INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC) Área Científica de Electrónica ELECTRÓNICA GERAL 2ºTrabalho de Laboratório TRANSISTORES METAL-ÓXIDO-SEMICONDUTOR Inversor CMOS 2º Semestre 2010/11 João Costa Freire Março de 2011 Laboratório de Electrónica Geral TRANSISTORES METAL-ÓXIDO-SEMICONDUTOR (HEF 4007) Inversor CMOS I. Objectivos Estudar as características principais que definem o funcionamento de um inversor CMOS, que é o elemento básico dos circuitos CMOS, nomeadamente os digitais, usando as relações teóricas clássicas i(v) para um transístor MOS. Com o recurso a ferramentas de CAD são verificadas as condições de funcionamento dum inversor excitado por um sinal forte (varrimento em DC), por um sinal sinusoidal em regime linear (AC) e por uma onda quadrada (comutação). Para o efeito usam-se modelos dos transístores para o simulador PSPICE, disponíveis. Finalmente, são verificadas experimentalmente algumas das características do amplificador e verificada a validade de alguns parâmetros dos modelos disponíveis. Note-se que os parâmetros dos modelos correspondem a valores típicos (médios). No entanto, há uma elevada dispersão de valores devido aos processos de fabrico dos circuitos. II. Estudo analítico Considere o circuito dum inversor CMOS da figura II.1. Este é constituído por dois transístores complementares de reforço NMOS e PMOS com terminais de fonte ligados aos respectivos terminais de substrato, não havendo assim efeito de corpo. Para construir este circuito utilizar-se-á um dos pares de transístores complementares existentes no circuito integrado (CI) monolítico HEF4007 (características de catálogo no anexo 1). Usar-se-á o par que tem as portas ligadas ao terminal 6 e ambas as fontes já ligadas aos respectivos substratos. Note-se, figura 1 do anexo, que este circuito integrado inclui 3 pares de transístores MOS complementares: nos 3 pares de transístores as portas dos dois transístores estão ligadas internamente (terminais 3, 6 e 10), e os substratos dos transístores N ou P estão todos interligados (terminal 7 ou 14); um dos pares (portas ligadas ao terminal 6) tem ambas as fontes ligadas ao respectivo substrato (vSB=0), por isso será o utilizado; outro dos pares (portas no terminal 10) tem os drenos interligados (terminal 12) estando pois montados como um inversor CMOS; e o terceiro par (portas no terminal 3) tem as fontes e os drenos independentes (terminais 1, 2, 4 e 5), para poderem ser utilizadas em portas lógicas não elementares. -1- VDD T2 vI vO T1 VSS Figura II.1 – Circuito inversor CMOS 1. Trace a característica de transferência vO(vI) do circuito da figura II.1, recorrendo aos modelos simplificados de cada um dos transístores obtidos com base nos parâmetros da Tabela II.1, lambda=0, k=(KP/2)(W/L) e Vt=VTO, e para as tensões de alimentação dadas na Tabela II.2. Determine os pontos desta característica onde tem lugar a alteração dos modos de operação (corte, saturação e tríodo) de cada um dos transístores. Compare a curva obtida com as fornecidas pelo fabricante (anexo I figuras 3, 4 ou 5). Tabela II.1 – Especificações gerais dos modelos dos transístores do circuito integrado HEF 4007 Modelo dos transístores MOS a utilizar nos cálculos e simulação NMOS PMOS .MODEL N4007 NMOS (TOX=70N KP=73u VTO=*V GAMMA=2.0 CBD=0.2p CBS=0.2p MJ=0.75 L=5u W=100u LAMBDA=20m) .MODEL P4007 PMOS (TOX=70N KP=16u VTO=*V GAMMA=1.0 CBD=0.2p CBS=0.2p MJ=0.75 L=5u W=300u LAMBDA=20m) * Ver tabela II.2 Tabela II.2 – Especificações dependentes da turma e grupo VTO dos transístores circuito integrado HEF 4007 e tensões de alimentação Turma VTn (V) -VTp (V) Grupo VDD (V) VSS (V) 2ªf 15h 1,6 1,8 1 15 0 2ªf 17h 1,8 1,6 2 13 0 3ªf 12h 2,0 2,0 3 11 0 3ªf 14h30 2,2 2,0 4 9 0 5 7 0 6 5 0 7 10 0 2. Considerando o valor de lambda dado na Tabela II.1, e que permite calcular o parâmetro ro do modelo dinâmico dos TECMOS, obtenha uma estimativa do ganho a meio da zona onde o inversor pode operar como amplificador, a partir de uma análise incremental. -2- Compare este valor com o obtido a partir da curva típica do ganho em função da tensão de alimentação VDD (supondo VSS=0) – figura 6 do anexo. 