A PESSOA DE JESUS vivendopelapalavra.com Por: Helio Clemente Este livreto é um excerto do livro Teologia Sistemática do mesmo autor. A pessoa de Jesus é o Verbo de Deus, que assumiu a natureza humana através da encarnação, por isso ele possui duas naturezas, ele é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a união das naturezas divina e humana em Jesus Cristo recebe o nome de União Hipostática. Durante seu tabernáculo aqui na terra, o Verbo continua a existir como a segunda pessoa da Trindade Divina e aqui na terra como o homem Jesus, estas formas de existência são conscientes e próprias da pessoa de Jesus. Esta forma que o Verbo assumiu permanece para sempre, ele é uma pessoa com duas naturezas conscientes, perfeitas e sem mistura ou confusão: Cristo - perfeito Deus e perfeito homem. Confissão de Fé de Westminster, Capítulo VIII, II: “O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido (por Deus) pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem”. Cristo é uma só pessoa: A personalidade individual de Cristo revela-se de forma objetiva na Escritura, ele sempre é chamado pelos pronomes pessoais no singular, tu, ti, ele; sempre se refere a si mesmo no singular, eu e meu; a bíblia ensina a doutrina da encarnação indicando sempre a Cristo como uma única pessoa. 1 Timóteo 3,16: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”. As duas naturezas de Cristo subsistem em uma única pessoa sem mistura ou confusão, e assim, ao mesmo tempo em que ele está fisicamente, como o homem Jesus, em um lugar particular e determinado, ele também é neste mesmo tempo onipresente em todo o universo; ao mesmo tempo em que, como homem, ele é limitado em sua locomoção, alimentação e conhecimento, ele é o Deus onipotente e onisciente cujo poder e conhecimento são infinitos e imutáveis. Calvino – Institutas, Volume II: “Uma vez que, afinal, nem podia, como somente Deus, sentir a morte, nem como somente homem podia superá-la, associou a natureza humana com a divina, para que sujeitasse à morte a fraqueza de uma, no afã de expiar pecados; e, sustentando luta com a morte pelo poder da outra, nos adquirisse a vitória. Logo, aqueles que despojam a Cristo ou de sua divindade, ou de sua humanidade, na realidade lhe diminuem tanto a majestade quanto a glória, obscurecem igualmente sua bondade. Mas, por outro lado, não menos detrimento causam aos homens, cuja fé assim abalam e subvertem, a qual não pode permanecer firme a não ser neste fundamento”. A Escritura ensina que Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, desta forma, tudo o que é próprio do homem é próprio de Cristo, e tudo o que é próprio de Deus é próprio de Cristo. Cristo é a pessoa que chorou e a mesma pessoa que disse: “Antes que Abraão existisse, EU SOU (YAHWEH)”. João 11, 33-35: “Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! Jesus chorou”. A natureza divina é imutável e impassional, a natureza divina não se comove, não se emociona, não chora, somente a natureza humana é capaz destas emoções. João 8,57-58: “Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU (EU SOU = YAHWEH)”. O corpo humano de Jesus passou a existir no ato da encarnação, mas a pessoa de Jesus é o Verbo de Deus, eterno e auto-existente na trindade divina, ele é o Deus YAHWEH – o eterno EU SOU. Filipenses 2,5-8 (RC): “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se {ou despojou-se} a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz”. Veja este mesmo verso em outra versão que traz um sentido mais claro da ideia a ser transmitida: Filipenses 2,6-7 (NTLH): “Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano”. Calvino – Institutas, Volume II: “Se nas coisas humanas se pode achar algo como símile a tão grande mistério, a similitude do homem parece a mais apropriada, o qual vemos consistir de duas substâncias, das quais, entretanto, nenhuma se misturou de tal forma à outra que não retenha a propriedade de sua natureza. Pois, a alma não é corpo, nem o corpo, alma. Porquanto, não só da alma se diz especificamente o que, de modo algum, pode caber ao corpo; mas, por outro lado, também do corpo