Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 TRABALHO PRÁTICO Nº 9 ESTUDO DE LENTES Objectivos - Estudo da refracção da luz incidente em lentes convergentes e divergentes. Verificação experimental da equação dos focos conjugados para lentes convergentes delgadas, utilizando um objecto real e um objecto virtual. 1. Introdução 1.1. Lentes convergentes Uma lente convergente é uma associação de duas superfícies esféricas refringentes ou dióptros (superfícies onde se dá o fenómeno da refracção da luz), mais espessa no centro do que nos bordos e que faz convergir num dos focos os raios luminosos que nela incidam paralelamente ao eixo principal. A figura 1 representa esquematicamente uma lente convergente ideal, ou seja, de espessura desprezável. Aproveitaremos a figura 1 para definir os parâmetros, conceitos e convenções que utilizaremos no estudo proposto. F (a) C f ' >0 f<0 (b) C (-) F' C eixo principal 0 sentido da luz (+) Figura 1. Lente convergente ideal. (a) Definição do foco objecto (F) e do foco imagem (F’) e das distâncias focais, f e f’ ( f = f ' ), medidas relativamente ao centro óptico C. (b) Convenção de sinais utilizada (⇒ f < 0 e f’ > 0). Chama-se eixo principal à linha que atravessa o centro da lente (centro óptico, C) e que é perpendicular às suas superfícies. Foco Imagem (F’) é o ponto do eixo principal para o qual convergem os raios que incidem na superfície da lente paralelamente ao eixo principal e corresponde à posição onde se forma a imagem de um objecto no infinito. Foco Objecto (F) é o ponto objecto (ponto de onde partem os raios luminosos) cuja imagem se forma no infinito; ou seja, os raios que emergem da lente são paralelos ao eixo principal. Distância focal da lente ( f = f ' ) é a distância entre o centro óptico da lente e um dos focos. O inverso da distância focal (expressa em metros) dá-nos a potência da lente (expressa em dioptrias). Quando a espessura da lente pode ser considerada pequena relativamente aos parâmetros que a Departamento de Física da FCTUC 1/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 caracterizam - o raio de curvatura das suas superfícies esféricas e a distância focal -, a lente diz-se delgada. Se esta aproximação é possível e se os raios luminosos forem centrais (incidirem perto do centro óptico da lente) pode mostrar-se que: − 1 1 1 + = p p' f ' (1) onde p, p' e f' são as abcissas, respectivamente, do objecto O, da imagem I e do foco imagem F' em relação à lente (figura 2). Esta equação é chamada equação dos focos conjugados. Pode fazer-se a construção gráfica da imagem I de um objecto O, dada por uma lente ideal. Na figura 2 apresenta-se o exemplo de uma lente convergente. A construção da imagem baseia-se nas seguintes considerações: • um raio luminoso que incida sobre o centro óptico C da lente não é desviado - raio 1 • um raio luminoso que incida na lente convergente paralelamente ao seu eixo principal passa pelo foco imagem - raio 2 • um raio luminoso que incida na lente numa direcção que passe pelo foco objecto emerge da lente paralelamente ao seu eixo principal - raio 3 2 O 1 2 C 3 F 3 f<0 1 F' I f'>0 Figura 2. Imagem I de um objecto O obtida através de uma lente convergente delgada. A construção efectua-se a partir de três raios principais (1, 2 e 3). Os parâmetros da lente e as posições do objecto O e da imagem I são medidos a partir do ponto C e, de acordo com a convenção indicada na figura 1-b)), são considerados positivos quando medidos no sentido da luz incidente (fig. 1 e 2). Assim, na figura 2, tem-se: p = − CO < 0 p ' = CI > 0 f = − CF < 0 f ' = CF ' > 0. NOTA - Repare que, se os raios luminosos forem paralelos entre si (objecto no infinito) mas não incidirem na lente paralelamente ao seu eixo principal, a imagem não se forma no foco, mas formase ainda no plano focal, ou seja, no plano que é perpendicular ao eixo principal e que o intersecta no foco. Define-se a amplificação transversal linear (m) de uma lente como a relação entre a altura da imagem dada pela lente - h' - e a altura do objecto - h. Na figura 3 mostra-se que essa relação é igual ao quociente entre a abcissa do ponto imagem e a do ponto objecto. De facto, a partir dos triângulos Departamento de Física da FCTUC 2/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 de dC = ab aC O lado esquerdo da equação define a amplificação