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Propaganda
O desenrolar da guerra na
fletos que foram lançados na
guerra relâmpago (Blitzkrieg),
Europa a partir da invasão da
Alemanha, durante o Inverno
Dinamarca, Noruega, Holanda,
Polônia em 1º de setembro de
de 1939-1940, revelaram-se
Bélgica, Luxemburgo e França,
1939, pelas forças alemãs de
inoperantes. O sistema de guer-
ficando a Grã-Bretanha sozinha
um lado e da união soviética de
ra adotado era inteiramente
e isolada a lutar na Europa.
outro, então de comum acordo,
defensivo. Na Linha Maginot
Muito embora tenha enviado
trouxe como resposta imediata,
(linha de fortificações construída
tropas ao continente para aju-
dois dias depois, a declaração
na fronteira francesa do Leste,
dar os franceses, estas também
de guerra da Inglaterra e França
entre 1927 e 1936), os Gover-
foram derrotadas e boa parte
contra a Alemanha, deixando-se
nos preocupavam-se mais com
voltou à ilha deixando lá todo o
de lado a questão soviética e
as folgas dos soldados inativos
material militar, abandonado na
iniciando-se então o que passou
do que com levar a ofensiva
sua retirada.
à história como o início da Se-
psicológica ao coração da Alemanha”. 1
“A posição britânica em setem-
gunda Guerra Mundial.
“Do lado aliado, no plano da
O início do conflito foi lento,
heróica, mas foi um heroísmo
propaganda os primeiros anos
com a Alemanha tomando
realizado principalmente a
da guerra foram anos de ex-
todas as iniciativas, primeiro
expensas de outros. O povo
periências e hesitações. Nem a
a Polônia e a seguir ocupan-
britânico sofreu relativamen-
França, nem a Inglaterra esta-
do sistematicamente diversos
te pouco durante os anos de
vam preparadas para a guerra
países ao longo do primeiro
guerra. Os poloneses sofreram
psicológica. Os primeiros pan-
semestre de 1940, com sua
uma catástrofe durante a guer-
bro de 1939 foi, sem dúvida,
am-se
mais
com
as
folgas
o que
com levar a ofensiva
da
Alemanha
A MAIORIDADE DA
manter e consolidar suas
conquistas, ampliando em
muito o conflito.
Todo o aparato estatal se
voltou para a propaganda
de guerra, que no caso
dos aliados era permitido
aos jornalistas, devidamente credenciados (onde se
incluíam estrangeiros), a cobrirem os vários fronts da guerra.
Eles traziam assim informações,
censuradas para a população
criando um clima favorável para
os sacrifícios que viriam nos
anos seguintes, aumentando a
moral e dando uma causa que
mantivesse a coesão de todo
o Império Britânico e, ainda,
criando condições favoráveis a
que outras nações neutras definissem em qual lado ficariam.
“O Ministério da Informação
(Britânico), planejado já no
começo do ano de 1936, foi
colocado em funcionamento
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1
PROPAGANDA
POLÍTICO-MILITAR
NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
ra, e não reconquistaram sua
independência depois dela. Em
1938, a Tcheco-Eslováquia foi
traída. Em 1939, a Polônia foi
salva. Menos de cem mil tchecos morreram durante a guerra.
Seis e meio milhões de poloneses foram mortos. O que será
melhor – ser um tcheco traído,
ou um polonês salvo?”2
A Grã Bretanha resistiu e sobre
a Inglaterra se travou uma batalha aérea de grandes proporções que conseguiu conter o
avanço alemão. Impedindo que
toda a ilha fosse ocupada, passou à história como a Batalha
da Inglaterra.
Já a Itália, aliada da Alemanha
abriu novas frentes, rumo ao
leste europeu e ampliou seu império na África, mas precisou
de grande ajuda alemã para
1939 . 1941
A VISÃO DOS ALIADOS – INGLATERRA, FRANÇA E UNIÃO SOVIÉTICA
dois dias antes da guerra e cres-
dade conhecida como ‘Teste-
ceu, em quatro semanas, de um
munha Ocular’, e um número
mas que, de certa forma, foram
alcançando seus objetivos e
trazendo a sua versão dos fatos
do desenrolar do conflito e disseminando idéias para o público
interno e externo, em vários
idiomas, inclusive o português.
