, rápidos e de baixo
custo; e não devem ser patogénicos (BOSCH, 1998; FRANCO; LANDGRAF, 2008). Além das
características anteriores, para serem considerados bons indicadores de contaminação fecal,
é necessário que os micro-organismos tenham como habitat exclusivamente o trato
gastrointestinal do homem e outros animais, e ocorram em grandes quantidades nas fezes,
além se apresentarem alta resistência ao ambiente extra enteral (FRANCO; LANDGRAF,
2008).
44
As bactérias mais comumente usadas como indicadores de contaminação fecal são o
grupo dos coliformes termotolerantes, Escherichia coli e os enterococos (TRAN; GIN; NGO,
2015). No entanto, o monitoramento para estes indicadores nem sempre é eficaz para
determinar que as águas costeiras estão contaminadas com esgoto. Uma vez que algumas
das bactérias que compõem o grupo de indicadoras de contaminação fecal podem passar a
residir no ambiente e podem até mesmo multiplicar sob certas condições não estão assim,
necessariamente ligadas a contaminação fecal (STEWART et al., 2008).
Outro fato relevante é que a bactéria E. coli, que faz parte da microbiota intestinal do
homem e de outros animais de sangue quente e por esse motivo, tem sido usada como
indicadora de contaminação de origem fecal a fim de predizer a probabilidade de
contaminação com patógenos bacterianos e virais tem tido sua eficácia como indicadora fecal
questionada devido a fatores como o tempo de sobrevivência desse micro-organismo fora do
trato intestinal e sua fraca correlação com vírus entéricos, principalmente em ambientes
tropicais (SOUZA et al., 2014).
A sobrevivência de bactérias fecais no ambiente aquático é determinada por vários
fatores ambientais, como variações de temperatura, salinidade, níveis de oxigenação,
irradiação ultravioleta e pluviosidade. Além dessas variáveis ambientais, a maré também tem
grande influência na hidrodinâmica local, provocando a dispersão desses micro-organismos
e consequentemente variando a sua densidade no ambiente (DOI; BARBIERI; MARQUES,
2014). A correlação entre presença de bactérias indicadoras e de diversos agentes
patogênicos na água e nos moluscos bivalves tem sido bastante questionada. A concentração
de micro-organismos nos moluscos filtradores varia de um animal para o outro e também
depende de condições meteorológicas, da temperatura e da atividade geral do molusco
(RAMOS et al., 2010).
Os gêneros Escherichia, Enterobacter, Citrobacter e Klebsiella pertencem a família
Enterobacteriaceae e compõem o grande grupo dos coliformes totais onde se enquadram as
bactérias que possuem formato de bacilos, são Gram-negativas e não esporuladas, e no seu
metabolismo fermentam a lactose, quando incubadas de 35-37° por 48 horas, com produção
de gás. Desses gêneros, as bactérias que são capazes de fermentar a lactose com produção
de gás, quando incubadas de 44-45° por 48 horas, correspondem ao grupo dos coliforme
termotolerantes. Nessas condições, cerca de 90% das culturas de E. coli são positivas,
enquanto nos demais gêneros, apenas algumas cepas de Enterobacter e Klebsiella mantém
essa característica (FRANCO; LANDGRAF, 2008).
Do grupo de coliformes termotolerantes somente a E. coli possui como habitat primário
o trato intestinal do homem e animais, enquanto Klebsiella e Enterobacter podem ser
encontradas também em outros ambientes, como vegetais e solo, onde persistem por tempo
superior ao das bactérias patogênicas de origem intestinal. Portanto, não é absoluta a relação
45
direta da presença de coliformes termotolerantes em alimentos e água com a contaminação
de origem fecal (SILVA; CAVALLI; OLIVEIRA, 2006).
Embora já na década de 70 fossem conhecidas as limitações dos coliformes
termotolerantes como indicadores da contaminação fecal de amostras ambientais, os
métodos para identificação de E. coli eram ainda caros, complexos e demorados. Na década
de 80, o desenvolvimento de métodos analíticos baseados na presença de enzimas de
determinados grupos de micro-organismos, como por exemplo a ß-D-glicuronidase, que está
presente em 95% das linhagens de E. coli, permitiu a análise específica dessa bactéria. No
entanto, o uso do grupo dos coliformes termotolerantes como indicadores de contaminação
fecal ainda vem sendo empregado. Isto se deve ao fato de que os coeficientes de correlação
e de explicação comprovam a linearidade entre as concentrações de coliformes
termotolerantes e E. coli, e pelo fato de a proporção de E. coli/coliformes termotolerantes,
serem elevadas variando de 84% a 104% (CETESB, 2008).
3.7
CONTAMINAÇÃO POR METAIS PESADOS
Uma das grandes preocupações ecológicas atuais refere-se ao impacto ambiental
causado pela liberação antrópica de metais pesados nos diversos ambientes naturais,
especialmente, naqueles de maior interação com a população humana (JESUS et al., 2004).
Os metais pesados são elementos não-degradáveis que ocorrem naturalmente em
áreas oceânicas e costeiras. Contudo, a degradação do ambiente marinho pode elevar a
concentração desses elementos em níveis preocupantes. Para tanto, as principais fontes
antrópicas desses metais são: água de drenagem agrícola contendo pesticidas e fertilizantes;
efluentes das atividades industriais; despejo de esgoto e contaminação por petróleo, que
carreiam, em geral para o ambiente marinho, quantidades variáveis de diferentes ânions
inorgânicos e metais pesados (SHAHIDUL ISLAM; TANAKA, 2004; SAEED; SHAKER, 2008).
A água oceânica é considerada como a última etapa do ciclo hidrológico dos metais
aonde chega por três vias: contribuição continental pelos rios, entrada atmosférica e fontes
hidrotermais. Uma vez na coluna d’água, os metais tendem a associar-se ao material
particulado em suspensão, que posteriormente precipita-se e deposita-se no sedimento.
Contudo, processos de remobilização abióticos e/ou bióticos, podem disponibilizar os metais
do sedimento novamente para a coluna d’água. Assim, o material particulado em suspensão
e o sedimento são, para os moluscos bivalves, as duas vias de exposição aos metais, tendo
em vista seu mecanismo fisiológico de alimentação (GALVÃO et al., 2009).
46
A acumulação de metais pesados nos organismos marinhos pode afetar vários
processos fisiológicos, incluindo inibição do crescimento, danos ao DNA, inabilidade de
regeneração tecidual e alteração na reprodução e no desenvolvimento. Estas manifestações
patológicas possuem como principais mecanismos de toxicidade: a capacidade dos metais
tóxicos em causar distúrbios osmóticos e alterações de síntese e atividade de enzimas
(MARQUES et al., 2010).
Os efeitos tóxicos dos metais nos organismos estão associados com interferências
nos processos metabólicos que envolvem constituintes sulfurados, uma vez que a maior parte
dos metais pesados amplamente distribuídos (por exemplo, mercúrio, prata e cobre) possuem
afinidades elevadas para o enxofre e tendem a ligar-se com grupos sulfidrila de proteínas e
enzimas em seres vivos (SHAHIDUL ISLAM; TANAKA, 2004).
Embora as fontes contaminantes de metais no ambiente marinho sejam numerosas e
diversas, poucas evidências dos efeitos biológicos adversos conhecidos, largamente
difundidos, são observadas, exceto para os riscos para a saúde humana pelo consumo de
animais aquáticos contaminados com metais pesados (FLEMING et al., 2006).
Tanto elementos essenciais quanto não essenciais são tóxicos aos organismos vivos,
quando presentes em altas concentrações. Muitos metais pesados podem ser acumulados no
organismo marinho até níveis que podem ser prejudiciais às pessoas que os consomem. A
presença de metais pesados em peixes, crustáceos e ostras está associada a riscos em
relação à saúde pública pelo fato destes contaminantes também se acumularem no ser
humano (CAVALCANTI, 2003).
Determinar as concentrações dos contaminantes nos organismos marinhos
proporciona o conhecimento da biodisponibilidade dos metais nos diferentes ambientes, e
permite avaliar de forma direta os riscos potenciais aos quais a população está exposta,
principalmente através da alimentação (GALVÃO et al., 2009; DA SILVA FERREIRA et al.,
2013).
Nos moluscos bivalves, assim como para os demais animais aquáticos, cada tecido
assume um papel diferenciado no metabolismo dos metais. As brânquias estão em contato
direto com os metais presentes no meio circundante, sendo a principal interface para a
incorporação destes elementos dissolvidos na água. Este processo é facilitado pelo muco
presente na superfície do tecido, que concentra o metal e favorece a incorporação por um
gradiente de difusão, desta forma este tecido é um indicador de exposição recente. Em
contrapartida, as concentrações de metais encontradas no hepatopâncreas indicam um tempo
prolongado de exposição, sendo este parâmetro recomendável para o biomonitoramento
ambiental (GALVÃO et al., 2009).
Os metais considerados tóxicos e que causam preocupação são, quase que
exclusivamente, restritos aos dez que apresentam maior toxicidade para vida marinha. São
47
eles em ordem decrescente de toxicidade: mercúrio, cádmio, prata, níquel, selênio, chumbo,
cobre, cromo, arsênio e zinco. Eles não são particularmente tóxicos como os elementos livres
condensados, mas são perigosos para os seres vivos na forma de cátions, que possuem
capacidade de se ligar com cadeias carbônicas curtas. Nesta forma, eles acumulam nos
organismos marinhos e concentram-se ao longo dos anos (SHAHIDUL ISLAM; TANAKA,
2004).
Alguns metais desempenham papel importante no metabolismo dos seres vivos e são
tidos como metais essenciais (micronutrientes), podendo ser bioacumulados em
concentrações elevadas, sem que o organismo indique sinal de toxicidade aparente. Exemplo
disto é o zinco que é constitutivo de proteínas e enzimas e atua como cofator em várias
metaloenzimas e proteínas reguladoras, incluindo a biossíntese e reparo do DNA e RNA. E
ainda o ferro, o manganês e o cobre que participam de importantes processos metabólicos.
Já para os metais sem função biológica conhecida, como o cádmio, as elevadas
concentrações encontradas estão em três ordens de grandeza abaixo da observada para
zinco (GALVÃO et al., 2009).
O tributil-estanho (usado como um componente de tintas anti-incrustantes em barcos)
e metil-mercúrio (formado pela metilação microbiana de mercúrio inorgânico) são dois
compostos altamente tóxicos que foram responsáveis por incidentes de poluição marinha por
metais pesados (FLEMING et al., 2006).
O consumo de pescado é considerado a principal fonte de absorção de mercúrio por
pessoas não ocupacionalmente expostas (CAVALCANTI, 2003). Esse metal quando lançado
junto aos rejeitos industriais, acumula-se primariamente nos sedimentos que podem servir
como uma fonte para a cadeia alimentar marinha. Este metal bioacumula e biomagnifica na
cadeia alimentar aquática podendo ter efeitos adversos no organismo humano, incluindo nefro
e neurotoxicidade (CAVALCANTI, 2003; FLEMING et al., 2006).
O cádmio pode bioacumular no ambiente, incluindo o ambiente marinho, e sua
absorção pelos seres humanos tem como maior risco a sua nefrotoxicidade (proteinúria e
insuficiência renal), embora esse elemento seja considerado também um carcinógeno
humano (FLEMING et al., 2006).
O chumbo e o arsênio são metais altamente tóxicos, relacionados respectivamente
com desenvolvimento neural deficiente em crianças e complicações hemorrágicas
gastrointestinais. Contudo, não são conhecidas intoxicações por estes elementos
relacionadas ao consumo de alimentos marinhos. Ambos, chumbo e arsênio, ocorrem em
sedimentos marinhos como resultado de descarga industrial. Assim como o mercúrio, o
arsênio pode ser convertido em uma forma metílica mais lipofílica e tóxica (FLEMING et al.,
2006).
