ECONOMIA & CONJUNTURA Só nos faltava mais esta crise novamente à beira de uma crise de proporções potencialmente desastrosas. Alguns dos mais renomeados analistas da atualidade explicam como o mundo - e Portugal - poderá escapar O mundo encontra-se Texto Fabiane Stefano e Giuliana Napolitano/EXAME/Editora Abril, fnfografla Carlos Paes o Em tempos de incerteza na economia mundial, toda a espécie de solução, estatística e tendência emerge na tentativa de elucidar uma cena em franca mutação. Para alguns, estamos às portas do inferno; para outros, a vida segue o curso de sempre. Não raramente, trata-se apenas de uma profusão de opiniões que mais escondem do que iluminam o futuro que temos pela frente. É nesta altura que o conhecimento e a experiência de algumas mentes privilegiadas podem ajudar a separar o concreto do que não passa de vapor, o irrelevante (ou o enviesado) do que realmente pode mudar a configuração da economia mundial. A EXAME (edições brasileira e portuguesa) entrevistou alguns dos mais influentes economistas e analistas financeiros da atualidade. Nessa lista figuram nomes como o economista americano Jeffrey Sachs, talvez a personalidade mais popular da elite académica mundial, Barry Eichengreen, um dos mais respeitados ecobnomistas e analistas em assuntos cambiais, e o investidor Jim Rogers. Os economistas portugueses Sérgio Rebelo, Ricardo Reis e Daniel Bessa também foram ouvidos sobre a situação específica do nosso país. Nas páginas que se seguem, eles falam dos vários desdobramentos da crise na Europa, epicentro da turbulência, explicam como a cambaleante economia americana pode reagir e quais os impactos mais prováveis para os países emergentes. No final, os especialistas convergem para uma opinião comum. Ainda c possível encontrar uma solução que afaste o mundo do caos. 7 Europa Vice-presidente da Black ßock, maior gestora de ações do mundo, administra ativos no valor de 3,6 biliões de dólares Uma das menores economias da União Europeia, o destino da Grécia será a diferença entre a disseminação da crise no mundo ou não. Com um endividamento de 340 mil milhões de euros, o país tem vivido à beira da insolvência e a única forma de o evitar seria um acordo dos países mais ricos do continente para salvar. Para analistas como Bob Doll, Jim O'Neill, Barry Einchengreen, Jeffrey Sachs e Lupin Rahman, o mais provável é a ocorrência dessa solução organizada (as entrevistas decorreram antes do acordo de resgate a que os países da zona curo chegaram com a Grécia, através do qual se reduz em cerca de um terço a dívida grega, e da posterior decisão do ex- primeiro- ministro George Papandreu de realizar um referendo ao pacote de ajuda). A decisão tem custos políticos elevados em países como a Alemanha, mas não há outra via para os líderes europeus senão a de serem audaciosos numa solução que não ponha em risco 50 anos de construção da União Europeia. Í Economista-chefe do banco americano Goldman Sachs e criador do acrónimo BRIC Qual é o futuro da Grécia e de outros Professor da Universidade em Berkeley, ex-assessor do FMI e um dos maiores especialistas em crises cambiais da Califórnia, países com problemas nas respetivas dívidas soberanas? Bob Doll O que está claro é que a Grécia não tem fornia pagar as suas contas. E o mundo inteiro sabe disso. Certamente haverá um incumprimento. A questão é se isso se dará como uma reestruturação organizada ou caótica. A saída organizada está a ser negociada pelas autoridades europeias, que têm trabalhado juntas para encontrar a melhor forma de transi ção. Nesse caso, injetariam recursos para manter a liquidez no sistema financeiro essa passagem. No cenário bastante mais severos que os de Espanha, de Itália e de Portugal. Esses três países têm muitos ativos que poderiam ser vendidos e, com o tempo, cobrir seus endividamentos. Isso não significa que o episódio grego não vai contaminar os outros. Por isso é preciso adotar uma solução organizada. Uma das coisas que o Banco Central Euro- peu (BCE) poderia fazer era comprar títulos de dívida dos países com mais problemas. O BCE também poderia garantir os depósitos dos bancos para evitar que haja uma corrida bancária. Há várias maneiras de lidar com esse problema, mas nenhu- e administrar ma delas é fácil politicamente. mais caótico, as autoridades saem de cena e o incumprimento é oficializado. Nesse caso, bancos precisarão ser capitalizados Em caso de incumprimento na Crécia, há