transversal linear (m). As distâncias à direita p' relacionam-se como . Pode então escrever-se: p semelhantes abC e deC da figura 3, pode escrever-se: m= h' p ' = h p (2) Convenciona-se que m>0 se a imagem é direita e m<0 se a imagem é invertida. b O a C F d F’ I e Figura 3. Imagem I de um objecto O obtida através de uma lente delgada convergente 1.2. Objectos e imagens Os objectos podem ser reais ou virtuais. Chama-se ponto objecto real, ao ponto de onde partem os raios luminosos que incidem na lente divergindo (fig. 4-a)) e ponto objecto virtual, ao ponto para onde os raios luminosos parecem convergir quando incidem na lente (fig. 4-b)). O. V. O. R. a) b) Figura 4. a) Ponto objecto real; b) Ponto objecto virtual As imagens obtidas podem igualmente ser reais ou virtuais. No caso de uma imagem real os raios luminosos provenientes de um ponto objecto e emergentes da lente convergem para um ponto imagem e esta pode ser obtida num alvo. Quando os raios luminosos provenientes de um ponto objecto e emergentes da lente divergem dela, o ponto de onde os raios parecem vir é o ponto imagem virtual. Uma imagem virtual não pode ser obtida num alvo, uma vez que a energia luminosa parece passar mas, de facto, não passa naquele ponto. Na figura 5 representa-se a construção da imagem I de um objecto real O. Como se pode ver, quando o objecto se situa para lá do foco F da lente convergente, a imagem é real; quando o objecto se situa entre o foco e a lente, a imagem é virtual. Além de reais ou virtuais, as imagens podem ainda ser direitas (orientadas como o objecto) ou invertidas (no caso contrário) e maiores ou menores do que o objecto. Departamento de Física da FCTUC 3/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 I O F F' C F I p<0 O C F' p<0 p'<0 p'>0 (b) (a) Figura 5. Construção da imagem de um objecto real: (a) p > f - imagem real - os raios emitidos pelo objecto convergem; (b) p < f - imagem virtual - os raios emitidos pelo objecto não convergem. 1.3. Associação de lentes convergentes. Construção de um objecto virtual As lentes podem associar-se de modo a que a imagem de uma primeira lente, a que chamaremos L1, possa tornar-se o objecto da segunda lente, que designaremos por L2. Vamos considerar duas situações. 1.3.1. Objectos O1 e O2 reais A figura 6-a) ilustra a situação em que a lente convergente L1 cria uma imagem real I1 do objecto O1. Na figura 6-b) essa imagem real I1 é usada como objecto real O2 para a segunda lente L2, uma vez que, como se pode constatar na representação, a lente L2 foi colocada depois da imagem I1. Assim, podemos dizer que a associação das duas lentes L1-L2 funciona como uma única lente, permitindo obter a imagem I2 do objecto O1. A associação das lentes está feita de tal modo (determinada distância entre elas) que a imagem final I2 é real, direita e menor que o objecto O1. L1 2 2 (a) 1 O1 C F1 F'1 1 I1 L1 L2 2 (b) 3 2 I1-O2 1 O1 F1 C F'1 1 3 1 I2 F'2 F2 1 Figura 6. Construção de uma imagem formada pela associação de duas lentes convergentes, L1 e L2. L2 situa-se depois da imagem de O1. (a) L1 cria uma imagem real I1 do objecto real O1. (b) A imagem real I1 é usada como objecto real O2 para a segunda lente L2. Departamento de Física da FCTUC 4/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 1.3.2. Objecto O1 real mas objecto O2 virtual A figura 7-a) ilustra novamente a situação em que a lente convergente L1 cria uma imagem real I1 do objecto O1. Na figura 7-b), no entanto, essa imagem real I1 torna-se um objecto virtual O2 para a segunda lente L2, uma vez que L2 foi colocada entre a lente L1 e a imagem I1. Esta é, na verdade, uma forma de se obter um objecto virtual através da associação de duas lentes convergentes. Neste caso, a associação das lentes está feita de tal modo (determinada distância entre elas) que a imagem final I2 é real, invertida e menor que o objecto O1. L1 2 2 O1 (a) 1 C F1 I1 F'1 1 L2 L1 2 (b) O1 2 1 1 3 I2 F2 F'1 F1 F'2 I1-O2 1 Figura 7. Construção de uma imagem formada pela associação de duas lentes convergentes, L1 e L2 L2 situa-se entre a lente L1 e a imagem I1. (a) L1 cria uma imagem real I1 do objecto real O1. (b) A imagem real I1 é usada como objecto virtual O2 para a segunda lente L2. 