48
3.8
LEGISLAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DE CONTROLE HIGIÊNICOSANITÁRIO DE BIVALVES
A regulamentação sanitária internacional relacionada aos controles de saúde pública
e a produção comercial de moluscos bivalves foram iniciadas no princípio do século XX,
especialmente na Europa e nos Estados Unidos da América, especialmente em virtude da
febre tifoide relacionada ao consumo de moluscos bivalves (LEE; LOVATELLI; ABABOUCH,
2010).
Na Europa, as zonas de produção são classificadas de acordo com o NMP de E. coli
em 100g de carne de moluscos bivalves e de líquido intravalvar, como A (<230 E. coli em
100g) onde não é exigido tratamento para comercialização, B (<4.600 E. coli em 100g) onde
é exigida depuração ou cozimento prévios à comercialização, C (<46.000 E. coli em 100g)
onde é exigida a reinstalação em zona A por longo período ou cozimento prévio. A
comercialização é PROIBIDA (>46.000 E. coli em 100g) (LEE; LOVATELLI; ABABOUCH,
2010; OLIVEIRA et al., 2011).
Nos Estados Unidos da América os critérios de classificação de zonas de produção e
retirada de moluscos bivalves se baseiam na contagem de coliformes totais e termotolerantes
em 100 mL da água do cultivo e definem três zonas distintas: ZONA AUTORIZADA, onde não
se requer tratamento para comercialização; ZONA RESTRITA, onde deve ser realizada a
depuração ou reinstalação na zona autorizada e ZONA PROIBIDA, onde a retirada é proibida
(LEE; LOVATELLI; ABABOUCH, 2010).
Na cidade de Hiroshima no Japão, onde se concentra a maior parte da produção de
ostras no país, estas quando destinadas ao consumo cru devem ser retiradas de águas onde
o número mais provável de coliformes não exceda 70/100 mL de água do mar. Se a retirada
for realizada em águas com contagem superiores, as ostras devem ser submetidas a
depuração (LEE; LOVATELLI; ABABOUCH, 2010).
No Brasil, a legislação referente ao controle de contaminação microbiológica em
bivalves possui ramos em diferentes órgãos. A resolução do Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA) n°. 357 de 2005, versa sobre a classificação e qualidade de água,
fixando águas salinas e águas salobras destinadas à aquicultura e à atividade de pesca na
Classe 1. Nesta classe, para o cultivo de moluscos bivalves destinados à alimentação
humana, a média geométrica de coliformes termotolerantes, de um mínimo de 15 amostras
coletadas no mesmo local, não deverá exceder 43 por 100 mL, e o percentual de 90% não
deverá ultrapassar 88 coliformes termotolerantes por 100 mL e esses índices deverão ser
mantidos em monitoramento anual com um mínimo de 5 amostras (BRASIL, 2005).
49
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em sua resolução
RDC n°. 12 de 2001, que versa sobre padrões microbiológicos de alimentos, os moluscos
bivalves in natura, resfriados ou congelados, não consumidos crus devem ser negativos para
Salmonella em 25g e apresentar no máximo 103 de Estafilococos coagulase positivo por
grama. Contudo, não é estabelecido limite para coliformes termotolerantes, que são limitados
somente para os moluscos bivalves cozidos, temperados e não industrializados, resfriados ou
congelados, em 5x10 Coliformes a 45ºC por grama (BRASIL, 2002).
De acordo com Evangelista-Barreto et al. (2008), a Portaria n°451 de 19 de setembro
de 1997, que foi revogada e substituída pela resolução supracitada, especificava limites de
NMP (Número Mais Provável) para coliformes de 102 por grama para pescados consumidos
crus. Onde se enquadrariam os moluscos bivalves que, em geral, são consumidos sem
qualquer tipo de tratamento. Por este fato, a resolução RDC n°12 da ANVISA possui caráter
limitado na avaliação da qualidade microbiológica do alimento em questão.
(EVANGELISTA-BARRETO; DE SOUSA; DOS FERNANDES VIEIRA, 2008)
No entanto, no ano de 2012 foi publicada a Instrução Normativa Interministerial n°. 7
de 2012, que envolve a atuação do extinto Ministério da Pesca e Aquicultura e do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que estabelece o Programa Nacional de Controle
Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves. O documento é dividido em dois anexos: o Anexo I
estabelece as diretrizes para o monitoramento e controle de microrganismos contaminantes
e biotoxinas marinhas em moluscos bivalves; e o Anexo II estabelece os requisitos de
inspeção industrial e sanitária dos estabelecimentos de processamento de moluscos bivalves.
Ainda em 2012, foi publicada a Portaria no 204 do extinto Ministério da Pesca e Aquicultura,
que complementou o programa, estabelecendo a metodologia de coleta de moluscos e água
para análises microbiológicas e de biotoxinas. Em 2013, o extinto Ministério da Pesca e
Aquicultura publicou a portaria no 175, complementando a anterior com tabelas para
interpretação dos resultados gerados pelo monitoramento (SOUZA et al., 2014).
De acordo com o estabelecido na legislação, o monitoramento de micro-organismos
contaminantes em bivalves deve ser realizado pela estimativa da densidade média de
Escherichia coli em 100g da parte comestível dos animais (NMP/100g), e os resultados desse
monitoramento devem orientar a retirada dos bivalves, que passou a ser definida como
LIBERADA (NMP de E. coli em 100g da parte comestível dos bivalves <230); LIBERADA SOB
CONDIÇÃO (NMP de E. coli em 100g da parte comestível dos bivalves >230 e <46.000) e
SUSPENSA (NMP de E. coli em 100g da parte comestível dos bivalves >46.000) (BRASIL,
2012).
50
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1
DESENHO EXPERIMENTAL
O desenvolvimento do presente trabalho foi iniciado em novembro de 2014 e concluído
em maio de 2016 e compreendeu a colheita das amostras, as análises bacteriológicas, virais
e de teores de metais pesado seguindo o fluxograma apresentado na Figura 8, abaixo
Figura 8: Fluxograma das atividades experimentais desenvolvidas no presente trabalho.
51
4.2
METODOLOGIA
4.2.1
Definição e Processamento Inicial das Amostras
O Município de Cananéia se destaca no estado de São Paulo como maior produtor de
ostras, nele foram definidas quatro áreas de amostragem. A área da Reserva Extrativista do
Mandira, local onde se concentra a maior parte da produção do município; a área da Ilha da
Casca (ponto de colheita localizado mais ao sul) que possui exploração comercial; a área da
Ponte Euclides Figueiredo (ponto de colheita localizado mais ao norte) e a região da Balsa
Continente-Ilha de Cananéia, área sem exploração comercial, mas onde existe maior
adensamento populacional.
Para melhor compreensão do texto a partir desse momento, as áreas serão chamadas
de Mandira; Ilha da Casca; Ponte e Balsa, respectivamente, e sua localização pode ser
observada na Figura 9.
Figura 9: Localização das áreas de colheita de amostras no Município de Cananéia
(Fonte: Google, 2016)
.
Dada a definição das áreas de amostragem iniciou-se a colheita de amostras de cada
um dos pontos. O período de colheita se estendeu de janeiro de 2015 a janeiro de 2016. A
52
colheita foi realizada com frequência inicialmente quinzenal e posteriormente mensal para
cada uma das áreas.
Para cada colheita foram retirados pelos menos 30 ostras adultas de tamanho
comercial de cada ponto, o que compunha, então, a amostra de cada uma das áreas, que
eram identificadas com a data de colheita seguida da área de amostragem, como por exemplo:
130115-Mandira.
Cada uma das amostras foi acondicionada em sacos de malha plástica vazada.
Posteriormente estes foram depositados individualmente em sacos plásticos que foram
lacrados e acondicionados em caixa isotérmica de isopor, contendo gelo de água potável, e
imediatamente transportados para o Laboratório de Bacteriologia Geral do Instituto Biológico,
onde foi realizado o processamento inicial das amostras.
O processamento inicial das amostras ocorreu sempre em um período não superior a
24 horas contados do momento de colheita.
Assim, as ostras vivas e com as valvas firmemente fechadas eram lavadas em água
corrente com auxílio de uma escova para remoção de sujidades. Após a lavagem de todos os
exemplares que compunham a amostra, estes eram separados em três lotes distintos para
posterior uso nas diferentes análises.
O lote que compunha os exemplares destinados à análise bacteriológica recebia
quantidade suficiente de moluscos bivalves para obtenção de uma massa total, após abertura,
de 200g, a qual era obtida em média com 11 a 14 animais e, então, era processada
imediatamente conforme método de análise bacteriológica estabelecido para o presente
trabalho.
Para as análises virais o lote separado era composto de 12 animais que foram
imediatamente congelados inteiros para posterior processamento conforme método de
análise viral estabelecido para o presente trabalho.
Os animais restantes compunham o lote destinado a análises dos teores de metais
pesados e foram igualmente congelados inteiros para posterior processamento e análises.
4.2.2
Análises Bacteriológicas
(NEWZEALAND, 2013)
As análises bacteriológicas foram realizadas em sua totalidade no Laboratório de
Bacteriologia Geral do Instituto Biológico.
Neste trabalho adotou-se, para realização de tais análises, a combinação do método
descrito no manual do Ministério de Industrias Primárias da Nova Zelândia intitulado Método
MPI para enumeração de Escherichia coli em moluscos bivalves do ingês “Enumeration of
53
Escherichia coli in Bivalve Molluscan Shellfish: MPI Method”, em sua nona versão, de 07 de
fevereiro de 2013, que tem como base a ISO/TS 16649-3: 2005 e da metodologia descrita na
Instrução Normativa SDA-MAPA no 62 de 2003 (BRASIL, 2003; NEWZEALAND, 2013).
O princípio do método resultante desta combinação foi uma metodologia de
enumeração de coliformes termotolerantes pelo Número Mais Provável (NMP) em um ensaio
de dois estágios de cinco tubos em três diluições. Onde no primeiro estágio, uma etapa de
enriquecimento seletivo, a amostra é inoculada em caldo lauril sulfato de sódio (LST). Este
sal, um agente surfactante aniônico, confere seletividade ao meio uma vez que inibe o
crescimento de microrganismos Gram positivos e, assim, a presença de coliformes (Gram
negativos) é evidenciada pela formação de gás, após incubação em estufa a 36 +/- 1°C por
24 a 48 horas.
No segundo estágio ocorre a confirmação da presença de coliformes termotolerantes
por meio do subcultivo dos tubos positivos do primeiro estágio em caldo EC com incubação
em temperaturas seletivas de 45 +/- 1°C por 24 a 48 horas. Além da seletividade por
temperatura a presença de sais biliares no caldo EC inibe o desenvolvimento de
microrganismos Gram positivos e a formação de gás evidencia a fermentação da lactose
presente no meio confirmando a presença de coliformes termotolerantes.
Para realização da metodologia proposta as amostras foram processadas da seguinte
forma: com auxílio de uma faca estéril, os moluscos bivalves foram assepticamente abertos e
removidos de suas conchas em quantidade suficientes para completar no mínimo 200g de
conteúdo total (líquido intervalvar e tecidos comestíveis). Volume igual de água peptonada
tamponada (Difco®) foi adicionado e procedeu-se a homogeneização em liquidificador em
velocidade máxima por dois minutos.
Da suspensão resultante retirou-se 20mL que foram diluídos e vigorosamente agitados
com 80mL de água peptonada tamponada para formar o homogenato base 10-1. A suspensão
10-2 foi obtida pela diluição de 1mL do homogenato base 10-1 em 9mL de água peptonada.