o que, por nenhuma razão, convenha à alma; igualmente do homem, em sua totalidade, se atribuem coisas que não podem ser atribuídas a nenhuma das partes em si mesmas consideradas. Finalmente, transferem-se ao corpo propriedades características da alma, e à alma propriedades características do corpo. Entretanto, aquele que consta destes elementos é um homem só, não muitos. E assim, formas de expressão deste quilate significam não só que há no homem uma só pessoa composta de dois elementos conjugados, mas ainda que nele subsistem duas naturezas diversas, que constituem esta pessoa”. O CORPO FÍSICO DE CRISTO O corpo físico de Cristo era verdadeiro, ele nasceu da virgem Maria, formado e nutrido pela sua substância, sendo fisicamente consubstancial a ela. A Escritura afirma que ele foi concebido no ventre da virgem Maria, que ele era da semente de Abraão, que ele era descendente físico de Davi, que ele crescia em estatura, que ele era sujeito à dor, ao prazer, à sede e à morte. O corpo de Cristo era material, exatamente como o corpo de um homem normal. A substância de seu corpo era a mesma substância de Maria, em cujo ventre ele foi formado. Ele foi primeiramente anunciado na Escritura como a semente, ou, o descendente, da mulher. Gênesis 3,15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Gênesis 3,15 (RC): “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; ele te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Foi anunciado, ainda, como a semente de Abraão e depois como o filho de Davi, Isaías se refere a ele como homem de dores e o título mais usado por Jesus era “O Filho do Homem”. Isaías 53,3: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso”. Neste verso de Isaías, a natureza humana de Cristo é vista de forma incontestável, como o homem desprezado pelos judeus, homem de dores que ao mesmo tempo sabia exatamente o que o esperava pela onisciência própria da sua natureza divina. A ALMA RACIONAL DE CRISTO - A alma racional humana: Este é um fato sobejamente declarado no evangelho, Jesus pensava, crescia em conhecimento e sabedoria, sentia alegria e tristeza – “Jesus chorou”. Gálatas 4,4: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Cristo possuía uma alma racional humana, ele sentia, pensava, crescia em sabedoria; a alma e o corpo de Cristo formavam uma natureza humana completa cuja pessoa é o Verbo de Deus, que assumiu esta natureza humana na encarnação, portanto, Jesus é Deus que veio em carne para a redenção de seu povo que lhe foi dado pelo Pai antes da fundação do mundo. Negar este fato é negar a Escritura, negar a encarnação é negar todo o cristianismo, pois este é o mistério de Deus - Cristo - o qual mistério esteve oculto pelos séculos, e agora foi revelado no evangelho. Colossences 1,26-27: “O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória”. Uma prova inconteste da existência da alma racional de Cristo é o momento em que se aproxima o dia fatal, e ele se angustia em sua alma, sua natureza divina é imutável e impassional e jamais poderia ficar angustiada. Marcos 14,34: “E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai”. CRISTO É VERDADEIRAMENTE DEUS A natureza divina: Cristo é verdadeiramente Deus, ele não é um homem elevado à divindade, mas, pelo contrário, ele é o Verbo de Deus, a segunda pessoa da Trindade, que assumiu a natureza humana e tabernaculou na terra durante seu ministério. Ele é chamado na bíblia de Deus Forte, Senhor dos Senhores e o título mais preeminente: Pai da Eternidade, em Isaías. Quanto a si mesmo ele diz aos judeus que antes que Abraão existisse, EU SOU. Este é o título do Deus YAHWEH, o que não deixa dúvida quanto à sua divindade. Colossences 2,9: “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade”. O Cristo é o Verbo de Deus, uma das pessoas da Trindade divina: Deus, o Pai e o Verbo e o Espírito Santo. Pode-se ver a manifestação da divindade de Cristo comparativamente nos versos de Isaías, capítulo seis e a atribuição destes versos a Cristo no evangelho de João. Isaías 6,1-5: “No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!”