1.4. Lente divergente Uma lente divergente é uma associação de duas superfícies esféricas refringentes ou dióptros, mais fina no centro do que nos bordos e que faz divergir os raios luminosos que nela incidem paralelamente ao eixo principal da forma ilustrada na figura 8-a). F' F' F C F C eixo principal f'<0 f>0 a) f>0 f'<0 b) Figura 8. Lente divergente ideal. f = f ' mas, ao contrário da lente convergente, f > 0 e f' < 0. a) Definição do foco imagem (F'); Departamento de Física da FCTUC b) Definição do foco objecto (F). 5/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 Neste tipo de lente, ao contrário da lente convergente, o foco imagem situa-se do lado da luz incidente e o foco objecto do lado da luz transmitida. O foco imagem F' define-se como o ponto onde se intersectam os prolongamentos dos raios divergentes que correspondem a raios incidentes paralelos ao eixo principal (fig. 8-a). O foco objecto F define-se como o ponto geométrico para onde convergem os prolongamentos dos raios incidentes que emergem paralelamente ao eixo principal (fig. 8-b). 2. Procedimento experimental 2.1. Lentes convergentes e divergentes - refracção de raios luminosos paralelos Material necessário: fonte luminosa de raios paralelos, lente convergente, lente divergente, folha de papel branco e régua auxiliar. 2.1.1. Coloque a fonte de raios paralelos sobre um folha de papel A4 branca. Prepare a fonte luminosa seleccionando a saída de 5 raios luminosos paralelos. 2.1.2. Coloque a lente convergente em frente dos raios, de modo a que eles fiquem paralelos ao eixo principal da lente. Desenhe na folha o percurso dos raios luminosos. Note que esta folha deve ser incluída como anexo ao relatório do trabalho. 2.1.3. No seu relatório explique o que observa sobre a folha. Indique a designação do ponto onde os raios luminosos se encontram. Anote o valor da distância focal na tabela 1 2.1.4. Substitua a lente convergente por uma lente divergente, também com o cuidado de a colocar de modo a que o eixo principal da lente fique paralelo aos raios incidentes. Repita o procedimento indicado nos pontos 2 e 3. Use o verso da folha para o efeito. 2.2. Determinação directa da distância focal da lente convergente L com um objecto no infinito Material necessário: banco de óptica, objecto no infinito, lente convergente L e alvo. 2.2.1. Coloque a lente L e o alvo sobre o banco de óptica. Oriente o banco de óptica de modo a que a luz proveniente de uma janela incida directamente sobre a lente. Desloque o alvo sobre o banco de óptica a fim de obter nele a imagem nítida de um objecto distante, visível através da janela. Nestas condições, qual a relação entre a distância da lente ao alvo (p') e a distância focal da lente? Justifique no seu relatório. 2.2.2. Note que o valor de p' vem afectado de um erro acidental, uma vez que, se forem realizadas várias determinações de p' para a mesma posição do objecto, não se encontrará sempre o mesmo valor. É aconselhável, portanto, obter vários valores de p' tomando como resultado mais provável a sua média, p' . Retire então o alvo do banco de óptica e repita a operação descrita em 2.2.1 para o mesmo objecto mais 4 vezes, como sugerido na tabela 2. 2.2.3. Determine o valor mais provável para a distância focal e o respectivo erro. Departamento de Física da FCTUC 6/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 2.3. Verificação da equação dos focos conjugados para a lente L, através de método gráfico Material necessário: banco de óptica, objecto luminoso, lente convergente L, lente convergente auxiliar La, alvo e papel . NOTA - Antes de realizar qualquer medida verifique que as lentes e o alvo utilizados estão orientados perpendicularmente à direcção da luz incidente. Equação dos focos conjugados: 1 1 1 − + = p p' f ' 2.3.1. Utilizando um objecto real - esquema da figura 5-a) 2.3.1.1. Fixe o objecto luminoso O e a lente L sobre o banco de óptica. Desloque o alvo de forma a obter nele uma imagem I com a maior nitidez possível (fig. 5-a)). Meça, na escala associada ao banco de óptica, os valores de p e p'. Use uma pequena régua para medir também a altura da imagem h'. Registe esses valores na tabela 3, não esquecendo os seus sinais, de acordo com a convenção utilizada. 