A partir destas suspensões foram feitas as inoculações em tubos contendo 10mL de
caldo LST (Difco®). Para a primeira diluição, inoculou-se cinco tubos de caldo LST duas vezes
concentrado com 10mL de homogenato base 10-1, desta forma cada tubo continha 1g de
tecido. Para a segunda diluição, inoculou-se cinco tubos de caldo LST uma vez concentrado
com 1mL de homogenato base 10-1, desta forma cada tubo continha 0,1g de tecido. Para
terceira diluição, inoculou-se cinco tubos de caldo LST uma vez concentrado com 1mL de
suspensão 10-2, desta forma cada tubo continha 0,01g de tecido.
Procedeu-se a incubação em estufa a 36 +/- 1°C e realizou-se a leitura dos resultados
em 24 e em 48 horas pós incubação. Foram considerados positivos os tubos que
apresentaram formação de gás nos tubos de Durhan (mínimo 1/10 do volume total) ou
efervescência quando agitado suavemente.
54
Os tubos considerados positivos foram repicados em tubos contendo 10mL de caldo
EC (Difco®), com auxílio de uma alça de 10μL e incubados em estufa a 45 +/- 1°C, realizandose a leitura de resultados em 24 e em 48 horas pós incubação.
Foram considerados positivos os tubos que apresentaram formação de gás nos tubos
de Durhan (mínimo 1/10 do volume total) ou efervescência quando agitado suavemente.
Os resultados foram anotados e a combinação dos positivos no caldo EC, em suas
respectivas diluições, foi comparada a tabela que consta no manual neozelandês Método MPI
para enumeração de Escherichia coli em moluscos bivalves (Anexo 01) para obtenção do
número mais provável de coliformes termotolerantes em 100g de molusco bivalve.
4.2.3
Análises Virais
As análises virais foram realizadas no Laboratório de Viroses de Bovídeos do Instituto
Biológico e no Núcleo de Doenças Sanguíneas e Sexuais do Centro de Virologia do Instituto
Adolfo Lutz, sendo utilizada a metodologia proposta por Jothikumar et al. (2005) com
adaptações. (JOTHIKUMAR et al., 2005)
Os moluscos bivalves, ainda congelados, foram assepticamente abertos, com auxílio
de uma faca estéril; removidos de suas conchas; depositados em placa de petri e dissecados
com auxílio de um bisturi e uma pinça para remoção de todos os tecidos e obtenção somente
do divertículo digestivo dos animais. O “pool” de divertículo digestivo foi imediatamente
processado ou congelado a -20°C até processamento.
No processamento o “pool” de divertículo digestivo foi homogeneizado e uma alíquota
de 2mL do homogenato foi adicionado a igual volume de solução de proteinase K (100μg/mL)
e incubado a 37°C por uma hora sob agitação. Em seguida a mistura foi incubada a 65°C por
15 minutos para inativação da proteinase K e a porção solúvel (sobrenadante) foi obtida por
centrifugação a 3.000g por 5 minutos. Para clarificação, ao sobrenadante recolhido foi
adicionado a 2 mL de clorofórmio, com posterior agitação. A mistura foi centrifugada a 13500
x g a 4ºC por 15 minutos, recolhendo-se, por fim, a porção aquosa que foi levada para extração
de RNA ou congelada a -20ºC até processamento
Para extração do RNA foi utilizado o método de purificação em coluna (Kit QIAGEN –
QIAamp Viral RNA Mini Kit®) onde 140μL da porção aquosa da amostra foram adicionados a
560μL de tampão AVL contendo carreador de RNA e incubados por 10 minutos em
temperatura ambiente. Foi realizada, então, rápida centrifugação para remover gotículas
dispersas na tampa e adicionou-se 560μL de etanol (96-100%) agitando-se em vórtex por 15
segundos com posterior rápida centrifugação novamente para remover gotículas dispersas na
55
tampa obtendo-se então a solução de amostra tratada para purificação do genoma.
As colunas foram montadas em seus coletores e 630μL da solução de amostra tratada
foi cuidadosamente pipetada no topo da coluna que foi centrifugada a 6.000xg por um minuto.
Trocou-se o tubo coletor por um novo e no topo da coluna foram pipetados os e 630μL da
solução de amostra tratada restante seguindo nova centrifugação a 6.000xg por um minuto.
Após a troca do tubo coletor foram adicionados ao topo da coluna 500μL de tampão AW1
seguindo nova centrifugação a 6.000xg por um minuto. Novamente o tubo coletor foi trocado
e adicionou-se ao topo da coluna 500μL de tampão AW2 seguindo nova centrifugação a
20.000xg por três minutos, então descartou-se o tubo coletor e a coluna foi depositada em um
tubo de microcentrífuga para eluição. A eluição foi realizada com 60μL de tampão AVE
(incubação de um minuto em temperatura ambiente) e centrifugação por um minuto a 6.000xg
obtendo-se, então os ácidos nucleicos virais purificados que foram imediatamente congelados
a -20ºC.
Para detecção do genoma viral foi utilizada a técnica de PCR qualitativo em tempo
real, etapa a qual foi desenvolvida do Instituto Adolfo Lutz, sob coordenação da Pesquisadora
Científica Isabel Takano Oba.
A primeira etapa foi de construção da curva padrão para cada vírus e nesta etapa
foram avaliados três protocolos com reagentes (Master Mix) diferentes. O primeiro
NextGeneration ECO One-Step RT-qPCR Kit, da marca DNA Express Biotecnologia®, o
segundo LightCycler 480 RNA Master Hydrolysis Probes, da marca Roche® e o terceiro
SuperScript III Platinum One-Step Quantitative RT-PCR System, da marca Invitrogen® (Life
Technologies).
Para todos os diferentes protocolos o Master mix foi preparado em gelo para um
volume final de reação de 25μL seguindo as indicações dos seus respectivos fabricantes
conforme Tabela 3.
Os pares de primer e sondas adotados nos experimentos foram baseados nas
sequências descritas por Jothikumar et al. (2005) para norovírus e por Amado et al. (2010)
para HAV e foram sintetizados pela IDT (Integrated DNA Technologies®) estando suas
sequências dispostas na Tabela 4.
56
Tabela 3: Preparo do Master mix para RT-qPCR.
NextGeneration ECO One-Step RT-qPCR, Dna Express Biotecnologia®
Componentes
Volume
Tampão de RT-PCR (2x)
12.5μL
Master mix de RT-PCR
Primer (Senso)
Primer (Anti-senso)
Sonda TaqMan®
(Vírus específicos)
1μL
0,5μL
0,5μL
1,0 μL
4,5μL
Amostra
5 μL
Volume total
25μL
LightCycler 480 RNA Master Hydrolysis Probes, Roche®
Componentes
Volume
Master mix LightCycler 480
7,8μL
Enzima One-Step
Corante Rox
MgSO4
Água ultrapura
Master mix de RT-PCR
Primer (Senso)
Primer (Anti-senso)
Sonda TaqMan®
(Vírus específicos)
1μL
1,5μL
1,2μL
8,5μL
Amostra
5 μL
Volume total
25μL
SuperScript III Platinum One-Step Quantitative RT-PCR System, Invitrogen®
Componentes
Volume
2x Reaction Mix
12.5μL
Activator
Enhancer
Água ultrapura
Master mix de RT-PCR
Primer (Senso)
Primer (Anti-senso)
Sonda TaqMan®
(Vírus específicos)
SuperScript III RT/Platinum
MgSO4
Corante Rox
Água ultrapura
Amostra
Volume total
1μL
0,5μL
1,5μL
0,5μL
4,0μL
5 μL
25μL
57
Tabela 4: Par de primers e sondas para HAV e Norovírus
Primers e Sondas
Sequências
Vírus da Hepatite A
Sonda HAV
5’-/56-FAM/ACTCATTTT/ZEN/TCACGCTTTCTC/3IABkFQ/-3’
Primer senso HAV
5’-CTGCAGGTTCAGGGTCTTAAATC-3’
Primer anti-senso HAV
5’-GAGACCCTGGAAGAAAGAAGA-3’
Norovírus (GII)
Sonda RING2
5’-/56-FAM/TGGGAGGGC/ZEN/GATCGCAATCT/3IABkFQ/-3’
Primer senso COG2R
5’-CAAGAGTCAATGTTTAGGTGGATGAG-3’
Primer anti-senso COG2F
5’-TCGACGCCATCTTCATTCACA-3’
Para cada um dos protocolos calculou-se o volume a ser utilizado em cada reação e a
mistura (mix) foi preparada e homogeneizada. O volume de 20μL do mix foi adicionado às
cavidades de uma placa ótica de 96 cavidades mantida em gelo.
Uma amostra de RNA extraído, conforme protocolo aqui descrito, de Vírus da Hepatite
A da cepa do Instituto Adolfo Lutz (cepa H.N175 crescido em cultivo de células SRhK-4) foi
diluída seriadamente na base 10 até 10-6, obtendo-se sete concentrações (concentrado, 10-1,
10-2, 10-3, 10-4, 10-5 e 10-6), sendo o procedimento de diluição da amostra mais concentrada
repetido sempre antes de cada reação, para evitar desvios nas curvas, uma vez que a
degradação do RNA não é equivalente nas diferentes concentrações.
O volume de 5μL de cada uma das sete soluções de RNA extraído (concentrado até
10-6) foi adicionado em triplicata, quadriplicata e quintuplicata, em diferentes ensaios, às
cavidades da placa e homogeneizado com o mix previamente depositado. O controle negativo
foi realizado em triplicata com a adição de somente água ultrapura às cavidades
correspondentes. A placa foi selada com selo óptico brevemente centrifugada e levada ao
Termociclador para realização da reação de PCR e avaliação do protocolo mais adequado às
análises.
Procedimento idêntico foi realizado para as reações envolvendo norovírus, para as
quais foram utilizadas amostras de RNA extraído de norovírus de cepas do Instituto Adolfo
Lutz (cepa de isolado de amostra clínica de fezes).
O Termociclador utilizado foi o StepOnePlus™ Real-Time PCR System, que foi
programado de acordo com as recomendações dos fabricantes dos reagentes conforme
Tabela 5 a seguir e ao final dos ciclos as análises foram realizadas no programa do
equipamento StepOnePlus™ Real-Time PCR System.
58
Tabela 5: Parâmetros para programação do Termociclador RT-qPCR.
Etapas
Temperatura Tempo
Repetições
NextGeneration ECO One-Step RT-qPCR, DNA EXPRESS BIOTECNOLOGIA®
Transcrição Reversa
55ºC
30 min.
1
Desnaturação (RT) e Ativação da Taq
95ºC
2 min.
1
Desnaturação
95ºC
15 segs.
45
Hibridização e extensão
60ºC
1 min.
45
®
LightCycler 480 RNA Master Hydrolysis Probes, Roche
Transcrição Reversa
63ºC
03 min.
1
Desnaturação (RT) e Ativação da Taq
95ºC
30 segs.
1
Desnaturação
95ºC
15 segs.
45
Hibridização e extensão
60ºC
1 min.
45
SuperScript III Platinum One-Step Quantitative RT-PCR System, Invitrogen®
Transcrição Reversa
50ºC
15 min.
1
Desnaturação (RT) e Ativação da Taq
95ºC
2 min.
1
Desnaturação
95ºC
15 segs.
45
Hibridização e extensão
60ºC
30 segs.
45
A partir dos resultados obtidos com os protocolos dos diferentes reagentes e estando
com as curvas padrão estabelecidas realizou-se a análise das amostras de campo das ostras.