. João 12,37-41: “E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados. Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito”. Novamente em Isaías ele se refere a YAHWEH, o SENHOR dos Exércitos, como a pedra de tropeço dos judeus, no capítulo nove do livro de Romanos o apóstolo Paulo identifica esta pedra de tropeço com Cristo. Isaías 8,13-14: “Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto. Ele vos será santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém”. Romanos 9,32-33: “Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido”. Podemos ver este mesmo paralelo nos salmos e na primeira carta de Pedro. Salmos 118,22: “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular”. 1 Pedro 2,6: “Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado”. Ainda mais uma vez, em Isaías capítulo quarenta e cinco o Deus YAHWEH declara que diante dele se dobrará todo joelho e jurará toda língua, o apóstolo Paulo, no capítulo quatorze do livro de Romanos atribui a Cristo esta profecia. Isaías 45,21-23: “Declarai e apresentai as vossas razões. Que tomem conselho uns com os outros. Quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua”. Romanos 14,9-11: “Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus”. O Verbo existe com Deus e como Deus na eternidade, mas ele é conhecido na bíblia como o Filho Unigênito de Deus, esse é um título referente a uma posição assumida eternamente entre os membros da Trindade no plano de salvação do homem, por isto se diz que ele é eternamente gerado, isso quer dizer que ele não passou a ser o Filho de Deus na encarnação, ele é o eterno e não criado Filho de Deus: O Cristo. João 1,1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. Já vimos que, da mesma forma que a Escritura apresenta Cristo como homem, o apresenta como Deus, o mesmo profeta Isaías que o chama de um menino que nasceu, de homem de dores, também o chama de Deus Forte e Pai da Eternidade, títulos estes que não deixam margem a dúvidas quanto à divindade de Cristo. Isaías 9,6: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Estes são títulos atribuídos ao menino Jesus, há de se convir que é demais para uma criança comum, somente Deus tem direito a estes títulos, pois a eternidade é uma qualidade privativa de Deus, nada mais é eterno no universo ou fora dele. Na carta aos Hebreus ordena-se que todos os anjos o adorem, Jesus é apresentado como o resplendor da glória de Deus, da mesma essência de seu Ser. Declara-se ainda que o universo foi feito por ele, o qual sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder. Hebreus 1,3: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”. Ainda na carta aos Hebreus, ao introduzir o Filho no mundo, não é deixada nenhuma dúvida quanto à sua divindade: Hebreus 1,6-8: “E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino”. CRISTO, PERFEITO DEUS E PERFEITO HOMEM Todas estas referências bíblicas a Cristo, de maneira intercambiável como homem e como Deus somente admitem solução através da doutrina da encarnação, pela encarnação o Verbo de Deus assumiu uma natureza humana, da qual ele mesmo é a pessoa que individualiza esta natureza. (Jesus homem) Lucas 1,31: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus”. (Jesus Deus) Lucas 1,35: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”. Pela encarnação, o Verbo de Deus torna-se uma pessoa única em todo o universo, possuindo duas naturezas completas e perfeitas, a natureza divina que lhe é peculiar desde toda a eternidade, e a natureza humana, formada por um corpo humano da substância de Maria e uma alma racional humana. Estas duas naturezas permanecem unidas, porém sem mistura ou confusão, permanecendo para todo o sempre nesta forma. Pela união destas duas naturezas Jesus é o único ser teândrico no universo, esta palavra provém da união de duas palavras gregas: Theos – Deus e andros – homem. Perfeito Deus e perfeito homem, encarnado na plenitude dos tempos para prover a salvação do homem. Pode-se ver no verso abaixo que o Filho encarnou, o Verbo é o Filho eterno de Deus, eternamente gerado, não criado, ele é o Filho desde a eternidade. Romanos 