3. A partir da característica vO(vI) obtida no ponto 1, obtenha graficamente uma estimativa das margens de ruído do inversor, quando funciona como circuito lógico básico, bem como das tensões limites destas margens de ruído. Considere o limite inferior da tensão vI que leva a saída vO ao nível lógico 0 e o limite superior de vI que mantém a saída vO no nível 1 definidos pelos pontos onde o ganho de tensão é igual a 1, isto é, os pontos da característica de transferência de tensão vO(vI) que limitam a zona onde o inversor tem ganho maior do que 1 (opera como amplificador). Esta é uma das formas de definir as margens de ruído. III Trabalho de simulação 1. DC sweep - Utilizando os modelos disponíveis para os transístores do circuito integrado HEF 3046 para o Pspice (tabelas II.1 e II.2), obtenha por simulação a característica vO(vI) do circuito da figura II.1, fazendo um varrimento da tensão vI de 0 a VDD (DC sweep com gerador vI do tipo VDC). 2. DC sweep - Utilizando o programa PROBE do PSPICE, obtenha também o gráfico da derivada dvO/dvI com o comando Add Traces e recorrendo à função D( ) cujo argumento é a tensão do nó correspondente a vO. Obtenha o valor de vI para o qual o módulo do ganho é máximo (VIMAX). Note que, como a curva tem uma derivada com vI muito elevada na zona central pelo que deve fazer um zoom na zona de ganho máximo. 3. AC sweep - Obtenha também por simulação, mas agora em regime AC (AC sweep com gerador vI do tipo VAC), o ganho em sinais fracos para o ponto de funcionamento de ganho máximo obtido na alínea anterior (VIMAX) e que corresponde mais ou menos a meio da zona de transição (zona de funcionamento do inversor como amplificador). Para o efeito aplique na entrada vI um gerador com duas componentes, uma alternada sinusoidal (AC) e outra contínua (DC: tensão de desvio – offset). Faça um varrimento na frequência para detectar as frequências de corte do ganho de tensão a -3dB inferior e superior do inversor. Considere que o inversor está terminado na saída por uma capacidade de 50pF em paralelo com uma resistência de 1MΩ, valor correspondente à impedância do cabo coaxial de ligação ao osciloscópio. -3- Compare o valor do ganho máximo obtido com o calculado na alínea anterior. Comente as diferenças encontradas em relação ao amplificador com um transístor bipolar estudado no 1º trabalho de laboratório. 4. Transient - Aplicando à entrada do circuito da figura I.1 uma onda trapezoidal de amplitude máxima VDD e mínima VSS, com tempos de subida e descida muito mais rápidos que os tempos de transição entre estados previstos para o inversor CMOS com uma carga capacitiva de 50pF (condições da tabela da página 3 do anexo e condições de medida no laboratório, como já se referiu atrás) e com uma duração de 0,5µs em cada estado (cerca de 1µs de período – frequência de repetição de 1MHz), obtenha por simulação os tempos de comutação de subida (rise time) e de descida (fall time), bem como o tempo de atraso de propagação (delay time) do inversor (Transient com gerador vI do tipo VPULSE). Compare com os valores fornecidos pelo fabricante (anexo 1 página 3). IV. Trabalho experimental Efectue a montagem do inversor CMOS da figura I.1 usando a base de montagem TEE 03 representada na figura IV.1 que contem um circuito integrado HEF4007 e duas resistências R1= 22kΩ e R2=100kΩ. Figura IV.1 – Base de montagem TEE 03 -4- ATENÇÃO: Antes de ligar a fonte de alimentação DC, ligue o terminal VDD (terminal 14 do CI HEF 4007) ao terminal positivo da fonte de tensão VDD e a referência (terminal 7 do CI HEF 4007) ao terminal negativo. Como indicado na nota da página 8 do anexo, se não se efectuarem previamente estas ligações, pode-se deteriorar definitivamente o circuito integrado (CI). Ligue o gerador de sinais e as duas entradas do osciloscópio à base de montagem da Figura IV.1 de acordo com o esquema da Figura IV.2. VDD vI + - v0 gerador VSS CH1 OSC. CH2 Figura IV.2 – Montagem para teste dum inversor CMOS 1. Na primeira parte das medidas o gerador vI é um gerador de funções. Ajuste o gerador de funções para um sinal de saída sinusoidal de 100Hz. Como tem uma alimentação DC assimétrica, VSS=0, ajuste a tensão de desvio (offset) do gerador para VDD/2 e a amplitude máxima deve ser igual a VDD/2, isto é, vI varia de 0 a VDD. Não ultrapasse estes valores. Deve ligar os aparelhos do laboratório ao circuito inversor sempre por esta ordem: 1º osciloscópio; 2º fonte de alimentação DC; e 3º gerador de funções. A fonte de alimentação e o gerador de funções devem ser ajustados aos valores de amplitude desejados só depois de serem ligados ao circuito inversor. Portanto ao ligar devem ter ambos um sinal de amplitude 0 (zero). Deve fazer os ajustes de valores lentamente, sempre a visualizá-los no osciloscópio, para NÃO ultrapassar os valores desejados. Cuidado com as massas dos cabos coaxiais: têm de estar todas ligadas ao mesmo ponto do circuito para evitar curto-circuitos indesejáveis. Estes cuidados devem-se a fragilidade das portas dos TECMOS que é um condensador. Valores excessivos de tensão na portas ou suas variações bruscas (provocam picos de corrente - iC=CdvC/dt) podem destruir a porta. A camada de óxido, que é o dieléctrico do condensador, pode degradar-se permanentemente. Esta camada é muito fina e por isso não suporta só tensões baixas. Cargas eléctricas -5- estáticas Q ao manusearmos TECMOS também os podem destruir (v = Q/C: como C é muito pequeno podem-se facilmente atingir tensões V elevadas). Os transístores têm normalmente circuitos de protecção para evitar este problema. Normalmente usa-se díodos para limitar a tensão. Visualize as tensões de entrada vI e de saída vO no osciloscópio. Visualize a característica vO(vI) usando o osciloscópio no modo XY ou equivalente: a entrada relativa a vI é aplicada na deflexão horizontal (eixo dos xx); e a entrada relativa a vO na deflexão vertical (eixo dos yy). Faça um esboço desta característica (pode usar uma das quadrículas fornecidas no anexo 2) ou fotografe-a e coloque a figura no seu relatório. Não se esqueça de colocar as escalas em todos os gráficos que efectuar. 2. Na segunda parte o gerador vI é um gerador de impulsos. Ligue o gerador de impulsos directamente ao osciloscópio e ajuste-o para impulsos de 100ns (pulse spacing e pulse width) na forma onda quadrada (square). Ajustar o período do sinal para 1µs. Após ligar o gerador ao inversor CMOS ajuste o nível dos impulsos de forma a serem iguais às tensões de alimentação DC (VDD e VSS). Visualize as tensões de entrada vI e de saída vO. Obtenha os tempos de subida e descida bem como o tempo de atraso de propagação do inversor. Se pretender, pode usar os cursores do osciloscópio. Faça um esboço do mostrador do osciloscópio (pode usar uma das quadrículas fornecidas no anexo 2) ou fotografe-o e coloque a figura no seu relatório. Não se esqueça de colocar as escalas em todos os gráficos que efectuar. 