10 BAURU, domingo, 23 de abril de 2017 Renan Casal GERAL Christian Paulo Ventura Em um bate-papo repleto de boas energias, Chris Ventura partilha seu amor pela música ‘Meu espírito é ligado à música’ ALINE MENDES C Chris Ventura faz shows em bares e casas noturnas Aline Mendes Com uma trajetória musical marcante e diversificada, Chris já recebeu prêmios e guarda com carinho recortes de jornal onversar com o cantor e instrumentista Chris Ventura dá paz. E daí que o músico toca principalmente rock? A música é um dom que ele pratica com uma missão nobre. “Procuro fazer com que a música chegue ao coração das pessoas de forma que faça bem para elas”. Além de fazer shows em bares e casas noturnas de Bauru, Chris dá aulas de música, tocou com grandes artistas da MPB, fez direção musical de discos e trilhas sonoras de teatro e se engajou pela valorização do rock no Interior Paulista. Sua trajetória é inspiradora e repleta de realizações, que, em nada, mudam sua essência “zen”. “Para mim, é tão natural, é minha vida, nem me considero artista. É como se o violão tivesse vindo comigo desde que nasci, é emocionante”, partilha, transparecendo, acima de tudo, gratidão. Durante a entrevista, por várias vezes, Chris pegou no violão para se expressar ainda melhor, dar exemplos de suas marcas e, simplesmente, fazer o que ama: tocar. De fato, parece que o violão e o músico são um só. Conheça essa história. JC – Como a música começou para você? Chris Ventura – Ouvia muito aqueles disquinhos coloridos e minha primeira “guitarra” foi uma tampa de panela de pressão! Onde eu morava, um dia, ouvi dois violões tocando juntos, fiquei maravilhado. Aos 8 anos, senti que era isso que eu queria pra minha vida. Comecei estudar música aos 9 anos. Minha família sempre foi muito humilde e foi uma luta ter o primeiro violão; era tão simples que não existe mais! Só que ele me abriu as portas da percepção para que eu me conectasse com a música. JC – E sua carreira? Chris – Com 10 anos participava de um programa na TV Canarinho, afiliada da Globo em Campo Grande, cantando MPB. Aos 14 anos, iniciei os estudos de violão erudito na Faculdade Marcelo Tupinambá, em São Paulo. Evolui rápido e comecei a participar de recitais. Em São Caetano, percebi que não tinha muita área para o violão clássico e estudei guitarra na Fundação das Artes. Fui me ligando cada vez mais às atividades culturais. JC – Há um marco na sua trajetória? Chris – Em São José do Rio Preto me envolvi ainda mais com política, cultura e produção de trilha sonora para teatro. Em 2000, ganhei dois prêmios no 20.º Festival Nacional de Teatro de São José do Rio Preto como melhor direção musical regional e melhor direção musical brasileira. Um crítico italiano considerou o meu trabalho o mais exótico e original, diante de tantos profissionais. Sempre procuro ter o pé no chão, só que a premiação me fez acreditar mais, ver que meu trabalho significa alguma coisa para as pessoas. Com a esposa, a dançarina Mia Franzói, em espetáculo no Jardim Botânico Uma assinatura musical minha é fazer com que as pessoas sejam levadas a um estado de espírito que vai favorecê-las a estarem melhor’ JC – Que outras realizações guarda dessa época? Chris – Lá, só tocava sertanejo e queria ajudar as pessoas a pensarem a música de formas diferentes. Por isso, em 2010, criei o programa de televisão Batalha de Bandas, na EPTV. Eu era editor, produtor e apresentador! Ficou influente porque mostrava a diversidade musical da cidade e da região, do rock ao reggae. Depois, o rock e o pop rock passaram a ser mais valorizados e ouvidos nos barzinhos. O livro “A história do rock de Rio Preto” registra bem isso. Esse livro tem também algumas páginas só sobre a minha trajetória como músico. E senti que já tinha cumprido a minha parte lá. JC – Assim veio parar em Bauru? Chris – Minha mulher, a Miá Franzói, é de Bauru e resolvi me mudar para cá. Já tinha vindo a trabalho, acompanhando artistas e sempre gostei