Foi preparado Master Mix em quantidade suficiente para análise das amostras,
seguindo o protocolo recomendado fabricante sendo o mesmo distribuído nas cavidades da
placa óptica. Um volume de 5,0μL de cada uma das amostras de RNA extraído a partir do
homogenato de divertículo digestivo foi adicionado e homogeneizado a cada uma das
cavidades da placa, em duplicata. Como controle positivo foi adicionado em duplicata 5,0μL
da solução de RNA extraído, do vírus correspondente ao analisado, da cepa do Instituto Adolfo
Lutz e como controle negativo foi adicionado somente 5,0μL de água ultrapura nas cavidades
e homogeneizado ao Master Mix previamente depositado. A placa foi selada com selo óptico,
brevemente centrifugada e levada ao Termociclador para realização da reação de PCR e
obtenção dos resultados que foram analisados no programa do equipamento StepOnePlus™
Real-Time PCR System.
Como forma de controle do procedimento de extração de RNA e da presença de
possíveis inibidores da RT-qPCR foi realizado reação de RT-PCR para as amostras de RNA
extraído a partir do homogenato de divertículo digestivo para o gene β-actina uma vez que
este está presente em todas as células de animais e é um “housekeeping gene”, gene
constitutivo nomalizador proteico importante para a manutenção de funções celulares, e que
dificilmente sofre alteração na sua expressão.
Para tanto, o procedimento iniciou-se com a síntese de DNA complementar (c-DNA),
onde, em microtubos, 5µL de cada amostra do RNA extraído a partir do homogenato de
divertículo digestivo foi adicionado a um Mix contendo 1 µL de random primer (50ng/µL) e 4
µL de água ultrapura esterilizada seguido de desnaturação a 65ºC durante 5 minutos e
59
resfriamento em gelo por 1 minuto. Em seguida a essa mistura adicionou-se 15µL de outro
Mix contendo 10 X RT Buffer, 25mM MgCl, 0,1 M DTT, 10mM de cada dNTPs, 1 µL de
SuperScript III (Invitrogen®) (200 U/µL), 1µL de inibidor de RNAses (40U/µL) e 1,75 µL de
água ultrapura esterilizada. Os microtubos foram dispostos em um termociclador para
realização de reação de transcrição reversa em um ciclo a 25ºC por10 min, 50ºC por 50min e
85ºC por 5min.
Após a obtenção do c-DNA foi realizada a reação de PCR. Um Mix contendo 5µL de
Tampão de PCR 10x (Invitrogen®), 1µL de dNTPs 10mM, 1µL de cada primer a 10pmol (Actin
senso
-
5’-TTCTACAATGAGCTGCGTGT-3’
-
e
Actin
Anti-senso
-
5’-
GCCAGACAGCACTGTGTTGG-3’), 1,5µL de MgCl2 (50 mM), 35 µL água ultrapura
esterilizada e 0,5µL de Taq DNA polimerase 2,5U/µL de (Invitrogen®), foi preparado e 45µL
deste foram distribuídos em microtubos. Adicionou-se a cada microtubo 5 µL de cada c-DNA.
Os microtubos foram dispostos em um termociclador para realização de reação de PCR
seguindo o ciclo disposto na Tabela 6 a seguir.
Tabela 6: Parâmetros para programação do Termociclador para PCR de Actina
Etapas
Temperatura
Tempo
Repetições
Desnaturação
94ºC
3 min.
Desnaturação
94C
1 min.
Hibridização
53ºC
1 min.
Extensão
72ºC
2 min.
Extensão Final
72ºC
5
min
1
40
1
Ao final da reação de PCR 2µL do produto amplificado foram analisados por
eletroforese (100mA por 01 hora) em gel de agarose a 1,5 % corado com GelRed™ (1:150) e
observado sob luz ultravioleta. Foram consideradas positivas as amostras que apresentaram
banda de 636pb.
4.2.4 Análises dos Teores de Metais Pesados
A metodologia utilizada para análise dos teores de metais pesados nos moluscos
bivalves foi obtida pela combinação do método descrito por Rojas et al. (2007) com o método
descrito por Cavalcanti (2003) que resultou em metodologia onde a amostra é inicialmente
dessecada e em seguida digerida com ácidos para mineralização e por fim a quantificação
dos teores de metais pesados Zinco (Zn), Cobre (Cu), Chumbo (Pb) e Cádmio (Cd) foi
60
realizada por espectrofotometria de absorção atômica no modo chama ar/acetileno.
Para avaliação dos teores de metais pesados as amostras foram agrupadas em
conjuntos da seguinte forma: Amostragem de 24/03/15, 07/04/15 e 21/04/15 compuseram o
conjunto amostral 01 (Março/Abril); Amostragem de 05/05/15, 19/05/15, 02/06/15, 16/06/15 e
30/06/15 compuseram o conjunto amostral 02 (Maio/Junho); Amostragem de 14/07/15,
28/07/15, 11/08/15 e 25/08/15 compuseram o conjunto amostral 03 (Julho/Agosto);
Amostragem de 15/09/15, 06/10/15 e 02/11/15 compuseram o conjunto amostral 04
(Setembro/Outubro/Novembro) e Amostragem de 01/12/15 e 05/01/16 compuseram o
conjunto amostral 05 (Dezembro15/Janeiro16), este procedimento foi realizado para cada um
dos pontos de amostragem individualmente o que gerou um total de 20 conjuntos de amostras,
sendo cinco para cada ponto de amostragem.
Para realização da metodologia proposta cada conjunto de amostras foi processado
da seguinte forma: Procedeu-se o descongelamento e homogeneização do conjunto de
moluscos bivalves, em temperatura ambiente e realizou-se a pesagem, em balança analítica,
para obtenção do peso úmido. Em seguida, efetuou-se a secagem do material em placa
aquecedora a 200 +/- 1°C, até que se atingisse peso constante.
Depois de secas, as amostras foram novamente pesadas para obtenção do peso seco.
Tomou-se 0,5g do homogeneizado seco, transferindo-o para tubos digestores (Teflon®)
contendo 10mL de HNO3 MERCK®). Para decomposição da amostra, os tubos foram mantidos
em um bloco digestor a uma temperatura de 180°C por duas horas, até a completa
mineralização da amostra. Para o controle branco, foi realizada a digestão somente dos
reagentes.
Após o término da digestão as amostras e o branco foram resfriados a temperatura
ambiente e em seguida avolumados para 50mL com água ultrapura em balões volumétricos
e as soluções obtidas foram armazenadas para análises.
O cádmio e o cobre foram lidos de maneira direta, enquanto que para leitura de zinco
foi necessário efetuar a diluição da amostra 125x em água ultrapura.
Para leitura do chumbo foi necessária realização de pre-concentração por meio da
complexação com pirrolidinaditiocarbamato de amônio (APDC) e posterior extração com
metilisobutil cetona (MIBK). Uma solução de APDC 2% foi adicionada a igual volume de
solução de Triton 100x a 5%, obtendo-se a solução de complexação. Em 25mL de solução de
amostra pronta para análises foram adicionados 1,6mL de solução de complexação e após
vigorosa agitação adicionou-se 4mL de MIC seguindo nova agitação. Os tubos com a solução
resultante foram centrifugados por 2 min a 1000 rpm e a porção sobrenadante foi recolhida
em tubos para leitura.
As determinações de concentração dos metais foram realizadas utilizando-se curvas
de calibração externas com base em padrões monoelementares (Sigma®), 1.000mg/L com
61
nas seguintes concentrações: 0,125 a 2mg/L para Zn; 0,125 a 6,0mg/L para Cu; 0,1 a 1,0mg/L
para Pb e 0,0125 a 0,4mg/L para Cd.
As análises foram efetuadas por espectrofotometria de absorção atômica no modo
chama ar/acetileno por meio do equipamento da marca Perkin Elmer® 5100 PC, no
Laboratório de Ecologia de Agroquímicos do Instituto Biológico sob orientação do Dr. Luiz
Carlos Luchini, utilizando-se para as leituras os comprimentos de onda 213,9nm, 324,8nm,
228,8nm e 283,3nm, para Zn, Cu, Cd e Pb, respectivamente.
Todas as amostras e o branco foram mineralizados em triplicada e para determinar a
concentração considerou-se o valor médio das três leituras de cada amostra.
Como não possuíamos material de referência certificado para ostras, o controle do
método utilizado quanto a precisão na recuperação de metais foi realizado através do método
de adição de padrões dos metais pesquisados em concentrações conhecidas de modo que
após a diluições as concentrações estivessem dentro da faixa de calibração e assim estimouse as taxas de recuperação para cada metal.
4.2.5
Análises Estatísticas
Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa GraphPad Prism, pelo
teste t-student, onde foram consideradas significativas as diferenças com valor de p<0,05.
62
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1
ANÁLISES BACTERIOLÓGICAS
A enumeração de coliformes termotolerantes nas ostras pela técnica de número mais
provável em 100g, revelou que as amostras da comunidade do Mandira possuem grau de
contaminação significativamente (p<0,05) menores do que àquelas colhidas na Ilha da Casca
(p=0,0491), na Ponte (p=0,0260) e na Balsa (p=0,0078), conforme pode ser observado na
Figura 10 e na Tabela 07.
Figura 10: Representação gráfica do NMP de coliformes termotolerantes em 100g de ostras,
das amostras colhidas nos diferentes locais do município de Cananéia.
63
Tabela 7: Valores de NMP de coliformes termotolerantes/100g das amostras colhidas nos
diferentes locais do município de Cananéia.
NMP Coliformes Termotolerantes/100g
Locais de Colheita
Data de
Colheita
Cananéia
Mandira
Ilha da Casca
Ponte
Balsa
13/01/2015
20
Nt
Nt
Nt
27/01/2015
130
1100
18000
Nt
10/02/2015
Nt
490
Nt
330
24/02/2015
20
70
170
9200
10/03/2015
50
1100
3500
5400
24/03/2015
700
490
90
1700
07/04/2015
1300
3500
940
230
21/04/2015
140
790
700
1100
05/05/2015
490
9200
9200
490
19/05/2015
170
5400
5400
5400
02/06/2015
220
460
140
490
16/06/2015
20
170
260
140
30/06/2015
170
330
220
18000
14/07/2015
80
5400
3500
9200
28/07/2015
230
700
220
1400
11/08/2015
330
230
90
170
25/08/2015
20
1100
2400
5400
15/09/2015
20
20
90
260
06/10/2015
20
20
90
330
02/11/2015
130
170
170
260
03/12/2015
230
18000
18000
18000
05/01/2016
5400
2400
3500
2200
Média
471
2435
3334
3985
* Nt = Não Testado
64
Por ser uma área de proteção ambiental, as contagens de coliformes termotolerantes
em níveis baixos, estão dentro do esperado para a região. Os resultados evidenciam o baixo
grau de contaminação das ostras e podem indicar, no que diz respeito a contaminação por
esses agentes, uma maior segurança quando comparadas as ostras produzidas nas outras
regiões estudadas.
Vale destacar que a região da balsa não é uma região de exploração de ostras, mas
foi adotada como área de amostragem devido a sua localização junto a área com maior
interferência humana e desta forma maior possibilidade de contaminação, o que de fato foi
constatado nas análises que revelaram 35% de amostras com níveis extremamente elevados
de coliformes termotolerantes. No entanto, mesmo sendo área com suposto nível superior de
contaminação algumas amostragens revelaram valores de coliformes termotolerantes baixos,
que inclusive permitiriam a liberação do consumo, o que pode indicar que outros fatores, como
pluviosidade, temperatura e níveis de maré, podem interferir diretamente no nível de
contaminação das ostras.