2.3.1.2. Mantendo fixo o objecto luminoso, escolha para a lente L três novas posições no banco de óptica, registando, para cada uma delas, os valores de p e p' e h' correspondentes. Tratamento dos dados Para cada par de valores (p, p') encontrado, determine (-1/p) e (1/p') e (p'/p). Anote esses valores na tabela 3. De seguida calcule os valores que terá a altura do objecto - h - usando para o efeito a equação (2). Registe também esses valores na tabela 3. 2.3.2. Utilizando um objecto virtual - esquema da figura 7-b) 2.3.2.1. Considere o esquema da figura 7-b) em que L1 é uma lente auxiliar e L2 representa a lente L para a qual se quer verificar a equação dos focos conjugados. Na realização da experiência deverá preencher integralmente a tabela 4. Nesta tabela p1 e p1' referem-se à lente auxiliar L1 e p2 e p2' referem-se à lente L. 2.3.2.2. A obtenção de dados deve ser feita em sequência para cada linha da tabela 4. Comece por fixar no banco de óptica apenas a lente auxiliar L1 e obter os valores de p1 e p1' para a mesma. De seguida, sem mexer L1, coloque a lente L (L2) entre a posição de L1 e o alvo. Tome nota da distância p2 entre a lente L (L2) e o alvo. Sem mexer qualquer das lentes, desloque agora o alvo até ver a imagem I2. Anote a distância p2' entre a lente L (L2) e o alvo. 2.3.2.3. Repita o procedimento anterior até preencher completamente a tabela 4. Note que o objecto nunca deve ser mexido. A lente L (L2) deve ser retirada sempre que determine a posição do objecto dado por L1. De seguida deve ser colocada para determinar p2 e p2'. Não esqueça a convenção de sinais. Departamento de Física da FCTUC 7/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 Tratamento dos dados - Para cada par de valores (p2, p2'), calcule (-1/p2) e (1/p2') e faça o registo na tabela 4. - Em folha que juntará em Anexo 2 ao relatório faça no mesmo gráfico as duas representações seguintes. 1. Os valores obtidos para (1/p'), em função de (-1/p). Atendendo aos sinais de p e p', os pontos marcados no gráfico devem situar-se no 1º quadrante, tal como é apresentado na figura 9. Não trace para já qualquer recta. 2. Os valores obtidos para (1/p2'), em função de (-1/p2). Atendendo aos sinais de p2 e p2', os pontos marcados no gráfico devem situar-se no 4º quadrante (fig. 9). 1 p' O.V. O.R. − 1 p Figura 9. Ajuste de uma recta aos pontos experimentais (-1/p, 1/p’), obtidos para uma lente convergente L, utilizando um objecto real (O.R.) e um objecto virtual (O.V.). - Trace a melhor recta de ajuste aos pontos do gráfico, quer “a olho” (tendo em conta que os desvios dos pontos experimentais que ficam acima e abaixo dessa recta devem compensar-se), quer através de um tratamento matemático rigoroso (consulte as notas sobre “Algumas noções elementares de análise de dados”). - A partir dos parâmetros da recta de ajuste (declive e ordenada na origem) e tendo em conta a equação dos focos conjugados (eq. 1) determine a distância focal e a potência da lente L. Análise dos resultados No seu relatório comente os resultados do ponto anterior, analisando se de facto foi verificada equação dos focos conjugados. Compare o valor obtido para a distância focal, a partir do gráfico, com o valor que tinha sido obtido pelo método directo descrito em 2.2. 2.4. Aplicação da equação de amplificação linear 2.4.1. Na tabela 3 tem registados os valores de altura de imagens - h' - e também valores calculados Departamento de Física da FCTUC 8/9 Física Laboratorial I Ano Lectivo 2008/09 para altura do objecto usado na experiência. Determine o valor médio deste conjunto de dados. 2.4.2. Meça agora directamente a altura da seta que utilizou como objecto. Use este valor para determinar o erro relativo do valor obtido no ponto anterior. Comente os seus resultados, indicando as possíveis causas de erro. Relatório O relatório deste trabalho vai ser elaborado sobre um modelo que será proposto na aula. Conta-se que a maioria do relatório fique preenchida manualmente no decurso da aula. Chama-se a atenção para a necessidade de um trabalho de leitura prévia e compreensão do guião. Bibliografia [1] Paul Tipler, Óptica e Física Moderna, Editora Guanabara-Koogan, 4ª Edição (2000). [2] Jenkins F.A. & White H.E. - Fundamentals of Optics. [3] M.M.R.R. Costa e M.J.B.M. de Almeida, Fundamentos de Física, Coimbra, Livraria Almedina. [4] M. Alonso e E. Finn, Física, Addison-Wesley Iberoamericana (1999) [5] N. Ayres de Campos, Algumas noções elementares de análise de dados, Coimbra, Dep. Física da FCTUC (1993/94). Departamento de Física da FCTUC 9/9