risco de uma nova crise financeira global? ou até mesmo nacionalizados. Creio que há uma probabilidade bastante elevada de se chegar a uma solução organizada. Os problemas na Grécia são Jim O'Neill - Sim, existe o risco de colapfinanceiro. Potencialmen- so do sistema te pode ser tão mau como foi em 2008, durante a crise do banco Lehman Bro- Em busca de articulação, os líderes europeus (na foto, Pedro Passos Coelho com a Angela Merkel) negoceiam para evitar o caos económico e a economia do país entraria em recessão. Além disso, a Alemanha investiu 50 anos para construir a União Europeia. E o bloco não resistiria a um cenário em que os alemães abandonassem unilateralmente a moeda comum. Os governantes europeus parecem não se entender. O processo político põe em risco o projeto da União Europeia? Jeffrey Sachs - Existe, claramente, uma perda de vontade política em relação ao projeto comum. O que é um erro gravíssimo a essa altura, porque enfraquece os esforços para a busca de uma solução conjunta. A União Europeia é um bloco que Mas cada país une 27 Estados-membros. está cuidar da sua política doméstica. Nes- entram interesses eleitorais e económicos diferentes. completamente Mas acho improvável que os países optem por voltar aos dias em que a União Europeia não existia. São mínimas as hipóteses de o curo implodir ou a União Europeia se dissolver. Isso só aconteceria num improvável cenário de falha completa do prose arranjo, cesso político. thers. As consequências para a economia global seriam muito danosas. E veja: toda a gente está a discutir a Grécia, mas a Itália A zona do curo pode desmoronar-se, também está numa situação muito precária. Nesse sentido, um incumprimento da Grécia levaria outros países para uma situação grave, na qual teríamos um colapso no sistema bancário europeu. O contá- traram-nos gio com outros mercados financeiros seria imediato. É por isso que o mundo precisa se empenhar e forçar a Europa a salvar o sistema bancário os países europeus da zona do curo. Todos têm de concordar com um plano de longo prazo para a política fiscal e com a emissão de títulos em euros, O problema é os chamados eurobonds. que essas decisões passam pela Alemanha, cuja situação política é frágil - o que impede que a chanceler Angela Merkel tome uma medida mais audaciosa. Para resolver precisaria haver uma mudança na coligação política europeia. o impasse, seja com a saída de Grécia ou Alemanha? Barry Eichengreen - Os últimos anos mosque quase tudo pode aconteMas penso cer nos mercados financeiros. que o rompimento da zona do curo será evitado simplesmente porque seria catastrófico e muito caro em comparação com uma operação de salvamento da Grécia, de Portugal ou de Espanha. A Grécia não deve abandonar o curo, uma vez que isso traria ainda mais problemas do que soluções. Ao reestruturar a sua dívida, a Grécia terá mais um ano de recessão, mas voltará a crescer. Também é improvável que a Alemanha abandone a moeda comum. Nos últimos dez anos,'a economia alemã cresceu porque as exportações cresceram. Se o país abandonasse o curo, teria de criar um novo marco, que nasceria supervalorizado. Assim, as exportações alemãs entrariam em colapso, os investimentos congelariam Se o cenário europeu se agravar, como é que as empresas, sobretudo de países emergentes, serão afetadas? Lupinßahman - Há três formas de contágio para os mercados emergentes. O primeiro, é o aumento da aversão dos investidores ao risco - isso ocorreu em setembro e levou à saída de estrangeiros, o que desvalorizou as moedas e aumentou o custo de financiamento das empresas no exterior. O segundo, os preços das commodities também são um forte canal de contaminação. O terceiro, é a desaceleração do PIB mundial, que pode prejudicar os fundamentos económicos dos países emergentes e, com isso, os resultados das companhias. Como o cenário europeu é incerto, a volatilidade deve continuar. Mas o cenário de médio prazo para os emergentes é positivo. Esses países estão melhor do que em 2008. Houve um aumento das reservas, e as economias internas são fortes graças ao aumento do consumo doméstico. Estados Unidos A crise na Europa piora a situação da economia americana, já abatida pela explosão do endividamento Diretordo Earth Institute, da Universidade Columbia, onde também leciona. É conselheiro da ONU, do FMI e do Banco Mundial público e privado que foi o estopim da crise de 2008. A maior economia do mundo patina