São Paulo, 26 de abril de 2005 Caros brasileiros (as), O Governo Lula está disposto a hipotecar nosso futuro ambiental e econômico com sua aventura nuclear e colocar o Brasil na contramão do desenvolvimento sustentável? Será este o seu legado? No início do Governo Lula, o então Ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, declarou que o Brasil deveria ter capacidade plena para o desenvolvimento de artefatos nucleares, dando prioridade ao submarino nuclear e à geração de energia. O atual ministro de Ciência e Tecnologia Eduardo Campos, também vem promovendo novas usinas e a retomada de projetos nucleares militares e são corroboradas pelo ministrochefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armado Félix, que afirmou categoricamente em novembro último que a aprovação da construção da usina nuclear de Angra 3 “está para sair”. Desta forma, o Governo Lula se mostra favorável à aplicação da tecnologia nuclear para usos militares e para o enriquecimento de urânio. O processo de tomada de decisão deveria estar centrado no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão responsável pelas decisões no setor, que vem analisando esta questão há mais de dois anos, coletando vários estudos e pareceres técnicos. A última reunião do CNPE, realizada no dia 13 de abril, deveria decidir sobre o projeto de construção de uma terceira usina nuclear no país. Tudo indicava que a decisão sobre a construção de Angra 3 seria adiada por alguns anos. Porém, para nossa surpresa, nada foi decido, e o pior é que entrou em cena mais um defensor de Angra 3, o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. O ministro não só interferiu na decisão, como declarou que fará um parecer favorável à construção da usina. Além de estudos e pareceres técnico-científicos contrários à construção de uma nova usina nuclear, existe a oposição da Ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e de outros importantes colaboradores do Governo Federal, como o físico e ex-presidente da Eletrobrás Prof. Pinguelli Rosa, além da opinião de 80% da população brasileira1, que não foi respeitada. O Greenpeace é contra a instalação de novas usinas nucleares no Brasil, pois: Usinas nucleares são inseguras. A tragédia de Chernobyl, com 3 milhões de contaminados oficialmente reconhecidos pelo governo da Ucrânia, provou que acidentes muito sérios não precisam de milhões de anos para acontecer, conforme diziam as estatísticas dos nucleocratas. 1 Pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) em 6 Capitais brasileiras, em junho do ano passado. Usinas nucleares são caras. O Programa Nuclear brasileiro já custou cerca de quarenta bilhões de dólares aos cofres públicos. Só Angra 1 custou seis bilhões de dólares. Angra 2 devorou outros 14 bilhões de dólares. A Eletronuclear, estatal deficitária responsável pela operação das duas usinas nucleares, custa 1 milhão de reais todo santo dia ao contribuinte. Estima-se que as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), a outra estatal deficitária que cuida da mineração e beneficiamento do urânio e da fabricação do combustível nuclear, represente um rombo similar ao da Eletronuclear. O déficit das duas empresas é coberto com a cobrança de subsídio à energia nuclear embutido nas contas mensais de luz de todos os consumidores das regiões Sul e Sudeste do país. Usinas nucleares são ultrapassadas. Estão deixando de ser opção para a geração de eletricidade em países como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra e em várias partes dos Estados Unidos, como na Califórnia. “Vaga-lumes”, como são popularmente conhecidas devido às constantes paralisações de seu funcionamento por falhas técnicas, Angra 1 e 2 são incapazes de produzir mais do que 2% de toda a eletricidade gerada no Brasil. Usinas nucleares são sujas. Não só pelo lixo atômico que produzem e que permanece perigoso por milhares de anos, mas, também, por estarem freqüentemente associadas a interesses belicistas e estados policialescos. Para que se tenha uma idéia, no Brasil, manifestar-se contra usinas nucleares ainda é crime passível de punição com alguns anos de cadeia devido à uma lei do tempo da ditadura. Todas as tentativas de se revogar essa lei têm enfrentado forte oposição de grupos militares. O que estará em jogo, não é apenas a construção de uma obra de bilhões de dólares, disputada por grandes construtoras e defendida por alguns militares e funcionários estatais: Por trás de Angra 3 está o sonho de retomada do famigerado Programa Nuclear brasileiro, a chamada “aventura nuclear” idealizada durante os “anos de chumbo”. Por trás de Angra 3 está o projeto do submarino nuclear, chamado pela imprensa nacional de “a mais cara maquete do mundo” e que, depois de ter consumido dez anos de estudos e 1 bilhão de dólares em investimentos, precisará, agora, de outros dez anos de trabalho e mais 1 bilhão de dólares. Por trás de Angra 3 está o polêmico processo de enriquecimento de urânio que levará setenta anos para amortizar o investimento nele realizado. Por trás de Angra 3 está a proliferação do risco da radiação pelo território nacional, com a implantação de pequenos reatores nucleares pelo Norte e Nordeste do país. O Greenpeace acredita que o mundo e o Brasil não precisam da energia nuclear para se desenvolver. A vocação brasileira está nas chamadas fontes renováveis: na utilização dos cursos d’água para mover turbinas, no aproveitamento dos ventos para gerar eletricidade, na coleta do calor do Sol para aquecer a água, na extração de álcool e óleos vegetais para servirem de combustíveis em motores e geradores. As fontes renováveis podem gerar energia barata, limpa e segura. Greenpeace Brasil