quadro de doze funcionários
limitado de correspondentes,
para outro, notoriamente com
acompanhados por oficiais
999. Entretanto, sem que os
de escolta, seria tolerado nos
editores de jornais soubessem,
quartéis-generais e teria per-
os estados-maiores aliados, alar-
missão para enviar despachos
mados com o aperfeiçoamento
cuidadosamente censurados
do rádio de ondas curtas, ti-
sobre assuntos com pouca pro-
nham decidido em 1938 que a
babilidade de afetar o moral na
guerra, até onde lhes coubesse
frente doméstica”.3
decidir, não seria noticiada, e
A propaganda aliada no início
que os sistemas para controlar
da guerra era extremante con-
os correspondentes de guerra
fusa, e só para se ter uma idéia,
seria exatamente o mesmo de
dos 999 acima mencionados,
“Para a mente humana, uma
guerra era uma realidade,
durante a Segunda Guerra
Mundial, como, aliás, sempre
foi. Para a mente humana, uma
batalha é sempre uma batalha;
num verdadeiro combate, uma
batalha está perdida quando um
1914-18. Haveria uma autori-
apenas 43 eram jornalistas,
lado se convence de que ela está
In BERNARD, H., CHEVALLAZ G.A., GHEYSEN R., LAUNAY J.de. Os Arquivos da Segunda Guerra Mundial, Livraria Bertrand, Amadora, 1964, p. 197.
2
3
In A.J.P.Taylor. A Segunda Guerra Mundial, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1979, p, 24.
In Phillip Knightley. A Primeira Vítima, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1978, p.277.
Cartaz Inglês de 1940 onde o primeiro ministro é retratado como um cão de guarda, no caso um Bulldog, mantendo a linha de frente.
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perdida. O que havia de relati-
Boa parte do início da guerra foi
Em 22 de junho de 1941, a Ale-
diram muito cedo, nada deveria
vamente novo para a mente hu-
noticiada nos Estados Unidos
manha invadiu a União Soviética,
ser dito aos russos sobre a guerra,
mana durante a Segunda Guerra
com informações provindas da
mesmo tendo um pacto de não
que pudesse prejudicar a moral.
Mundial era a extensão da guerra.
Alemanha, “Não é de admirar que
agressão, e esta, sob um controle
O perigo, porém não poderia ser
Maiorias consideráveis, povos
os jornais norte-americanos recor-
total do estado, conseguiu levar
minimizado, e, se apresentado de
inteiros, tinham que ser convenci-
ressem aos seus correspondentes
adiante todo o aparato de propa-
maneira certa, teria possibilidades
dos de que um determinado lado
na Alemanha a fim de saber o
ganda que foi um fator determi-
de despertar o fervor patriótico
estava ganhando (ou perdendo).
que estava acontecendo. Antes
nante para a resistência contra o
necessário para a vitória final.
Mais do que nunca, a propagan-
de mais nada, era mais fácil entrar
invasor, conseguindo com o slo-
Portanto, só as notícias ‘oficiais’
da internacional havia-se tornado
em contato com eles. Enquanto
gan a “Mãe Pátria os chama” unir
seriam toleradas. Todos os rádios
instrumento primordial na arte de
o representante do New York Ti-
as diversas etnias sob um mesmo
particulares tiveram de ser entre-
governar, Hitler e Goebbels foram
mes em Londres levava oito horas
ideal e dando a eles uma causa
gues à milícia, e alto-falantes que
mestres em compreender isto de
para se comunicar com seu jornal,
para alcançarem a vitória final, a
forneciam o programa de Moscou
uma certa forma, Churchil e De
seu colega em Berlin, Otto Tolis-
um custo extremamente elevado
tornaram-se,
Gaule de outra. Ambos os lados,
chus, fazia chegar matérias, via
em vidas e destruição
entretanto, empregavam a im-
Copenhague, em quarenta minu-
até então
prensa, o rádio, o cinema, o tea-
tos. Era quase impossível dar um
nunca
tro e a propaganda cultural muito
telefonema de Londres para Paris
vistos.
mais extensamente do que antes.
– quando o exército não estava
“Eviden-
Os alemães e os franceses tinham
usando as linhas, era o Banco da
temente,
os seus ministros da propaganda,
Inglaterra. Na frente das notícias,
como os
os ingleses o seu ministro das
a ‘quarta frente’ da guerra, os
líderes sovi-
informações.”
alemães, venciam facilmente.”
