Estudos sobre diversidade genética revelam percurso migratório de tartarugas marinhas brasileiras terça-feira, 19 de julho de 2011, às 7h07 Pesquisas sobre origem e variabilidade genética de tartarugas marinhas têm sido fundamentais no direcionamento de políticas de preservação de espécies ameaçadas no Brasil. O assunto será tema de mesa-redonda no 57º Congresso Brasileiro de Genética, que acontece de 30 de agosto a 2 de setembro, em Águas de Lindóia (SP). Coordenada pelo professor Fabrício Rodrigues dos Santos, do Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, a mesa apresentará dados sobre genética populacional e conservação das espécies de tartarugas marinhas do Brasil. Os integrantes da mesa trabalham em parceria com o Projeto Tamar, que há três décadas estuda a biologia das tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, com ênfase em pesquisas aplicadas que buscam a conservação desses animais. Fabrício Santos pesquisa duas das cinco espécies encontradas na costa brasileira – a tartaruga de pente e a tartaruga de couro. A partir de amostras de sangue e pele coletadas pelo Projeto Tamar, Santos e sua equipe investigam a origem e medem a variabilidade genética desses animais. “A baixa diversidade genética em uma população potencializa o surgimento de doenças e dificulta a reprodução”, explica o pesquisador, destacando que os estudos também identificam diferentes componentes genéticos em cada população de desova e desse modo consegue-se atribuir a origem de cada grupo. Segundo o pesquisador, uma população que desova ou se alimenta na costa brasileira vem, por exemplo, da África, da Austrália ou da América Central, enquanto muitas que nasceram aqui passam parte da vida na Europa ou em outros locais do planeta. “Isso demonstra que o esforço pela preservação deve ser internacional”, reforça Santos. (Compartilhe essa notícia pelo Facebook do Boletim) Ameaças A tartaruga de pente – que recebeu esse nome porque seu casco era muito utilizado para a fabricação desse artefato –, quase foi extinta no mundo. “Os ovos também eram alvos de predadores”, informa Fabrício Santos. Já a tartatuga de couro é uma das mais ameaçadas, devido ao consumo de sua carne. Além disso, essa espécie põe poucos ovos, alimenta-se apenas de água viva e possui um único local de desova no país – a praia de Comboios, no Espírito Santo. “Essa espécie já esteve na categoria máxima de risco”, comenta o professor. De acordo com informações do Projeto Tamar, as tartarugas marinhas são conhecidas pela grande capacidade migratória, com ciclo de vida de longa duração. As áreas de desova no Brasil são compostas por 1.100 km de praias, monitorados todas as noites durante os meses de setembro a março, no litoral, e de janeiro a junho, nas ilhas oceânicas, por pescadores contratados pelo Tamar, chamados tartarugueiros, estagiários e executores das bases. “São feitas marcação e biometria das fêmeas, contagem de ninhos e ovos. A cada temporada, são protegidos cerca de quatorze mil ninhos e 650 mil filhotes”, informa a página do Projeto, ao acrescentar que nas áreas de alimentação, o monitoramento é quase todo realizado no mar, muitas vezes junto às atividades pesqueiras. Congresso de genética A 57ª edição do evento terá como tema Manipulando o DNA: quatro décadas rompendo fronteiras. A escolha comemora a publicação do trabalho Specific cleavage of simian virus 40 DNA by restriction endonuclease of Hemophilus influenzae (PNAS U S A. 1971; 68: 2913), de Kathleen Danna e Daniel Nathans, no qual foi demonstrado pela primeira vez que um genoma – no caso do pequeno vírus símio SV40 – poderia ser clivado e mapeado por uma enzima de restrição bacteriana. Segundo os organizadores, “rapidamente se compreendeu que essas enzimas possibilitariam a manipulação do material genético, e houve avanço científico e biotecnológico simplesmente surpreendente, resultando no Prêmio Nobel em 1978 para seus descobridores, D. Nathans, W. Arber e H. Smith”. As inscrições para o evento podem ser feitas pela internet até 10 de agosto.