As áreas da Ilha da Casca e da região da Ponte possui exploração de ostras, tanto de
engorda quanto do extrativismo, mas em um grau inferior ao de Mandira. Os resultados de
NMP de coliformes termotolerantes nessas regiões revelaram índices elevados de
contaminação indicando que as regiões não são ideais para produção, e que devem ser
adotadas medidas de mitigação de risco de contaminação e veiculação de patógenos no
consumo das ostras produzidas naquelas regiões.
O trabalho de Doi et. al. (2015) ao analisarem coliformes em água do município de
Cananéia em diferentes pontos de amostragem descreve que as áreas com menores médias
colimétricas foram Ilha da Casca, Mandira, Retiro e Pedrinhas, que apresentaram valores de
coliformes entre 2 e 130 NMP/100mL de coliformes totais e de termotolerantes entre 2 e 170
NMP/100mL, com pouca variação na amplitude entre os dados coletados nas localidades e
que as áreas mais contaminada foram Píer, Mosquiteiro, Itapitangui e Taquari
..(DOI; OLIVEIRA; BARBIERI, 2015)
No mesmo sentido Mignani et al. (2013) ao analisarem o NMP de coliformes em água
de três regiões de Cananéia (Mandira, Itapitangui e Cooperostra), entre os anos de 2007 e
2008 relatou que as menores medias geométricas de coliformes totais e termotolerantes
ocorreram no Mandira. (MIGNANI et al., 2013)
Os dois estudos supracitados corroboram com os achados deste trabalho ao indicarem
a região do Mandira como uma área com águas com menor presença de coliformes, portanto
mais limpa e adequada ao cultivo de moluscos, capaz de fornecer alimento seguro a
poupulação, no entanto Doi et. al. (2015) também descreveram a Ilha da Casca como uma
região com presença pequena de coliformes, o que vai de encontro com os resultados do
presente trabalho.
65
Grande parte dos trabalhos realizados em Cananéia fez avaliação da contaminação
da água, no entanto, a correlação entre contagem de coliformes em água e nos bivalves é
controversa. Ramos et al. (2010) avaliando o NMP de coliformes totais e termotolerantes em
águas e ostras na Baía Sul da Ilha de Santa Catarina encontraram correlação positiva entre
as contagens na água e em ostras, porém as amostras onde foram obtidas as maiores
contagens de coliformes termotolerantes nas ostras, as águas apresentaram contagens
inferiores às observadas na carne dos moluscos.
Dos Santos et al. (2015) encontraram em análises microbiológicas de águas de cultivo
e de ostras no estado da Bahia valores de bactérias mesófilas cultiváveis e de coliformes
termotolerantes significantemente maiores nas ostras do que na água de cultivo.
(DOS SANTOS et al., 2016)
Esses achados relacionam-se com a fisiologia do animal que é capaz de concentrar
esses agentes em seus tecidos, onde a sobrevida dos agentes também é maior (RAMOS et
al., 2010). Desta forma a avaliação somente dos parâmetros de contaminação das águas de
cultivo possuem caráter limitado quanto a avaliar a segurança da ostra como alimento.
Os estudos de Ballesteros et al. (2016) ao analisarem contaminação bacteriana de
águas e ostras de Cananéia observaram nas ostras da comunidade Mandira a maior média
de densidade de Staphylococcus coagulase positiva, a maior média de densidade de
coliformes totais e termotolerantes e ainda em relação a água os maiores índices de
contaminação por coliformes totais e termotolerantes também na comunidade do Mandira, em
relação aos demais pontos amostrados, o que diverge dos achados deste trabalho. No
entanto, o período de amostragem do trabalho de Ballesteros et al. (2016) data de 2010 e
2011 e tendo em vista que as condições ambientais tem grande influência no nível de
contaminação das ostras, isto pode ter gerado tal discrepância.
(BALLESTEROS et al., 2016)
Instrução Normativa Interministerial n°. 7 de 2012 (BRASIL, 2012), estabelece o
monitoramento de micro-organismos contaminantes em moluscos bivalves por meio da
estimativa da densidade média de Escherichia coli em 100 gramas (NMP de E. coli/100g) e
os resultados desse monitoramento devem ser utilizados para orientar a retirada de moluscos
bivalves que passou a ser definida como LIBERADA; LIBERADA SOB CONDIÇÃO e
SUSPENSA.
O presente trabalho não teve como objetivo efetuar o monitoramento previsto na
referida instrução, mas sim traçar um perfil da possível situação de contaminação das ostras
produzidas em Cananéia em relação à agentes patogênicos e tóxicos que têm origem da
degradação ambiental antrópica, por isso não foi adotada a pesquisa de E. coli e sim do grupo
coliformes termotolerantes, do qual a E. coli é a grande representante (de 84% a 104%)
(CETESB, 2008).
Embora não se tenha adotado a metodologia proposta na Instrução Normativa como
um todo, a técnica utilizada baseou-se nesta para ser desenvolvida e permitiu expressar os
66
resultados precisos em NMP de Coliformes Termotolerantes/100g que possui grande
correlação com a unidade NMP de E. coli/100g.
Desta forma, foi realizada estrapolação dos valores de NMP de coliformes
termotolerantes para avaliação dos resultados quanto aos critérios de retirada previsto na
Instrução Normativa.
Assim, foi possível observar que 41,5% das amostras foram
classificadas como liberada; 39% como liberada sob condições (condicionada) e 19,5% como
suspensa. A região do Mandira foi a única que apresentou apenas um caso de suspensão e
ao mesmo tempo a que apresentou o maior número de amostras liberadas em oposição a
região da balsa que apresentou elevado número de suspensão e o menor número de
amostras liberadas, conforme representado na Figura 11.
Figura 11: Representação gráfica da distribuição das amostras quanto ao critério de retirada
de ostras para comercialização.
Esses dados indicam não somente que a região do Mandira é a mais adequada à
produção e exploração de ostras, dentre as estudadas, mas apontam também a necessidade
de fiscalização constante a fim de se garantir a comercialização do alimento inócuo à
população consumidora, pois mesmo está região considerada mais segura, em relação a
contaminação bacteriana, apresentou alguns resultados que requereriam medidas de
mitigação de risco.
Nesse mesmo sentido, Doi et. al. (2015) analisando contaminação bacteriana de
ostras em Cananéia relataram que suas amostras foram classificadas, segundo a legislação
67
vigente a época, como “liberadas sob condições”, sendo necessário passar pelo processo de
depuração antes de serem liberadas para o consumo, uma vez que demonstraram contagem
de coliformes totais variando de 0,43 a 240 NMP/g e dos termotolerantes de 0,24 a 240
NMP/g, com valores médios de 18,78 e 15,53 NMP/g, respectivamente. Os autores não
realizaram nenhuma análise comparativa entre as áreas de amostragem uma vez que todas
foram adquiridas antes de passarem pelo processo de depuração, na Cooperativa dos
Produtores de Ostras de Cananéia (Cooperostra) e ainda informam que segundo padrões
internacionais o número de coliformes nas ostras estavam inferiores aos recomendados,
apresentando-se em condições microbiológicas satisfatórias.
Foi realizada a avaliação da distribuição temporal da contaminação bacteriana, que
não revelou diferenças significativas em relação a meses ou estações do ano apesar de ser
possível verificar que existe uma tendência de diminuição da contaminação no inverno e de
aumento no final do verão início do outono, conforme pode ser observado na Figura 12.
Figura 12: Distribuição mensal da carga bacteriana em ostras por NMP/100g
Esses dados corroboram com os estudos de Doi et. al. (2015) que encontraram valores
mais elevados de NMP/g de coliformes totais e termotolerantes em ostras no mês de abril e
ainda apontaram o mês de novembro como o de menor média colimétrica, tanto para totais
quanto para termotolerantes (NMP/g) e segundo os autores densidade de micro-organismos
nos bivalves filtradores indica o nível de contaminação do momento da coleta, variando de um
animal para outro e também depende de condições ambientais, meteorológicas e da atividade
geral do organismo.
68
Barbieri et al. (2012) ao avaliarem a qualidade microbiológica das águas de cultivo de
Cananéia entre os anos de 2005 e 2011 observaram uma grande flutuação temporal na
concentração de coliformes influenciada principalmente pela dinâmica de marés e também
pelos índices pluviométricos relatando ainda que a concentração em NMP de coliformes totais
e termotolerantes tende a diminuir no inverno, o que também foi observado em relação a
contaminação de ostras nesse trabalho.
Cananéia é caracterizada por alta pluviosidade, com média anual de 2670 mm,
apresentando verão chuvoso e inverno seco, com a média máxima mensal é de 266,9 mm no
verão e no inverno de 95,3 mm. (BARBIERI et al., 2012). O fato das chuvas serem capazes
carrear esgoto e resíduos sólidos para cursos de água e estas estarem menos presentes no
inverno pode guardar correlação com índices menores de contaminação nesse período do
ano.
Ainda em avaliações da contaminação bacteriana nas águas de cultivo de Cananéia
Mignani et al. (2013) descrevem que a densidade de coliformes termotolerantes tendeu a ser
menor no outono e no inverno e maior na primavera, ainda, que não houve correlação entre
a temperatura da água e concentrações de coliformes totais e termotolerantes, possivelmente
devido a uma insuficiente gama de variação da temperatura da água e que houve uma
correlação positiva entre as densidades de coliformes totais e taxas de precipitação e que
coliformes termotolerantes aumentaram em relação à precipitação.
A qualidade da água e de bivalves foi estudada por Da Silveira Moreira et al. (2011)
em Paraty-RJ e foi observado que o NMP de coliformes totais e termotolerantes tende a ser
maior nos moluscos do que na água no verão, enquanto que no inverno os valores para ambos
coliformes são equiparáveis, relacionando esse fato ao aumento da população flutuante em
cidade litorânea na época de verão o que contribui para o aumento de despejo de esgoto.
Observou também que não houve correlação entre o índice de pluviosidade e a contaminação
do ambiente e dos moluscos analisados, provavelmente, devido à baixa pluviosidade
observada na época das coletas. Por fim, o estudo demonstrou que nos períodos de maré
baixa a concentração de coliformes foi mais alta, na água e principalmente nos bivalves,
quando comparado aos períodos de maré alta, sustentando que quando o nível da maré
abaixa, as águas correm em direção ao mar carreando maior poluição para áreas estuarinas
onde se encontram os bivalves, que concentram a contaminação decorrente dos despejos de
dejetos no ambiente, enquanto que na maré alta ocorre o contrário, a chegada de grandes
volumes de água do mar em direção ao estuário, favorecendo a diluição, e, podendo ainda
contribuir para barragem dos cursos de água contaminada.(DA SILVEIRA MOREIRA et al., 2011)
Doi et al. (2014) em um estudo da densidade colimétrica das áreas de extrativismo de
ostra em Cananéia verificaram valores de coliformes maiores na maré baixa e que os dados
colimétricos também aumentaram conforme aumentou o nível pluviométrico. No inverno,
69
constatou-se a menor média de coliformes e a menor média pluviométrica. No verão, ao
contrário, mensurou-se a maior média pluviométrica, com elevada densidade de coliformes,
concluindo que as variações ambientais influenciam nas flutuações das concentrações dos
microrganismos nos locais de produção de ostras.
Frente ao exposto uma série de fatores pode contribuir para o aumento da
contaminação, e a pluviosidade, que está intimamente ligada as estações do ano, parece
possuir grande influência no grau de contaminação do ambiente devido a sua capacidade de
arrastar resíduos orgânicos para os corpos hídricos contribuindo para o aumento da
concentração de bactérias em águas de crescimento e cultivo de moluscos.