1,1-4: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor”. Este é o mistério da piedade afirmado nas escrituras: Jesus Cristo é Deus manifesto em carne. Quem crê nisto está salvo, quem não crê está condenado, porque não crê no unigênito Filho de Deus. 1 Timóteo 3,16: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”. Este Jesus, que é a pessoa única do Verbo encarnado, perfeito homem e perfeito Deus, é o Jesus bíblico e histórico do cristianismo, quem crê em outro Jesus que não este, não pode ser considerado cristão, a aceitação de falsos mestres e falsas doutrinas no seio da igreja não pode ser tolerada em hipótese alguma. 2 Pedro 2,1: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”. Vemos por este verso de Pedro, que renegar a pessoa de Cristo é renegar a Cristo, trazendo destruição sobre si mesmo e sobre aqueles a quem é pregada esta heresia. Jesus proíbe, de fato, o julgamento pela aparência, mas, ao mesmo tempo exige do crente o julgamento pela reta justiça, este é o julgamento a ser aplicado naqueles que renegam a pessoa de Jesus Cristo, destruindo para si mesmo e para os que os ouvem todo o cristianismo bíblico. A maioria das heresias surgida na igreja cristã primitiva diz respeito à natureza da pessoa de Cristo, veremos mais à frente as principais distorções surgidas nos primórdios da igreja. Pelo fato da natureza humana de Cristo ser assumida pelo Verbo, não se pode dizer que ela é impessoal, pois a natureza humana de Cristo tem sua subsistência justamente na pessoa do Verbo, o Verbo é a pessoa através da qual é realizada a psicossomática (*) da natureza humana de Jesus Cristo. união (*) União psicossomática: Interação e relacionamento entre a atividade da substância espiritual, que é a alma, e os pensamentos e movimentos do corpo físico. Também não é correto dizer que a natureza humana de Cristo é incompleta, pois nada falta nesta natureza em nenhuma de suas qualidades essenciais ou subsistência individual. A posição assumida pela igreja cristã é que a consciência e a vontade pertencem à natureza ativa e não à pessoa. Desta forma, a vontade do homem é livre para decidir, mas sempre conforme sua natureza. A natureza do homem é corrompida pela queda e tornou-se depravada, de forma que o homem natural é incapaz de decidir, cooperar ou participar em sua própria salvação; em Cristo esta natureza é perfeita por quatro motivos: 1 - Nascendo de uma virgem ele não trazia em si o pecado original, o que pode ser discutível, pois Maria trazia em si este pecado, mas, além disto: 2 - Foi da vontade de Deus, decretada na eternidade, que ele fosse concebido sem o pecado original e que ele fosse impecável durante toda sua vida terrena, a filiação do Verbo em relação ao Pai é eterna. 3 - Deus lhe deu o Espírito sem medida, motivo pelo qual sua natureza humana é guardada momento a momento pelo Espírito, fazendo somente o que Deus determinou. 4 - Apesar das naturezas divina e humana não se misturarem, todavia, elas se comunicam, motivo pelo qual a natureza humana de Cristo é infinitamente acima da corrupção do pecado pela sua ligação visceral e contínua com a imutabilidade da natureza divina. A obra redentora de Cristo é o resultado da união de suas duas naturezas para realização de um trabalho que seria impossível ao homem pela incapacidade de seu ser finito e impossível a Deus pela sua imutabilidade e impassionalidade. Muitas afirmações e versos bíblicos são repetidos no estudo da divindade, pois estas doutrinas são de tal forma entrelaçadas que não existe a possibilidade de separação completa ou de isolamento de algumas afirmações, assim sendo, salientamos em todos os estudos que o nome de Deus é citado sem qualificativos se refere ao Deus da Trindade Divina, da mesma forma, as razões e qualidades envolvidas na pessoa de Cristo são repetidas em várias definições e situações. Isto é inevitável e necessário para comprovação e afirmação das doutrinas referentes à Deus, à Trindade e ao estudo das pessoas divinas, pois todas estas doutrinas são assimiladas pela revelação e estão acima da compreensão finita do homem. Arthur Pink: “Quando nós seriamente nos engajamos em estimar as profundezas da vergonha e da humilhação inexprimíveis nas quais adentrou o Amado do Pai, somos chocados e abalados, aterrorizados. Que o Filho eterno de Deus devesse por de lado os mandos de Sua glória inefável e tomar sobre Si a forma de um servo, que o Governador do céu e da terra devesse ser “nascido sob a lei”, que o Criador do universo devesse congregar neste mundo e “não ter onde reclinar Sua cabeça” é algo que a mente finita não pode compreender...”