éticos deci-
4
In Lukacs, John. A Última Guerra Européia, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1980, p.415 1964, p. 197.
5
In Phillip Knightley. A Primeira Vítima, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1978, p.278-279
1. Cartaz Inglês de 1940/41 mostrando um caça Supermarine Spitfire
abatendo um bombardeiro alemão Heinkel 111 durante a Batalha da
Inglaterra, com o slogam “para cima deles”.
1
6
Idem p. 310.
2.
Cartaz Francês pedindo a
compra de bônus para fabricação de armamentos de 1939.
2
3
retratando o “domínio do ar pela aviação de caça inglesa” durante
.Suplemento especial do Jornal inglês The Illustrated Lon-
don News de agosto de 1941, editado em português de Portugal
s Governos
preocupavam-se
mais
com as
folgas
os
soldados
inativos
do
que
com
levar
a
ofensiva
sicológica ao coração da Alemanha
a Batalha da Inglaterra.
os
Gov
dos
so
psicol
3.
s
Governos
preo
os
soldados
ina
sicológica ao co
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para a maioria dos russos, a
acreditasse muito nos informes
pilar importante na sua condução
créditos, deixando a este duas
principal fonte de informação
oficiais, mas vendo que o inimigo
integrando muitos outros países
opções: render-se ou ir à guerra.
– além das notícias que se fil-
os tratava de uma forma cruel,
que estavam indecisos em suas
Os EUA apoiavam indiretamente
travam da frente, de boca em
passaram a apoiar o chamado da
tomadas de decisões. Afinal, “a
a Inglaterra, mas preferiram se
boca. Os comunicados oficiais
Mãe Pátria.
propaganda militar consiste no
transmitidos regularmente, jamais
A grande aliança do Império Bri-
emprego planejado de qualquer
mencionavam o número verda-
tânico, da União Soviética e logo
forma de comunicação destinada
deiro de baixas russas, evitavam
a seguir dos EUA foi um fator
a afetar as idéias e emoções de
os grandes desastres e forneciam
decisivo para o futuro da Segun-
um dado grupo inimigo, neutro
apenas indicações, as mais vagas
da Guerra Mundial, muito embo-
possíveis, quanto ao local onde
ra houvesse uma desconfiança
se processava a luta.”
mútua entre estes aliados, ela foi
De certa forma funcionou, muito
mantida até o final e a propagan-
embora a população russa não
da difundida entre eles foi um
ou amigo, com uma determinada
finalidade estratégica ou tática.”
É bom lembrar que em agosto
de 1941 os Estados Unidos impuseram um embargo total ao
Japão, principalmente petróleo,
cujas reservas estratégicas dariam
para os próximos seis meses, e
5
6
manter longe dos problemas,
permanecendo neutro até ser
atacado pelos Japoneses em 7 de
dezembro de 1941, quando a Segunda Guerra Mundial realmente
se torna “mundial”, tendo a Alemanha e a Itália declarado guerra
em apoio ao Japão, em razão de
suas alianças. A partir de então a
propaganda político-militar ganhará uma nova dimensão.
5. Cartaz soviético com o apelo da mãe pátria conclamando a combaterem o invasor fascista em 1941 após a Alemanha ter invadido a
Rússia.
6. Cartaz Inglês onde se lê que a Marinha Britânica assegura a liberdade de todos, durante a Batalha do Atlântico em 1940/41.
7.
Cartaz Francês de recrutamento de 1938. Notar a confiança nas
fortificações da Linha Maginot.
4. Cartaz Francês do governo no exílio, em Londres, comandado pelo
General De Gaulle dirigido a todos os franceses – A França perdeu uma
batalha, mas a França não perdeu a guerra, de 1940.
os
Gov
dos
so
psicol
os Governos preocupavam-se mais com as
4
Pesquisador de assuntos militares da Universidade
Expedito Carlos Stephani Bastos
dos
soldados
do
que
com levar a
psicológica
aoinativos
coração
da
Alemanha
os
Governos
preocupavam
dos
soldados
psicológica aoinativos
coraçãodo
da
7
Federal de Juiz de Fora
vernos
preocupavam-se
ma
oldados
inativos
do
que
co
lógica ao coração da Alem
ocupavam-se
ma
ativos
do
que
co
oração da Alem
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