Além disso, fatores como, salinidade, temperatura e mesmo a pluviosidade podem
influenciar também no metabolismo das ostras acarretando em um aumento ou diminuição da
taxa de filtração de água. Durante o verão esses organismos encontram-se na sua faixa de
conforto térmico e é nessa estação que reproduzem necessitando acumular reservas filtrando
mais água e assim retendo maior quantidade de patógenos (DOI; OLIVEIRA; BARBIERI,
2015)
A ocupação desordenada do solo, os loteamentos irregulares, o avanço imobiliário
sobre as regiões de mangues e restingas e a falta de saneamento básico constituem fonte
permanente de poluição do estuário por resíduos orgânicos e esgotos domésticos, tornando
alguns locais sujeitos à contaminação, principalmente em determinadas épocas do ano.
Cananéia é uma cidade de 11.000 habitantes, tendo 50% do esgoto tratado, o que torna difícil
justificar altos níveis de coliformes. A eficácia do tratamento pode ser questionada ou se pode
assumir que estes valores são naturais, no entanto, o que se faz primordial é o monitoramento
constante das condições microbiológicas em várias áreas onde há cultivo ostras para evitar
riscos para a saúde do consumidor (BARBIERI et al., 2012; MIGNANI et al., 2013; DOI;
BARBIERI; MARQUES, 2014).
O ótimo desempenho em relação a contaminação bacteriológica da região produtora
de ostras do Mandira pode a caracterizar como uma área apropriada para produção de
bivalves, de acordo com os dados do presente trabalho, no entanto a presença de amostras,
mesmo que em baixo número, com graus de contaminação que chegam a suspenção indicam
que deve ser realizado o monitoramento constante do grau de contaminação das ostras, a fim
de que se oferte ao consumidor, um alimento seguro e que se avalie as condições de
contaminação do ambiente de criação.
Considerando a região da balsa como não explorada para ostras, esses resultados
não teriam grande impacto na região em relação as questões de fiscalização, mas indicam
que as condições de contaminação da região são elevadas o que pode repercutir na vida
marinha local e mesmo na contaminação de outras áreas.
70
Por outro lado, as análises de ostras das regiões da Ilha da Casca e da Ponte que,
possuem exploração de ostras para comércio e consumo local, mesmo que de forma menos
expressiva, levaram à classificação da maioria das amostras como Liberada Sob Condição e
Suspensa, isso revela que as referidas regiões sofrem influencias de contaminações humanas
que podem comprometer a inocuidade dos alimentos produzidos ali, o que requer maiores
cuidados e controles para utilização dessas áreas em produção de ostras.
Fato primordial para garantia de que medidas adequadas de mitigação do risco de
veiculação de doenças por esses alimentos sejam efetivamente adotadas é a implantação de
fiscalização de cultivos, beneficiamento (depuração) e do comércio de bivalves. No entanto,
é fato que praticamente a totalidade dos cultivos, inclusive o do Mandira, funciona sem
fiscalização e o comércio desses animais também se dá de forma clandestina, o que aumenta
o risco para população.
71
5.2
ANÁLISES VIRAIS
As análises virais se iniciaram com o processamento do tecido digestivo das ostras
seguido da extração do RNA e posterior amplificação e revelação por RT-qPCR.
Como controle do protocolo de extração, as amostras de RNA extraído foram testadas
em reação de PCR para o gene β-actina um “housekeeping gene”, que serve de marcador de
células eucarióticas que dificilmente sofre alteração na sua expressão.
O protocolo de extração foi considerado válido (Figura 13) tendo em vista que as
amostras apresentaram banda de 636pb, conforme esperado.
Figura 13: Eletroforese em gel de agarose corado com GelRed™ revelando resultado da
RT-PCR para gene β-actina.
Coluna PM: padrão de peso molecular (ladder 100pb); Colunas 1-11: amostras testadas;
Coluna 12: controle positivo do kit SuperScript III Reverse Transcriptase (He-la); Coluna 11:
controle negativo.
Para realização da RT-qPCR foi construída uma curva padrão para cada vírus e nesta
etapa foram avaliados três protocolos com reagentes (Master Mix) diferentes. A seguir estão
registrados os resultados obtidos na avaliação da eficiência de cada protocolo.
As Figuras 14 e 15 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
DNA Express Biotecnologia® para reação de detecção do vírus da hepatite A, onde a primeira
apresenta o perfil logarítmico da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de
concentração decrescente do vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
72
Figura 14: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência
emitida durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no
protocolo com reagente marca DNA Express Biotecnologia®.
Figura 15: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca DNA Express Biotecnologia®.
As Figuras 16 e 17 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
DNA Express Biotecnologia® para reação de detecção do norovírus, onde a primeira
apresenta o perfil logarítmico da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de
concentração decrescente do vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
73
Figura 16: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no
protocolo com reagente marca DNA Express Biotecnologia®.
Figura 17: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca DNA Express Biotecnologia®.
74
As Figuras 18 e 19 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
Roche® para reação de detecção do vírus da hepatite A, onde a primeira apresenta o perfil
logarítmico da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de concentração
decrescente do vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
Figura 18: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no protocolo
com reagente marca Roche®.
Figura 19: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca Roche®.
75
As Figuras 20 e 21 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
Roche® para reação de detecção do norovírus, onde a primeira apresenta o perfil logarítmico
da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de concentração decrescente do
vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
Figura 20: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no
protocolo com reagente marca Roche®.
Figura 21: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca Roche®.
76
As Figuras 22 e 23 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
Invitrogen® para reação de detecção do vírus da hepatite A, onde a primeira apresenta o perfil
logarítmico da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de concentração
decrescente do vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
Figura 22: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para HAV no protocolo
com reagente marca Invitrogen®.
Figura 23: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para HAV com
reagente marca Invitrogen®.
77
As Figuras 24 e 25 constituem o resultado obtido na avaliação do reagente da marca
Invitrogen® para reação de detecção do norovírus, onde a primeira apresenta o perfil
logarítmico da absorbância, durante cada ciclo, na confecção de curva de concentração
decrescente do vírus alvo e a segunda a curva padrão de eficiência da reação.
Figura 24: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para uma curva de concentração decrescente para Norovírus no
protocolo com reagente marca Invitrogen®.
Figura 25: Curva padrão de eficiência do protocolo de PCR em tempo real para Norovírus
com reagente marca Invitrogen®.
78
A observação do perfil de absorbância emitida e do perfil de eficiência das curvas
padrão para cada reagente permite inferir que os reagentes da marca Invitrogen®
apresentaram melhor performance do que os demais, o que pode ser constatado de forma
mais expressiva na Tabela 8, onde estão tabulados os dados de desempenho das curvas
(inclinação da curva; intercepto com eixo Y; linearidade; eficiência e Ct médio inicial e final),
para cada um dos reagentes avaliados.
Tabela 8: Avaliação do desempenho dos protocolos com os diferentes reagentes testados.
Reagentes
Agente
DNA Express
Biotecnologia®
Norovírus
Roche®
Invitrogen®
HAV
HAV
Norovírus
HAV
Norovírus
Inclinação
da curva
(Slope)
Intercepto
com eixo
Y
-3,88
-1,53
-2,62
-1,47
-3,49
-3,34
32,2
27,15
40,91
34,66
36,70
37,47
Lineariadade
(R2)
0,96
0,51
0,92
0,71
0,99
0,99
Eficiência
(%)
81,1
350,53
140,47
377,00
93,56
99,31
Ct médio
Inicial /Final
17,5/32,9
22,5/28,8
30,8/41,5
28,8/34,1
19,1/33,3
24,3/34,6
Analisando os resultados tabulados para cada um dos reagentes avaliados, o
desempenho do SuperScript III Platinum One-Step Quantitative RT-PCR System, Invitrogen®
foi o mais adequado para as análises pretendidas. Acredita-se que isto está relacionado ao
fato do equipamento utilizado ser o StepOnePlus™ Real-Time PCR System da marca Thermo
Fisher Scientific, mesmo conglomerado que fabrica o Master Mix.
Tendo sido definido o protocolo a ser utilizado todas as amostras foram avaliadas
quanto a presença de Vírus da Hepatite A e Norovírus GII separadamente.
Nenhuma amostra testada foi positiva para Vírus da Hepatite A, enquanto 15 amostras
do total de 82 foram positivas para Norovírus GII (18,3%) (Figura 26). Estando estas amostras
positivas distribuídas em todas as áreas de amostragem: Mandira, 03 amostras (n=21;
14,3%); Ilha da Casca, 03 amostras (n=21; 14,3%); Ponte, 07 amostras (n=20; 35%) e Balsa,
02 amostras (n=20; 10%), conforme tabulado na Tabela 9.
79
Figura 26: Curva de amplificação exibindo o perfil logarítmico da fluorescência emitida
durante cada ciclo para as amostras positivas para Norovírus.
80
Tabela 9: Resultado da análise qualitativa por RT-qPCR para as amostras testadas para
Norovírus.
Data de
Colheita
Locais de Colheita
Mandira
Ilha da Casca
Ponte
Balsa
13/01/2015
NEG
Nt
Nt
Nt
27/01/2015
NEG
NEG
NEG
Nt
10/02/2015
Nt
NEG
Nt
NEG
24/02/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
10/03/2015
NEG
NEG
POS
NEG
24/03/2015
NEG
NEG
POS
NEG
07/04/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
21/04/2015
NEG
NEG
POS
NEG
05/05/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
19/05/2015
POS
NEG
NEG
NEG
02/06/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
16/06/2015
NEG
NEG
POS
NEG
30/06/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
14/07/2015
POS
POS
POS
POS
28/07/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
11/08/2015
NEG
POS
NEG
NEG
25/08/2015
NEG
NEG
POS
NEG
15/09/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
06/10/2015
NEG
NEG
NEG
NEG
02/11/2015
POS
NEG
NEG
POS
03/12/2015
NEG
POS
POS
NEG
05/01/2016
NEG
NEG
NEG
NEG
% de Positivos
14,3%
14,3%
35%
10%
NEG = Negativo; POS = Positivo; Nt = Não testado.
81
Frente aos dados obtidos é possível notar que mesmo a região considerada mais limpa
como a reserva do Mandira apresentou resultados positivos para Norovírus GII, o que mostra
a capacidade de dispersão desses agentes por via hídrica e sua elevada resistência as
condições ambientais. Esse resultado alerta para inclusão de agentes virais no escopo de
monitoramento de condições higiênico-sanitárias de moluscos bivalves.
Outro aspecto importante a ser destacado é que não foi possível estabelecer
correlação entre a contaminação bacteriana e a viral, uma vez que, a área que apresentou
maior contaminação bacteriana (Balsa) foi aquela que apresentou menor índice de
contaminação viral, ao mesmo tempo que uma outra área também com contagem eleva de
coliformes termotolerantes (Ponte) apresentou alto índice de contaminação viral. Nesse
mesmo sentido, ainda se observou que a área de menor contaminação bacteriana (Mandira)
apresentou índice de contaminação viral idêntico a área de contaminação bacteriana
intermediária alta (Ilha da Casca).
Os Indicadores bacterianos clássicos não são eficientes em prever o risco de agentes
patogênicos, como vírus. A presença e os níveis de indicadores bacterianos nem sempre se
correlacionam com a presença e concentração de vírus, especialmente quando estes estão
presentes em baixas concentrações. Indicadores bacterianos são mais sensíveis à inativação
por meio de processos de tratamento da água e pela luz solar do que os vírus, eles não têm
uma fonte fecal exclusiva e eles podem se multiplicar em alguns ambientes, o que dificulta a
correlação de dados (RODRIGUEZ-MANZANO et al., 2014)
Por tanto, deve-se incluir no monitoramento das ostras para consumo humano a
pesquisa de vírus e de indicadores de contaminação fecal para garantir a qualidade sanitária
e menor risco de contaminação das pessoas.