. Definições a respeito das naturezas de Cristo Comunicação de propriedades (Communicatio Idiomatum): Significa simplesmente que tanto as propriedades da natureza divina como da natureza humana pertencem à pessoa de Cristo e elas se comunicam de forma contínua, mas sem mistura ou confusão. Comunicação de dons (Communicatio Charismata): A natureza humana de Jesus, pertencendo à pessoa do Verbo, foi dotada de dons que a elevam acima de todas as outras criaturas, podendo se tornar objeto de adoração na pessoa de Jesus durante seu tabernáculo aqui na terra, como se pode ver em algumas passagens bíblicas. Graça de união: Esta eminência da natureza humana de Cristo é chamada: “Graça de União”, mas é própria somente da pessoa de Cristo, não pode ser levada ao ponto de adoração de imagens de Jesus como adotado pela igreja de Roma. Graça habitual: Além desta graça provinda da união com a pessoa do Verbo, existem na própria natureza humana de Cristo algumas coisas que a definem como uma pessoa única: - A pessoa de Cristo é o Verbo de Deus, apesar de adquirir uma natureza humana através da encarnação a pessoa de Cristo não é humana e não está sujeita ao pacto de obras, desta forma ele nasceu sem o pecado original. Todavia, não bastava que Jesus nascesse sem o pecado original, era preciso que ele se revestisse da impecabilidade em sua natureza humana. Isto foi feito por Deus conforme os dois itens abaixo: - O primeiro é o decreto de Deus definindo sua impecabilidade, ele foi predestinado por Deus para uma vida sem pecado. - O segundo é a capacitação: Pelos dons do Espírito concedidos sem medida, e pela união com a pessoa divina, a natureza humana de Cristo se torna impecável (non pottuit peccare). 2 Coríntios 5,21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. Estas graças conjuntas tem o nome de: “Graça Habitual”. Calvino: “Ora, tampouco fazemos a Cristo isento de toda mancha só porque fora gerado da mãe sem o concurso do homem, mas porque foi santificado pelo Espírito, para que a geração fosse pura e íntegra, como deveria ter sido antes da queda de Adão. E que isto permaneça absolutamente estabelecido: sempre que a Escritura nos chama a atenção acerca da pureza de Cristo, menciona-se sua verdadeira natureza de homem, porquanto seria supérfluo dizer que Deus é puro. Também a santificação de que João fala no capítulo 17 do Evangelho não teria lugar em sua natureza divina”. João 17,19: “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade”. É muito importante ressaltar que o objeto de adoração bíblica é sempre a pessoa do Verbo de Deus, Cristo, e não a natureza humana ou divina de Cristo. A doutrina luterana da comunicação: Os luteranos admitem a absorção de propriedades de uma natureza pela outra, mas não tem uma definição exata de como isto acontece, nem tampouco apresentam base escriturística para esta afirmação. A doutrina da Kenosis (esvaziamento): Esta doutrina foi formulada de diversas maneiras, mas basicamente afirma que, na encarnação, o Verbo se esvaziou das qualidades divinas assumindo a natureza humana e abandonando suas funções cósmicas e divinas. Calvino: “Ora, de modo maravilhoso, do céu desceu o Filho de Deus, e no entanto ele não deixou o céu; de modo maravilhoso, quis sofrer a gestação no útero da Virgem, andar pela terra e pender na cruz, para que sempre enchesse o mundo, assim como desde o início”. Esta também é uma doutrina fora de propósito em todas as suas variantes e não tem sustentação bíblica, pois sem a sustentação divina o universo não tem possibilidade de existência. Hebreus 1,3: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”.