(Com pouca energia, Japão debate religamento de reatores

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Jornal de Londrina
Gazeta Maringá
Divulgação CRISE
Com pouca energia,
Japão debate religamento
de reatores nucleares
Decisão do governo japonês em retomar
atividades na usina nuclear de Ohi revela
escassez de recursos energéticos do país
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Vista aérea da usina nuclear da cidade de Ohi, no centro do Japão, que vai voltar a funcionar para conter a crise econômica no
país
01/07/2012 | 00:23 | RODOLFO STANCKI
“Se todos os reatores que antes forneciam parte da eletricidade do Japão ficarem parados, ou desativados, a sociedade japonesa pode não sobreviver”,
declarou o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, há pouco mais de duas semanas. A fala denuncia um impasse que o país enfrenta nos últimos meses:
religar ou não suas usinas nucleares.
A questão surge pouco menos de dois meses depois do desligamento do último reator em funcionamento, na cidade de Tokai. Desde março do ano passado,
quando um tsunami seguido por terremoto provocou um vazamento radioativo na usina de Fukushima, a energia nuclear se tornou um dos grandes vilões dos
japoneses, que
decidiram banir os reatores do país.
Relato
“Após Fukushima, eles cortaram todo tipo de
gastos”, diz paranaense
Depois de iniciar o desligamento das usinas
nucleares, o governo japonês incentivou o corte
nos gastos de energia com a população. Empresas
passaram a fazer turnos menores e diversas
cidades sofreram apagões nas primeiras semanas
após o terremoto que provocou o vazamento na
usina de Fukushima, no norte do país.
O paranaense Sadao Shigueoka presenciou toda a
crise diretamente do Japão. Natural de Londrina, o
aposentado chegou ao território nipônico cerca de
um mês antes do desastre de março do ano
passado e retornou no início deste ano. “Passei um
bom tempo lá, o primeiro mês foi muito bom. O
país mostrou um pouco da prosperidade que
recuperou depois da crise de 2008 [no setor
imobiliário]”, diz.
Energia
Para o londrinense, a maior percepção com relação
ao fechamento das usinas foi o corte de horas
extras e os turnos menores. “Durante o primeiro
mês, cheguei a fazer 16 horas de trabalho. Depois
de Fukushima, recebi dias de folga. Eles cortaram
todo o tipo de gasto”, afirma.
Shigueoka tem um irmão que mora no país há 22
anos. Depois que se aposentou, ele decidiu passar
alguns meses na cidade de Nagoia, no centro.
Trabalhou em montadoras e até recebeu propostas
para ir a Fukushima, após o vazamento, trabalhar
por duas horas e ganhar o equivalente a R$ 10 mil
por mês – o que acabou não acontecendo.
“Depois do terremoto, os brasileiros ficaram
bastante receosos [com o vazamento nuclear].
Não havia muito receio entre os japoneses, eles
demonstravam menos preocupação”, conta.
A economia de energia foi se normalizando ao
longo do ano passado. “Foi mais grave nos
primeiros meses. Tinha bastante economia de
O corte no uso de energias nucleares, no entanto, provocou um problema de abastecimento de
energia. Por isso, o governo optou por religar dois reatores, localizados na cidade de Ohi. “No curto
prazo, os japoneses não terão opção a não ser voltar a utilizar essas usinas. Eles não têm energia
suficiente de outras fontes”, diz o cientista social das Faculdades Rio Branco Alexandre Uehara.
Segundo dados da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA), depois do
incidente em Fukushima, a energia dos japoneses provém principalmente do petróleo bruto, do gás
natural e do óleo combustível. Como o país não possui recursos fósseis em abundância, esse tipo de
abastecimento depende de importações.
O alto custo para o estado trazer fontes de energia de outros países e os compromissos políticos na
redução de CO2 – emitido pela queima de combustíveis fósseis – serviu como pressão para a decisão
do premiê japonês.
Para Uehara, a rejeição da população às usinas nucleares, que cresceu desde o vazamento em março
do ano passado, é um problema menor diante da crise econômica. “Mesmo que a opinião pública não
aceite a energia nuclear, será mais complicado quando o governo não conseguir mais dar conta do
desenvolvimento do país. Isso pode afetar muito mais pessoas.”
Desenvolvimento
Para o economista Edson Stein, das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), a energia é um
elemento determinante no desenvolvimento de um país. “Sem isso, o governo fica parado no tempo.
As importações [de fontes energéticas] deixam o país dependente do mercado, que pode oscilar o
preço e provocar inflação”, diz.
Segundo Stein, o preço alto do petróleo, por exemplo, leva ao aumento no custo de produção do país –
o que afeta todos os preços da economia. Por isso, o economista defende que os japoneses voltem a
utilizar a energia nuclear ou os preços das mercadorias vão aumentar.
“O problema do Japão é a localização geográfica, que faz o país sofrer com terremotos. Mas é
importante lembrar que as usinas nucleares são seguras e o governo não pode suportar o aumento
desses custos [de produção]”, observa Stein.
Sustentabilidade
O religamento das usinas nucleares como forma de manter a estabilidade econômica do Japão
reacende discussões sobre energias sustentáveis. Atualmente, apenas 1% da energia japonesa provém
de fontes renováveis, eólicas e solares.
9/7/2012 10:04
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água e comida também. Por sorte, quando
retornei, as coisas estavam um pouco mais
normais”, diz.
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O sociólogo do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba) José Edmilson de Souza Lima revela que, até
Fukushima, o governo japonês levantava a bandeira de que a energia nuclear era limpa e sustentável.
“Existem muitas pesquisas que mostram as vantagens diante de outras fontes. O problema é que não
tem como eliminar os riscos de usinas nucleares”, afirma.
Interatividade
O que você acha da decisão do governo japonês de
religar reatores nucleares?
Lima não acredita que os japoneses vão retomar completamente o uso de energia nuclear. Para ele, o
país deve apostar na diversificação de novas energias, utilizando fontes renováveis – que são mais
caras – para abastecer a população.
Escreva para [email protected]
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna
do Leitor.
“O risco político de religar as usinas é muito grande. Temos que parar de pensar em critérios
econômicos e pesar outras variáveis, como as sociais e ambientais”, diz. Para resolver logo esse
impasse energético, no entanto, a fonte nuclear ainda é a melhor opção dos japoneses.
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