3. Alínea facultativa - Para ter uma noção da dispersão de fabrico sugere-se que faça os seguintes testes experimentais. Ligue os transístores NMOS T1 e T2 da base de montagem às resistências R1 ou R2 de acordo com as ligações da Figura IV.3. VDD VDD R T2 vO vO T1 R Figura IV.3 – Montagem dos TECMOS para obter os parâmetros K e Vt. Nestas condições ambos os transístores têm a tensão vGD = 0, o que garante que está a operar na zona de saturação. Portanto, em primeira aproximação tem-se: iD = k (vGS-Vt)2. -6- Para os dois valores de resistências vai obter para cada transístor dois pares de valores (ID, VGS) pelo que é possível obter uma estimativa dos parâmetros do modelo K e Vt. Compare os valores obtidos experimentalmente com os que pode obter do catálogo. Notese que o catálogo não dá directamente os valores de Vt e de k. No entanto, uma estimativa dos Vt é facilmente obtida dos gráficos das figuras 3 a 5 e 7. Quanto a k, lembrando que a transcondutância em AC é dada por gm = diD/dvGS|PFR = 2(kID)½ (PFR – ponto de funcionamento em repouso) tem-se k = (gm/2)2/ID. Da curva A (valores médios) da Fig.10 do catálogo tira-se o valor de gfs para um dado VDD e da curva da Fig.7 o correspondente ID ou IDD como é denominado no catálogo. O significado de gfs é a transcondutância directa (f de forward) com o inversor em curto-circuito em AC (s de short-circuit). O circuito de teste usado para calcular gfs está representado na Fig. 9. Note-se que, ao colocar um amperímetro na saída se está a introduzir um curto-circuito na saída em AC (condensador de 100µF a bloquear a corrente DC). Deste modo, toda a corrente dos geradores comandados que estão entre o dreno e as fontes dos modelos do NMOS e do PMOS, 2gmvgs (admitindo que têm o mesmo gm), vai para o amperímetro, não influenciando a medida as resistências ro dos modelos dos dois transístores. Em conformidade, gm = gfs /2. Note-se que em AC, regime dinâmico, os transístores estão em paralelo, logo as correntes somam-se e os gm também. Assim pode-se escrever que k = (gfs/4)2 / IDD. Compare também os valores experimentais obtidos para os k e Vt dos transístores com os usados no modelo do PSpice. Note-se que a constante k = 2 KX W/L, com X = N ou P consoante se trata do NMOS ou do PMOS. Quanto a Vt é denominado no modelo PSpice por VTO. V. Conclusões e críticas 1. Compare os resultados obtidos experimentalmente, parte IV, com os valores obtidos por via teórica, analítica na parte II, e por simulação com o programa PSpice na parte III. Comente, nomeadamente: a característica vO(vI), obtida em II.1, III.1 e IV.1, bem como os valores das margens de ruído e do ganho delas obtidos; os tempos de comutação e atraso na propagação, obtidos em III.4 e medidos em IV.2. Compare estas curvas e estes valores numéricos com os dados típicos fornecidos pelo fabricante do circuito integrado (anexo 1). 2. O que aprendeu com este trabalho? Teça comentários à execução do trabalho e proponha alterações que no seu entender o tornarão mais útil e aliciante. -7- Anexo 2 Quadrícula do osciloscópio Tensão vin Tensão vout Escala Escala …………V/div …………V/div Base de tempo t: Escala …………s/div Figura ilustrativa podendo usar uma semelhante editando-a. Quadrícula do osciloscópio Tensão vin Modo XY Escala …………V/div Tensão vout : Escala …………V/div Figura ilustrativa podendo usar uma semelhante editando-a. -8- Anexo 3 Exemplo de gráficos do Probe a introduzir no relatório. Atenção que os gráficos devem permitir uma leitura fácil pelo que devem ter dimensão adequada. Para o caso da análise transitória apresentam-se 2 níveis de ampliação dos gráficos. Sugere-se que num programa de processamento de imagem se inverta as cores para tornar a leitura mais fácil e poupar tinta na impressão. Análise DC Análise AC -9- Análise Transitória Ampliação de cerca de meio período: tempo de subida de 50% cerca de 1/6 de divisão; e uma divisão é 50µs. Ampliação da zona de subida da tensão de saída para se notar o atraso: cerca de 1/5 de divisão; e uma divisão é 5ns. - 10 -