Fusco et al. (2013) pesquisaram agentes bacterianos e virais em bivalves da Itália,
verificaram ausência de Salmonella spp. e vírus de hepatite A e presença de Norovírus e E.
coli e relataram que não existe previsão de ser inserido na legislação italiana cláusula sobre
a pesquisa de vírus para bivalves comestíveis e que por não existir correlação entre bactérias
indicadoras de contaminação fecal e a contaminação por vírus é impossível avaliar o risco de
exposição a população aos vírus de forma indireta pela avaliação de Salmonella spp. e E.
coli.(FUSCO et al., 2013)
Os relatos de Fusco et al. (2013) corroboram a situação encontrada pelo presente
trabalho, uma vez que foi encontrado norovírus contaminando moluscos sem relações com o
grau de contaminação bacteriana e que não existe, até o momento legislação que comtemple
a pesquisa viral em bivalves, o que vulnerabiliza a população que consome esses alimentos.
Até o momento, não existem dados que possam confirmar que todos os bivalves
contaminados por vírus irão causar infecção nos consumidores. O desenvolvimento de uma
infecção viral vai depender de uma série de fatores, entre os quais os seguintes: 1) a carga
82
viral presente no alimento, 2) a forma como o alimento é processado, o que pode ajudar a
inativar o vírus, 3) a estabilidade do vírus durante o processamento, 4) a dose infecciosa do
vírus, e, obviamente, 5) da susceptibilidade do consumidor, quase todos os fatores são iguais
para todos menos a resposta individual do consumidor e a dose infecciosa que para norovírus
e, particularmente, do HAV é muito baixa (ROVIRA et al., 2012).
Norovírus é o vírus mais frequentemente implicado como agente etiológico de casos
esporádicos e surtos em comunidades de gastroenterites virais associadas como o consumo
de moluscos contaminados com poluição fecal (CAMPOS; LEES, 2014).
Os dados obtidos nesse trabalho concordam parcialmente com trabalho de Leal Diego
et al. (2013) sobre qualidade sanitária de bivalves em Cananéia usando um sistema de
depuração baseado em UV. Ostras e água foram analisadas para diversos agentes, dentre
eles os vírus: adenovírus, Vírus da Hepatite A e Norovírus GI e GII. O referido trabalho
demostrou em ostras da região do Mandira, uma maior prevalência de adenovírus e também
relatou a presença de Norovírus GI na mesma região e por fim relatou a presença de Vírus
da hepatite A, que não foi observado neste trabalho e de Norovírus GII, também observado
no presente trabalho em ostras de tanques de depuração de Cananéia
(LEAL DIEGO et al., 2013).
Souza et al. (2012) pesquisando vírus e outros agentes em ostras e água em
Florianópolis-SC relataram a presença de adenovírus, Norovírus GI e GII, Vírus da hepatite A
e JC poliomavírus, sendo o adenovírus o mais prevalente e norovírus GII e vírus da hepatite
A somente encontrados em ostras. (SOUZA et al., 2012)
La Rosa et al. (2012) avaliaram a presença de vírus entéricos: norovírus, adenovírus,
enterovírus, astrovírus, vírus da hepatite A e E em bivalves por nested PCR e cultivo celular,
encontrando nas amostras norovírus GII(4) e GIV(1), adenovítus tipo 1 e 2, vírus da hepatite
A e echovírus tipo 7 inclusive em co-contaminação, sendo o norovírus o mais frequente.
Os moluscos bivalves são filtradores que concentram o material particulado presente
em grandes quantidades de água que filtram diariamente, a fim de obter alimento. Este
material em partículas pode conter protozoários, bactérias e vírus que infectam os seres
humanos se as águas de cultivo contêm matéria fecal de origem humana. Embora os agentes
patogénicos estejam diluídos na água, depois da filtragem, moluscos bivalves concentram os
vírus nos seus tecidos, especialmente nos tecidos digestivos. Atualmente, não existe nenhum
tratamento cem por cento eficaz na eliminação de vírus a partir de tecidos de moluscos
bivalves, e os mais eficazes prejudicam as propriedades sensoriais dos bivalves. Por
conseguinte, a prevenção de infecção associados com o consumo de bivalves significa
controlar as águas de cultivo. No entanto, os critérios microbiológicos clássicos baseados em
valores de E. coli na água ou no tecido bivalve não garantem completa ausência de vírus nos
bivalves (ROVIRA et al., 2012).
83
A contaminação viral de bivalves é um sério problema e vem sendo descrita em
diferentes moluscos bivalves no mundo. Atualmente são conhecidos ligantes específicos em
ostras para norovírus e que a expressão desses ligantes possuem grande impacto na
bioacumulação desses agentes o que agrava a situação epidemiológica desses veiculadores
(BENABBES et al., 2013)
Significativas quantidades de norovírus pode ser introduzido no ambiente marinho a
partir das descargas de esgoto, provenientes de fossas sépticas e por transbordamento de
alguns sistemas. As descargas podem ser introduzidas diretamente nas águas de crescimento
dos bivalves ou em cursos de água mais elevados. Estirpes clínicas de norovírus (GI e GII)
rastreados em amostras ambientais demonstraram claramente as ligações entre norovírus em
esgoto, água doce, e moluscos bivalves e doenças gastrointestinais (CAMPOS; LEES, 2014).
Melhorias das condições de saneamento básico, assim como práticas de higiene
adequadas constituem medidas preventivas importantes contra infecções pelo norovírus,
principalmente pela ausência de tratamento específico ou vacina disponível comercialmente
(PRADO; MIAGOSTOVICH, 2014).
84
5.3
ANÁLISES DE METAIS
Nas amostras de ostras foi pesquisada a concentração do metais Chumbo, Cádmio,
Zinco e Cobre por meio de espectrometria de absorção atômica.
A precisão na recuperação de metais pela técnica utilizada, com base na análise de
ostras adicionadas de padrões conhecidos, revelou porcentagens médias de recuperação de
95%, 96%, 98% e 103% para chumbo, cádmio, cobre e zinco.
Nas Figuras 27, 28, 29 e 30 estão apresentadas as curvas de calibração traçadas
com padrões monoelementares para Zinco, Cobre, Cádmio e Chumbo, respectivamente, onde
ainda constam os seus coeficientes de linearidade (R²) e equação da reta.
Com base na equação da reta de cada uma das curvas, onde “x” representa a
concentração e “y” a absorbância, foi possível calcular as concentrações de cada um dos
metais analisados, para cada conjunto de amostra de ostras. Substituindo-se “y” pelos valores
de absorbância encontrados nas leituras de cada amostra determinou-se a concentração
inicialmente em mg/L e posteriormente em mg/kg, em base seca e base úmida, a partir dos
registros das pesagens de cada conjunto de amostra antes (peso úmido) e depois (peso seco)
da secagem do material.
Figura 27: Curva de calibração para Zinco.
85
Figura 28: Curva de Calibração para Cobre.
Figura 29: Curva de Calibração para Cádmio.
86
Figura 30: Curva de Calibração para Chumbo.
.
Calculou-se a média, desvio-padrão, valor máximo e valor mínimo em ppm, em base
úmida, para cada metal pesquisado, considerando todas as amostras e os resultados podem
ser observados na Tabela 10.
Tabela 10: Avaliação das concentrações obtidas na determinação dos diferentes metais, em
ppm, em base úmida.
Parâmetro
Chumbo
Cádmio
Cobre
Zinco
Média
0,268
0,061
3,17
453,6
Desvio Padrão
0,156
0,013
1,06
144,8
Valor Máximo
0,535
0,091
6,20
820,4
Valor Mínimo
ND
0,041
2,04
301,0
n= 20
*ND = Não detectado
Com base na Resolução RDC Nº 42 de 29 de agosto de 2013 da ANVISA, que estipula
como valores máximos permitidos para bivalves de ârsenio em 1,00mg/kg , chumbo em
1,50mg/kg, cádmio em 2,00mg/kg e mercúrio em 0,50mg/kg, foi possível observar que os
valores médios, assim como os valores máximos de chumbo (0,268mg/kg e 0,535mg/kg,
respectivamente) e cádmio chumbo (0,061mg/kg e 0,091mg/kg, respectivamente)
abaixo dos limites fixados.(BRASIL, 2013).
estão
87
Em relação aos teores de cobre e zinco foi tomado como base o Decreto nº 55.871,
de 26 de março de 1965 que estabelece como limite máximo em alimentos 30mg/kg de cobre
e 50mg/kg de zinco. Desta forma observa-se que os valores de cobre estão abaixo do limite
fixado, contudo para o zinco o valor mínimo encontrado nas amostras supera o limite fixado
em seis vezes. (BRASIL, 1965).
A Figura 31 representa as concentrações de zinco para cada conjunto de amostras
(período) nas diferentes áreas de amostragem. Não foi observada diferença significativa entre
as concentrações nas áreas de amostragem ou quanto ao período de amostragem.
Figura 31: Concentração de zinco nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada.
Dados semelhantes ao do presente trabalho foram relatados por Machado et al.
(2002), que ao pesquisarem ostras de diferentes pontos de Cananéia (Mandira, Itapitangui,
Porto e Retiro), encontraram valores máximos de zinco 844 ppm e médios de 402ppm, sem
qualquer
diferença
entre
pesquisadas..(MACHADO et al., 2002)
as
concentrações
entre
as
diferentes
localidades
88
Barros e Barbieri (2012) no entanto, relataram concentrações de zinco em valores
dentro do limite fixado de 50ppm, em trabalho desenvolvido com ostras de quatro regiões de
Cananéia (Mandira, Ilha da Casca, Itapitangui e Retiro).
Rojas et al. (2007) pesquisando zinco em ostras em São Luís do Maranhão
encontraram valores de zinco muito acima do estabelecido na legislação, o que corrobora com
os achados do presente trabalho. Os autores afirmam ainda que o elevado teor de zinco nas
ostras se deve às suas necessidades metabólicas por este metal, uma vez que, nestes
organismos, o zinco é requerido em grandes concentrações para o seu metabolismo, mas
ressalvam que o zinco, se consumido por pessoas em concentrações elevadas pode
determinar vários efeitos tóxicos, como congestão, edemas, náuseas, diarreia, cólicas,
choque e pneumonia; mas que, no entanto, a deficiência deste metal pode ocasionar atraso
no crescimento.
Segundo Galvão et al. (2009), o zinco é um metal essencial constitutivo de proteínas
e enzimas como carbopeptidase A e B e anidrase carbônica, sendo bioacumulados em
concentrações extremamente altas em tecidos de ostra sem que o organismo indique sinal de
toxicidade aparente e que por isso é difícil avaliar a contaminação ambiental através dos
dados de bioacumulação deste elemento em bivalves.(GALVÃO et al., 2009)
Desta forma, a presença significativa de zinco nas ostras é um dos fatores que
aumentam seu valor nutritivo em relação a outras fontes alimentares. O consumo de ostras
pode, desta forma, contribuir para a melhoria do estado nutricional dos indivíduos na medida
em que repõe os estoques de zinco necessários ao bom funcionamento do organismo
(CAVALCANTI, 2003)
As concentrações de cobre, cádmio e chumbo para cada conjunto de amostras
(período) nas diferentes áreas de amostragem, estão representadas nas figuras 32, 33 e 34
respectivamente. Não foram observadas diferenças significativas entre as concentrações nas
áreas de amostragem ou quanto ao período de amostragem.
89
Figura 32: Concentração de cobre nos diferentes períodos de amostragem para cada região
amostrada.
Figura 33: Concentração de cádmio nos diferentes períodos de amostragem para cada
região amostrada.