com tentativas até agora frustradas de estimular o investimento, recuperara competitividade e gerar postos de trabalho. O desemprego elevado entre jovens é visto como um dos piores problemas, porque compromete o futuro. Mas, como lembra o economista José Alexandre Scheinkman, mesmo com a confiança abalada, a capacidade americana de inovação é capaz de surpreender. Více-presídente da Pimco, uma das maiores gestoras de recursos do mundo com 1,3 biliões de dólares de património c O que correu mal na economia americana? - Unidos enfrentam cada período de quatro a seis anos. É assim desde que eu era jovem, e hoje tenho 68 anos. Só que agora os gastos e o endividamento são muito maiores. Jim Rogers Os Estados uma recessão a que a situação ficará muito pior para os Estados Unidos e para a eco nomia mundial nos próximos dois anos. Esta crise será pior do que a de 2008, porque os Estados Unidos já usaram todas as Isso significa suas armas. A verdade é que os americanos cometeram erros de mais nos últimos 50 anos, começando com a Guerra do Vietname. Desde então, os Estados Unidos pasDoutorado é professor Princeton em Economia, da Universidade saram de um grande credor para o maior devedor mundial. E não é possível acordar um dia, dizer que agora tudo será resolvido e achar que os problemas desapareceram. É preciso assumir os erros e também O que normalmente ocorre em recessões é que os débitos são liquidados e as pessoas perdem dinheiro. Mas, até agora, ninguém teve uma grande perda. Houve uma imensa transferência assumir as dividas. de dívida privada para o sector público. É por isso que o endividamento do governo americano explodiu. Aumentamos o endividamento e recusamo nos a deixar irem à falência. liquidar parte dessa dívida. Os Estados Unidos não podem continuar a aumentar o seu endividamento sem que isso os leve a um novo desastre. as pessoas e as instituições E agora é preciso Os japoneses passaram por isso nos anos 90 e não funcionou. O Japão perdeu uma década - e depois perdeu outra! Se os Estados Unidos continuarem vindo a fazer, a fazer o que têm também irão amargar uma ou duas décadas perdidas. Os planos de corte de gastos públicos, de criação de empregos e de mudança de perfil da dívida americana vâo ajudar os Estados Unidos a voltar a crescer? - O governo persegue a estraté gia errada com os estímulos de curto prazo, que não são adequados aos verdadeiros desa- Jeffrey Sachs fios nos Estados Unidos. A economia ame- ricana já não responde a esse tipo de medida, que não ajuda a recompor a confiança, os investimentos ou o consumo. A Reserva Federal, banco central dos Estados Unidos, de exportar produtos que traduzam a comamericanas. petitividade e a produtividade pode até intervir na liquidez dos mercados, mas não consegue resolver nenhum dos Mas não temos feito isso. nós que estão no Congresso em razão das eleições de 2012. No caso da operação Tvvist (troca de títulos do governo por papéis de Quais as consequências do desemprego alto persistente? Barry Eichengreen - Se tivermos sorte, os Estados Unidos crescerão 1,570 em 2011, uma taxa muito baixa. O desemprego continuará alto, o que é péssimo politicamente e muito mau para o futuro da economia. Se os jovens ficarem desempregados por muito tempo, passarão a lutar apenas pelos empregos que pagam pouco. O cenário prazo curto a fim de baixar o juro) , a reação foi muito negativa. Dias depois do anúncio, a Bolsa americana caiu 6%. Também não penso que a criação de empregos de péssi- ma qualidade com projetos de última hora seja desejável. Não entendo a estratégia do governo Obama de tentar revigorar as aquisições no mercado imobiliário, consumidores economizar quando os estão endividados precisam de ver o estou- mais. Acabámos ro de uma bolha imobiliária isso seria rapidamente e e não vejo como É por isso revertido. que os programas de estímulo costumam falhar. Precisamos de estimular investimentos de longo prazo e expandir a capacidade pode ser de empregos temporários, sem nenhum tipo de formação. Portanto, eles E rendimentos serão menos produtivos. mais baixos ao longo da vida promoveriam de rendimento. maior desigualdade Os americanos correm o risco de entrar numa nova recessão? Protestos contra o desemptego. 