da energia do povo daqui, é bem caloroso. Eu me apaixonei pela cidade, fiz muitos amigos interessantes e de verdade. Em todos os lugares em que você chega, é preciso se reinventar, ter muito amor, paciência e compaixão. JC – Já trabalhou em outras áreas? Chris – Já trabalhei como luthier, gerente de loja de música... tudo relativo à música! Meu espírito é ligado à música; a minha vida e felicidade. Nasci para isso e tive que aceitar essa realidade na minha vida. A gente tem que se perguntar se está no caminho certo. E isso cria uma responsabilidade. O que não tem música não me completa. JC – Como é seu estilo musical? Você compõe? Chris – Procuro uma forma de expressão artística que me deixe livre, para eu poder viajar entre os estilos. Faço o violão clássico, flamenco, MPB, rock... procuro tocar o que me dá emoção. Gosto do rock clássico e melódico, que tem leveza e fala de emoções genuínas. Tenho um trabalho autoral, mas não senti ainda o momento. Eu me considero um músico instrumental, por isso sempre faço arranjos marcantes. Fico feliz por fazer as pessoas sentirem a música e isso é mais fácil se ela já for conhecida. JC – Qual é o seu diferencial? Chris – Escolhi o violão com cordas de nylon, pouco usado no rock, pela versatilidade. Uma marca é começar as músicas com um instrumental diferenciado e no meio delas inserir outras músicas, como trilhas de filmes, partindo de pontos semelhantes. Consigo fazer nos arranjos a melodia e a harmonia de todos os instrumentos. Uma assinatura musical minha é fazer com que as pessoas sejam levadas pela música a um estado de espírito que vai favorecê-las a estarem melhor. Essa é a intenção da música. JC – E o projeto de rock cigano? Chris – Rock cigano é a influência do violão erudito nas composições de rock; é um rock que tem uma carga de violão clássico, de blues e uma preocupação a mais com os arranjos. Eu me inspiro no Santana, que faz um som mais caliente, e posso, a partir dele, entrar em um The Doors, por causa do instrumental, de notas semelhantes. Faço uma transição suave que combina arranjos. Não deprecia o rock e nem o erudito. JC – Como são seus shows? Chris – Tento colocar toda a minha vivência de estrada em uma apresentação que seja divertida e emocionante. Com a emoção a gente se comunica melhor do que com as palavras. O lance é a pessoa sair satisfeita. Tento trabalhar o bem-estar energéticos das pessoas. Faz toda a diferença se entregar de corpo e alma para a arte, ela te retorna. O dia em que as pessoas entenderem que tudo que se faz ao semelhante retorna para elas, o mundo vai ser bem melhor e um não vai querer atrasar a vida do outro. JC – Você tem uma visão espiritualizada da música? Chris – A música eleva o espírito, alinha com os chákras. Geralmente, as pessoas usam a afinação em 440 hertz. Uso uma afinação em 432 hertz. Esse tipo de vibração favorece as pessoas a entrarem em sintonia com as vibrações da natureza e o meu som em harmonia com o coração das pessoas. Durante o tempo em que minha música está soando, a minha mente e o meu espírito têm corpo físico. Meu sentimento ganha vida. Arquivo pessoal Perfil Christian Paulo Ventura tem 45 anos. Nasceu em Santo André (SP) e morou em várias cidades até chegar em Bauru há 2 anos e meio. É casado com a dançarina Miá Franzói há 5 anos: “ela é minha produtora, assessora de imprensa, musa inspiradora... É tudo pra mim”. Chris não é adepto do celular e da TV; pesquisa na Internet e lê ou assiste o que encontra sobre música, além de notícias e filmes. Nas horas vagas, é adepto do Kenjutsu, uma arte marcial. “Sou um samurai”. Sobre sua espiritualidade: “sigo a filosofia do Cristo essênio, antes de ser codificado pelo cristianismo romano”. Suas referências musicais incluem Dilermando Reis, Led Zepelin, Ira!, Barão Vermelho, João Bosco e Ivan Lins. Aos 10 anos, cantando MPB em programa de televisão do Mato Grosso Na adolescência, fazia recitais de violão erudito, base da sua formação musical