90
Figura 34: Concentração de chumbo nos diferentes períodos de amostragem para cada
região amostrada.
Cavalcanti (2003) estudando contaminação de metais em ostras comercializadas em
Recife-PE encontrou valores médios de cobre próximos aos descritos no presente trabalho e
sustentou que os valores encontrados não implicam em riscos imediatos à saúde, de forma
que, em relação ao suprimento das necessidades diárias destes elementos, o consumo de
ostras é recomendado.
Em contraponto, Rojas et al. (2007) identificaram em ostras de São Luís valores de
cobre muito acima do estabelecido pela legislação brasileira e sustentaram que a ingestão do
cobre em concentrações superiores ao limite máximo permissível pela legislação brasileira
pode provocar intoxicação grave com aparecimento de vômitos, icterícia, coma, hipertensão,
entre outros. Cerca de 40% a 70% do cobre ingerido oralmente são retidos no organismo,
sendo o restante eliminado através das fezes e urina.
(ROJAS et al., 2007)
Machado et al. (2002) relataram valores comparáveis aos obtidos neste trabalho e
também não observa, assim como o presente, diferenças entre as distintas áreas de
amostragem. O mesmo autor descreve concentrações de cádmio e chumbo que corroboram
com os achados desse trabalho, tendo para esse último elemento relatado valores mais baixos
do que os aqui descritos, mas que, contudo, permanecem dentro dos limites estabelecidos na
legislação. Descreve ainda que os valores encontrados para chumbo na localidade do
Mandira são significativamente menores do que das do Porto e Retiro e para cádmio a
91
concentração no Retiro é significativamente menor do que em Mandira, o que não foi
observado neste trabalho. (MACHADO et al., 2002)
Barros e Barbieri (2012) não detectaram cádmio em ostras colhidas em Cananéia e
observaram concentração média de chumbo em ostras bastante semelhante a descrita no
presente trabalho e desta forma, dentro dos limites estabelecidos na legislação. Ainda
descreveram que o Pb, em relação a outros estudados (Zn, Ni, Cu e Cd), foi o mais
predominante metal encontrado em sedimentos dos pontos amostrados (Mandira, Ilha da
Casca, Itapitangui e Retiro) e que a concentração nas ostras foi praticamente o dobro, para o
referido metal, quando comparada a concentração encontrada nos sedimentos, destacando
que estes animais estão bioacumulando o Pb, tornando-se motivo de preocupação ambiental
e de saúde pública.
(BARROS; BARBIERI, 2012)
O Complexo Estuarino-lagunar de Iguape e Cananéia mostra ao longo de anos ser
uma região que não apresenta teores metais pesados em águas e sedimentos capazes de
comprometer o ecossistema, embora já se tenha detectado a presença de níveis elevados de
Pb em pontos do Vale do Ribeira, especialmente na região norte, devido a atividades
mineradoras, as quais poderiam contribuir de maneira significativa para contaminação do
complexo estuarino de Cananeia localizado no setor sul, principalmente no que se diz respeito
ao Pb. No entanto, notadamente a contaminação tende a decair gradualmente ao longo do rio
até a sua desembocadura, pelo efeito da diluição o que, por sua vez diminui o impacto na
região estuarina (MACHADO et al., 2002; BARROS; BARBIERI, 2012).
Devido à interação dos bivalves com o sedimento de manguezais e sua forte
capacidade de regularem a concentração interna de elementos essenciais a partir de
quantidades crescentes no ambiente, eles podem ser considerados ótimos biomonitores
ambientais para contaminação por metais pesados, todavia, devido à importância das ostras
na alimentação, a avaliação dos teores de metais assume papel de vital importância social
(BARROS; BARBIERI, 2012).
Os metais, quando presentes em elevadas concentrações, apresentam toxicidade
tanto no organismo humano quanto no animal, mas não somente quando em concentrações
elevadas, pois teores de metais abaixo do estabelecido por agências internacionais também
vêm sendo associadas a problemas à saúde humana. Baixas concentrações de chumbo e
cádmio foram associadas ao aumento da prevalência de doença arterial periférica. Diversos
outros problemas de saúde como perda de memória, déficit de atenção, distúrbios sensoriais,
problemas nos sistemas motor, renal, cardiovascular, imune e reprodutivo, doença de
Alzheimer e de Parkinson, entre outros, vem sendo associados a baixas concentrações de
mercúrio em alimentos (DA SILVA FERREIRA et al., 2013).
Atualmente a legislação de monitoramento de bivalves não prevê a pesquisa dos
teores de metais pesados nesses animais, no entanto a Instrução Normativa Nº 42 de 20 de
92
dezembro de 1999 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que versa sobre o
controle de resíduos em Produtos de Origem Animal, prevê a análise fiscal de metais pesados
para pescado, grupo no qual os bivalves estão inseridos, embora exista essa previsão a
realidade de análises não permite uma avaliação da real situação dos bivalves, tendo em vista
que o grupo pescado é muito grande, envolvendo diversas espécies, ficando os bivalves
diluídos nesse grupo, assim considerando que esses animais pelas suas características
fisiológicas possuem maiores riscos, é plausível que a legislação de monitoramento da
qualidade higiênico-sanitária de bivalves agrupe todos os perigos relacionados ao seu
consumo e que essas análises possuam periodicidade proporcional ao seu risco. (BRASIL, 1999)
E tendo em vista que, especificamente quanto aos metais pesados em ostras,
determinação de suas concentrações permite avaliar de forma direta os riscos de exposição
da população a estes agentes tóxicos, além de informar quanto à distribuição destas
substâncias no ambiente conforme defendido por Galvão et al., (2009), é primordial que
análises de metais esteja no escopo analítico de um programa de monitoramento previsto em
legislação.(GALVÃO et al., 2009)
5.4
LEGISLAÇÃO VIGENTE FRENTE AOS RESULTADOS OBTIDOS
As exigências dos consumidores por alimentos mais seguros e ambientalmente
sustentáveis aumentam a cada dia, ao mesmo passo que também aumentam a produção e o
consumo dos produtos da aquicultura, que possui na ostreicultura é um dos ramos com
relevante papel socioeconômico-ambiental, pois garante renda e alimentos aos ostreicultores;
movimenta mercados e preserva os ecossistemas.
Considerando a capacidade de filtração e retenção de partículas que é característica
fisiológica dos moluscos bivalves e a crescente degradação antrópica do ambiente, fica claro
que há necessidade de monitoramento de perigos químicos e biológicos que coloquem em
risco a saúde do consumidor.
Neste trabalho foi identificada a presença de coliformes termotolerantes acima dos
limites estabelecidos na legislação vigentes, bem como a presença de norovírus GII, que não
possuem limites estabelecidos na legislação, em várias amostras de diferentes regiões de
extração e engorda de ostras do município de Cananéia-SP, situação também já descrita por
outros autores, conforme já citado anteriormente.
O vírus da hepatite A também pesquisado não foi encontrado em nenhuma amostra e
os teores de metais pesados das amostras se mantiveram dentro dos limites estabelecidos
93
na legislação com exceção ao zinco que apresentou valores extremamente elevados, porém
este fato é considerado normal por se tratar da fisiologia do animal.
A identificação de agentes patogênicos com grande impacto na saúde da população
em ostras, mesmo as provenientes de locais de preservação, acentua a necessidade de
monitoramento e fiscalização da qualidade higiênico-sanitária desses animais e mesmo a não
identificação de algum agente ou identificação dentro dos padrões não extingue a
necessidade de pesquisa, apenas indica que devem ser realizadas dentro de uma análise de
risco, onde aquele perigo com maior probabilidade de ocorrência deve ser monitorado com
frequência mais elevada.
Nesse sentido, uma vez que para atuação da fiscalização são necessárias legislações
robustas e atualizadas a fim de garantir execução precisa e coerente que cumpra o papel de
proteger a saúde da população, se faz necessária a atualização constante da legislação
vigente, a qual atualmente não prevê a pesquisa de outro agente que não a bactéria E. coli
como indicador de inocuidade dos bivalves, mesmo com diversos estudos mostrando a
importância da pesquisa de outros agentes como por exemplo, os vírus, o que ficou
demonstrado neste trabalho.
Além do constante monitoramento e da fiscalização é importante o desenvolvimento
de políticas públicas no sentido de fornecer educação sanitária e ambiental para população,
tendo em vista que a contaminação aqui abordada é reflexo da atividade humana sobre o
ambiente, além do desenvolvimento e ampliação das redes de saneamento básico, bem como
políticas de desenvolvimento para o produtor, para que o mesmo possa produzir com
qualidade e ofertar o alimento inócuo que a população deseja, e ser recompensado por isso.
Portanto, a presença de agentes patogênicos em ostras que se destinam a
alimentação da população, demonstrada no presente trabalho, é uma forte evidência da
necessidade de aprimoramento da legislação, da fiscalização e do controle higiênico-sanitário
de moluscos bivalves, assim como é um indicativo de que a degradação do ambiente possui
sérios reflexos nos alimentos nele produzidos.
94
6 CONCLUSÃO
 A ostreicultura ao mesmo tempo que possui importante papel socioeconômicoambiental sofre a pressão de fornecer alimentos inócuos a população.
 Nas ostras de Cananéia foram identificados contaminantes biológicos como coliformes
termotolerantes e norovírus GII, mesmo em áreas de reserva ambiental.
 O vírus da hepatite A não foi identificado em nenhuma amostra, bem como não foram
observados teores de metais (Cu, Pb e Cd) acima dos valores estabelecidos na
legislação.
 Os valores de Zn encontrados estão acima dos limites estabelecidos, no entanto estão
de acordo com o metabolismo normal das ostras.
 Ficou evidenciado que a fiscalização e o monitoramento da qualidade higiênicosanitária dos bivalves se fazem necessários.
 O monitoramento deve ser feito em relação a uma análise de risco de ocorrência.
 A legislação necessita de robustez e atualização para execução precisa e coerente no
seu papel de proteger a população.
 Necessidade do desenvolvimento de políticas públicas no sentido de fornecer
educação sanitária e ambiental a população e políticas voltadas ao produtor.
95
7
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104
8
APÊNDICES
Anexo 1: Tabela de Número Mais Provável (NMP) de E. coli para métodos de múltiplos tubos
usando 5 tubos com 1g; 5 tubos com 0,1g e 5 tubos com 0,01g.
1g
0,1g
0,01g
MPN/100g
0
0
0
<20
0
1
0
20
0
2
0
40
1
0
0
20
1
0
1
40
1
1
0
40
1
1
1
60
2
0
0
50
2
0
1
70
2
1
0
70
2
1
1
90
2
2
0
90
2
3
0
120
3
0
0
80
3
0
1
110
3
1
0
110
3
1
1
140
3
2
0
140
3
2
1
170
3
3
0
170
4
0
0
130
4
0
1
170
4
1
0
170
4
1
1
210
4
1
2
260
4
2
0
220
5
0
0
230
Categoria
Categoria A
(<230 E. coli)
105
4
2
1
260
4
3
0
270
4
3
1
330
4
4
0
340
5
0
1
310
5
0
2
430
5
1
0
330
5
1
1
460
5
1
2
630
5
2
0
490
5
2
1
700
Categoria B
5
2
2
940
(>230 E. coli)
5
3
0
790
(<4600 E. coli)
5
3
1
1100
5
3
2
1400
5
3
3
1800
5
4
0
1300
5
4
1
1700
5
4
2
2200
5
4
3
2800
5
4
4
3500
5
5
0
2400
5
5
1
3500
5
5
2
5400
5
5
3
9200
Categoria C
5
5
4
16000
(>4600 E. coli)
5
5
5
>18000
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