0 cenário de crescimento fraco tende a manter o desemprego em alta na maior economia mundial José Alexandre Scheinkman - Os Estados Uni- dos passaram por uma crise bancária séria. Mesmo no melhor cenário político possível, a economia americana naturalmente cres- ceria pouco depois disso. Somam-se a isso entre democraas profundas divergências tas e republicanos, que tornam todo o processo decisório em relação às medidas que devem ser tomadas muito mais complicado. Mas, mesmo com todas essas dificuldades, há ainda sectores da economia americana que continuam a crescer, principalmente na área tecnológica, ainda que o sistema financeiro esteja cambaleante. Não é que eu esteja otimista, mas podemos surpreender-nos com a capacidade de inovação americana. Emergentes última crise mundial poises emergentes como China, Brasil, índia e Rússia enfrentaram bem as intempéries dos mercados financeiros, Se na O investidor americano foi sócio de George Soros e cofundador do lendário fundo Quantum ainda não está claro se conseguirão repetir o desempenho. Hoje, os emergentes contam com seus próprios problemas para resolver. Economias aquecidas, bolhas imobiliárias e inflação em alta são os desafios desses mercados em desenvolvimento. t, A crise deflagrada na Europa e uma nova recessão nos Estados Unidos podem abater a economia da China e de outros países emergentes? Jim o'Neill - O maior problema da China não é a Europa nem a Grécia, mas a inflação. Os chineses precisam de garantir que inflação fique sob controlo, em 4% mais ou menos. A China deve entrar numa fase na qual o crescimento será de melhor qualidade e muito provavelmente n3o tão forte quanto foi na última década. O país deve a Analista e sócio da consultora Monitor Croup, uma das maiores do mundo na área de competitividade de 7% a 8% nos próximos cinco anos e daí para a frente. Num certo sen tindo, essas crises nos Estados Unidos e na Europa são boas para a China. Elas forçam crescer perceber que o futuro do país depende de decisões que afetam apenas a sua própria economia - e não das suas os chineses a exportações. As crises têm ajudado a posicionar a China no mundo. Por exemplo, os chineses estão a acelerar o uso do iuane no mercado internacional. Eles já estariam a prometer a convertibilidade total da moeda chinesa até 2015. Parte disso vem da preocupação com a instabilidade nos Esta dos Unidos e na Europa. Também acho que essa realidade se aplica a outros países emergentes. Cada vez mais os componentes do bloco BRIC - Brasil, Rússia, índia c China - serão importantes no mundo, especialmente em termos comerciais. Veja o exemplo da índia, que creio estar dez anos atrasada em relação à China. Com o seu crescimento, a índia caminha para importar quantidades cada vez maiores de commodities a China faz hoje. Nesse sentido, um fornecedor - como o Brasil é que vai ser beneficiado. O que é que os emergentes precisam de fazer para se proteger da crise que vem dos países ricos? Jimßogers - É inegável que, se os Estados Unidos e a Europa passarem a crescer menos, a China e os outros grandes países Mas a emergentes sofrerão repercussões. única coisa que as economias emergentes podem fazer é tentar não aumenlar o seu próprio endividamento. Afinal, é só olhar o que está a acontecer nos países ricos para concluir que os desequilíbrios os conduziriam ao caos. Também precisam estar atentos à inflação - repetidos episódios de altas de preços e de aquecimento dos sectores imobiliários estão a acontecer na China, na índia e no Brasil. No caso da inflação, é preciso agir rapidamente ou ficará cada vez pior. É por isso que a China tem tentando resfriar sua economia nos últimos anos. Os chineses já aumentaram a taxa de Juro seis vezes. Os países emergentes também terão de resistir à tentação de adotar medidas protecionistas. Histocostuma ser ricamente, o protecionismo adotado em tempos de crise - em geral, no longo prazo, o resultado é péssimo. A China tornou-se o principal motor da economia mundial. Mesmo depois da crise, conseguirá sustentar uma taxa de crescimento na casa dos 10% no futuro? PeterSchwartz - É impressionante o que os chineses têm feito para gerir a sua economia na última década. Eles passaram incrivelmente bem pelas crises de 2007 e 2008 - tanto o sector financeiro como a economia em geral. É verdade que existem riscos, mas são comparáveis àqueles que foram superados recentemente. Portanto, mais uma vez, a China pode sair bem da turbulência externa. É certo que a procura por produtos chineses na Europa e nos Estados Unidos é significativa e qualquer redução será sentida. Mas também é verdade que a procu ra interna da China está a aumentar. Uma a outra. A China já conseguiu tirar mais de 300 milhões de pessoas da pobreza. E ainda há mais 1000 milhões de chineses que precisam ascender economicamente. Essas pessoas vão precisar de coisa compensa de habitação e de comida - tudo a que aqueles primeiros 300 milhões de pessoas estão agora a ter acesso. educação, Portugal outra opção razoável. Além dismemorando tem grande qualidade constituindo e abrangência, um plano sério e razoável de recuperação do grave em que nos encontramos. desequilíbrio existe so, o Presidente do Conselho Científico Lisbon - School of Business & Economics da Católica O país está no epicentro da crise da dívida soberana da zona curo. Após negociar o resgate internacional com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), tem agora de cumprir metas muito ambiciosas de consolidação orçamental O seu cumprimento no calendário previsto ainda não é uma certeza, face à forte recessão que o país enfrenta. Descolar da imagem da Grécia é outra das prioridades para ganhar a confiança dos investidores. Assim, cumprir o que está acordado é o nosso melhor caminho. Podem naturalmente existir ajustamentos ou alívios de austeridade face ao acordado em maio. Isso só acontecerá se e quando começarem a ver-se os avanços relativamente às metas. Tal como existirão agravamentos e maior dureza se vierem a verificar-se recuos. Isso mostra de seguir e apenas que temos este caminho, com empenho atenção, e cada passo nesse sentido vai a nossa posição. melhorar Quais são as suas perspetivas para Portugal e a economia portuguesa nos próximos meses e a médio prazo (2011 e 2012), após as últimas decisões da União Europeia (como o corte de 50% da dívida grega) e a Antigo ministro da Economia e presidentediretor-geral Portugal da Cotec evolução política na Grécia, marcada pela demissão do primeiro-ministro e formação de um governo de unidade nacional? Barry Eichengreen - A entrada em incum- primento da Grécia, ainda que de forma planeada, e/ou a saída do país da zona curo teriam claramente implicações adversas para Portugal, porque os especuladores iriam então apostar que Portugal seria o próximo a cair. Por isso, é uma boa notícia que esses eventos tenham sido afasta dos. Que nada tenha sido feito para deter a recessão brutal na Grécia significa, contu do, que o problema não desapareceu. O cenário macroeconómico da proposta do Orçamento do Estado para 2012 aponta para uma contração da economia portuguesa, no próximo ano, de 2,8%. É uma previsão realista? Ou a recessão pode ser ainda mais severa? Daniel Bessa - O elemento central do cená- rio económico subjacente ao Orçamento do Estado Português para 2012 é uma contração do PIB em 2,8%. Pelo lado da procura (ótica que releva neste tipo de análi de curto prazo), ses, predominantemente aquele valor explica-se por uma contração do consumo privado (-4,8%) , do consumo público (-6,2%) e do investimento, tanto privado como público ( 9,5%), sendo estes efeitos amenizados por um crescimento muito acentuado da procura externa líquida, com as exportações a crescerem 4,8% e a diminuírem 4,3%. relativa às componentes da interna parece-me consistente as importações Portugal vai conseguir cumprir o memorando de entendimento assinado com a troika, ou será necessário haver um reajustamento, seja ao nível do calendário previsto para a consolidação orçamental e respetivas metas ou ao montante do pacote financeiro de ajuda? - Portugal, após anos caiu numa irresponsáveis, financeira, situação de insustentabilidade de onde foi salvo pelo programa de ajustamento assinado em maio. Agora, cumprir João César das Neves de políticas as exigências desse programa é indispen- sável, porque a alternativa é a falência, com todas as suas consequências. É muito difícil atingir as metas pre- conizadas no memorando, mas não A previsão procura com a orientação da política orçamental, muito restritiva. Os riscos estão do lado do consumo e do investimento privados, que poderão cair mais do que o esperado. Do lado externo, o risco maior está na previsão de crescimento das exportações, que poderá não se confirmar dado recessivo de o contexto acentuadamente europeia, nomeadamente nalguns países grandes clientes de Portugal (Espanha, França e Itália). Poderá ser compensada pelos esforços de promoção toda a política comercial fora da área do curo. No que se refere às importações, se caírem mais de 4,3%, será bom. O Sônia M. Lourenço